O IMPACTO DA LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS NA DINÂMICA

COMERCIAL IMOBILIÁRIA

JULIANA OLIVEIRA DA SILVA TAVARES1

ALAN FELIPE PROVIN2

SUMÁRIO: Introdução; 1. A evolução da comunicação no mercado imobiliário e seus

desafios; 2. Entendendo a origem da LGPD e o limite da sua atuação; 3. A tecnologia
digital à nossa disposição; Considerações finais; Referências bibliográficas.

RESUMO

O presente estudo relata a dificuldade que a Lei Geral de Proteção de Dados trouxe à dinâmica
comercial imobiliária de tal modo que impossibilita o profissional atuar de maneira eficaz, séria e com
sucesso. Se expressa aqui, a preocupação com amparo legal e tecnológico digital para que todos os
envolvidos estejam protegidos fisicamente e legalmente. Evidencia-se também, o quão próximo é o
relacionamento do corretor de imóveis com os notários e registradores, melhor, o quão se aglutina os
universos judiciais, extrajudiciais e dos profissionais imobiliários. Fica evidente o quanto o profissional
depende do Poder Público (legislativo, executivo e judiciário), como também, dos desenvolvedores de
softwares e da boa vontade que os titulares dos imóveis têm em deixar seus dados de contatos
acessíveis; e que nesse primeiro momento a importância de levar em consideração a preocupação em
não ferir a LGPD, em alinhar a tecnologia digital, acontecer adaptações legais, e ainda contar com a
anuência dos titulares para que a atuação eficaz do profissional imobiliário seja satisfatória e sem ferir
a privacidade de terceiros.
PALAVRAS CHAVE: LGPD, IMOBILIÁRIO E DIGITAL.

RESUMO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA

The present study reports the difficulty that the General Data Protection Law brought to the real estate
commercial routine in such a way that it makes impossible for the professional to act effectively,
seriously and successfully. The concern in keep legal system and digital technological support is clear
here, so that everyone involved is physically and legally protected. It is also reported, how close is the
realtor's relationship with notaries and registrars, better saying, how the legal process, registry office
and brokers universes are together in one word. It is evident how much the professional depends on the
Public System (legislative, executive and judiciary), as well as on software developers and the goodwill
that property owners have in making their contact data accessible; and that at this first moment, the

1
Acadêmica da Graduação de Serviços Judiciais, Notariais e Registrais. E-mail: ju3oliveira@gmail.com
2
Doutor e Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Endereço
eletrônico: http://lattes.cnpq.br/7492438605978954
importance to take the consideration in concern with not act against the LGPD, be in the same lane of
digital technology, with law adaptations, and also with the consent of the holders so that the effective
performance of the real estate professional is satisfactory and without broke the privacy of other citizens
KEYWORD: LGPD, REAL STATE AND DIGITAL.

INTRODUÇÃO

O artigo em questão está desenvolvido em três capítulos, sendo que, cada um

deles aborda um tópico singular e que com as reflexões e preocupações expostas fica
evidente que todos estão interligados de modo que, nas considerações finais, ficará
claro o quão único e aglutinado são os ambientes judiciais, extrajudiciais e da
dinâmica comercial imobiliária.
Ressalta a importância da Lei Geral de Proteção de Dados e também como tal
legislação, embora atual, traz dificuldades ao comércio de imóveis; salienta também o
quão sério e importante é a atuação dos profissionais do mercado imobiliário. Discute-
se a interação com qualidade do profissional com o titular do imóvel e como é
antagônica a existência da LGPD e a lei 6015/73 dos Registros Públicos; uma zela
pela privacidade e limita o acesso às informações dos titulares por desconhecidos e a
outra permite tal acesso, por qualquer um sem precisar justificar a busca de um
determinado documento.
É relevante que os legisladores levem em consideração que uma lei proíbe que
um profissional, devidamente regulamentado pelo seu órgão fiscalizador, não
consegue desenvolver com dinamismo sua profissão (sendo que dados de contato
não oferecem risco ao titular), ao mesmo tempo que qualquer pessoa tem acesso a
documentos que ofertam dados pessoais que podem causar transtornos e prejuízos
aos seus titulares.

1 A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO NO MERCADO IMOBILIÁRIO E OS SEUS

DESAFIOS.

Em qualquer relacionamento a comunicação sempre foi e sempre será o elo

que interliga duas ou mais partes; seja um relacionamento pessoal ou comercial.
 De acordo com o artigo sobre o histórico da profissão, no site do COFECI
(Conselho Federal de Corretores de Imóveis)3, escrito pela jornalista Silvia Celani, o
mercado imobiliário teve início no período colonial, com isso, necessitava-se de
pessoas para arrumar as pousadas para os desbravadores e assim evoluiu para
mediações comerciais imobiliárias. Em 1595 teve o primeiro registro imobiliário no
livro IV de Títulos VII das Ordenações do Reino do rei Felipe I.
Em 1821 teve os primeiros anúncios imobiliários em jornais, como no O
Sentinela e O Tamoio. E assim começaram as captações de clientes, compradores e
ou vendedores; e a forma de comunicação deixou de ser apenas verbal.
Indo já para era Vargas, década de 30, mais precisamente em 1937, teve o
primeiro sindicato de corretores de imóveis e nos anos 40 os profissionais imobiliários
atuavam mais como consultores das famílias ocupando cargo de confiança de
investimento imobiliário e iniciam-se mais uma forma de anúncios: gritando na rua as
suas ofertas.

A comunicação, para os homens, é tão importante quanto o sistema nervoso

para o corpo. Sem a comunicação, todas as relações que se estabelecem
entre as pessoas e os diversos grupos humanos seriam impossíveis, sejam
4
relações comerciais, de trabalho ou afetivas.

Já nos anos 90 e 2.000, o Markenting (mesmo sendo desenvolvido desde o

século XVII e com o conceito mais conhecido na década de 50)5 teve seus benefícios
popularizados e junto com uso de e-mails, telefone, mensagens e o mais recente,
anos 2010 o uso o aplicativos de conversa, via smartphone, foram os principais meios
de comunicação utilizados na arte de conquistar clientes. Mas, ainda assim, o bom e
velho cafezinho e olho no olho sempre foram a melhor maneira para estabelecer
confiança entre o agente imobiliário e o cliente.

A gestão de relacionamento com o cliente define-se como a aproximação e

interação com os exerça função estratégica, obtendo, assim, sucesso para
organização. A gestão de relacionamentos, portanto, deve estabelecer e

3
CELANI, Sílvia. História do Corretor de Imóveis. COFECI – Conselho Federal de Corretores de
Imóveis. Divulgado em 30 de maio de 2019. Disponível em https://www.cofeci.gov.br/historia-do-
corretor-de-imoveis. Acesso em:25 de outubro de 2022.
4
PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação Empresarial. 5. ed. Campinas: Alínea, p.19 2006.
5
CONHEÇA A HISTÓRIA DO MARKETING Forbes.com.br. 2020. Disponível em
https://forbes.com.br/negocios/2020/10/conheca-a-historia-do-marketing/
Acesso em 07 de novembro de 2022.
 implantar estratégias que busquem a relação duradoura e fidelizada com
6
seus públicos, especialmente no âmbito das mídias sociais.

Com a evolução do marketing, da tecnologia, do comportamento humano fez

que a maneira dos agentes de imóveis se relacionarem com os clientes, a forma de
se comunicar deixasse de ser tão informal para formal, preocupando-se também com
a veracidade de com quem está falando a fim de evitar lavagem de dinheiro e golpes.
Não que não existissem nos séculos anteriores, mas, como tudo, práticas
ilícitas também evoluíram. Como por exemplo, o caso conhecido como “O golpe da
falsa visita”7; em 2022 sequestradores atraíram profissionais autônomos como
corretores de imóveis, engenheiros e arquitetos para uma falsa visita técnica e
quando o profissional chegava era vítima de sequestro relâmpago.
As cidades ou bairros luxuosos servem de “cenários perfeitos” para crimes
imobiliários, como por exemplo, lavagem de dinheiro. Em Jurerê Internacional famoso
bairro de mansões luxuosas, na capital catarinense, que por duas vezes foi manchete
nos principais jornais nacionais com mansões indo a leilão por servirem como
ferramentas de lavagem de dinheiro. A mais recente, em 2021, foi uma mansão em
condomínio fechado, que foi investigada pela operação Lava-Jato8. A outra foi em
2008, mansão do traficante colombiano Juan Carlos Abadia Ramirez, que comprou a
mansão de forma parcelada e morou alguns anos de forma discreta. Em entrevista
com o corretor Paulo Renato9, que vendeu a mansão ao traficante:

“Ele se apresentou com outro nome, era tranqüilo, simpático; fez a proposta
com um valor de entrada e pagamentos parcelados pagos sempre em dia e
diretamente no nosso escritório; ele mesmo que ia pessoalmente pagar junto
com um senhor que dizia ser seu pai e seu cachorro no colo. Nunca ostentou
carros importados, nem jóias, nunca incomodou os vizinhos, sempre discreto

6
FRANÇA, Fabio. Gestão de relacionamentos corporativos. In: GRUNIG, James E. Relações
públicas: teoria, contexto e relacionamentos. 1. ed. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, p. 31,
2009.
7
CORRETORES DE IMÓVEIS, ARQUITETOS E ENGENHEIROS VIRAM REFÉNS NO GOLPE DA
“FALSA VISITA”. R7.com. 2022. Disponível em:
https://noticias.r7.com/jr-na-tv/videos/corretores-de-imoveis-arquitetos-e-engenheiros-viram-refens-no-
golpe-da-falsa-visita-08072022
Acesso em 21 de setembro de 2022.
8
MANSÃO DE TRAFICANTE COLOMBIANO VAI A LEILÃO EM FLORIANÓPOLIS. G1 Globo.com.
2008. Disponível em: https://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL248897-5598,00-
MANSAO+DE+TRAFICANTE+COLOMBIANO+VAI+A+LEILAO+EM+FLORIANOPOLIS.html
Acesso em 22 de setembro de2022.
9
RENATO, Paulo. Corretor de Imóveis, CRECI 9712. fontfloripa@hotmail.com, Venda para Juan
Carlos Abadia Ramirez. Entrevista: 05 de outubro de 2022.
 e cordial. Ficamos surpresos com a história toda até porque fizemos a
verificação dos documentos, que eram falsos, e nada apontou erros.”

Práticas como essas faz que os profissionais precisem ter atitudes preventivas
para não serem vítimas de sequestro ou até mesmo colocando a outra parte em
situações como uma de investigação federal.
Fica evidente que desde o início da história com a evolução do comportamento
humano, tecnológico e necessidades de todos envolvidos, a comunicação e acesso
às informações são primordiais tanto para o sucesso comercial, quanto pra prevenção
de crimes imobiliários.

2 ENTENDENDO A ORIGEM DA LGPD E O LIMITE DA SUA ATUAÇÃO

A LGPG, Lei Geral de Proteção de Dados, é inevitável para qualquer país que
deseja ser relevante em um contexto macro ou até mesmo continuar entre os países
fortes e relevantes.
Criada na Europa, a Lei GPDR10 (Regulamento Geral sobre a Proteção de
Dados), veio para regulamentar a forma de armazenar, de cuidar das informações
pessoais que as empresas guardam dos seus clientes. Foi necessária a criação de tal
lei e com penalidades, que variam de leves a graves, para conscientizar os
empresários do quão sério e perigoso que é não proteger adequadamente as
informações contidas em seus arquivos; que eles devem zelar pela privacidade dos
seus clientes.

Em linhas gerais, o que é a lei Geral e Proteção de Dados? É

uma legislação que visa organizar a utilização dos dados
pessoais dos titulares prezando pela privacidade através dos
princípios como o da boa fé, transparência, informação,
considerando o mínimo necessário que precisa ser coletado
para que a finalidade cm mo tratamento seja alcançada.11

10
REGULAMENTO GERAL SOBRE A PROTEÇÃO DE DADOS. Wikipedia 2022. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Regulamento_Geral_sobre_a_Prote%C3%A7%C3%A3o_de_Dados,
Acesso em 15 de novembro de 2022.
11
LIMA, Ana Paula Moraes Canto de; ALMEIDA, Dionice de; MAROSO, Pereira Eduardo. LGPD Lei
Geral de Proteção de DADOS: Sua Empresa Está Pronta? São Paulo. p. 32, 2020. Literare Books
 O Brasil começou a discutir o assunto depois que países da Europa
esclareceram que apenas manteriam relacionamento e comunicação com países que
também implementassem Lei simular à GPDR. Não apenas isso, o Brasil vem
trilhando um caminho para integrar o rol de países que fazem parte da OCDE 12
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e um dos pré -
requisitos para fazer parte da organização econômica é ter uma lei de proteção de
dados.
Então, em 2018, a Lei 13.709 é sancionada pelo então presidente Michel
Temer, porém, entra em vigor só em 2020. A lei também traz definições técnicas do
que são dados pessoais e dados sensíveis e quem são os órgãos fiscalizadores,
reguladores de tamanha complexidade que a legislação exige.
Sancionada e em prática, a nova lei se depara com a realidade do crescimento
dos crimes cibernéticos de diferentes naturezas, como por exemplo, sequestros de
dados e repasse de informações. Em 2018 teve o compartilhamento dos dados de 87
milhões de usuários do FACEBOOK, que foram manipulados, pela Cambridge
Analytica em favor da campanha eleitoral do ex-presidente, dos Estados Unidos,
Donald Trump;13 e em um cenário mais recente, com a pandemia mundial do corona
vírus, triplicaram os casos de sequestro com pedido de resgate dos dados de
empresas como a empresa americana Colonial Pipeline, que detém a maior rede de
oleodutos dos Estados Unidos e pagou U$5 milhões em bitcoins não rastreáveis para
poder retomar o controle do seu próprio sistema14.
O Facebook foi condenado a pagar multa U$ 6.6 milhões pelo
compartilhamento dos dados pessoais de seus usuários; a Colonial Pipeline teve o
acesso ao seu banco de dados violado, os criminosos mostraram onde foi a
fragilidade do sistema que permitiu o sequestro e prometeu não voltar a “importuná-
los”.

12
POR VAGA NA OCDE GOVERNO ARTICULA CRIAR ORGÃO PARA PROTEÇÃO DE DADOS.
Estadao.com.br 2018 Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,por-vaga-na-
ocde-governo-articula-criar-orgao-para-protecao-de-dados-na-internet,70002266200 Acesso
em 15 de novembro de 2022.
13
FACEBOOK É MULTADO EM 6.6 MILHÕES POR VAZAMENTO DE DADOS DE BRASILEIROS EM
2018. Globo.com. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/08/23/facebook-e-
multado-em-r-66-milhoes-por-vazamento-de-dados-de-brasileiros-em-2018.ghtml
Acesso em: 15 de novembro de 2022.
14
ATAQUES CIBERNÉTICOS COM PEDIDOS DE RESGATE TRIPLICAM DURANTE A PANDEMIA
APONTA LEVANTAMENTO. Globo.com. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/jornal-da-
globo/noticia/2021/05/15/ataques-ciberneticos-com-pedidos-de-resgate-triplicam-durante-a-pandemia-
aponta-levantamento.ghtml Acesso em 15 de novembro de 2022.
 É muito extenso o universo do cybercrime. Transitam no nosso dia-a-dia de
forma que nem os percebemos. São crimes de pequeno, médio e grande portes. Faz-
nos pensar o quão vulneráveis somos diante de algo intangível, mas de estragos que
podem ser irreversíveis. Como um comércio rentável na venda de dados pessoais no
mercado negro; criminosos chegam a lucrar cerca de U$ 17.3 milhões.

Estamos falando sobre a Dark Web, onde muitos dos dados

violados podem acabar nesse mercado obscuro, onde o CPF
tem o seu valor e os criminosos vendem esse tipo de informação
para finalidades ilícitas. É nesse ambiente que todos os
conteúdos ilícitos ou bens roubados estão à venda justamente
por ser um local que não é controlado, ou seja, a mesma coisa
que falar em comprar ou vender no mercado negro, ou seja,
crimes digitais na Dark Web.15

E com isso os criminosos se aperfeiçoam cada vez mais, procurando onde mais há
fragilidade. E nem sempre a fragilidade está em banco de dados informatizados. Como é o
caso de documentos públicos. Sabe-se que, geralmente, documentos públicos são de livre
acesso da sociedade, como por exemplo, certidões de nascimento, casamento, matrículas de
registro de imóveis entre outros. E justamente por ser determinado em lei 6015/7316, o acesso
seja público que a LGPD não tem como interferir no acesso à esses dados.
Entende-se que a LGPD veio para ajudar o Brasil a manter bom relacionamento
internacional e para proteger a privacidade dos cidadãos. Em seu artigo 2º, a LGPD
determina seus fundamentos:

Art. 2º A disciplina da proteção de dados pessoais tem como

fundamentos:
I - o respeito à privacidade;
II - a autodeterminação informativa;
III - a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de
opinião;
IV - a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem;
V - o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;
VI - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e

15
LIMA, Ana Paula Moraes Canto de; ALMEIDA, Dionice de; MAROSO, Pereira Eduardo. LGPD Lei
Geral de Proteção de DADOS: Sua Empresa Está Pronta? São Paulo. p. 174, 2020. Literare Books
16
BRASIL. Lei nº 6015 de 31 de dezembro de 1973. Brasília. Congresso nacional. Publicado em 31 de
dezembro de 1973. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm
Acesso em 25 de agosto de 2022.
 VII - os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a
dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais. 17

Contudo, tamanha a seriedade da referida legislação também prejudicou profissionais,

de boa fé, do mercado imobiliário. Os agentes imobiliários atuantes devem sempre buscar
captação de imóveis, clientes compradores e até mesmo buscar informações, se necessário,
quanto à idoneidade do comprador, daquele que está agendando uma visita técnica. Com o
advento da LGPD, esses meios de pesquisas não podem ser mais utilizados. Dessa forma,
impedindo uma dinâmica comercial eficaz.
Mesmo com toda a regulamentação da lei 13.709, ainda ficaram pontos de
fragilidades, como por exemplo, a matrícula de registro de imóveis, pois, nela contém, entre
os dados dos requerentes e adquirentes: CPF, estado civil, regime de comunhão, nome do
cônjuge, profissão, endereço de residência, filiação. Ou seja, sempre há a qualificação
completa, além do imóvel em questão, do comprador e vendedor. Mas, de acordo com a lei
6015/7318 “Art. 17. Qualquer pessoa pode requerer certidão do registro sem informar ao oficial
ou ao funcionário o motivo ou interesse do pedido.”
Para o corretor de imóveis, o artigo 17 citado, é excelente na etapa de levantamentos
dos documentos de uma venda em andamento. O 2º Ofício Registro de Imóveis de
Florianópolis19, conta que se a escritura pública vier com os dados de contato, eles os
colocam na matrícula. Porém, como relata Valéria Inácio do Nascimento Rodrigues da Silva,
escrevente do Tabelionato de Notas de Canasvieiras “A orientação, pós LGPD, é não
informar dados de contato como endereço eletrônico e telefone na escritura pública do
imóvel”.20
Diante desse cenário, percebe-se um paradoxo: uma pessoa má intencionada tem
acesso legal aos dados pessoais que podem ser comercializados na darkweb causando
graves danos aos seus titulares; e o profissional imobiliário não consegue um simples contato
para poder trabalhar com dinamismo. Discute-se então, a necessidade que os profissionais
imobiliários, devidamente registrados no seu órgão regulador, CRECI, preliminarmente,
obtenha acesso das informações de contato do titular do imóvel em questão.

17
BRASIL. Lei nº 13.709 de14 de agosto de 2018. Brasília. Congresso nacional. Publicado em 14 de
agosto de 2018. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em 30 de junho de 2022.
18
BRASIL. Lei nº 6015 de 31 de dezembro de 1973. Congresso nacional. Publicado em 31 de
dezembro de 1973. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6015compilada.htm .
Acesso em 25 de agosto de 2022.
19
2º OFÍCIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS (Florianópolis).Lei 13.709 de 14 de agosto de 2018.
Florianópolis. Disponível em:https://www.2ori.com.br/roteiros.html
20
SILVA. Valéria Inácio do Nascimento Rodrigues da. Out. 2022. Entrevistador: acadêmica Juliana
Tavares. Local: Cartório Notarial do Distrito de Canasvierais – Florianópolis - SC
 Nota-se que o acesso aos dados de contatos dos titulares dos imóveis pelos agentes
imobiliários precisará de amparo legal. E como toda norma, lei, decreto novo tem em seu
estágio inicial a oportunidade de constatar os acertos e erros do funcionamento da nova
regulamentação; e não seria diferente com a LGPD. Embora ela seja de 2018, foi sancionada
em 2020, com apenas dois anos de atuação estão surgindo também os impactos negativos,
que podem ser alterados.

3 A TECNOLOGIA DIGITAL Á NOSSA DISPOSIÇÃO

O século XX foi a era do desenvolvimento da tecnologia digital e formas de

comunicação. Assim, aconteceu um casamento desses dois universos, tecnologia e
comunicação, de maneira quase impossível de se ter uma sem ter a outra. Não
poderia ser diferente no ambiente laboral. Os desenvolvedores de softwares são
contratados para desenvolver programas específicos para cada empresa ou setor. No
início, dessa era digital, a preocupação era suprir as necessidades com rapidez e
eficácia. Com o passar do tempo, as preocupações já eram com a segurança,
integridade e titularidade das formas de comunicação digital.

Entender a relação do homem com a tecnologia e as novas mídias que se

difundem em profusão nos dias de hoje requer um profundo diálogo com
as ciências sociais. Nosso problema ainda mais se torna obscuro quando
reinscrevemos nosso objeto em torno da invasão tecnológica na atividade
21
judiciária no Brasil contemporâneo.

O poder público foi se adaptando, se inovando e hoje conta com diversos

mecanismos de comunicação digital que nasceu da tão importante IA (Inteligência
Artificial).
A Inteligência Artificial foi criada em 1956 e no seu início, erroneamente,
despertou certo desejo de distanciamento “disso”, pois, existia a relação com robôs e
seu surgimento era para “roubar” o trabalho dos humanos. Ainda mais com as

21
FONTAINHA, F. C. Informatização da vida e do direito no Brasil. Revista Direito GV, v. 3, n. 1, p. 57-
74, 2007. Disponível em:
https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/revdireitogv/article/view/35197/34000.
centenas de livros de ficção científica de Isaac Asimov.22 O autor ajudou a disseminar
o conhecimento sobre a Inteligência Artificial, mas sempre na área da ficção científica.
Com a evolução da sociedade, das novas necessidades, o desenvolvimento da
I.A., trouxe a compreensão de que sua criação e sua presença seriam inevitáveis, é
imprescindível e que seu conceito nada mais é que ajudar o desempenho e a
produtividade de diversos setores que precisam dos humanos para manutenção,
manuseio, aplicação e operação. E um dos setores beneficiado foi o Poder Público,
já que os poderes judiciário, executivo e legislativo estão à disposição da sociedade,
com a demanda cada vez maior e necessitando acelerar os procedimentos
burocráticos.
Simultaneamente à I.A., existia preocupação com a segurança e a integridade
virtual e para isso a sociedade como um todo, e não poderia ser diferente no
ambiente judiciário e extrajudicial, pode-se contar com um dos maiores adventos que
veio para transformar o mundo digital: a criação do “blockchain” (corrente de dados) 23.
Stuart Haber e Scott Stonella, criadores da máquina de foto copiadora da
empresa Xerox, criaram em 1991 a então corrente de dados com criptografia de um
sistema imutável; assegurando que toda e qualquer informação distribuídos entre
blocos não podem ser deletados ou alterados, pois, um bloco está conectado a outro
por uma espécie de “nó” de segurança. Mas, os anos 90 ainda não estavam
preparados, melhor, precisando de tal inovação, que veio a ser difundida somente
com a chegada do Bitcoin (moeda digital)24, nos anos 2010, que basicamente faz
transações financeiras, se intermediações bancárias ou de instituições monetárias, e
que precisa de criptografia e integridade dos dados que somente o blockchain
oferece.
Mas, somente me 2016 é que a IA, junto com o Blockchain foi implementado
no Direito e hoje conta com diversos softwares exclusivos do setor judiciário e todos

22
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ISAAC ASIMOV. Dialogando. 2018. Disponível em:
https://www.dialogando.com.br/inovacao/inteligencia-artificial-criacao. Acesso em 20 de novembro de
2022.
23
USECRIPTO. O que é Blockchain? Entenda de forma fácil o que é essa tecnologia. 29 de junho de
2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dkElPTevoR4&t=156s
Acesso em 19 de novembro de 2022.
24
BLOCKCHAIN FOI CRIADO 20 ANOS ANTES DE BITCOIN, AFIRMA FORBES. Cripto fácil. 2020.
Disponível em: https://www.criptofacil.com/blockchain-foi-criada-20-anos-antes-bitcoin-afirma-forbes/.
Acesso em 25 de novembro de 2022.
com embasamento legal. Como o provimento 74 de 2018,25 que permite que as
serventias extrajudiciais adote políticas de segurança de informação, com relação a
disponibilidade, a integridade e aos mecanismos preventivos de controles físicos e
lógicos. Ainda no mesmo provimento, prevê a criação da Cogetise (Comitê de Gestão
da Tecnologia da Informação dos Serviços Extrajudiciais), que tem como atribuições:
divulgar, estimular, apoiar e detalhar seus atos e decisões.
Entre tantos softwares à disposição do judiciário e dos cartórios, o que mais se
enquadra no objeto de estudo aqui colocado é o Malote Digital 26.
Malote digital nada mais é que um portal de comunicação direta entre o Poder
Judiciário e os Cartórios Extrajudiciais. Essa comunicação ocorre em fração de
segundos de maneira eficaz e rápida. E ainda fornece: confirmação de leitura, recibo
de envio, sigilo, rastreamento de documentos, anexação de arquivo, assinatura digital,
entre outros.
Pode-se contar também com o sistema de assinatura e certificado digital que
possibilita a criação de uma identidade e assinatura digital que possibilita atestar a
autoria de assinaturas em documentos virtuais compartilhados pela internet. Tal modo
permite a autenticação, a integridade e o não repúdio (não se pode negar a autoria da
transação em ambiente virtual). Esse mecanismo é regulamentado por meio da
Medida Provisória 2.200/200127 que institui o ICP-Brasil (Infraestrutura de Chaves
Públicas) como órgão responsável pela emissão das identidades digitais e que
garante a autenticidade, a integridade e validade jurídica dos atos virtuais.
Diante de tantos adventos de comunicação aliados à tecnologia, teoricamente,
há como desenvolver uma via de comunicação dos profissionais imobiliários (de modo
rastreável, de maneira identificável, com a anuência dos titulares e seguras) com o as
serventias extrajudiciais para o acesso aos dados de contato dos titulares de imóveis
e ou levantamento de idoneidade de clientes compradores.

25
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Provimento nº. 74, de 31 de julho de 2018. Diário Oficial da
União, 2018b. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3517. Acesso em: 20
de novembro de 2022.
26
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Provimento nº. 25, de 12 de novembro de 2012. Dispõe
sobre a regulamentação do uso do Malote Digital pelas serventias extrajudiciais de notas e de registro.
Diário da Justiça do Conselho Nacional de Justiça, 14 nov. 2012b. Disponível em: http://cnj.jus.br/atos-
normativos?documento=1636 . Acesso em: 20 nov. 2022.
27
BRASIL. Medida provisória nº 2.200-2 de 24 de agosto de 2001. Brasília. Congresso nacional.
Publicado em 24 de agosto de 2001.Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/antigas_2001/2200-2.htm. Acesso em 20 nov. 2022.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo assim, em frente à categoria de profissionais que são regulamentados

por lei e por um órgão federal específico, COFECI (Conselho Federal dos
Corretores)28, reconhece-se aqui a importância que é a comunicação para o sucesso
desse profissional; que a Lei Geral de Proteção de Dados, embora ajude em outras
situações, para os profissionais imobiliários ela engessou de maneira
significativamente a ponto de impossibilitar alguns atos como levantar dados para
comprovar a veracidade das informações do cliente comprador, que pode além de
colocar o profissional em risco de vida, também pode ser um caso de estelionato, ou
ainda, no caso do titular do imóvel a venda, deixar de vender porque o corretor de
imóvel não consegue acesso ao simples dado de seu número de telefone, mesmo
que esse dado de contato não coloque o titular em risco, ainda sim, esbarra-se no
quesito legal.
Nota-se a necessidade de anuência do titular, do amparo legal e de
desenvolvimento de ferramenta digital específica para o profissional imobiliário, junto
à serventia extrajudicial, possa atuar de modo sério e íntegro.
Sendo assim, para superar os desafios que a LGPD trouxe ao universo
imobiliário, é necessário que ocorra uma remodelação da referida legislação e
também que se desenvolva um mecanismo virtual de acesso às informações de
maneira que tenha a anuência do titular e que fique registrada a identidade e a
justificativa da busca de dados. Dessa maneira haverá um controle das buscas e
possibilitará uma atuação mais eficaz por parte dos agentes imobiliários.

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