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FACULDADE CESUSC
ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO E NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS (8ª EDIÇÃO)
ALUNA: MICAELA MARGARIDA JARDIM BARRADAS CÔRTE
E-MAIL DA ALUNA: MICAELACORTE@HOTMAIL.COM
Resumo
1
Formanda do Curso de Pós-graduação em Direito e Negócios Imobiliários. Graduada em Direito, atua
como empresária no ramo imobiliário, segmento de corretagem. Endereço eletrônico para contato:
micaelacorte@hotmail.com. Artigo apresentado na data de 5/12/2021, na cidade de Florianópolis.
2
Professor Orientador. Esp. em Direito Ambiental e Urbanístico; MSc. em Administração e Gestão
Ambiental Urbana e Dr. em Geografia em Desenvolvimento Urbano. Atua como Advogado (área
imobiliária); Professor e Coordenador da Especialização em Direito e Negócios Imobiliários do
Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina - Faculdade CESUSC. Endereço eletrônico para
contato: prof.tele.cesusc@gmail.com.
2
1. INTRODUÇÃO
Todavia, não é o que se verifica em quase seis anos de vigência dos referidos
dispositivos legais, que ainda não atingiram a finalidade de tornar a matrícula
imobiliária em repositório único de informações sobre os bens imóveis a que dizem
respeito. Diante disso, surgiu o questionamento sobre - “Qual procedimento devem os
corretores de imóveis adotar, para evitar as demandas judiciais de responsabilização
civil, motivadas pela falta de registros importantes nas matrículas imobiliárias?”
social dessa profissão. Dessa forma será benéfico a todo o grupo de profissionais do
mercado imobiliário.
2. A CORRETAGEM IMOBILIÁRIA
3
GONZAGA; GOMES (2015)
4
CELANI (2019)
4
Hoje, a atividade é exercida por corretor de imóveis, uma pessoa que “[...] não
ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer
relação de dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios,
conforme as instruções recebidas.”5. Trata-se, portanto, de atividade profissional, na
qual inexiste vínculo jurídico anterior de subordinação para com o comitente, termo
jurídico para nominar o cliente de um corretor, seja ele o proprietário, ou o interessado
em adquirir, ou alugar, um imóvel. Flávio Tartuce, ensina que existem duas grandes
categorias de corretores, os corretores oficiais que gozam de fé pública e atuam em
determinados setores financeiros, e os corretores livres que não dependem de
qualquer investidura oficial, além da capacidade civil e da submissão à legislação
corporativa que regulamenta a profissão, como os que atuam no mercado imobiliário
na compra e venda de imóveis. A atividade foi disciplinada pela Lei 6.530/1978, e
regulamentada pelo Decreto 81.871/1978, e, para atuar no mercado imobiliário os
corretores de imóveis precisam estar devidamente habilitados por meio de curso
técnico em transações imobiliárias (TTI), ou curso de gestão imobiliária, ou curso
superior em Ciências Imobiliárias, além de devidamente registrados em seu órgão de
classe, os Conselhos Regionais de Corretores de Imóveis, de sua jurisdição - CRECI.
5
TARTUCE (2021, p.785)
6
ASSIS in BORGES (2021, p. 239)
5
7
TARTUCE (2021, p.785)
8
COLTRO (2013, p.32)
9
CAPISTRANO, apud COLTRO, (2013, p.30).
10
TJ/SP (2013).
6
O referido dispositivo legal, deixa implícito que “[...] o dever de agir com
prudência, diligência e de prestar informações, deve ser “espontâneo”, ou seja, devem
11
BECKER (2016, p.27)
12
BECKER (2016, p.11)
13
Artigo 723, do Código Civil: “O corretor é obrigado a executar a mediação com diligência e prudência,
e a prestar ao cliente, espontaneamente, todas as informações sobre o andamento do negócio.
Parágrafo único - Sob pena de responder por perdas e danos, o corretor prestará ao cliente todos os
esclarecimentos acerca da segurança ou do risco do negócio, das alterações de valores e de outros
fatores que possam influir nos resultados da incumbência.”
14
COLTRO (2013, p.52)
7
[...] nada mais é do que uma espécie de “auditoria” prestada pelo advogado
especializado em direito imobiliário, onde será feita uma análise de
informações, documentos do imóvel e dos contratantes, visando não somente
dar o parecer sobre a situação atual das condições para a negociação como
também dos riscos futuros, acaso existente.
15
ROSSI (2016)
16
Idem
17
BECKER (2016, p.31)
18
PESSANHA (2021)
8
[...] é utilizada em casos em que existe receio de que a pessoa dilapide seu
patrimônio ou desvie seus bens e não honre com o pagamento das suas
obrigações, como em execuções fiscais, recuperações judiciais, ações
trabalhistas, entre outras hipóteses. Ela deve estar averbada na matrícula, e
o tabelião, para fazer a escritura pública, é obrigado a consultar o CNIB
(Central Nacional de Indisponibilidade de bens) e detalhar no documento o
resultado da sua pesquisa.
19
MATTOS E SILVA (2020, p.133)
20
ASCOLI (2021)
21
MATTOS E SILVA (2020, p.134)
9
Dessa forma, por tudo o que até aqui foi exposto a propósito da corretagem
imobiliária, não é difícil perceber a possibilidade de responsabilização civil de
corretores de imóveis, que falharem com seus deveres de diligência e prudência,
principalmente pela omissão de informações relevantes à celebração dos negócios.
Os Corretores displicentes poderão incorrer no pagamento de perdas e danos em
favor dos prejudicados.
22
CAVALIERI FILHO (2011, p.45)
10
essa objetividade em seu artigo 14, § 4º 23, que estipula a comprovação da culpa para
a apuração da responsabilidade do corretor de imóveis, em decorrência de danos
causados por sua intermediação. Nesse sentido, diferenciando a natureza jurídica da
responsabilidade dos corretores de imóveis, é o que ensina Gisela Guedes24,
23
Art. 14, § 4º - “A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa.”
24
GUEDES in BORGES (2021, p. 225)
25
BECKER (2016, p.43)
26
CAVALIERI FILHO (2011, p.62)
11
Assim, segundo Cavalieri Filho “[...] só pode ser responsabilizado por omissão
quem tiver o dever jurídico de agir, vale dizer, estiver numa situação jurídica que o
obrigue a impedir a ocorrência do resultado.”
27
Artigo 723, do Código Civil: “O corretor é obrigado a executar a mediação com diligência e prudência,
e a prestar ao cliente, espontaneamente, todas as informações sobre o andamento do negócio.
Parágrafo único - Sob pena de responder por perdas e danos, o corretor prestará ao cliente todos os
esclarecimentos acerca da segurança ou do risco do negócio, das alterações de valores e de outros
fatores que possam influir nos resultados da incumbência.”
28
SCAVONE (2020, p.423)
29
BRASIL (2017, p.6)
30
Artigo 186 do Código Civil: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
31
SCAVONE (2020, p.433)
32
COLTRO (2013, p.97)
12
3. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada sob o método dedutivo, pois partiu do todo para
uma especificidade, tendo em vista que a análise doutrinária e documental foi feita
primeiramente à vasta doutrina existente em matéria de Direito Civil e Imobiliário, à
legislação vigente, que atualmente fornece o suporte legal à atividade da corretagem
imobiliária, como também à legislação que regulamenta os registros públicos,
nomeadamente a Lei Federal n.º 13.097, de janeiro de 2015, artigo 54, parágrafo
único, que normatizou o Principio da Concentração Registral. Após estas duas
análises, deu-se então a realização da comparação a que se pretendeu chegar, a
propósito das consequências resultantes da falta de registros juridicamente
relevantes, nas matrículas dos imóveis, alvos de transações de compra e venda.
registro.”33, pois cada ato praticado diz respeito somente a uma situação da vida do
cidadão, prescindindo assim, da constante renovação para a garantia do contrato. A
exemplo do que ocorre em outros países, nomeadamente, nos Estados Unidos, o que
vai garantir a segurança jurídica do negócio, será o seguro de responsabilidade civil
que exige renovação anual, onerando muito as operações34.
Conforme Bruno de Mattos e Silva, “Todo bem imóvel deve ou deveria estar
registrado em cartório.”35. De fato, tradicionalmente, o sistema imobiliário brasileiro
exige o duplo requisito para a aquisição da propriedade imobiliária, o título e o modo.
Enquanto o registro não é levado a efeito, nada impede que o titular do imóvel
transfira esse direito a outrem, vez que poderá extrair uma cópia da matrícula
onde ainda consta como proprietário. Se alguém adquirir o imóvel desse
vendedor, a par do estelionato por ele praticado, adquirirá validamente a
propriedade com o registro, ainda que a escritura seja posterior. Demais
disso, sem o registro, um credor do vendedor, por dívida posterior à aquisição,
pode penhorar o imóvel que ainda permanece em seu nome. 39
33
COLTRO (2013, p.97)
34
PAIVA (2015)
35
MATTOS E SILVA (2020, p.1)
36
João Pedro Lamana Paiva foi presidente do IRIB, vice-presidente do Colégio Registral do RS e oficial
titular da 1ª Zona de Porto Alegre/RS.
37
PAIVA (2015)
38
SCAVONE (2020, p.854)
39
SCAVONE (2020, p.855)
14
40
TARTUCE (2021, p.961)
41
MATTOS E SILVA (2020, p.2)
42
MATTOS E SILVA (2020, p.2)
43
TARTUCE (2021, p.273)
15
44
PAIVA (2015)
45
Art. 54. Os negócios jurídicos que tenham por fim constituir, transferir ou modificar direitos reais
sobre imóveis são eficazes em relação a atos jurídicos precedentes, nas hipóteses em que não
tenham sido registradas ou averbadas na matrícula do imóvel as seguintes informações: [...]
Parágrafo único. Não poderão ser opostas situações jurídicas não constantes da matrícula no
Registro de Imóveis, inclusive para fins de evicção, ao terceiro de boa-fé que adquirir ou receber em
garantia direitos reais sobre o imóvel, ressalvados o disposto nos arts. 129 e 130 da Lei nº 11.101, de
9 de fevereiro de 2005, e as hipóteses de aquisição e extinção da propriedade que independam de
registro de título de imóvel.
46
PAIVA (2017)
47
REVISTA CONSULTOR JURÍDICO (2017)
48
Idem
16
Fato é, que somente dois meses após a edição da lei que introduziu o princípio
da concentração no ordenamento jurídico brasileiro, foi promulgada a Lei Federal n.º
13.105, que instituiu o novo Código de Processo Civil, “[...] que continuou a exigir do
adquirente a análise do passivo do vendedor (e assim dos vendedores anteriores), por
conta do artigo 792, IV [...]” 49 , artigo esse, que comtemplou novas formas de
reconhecimento de fraude à execução50.
Até mesmo entre doutrinadores existe divergência, para Flavio Tartuce, que
acredita ser necessária uma nova posição do Superior Tribunal de Justiça sobre o
assunto,
49
NALINI (2021, p. 154)
50
BRASIL (2015), Art. 792 - A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:
IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de
reduzi-lo à insolvência;
51
SCAVONE (2020, p.824)
17
Outro julgado, bem mais recente, cujo temática tratou justamente de uma
responsabilização civil de um corretor de imóveis, a propósito de superveniente
declaração de fraude à execução, tendo sido decretada a ineficácia da venda, perante
a qual, perderam os autores o imóvel que adquiriram.
52
TARTUCE (2021, p.274)
53
BRASIL (2016) – (AgInt no AREsp 731.521/RJ, julgado em 27/09/2016)
18
5. CONCLUSÃO
54
BRASIL (2020) – (Agravo Interno no Agravo em Recurso Especial Nº 315.212 – SP)
19
por terra a ilusão que trazia, de que, com a sua efetiva aplicação, o processo de
compra e venda de imóveis e o trabalho dos profissionais envolvidos, estaria facilitado,
pois não mais seria necessário, efetuar a investigação habitual da situação legal,
jurídica e financeira, dos vendedores proprietários dos imóveis.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
da União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p.
NALINI, José Renato et al. Direito Registral e Novas Tecnologias. São Paulo:
Forense, 2021. 496 p. (ISBN: 9786559641123). E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786559641130/. Acesso em: 2
dez. 2021.
PEIXOTO, Ulisses Vieira Moreira. Direito Imobiliário: doutrina e prática. 3. ed. São
Paulo: JH Mizuno, 2020. 781 p.
SCAVONE JUNIOR, Luiz Antonio. Direito imobiliário: teoria e prática. 16. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2020. 1680 p. ISBN 978-85-309-9256-9. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530992576/. Acesso em: 23
nov. 2021.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Forense, 2021. 1704 p.
ISBN 978-85-309-9310-8: Grupo GEN, 2020. 9788530993115. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530993115/. Acesso em: 23
nov. 2021.