3.3 Brocardos Jurídicos 3.4 Hermenêutica Normativista e Hermenêutica Egológica – Os Fundamentos da Interpretação HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: BROCARDOS JURÍDICOS Os brocardos jurídicos são regras doutrinária de hermenêutica coletadas no século XI por Burcardo, bispo de Worms, e formam o Decretum Burchardi. Eles eram inicialmente vistos como cânones universais de valor absoluto, mas hoje em dia muitos os rejeitam por serem separados de seu contexto histórico e reunidos de maneira não sistemática, formando uma coletânea lacunosa e contraditória. A posição mais adequada é considerá-los úteis, mas atribuir-lhes valor relativo. Alguns deles, todavia são totalmente acientíficos: Um exemplo disso, é aquele que diz “uma testemunha não faz prova” (testis unus, testis nullus). Em uma sociedade religiosa, onde os juramentos eram honrados, esse brocardo teria o seu valor. Numa sociedade laica, porém, devemos levar em conta mais a idoneidade da testemunha e a coerência do seu relato que seu número. O brocardo "in claris cessat interpretatio" significa que em casos de normas claras, não há necessidade de interpretação, apenas de aplicação direta. No entanto, muitos argumentam que a interpretação ainda é necessária mesmo em casos claros. Esse brocardo não tem origem no Direito Romano, apesar de ter sido formulado em latim, uma vez que o próprio Ulpiano já asseverou a interpretação mesmo em face da clareza. HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: HERMENÊUTICA NORMATIVISTA O brocardo da clareza, "na clareza cessa a interpretação", parte do pressuposto de que algumas normas jurídicas podem ser interpretadas de maneira tão clara e objetiva que não há necessidade de se aplicar uma interpretação mais elaborada, bastando apenas realizar a subsunção lógica da norma ao caso concreto. No entanto, esse pressuposto é criticado por alguns estudiosos do Direito, pois a linguagem jurídica é normalmente sujeita a variações de sentido e é difícil encontrar termos unívocos, ou seja, palavras que possuem apenas um único sentido Ao contrário, a linguagem jurídica é frequentemente plurívoca, com termos que possuem mais de um sentido. Esses termos podem ser equívocos, quando têm sentidos totalmente diferentes, como é o caso da palavra "manga" que pode significar tanto a fruta como uma parte da camisa, ou análogos, quando possuem sentidos relacionados entre si, como é o caso da palavra "direito" que pode se referir a diferentes conceitos, como Direito Objetivo, Direito Subjetivo, Direito Positivo, Direito Natural, entre outros. Além disso, a própria ideia de clareza é vaga, uma vez que é difícil estabelecer um critério objetivo para determinar o que é uma norma clara ou não. Muitas vezes, a clareza é um resultado tanto da interpretação da norma quanto do próprio entendimento do que seja a "clareza". Por isso, é essencial que haja uma interpretação adequada das normas jurídicas, levando em consideração tanto os aspectos técnicos quanto os aspectos sociológicos e teleológicos, como determina o artigo 5º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: HERMENÊUTICA EGOLÓGICA – FUNDAMENTOS DA INTERPRETAÇÃO Segundo a Escola Egológica, que entende o Direito como conduta regulada pela norma em relação interpessoal, o brocardo da clareza indicaria a existência de comportamentos facilmente identificáveis como qualificação jurídica. No entanto, essa ideia é contestável à luz dos princípios da interpretação, que justificam a necessidade contínua de interpretação, e de muita importância, são eles: 1. De acordo com o Fundamento Ontológico da Interpretação, a conduta humana é única e irrepetível, o que impede o juiz de simplesmente subsumi-la a uma norma de forma simplória. A Ontologia é a parte da filosofia que estuda o Ser e a existência dos entes, incluindo a essência da existência humana. 2. O Fundamento Axiológico da Interpretação é baseado na compreensão de que cada fato é valorado de acordo com o contexto em que ocorre e que a interpretação jurídica deve levar em conta esses valores específicos. A Axiologia, como parte da filosofia que estuda os valores, é fundamental para a interpretação do Direito, pois cada caso tem suas particularidades e envolve questões éticas e morais que devem ser consideradas na aplicação das normas. Dessa forma, é preciso levar em conta não apenas o aspecto técnico do caso, mas também as implicações sociais e os valores envolvidos na questão. HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA: HERMENÊUTICA EGOLÓGICA – FUNDAMENTOS DA INTERPRETAÇÃO 3. O Fundamento Gnoseológico da Interpretação refere-se à necessidade de compreender o fato no âmbito do conhecimento jurídico. Embora possa haver um conhecimento prévio de uma conduta, é preciso questionar como essa conduta é compreendida no Direito. Por exemplo, o ato de tirar a vida de alguém pode ter diferentes classificações jurídicas, como homicídio culposo ou doloso, homicídio qualificado, homicídio privilegiado, latrocínio, legítima defesa, estado de necessidade, cumprimento de dever legal, entre outras. A Gnoseologia é a teoria filosófica do conhecimento – a gnosiologia jurídica considera as conceituações jurídicas das condutas, diferente da Epistemologia, que refere-se ao conhecimento científico. 4. O Fundamento Lógico da Interpretação consiste em verificar se o fato em questão pode ser adequado à norma existente, de modo a garantir sua correta aplicação. Por exemplo, se a norma se refere somente a homens e mulheres, como interpretar a situação de um indivíduo hermafrodita? A lógica é o estudo da estrutura e das regras do raciocínio, permitindo avaliar a validade de um argumento e a coerência entre as ideias QUESTÕES ESTILO PROVA
1. Explique como os brocardos jurídicos contribuem para a interpretação e
aplicação do Direito 2. Aponte como a Hermenêutica Normativista interpreta as normas jurídicas 3. Conceitue o fundamento ontológico da interpretação e mostre sua importância na interpretação jurídica 4.Aponte a definição do fundamento axiológico da interpretação e como ele se relaciona com a valoração dos fatos no Direito 5. Explique o que é o fundamento gnosiológico da interpretação e por que é importante considerá-lo na interpretação jurídica. 6. O que é o fundamento lógico da interpretação e qual a sua importância na adequação dos fatos à norma?