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Obrigações – Parte I
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte I
Carlos Elias
Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
1. Noções Gerais............................................................................................................................... 4
1.1. Definição...................................................................................................................................... 4
1.2. Elementos da Obrigação.. ........................................................................................................ 5
1.3. Obrigação quanto à Exigibilidade.. ........................................................................................ 6
1.4. Fim Primário e Secundário da Obrigação.. ........................................................................... 6
1.5. Concepção Moderna de Obrigação: Obrigação como Processo e Deveres Anexos.... 8
2. Modalidade das Obrigações.................................................................................................... 10
2.1. Importância Prática das Classificações............................................................................. 10
2.2. Obrigação quanto ao Objeto................................................................................................. 11
2.3. Obrigação quanto à Pluralidade de Objetos. . ................................................................... 18
2.4. Obrigação quanto à Pluralidade de Sujeitos.................................................................... 22
Questões de Concurso...................................................................................................................31
Gabarito............................................................................................................................................44
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Obrigações – Parte I
Carlos Elias
Apresentação
Saudações, meu(minha) amigo(a)! Hoje é dia de Obrigações.
Focaremos aquilo que mais é cobrado em concurso. Entretanto, na linha do que já tenho
feito nas aulas anteriores, irei aprofundar em temas mais complexos para te garantir sucesso
em questões que ninguém acerta.
Vamos juntos!
Resumo
Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• A obrigação é composta por três elementos: subjetivo (credor e devedor), objetivo (a
prestação) e abstrato (vínculo jurídico);
• A obrigação pode ser civil, quando for exigível, ou natural, quando não o for;
• A dívida prescrita é exemplo de obrigação natural;
• O fim primário da obrigação é o débito (schuld) e o fim secundário é a responsabilidade
(haftung):
− Dívida prescrita é um exemplo de débito (schuld) sem responsabilidade (haftung),
pois o devedor tem a dívida, pode pagá-la voluntariamente, mas não pode ser cons-
trangido a pagar (não há responsabilidade);
− Fiança é um exemplo de responsabilidade (haftung) sem débito (schuld), pois o fiador
pode ser constrangido a pagar a dívida que não é sua; do que dá prova o fato de ele
ter direito de regresso contra o afiançado;
• Conforme concepção mais moderna, a obrigação não é um mero ato, e sim um proces-
so. O professor Clóvis do Couto e Silva desenvolveu essa noção de obrigação como pro-
cesso. Ela justifica a existência de deveres anexos, instrumentais, laterais ou colaterais;
• A violação positiva do contrato é o descumprimento de um dever anexo;
• Quanto ao objeto, a obrigação pode ser classificada como de dar (coisa certa ou incer-
ta), de fazer e de não fazer (arts. 233 ao 251, CC);
• Na obrigação de dar coisa certa, há duas lógicas de justiça que inspiram o legislador
e que justificam todas as regras contidas no Código Civil sobre o assunto: (1) res perit
domino, ou seja, a coisa perece para o dono; e (2) quem causa dano a outrem com culpa
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Obrigações – Parte I
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1. Noções Gerais
1.1. Definição
Obrigação é o vínculo jurídico temporário em virtude do qual o credor pode exigir do deve-
dor uma prestação patrimonial e agir judicialmente sobre o patrimônio deste no caso de não
satisfação voluntária.
A disciplina da matéria no CC se aplica a todos os ramos do Direito, salvo regra específica
em contrário. Assim, por exemplo, a obrigação tributária é regida pelo CTN e as obrigações
administrativas – como as decorrentes de sanções aplicadas por órgãos públicos para infrato-
res – são reguladas pela lei específico; todavia, em todos esses casos, o CC supre omissões.
A organização Livro das Obrigações do CC segue uma sequência lógica e, assim, começa
por tratar do “nascimento das obrigações”, ou seja, das várias espécies de obrigações, como
as de dar, de fazer, de não fazer (arts. 233-285).
Em seguida, o CC cuida de Transmissão das Obrigações, regulando as formas de, durante
a “vida das obrigações”, mudar o credor e o devedor, ou seja, regulando a cessão de crédito e
assunção de dívida (arts. 286-303).
Prossegue o CC para falar da “morte das obrigações”, ou melhor, dos casos de extinção
das obrigações, como o pagamento direto e os casos de pagamento indireto (arts. 304-388).
Para encerrar, o CC fala das “doenças” que acometeram a obrigação, ou seja, cuida de ina-
dimplemento, dispondo, por exemplo, sobre encargos moratórios (arts. 389-420).
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Obrigações – Parte I
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É comum os juristas sentirem dificuldades ao ler o Livro das Obrigações diante da pouca
hospitalidade decorrente da abstração do texto legal.
Recomendamos que sempre se busque saber a lógica de justiça que inspirou a redação do
CC, pois ela não apenas elucida a leitura do CC, mas também fornece versatilidade ao jurista
para enfrentar casos concretos peculiares.
E, considerando que os demais livros do CC e as leis extravagantes se assentam também
nas mesmas lógicas de justiça, o conhecimento destas amplia a compreensão de todo o sis-
tema jurídico-civil.
Assim, por exemplo, a lógica de justiça do res perit domino (a coisa perece para o dano)
inspira não apenas o tratamento das regras de obrigação de dar coisa certa (arts. 233 e seguin-
tes), mas também o livro de Contratos (ex.: locador é obrigado a conservar a coisa em condi-
ções de uso para o locatário – art. 566, I), o livro de Direito das Coisas (ex.: o possuidor tem
direito a indenização por benfeitorias necessárias – arts. 1.219 e 1.220), as leis extravagantes
(como o art. 35 da Lei de Inquilinato). Já cuidamos de diversas lógicas de justiça ao tratarmos
da Parte Geral e exporemos outras mais a frente.
1
Exemplo de execução extrajudicial é a execução hipotecária do DL 70/66 e o procedimento de consolidação da propriedade
fiduciária sobre imóveis previsto na Lei 9.514/97.
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Obrigações – Parte I
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O elemento objetivo diz respeito ao objeto da obrigação. O objeto pode ser classificado
como: (1) objeto imediato, próximo ou direto: a prestação, que pode ser de dar, fazer ou não
fazer; e (2) objeto mediato, distante ou indireto: o bem da vida.
Ao assinar um contrato de compra e venda de um apartamento, o comprador, com esse
ato jurídico, objetiva adquirir, imediatamente, um direito de crédito juridicamente reconhecido
(prestação) para, a partir da satisfação desse crédito (mediatamente), obter o bem da vida (o
apartamento). Isso explica por que os vendedores fazem questão de que o comprador assine
logo um contrato, ainda que o pagamento do preço seja prorrogado. É que o objetivo imediato
deles é obter a prestação, ou seja, o dever jurídico (objeto imediato). Essa prestação jurídica já
representa um aumento patrimonial para o credor, ainda que ele não tenha recebido o bem da
vida indiretamente almejado (objeto mediato). O direito já um bem móvel ou imóvel (arts. 80
e 83, CC). Vários vendedores costumam “vender” essas prestações por meio de cessões de
créditos, de factoring, de desconto antecipado de recebíveis etc.
Como se vê, o bem da vida é apenas o objeto indireto da obrigação, pois o objeto imediato
é a aquisição de um direito de crédito, ou melhor, da prestação.
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Trata-se da teoria da relação complexa Schuld und Haftung, nascida na Alemanha e que inspirou o Brasil. Ela se contrapõe
a teoria da relação unitária, que não separa a obrigação em schuld e em haftung.
4
Há inúmeras hipóteses de tráfegos de créditos, seja por meio de cessões de crédito, seja por meio da emissão de títulos
mobiliários, como a Letra de Crédito Imobiliário – LCI (art. 12, Lei n. 10.931/2004), a Letra de Crédito Agrário – LCA (art. 23,
II, Lei n. 11.076/2004), os Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRI (art. 3º, Lei n. 9.514/97) etc.
5
Há críticas a essa abordagem da teoria da relação complexa, pois, no caso do fiador, por exemplo, ele tem sim um débito,
que é acessório, além de ter responsabilidade. E, no caso da obrigação natural, esta não seria um débito jurídico, e sim uma
dívida meramente moral. Sob essa perspectiva, não há necessidade de desmembrar a obrigação em duas relações distin-
tas (schuld e haftung), pois elas se confundem, conforme exposto na teoria unitária. Ao nosso sentir, a teoria da relação
complexa é mais a adequada, com uma adaptação: no caso do fiador, ele tem um débito sim, que é acessório. O exemplo
de responsabilidade sem débito é indevido, a nosso sentir. Não há responsabilidade sem débito, aidna que este seja aces-
sório. Todavia, pode haver débito sem responsabilidade, como sucede na obrigação natural. Temos que a obrigação natural
só pode ser explicada pela teoria da relação complexa, pois ela não é um dever meramente moral, e sim jurídico. É jurídico,
porque gera efeitos jurídicos: o seu pagamento voluntário nõ autoriza repetição de indébito.
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001. (CESPE/2004) Nas obrigações de dar, a tradição é um dos requisitos indispensáveis para
a efetiva realização do negócio, e esta se consubstancia na entrega do bem ao adquirente, com
a intenção de lhe transferir o domínio, em razão de título translativo de propriedade. Assim, se
for efetuada a entrega da coisa, mesmo que o comprador tenha decidido deixá-lo naquele local
e ocorra a perda ou deterioração do bem, o vendedor deve suportar o prejuízo, pois assumiu
todos os direitos, ônus e obrigações, que competem ao titular da coisa adquirida.
A questão está “errada”, porque, em primeiro lugar, a tradição não é um requisito para a reali-
zação do negócio, e sim é apenas o pagamento. O negócio nasce com o acordo de vontades,
salvo nos casos pouco comuns de contratos reais (aqueles que nascem com a entrega da
coisa, a exemplo do mútuo). Se não for cumprida a obrigação, o credor pode executar, porque
a obrigação já existe. Em segundo lugar, o item é “errado”, porque, feita a tradição, o risco pelo
perecimento ou deterioração da coisa é do COMPRADOR, que se tornou dono, e não do ven-
dedor. Se o comprador deixou no local, isso é problema dele: a propriedade já foi transferida e,
portanto, aplica-se o “res perit domino” (a coisa perece para o dono).
Errado.
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O preço pactuado é o do valor do bem para a entrega no mês seguinte. Esse é o valor mínimo. Se, porém, o veículo tiver
valorizado, deverá ser pago esse novo valor. Se tiver desvalorizado, isso é irrelevante, pois, no contrato, foi pactuado um
preço que deve ser tido como mínimo, sob pena de prestigiar a conduta culposa do devedor.
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o credor também tenha uma dívida perante o devedor (por exemplo, não pagou o preço do car-
ro), o encontro das dívidas opostas gerará extinção das obrigações até o valor confrontado por
compensação nos termos do art. 368 do CC. Se, por exemplo, eu comprei um carro pelo preço
de R$ 30.000,00 para ser entregue no mês que vem, mas ainda não paguei o preço, e se o ven-
dedor propositalmente ateia fogo no veículo no dia seguinte à venda, a coisa pereceu por culpa
do vendedor e, por consequência, o vendedor terá de me pagar, a título de indenização, o valor
de mercado do carro (“o equivalente”, segundo o art. 234 do CC) mais outros danos comprados
(“as perdas e danos” do art. 234, CC), admitida a compensação com a dívida que eu tenho. Se o
valor de mercado do carro era de R$ 100.000,00 e eu tinha conseguido um expressivo desconto
para comprar por apenas R$ 30.000,00, o vendedor teria de me pagar, como indenização, R$
100.000,00 (o equivalente) mais outros danos que eu comprovar, valor esse que seria reduzido
para R$ 70.000,00 em razão da compensação pelo fato de eu estava devendo R$ 30.000,00
como pagamento do preço do veículo.
A regra geral da obrigação de dar coisa certa é excepcionada quando houver norma em
sentido contrário, a exemplo do que sucede nos casos de contratos gratuitos e de responsabi-
lidade objetiva.
No caso de obrigação de dar coisa certa fundada em contrato gratuito, o generoso só res-
ponderia pelo perecimento ou deterioração da coisa se tiver obrado com dolo, conforme art.
392 do CC. Afastam-se as regras do Livro das Obrigações em sentido contrário.
No caso de responsabilidade civil objetiva, o devedor responderá pelo perecimento ou a
deterioração da coisa independentemente da prova de culpa. Ficam, pois, afastadas as regras
contrárias do Livro das Obrigações. A responsabilidade objetiva só será afastada quando hou-
ver alguma hipótese legal de excludente de responsabilidade objetiva, como o caso fortuito
externo (riscos alheios à atividade) ou a culpa exclusiva da vítima (que rompe o nexo causal),
temas a serem estudados em Responsabilidade Civil. A responsabilidade objetiva ocorre quan-
do houver previsão legal (como no caso de danos causados a consumidores à luz do art. 12 do
CDC) ou quando for aplicável à teoria do risco, que responsabiliza objetivamente quem exercer
atividade que cria um risco de dano a terceiros além do usual, conforme art. 927, parágrafo
único, do CC. Assim, se uma concessionária se obriga a entregar um veículo individualizado ao
consumidor, há relação de consumo e, portanto, se a coisa perecer – ainda que sem culpa da
empresa – ela terá o dever de indenizar. Se, porém, esse perecimento decorrer de um terremo-
to que fez o solo sugar o veículo para o centro da Terra, isso é fortuito externo a excluir a res-
ponsabilidade objetiva. Se, porém, o motivo foi um acidente de trânsito ocorrido no trajeto de
entrega da coisa sem culpa do fornecedor, isso é um risco inerente à atividade deste, ou seja,
é o caso fortuito interno, o que não afasta o seu dever de indenizar. Por fim, como as regras do
CC não são de ordem pública nesse ponto, é admissível pacto em sentido contrário, salvo ve-
dação legal expressa. Assim, por exemplo, a renúncia ao direito à indenização seria nula se es-
tivesse em contrato de adesão por se tratar de um direito inerente ao negócio (art. 474, CC) ou
em contrato de consumo firmado com consumidor que seja pessoa natural (art. 51, I, do CDC).
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coisa deteriorada até a data da restituição, deverá haver a redução proporcional do preço (aba-
timento do preço), pois o prejuízo deve ser suportado pelo dono da coisa por analogia do art.
235 do CC. Seja como for, em nome da boa-fé objetiva, é dever do devedor comunicar o credor
imediatamente após a deterioração da coisa. E, em nome do seu direito de propriedade, é as-
segurado ao credor o direito de interpelar extrajudicialmente o devedor exigindo o vencimento
antecipado da obrigação de restituir, pois é seu interesse reparar a coisa e evitar o agrava-
mento da deterioração. Todas essas regras poderão ser excepcionadas por lei ou por pacto, a
exemplo do que sucederia em relações de consumo, em que a responsabilidade objetiva faria
com que o dono da coisa, se não fornecesse um bem substituto no prazo razoável, poderia ser
obrigado a indenizar os prejuízos sofridos pela outra parte em razão da perda da utilidade da
coisa a ser restituída.
Para exemplificar, se alugo um veículo que, pela sua velhice, já está às vésperas de quebrar,
jamais poderei ser compelido a indenizar avarias que surgirem durante o meu regular uso, pois
o prejuízo tem de ser suportado pelo dono da bicicleta. Por isso, se o veículo se deteriorar,
posso devolvê-lo imediatamente ao locador e exigir os alugueis adiantados de volta ou, se eu
continuar com o veículo, pode exigir a redução proporcional do aluguel após a deterioração.
Coisa incerta é aquela definida apenas pelo gênero8 e quantidade; é a coisa não individua-
lizada. Daí que a obrigação de dar coisa incerta também é chamada de obrigação genérica e
está disciplinada nos arts. 243 ao 246 do CC. Coisa incerta tem de ser determinável e possível,
sob pena de nulidade (art. 104, II, CC). Coisa incerta não é coisa indeterminável nem impossível.
Na obrigação de dar coisa incerta, o devedor precisa individualizar a coisa (escolher a
coisa) e cientificar o credor acerca disso. Ele precisa concentrar a sua obrigação em um único
objeto entre os vários que se enquadram no gênero. Trata-se da fase da concentração, que se
completa com a cientificação do credor acerca da escolha. Pontes de Miranda prefere desig-
nar de fase da concretização. A concentração transforma a obrigação de dar coisa incerta em
de dar coisa certa, com a aplicação das regras pertinentes (art. 245, CC). Desse modo, antes
da concentração, vigora a regra genus nunquam perit. Após a concentração, vige as regras de
obrigação de dar coisa certa (res perit domino), pois já se tem coisa certa.
Feita a escolha, o devedor não pode voltar atrás e mudar a coisa por outra com as mesmas
características, em respeito à regra do electa una via altera non datur (eleita uma via, alterar
não é permitido)9. Assim, se uma imobiliária se compromete a entregar um apartamento de 2
8
Há quem critique o verbete “gênero” usado pelo CC e propune a sua substituição (Catalan, 2016). Temos, porém, que se
trata de termo consagrado no Direito com definição conceitual doutrinariamente consolidada, o que desaconselha a sua
alteração.
9
Essa expressão latina era a forma sofisticada de os romanos dizerem o que, no linguajar popular atual, expressamos
como “ajoelhou, vai ter de rezar” ou “desceu no play, vai ter de brincar”. Expressa uma noção de justice que está na boca
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quartos em um prédio, a imobiliária, após escolher uma unidade específica e cientificar o com-
prador, não poderá voltar atrás para entregar outro apartamento.
A escolha e a cientificação competem ao devedor como regra, pois se presume que foi seu
interesse deixar de individualizar a coisa. Admite-se, porém, pacto em contrário. Em nome da
boa-fé, o devedor deve escolher coisa, ao menos, de qualidade média (art. 244, CC).
Vale a pena detalhar mais algumas coisas acerca da teoria do risco nas obrigações de dar
coisa incerta. A teoria do risco aí é baseada no genus nunquam perit. Vamos lá.
Como o devedor se obriga a entregar um gênero, e não uma coisa individualizada, jamais
ele poderá alegar perecimento fortuito da coisa para exonerar-se de sua obrigação (art. 246,
CC). Trata-se da regra do genus nunquam perit: o gênero nunca perece. Assim, se alguém se
obriga a entregar um veículo Hylux preto de ano X (coisa incerta; há vários veículos desse tipo),
ele jamais poderá isentar-se desse dever a pretexto, por exemplo, de que o pátio de veículos se
incendiou sem culpa dele. O dever dele é de entregar o gênero, e não a coisa individualizada.
Cumpre-lhe, apesar de todas as suas desventuras, retorcer-se para entregar, no vencimento, o
objeto pactuado, sob pena de ser considerado inadimplente e arcar com todos os encargos daí
decorrentes (multas, juros moratórios etc.).
Excepciona-se a regra acima se o gênero for limitado, ou seja, se o devedor tiver especifica-
do o universo do qual ele retirará a coisa a ser entregue. Nesse caso, se todo o gênero perecer
sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação. Cuida-se de uma ampliação do res perit domino:
o res aí é o gênero limitado, e não uma coisa individualizada. Se, exemplo acima, o devedor
tiver se obrigado a entregar o veículo Hylux entre os disponíveis no seu pátio, a fogueira fortuita
resolverá a obrigação sem dever de indenizar.
Por fim, façamos uma ressalva. Se, por motivo superveniente, o objeto se tornar absolu-
tamente impossível (jurídica ou materialmente), aí será um caso de resolução do contrato. O
gênero tem de ser possível. Não importa se a obrigação era de dar coisa incerta, pois, mesmo
aí, presume-se que a individualização do gênero é física ou materialmente possível. Essa regra,
porém, não vale se o contrato for aleatório e o devedor tiver assumida expressamente esse ris-
co. Enfatize-se que, se ainda existir a possibilidade de encontrar uma unidade da coisa devida,
ainda que de modo oneroso, não há falar em impossibilidade absoluta, de modo que o devedor
continuará obrigado a cumprir a sua obrigação, como lembra o civilista Marcos Catalán.
Se, p. ex., uma praga destruir todas as plantações de soja do Planeta, quem se obrigou a
entregar uma saca de soja (coisa incerta) fica exonerado por não ter culpa na impossibilidade
material absoluta de cumprir a obrigação. Igualmente, se a importação de um produto vem a
ser proibido sem culpa do devedor, a obrigação de dar coisa incerta assumida pelo importador
se resolve diante da impossibilitada jurídica supervenientes.
do povo. Porém, para valer-se de uma jocosidade de corredor da Academia, quidquid latine dictum sit, altum videtur (qual-
quer coisa dita em latim parece mais elevado, mais profundo).
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A obrigação de fazer é o dever de prestar um fato, ou seja, de adotar uma conduta comis-
siva (ex.: cantar, reparar uma pia, instalar programas etc.). A sua disciplina está nos arts. 247
ao 249 do CC.
Ela pode ser fungível ou infungível.
É fungível (= substituível) quando puder ser cumprida por pessoa diversa do devedor. Ex.:
conserto de uma pia geralmente pode ser feito por qualquer profissional. Nesse caso, havendo
inadimplência e urgência, o credor pode servir-se um mecanismo de um autotutela, ou seja,
de uma forma de “fazer justiça com as próprias mãos, sem intervenção judicial”10: ele pode
contratar um terceiro para executar o fato e, posteriormente, reivindicar ressarcimento do de-
vedor (art. 249, parágrafo único, CC). Ex.: se companhia aérea cancela voo e não disponibiliza
recolocação do passageiro em novo voo (descumprimento de obrigação de fazer, ou seja, de
transportar e de reposicionar passageiro em outro voo), este poderá comprar uma passagem
e, depois, pleitear o ressarcimento. Não importa se o valor da passagem for caríssima. Trata-se
de caso de descumprimento de obrigação de fazer fungível em situação de urgência a autori-
zar a autotutela.
A obrigação é infungível quando não puder ser prestada por terceiro diante do caráter per-
sonalíssimo. Ex.: se o Chico Buarque se obrigou a cantar em um evento, não há outro cantor
que possa substituí-lo.
Se a obrigação de fazer se tornar impossível (perecer) sem culpa do devedor, resolve-se
a obrigação sem direito a perdas e danos. A culpa foi da natureza ou do acaso: não há como
condenar o devedor a pagar perdas e danos11. Se, porém, houver culpa do devedor no pereci-
mento da obrigação (impossibilidade de prestar o fato), o credor pode pedir indenização por
perdas e danos (art. 248, CC).
Pessoal, vale a pena falar como a obrigação de fazer pode ser executada judicialmente.
Isso ajuda a entender a dinâmica desse tipo de obrigação.
Na hipótese de inadimplência, há duas situações, disciplinadas pelos ritos executivos per-
tinentes no CPC (arts. 536, 537 e 814 ao 821).
A primeira é a de que o credor ainda considere útil a prestação tardia. Nesse caso, ele
poderá pleitear judicialmente a tutela específica, ou seja, a prestação de fato em específico,
servindo-se de meios executivos indiretos por coerção como as multa cominatória12 ou plei-
10
Como o Estado detém o monopólio da força e da violência, a autotutela é, em regra, veda e pode chegar a configurar crime
(ex.: exercício arbitrário das próprias razões). Todavia, excepcionalmente o ordenamento permite a autotutela em situações
específicas de urgência e de relevância que desaconselhem a espera por uma decisão judicial. Outro exemplo é a autotutela
da posse na forma do art. 1.210 do CC.
11
A exceção ocorreria no caso de o devedor ter assumido esse risco (como nos contratos aleatórios) ou nas hipóteses de
responsabilidade objetiva (desde que o risco seja inerente à atividade do devedor).
12
Apesar de o CPC ter adotado a atipicidade dos meios executivos, direitos fundamentais à integridade física e aos direitos da
personalidade dificultam cogitar um meio coercitivo diverso das astreintes para o caso de obrigação de fazer. A astreinte é
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Obrigações – Parte I
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teando que o juiz condene o devedor a custear a contratação de um terceiro que preste o fato
(art. 819, CPC). Ex.: se o Chico Buarque não quiser cantar no evento, o credor dessa obrigação
de fazer poderia pedir judicialmente a adoção de meios coercitivos contra esse célebre cantor.
Lembre-se de que, se houver urgência e a obrigação de fazer for fungível, não há necessidade
de ordem judicial para a contratação de um terceiro: o credor pode pagá-lo e posteriormente
pedir o reembolso (art. 249, parágrafo único, CC).
A segunda situação é a de o credor considerar inútil a prestação atrasada. Nesse caso, só
lhe resta pleitear indenização por perdas e danos ou a obtenção de alguma tutela que resulte
em um resultado prático equivalente.
Também chamada obrigação negativa, a obrigação de não fazer consiste em impor um de-
ver de abstenção contra o devedor. Ex.: dever de não negativar o nome de alguém no cadastro
de inadimplentes. Está disciplinada nos arts. 250 e 251 do CC.
Descumprida a obrigação (ex.: negativou o nome), o credor poderá, além de exigir indeni-
zação por perdas e danos, pleitear medidas judiciais que revertam o fato praticado, como, por
exemplo, o arbitramento de multa cominatória contra o devedor a fim de coagi-lo desfazer a
negativação ou – o que não é comum nesse caso – o envio de policial que pessoalmente faça
a retirada do nome. Os meios executivos são inúmeros diante da aticipidade dos meios exe-
cutivos. Essas regras são colhidas do art. 251 do CC em sintonia com os ritos executivos de
obrigações de não fazer previstas nos arts. 536 ao 537 814, 822 e 823 do CPC.
Se, sem culpa do devedor, tornar-se impossível abster-se do fato, resolve-se a obrigação
sem perdas e danos. O devedor não terá de indenizar os prejuízos sofridos pelo credor. Ex.: se
sobrevier uma ordem judicial específica determinando a negativação do nome de alguém, é
juridicamente impossível abster-se de cumprir esse comando.
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Não há um dispositivo expresso no CC para esse tipo de obrigação diante da completa des-
necessidade: a disciplina das modalidades das obrigações (dar, fazer e não fazer) é suficiente.
A obrigação cumulativa ou conjuntiva é a quando o devedor deve entregar conjuntamente
as duas ou mais prestações. Se cumprir apenas uma prestação, o devedor incorre em inadim-
plemento parcial. Não há dispositivo específico no CC sobre essa espécie de obrigação, por já
estar implícita nas regras do CC.
Quanto à obrigação alternativa, temos de gastar algumas linhas a mais.
Disciplinado nos arts. 252 ao 256, a obrigação alternativa é aquela em que o devedor é
obrigado a entregar uma entre outras prestações. As prestações estão unidas pela conjunção
alternativa “ou”. O devedor não pode misturar as prestações: ou é uma, ou é outra. A título de
exemplo, imagine que uma instituição venda rifas obrigando-se a entregar ao sorteado um car-
ro ou uma moto. Aí se tem uma obrigação alternativa: a instituição paga-a entregando qualquer
um dos objetos.
Como a obrigação alternativa envolve mais de uma prestação em dispersão, há necessida-
de de concentrar a obrigação em apenas uma prestação. Isso é feito por meio de uma escolha
com cientificação da outra parte a fim de individualizar a prestação que será cumprida. Não
importa se a escolha é do credor ou do devedor: a cientificação da outra parte é essencial.
Essa escolha com cientificação do credor é chamada de “fase da concentração”. Entende-
mos que a cientificação é necessária para aperfeiçoar a fase da concentração, por analogia
com a regra do art. 245 do CC. Essa ciência poderá ser feita antes da data do pagamento ou
no seu momento. Basta uma declaração de vontade receptícia, ou seja, uma declaração que
tenha chegado ao conhecimento da outra parte. Sem a ciência, abre-se margem para burlas
do devedor, que poderia mentir alegando ter escolhido uma prestação que veio a perecer sem
sua culpa a fim de exonerar-se da obrigação com base no res perit domino. Maria Helena Diniz
(2012, p. 144) dá solução parecida, com uma diferença: entende que, no caso de a escolha ser
do devedor, a concentração só ocorrerá no momento do pagamento, quando o credor receber
a oferta real de pagamento com indicação da coisa escolhida. Vamos além e entendemos que,
no caso de a escolha ser do devedor, este pode promover a concentração mesmo antes do pa-
gamento mediante cientificação do devedor (declaração de vontade receptícia). Para Orlando
Gomes, basta a declaração, ou seja, a escolha, sem necessidade de cientificação, mas lembra
o saudoso civilista baiano que há correntes em sentido diverso, como as que resumem a con-
centração ao momento da cientificação ou ao instante da execução da prestação.
Feita a concentração, a obrigação deixa de ser alternativa e passa ser a ser simples. E quem
fez a escolha não poderá voltar atrás, pois electa una via altera non datur (eleito um caminho,
alterar não é permitido). Aplicar-se-á as regras próprias de obrigações simples. Ex.: se a pres-
tação é coisa certa, vige as regras do art. 233 e seguintes do CC, como a do res perit domino.
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Em regra, a escolha compete ao devedor, pois se presume que ele se obrigou a prestações
alternativas para sua comodidade. Se ele não exercer o seu direito, o credor pode compeli-lo ju-
dicialmente a fazer a escolha no prazo de 10 dias, sob pena de a escolha passar a ser do credor
(art. 800, CPC). Havendo, porém, pacto ou lei em contrário, a escolha poderá caber ao credor
ou até mesmo a um terceiro. Se a escolha couber a um terceiro que não possa ou não queira
fazer a escolha, o juiz escolherá, salvo acordo entre as partes. E, se a escolha couber a mais
de uma pessoa, deverá haver unanimidade, de modo que, havendo divergência de qualquer um
dos optantes ou silêncio deles dentro de prazo a ser fixado pelo juiz, caberá ao juiz decidir.
Se for uma obrigação alternativa for periódica, o devedor pode exercer a escolha a cada
período. Se, a cada mês, tenho de entregar R$ 10.000,00 ou uma moto, posso mensalmente
variar a minha escolha. Trata-se do jus variandi do devedor em obrigações alternativas, o qual
também é chamado de balanceamento da concentração nas prestações periódicas.
A teoria do risco nas obrigações alternativas assenta-se em três diretrizes de justiça. A
primeira é a teoria do risco da obrigação de dar coisa certa, que envolve duas regras: a do res
perit domino e a de que há dever de indenizar danos culposamente causados. A segunda é a
de que a concentração pode ser voluntária ou automática em razão do perecimento de uma
prestação. A última é o respeito ao direito de escolha. É sob a ótica dessas diretrizes que se
entende o teor dos arts. 253 ao 256.
Na hipótese de a escolha caber ao devedor, ele deverá entregar a prestação remanescente
se as demais pereceram, pois aí terá havido uma concentração automática. Não importa se o
perecimento das outras prestações foram por sua culpa ou não, pois o direito de escolha era
dele. Não há dever de indenizar o credor. Se o devedor tiver causado o perecimento de todas as
prestações, ele terá de pagar o valor equivalente à última prestação perecida (diante da concen-
tração automática que ocorreu e que representa uma espécie de escolha feita pelo devedor),
além de ter pagar indenização por prejuízos sofridos pelo credor. Não pode o devedor escolher
pagar o valor equivalente de outra prestação; cumpre-lhe pagar a que, por último, pereceu.
E, se, todas perecerem conjuntamente por culpa do devedor ou se o devedor não conseguir
comprovar a ordem de perecimento das coisas, o CC é omisso na hipótese de a escolha caber
ao devedor. Bdine Jr., com apoio em Gisela Sampaio da Cruz, discorda e sustenta que o devedor
poderá escolher o valor da prestação que quiser, além da indenização adicional por danos que
forem comprovados, tudo em analogia à regra que vigora para os casos em que a escolha é do
credor (art. 255, CC). Maria Helena Diniz (2012, p. 148) segue o mesmo sentido. Ousamos dis-
sentir. Entendemos que, nesse caso, há presumir-se a extinção simultânea das prestações (ana-
logia com art. 8º do CC) e cumprirá ao devedor pagar o valor médio das prestações cujo pere-
cimento simultâneo ele culposamente causou. Do contrário, o devedor poderá sempre escolher
a prestação menos valiosa e, além disso, terá interesse em propositalmente ocultar a ordem de
perecimento das coisas, informação que geralmente só ele pode comprovar. Nossa solução con-
cilia os princípios gerais de direito relativos à vedação do enriquecimento sem causa e à boa-fé.
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Ainda na situação de a escolha caber ao devedor, é possível que a prestação pereça por
culpa do próprio credor. O CC é omisso. A melhor solução é respeitar o direito de escolha do
devedor: este pode escolher a prestação perecida – caso em que o credor ficará no prejuízo
– ou poderá escolher outra prestação remanescente – caso em que o devedor poderá pedir
indenização pela prestação perecida abrangendo o valor equivalente e outros prejuízos que
vierem a ser comprovados. É a solução dada por Bdine Jr., com apoio em Gisela Sampaio
da Cruz, e que se ampara na analogia da regra que vige para situações de escolha do credor
(art. 255, CC).
Na hipótese de a escolha caber ao credor, este terá de aceitar a prestação remanescente
apenas se as demais pereceram sem culpa do devedor, pois aí a “natureza” terá feito uma con-
centração automática. Ele não pode pedir indenização a ninguém. Houve uma concentração.
Se, todavia, o perecimento das prestações foi por culpa do devedor, fica evidente que ele cau-
sou um prejuízo ao credor, razão por que este poderá pedir indenização pelos danos que com-
provar, além de, em respeito ao seu direito de escolha, poder optar em receber adicionalmente
a prestação remanescente ou o valor equivalente à prestação perecida. No mesmo sentido, se
todas as prestações tiverem perecido por culpa do devedor e o direito de escolha for do credor,
este poderá pedir indenização pelos danos que comprovar, além de ter direito a escolher equi-
valente de qualquer uma das prestações perecidas.
Se a escolha couber a terceiro, entendemos que se deve aplicar as mesmas regras em que
a escolha é do credor, com a diferença que será o terceiro a escolher. Assim, se qualquer pres-
tação perecer por culpa do devedor, o terceiro poderá escolher a prestação remanescente ou o
valor equivalente da que pereceu, assegurado, em qualquer caso, ao devedor pleitear indeniza-
ção por perdas e danos adicionalmente (desde que prove o prejuízo).
Por fim, se todas as prestações perecerem sem culpa do devedor, nada há a fazer: re-
solve-se a obrigação, sem dever de indenização. Não importa se a escolha era do devedor
ou do credor: foi o acaso que fulminou todas as prestações (e o acaso não tem dever de
indenizar obviamente!).
A obrigação facultativa é aquela que envolve uma prestação com o direito de o devedor,
se quiser, cumprir outra prestação subsidiária no seu lugar. O devedor está obrigado a apenas
uma prestação (unidade de objeto); porém, de forma subsidiária, é-lhe assegurado o direito
de cumprir outra prestação também prevista na relação obrigacional. Há, portanto, uma pres-
tação principal e outra subsidiária ou supletiva. Embora não prevista expressamente no CC, a
obrigação facultativa é por ele permitida como convenção inonimada.
Por enxergar uma contraditio in terminis (obrigação pode ser faculdade), há quem critique
a nomenclatura “obrigação facultativa” e prefira, em seu lugar, a expressão “obrigação com
faculdade de solução ou de substituição” ou “obrigação com faculdade alternativa de cumpri-
mento”. Preferimos a nomenclatura tradicional pela simplicidade.
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“Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários [logo, a obrigação é solidária], só aproveitam os
outros se a obrigação for indivisível [na verdade, a prestação é indivisível, e não a obrigação, que é solidária]”.
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Obrigação indivisível é a que envolve bem indivisível14 sem haver previsão expressa de so-
lidariedade. O tema hospeda-se nos arts. 259 ao 263 do CC.
A indivisibilidade recai sobre o objeto da prestação (é objetiva) e, por isso, a obrigação
indivisível: (1) não perde a sua característica com a morte do credor e do devedor, ou seja, a
obrigação continua indivisível para os seus herdeiros; e (2) deixa de ser indivisível com a sua
conversão em perdas e danos, pois o objeto se torna em dinheiro, que é divisível (art. 263, CC).
Difere, pois, da obrigação solidária, que, por recair na pessoa (solidariedade é subjetiva) e por
estar no vínculo jurídico (e não no objeto da prestação), perde a sua natureza com a morte da
parte (art. 270, CC) e subsiste com a conversão em perdas e danos (art. 271, CC).
O CC destina regras para a obrigação indivisível conforme haja pluralidade de credores ou
de devedores.
Vamos começar falando da obrigação indivisível quando há pluralidade de devedores.
Se há pluralidade de devedores, cada codevedor é obrigado pela dívida toda apenas porque
é o objeto não é fracionável, e não porque ele queria ser obrigado pela dívida toda: o codevedor
tem de pagar tudo por necessidade, e não por dever a totalidade (in obligatione individua, totum
debetur ex necessitate, sed non totaliter). Distingue-se da obrigação solidária, pois, nesta, o
codevedor é obrigado pela dívida toda por dever jurídico.
Na obrigação indivisível, como a necessidade impôs o pagamento por inteiro, a lei robuste-
ce o direito de regresso do codevedor que pagou a dívida toda: dá-lhe a sub-rogação para exigir
a quota-parte dos demais codevedores (art. 259, parágrafo único, do CC). É questão de justiça.
14
O conceito de bem indivisível está nos arts. 87 e 88 do CC.
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Esse dispositivo não menciona o direito de tornar-se condômino, mas apenas o de reivindicar o valor pecuniário correspon-
dente à quota-parte. Todavia, o direito de tornar-se condômino parece estar implícito na regra.
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momentos antes de falecer, podia ter exigido a dívida toda – caso em que, após o seu faleci-
mento, o espólio responderia perante os demais cocredores nas suas quotas –, por insupri-
mível lógica também o espólio (todos os herdeiros conjuntamente) pode exigir a dívida toda,
como um credor solidário.
No caso de perecimento da prestação, as perdas e danos, se devidas, continuam subme-
tidas à solidariedade (art. 271 do CC). Se o devedor detrói culposamente o objeto, qualquer
cocredor pode, sozinho, cobrar a indenização por dano material correspondente ao valor da
coisa. É evidente que outros danos de natureza pessoal não são submetidas à solidariedade,
como eventual dano moral que algum dos cocredores tiverem sofrido.
Em relação à remissão (perdão), o cocredor solidário pode remitir toda a dívida; porém,
nesse caso, responderá perante os demais cocredores pela respectiva quota (art. 272, CC).
Quanto às exceções pessoais (= defesas do devedor perante algum cocredor para obstar a
cobrança), elas não podem ser opostas pelo devedor a qualquer credor solidário, mas apenas
àquele realmente sujeito a essa exceção (art. 273 do CC). Assim, se um dos cocredores tam-
bém está lhe devendo algum valor, a compensação só poderá ser oposta contra ele.
No tocante à suspensão da prescrição (art. 201, CC), as hipóteses legais de suspensão são
de índole personalíssima, por protegerem quem não tem condições pessoais de pleitear a sa-
tisfação de seu direito (art. 197 do CC). Por isso, a suspensão da prescrição não aproveita aos
demais credores solidários, salvo se a obrigação for indivisível (pois, quando indivisível, a coisa
só pode ser recebida conjuntamente ou com caução de ratificação, ou seja, há dependência
de ação de todos os credores, inclusive daquele impossibilitado de agir por motivos pessoais
ensejadores da suspensão da prescrição).
Vamos tratar agora de solidariedade passiva.
A solidariedade passiva ocorre quando há pluralidade de codevedores solidários. Nes-
se caso, o credor tem direito de exigir, total ou parcialmente, a dívida de qualquer ou de
alguns devedores.
A solidariedade passiva é uma prerrogativa do credor e um ônus aos devedores, razão por
que o credor pode renunciar a solidariedade em favor de apenas alguns devedores, sem que os
demais se beneficiem. Afinal de contas, a solidariedade lhe é uma prerrogativa (art. 282, CC).
Sob a perspectiva da relação interna (a que ocorre entre os codevedores), se a dívida for
paga por um dos codevedores solidários, este terá direito de cobrar dos demais o valor da
respectiva quota (arts. 283 e 285, CC). Essa regra é obviamente excepcionada se a dívida inte-
ressar a apenas um dos codevedores solidários. Ex.: o inquilino que paga o aluguel não pode
cobrar nada do seu fiador, ainda que este tenha se obrigado solidariamente por essa dívida,
pois a dívida de aluguel só interessava ao inquilino: o fiador era apenas garante17.
17
É claro que pode haver situação de o fiador ser o beneficiário direto da locação ou de haver algum contrato em sentido
diverso entre as partes, caso em que se observará essas particularidades.
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Após o pagamento da dívida ao credor, surge o direito daquele que pagou em exigir a quo-
ta-parte de cada um dos codevedores (art. 283, CC). Se um dos codevedores for insolvente,
todos os demais terão de proporcionalmente suportar essa insolvência, rateando o valor (art.
284, CC). Nesse caso, o codevedor exonerado da solidariedade pelo credor não deixa de ser
codevedor. Só deixou de ser solidário. Por isso, ele também responderá pelo rateio da parte do
codevedor insolvente na hipótese em análise.
No caso de Morte de codevedor solidário, todos os herdeiros simultaneamente considera-
dos são considerados um único devedor solidário (art. 276, CC). Todavia, o herdeiro individual-
mente considerado não é devedor solidário. Recorde-se que a solidariedade, por ser um ônus
à liberdade individual, depende de lei ou da vontade das partes. Os herdeiros individualmente
considerados, portanto, por falta de previsão legal, não se sujeitam ao ônus da solidariedade,
salvo se expressarem tal intento. Quem se submeteu ao ônus da solidariedade passiva não fo-
ram eles. Aplicam-se-lhes, pois, as regras de obrigação divisível e indivisível, com observância
do limite de seu quinhão.
No caso de remissão dada a um codevedor solidário, ela só aproveitará aos demais code-
vedores solidários até o limite do valor perdoado (art. 277, CC).
Havendo o perecimento da coisa por culpa de um dos codevedores solidários, o valor equi-
valente substitui a coisa, de maneira que os codevedores são por ele solidários (art. 279, CC).
A solidariedade aí só recairá sobre o dever de pagar o valor equivalente da coisa. Se houver
perdas e danos adicionais (como, por exemplo, um dano moral sofrido por um credor), só res-
ponderá por essa indenização adicional18. Essa regra é justa porque só quem causa o ato ilícito
deve indenizar. A nosso sentir, é plenamente possível que se pactue solidariedade também
para essas perdas e danos adicionais, pois a norma do art. 279 do NCC é dispositiva, e não
cogente, por conter preceito de ordem privada.
Quanto aos juros de mora, todos os codevedores respondem pelos juros de mora, pois,
perante o credor, todos têm o dever de pagar a tempo e modo (art. 280, CC). Obviamente, o co-
devedor culpado pela mora responde perante os demais, que terão direito de regresso contra
ele por esses juros moratórios.
Além disso, o codevedor solidário não pode opor exceção pessoal de outro codevedor. É
acaciano: exceção pessoal é pessoal, e não comum.
Por fim, vamos tratar de duas questões especiais envolvendo obrigação solidária: a confu-
são, a interrupção da prescrição.
A confusão só extingue a obrigação até o limite da quota do credor ou devedor solidário
envolvido. Dessa forma, deduzida a quota confundida, remanesce a solidariedade (art. 383,
CC). Ex.: X, Y e Z são credores de “D” no valor de R$ 6.000,00. X falece e seu único herdeiro é
“D”. Ocorreu confusão até o valor de R$ 2.000,00. Dessa maneira, “D” continua devedor de R$
18
O CC não trata o valor equivalente como perdas e danos, o que consideramos uma atecnia. As perdas e danos são citadas
apenas como referentes ao que chamamos de danos adicionais. Temos que tudo é perdas e danos, inclusive o valor equi-
valente da coisa (art. 279, CC).
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QUESTÕES DE CONCURSO
003. (IBFC/ANALISTA/TRE-PA/2020/ADAPTADA) O vínculo imaterial ou espiritual da obri-
gação consiste no vínculo jurídico existente entre as partes na relação obrigacional, ou seja,
o elo que sujeita o devedor à determinada prestação, seja ela positiva ou negativa, em favor
do credor.
De fato, os deveres anexos, instrumentais, laterais ou colaterais são aqueles que decorrem da
boa-fé objetiva e se destinam a garantir que a obrigação seja cumprida de acordo com a legí-
tima expectativa das partes, a exemplo dos deveres de proteção, de cooperação e de informa-
ção. O descumprimento desses deveres anexos é chamado de “violação positiva do contrato”.
Certo.
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A boa-fé objetiva gera deveres anexos e, portanto, é uma fonte de obrigações. Entre os deveres
anexos, alguns limitam direitos subjetivos das partes (ex.: impede o abuso de direito). Esses
deveres anexos estão implícitos nos contratos e, por isso, não dependem de previsão expressa.
Certo.
Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato
aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das
partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.
Errado.
Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato
aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das
partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.
Certo.
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Relações obrigacionais complexas são aquelas em que há ambas as partes são credoras e de-
vedoras reciprocamente. São, pois, as que envolvem mais de uma obrigação, uma contraposta
à outra. Trata-se um sinalagma obrigacional. No contrato de compra e venda, por exemplo, o
vendedor tem a obrigação de pagar o preço, ao passo que o comprador tem a de transferir a
coisa. Trata-se de uma relação jurídica obrigacional complexa.
Certo.
Pela teoria monista, clássica ou unitária da obrigação, a obrigação forma um vínculo único en-
tre credores e devedores. Só há, pois, um débito. A responsabilidade (ou seja, o dever de pagar
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DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte I
Carlos Elias
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados,
salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
Errado.
Como houve culpa do devedor, há dever de indenizar as perdas e danos, ao contrário do expos-
to a questão (art. 235, CC). Se não tivesse havido culpa, não haveria dever de indenizar, porque
aí se aplicaria a lógica do res perit domino (art. 236, CC). Vejam os preceitos:
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Obrigações – Parte I
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Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou
aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado
em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.
Errado.
Tem de haver o abatimento do preço, ao contrário do dito na questão, pois o prejuízo pela de-
terioração fortuita da coisa é do dono da coisa (que, no caso, é o devedor). Trata-se de uma
decorrência da regra do res perit domino (a coisa perece para o dono). É o art. 235 do CC:
Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou
aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
Errado.
É o credor que pode resolver a obrigação, e não o credor (art. 235, CC).
Errado.
Na obrigação de dar coisa certa, antes da tradição (que transfere a propriedade da coisa mó-
vel), o dono é o devedor e, por isso, é ele que pode pedir aumento do preço se a coisa tiver
acréscimos antes da tradição sem trabalho do devedor. É o art. 237 do CC:
Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos,
pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a
obrigação.
Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.
Errado.
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Obrigações – Parte I
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Como, na obrigação de restituir coisa certa, o dono é o credor, o prejuízo pela deterioração for-
tuita da coisa é dele à luz da regra do res perit domino. Logo, ele não pode pedir indenização do
devedor, ao contrário do dito na parte final da questão. O credor só poderia pedir indenização
se o devedor tivesse sido culpado pela deterioração da coisa. É o art. 240 do CC:
Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas
e danos.
Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se
ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.
Errado.
Trata-se de uma aplicação da regra do res perit domino (a coisa perece para o dono), que disci-
plina todos os casos de obrigação de dar e de restituir coisa certa quando a coisa perece ou se
deteriora sem culpa do devedor. A questão trata especificamente do art. 238 do CC:
Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes
da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o
dia da perda.
Certo.
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Obrigações – Parte I
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Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
Certo.
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se
o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado
a prestar a melhor.
Errado.
Nas obrigações de dar coisa incerta, aplica-se a regra do genus numquat perit (o gênero nun-
ca perece); logo, o devedor não fica exonerado da obrigação na hipótese da questão. É o art.
246 do CC:
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que
por força maior ou caso fortuito.
Errado.
024. (FCC/PROCURADOR/PGE-AP/2018/ADAPTADA)
... não há a possibilidade de perecimento, e, portanto, subsiste a obrigação, cabendo, ao devedor,
o direito de escolha, se outra coisa não for convencionada. Este seu direito, porém, não poderá ir
ao ponto de preferir a coisa pior da espécie, assim como não terá o credor a faculdade de exigir o
melhor, quando lhe for conferido o direito de escolha. (Clóvis Bevilaqua. Direito das Obrigações.
p. 56. 9ª ed. Livraria Francisco Alves, 1957).
A conclusão a que acima se chegou pode ter como antecedente o seguinte texto:
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Obrigações – Parte I
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A definição do Clóvis Bevilaqua é da obrigação de dar coisa incerta, pois, nela, o devedor não
pode alegar perecimento da coisa como forma de se exonerar da obrigação. Aplica-se aí a
regra do genus numquat perit (art. 246, CC). Além disso, salvo pacto em sentido contrário, a
escolha da coisa será do devedor, que é obrigado a, no mínimo, escolher uma coisa de padrão
médio art. 244, CC).
Letra b.
Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obriga-
ção; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.
Errado.
A obrigação de fazer pode ser fungível (quando ela pode ser prestada por terceiro – art. 249
do CC) ou infungível (quando houver caráter personalíssimo a impedir que terceiros prestem a
obrigação – arts. 247 e 249 do CC). A questão está errada, porque, ao contrário do que lá é afir-
mado, é possível haver a substituição do ato por terceiro nos casos de obrigações fungíveis.
Vejam os preceitos citados:
Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele
só imposta, ou só por ele exequível.
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa
do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
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Obrigações – Parte I
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Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida
em cada período.
§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz,
findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a
escolha se não houver acordo entre as partes.
Errado.
A regra é que a escolha é do devedor, salvo pacto em contrário. É o art. 252 do CC:
Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida
em cada período.
§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz,
findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a
escolha se não houver acordo entre as partes.
Errado.
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Obrigações – Parte I
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É o juiz quem decide nessa hipótese de divergência entre os cocredores (art. 252, § 3º, CC).
Errado.
Cada um será obrigado pela dívida toda, e não por parte da dívida. Afinal de contas, não há
como dividir a dívida em partes, porque se trata de obrigação indivisível. É o art. 259 do CC:
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado
pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos ou-
tros coobrigados.
Errado.
Ao contrário do dito na questão, no caso de obrigação indivisível, cada codevedor será obriga-
do pela dívida toda (art. 259, CC). É diferente do que sucede na obrigação divisível, pois esta
se presume dividida em tantas partes quantos são os credores e devedores à luz da regra do
concursu partes fiunt, sediado no art. 257 do CC. Veja o art. 257 do CC:
Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se
dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.
Errado.
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Obrigações – Parte I
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Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis
aos outros.
Errado.
Só o culpado pagará as perdas e danos: a parte final da questão está errada. É o art. 279 do CC:
Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para
todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.
Errado.
Só culpado responde pelas perdas e danos, ao contrário do dito na questão. É o art. 279 do CC.
Errado.
Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito
a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obriga-
ção for indivisível.
Certo.
Julgamento contrário não prejudica os demais cocredores solidários. É o art. 274 do CC:
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Obrigações – Parte I
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Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julga-
mento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de
invocar em relação a qualquer deles.
Errado.
Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito
a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obriga-
ção for indivisível.
Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado
a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indi-
visível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais
devedores.
Letra b.
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Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obriga-
do a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for
indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos
demais devedores.
Certo.
Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos cocredores ou codevedores, e
condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro.
Certo.
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Obrigações – Parte I
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GABARITO
3. C 16. E 29. E
4. E 17. E 30. E
5. C 18. E 31. E
6. C 19. C 32. E
7. E 20. C 33. E
8. C 21. C 34. E
9. b 22. E 35. C
10. C 23. E 36. E
11. c 24. b 37. b
12. E 25. E 38. C
13. E 26. E 39. C
14. E 27. E
15. E 28. E
Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.
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