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DIREITO CIVIL

Obrigações – Parte I

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte I
Carlos Elias

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
1. Noções Gerais............................................................................................................................... 4
1.1. Definição...................................................................................................................................... 4
1.2. Elementos da Obrigação.. ........................................................................................................ 5
1.3. Obrigação quanto à Exigibilidade.. ........................................................................................ 6
1.4. Fim Primário e Secundário da Obrigação.. ........................................................................... 6
1.5. Concepção Moderna de Obrigação: Obrigação como Processo e Deveres Anexos.... 8
2. Modalidade das Obrigações.................................................................................................... 10
2.1. Importância Prática das Classificações............................................................................. 10
2.2. Obrigação quanto ao Objeto................................................................................................. 11
2.3. Obrigação quanto à Pluralidade de Objetos. . ................................................................... 18
2.4. Obrigação quanto à Pluralidade de Sujeitos.................................................................... 22
Questões de Concurso...................................................................................................................31
Gabarito............................................................................................................................................44

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Obrigações – Parte I
Carlos Elias

Apresentação
Saudações, meu(minha) amigo(a)! Hoje é dia de Obrigações.
Focaremos aquilo que mais é cobrado em concurso. Entretanto, na linha do que já tenho
feito nas aulas anteriores, irei aprofundar em temas mais complexos para te garantir sucesso
em questões que ninguém acerta.
Vamos juntos!

Resumo

Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• A obrigação é composta por três elementos: subjetivo (credor e devedor), objetivo (a
prestação) e abstrato (vínculo jurídico);
• A obrigação pode ser civil, quando for exigível, ou natural, quando não o for;
• A dívida prescrita é exemplo de obrigação natural;
• O fim primário da obrigação é o débito (schuld) e o fim secundário é a responsabilidade
(haftung):
− Dívida prescrita é um exemplo de débito (schuld) sem responsabilidade (haftung),
pois o devedor tem a dívida, pode pagá-la voluntariamente, mas não pode ser cons-
trangido a pagar (não há responsabilidade);
− Fiança é um exemplo de responsabilidade (haftung) sem débito (schuld), pois o fiador
pode ser constrangido a pagar a dívida que não é sua; do que dá prova o fato de ele
ter direito de regresso contra o afiançado;
• Conforme concepção mais moderna, a obrigação não é um mero ato, e sim um proces-
so. O professor Clóvis do Couto e Silva desenvolveu essa noção de obrigação como pro-
cesso. Ela justifica a existência de deveres anexos, instrumentais, laterais ou colaterais;
• A violação positiva do contrato é o descumprimento de um dever anexo;
• Quanto ao objeto, a obrigação pode ser classificada como de dar (coisa certa ou incer-
ta), de fazer e de não fazer (arts. 233 ao 251, CC);
• Na obrigação de dar coisa certa, há duas lógicas de justiça que inspiram o legislador
e que justificam todas as regras contidas no Código Civil sobre o assunto: (1) res perit
domino, ou seja, a coisa perece para o dono; e (2) quem causa dano a outrem com culpa

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tem de indenizar. Logo, perecimentos ou deteriorações fortuitos geram prejuízo ao dono


da coisa, ao passo que perecimento e deteriorações culposas obrigam o culpado a inde-
nizar (pagar perdas e danos);
• Na obrigação de dar coisa incerta, aplica-se uma lógica de justiça: genus nunquam perit
(o gênero nunca perece). A única exceção é no caso de gênero limitado. Cuidado: com a
fase da concentração, passa-se a aplicar as regras de obrigação de dar coisa certa, pois
a coisa já terá sido individualizada;
• Quanto à pluralidade de objetos, a obrigação pode ser classificada como simples, com-
posta (que pode ser cumulativa ou alternativa) e facultativa;
• Na obrigação alternativa, assim como se dá na obrigação de dar coisa incerta, a regra
é a de que o devedor escolhe a prestação, salvo pacto contrário (arts. 242 e 252, CC).
Uma vez feita a escolha, a parte não pode voltar atrás por força da regra electa una via
altera non datur;
• Quanto à pluralidade de sujeitos, a obrigação pode ser divisível, indivisível e solidária
(arts. 257 a 285, CC);
• Nunca se esqueça: a solidariedade nunca se presume, mas decorre de lei ou da vontade.

1. Noções Gerais
1.1. Definição
Obrigação é o vínculo jurídico temporário em virtude do qual o credor pode exigir do deve-
dor uma prestação patrimonial e agir judicialmente sobre o patrimônio deste no caso de não
satisfação voluntária.
A disciplina da matéria no CC se aplica a todos os ramos do Direito, salvo regra específica
em contrário. Assim, por exemplo, a obrigação tributária é regida pelo CTN e as obrigações
administrativas – como as decorrentes de sanções aplicadas por órgãos públicos para infrato-
res – são reguladas pela lei específico; todavia, em todos esses casos, o CC supre omissões.
A organização Livro das Obrigações do CC segue uma sequência lógica e, assim, começa
por tratar do “nascimento das obrigações”, ou seja, das várias espécies de obrigações, como
as de dar, de fazer, de não fazer (arts. 233-285).
Em seguida, o CC cuida de Transmissão das Obrigações, regulando as formas de, durante
a “vida das obrigações”, mudar o credor e o devedor, ou seja, regulando a cessão de crédito e
assunção de dívida (arts. 286-303).
Prossegue o CC para falar da “morte das obrigações”, ou melhor, dos casos de extinção
das obrigações, como o pagamento direto e os casos de pagamento indireto (arts. 304-388).
Para encerrar, o CC fala das “doenças” que acometeram a obrigação, ou seja, cuida de ina-
dimplemento, dispondo, por exemplo, sobre encargos moratórios (arts. 389-420).

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É comum os juristas sentirem dificuldades ao ler o Livro das Obrigações diante da pouca
hospitalidade decorrente da abstração do texto legal.
Recomendamos que sempre se busque saber a lógica de justiça que inspirou a redação do
CC, pois ela não apenas elucida a leitura do CC, mas também fornece versatilidade ao jurista
para enfrentar casos concretos peculiares.
E, considerando que os demais livros do CC e as leis extravagantes se assentam também
nas mesmas lógicas de justiça, o conhecimento destas amplia a compreensão de todo o sis-
tema jurídico-civil.
Assim, por exemplo, a lógica de justiça do res perit domino (a coisa perece para o dano)
inspira não apenas o tratamento das regras de obrigação de dar coisa certa (arts. 233 e seguin-
tes), mas também o livro de Contratos (ex.: locador é obrigado a conservar a coisa em condi-
ções de uso para o locatário – art. 566, I), o livro de Direito das Coisas (ex.: o possuidor tem
direito a indenização por benfeitorias necessárias – arts. 1.219 e 1.220), as leis extravagantes
(como o art. 35 da Lei de Inquilinato). Já cuidamos de diversas lógicas de justiça ao tratarmos
da Parte Geral e exporemos outras mais a frente.

1.2. Elementos da Obrigação


A relação obrigacional compõe-se de três elementos: subjetivo, abstrato e objetivo.
O elemento subjetivo refere-se aos sujeitos envolvidos: credor (titular do direito subjetivo) e
devedor (titular do dever jurídico). Terceiros podem eventualmente interferir na relação obriga-
cional, como na hipótese de pagamento por terceiros (art. 304, CC) e de aplicação da doutrina
do terceiro cúmplice. Em nome da boa-fé objetiva, terceiros que aparentem ser credores po-
dem ser admitidos como tal para alguns efeitos, a exemplo do sucede com a figura do credor
putativo (art. 309, CC).
O elemento abstrato ou espiritual é o vínculo obrigacional, assim entendido o vínculo ju-
rídico que sujeita o devedor ao cumprimento voluntário da obrigação, sob pena de sofrer
punições e coerções por via judicial ou extrajudicial1. O vínculo jurídico pode ser vários fatos
jurídicos, como o contrato, os atos ilícitos – que geram a obrigação de indenizar (arts. 186 e
927 do CC) –, os negócios unilaterais etc. Metaforicamente, ao assinar um contrato, as extre-
midades de uma corda invisível são amarradas nas cinturas do credor e do devedor, expondo
este ao dever de cumprir a obrigação. Para que o devedor se libere da obrigação, essa “corda”
(que é o vínculo ou o liame jurídico) precisa ser rompida, o que só acontece nas hipóteses
legais, como o pagamento, a resilição contratual (arts. 472 e 473, CC), a resolução por inadim-
plemento (art. 474, CC) etc.

1
Exemplo de execução extrajudicial é a execução hipotecária do DL 70/66 e o procedimento de consolidação da propriedade
fiduciária sobre imóveis previsto na Lei 9.514/97.

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O elemento objetivo diz respeito ao objeto da obrigação. O objeto pode ser classificado
como: (1) objeto imediato, próximo ou direto: a prestação, que pode ser de dar, fazer ou não
fazer; e (2) objeto mediato, distante ou indireto: o bem da vida.
Ao assinar um contrato de compra e venda de um apartamento, o comprador, com esse
ato jurídico, objetiva adquirir, imediatamente, um direito de crédito juridicamente reconhecido
(prestação) para, a partir da satisfação desse crédito (mediatamente), obter o bem da vida (o
apartamento). Isso explica por que os vendedores fazem questão de que o comprador assine
logo um contrato, ainda que o pagamento do preço seja prorrogado. É que o objetivo imediato
deles é obter a prestação, ou seja, o dever jurídico (objeto imediato). Essa prestação jurídica já
representa um aumento patrimonial para o credor, ainda que ele não tenha recebido o bem da
vida indiretamente almejado (objeto mediato). O direito já um bem móvel ou imóvel (arts. 80
e 83, CC). Vários vendedores costumam “vender” essas prestações por meio de cessões de
créditos, de factoring, de desconto antecipado de recebíveis etc.
Como se vê, o bem da vida é apenas o objeto indireto da obrigação, pois o objeto imediato
é a aquisição de um direito de crédito, ou melhor, da prestação.

1.3. Obrigação quanto à Exigibilidade


Quanto à exigibilidade, a obrigação pode ser classificada como civil ou natural.
A obrigação civil é a exigível, ou seja, aquela cujo descumprimento credencia o credor a
valer-se de meios executivos para obter a satisfação forçada da obrigação ou uma indenização
de perdas e danos.
A obrigação natural ou moral é a obrigação não exigível, embora seja devida. O devedor não
pode ser constrangido a pagar por meios de coerção judiciais ou extrajudiciais de coerção. Ele
pode satisfazer a obrigação apenas se quiser por questão de foro íntimo ou de moral própria
(daí o nome obrigação moral). E, nesse caso, como o pagamento é de uma dívida devida, não
há falar em repetição de indébito, ou seja, de devolução do valor pago (art. 882, CC). É o que
sucede com a obrigação prescrita e a dívida de jogo não disciplinado em lei (art. 814, CC).
Uma das lógicas de justiça que justifica a criação de obrigações naturais consiste na ne-
cessidade de a estrutura coercitiva mantida pelo Estado (que é dispendiosa, como o Poder
Judiciário) não ser utilizada para débitos de pouca importância à luz da função social. Afinal
de contas, como ensinavam os romanos, de minimus non curat praetor (de coisas pequenas
não cuida o jurista).

1.4. Fim Primário e Secundário da Obrigação


O fim primário da obrigação é o débito (schuld) e o fim secundário é a responsabilidade (haf-
tung2). O débito é o dever de prestar, ao passo que a responsabilidade corresponde ao cabimento
2
A doutrina alemã fala em schuld e haftung, o que corresponde, no direito anglo-saxão, respectivamente ao duty e ao liabi-
lity e, no direito francês, ao devoir e ao engagement.

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de meios executivos para forçar o cumprimento do débito no caso de inadimplemento. A res-


ponsabilidade se refere ao direito de exigir o cumprimento da prestação e à possibilidade de o
credor invadir o patrimônio do devedor para garantir o cumprimento da obrigação ou o paga-
mento das indenizações por perdas e danos.
Esses dois elementos são independentes3.
Quando vendedor insiste para o comprador assinar um contrato, o seu primeiro objetivo é
criar a obrigação jurídica, ou melhor, criar uma dívida juridicamente devida contra o compra-
dor. Nascida essa dívida, o credor passa a ter um direito de crédito que, por exemplo, pode ser
cedido para o banco em troca de um dinheiro (como nos negócios conhecidos como facto-
ring4). O objetivo primário da obrigação é criar um débito, ou seja, um dever jurídico. De modo
secundário, objetiva-se garantir que, caso o devedor descumpra a obrigação, o credor possa
responsabilizá-lo civilmente, buscando indenização pelos prejuízos causados. A responsabili-
dade é um fim secundário da obrigação, pois – em palavras curtas – ninguém assina um con-
trato pensando, primariamente, em receber indenização (responsabilidade), e sim em obter a
prestação pactuada (débito).
Na doutrina, costuma-se dizer que o ordenamento tem casos de débito sem responsabilida-
de, como no caso da obrigação natural: a dívida existe, mas o seu descumprimento não autoriza
a responsabilização do devedor. Diz-se também que há responsabilidade sem débito, como no
caso do fiador, o qual pode ser responsabilizado por dívida de outrem (o afiançado), ou no caso
de terceiro que adquire um imóvel hipotecado em garantia de uma dívida do alienante5.
Isso, a nosso sentir, é atécnico. Na fiança, o fiador tem um débito (acessório, mas é débito!)
e uma responsabilidade. Em concurso público, porém, recomendo que seja levado em conta a
doutrina tradicional, de modo que haveria débitos sem responsabilidade, assim como respon-
sabilidade sem débito.

3
Trata-se da teoria da relação complexa Schuld und Haftung, nascida na Alemanha e que inspirou o Brasil. Ela se contrapõe
a teoria da relação unitária, que não separa a obrigação em schuld e em haftung.
4
Há inúmeras hipóteses de tráfegos de créditos, seja por meio de cessões de crédito, seja por meio da emissão de títulos
mobiliários, como a Letra de Crédito Imobiliário – LCI (art. 12, Lei n. 10.931/2004), a Letra de Crédito Agrário – LCA (art. 23,
II, Lei n. 11.076/2004), os Certificados de Recebíveis Imobiliários – CRI (art. 3º, Lei n. 9.514/97) etc.
5
Há críticas a essa abordagem da teoria da relação complexa, pois, no caso do fiador, por exemplo, ele tem sim um débito,
que é acessório, além de ter responsabilidade. E, no caso da obrigação natural, esta não seria um débito jurídico, e sim uma
dívida meramente moral. Sob essa perspectiva, não há necessidade de desmembrar a obrigação em duas relações distin-
tas (schuld e haftung), pois elas se confundem, conforme exposto na teoria unitária. Ao nosso sentir, a teoria da relação
complexa é mais a adequada, com uma adaptação: no caso do fiador, ele tem um débito sim, que é acessório. O exemplo
de responsabilidade sem débito é indevido, a nosso sentir. Não há responsabilidade sem débito, aidna que este seja aces-
sório. Todavia, pode haver débito sem responsabilidade, como sucede na obrigação natural. Temos que a obrigação natural
só pode ser explicada pela teoria da relação complexa, pois ela não é um dever meramente moral, e sim jurídico. É jurídico,
porque gera efeitos jurídicos: o seu pagamento voluntário nõ autoriza repetição de indébito.

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1.5. Concepção Moderna de Obrigação: Obrigação como Processo e


Deveres Anexos
A concepção de obrigação na modernidade deve ser lida à luz da Constitucionalização do
Direito Civil, da função social, da boa-fé, da vedação ao abuso de direito e das diretrizes teóri-
cas do Código Civil (eticidade, socialidade e operabilidade). Peço que vocês se recordem da
primeira aula nossa de Parte Geral do Código Civil, quando tratamos da constitucionalização
do Direito Civil, dos corolários da boa-fé objetiva, da substantial performance e da teoria do ina-
dimplemento mínimo. Isso dá margem de manobra ao jurista para resolver os casos concretos
de modo a fazer as obrigações serem instrumentos de promoção social. E é nesse contexto
que se insere o conceito de “obrigação como processo”.
O saudoso professor Clóvis Veríssimo do Couto e Silva desenvolveu, no Brasil, o conceito
de “obrigação como processo” (expressão emprestada ao título de sua clássica obra). Para
ele, a obrigação não implica a mera prestação do objeto, como concebia a doutrina tradicional
e liberal do século XIX. Obrigação não se resumo a um mero ato. No mundo contemporâneo,
ela é um processo, ou seja, um conjunto de atos a serem praticados por ambas as partes com
o objetivo de prestar o objeto de modo compatível com os valores da boa-fé, da função social,
dos bons costumes e da razoabilidade. Em suma, obrigação é impõe um processo a ser segui-
do por ambas as partes de modo a obter estes objetivos: o adimplemento mediante a ausência
de danos às partes, a mínima onerosidade ao devedor e a máxima satisfação do credor.
Ao lado dessa noção de obrigação como processo, há a do princípio da concretude no
adimplemento do programa obrigacional, assim entendida a necessidade de que a obriga-
ção implique concretamente benefícios para ambas as partes à luz dos valores do ordena-
mento jurídico.
É à luz do conceito de obrigação como processo e do princípio da concretude que se justi-
fica a noção de violação positiva do contrato.
Conforme lembra o ministro Paulo de Tarso Sanseverino (1997, pp. 285-314), há três espé-
cies de deveres decorrentes de uma obrigação: o principal, o secundário e o anexo.
O dever principal ou primário da obrigação é o núcleo dominante da obrigação, é a pres-
tação que representa a razão de ser do negócio. Por exemplo, na compra e venda, os deveres
principais é a entrega do bem e o pagamento do preço.
O dever secundário ou acidental da obrigação está dentro do dever principal e consiste
em condutas que se destinem a garantir o correto cumprimento da prestação principal (ex.:
conservar a coisa vendida até a sua entrega) e, se for o caso, das consequências da impos-
sibilidade desse cumprimento (ex.: indenização pelo perecimento culposo da prestação). Ex.:
quem vende gado e se compromete a entregá-lo dentro de um mês deve continuar cuidando
dele com diligência, pois isso é um dever secundário da obrigação6.
6
A nosso sentir, preferimos considerar os deveres secundários como insertos nos deveres anexos. Temos que a categoria
dos deveres secundários mais obscurecem do que esclarecem, introduzindo uma distinção taxonômica que não parece

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O dever anexo, lateral, colateral ou instrumental da obrigação corresponde às condutas pa-


ralelas ao dever principal destinadas garantir o respeito à boa-fé objetiva e aos outros valores
jurídicos. Esse dever diz respeito ao correto processamento da relação obrigacional, e não pro-
priamente ao correto cumprimento da prestação. Esse dever não depende de previsão expres-
sa em contrato ou em lei, pois nascendo próprio princípio da boa-fé objetiva, que rege todos os
contratos e obrigações. A título ilustrativo, citam-se como deveres anexos os de informação,
de cooperação, de proteção e de sigilo.
Chama-se de violação positiva do contrato o descumprimento de deveres anexos vinculados
a contratos, independentemente de o dever principal ter sido cumprido. Tal enseja as mesmas
consequências tradicionais de qualquer inadimplemento, como resolução do contrato, exceptio
non adimpleti contractus, responsabilidade civil, etc. Aí ter-se-á uma responsabilidade contratual,
porque o dever anexo decorre da boa-fé objetiva, que é um dever dos contratantes (art. 422, CC).
Em suma, em um contrato de venda de veículo, não basta o devedor entregar o automóvel
(dever principal). Ele deve adotar condutas que garantam o cumprimento desse dever princi-
pal (ex.: conservar o motor e as condições dos veículos – dever secundário) e que, também,
adéque a obrigação aos valores da boa-fé objetiva do ordenamento jurídico (ex.: repassar as
informações relevantes ao credor – dever anexo).
Vamos citar exemplos de descumprimentos de deveres anexos.
O médico que cura seu paciente mediante cirurgia baseada em técnicas antigas e altamen-
te dolorosas descumpre o dever anexo de proteção, pois, caso se servisse de técnica mais
moderna, poderia ter obtido o mesmo resultado sem infligir elevadas dores ao paciente.
Viola dever anexo a agência de publicidade que, a pretexto de cumprir contrato de divul-
gação, coloca outdoors da empresa contratada em lugares de difícil visualização por sua má
localização e seu difícil acesso.
Infringe dever anexo quem, após celebrar contrato de compra e venda de cavalo valioso, en-
trega este ao adquirente em estado de saúde frágil por conta de falhas no transporte do animal.
Inobserva dever anexo de informação quem vende máquina e não adverte o adquirente das
eventuais consequências danosas decorrentes da sua má utilização.
A seguradora não pode considerar o termo inicial da prescrição da pretensão de cobrança de
seguro por acidente de trabalho outra data senão aquela em que o segurado possui ciência ine-
quívoca da invalidez permanente, caracterizada por laudo médico específico. Antes desse marco,
nem a seguradora pagaria o valor da cobertura e, portanto, não pode reputar inerte o segurado
nesse período (STJ, REsp 184.573/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 15/03/99).

ter relevância prática.

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2. Modalidade das Obrigações


2.1. Importância Prática das Classificações
As classificações dos institutos dão clareza ao jurista, pois permitem fácil localização das
regras que são aplicáveis ao caso concreto.
Para resolver qualquer problema prático envolvendo obrigações, o jurista deve identificar
em qual categoria se enquadra cada uma das obrigações existentes no caso concreto e, em
seguida, buscar a solução jurídica dada pelos dispositivos do Código Civil que versam sobre
esse tipo de obrigação.
Para citar um caso concreto com o qual nos deparamos, em uma transação feita para ex-
tinguir um processo, os réus estavam a se comprometer a pagar uma quantia pecuniária de
modo parcelado. Os advogados deles nos encaminharam uma minuta de contrato com este
texto: “Fulano e Beltrano pagarão X reais em dez prestações”. No exemplo, Beltrano era pobre.
Identificando essa obrigação como divisível – e não como solidária (pois a solidariedade nun-
ca se presume, mas depende de previsão legal ou contratual expressa nos termos do art. 265,
CC) –, teríamos um grande problema para executar a transação no caso de inadimplência: o
art. 257 do CC estabelece que, nas obrigações divisíveis, presume-se que cada codevedor tem
uma obrigação própria de valor igual, de sorte que Fulano só responderia ser executado para
pagar metade do valor X, pois a outra metade é dívida apenas do depauperado Beltrano.
Nesse sentido, há três principais perspectivas de classificação das obrigações a serem
estudadas:
• Obrigação quanto ao objeto:
− obrigação de dar coisa certa (arts. 233 ao 242, CC) ou coisa incerta (arts. 243 ao 246, CC);
− obrigação de fazer (arts. 247 ao 249, CC);
− obrigação de não fazer (arts. 250 e 251, CC).
• Obrigação quanto à pluralidade de objetos:
− obrigação simples;
− obrigação composta, que pode ser conjuntiva ou alternativa (arts. 252 ao 256, CC);
− obrigação facultativa.
• Obrigação quanto à pluralidade de sujeitos:
− obrigação divisível (art. 257, CC);
− obrigação indivisível (arts. 258 ao 263, CC); e
− obrigação solidária (arts. 264 ao 285, CC).

Vamos cuidar dessas espécies de obrigações a seguir.

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2.2. Obrigação quanto ao Objeto


Focando o objeto, só há três tipos de obrigações: dar (coisa certa ou incerta), fazer e não
fazer. Qualquer obrigação pode ser encaixada em uma dessas categorias, que dão soluções
jurídicas diversas.

2.2.1. Obrigação de Dar Coisa Certa

Amigo(a), resolva a questão.

001. (CESPE/2004) Nas obrigações de dar, a tradição é um dos requisitos indispensáveis para
a efetiva realização do negócio, e esta se consubstancia na entrega do bem ao adquirente, com
a intenção de lhe transferir o domínio, em razão de título translativo de propriedade. Assim, se
for efetuada a entrega da coisa, mesmo que o comprador tenha decidido deixá-lo naquele local
e ocorra a perda ou deterioração do bem, o vendedor deve suportar o prejuízo, pois assumiu
todos os direitos, ônus e obrigações, que competem ao titular da coisa adquirida.

A questão está “errada”, porque, em primeiro lugar, a tradição não é um requisito para a reali-
zação do negócio, e sim é apenas o pagamento. O negócio nasce com o acordo de vontades,
salvo nos casos pouco comuns de contratos reais (aqueles que nascem com a entrega da
coisa, a exemplo do mútuo). Se não for cumprida a obrigação, o credor pode executar, porque
a obrigação já existe. Em segundo lugar, o item é “errado”, porque, feita a tradição, o risco pelo
perecimento ou deterioração da coisa é do COMPRADOR, que se tornou dono, e não do ven-
dedor. Se o comprador deixou no local, isso é problema dele: a propriedade já foi transferida e,
portanto, aplica-se o “res perit domino” (a coisa perece para o dono).
Errado.

Vamos explicar melhor a teoria.


Coisa certa é o bem especificado, individualizado e definido. Em outras palavras, é o bem
identificado pelo gênero, pela espécie e pela quantidade. Se a coisa for definida apenas pelo
gênero e quantidade, e não pela espécie, tem-se coisa incerta. Assim, a obrigação será de dar
coisa certa se uma concessionária se obriga a entregar um veículo BMW de chassi “X” e será
de dar coisa incerta se a prestação for a entrega de uma BMW preta, de ano “Y”, de categoria
“Z” (há vários veículos com essas características. As consequências jurídicas são diversas.
Para entender de forma mais adequada, gosto de indicar algumas lógicas de justiça que
inspiraram o legislador ao escrever o Código Civil. Eu sempre achei a parte de Direito das Obri-
gações mais abstrata e difícil até o momento em que eu identifiquei essas lógicas de justiça.

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Obrigações – Parte I
Carlos Elias

De fato, a obscuridade do texto do livro do Direito das Obrigações é esclarecida quando se


identificam essas lógicas de justiça.
No caso de obrigação de dar coisa certa, toda a disciplina do Código Civil se assenta em
duas lógicas de justiça: a do neminem laedere e a do res perit domino. Essa lógica se espalha
pelo tratamento de vários outros institutos pelo Código Civil e pela legislação extravagante.
Vamos explicar isso.
Em regra, quem causa dano a outrem com culpa tem o dever de indenizar, pois ninguém
pode lesar outrem (princípio do neminem laedere). Essa lógica permeia toda a legislação e está
genericamente previsto nos arts. 186 e 927 do CC, que consideram ilícita a conduta culposa
que cause um dano e preveem o dever de indenizar.
A disciplina da obrigação de dar coisa certa segue essa lógica de justiça, conforme se vê
nos arts. 234 (in fine), 236, 239 e 240 do CC, com o destaque de que a parte final do art. 240
do CC atrai implicitamente também a disciplina do art. 236 do CC, conforme enunciado n. 15/
JDC. Se compro um determinado veículo para ser entregue a mim no próximo mês e o vende-
dor, após a celebração do contrato, rasga a sua lataria com um machado, eu poderei escolher
entre receber o veículo avariado ou exigir o pagamento do valor de mercado do veículo na data
de entrega dele (no mínimo, o preço pactuado7), além de, em qualquer uma desses casos, pedir
indenização por outros danos sofridos (ex.: danos materiais e morais pela frustração de uma
viagem “de carro” que eu havia pago para se iniciar na data da entrega do veículo).
Em suma, vige a regra de que, se a coisa perecer (destruição total) ou se deteriorar (des-
truição parcial) por culpa do devedor, este deverá pagar indenização ao credor. Se a coisa só
tiver sido deteriorada, além dessa indenização, o credor poderá exigir a coisa no estado em que
estiver ou poderá inflar a indenização exigindo também o pagamento do valor de mercado da
coisa na data do vencimento da obrigação (o valor equivalente). Esse valor equivalente da coi-
sa não necessariamente corresponderá ao preço que foi pactuado pelas partes, pois o valor da
coisa pode ter oscilado após a celebração do contrato. Entendemos que essa oscilação deve
ser levada em conta, salvo pacto expresso em sentido contrário. Contudo, para não prestigiar a
conduta culposa do devedor, o preço pactuado deve ser tido como um valor mínimo da coisa.
É que, a nosso sentir, quando o CC menciona o dever de responder pelo equivalente nessas
hipóteses, ele está prevendo uma indenização, e não propriamente uma mera repetição de in-
débito em razão de o pagamento ter-se tornado indevido com a deterioração culposa da coisa.
O próprio CC costuma empregar o vocábulo “responder” (e não “restituir”) pelo equivalente
mais perdas e danos.
Mesmo raciocínio vigora se a coisa perecer por culpa do devedor na obrigação de dar coisa
certa: ele terá de pagar, a título de indenização, o equivalente (o valor de mercado da coisa)
mais outros danos comprovados. Essa é a inteligência do art. 234 do CC. É evidente que, caso

7
O preço pactuado é o do valor do bem para a entrega no mês seguinte. Esse é o valor mínimo. Se, porém, o veículo tiver
valorizado, deverá ser pago esse novo valor. Se tiver desvalorizado, isso é irrelevante, pois, no contrato, foi pactuado um
preço que deve ser tido como mínimo, sob pena de prestigiar a conduta culposa do devedor.

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Obrigações – Parte I
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o credor também tenha uma dívida perante o devedor (por exemplo, não pagou o preço do car-
ro), o encontro das dívidas opostas gerará extinção das obrigações até o valor confrontado por
compensação nos termos do art. 368 do CC. Se, por exemplo, eu comprei um carro pelo preço
de R$ 30.000,00 para ser entregue no mês que vem, mas ainda não paguei o preço, e se o ven-
dedor propositalmente ateia fogo no veículo no dia seguinte à venda, a coisa pereceu por culpa
do vendedor e, por consequência, o vendedor terá de me pagar, a título de indenização, o valor
de mercado do carro (“o equivalente”, segundo o art. 234 do CC) mais outros danos comprados
(“as perdas e danos” do art. 234, CC), admitida a compensação com a dívida que eu tenho. Se o
valor de mercado do carro era de R$ 100.000,00 e eu tinha conseguido um expressivo desconto
para comprar por apenas R$ 30.000,00, o vendedor teria de me pagar, como indenização, R$
100.000,00 (o equivalente) mais outros danos que eu comprovar, valor esse que seria reduzido
para R$ 70.000,00 em razão da compensação pelo fato de eu estava devendo R$ 30.000,00
como pagamento do preço do veículo.
A regra geral da obrigação de dar coisa certa é excepcionada quando houver norma em
sentido contrário, a exemplo do que sucede nos casos de contratos gratuitos e de responsabi-
lidade objetiva.
No caso de obrigação de dar coisa certa fundada em contrato gratuito, o generoso só res-
ponderia pelo perecimento ou deterioração da coisa se tiver obrado com dolo, conforme art.
392 do CC. Afastam-se as regras do Livro das Obrigações em sentido contrário.
No caso de responsabilidade civil objetiva, o devedor responderá pelo perecimento ou a
deterioração da coisa independentemente da prova de culpa. Ficam, pois, afastadas as regras
contrárias do Livro das Obrigações. A responsabilidade objetiva só será afastada quando hou-
ver alguma hipótese legal de excludente de responsabilidade objetiva, como o caso fortuito
externo (riscos alheios à atividade) ou a culpa exclusiva da vítima (que rompe o nexo causal),
temas a serem estudados em Responsabilidade Civil. A responsabilidade objetiva ocorre quan-
do houver previsão legal (como no caso de danos causados a consumidores à luz do art. 12 do
CDC) ou quando for aplicável à teoria do risco, que responsabiliza objetivamente quem exercer
atividade que cria um risco de dano a terceiros além do usual, conforme art. 927, parágrafo
único, do CC. Assim, se uma concessionária se obriga a entregar um veículo individualizado ao
consumidor, há relação de consumo e, portanto, se a coisa perecer – ainda que sem culpa da
empresa – ela terá o dever de indenizar. Se, porém, esse perecimento decorrer de um terremo-
to que fez o solo sugar o veículo para o centro da Terra, isso é fortuito externo a excluir a res-
ponsabilidade objetiva. Se, porém, o motivo foi um acidente de trânsito ocorrido no trajeto de
entrega da coisa sem culpa do fornecedor, isso é um risco inerente à atividade deste, ou seja,
é o caso fortuito interno, o que não afasta o seu dever de indenizar. Por fim, como as regras do
CC não são de ordem pública nesse ponto, é admissível pacto em sentido contrário, salvo ve-
dação legal expressa. Assim, por exemplo, a renúncia ao direito à indenização seria nula se es-
tivesse em contrato de adesão por se tratar de um direito inerente ao negócio (art. 474, CC) ou
em contrato de consumo firmado com consumidor que seja pessoa natural (art. 51, I, do CDC).

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Obrigações – Parte I
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E o que é a regra do res perit domino?


A outra lógica de justiça que pavimenta a disciplina da obrigação de dar coisa certa é a do
res perit domino (a coisa perece para o dono). Se a coisa perecer ou deteriorar-se sem culpa,
quem deve ficar no prejuízo é o dono da coisa. Desgastes ou perecimentos não culposos são
ônus do dono da coisa. É ao sopro dessa lógica de justiça que foram redigidos os arts. 234,
235, 238 e 240 do CC.
Na obrigação de dar coisa certa, o devedor é dono da coisa até a tradição, se for coisa mó-
vel, e, por isso, suportará o prejuízo no caso de perecimento ou deterioração não culposa da
coisa. O res perit domino orquestra os arts. 234 e 235 do CC.
Isso significa que, nessa hipótese, se a coisa perecer, resolve-se a obrigação, ou seja, vol-
ta-se ao status quo ante: o devedor fica sem nada (a coisa pereceu) e o credor recebe o seu
dinheiro de volta, se tiver pago algo pela coisa.
Se, porém, a coisa se deteriorar sem culpa do devedor antes da tradição, ele suportará o
prejuízo por essa perda parcial, porque era o dono da coisa (res perit domino). O credor não
poderá sofrer qualquer prejuízo. Por isso, o credor terá duas opções: (1) resolver a obrigação
e, se for o caso, receber integralmente o preço pago; ou (2) aceitar a coisa deteriorada, com o
abatimento proporcional do preço.
Para exemplificar, se vendo um veículo para ser entregue no próximo mês e recebo R$
40.000,00 como preço, eu terei de restituir essa quantia caso, antes da tradição, o veículo seja
furtado (perecimento sem culpa minha) e ficarei sem carro e sem dinheiro, porque res perit
domino. Se, porém, esse veículo só tiver sido amassado por um choque provocado por um
terceiro e que tenha desvalorizado o bem em R$ 5.000,00, o veículo se deteriorou sem culpa
minha, de maneira que o comprador poderá escolher entre recolher os seus R$ 40.000,00 de
volta ou receber o carro abalroado com os R$ 5.000,00 correspondentes à desvalorização do
bem. Como se vê, eu ficarei no prejuízo nesses exemplos, porque res perit domino.
Se a obrigação é de restituir coisa certa, a lógica básica é a mesma: a do res perit domino.
A única diferença é a de que o credor é o dono da coisa, que está nas mãos do devedor com
dever de restituir. Os arts. 238 e 240 do CC cuidam da matéria.
Perecida a coisa a ser restituída sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação sem dever
de este pagar qualquer indenização. O credor, que é o dono, fica no prejuízo. Assegura-se, po-
rém, os direitos do credor até a data do perecimento, sob pena de enriquecimento sem causa
do devedor, que, por exemplo, pode ter usufruído da coisa até esse momento (art. 238, CC). Por
exemplo, o locatário de um veículo não terá de pagar outro se ele for roubado, pois se trata de
perecimento sem culpa dele; todavia, deverá pagar o aluguel até a data do sinistro.
Se a coisa, porém, tiver sido deteriorada, só resta ao credor receber a coisa danificada sem
poder exigir indenização alguma (art. 240, CC).
O CC é silente quanto ao direito de o devedor continuar com a coisa deteriorada até a data
de restituição. Temos que ele não é obrigado a continuar com a coisa deteriorada, pois o seu
direito era o de ter a coisa íntegra até a data da restituição. Se, porém, ele continuar com a

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Obrigações – Parte I
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coisa deteriorada até a data da restituição, deverá haver a redução proporcional do preço (aba-
timento do preço), pois o prejuízo deve ser suportado pelo dono da coisa por analogia do art.
235 do CC. Seja como for, em nome da boa-fé objetiva, é dever do devedor comunicar o credor
imediatamente após a deterioração da coisa. E, em nome do seu direito de propriedade, é as-
segurado ao credor o direito de interpelar extrajudicialmente o devedor exigindo o vencimento
antecipado da obrigação de restituir, pois é seu interesse reparar a coisa e evitar o agrava-
mento da deterioração. Todas essas regras poderão ser excepcionadas por lei ou por pacto, a
exemplo do que sucederia em relações de consumo, em que a responsabilidade objetiva faria
com que o dono da coisa, se não fornecesse um bem substituto no prazo razoável, poderia ser
obrigado a indenizar os prejuízos sofridos pela outra parte em razão da perda da utilidade da
coisa a ser restituída.
Para exemplificar, se alugo um veículo que, pela sua velhice, já está às vésperas de quebrar,
jamais poderei ser compelido a indenizar avarias que surgirem durante o meu regular uso, pois
o prejuízo tem de ser suportado pelo dono da bicicleta. Por isso, se o veículo se deteriorar,
posso devolvê-lo imediatamente ao locador e exigir os alugueis adiantados de volta ou, se eu
continuar com o veículo, pode exigir a redução proporcional do aluguel após a deterioração.

2.2.2. Obrigação de Dar coisa Incerta

Coisa incerta é aquela definida apenas pelo gênero8 e quantidade; é a coisa não individua-
lizada. Daí que a obrigação de dar coisa incerta também é chamada de obrigação genérica e
está disciplinada nos arts. 243 ao 246 do CC. Coisa incerta tem de ser determinável e possível,
sob pena de nulidade (art. 104, II, CC). Coisa incerta não é coisa indeterminável nem impossível.
Na obrigação de dar coisa incerta, o devedor precisa individualizar a coisa (escolher a
coisa) e cientificar o credor acerca disso. Ele precisa concentrar a sua obrigação em um único
objeto entre os vários que se enquadram no gênero. Trata-se da fase da concentração, que se
completa com a cientificação do credor acerca da escolha. Pontes de Miranda prefere desig-
nar de fase da concretização. A concentração transforma a obrigação de dar coisa incerta em
de dar coisa certa, com a aplicação das regras pertinentes (art. 245, CC). Desse modo, antes
da concentração, vigora a regra genus nunquam perit. Após a concentração, vige as regras de
obrigação de dar coisa certa (res perit domino), pois já se tem coisa certa.
Feita a escolha, o devedor não pode voltar atrás e mudar a coisa por outra com as mesmas
características, em respeito à regra do electa una via altera non datur (eleita uma via, alterar
não é permitido)9. Assim, se uma imobiliária se compromete a entregar um apartamento de 2

8
Há quem critique o verbete “gênero” usado pelo CC e propune a sua substituição (Catalan, 2016). Temos, porém, que se
trata de termo consagrado no Direito com definição conceitual doutrinariamente consolidada, o que desaconselha a sua
alteração.
9
Essa expressão latina era a forma sofisticada de os romanos dizerem o que, no linguajar popular atual, expressamos
como “ajoelhou, vai ter de rezar” ou “desceu no play, vai ter de brincar”. Expressa uma noção de justice que está na boca

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quartos em um prédio, a imobiliária, após escolher uma unidade específica e cientificar o com-
prador, não poderá voltar atrás para entregar outro apartamento.
A escolha e a cientificação competem ao devedor como regra, pois se presume que foi seu
interesse deixar de individualizar a coisa. Admite-se, porém, pacto em contrário. Em nome da
boa-fé, o devedor deve escolher coisa, ao menos, de qualidade média (art. 244, CC).
Vale a pena detalhar mais algumas coisas acerca da teoria do risco nas obrigações de dar
coisa incerta. A teoria do risco aí é baseada no genus nunquam perit. Vamos lá.
Como o devedor se obriga a entregar um gênero, e não uma coisa individualizada, jamais
ele poderá alegar perecimento fortuito da coisa para exonerar-se de sua obrigação (art. 246,
CC). Trata-se da regra do genus nunquam perit: o gênero nunca perece. Assim, se alguém se
obriga a entregar um veículo Hylux preto de ano X (coisa incerta; há vários veículos desse tipo),
ele jamais poderá isentar-se desse dever a pretexto, por exemplo, de que o pátio de veículos se
incendiou sem culpa dele. O dever dele é de entregar o gênero, e não a coisa individualizada.
Cumpre-lhe, apesar de todas as suas desventuras, retorcer-se para entregar, no vencimento, o
objeto pactuado, sob pena de ser considerado inadimplente e arcar com todos os encargos daí
decorrentes (multas, juros moratórios etc.).
Excepciona-se a regra acima se o gênero for limitado, ou seja, se o devedor tiver especifica-
do o universo do qual ele retirará a coisa a ser entregue. Nesse caso, se todo o gênero perecer
sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação. Cuida-se de uma ampliação do res perit domino:
o res aí é o gênero limitado, e não uma coisa individualizada. Se, exemplo acima, o devedor
tiver se obrigado a entregar o veículo Hylux entre os disponíveis no seu pátio, a fogueira fortuita
resolverá a obrigação sem dever de indenizar.
Por fim, façamos uma ressalva. Se, por motivo superveniente, o objeto se tornar absolu-
tamente impossível (jurídica ou materialmente), aí será um caso de resolução do contrato. O
gênero tem de ser possível. Não importa se a obrigação era de dar coisa incerta, pois, mesmo
aí, presume-se que a individualização do gênero é física ou materialmente possível. Essa regra,
porém, não vale se o contrato for aleatório e o devedor tiver assumida expressamente esse ris-
co. Enfatize-se que, se ainda existir a possibilidade de encontrar uma unidade da coisa devida,
ainda que de modo oneroso, não há falar em impossibilidade absoluta, de modo que o devedor
continuará obrigado a cumprir a sua obrigação, como lembra o civilista Marcos Catalán.
Se, p. ex., uma praga destruir todas as plantações de soja do Planeta, quem se obrigou a
entregar uma saca de soja (coisa incerta) fica exonerado por não ter culpa na impossibilidade
material absoluta de cumprir a obrigação. Igualmente, se a importação de um produto vem a
ser proibido sem culpa do devedor, a obrigação de dar coisa incerta assumida pelo importador
se resolve diante da impossibilitada jurídica supervenientes.

do povo. Porém, para valer-se de uma jocosidade de corredor da Academia, quidquid latine dictum sit, altum videtur (qual-
quer coisa dita em latim parece mais elevado, mais profundo).

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2.2.3. Obrigação de Fazer

A obrigação de fazer é o dever de prestar um fato, ou seja, de adotar uma conduta comis-
siva (ex.: cantar, reparar uma pia, instalar programas etc.). A sua disciplina está nos arts. 247
ao 249 do CC.
Ela pode ser fungível ou infungível.
É fungível (= substituível) quando puder ser cumprida por pessoa diversa do devedor. Ex.:
conserto de uma pia geralmente pode ser feito por qualquer profissional. Nesse caso, havendo
inadimplência e urgência, o credor pode servir-se um mecanismo de um autotutela, ou seja,
de uma forma de “fazer justiça com as próprias mãos, sem intervenção judicial”10: ele pode
contratar um terceiro para executar o fato e, posteriormente, reivindicar ressarcimento do de-
vedor (art. 249, parágrafo único, CC). Ex.: se companhia aérea cancela voo e não disponibiliza
recolocação do passageiro em novo voo (descumprimento de obrigação de fazer, ou seja, de
transportar e de reposicionar passageiro em outro voo), este poderá comprar uma passagem
e, depois, pleitear o ressarcimento. Não importa se o valor da passagem for caríssima. Trata-se
de caso de descumprimento de obrigação de fazer fungível em situação de urgência a autori-
zar a autotutela.
A obrigação é infungível quando não puder ser prestada por terceiro diante do caráter per-
sonalíssimo. Ex.: se o Chico Buarque se obrigou a cantar em um evento, não há outro cantor
que possa substituí-lo.
Se a obrigação de fazer se tornar impossível (perecer) sem culpa do devedor, resolve-se
a obrigação sem direito a perdas e danos. A culpa foi da natureza ou do acaso: não há como
condenar o devedor a pagar perdas e danos11. Se, porém, houver culpa do devedor no pereci-
mento da obrigação (impossibilidade de prestar o fato), o credor pode pedir indenização por
perdas e danos (art. 248, CC).
Pessoal, vale a pena falar como a obrigação de fazer pode ser executada judicialmente.
Isso ajuda a entender a dinâmica desse tipo de obrigação.
Na hipótese de inadimplência, há duas situações, disciplinadas pelos ritos executivos per-
tinentes no CPC (arts. 536, 537 e 814 ao 821).
A primeira é a de que o credor ainda considere útil a prestação tardia. Nesse caso, ele
poderá pleitear judicialmente a tutela específica, ou seja, a prestação de fato em específico,
servindo-se de meios executivos indiretos por coerção como as multa cominatória12 ou plei-

10
Como o Estado detém o monopólio da força e da violência, a autotutela é, em regra, veda e pode chegar a configurar crime
(ex.: exercício arbitrário das próprias razões). Todavia, excepcionalmente o ordenamento permite a autotutela em situações
específicas de urgência e de relevância que desaconselhem a espera por uma decisão judicial. Outro exemplo é a autotutela
da posse na forma do art. 1.210 do CC.
11
A exceção ocorreria no caso de o devedor ter assumido esse risco (como nos contratos aleatórios) ou nas hipóteses de
responsabilidade objetiva (desde que o risco seja inerente à atividade do devedor).
12
Apesar de o CPC ter adotado a atipicidade dos meios executivos, direitos fundamentais à integridade física e aos direitos da
personalidade dificultam cogitar um meio coercitivo diverso das astreintes para o caso de obrigação de fazer. A astreinte é

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teando que o juiz condene o devedor a custear a contratação de um terceiro que preste o fato
(art. 819, CPC). Ex.: se o Chico Buarque não quiser cantar no evento, o credor dessa obrigação
de fazer poderia pedir judicialmente a adoção de meios coercitivos contra esse célebre cantor.
Lembre-se de que, se houver urgência e a obrigação de fazer for fungível, não há necessidade
de ordem judicial para a contratação de um terceiro: o credor pode pagá-lo e posteriormente
pedir o reembolso (art. 249, parágrafo único, CC).
A segunda situação é a de o credor considerar inútil a prestação atrasada. Nesse caso, só
lhe resta pleitear indenização por perdas e danos ou a obtenção de alguma tutela que resulte
em um resultado prático equivalente.

2.2.4. Obrigação de Não Fazer

Também chamada obrigação negativa, a obrigação de não fazer consiste em impor um de-
ver de abstenção contra o devedor. Ex.: dever de não negativar o nome de alguém no cadastro
de inadimplentes. Está disciplinada nos arts. 250 e 251 do CC.
Descumprida a obrigação (ex.: negativou o nome), o credor poderá, além de exigir indeni-
zação por perdas e danos, pleitear medidas judiciais que revertam o fato praticado, como, por
exemplo, o arbitramento de multa cominatória contra o devedor a fim de coagi-lo desfazer a
negativação ou – o que não é comum nesse caso – o envio de policial que pessoalmente faça
a retirada do nome. Os meios executivos são inúmeros diante da aticipidade dos meios exe-
cutivos. Essas regras são colhidas do art. 251 do CC em sintonia com os ritos executivos de
obrigações de não fazer previstas nos arts. 536 ao 537 814, 822 e 823 do CPC.
Se, sem culpa do devedor, tornar-se impossível abster-se do fato, resolve-se a obrigação
sem perdas e danos. O devedor não terá de indenizar os prejuízos sofridos pelo credor. Ex.: se
sobrevier uma ordem judicial específica determinando a negativação do nome de alguém, é
juridicamente impossível abster-se de cumprir esse comando.

2.3. Obrigação quanto à Pluralidade de Objetos


Classificando a obrigação quanto à quantidade de prestações envolvidas, há três espécies:
simples, composta (cumulativa ou alternativa) ou facultativa.

2.3.1. Obrigação Simples

Diz-se simples a obrigação quando só há uma prestação. Ex.: obrigação de entregar um


apartamento. Não há um dispositivo expresso no CC para esse tipo de obrigação diante da
completa desnecessidade: a disciplina das modalidades das obrigações (dar, fazer e não fa-
zer) é suficiente.

também chamada de multa cominatória e é popularmente conhecida como “multa diária”.

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2.3.2. Obrigação Composta: Cumulativa e Alternativa

Não há um dispositivo expresso no CC para esse tipo de obrigação diante da completa des-
necessidade: a disciplina das modalidades das obrigações (dar, fazer e não fazer) é suficiente.
A obrigação cumulativa ou conjuntiva é a quando o devedor deve entregar conjuntamente
as duas ou mais prestações. Se cumprir apenas uma prestação, o devedor incorre em inadim-
plemento parcial. Não há dispositivo específico no CC sobre essa espécie de obrigação, por já
estar implícita nas regras do CC.
Quanto à obrigação alternativa, temos de gastar algumas linhas a mais.
Disciplinado nos arts. 252 ao 256, a obrigação alternativa é aquela em que o devedor é
obrigado a entregar uma entre outras prestações. As prestações estão unidas pela conjunção
alternativa “ou”. O devedor não pode misturar as prestações: ou é uma, ou é outra. A título de
exemplo, imagine que uma instituição venda rifas obrigando-se a entregar ao sorteado um car-
ro ou uma moto. Aí se tem uma obrigação alternativa: a instituição paga-a entregando qualquer
um dos objetos.
Como a obrigação alternativa envolve mais de uma prestação em dispersão, há necessida-
de de concentrar a obrigação em apenas uma prestação. Isso é feito por meio de uma escolha
com cientificação da outra parte a fim de individualizar a prestação que será cumprida. Não
importa se a escolha é do credor ou do devedor: a cientificação da outra parte é essencial.
Essa escolha com cientificação do credor é chamada de “fase da concentração”. Entende-
mos que a cientificação é necessária para aperfeiçoar a fase da concentração, por analogia
com a regra do art. 245 do CC. Essa ciência poderá ser feita antes da data do pagamento ou
no seu momento. Basta uma declaração de vontade receptícia, ou seja, uma declaração que
tenha chegado ao conhecimento da outra parte. Sem a ciência, abre-se margem para burlas
do devedor, que poderia mentir alegando ter escolhido uma prestação que veio a perecer sem
sua culpa a fim de exonerar-se da obrigação com base no res perit domino. Maria Helena Diniz
(2012, p. 144) dá solução parecida, com uma diferença: entende que, no caso de a escolha ser
do devedor, a concentração só ocorrerá no momento do pagamento, quando o credor receber
a oferta real de pagamento com indicação da coisa escolhida. Vamos além e entendemos que,
no caso de a escolha ser do devedor, este pode promover a concentração mesmo antes do pa-
gamento mediante cientificação do devedor (declaração de vontade receptícia). Para Orlando
Gomes, basta a declaração, ou seja, a escolha, sem necessidade de cientificação, mas lembra
o saudoso civilista baiano que há correntes em sentido diverso, como as que resumem a con-
centração ao momento da cientificação ou ao instante da execução da prestação.
Feita a concentração, a obrigação deixa de ser alternativa e passa ser a ser simples. E quem
fez a escolha não poderá voltar atrás, pois electa una via altera non datur (eleito um caminho,
alterar não é permitido). Aplicar-se-á as regras próprias de obrigações simples. Ex.: se a pres-
tação é coisa certa, vige as regras do art. 233 e seguintes do CC, como a do res perit domino.

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Obrigações – Parte I
Carlos Elias

Em regra, a escolha compete ao devedor, pois se presume que ele se obrigou a prestações
alternativas para sua comodidade. Se ele não exercer o seu direito, o credor pode compeli-lo ju-
dicialmente a fazer a escolha no prazo de 10 dias, sob pena de a escolha passar a ser do credor
(art. 800, CPC). Havendo, porém, pacto ou lei em contrário, a escolha poderá caber ao credor
ou até mesmo a um terceiro. Se a escolha couber a um terceiro que não possa ou não queira
fazer a escolha, o juiz escolherá, salvo acordo entre as partes. E, se a escolha couber a mais
de uma pessoa, deverá haver unanimidade, de modo que, havendo divergência de qualquer um
dos optantes ou silêncio deles dentro de prazo a ser fixado pelo juiz, caberá ao juiz decidir.
Se for uma obrigação alternativa for periódica, o devedor pode exercer a escolha a cada
período. Se, a cada mês, tenho de entregar R$ 10.000,00 ou uma moto, posso mensalmente
variar a minha escolha. Trata-se do jus variandi do devedor em obrigações alternativas, o qual
também é chamado de balanceamento da concentração nas prestações periódicas.
A teoria do risco nas obrigações alternativas assenta-se em três diretrizes de justiça. A
primeira é a teoria do risco da obrigação de dar coisa certa, que envolve duas regras: a do res
perit domino e a de que há dever de indenizar danos culposamente causados. A segunda é a
de que a concentração pode ser voluntária ou automática em razão do perecimento de uma
prestação. A última é o respeito ao direito de escolha. É sob a ótica dessas diretrizes que se
entende o teor dos arts. 253 ao 256.
Na hipótese de a escolha caber ao devedor, ele deverá entregar a prestação remanescente
se as demais pereceram, pois aí terá havido uma concentração automática. Não importa se o
perecimento das outras prestações foram por sua culpa ou não, pois o direito de escolha era
dele. Não há dever de indenizar o credor. Se o devedor tiver causado o perecimento de todas as
prestações, ele terá de pagar o valor equivalente à última prestação perecida (diante da concen-
tração automática que ocorreu e que representa uma espécie de escolha feita pelo devedor),
além de ter pagar indenização por prejuízos sofridos pelo credor. Não pode o devedor escolher
pagar o valor equivalente de outra prestação; cumpre-lhe pagar a que, por último, pereceu.
E, se, todas perecerem conjuntamente por culpa do devedor ou se o devedor não conseguir
comprovar a ordem de perecimento das coisas, o CC é omisso na hipótese de a escolha caber
ao devedor. Bdine Jr., com apoio em Gisela Sampaio da Cruz, discorda e sustenta que o devedor
poderá escolher o valor da prestação que quiser, além da indenização adicional por danos que
forem comprovados, tudo em analogia à regra que vigora para os casos em que a escolha é do
credor (art. 255, CC). Maria Helena Diniz (2012, p. 148) segue o mesmo sentido. Ousamos dis-
sentir. Entendemos que, nesse caso, há presumir-se a extinção simultânea das prestações (ana-
logia com art. 8º do CC) e cumprirá ao devedor pagar o valor médio das prestações cujo pere-
cimento simultâneo ele culposamente causou. Do contrário, o devedor poderá sempre escolher
a prestação menos valiosa e, além disso, terá interesse em propositalmente ocultar a ordem de
perecimento das coisas, informação que geralmente só ele pode comprovar. Nossa solução con-
cilia os princípios gerais de direito relativos à vedação do enriquecimento sem causa e à boa-fé.

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Ainda na situação de a escolha caber ao devedor, é possível que a prestação pereça por
culpa do próprio credor. O CC é omisso. A melhor solução é respeitar o direito de escolha do
devedor: este pode escolher a prestação perecida – caso em que o credor ficará no prejuízo
– ou poderá escolher outra prestação remanescente – caso em que o devedor poderá pedir
indenização pela prestação perecida abrangendo o valor equivalente e outros prejuízos que
vierem a ser comprovados. É a solução dada por Bdine Jr., com apoio em Gisela Sampaio
da Cruz, e que se ampara na analogia da regra que vige para situações de escolha do credor
(art. 255, CC).
Na hipótese de a escolha caber ao credor, este terá de aceitar a prestação remanescente
apenas se as demais pereceram sem culpa do devedor, pois aí a “natureza” terá feito uma con-
centração automática. Ele não pode pedir indenização a ninguém. Houve uma concentração.
Se, todavia, o perecimento das prestações foi por culpa do devedor, fica evidente que ele cau-
sou um prejuízo ao credor, razão por que este poderá pedir indenização pelos danos que com-
provar, além de, em respeito ao seu direito de escolha, poder optar em receber adicionalmente
a prestação remanescente ou o valor equivalente à prestação perecida. No mesmo sentido, se
todas as prestações tiverem perecido por culpa do devedor e o direito de escolha for do credor,
este poderá pedir indenização pelos danos que comprovar, além de ter direito a escolher equi-
valente de qualquer uma das prestações perecidas.
Se a escolha couber a terceiro, entendemos que se deve aplicar as mesmas regras em que
a escolha é do credor, com a diferença que será o terceiro a escolher. Assim, se qualquer pres-
tação perecer por culpa do devedor, o terceiro poderá escolher a prestação remanescente ou o
valor equivalente da que pereceu, assegurado, em qualquer caso, ao devedor pleitear indeniza-
ção por perdas e danos adicionalmente (desde que prove o prejuízo).
Por fim, se todas as prestações perecerem sem culpa do devedor, nada há a fazer: re-
solve-se a obrigação, sem dever de indenização. Não importa se a escolha era do devedor
ou do credor: foi o acaso que fulminou todas as prestações (e o acaso não tem dever de
indenizar obviamente!).

2.3.3. Obrigação Facultativa

A obrigação facultativa é aquela que envolve uma prestação com o direito de o devedor,
se quiser, cumprir outra prestação subsidiária no seu lugar. O devedor está obrigado a apenas
uma prestação (unidade de objeto); porém, de forma subsidiária, é-lhe assegurado o direito
de cumprir outra prestação também prevista na relação obrigacional. Há, portanto, uma pres-
tação principal e outra subsidiária ou supletiva. Embora não prevista expressamente no CC, a
obrigação facultativa é por ele permitida como convenção inonimada.
Por enxergar uma contraditio in terminis (obrigação pode ser faculdade), há quem critique
a nomenclatura “obrigação facultativa” e prefira, em seu lugar, a expressão “obrigação com
faculdade de solução ou de substituição” ou “obrigação com faculdade alternativa de cumpri-
mento”. Preferimos a nomenclatura tradicional pela simplicidade.

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A obrigação facultativa não se confunde com a obrigação alternativa.


Na obrigação facultativa, se houver o perecimento da prestação principal sem culpa do
devedor, a obrigação será resolvida; não subsistirá quanto à prestação supletiva, ao contrário
do que sucede nas obrigações alternativas (em que o perecimento de uma das prestações não
extingue a obrigação quanto às demais).
Igualmente, se a prestação principal for impossível desde a celebração do negócio, este
será todo nulo, ao contrário do que sucede nas obrigações alternativas, em que a nulidade de
uma prestação não atinge as demais.
Por fim, a perda da prestação subsidiária não atinge a obrigação, visto que o devedor con-
tinua com o dever de realizar a prestação principal.

2.4. Obrigação quanto à Pluralidade de Sujeitos


Levando em conta a existência de mais um credor ou devedor, a obrigação pode ser di-
visível, indivisível ou solidária. Não se aplica essa classificação se só houver um credor ou
um devedor, pois não há entre quem dividir a obrigação. O foco é tratar da divisibilidade da
obrigação entre mais de um credor ou devedor, e não propriamente do objeto. A finalidade da
classificação é enxergar os efeitos jurídicos das diversas situações de pluralidade de credores
ou de devedores. Se João deve R$ 10.000,00 a Maria, não se pode incluir essa obrigação na
classificação em pauta, por falta de pluralidade nos polos obrigacionais.
Além do mais, não há como uma obrigação ser divisível e solidária ao mesmo tempo. Uma
espécie exclui a outra. O regime jurídico de cada um é diverso. Daí que foi atécnico o art. 201
do CC, cuja parte final se refere a “obrigação indivisível” quando, na verdade, pretendeu-se
aludir a uma “prestação ou bem indivisível”. A propósito, lembre-se de que bem naturalmente
divisíveis podem ser, por vontade das partes ou por lei, transformados em indivisíveis. Até uma
obrigação de pagar R$ 10.000,00 pode ser considerada indivisível por pacto entre as partes, o
que ocorreria quando o credor só pretenda receber a coisa inteira13.
Solidariedade nunca se presume, mas decorre de lei de vontade (art. 265 do CC). O legisla-
dor vai contra a nossa intuição ao afirmar isso. Se, em um contrato, estiver escrito que “João
e Maria devem pagar R$ 10.000,00”, essa obrigação não é solidária, porque esta não se presu-
me. Aí se terá uma obrigação divisível, razão por que o credor só poderá cobrar R$ 5.000,00 de
João e outros R$ 5.000,00 da Maria. A cláusula contratual referida induzirá o leitor a erro e, na
verdade, deveria ter sido assim redigida: “João deve pagar R$ 5.000,00 e Maria deve pagar R$
5.000,00”. A fusão das orações por questão de comodidade costuma induzir leigos em erro.

13
“Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários [logo, a obrigação é solidária], só aproveitam os
outros se a obrigação for indivisível [na verdade, a prestação é indivisível, e não a obrigação, que é solidária]”.

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2.4.1. Obrigação Divisível

A obrigação é divisível quando, inexistindo a previsão expressa da solidariedade em lei ou


em vontade, o seu objeto for bem divisível.
O CC disciplina o tema no art. 257 do CC, que fixa a regra concursu partes fiunt. De acordo
com essa máxima, presume-se que a obrigação é dividida em tantas obrigações iguais quan-
tos são os sujeitos. A prestação decompõe-se pro numero virorum (“proporcional ao número
de homens”).
É uma obrigação fracionária, a qual consiste no fato de que cada cocredor ou codevedor
só pode exigir a respectiva quota-parte, nada mais, nada menos, tudo nos termos da regra do
concursu partes fiunt.

Exemplo: X deve R$ 900,00 a Y, Z e W. Como o dinheiro é bem divisível e não há previsão


expressa de solidariedade, X deve R$ 300,00 para Y, R$ 300,00 para Z e R$ 300,00 para W.

2.4.2. Obrigação Indivisível

Obrigação indivisível é a que envolve bem indivisível14 sem haver previsão expressa de so-
lidariedade. O tema hospeda-se nos arts. 259 ao 263 do CC.
A indivisibilidade recai sobre o objeto da prestação (é objetiva) e, por isso, a obrigação
indivisível: (1) não perde a sua característica com a morte do credor e do devedor, ou seja, a
obrigação continua indivisível para os seus herdeiros; e (2) deixa de ser indivisível com a sua
conversão em perdas e danos, pois o objeto se torna em dinheiro, que é divisível (art. 263, CC).
Difere, pois, da obrigação solidária, que, por recair na pessoa (solidariedade é subjetiva) e por
estar no vínculo jurídico (e não no objeto da prestação), perde a sua natureza com a morte da
parte (art. 270, CC) e subsiste com a conversão em perdas e danos (art. 271, CC).
O CC destina regras para a obrigação indivisível conforme haja pluralidade de credores ou
de devedores.
Vamos começar falando da obrigação indivisível quando há pluralidade de devedores.
Se há pluralidade de devedores, cada codevedor é obrigado pela dívida toda apenas porque
é o objeto não é fracionável, e não porque ele queria ser obrigado pela dívida toda: o codevedor
tem de pagar tudo por necessidade, e não por dever a totalidade (in obligatione individua, totum
debetur ex necessitate, sed non totaliter). Distingue-se da obrigação solidária, pois, nesta, o
codevedor é obrigado pela dívida toda por dever jurídico.
Na obrigação indivisível, como a necessidade impôs o pagamento por inteiro, a lei robuste-
ce o direito de regresso do codevedor que pagou a dívida toda: dá-lhe a sub-rogação para exigir
a quota-parte dos demais codevedores (art. 259, parágrafo único, do CC). É questão de justiça.

14
O conceito de bem indivisível está nos arts. 87 e 88 do CC.

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Sub-rogação é a transferência do crédito com todos os privilégios ao pagador de dívida alheia.


Se, por exemplo, um codevedor havia hipotecado um imóvel em garantia da obrigação indivi-
sível, o outro codevedor que pagou a dívida inteira terá um direito de regresso com a garantia
hipotecária diante da sub-rogação.
Não há essa sub-rogação na solidariedade passiva: o codevedor que pagou a dívida toda
tem um direito de regresso simples, sem o acréscimo de robustez de uma sub-rogação. Real-
mente não há motivos de justiça para a legislação robustecer o direito de regresso de quem
voluntariamente assumiu a solidariedade.
A insolvência de um codevedor é irrelevante ao credor, que pode exigir a coisa indivisível de
outro codevedor. O prejuízo recairá sobre este, cujo direito de regresso contra o insolvente para
cobrar o valor de sua quota se frustrará, como lembra Caio Mário da Silva Pereira.
Vamos tratar agora da hipótese de obrigação indivisível quando há pluralidade de credores.
Em regra, todos os credores devem cobrar e receber conjuntamente a prestação indivisível
(ex.: três credores de um cachorro). Todavia, diante do caráter não fracionável do objeto e em
atenção à impossibilidade de obrigar outrem a exigir um direito, cada cocredor poderá, sozi-
nho, cobrar a dívida toda. Assim, não fica sob a dependência da morosidade e do capricho dos
demais cocredores.
Se o cocredor exigir a dívida toda sozinho, terá de prestar caução (uma garantia, como um
dinheiro, uma hipoteca etc.) de que os outros cocredores confirmarão o seu ato. Essa garantia
é importante, porque os outros cocredores têm direito a uma quota do objeto que poderá não
ser repassada por quem recebeu o pagamento sozinho.
De fato, o devedor só se exonera se pagar a todos os credores conjuntamente – os quais
podem ser representados por procuração (que pode estar expresso em uma “autorização es-
crita”) – ou a um cocredor que preste essa caução de ratificação (art. 260, CC). Se o devedor
pagar a um cocredor sem exigir a garantia (caução), continuará obrigado perante os demais
cocredores. Essa é a lição de Clovis Bevilacqua (1979, p. 32), que dá a adequada interpretação
do art. 260, CC (de teor igual ao antigo art. 892 do CC/1916). Não devem ser acolhidas leituras
diversas, como aquela no sentido de dispensar a caução se um cocredor cobrar a dívida so-
zinho, como defende Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 122) com apoio no civilista lusitano
Antunes Varela, que se amparava no CC português, cuja disciplina é diversa da brasileira nesse
ponto a impedir essa importação.
A caução de ratificação é uma garantia dada pelo cocredor que exige a dívida toda e, em-
bora convenha assumir forma escrita para fins de comprovação, pode ser formalizada por
qualquer meio à luz do art. 107 do CC, embora haja quem defenda o contrário. Por se tratar de
garantia, a caução deve assegurar o ressarcimento dos outros cocredores até o valor da res-
pectiva quota, caso o cocredor que recebeu a coisa toda não lhes pague essa quota.

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Se um credor, sozinho, receber a coisa, os demais cocredores terão o direito de escolher


entre uma destas opções: (I) receber daquele o valor, em dinheiro, correspondente à respectiva
quota ou (II) tornar-se condômino na proporção da respectiva quota (art. 261 do CC15). Enten-
demos que também poderão os cocredores cobrarem do devedor a “caução de ratificação” que
este deveria ter exigido daquele cocredor que recebeu sozinho a prestação.
Havendo remissão por um cocredor, não se extingue a obrigação perante os demais credo-
res (art. 262 do NCC). Apenas se terá de descontar a quota remitida para evitar enriquecimen-
to sem causa dos demais cocredores. Isso significa que os outros cocredores continuarão a
poder exigir a coisa indivisível, mas terão de pagar ao devedor o valor da quota perdoada. Há
quem prefira o termo “indenizar” no lugar do verbete “descontar” que foi adotado pelo art. 262
do CC, pois o que os codevedores estariam a fazer é indenizar, e não descontar uma prestação
que não pode ser fracionada.
Se, porém, a remissão não tiver importado em qualquer benefício econômico aos demais
cocredores, não há o que descontar: os cocredores podem exigir a prestação indivisível sem
ter de pagar nada ao credor. Isso está implícito no art. 262, CC. É o que sucederia na remissão
dada por um de três cocredores a quem esteja obrigado a guardar silêncio sobre uma informa-
ção de interesse dos cocredores ou a garantir uma servidão de paisagem em prol da casa de
propriedade dos cocredores: o perdão de um implica enriquecimento sem causa dos demais.
Vamos a um exemplo para ver, na prática, o que ocorre: X, Y e Z celebram contrato de
compra e venda de cavalo com W, para que este entregue o cavalo àqueles pelo valor de R$
1.200,00. Suponha que, após a celebração do contrato, Z oferece remissão a W. Que sucederá?
Por um lado, X, Y e Z continuarão com a obrigação de pagar R$ 1.200,00. Como se cuida de
obrigação divisível, W poderá exigir de cada um R$ 400,00, inclusive de Z, o remitente.
Por outro lado, W terá de entregar o cavalo a X e Y conjuntamente ou a apenas um deles,
se este tiver autorização escrita (caução de ratificação) do outro. E mais: (I) W terá o direito de
receber de X e Y o valor de R$ 400,00, quantia correspondente à quota-parte do cavalo a que o
remitente tinha direito; (II) em virtude da regra da exceptio non adimpleti contractus, W só terá
de entregar o cavalo se lhe forem pagos o valor do cavalo (R$ 1.200,00) e o valor da quota do
credor remitente (R$ 400,00). W receberá, ao final, R$ 1.600,00.
A remissão, aí, embora se assemelhe ao efeito prático da doação, não se constitui uma
doação da quota do credor remitente ao devedor. O credor remitente nunca foi proprietário da
sua quota-parte para poder doá-la.
A remissão, embora se aproxime do efeito prático de uma cessão de direito, não se con-
funde com esta. De fato, o devedor não se tornou titular do direito do credor remitente; tanto
assim, que ele não tem o direito de tornar-se condômino do cavalo juntamente com os outros
credores. O seu único direito decorrente da remissão é o de receber o valor da quota remitida
quando entregar o cavalo.
Todas essas regras de remissão valem para confusão, transação, novação ou compensação.

15
Esse dispositivo não menciona o direito de tornar-se condômino, mas apenas o de reivindicar o valor pecuniário correspon-
dente à quota-parte. Todavia, o direito de tornar-se condômino parece estar implícito na regra.

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2.4.3. Obrigação Solidária

Pessoal, resolva a questão.

002. (CESPE/2004) A obrigação solidária passiva é caracterizada por uma multiplicidade de


devedores que assumem diversos débitos com um único credor, criando entre si um vínculo
jurídico específico que os torna responsáveis pelo débito de todos.

O gabarito é errado, porque não importa a quantidade de credores. Solidariedade passiva é


quando há pluralidade de DEVEDORES. Se há pluralidade de credores também, isso é irrelevan-
te para a definição de solidariedade PASSIVA.
Errado.

Vamos explicar mais.


Há solidariedade quando há pluralidade de credores e/ou devedores, cada um com direito
ou obrigado ao total, como se fosse um só credor ou devedor (art. 264 do CC). Há dois princí-
pios das obrigações solidárias:
• Princípio da não presunção da solidariedade (art. 265 do CC): solidariedade não se pre-
sume; decorre de lei ou da vontade das partes;
• Princípio da variabilidade do modo de ser da obrigação solidária (art. 266 do CC): o vín-
culo obrigacional de cada codevedor ou cocredor, apesar de coincidir com os demais
no tocante à solidariedade, pode distinguir-se dos demais quanto ao lugar de paga-
mento e à submissão a termo ou condição. Em outras palavras, havendo codevedores
solidários, é plenamente admissível que apenas um deles tenha o dever de cumprir a
obrigação se implementado uma condição estipulada apenas para ele (ex.: se o Brasil
ganhar a Copa do Mundo).

Na obrigação solidária, há relação externa e interna.


A relação externa diz respeito à relação entre o grupo de credores e o grupo de devedores.
Cada devedor solidário é obrigado a pagar a dívida toda.
A relação interna concerne à relação dentro do grupo de credores ou de devedores. O co-
devedor solidário que pagar a dívida toda terá direito de cobrar a quota-parte dos demais code-
vedores. Internamente, a obrigação dos codevedores é fracionária, pois eles só são obrigados
perante os demais até o limite de sua quota-parte (art. 283 do CC). Não há solidariedade inter-
namente, salvo se houver algum pacto entre os codevedores.
Vamos falar de solidariedade ativa e passiva. Comecemos pela solidariedade ativa.

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Há solidariedade ativa quando há pluralidade de credores. A única hipótese legal de soli-


dariedade ativa que conhecemos é a do art. 12 da Lei 209/49 (que dispõe sobre a forma de
pagamento dos débitos civis e comerciais de criadores e recriadores de gado bovino). Não se
trata de figura comum na legislação nem no quotidiano dos negócios, especialmente porque
não é tão comum cocredores confiarem tanto assim nos demais, além das dificuldades de
cobrar a respectiva cota diante dos riscos de insolvência do cocredor. Na prática, o instituto
do mandato acaba sendo mais usual quando um cocredor quer autorizar a cobrança de sua
porção por outro cocredor, pois o mandato, além de ser revogável, permite maior controle por
parte do mandante.
A título de exemplo, já tivemos a oportunidade de utilizar no nosso escritório de advocacia
a solidariedade ativa para que duas pessoas jurídicas do mesmo grupo econômico se tornas-
sem cocredoras solidárias de um devedor. Isso impediria que, no futuro, se apenas uma pes-
soa jurídica cobrasse a dívida, fosse parcialmente obstada diante de sua ilegitimidade ativa
para pleitear direitos da outra pessoa jurídica.
O devedor pode pagar a qualquer um dos credores. Todavia, se algum credor já tiver de-
mandado (ou seja, ajuizado ação judicial), só a este o devedor pode pagar. Os outros cocre-
dores devem aguardar o desate da lide para obter sua quota. A isso se atribui a designação
de prevenção judicial: o credor que cobra judicialmente a dívida frui dessa prevenção judicial.
Para nós, como o art. 268 do CC não indica a via judicial como meio de cobrança, não há por
que fazer essa restrição. Na presente época de desjudicialização e de estímulos a meios extra-
judiciais de cobranças (protestos, cadastros de inadimplentes, “cartas de cobranças” etc.), a
prevenção deve ser tida judicial ou extrajudicial. Se um cocredor protestar em primeiro, é a ele
que deve ser pago a dívida, até porque o levantamento do protesto ocorre com a quitação. E se
mais de um cocredor protestar a dívida simultaneamente, em cartórios diversos? A resposta
será a mesma para a hipótese de mais de um cocredor ajuizar a ação de cobrança simulta-
neamente: nesses casos, temos que o devedor pode pagar a qualquer um, de maneira que os
demais ficarão obrigados a levantar o protesto após serem notificados do pagamento e as res-
pectivas ações judiciais deverão ser extintas com resolução de mérito diante do pagamento.
No caso de Morte de cocredor solidário (art. 270, CC), não se estende a solidariedade para
os herdeiros, pois a solidariedade decorria de uma relação de confiança entre os credores, e
não entre seus herdeiros16. A solidariedade está na pessoa, e não no vínculo jurídico. Por isso,
aos herdeiros aplicam-se as regras de obrigações divisíveis e indivisíveis: se divisível, o herdei-
ro só pode exigir sua quota; se indivisível, o herdeiro pode receber tudo se apresentar caução
de ratificação dos demais credores (ou se receber conjuntamente com os demais credores).
Com razão, Maria Helena Diniz e Orlando Gomes sustentam que, se todos os herdeiros
atuarem conjuntamente, eles podem ser considerados um credor solidário e, por isso, pode
cobrar toda a dívida, apesar de o art. 270 do CC ser silente nesse sentido.. Ora, se o credor,
16
Deveras, posso confiar que Fulano me entregará a minha quota-parte, e não em seus filhos, que podem ser pessoas noto-
riamente perdulárias, viciadas em tóxicos e quejandos.

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momentos antes de falecer, podia ter exigido a dívida toda – caso em que, após o seu faleci-
mento, o espólio responderia perante os demais cocredores nas suas quotas –, por insupri-
mível lógica também o espólio (todos os herdeiros conjuntamente) pode exigir a dívida toda,
como um credor solidário.
No caso de perecimento da prestação, as perdas e danos, se devidas, continuam subme-
tidas à solidariedade (art. 271 do CC). Se o devedor detrói culposamente o objeto, qualquer
cocredor pode, sozinho, cobrar a indenização por dano material correspondente ao valor da
coisa. É evidente que outros danos de natureza pessoal não são submetidas à solidariedade,
como eventual dano moral que algum dos cocredores tiverem sofrido.
Em relação à remissão (perdão), o cocredor solidário pode remitir toda a dívida; porém,
nesse caso, responderá perante os demais cocredores pela respectiva quota (art. 272, CC).
Quanto às exceções pessoais (= defesas do devedor perante algum cocredor para obstar a
cobrança), elas não podem ser opostas pelo devedor a qualquer credor solidário, mas apenas
àquele realmente sujeito a essa exceção (art. 273 do CC). Assim, se um dos cocredores tam-
bém está lhe devendo algum valor, a compensação só poderá ser oposta contra ele.
No tocante à suspensão da prescrição (art. 201, CC), as hipóteses legais de suspensão são
de índole personalíssima, por protegerem quem não tem condições pessoais de pleitear a sa-
tisfação de seu direito (art. 197 do CC). Por isso, a suspensão da prescrição não aproveita aos
demais credores solidários, salvo se a obrigação for indivisível (pois, quando indivisível, a coisa
só pode ser recebida conjuntamente ou com caução de ratificação, ou seja, há dependência
de ação de todos os credores, inclusive daquele impossibilitado de agir por motivos pessoais
ensejadores da suspensão da prescrição).
Vamos tratar agora de solidariedade passiva.
A solidariedade passiva ocorre quando há pluralidade de codevedores solidários. Nes-
se caso, o credor tem direito de exigir, total ou parcialmente, a dívida de qualquer ou de
alguns devedores.
A solidariedade passiva é uma prerrogativa do credor e um ônus aos devedores, razão por
que o credor pode renunciar a solidariedade em favor de apenas alguns devedores, sem que os
demais se beneficiem. Afinal de contas, a solidariedade lhe é uma prerrogativa (art. 282, CC).
Sob a perspectiva da relação interna (a que ocorre entre os codevedores), se a dívida for
paga por um dos codevedores solidários, este terá direito de cobrar dos demais o valor da
respectiva quota (arts. 283 e 285, CC). Essa regra é obviamente excepcionada se a dívida inte-
ressar a apenas um dos codevedores solidários. Ex.: o inquilino que paga o aluguel não pode
cobrar nada do seu fiador, ainda que este tenha se obrigado solidariamente por essa dívida,
pois a dívida de aluguel só interessava ao inquilino: o fiador era apenas garante17.

17
É claro que pode haver situação de o fiador ser o beneficiário direto da locação ou de haver algum contrato em sentido
diverso entre as partes, caso em que se observará essas particularidades.

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Obrigações – Parte I
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Após o pagamento da dívida ao credor, surge o direito daquele que pagou em exigir a quo-
ta-parte de cada um dos codevedores (art. 283, CC). Se um dos codevedores for insolvente,
todos os demais terão de proporcionalmente suportar essa insolvência, rateando o valor (art.
284, CC). Nesse caso, o codevedor exonerado da solidariedade pelo credor não deixa de ser
codevedor. Só deixou de ser solidário. Por isso, ele também responderá pelo rateio da parte do
codevedor insolvente na hipótese em análise.
No caso de Morte de codevedor solidário, todos os herdeiros simultaneamente considera-
dos são considerados um único devedor solidário (art. 276, CC). Todavia, o herdeiro individual-
mente considerado não é devedor solidário. Recorde-se que a solidariedade, por ser um ônus
à liberdade individual, depende de lei ou da vontade das partes. Os herdeiros individualmente
considerados, portanto, por falta de previsão legal, não se sujeitam ao ônus da solidariedade,
salvo se expressarem tal intento. Quem se submeteu ao ônus da solidariedade passiva não fo-
ram eles. Aplicam-se-lhes, pois, as regras de obrigação divisível e indivisível, com observância
do limite de seu quinhão.
No caso de remissão dada a um codevedor solidário, ela só aproveitará aos demais code-
vedores solidários até o limite do valor perdoado (art. 277, CC).
Havendo o perecimento da coisa por culpa de um dos codevedores solidários, o valor equi-
valente substitui a coisa, de maneira que os codevedores são por ele solidários (art. 279, CC).
A solidariedade aí só recairá sobre o dever de pagar o valor equivalente da coisa. Se houver
perdas e danos adicionais (como, por exemplo, um dano moral sofrido por um credor), só res-
ponderá por essa indenização adicional18. Essa regra é justa porque só quem causa o ato ilícito
deve indenizar. A nosso sentir, é plenamente possível que se pactue solidariedade também
para essas perdas e danos adicionais, pois a norma do art. 279 do NCC é dispositiva, e não
cogente, por conter preceito de ordem privada.
Quanto aos juros de mora, todos os codevedores respondem pelos juros de mora, pois,
perante o credor, todos têm o dever de pagar a tempo e modo (art. 280, CC). Obviamente, o co-
devedor culpado pela mora responde perante os demais, que terão direito de regresso contra
ele por esses juros moratórios.
Além disso, o codevedor solidário não pode opor exceção pessoal de outro codevedor. É
acaciano: exceção pessoal é pessoal, e não comum.
Por fim, vamos tratar de duas questões especiais envolvendo obrigação solidária: a confu-
são, a interrupção da prescrição.
A confusão só extingue a obrigação até o limite da quota do credor ou devedor solidário
envolvido. Dessa forma, deduzida a quota confundida, remanesce a solidariedade (art. 383,
CC). Ex.: X, Y e Z são credores de “D” no valor de R$ 6.000,00. X falece e seu único herdeiro é
“D”. Ocorreu confusão até o valor de R$ 2.000,00. Dessa maneira, “D” continua devedor de R$

18
O CC não trata o valor equivalente como perdas e danos, o que consideramos uma atecnia. As perdas e danos são citadas
apenas como referentes ao que chamamos de danos adicionais. Temos que tudo é perdas e danos, inclusive o valor equi-
valente da coisa (art. 279, CC).

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4.000,00 a Y e Z, os quais possuem com a prerrogativa da solidariedade ativa quanto a essa


parte: só extingue a obrigação até o limite da quota do credor ou devedor solidário envolvido.
Portanto, deduzida a quota confundida, remanesce a solidariedade (art. 383, CC).
Para arrematar, vamos falar da interrupção da prescrição.
Conforme art. 204 do CC, a interrupção da prescrição feita por um cocredor solidária bene-
ficia os demais cocredores.
Se a interrupção for contra um codevedor solidário, ela prejudica os codevedores solidários
e respectivos herdeiros.
Se a interrupção for contra um herdeiro de um então codevedor solidário, ela não prejudica
os demais herdeiros nem os codevedores, salvo quando se cuidar de obrigação indivisível.
Recorde-se que herdeiros não são devedores solidários. Por isso, quem age contra um her-
deiro isolado não age contra os outros codevedores. A única exceção é no caso de obrigação
indivisível, em que a legislação permite que o credor reivindique a coisa indivisa de qualquer
devedor, assegurado a este a sub-rogação contra os demais codevedores. Por isso, agir contra
um codevedor de coisa indivisível é, por lei, agir contra todos os demais.

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QUESTÕES DE CONCURSO
003. (IBFC/ANALISTA/TRE-PA/2020/ADAPTADA) O vínculo imaterial ou espiritual da obri-
gação consiste no vínculo jurídico existente entre as partes na relação obrigacional, ou seja,
o elo que sujeita o devedor à determinada prestação, seja ela positiva ou negativa, em favor
do credor.

Questão define corretamente o elemento (ou o vínculo) abstrato ou espiritual da obrigação,


que corresponde ao liame jurídico. Ex.: a lei ou o contrato são o vínculo abstrato que obriga o
devedor a entregar ao credor uma prestação.
Certo.

004. (MPE-PI/PROMOTOR/MPE-PI/2019) A lei é uma fonte de obrigações, porque estabelece


o dever de cada indivíduo em função de seu comportamento, o que não é viável pela vontade
humana ou manifestação volitiva.

A vontade humana também é fonte de obrigações, ao contrário do dito na questão, a exemplo


de um contrato (que gera obrigações para as partes).
Errado.

005. (MPT/PROCURADOR/MPT/2017/ADAPTADA) A boa-fé objetiva materializa-se nas rela-


ções jurídicas obrigacionais por meio dos deveres anexos de conduta, entre eles os de prote-
ção, de cooperação e de informação, que devem se preservar na relação jurídica.

De fato, os deveres anexos, instrumentais, laterais ou colaterais são aqueles que decorrem da
boa-fé objetiva e se destinam a garantir que a obrigação seja cumprida de acordo com a legí-
tima expectativa das partes, a exemplo dos deveres de proteção, de cooperação e de informa-
ção. O descumprimento desses deveres anexos é chamado de “violação positiva do contrato”.
Certo.

006. (CESPE/JUIZ/TJ-PB/2015/ADAPTADA) A boa-fé objetiva limita os direitos subjetivos e


constitui fonte de obrigação aos contratantes, de forma a estabelecer deveres implícitos que
não estão previstos expressamente no contrato.

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A boa-fé objetiva gera deveres anexos e, portanto, é uma fonte de obrigações. Entre os deveres
anexos, alguns limitam direitos subjetivos das partes (ex.: impede o abuso de direito). Esses
deveres anexos estão implícitos nos contratos e, por isso, não dependem de previsão expressa.
Certo.

007. (IBFC/ANALISTA/TRE-PA/2020/ADAPTADA) Nos contratos onerosos, responde por


simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favo-
reça. Nos contratos benéficos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções
previstas em lei.

Primeira parte da questão contraria art. 392 do CC:

Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato
aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das
partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.
Errado.

008. (MPT/PROCURADOR/PGT/2008/ADAPTADA) Nos contratos benéficos, responde por


simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite.

Trata-se de um exemplo de aplicação do princípio da proteção simplificada do agraciado. É o


art. 392 do CC:

Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato
aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das
partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.
Certo.

009. (FUNRIO/PROCURADOR/AL-RR/2018) L.R.S, casado, 50 anos, engenheiro, pactuou com


W.R.M, solteiro, 32 anos, autônomo, um contrato de Locação de Imóvel Residencial pelo prazo
de 30 (trinta) meses.
Tendo como direcionamento a classificação das obrigações reciprocamente consideradas, o
contrato celebrado entre as partes constitui uma obrigação
a) periódica.
b) principal.
c) divisível.
d) acessória.

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Na classificação das obrigações reciprocamente consideradas, a obrigação pode ser principal


ou acessória. Diz-se acessória quando a obrigação supõe uma principal. É o caso, por exem-
plo, da obrigação decorrente de um contrato de fiança: ela pressupõe uma obrigação principal
que está sendo garantida. Outro exemplo é a obrigação de pagamento de juros: ela supõe uma
obrigação principal da qual decorrem os juros. A obrigação decorrente do contrato de locação,
por outro lado, é principal, pois não supõe nenhuma outra. Por isso, a resposta é “b”.
Os demais itens tratam de outras classificações, como:
• Classificação da obrigação quanto ao momento da execução: (1) de execução instantâ-
nea (quando o cumprimento é no momento do nascimento da obrigação); (2) de execu-
ção diferida (cumprimento em um momento futuro); e (3) de execução continuada ou de
trata-sucessivo (cumprimento em várias parcelas futuras);
• Classificação à pluralidade de sujeitos: (1) obrigação divisível (art. 257, CC); (2) obriga-
ção indivisível (arts. 258 a 263, CC); e (3) obrigação solidária (arts. 264 a 274, CC).
Letra b.

010. (QUADRIX/ADVOGADO/CRM-PR/2018) Os contratos de compra e venda, em que as par-


tes são, simultaneamente, credoras e devedoras entre si, configuram relações jurídicas obriga-
cionais complexas.

Relações obrigacionais complexas são aquelas em que há ambas as partes são credoras e de-
vedoras reciprocamente. São, pois, as que envolvem mais de uma obrigação, uma contraposta
à outra. Trata-se um sinalagma obrigacional. No contrato de compra e venda, por exemplo, o
vendedor tem a obrigação de pagar o preço, ao passo que o comprador tem a de transferir a
coisa. Trata-se de uma relação jurídica obrigacional complexa.
Certo.

011. (VUNESP/PROCURADOR/UNICAMP/2018/ADAPTADA) Os casos de dívida de jogo e


garantia real prestada por terceiro representam, respectivamente, obrigação
a) nula; de garantia pessoal.
b) anulável; com debitum sem obrigatio.
c) com schuld sem haftung; com haftung sem schuld.
d) com debitum e obrigatio; com schuld sem haftung.
e) ilícita; com debitum e obligatio.

Pela teoria monista, clássica ou unitária da obrigação, a obrigação forma um vínculo único en-
tre credores e devedores. Só há, pois, um débito. A responsabilidade (ou seja, o dever de pagar

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Obrigações – Parte I
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em decorrência do inadimplemento) não integra o conceito de obrigação, mas é apenas uma


decorrência do descumprimento desta.
Pela teoria da dualidade do vínculo obrigacional (= teoria binária ou dualista), a obrigação se
divide em débito (schuld ou debitum) e em responsabilidade (haftung ou obligatio).
Sob essa ótica, a dívida de jogo, é um exemplo de schuld sem haftung, porque, embora ela
seja uma dívida existente e devida (schuld), não pode ser exigida forçosamente (sem haf-
tung). É o mesmo que se dá com a dívida prescrita: ela é existente (schuld), mas não é exigígel
(sem haftung).
Já no caso de fiança, temos um exemplo de haftung sem schuld, pois o fiador pode ser exigido
a pagar a dívida (haftung), apesar de a dívida originária ser do afiançado (não há schuld contra
o fiador, mas apenas contra o afiançado). Dá-se igual com as garantias reais dadas por terceiro:
o garantidor não tem a dívida (sem schuld), mas pode ser responsabilizado por ela (haftung).
Letra c.

012. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA SÃO ROQUE-SP/2019/ADAPTADA) A obrigação


de dar coisa certa não abrange os acessórios dela que não forem mencionados, mesmo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

Abrange sim, como regra. É o art. 233 do CC:

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados,
salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
Errado.

013. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Como regra geral, a obrigação de dar


coisa certa não abrange os acessórios, salvo se o contrário resultar do título ou das circuns-
tâncias do caso.

Abrange sim, como regra (art. 233, CC).


Errado.

014. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Na obrigação de dar coisa certa, sendo


culpado o devedor (pela deterioração da coisa), poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar
a coisa no estado em que se acha, nesses casos sem direito a reclamar perdas e danos.

Como houve culpa do devedor, há dever de indenizar as perdas e danos, ao contrário do expos-
to a questão (art. 235, CC). Se não tivesse havido culpa, não haveria dever de indenizar, porque
aí se aplicaria a lógica do res perit domino (art. 236, CC). Vejam os preceitos:

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Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou
aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado
em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.
Errado.

015. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Na obrigação de dar coisa certa, dete-


riorada a coisa, sem culpa do devedor, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa,
nesse caso sem abatimento do preço pela referida ausência de culpa do devedor.

Tem de haver o abatimento do preço, ao contrário do dito na questão, pois o prejuízo pela de-
terioração fortuita da coisa é do dono da coisa (que, no caso, é o devedor). Trata-se de uma
decorrência da regra do res perit domino (a coisa perece para o dono). É o art. 235 do CC:

Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou
aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.
Errado.

016. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) Se o bem, objeto da


obrigação de dar coisa certa se deteriorar, sem culpa do devedor, ficar-lhe-á assegurada a fa-
culdade de resolver a obrigação.

É o credor que pode resolver a obrigação, e não o credor (art. 235, CC).
Errado.

017. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Na obrigação de dar coisa certa, até a


tradição, pertence a coisa ao credor, com seus acréscimos, pelos quais poderá exigir aumento
do preço, com ou sem anuência do devedor.

Na obrigação de dar coisa certa, antes da tradição (que transfere a propriedade da coisa mó-
vel), o dono é o devedor e, por isso, é ele que pode pedir aumento do preço se a coisa tiver
acréscimos antes da tradição sem trabalho do devedor. É o art. 237 do CC:

Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos,
pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a
obrigação.
Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.
Errado.

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018. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) Na obrigação de resti-


tuir coisa certa, a deterioração do bem sem culpa do devedor impõe ao credor o seu recebimen-
to no estado em que se encontre, mas o credor tem direito à indenização por perdas e danos.

Como, na obrigação de restituir coisa certa, o dono é o credor, o prejuízo pela deterioração for-
tuita da coisa é dele à luz da regra do res perit domino. Logo, ele não pode pedir indenização do
devedor, ao contrário do dito na parte final da questão. O credor só poderia pedir indenização
se o devedor tivesse sido culpado pela deterioração da coisa. É o art. 240 do CC:

Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas
e danos.
Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se
ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.
Errado.

019. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Se a obrigação for de restituir coisa cer-


ta, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obri-
gação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.

Trata-se de uma aplicação da regra do res perit domino (a coisa perece para o dono), que disci-
plina todos os casos de obrigação de dar e de restituir coisa certa quando a coisa perece ou se
deteriora sem culpa do devedor. A questão trata especificamente do art. 238 do CC:

Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes
da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o
dia da perda.
Certo.

020. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) Nas obrigações de


restituir coisa certa, o credor sofrerá a perda do bem que ocorrer antes da tradição sem culpa
do devedor, com o que a obrigação ficará resolvida, ressalvados os direitos do credor até o
dia da perda.

É o art. 238 do CC.


Certo.

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021. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA SÃO ROQUE-SP/2019/ADAPTADA) A coisa incer-


ta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.

É a definição de coisa incerta. É o art. 243 do CC:

Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
Certo.

022. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) Nas obrigações de


dar coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao credor, se o con-
trário não resultar do título da obrigação.

A escolha, em regra, é do devedor. É o art. 244 do CC:

Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se
o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado
a prestar a melhor.
Errado.

023. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA ITAQUAQUECETUBA-SP/2018/ADAPTADA)


Nas obrigações de dar coisa incerta, se antes da escolha ocorrer a perda ou deterioração
da coisa, sem culpa do devedor ou por força maior ou caso fortuito, poderá este exonerar-se
da obrigação.

Nas obrigações de dar coisa incerta, aplica-se a regra do genus numquat perit (o gênero nun-
ca perece); logo, o devedor não fica exonerado da obrigação na hipótese da questão. É o art.
246 do CC:

Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que
por força maior ou caso fortuito.
Errado.

024. (FCC/PROCURADOR/PGE-AP/2018/ADAPTADA)
... não há a possibilidade de perecimento, e, portanto, subsiste a obrigação, cabendo, ao devedor,
o direito de escolha, se outra coisa não for convencionada. Este seu direito, porém, não poderá ir
ao ponto de preferir a coisa pior da espécie, assim como não terá o credor a faculdade de exigir o
melhor, quando lhe for conferido o direito de escolha. (Clóvis Bevilaqua. Direito das Obrigações.
p. 56. 9ª ed. Livraria Francisco Alves, 1957).
A conclusão a que acima se chegou pode ter como antecedente o seguinte texto:

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a) Se o objeto a dar corresponde a obrigação alternativa,


b) Se o objeto a dar for incerto, isto é, apenas determinado pelo gênero,
c) Se se tratar de obrigação de dar coisa certa,
d) Se o objeto a dar for coisa divisível,
e) Se o objeto a dar for bem corpóreo, fungível ou infungível

A definição do Clóvis Bevilaqua é da obrigação de dar coisa incerta, pois, nela, o devedor não
pode alegar perecimento da coisa como forma de se exonerar da obrigação. Aplica-se aí a
regra do genus numquat perit (art. 246, CC). Além disso, salvo pacto em sentido contrário, a
escolha da coisa será do devedor, que é obrigado a, no mínimo, escolher uma coisa de padrão
médio art. 244, CC).
Letra b.

025. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA SÃO ROQUE-SP/2019/ADAPTADA) Na obrigação


de fazer, se a prestação do fato se tornar impossível, sem culpa do devedor, este responderá
por perdas e danos.

Só a dever de indenizar por perdas e danos se a impossibilidade decorrer de culpa do devedor,


ao contrário do dito na questão. É o art. 248 do CC:

Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obriga-
ção; se por culpa dele, responderá por perdas e danos.
Errado.

026. (MPE-PI/PROMOTOR/MPE-PI/2019) O comportamento desejado, em situação de obri-


gações de fazer, deverá ser desempenhado pelo próprio devedor, sendo vedada a substituição
do ato por terceiros, mesmo que isso não gere nenhum prejuízo ao credor.

A obrigação de fazer pode ser fungível (quando ela pode ser prestada por terceiro – art. 249
do CC) ou infungível (quando houver caráter personalíssimo a impedir que terceiros prestem a
obrigação – arts. 247 e 249 do CC). A questão está errada, porque, ao contrário do que lá é afir-
mado, é possível haver a substituição do ato por terceiro nos casos de obrigações fungíveis.
Vejam os preceitos citados:

Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele
só imposta, ou só por ele exequível.
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa
do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

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Obrigações – Parte I
Carlos Elias

Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial,


executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.
Errado.

027. (CESPE/ANALISTA/MPE-CE/2020/ADAPTADA) Na hipótese de obrigações alternativas


em que a escolha caiba ao devedor, este pode obrigar o credor a receber parte em uma pres-
tação e parte em outra.

Contraria § 1º do art. 252 do CC:

Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida
em cada período.
§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz,
findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a
escolha se não houver acordo entre as partes.
Errado.

028. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA SÃO ROQUE-SP/2019/ADAPTADA) Nas obriga-


ções alternativas, a escolha cabe ao credor, se outra coisa não se estipulou.

A regra é que a escolha é do devedor, salvo pacto em contrário. É o art. 252 do CC:

Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida
em cada período.
§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz,
findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a
escolha se não houver acordo entre as partes.
Errado.

029. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA ITAQUAQUECETUBA-SP/2018/ADAPTADA) Nas


obrigações alternativas, no caso de pluralidade de credores, não havendo acordo unânime en-
tre eles quanto à escolha, decidirá aquele que tiver maior crédito ou, sendo iguais, o crédito
mais antigo.
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Obrigações – Parte I
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É o juiz quem decide nessa hipótese de divergência entre os cocredores (art. 252, § 3º, CC).
Errado.

030. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA SÃO ROQUE-SP/2019/ADAPTADA) Se, havendo


dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela sua parte
da dívida.

Cada um será obrigado pela dívida toda, e não por parte da dívida. Afinal de contas, não há
como dividir a dívida em partes, porque se trata de obrigação indivisível. É o art. 259 do CC:

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado
pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos ou-
tros coobrigados.
Errado.

031. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA ITAQUAQUECETUBA-SP/2018/ADAPTADA) Nas


obrigações divisíveis e indivisíveis, havendo dois ou mais devedores, e não sendo divisível a
prestação, cada um será obrigado pela sua quota parte.

Ao contrário do dito na questão, no caso de obrigação indivisível, cada codevedor será obriga-
do pela dívida toda (art. 259, CC). É diferente do que sucede na obrigação divisível, pois esta
se presume dividida em tantas partes quantos são os credores e devedores à luz da regra do
concursu partes fiunt, sediado no art. 257 do CC. Veja o art. 257 do CC:

Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se
dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.
Errado.

032. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) Nos casos de solida-


riedade no polo ativo da relação obrigacional, o devedor pode opor aos demais credores a
exceção pessoal que tiver contra um deles.

É o contrário, conforme art. 273 do CC:

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Obrigações – Parte I
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Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis
aos outros.
Errado.

033. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) Se a prestação restar


impossível por culpa de um dos coobrigados solidários, subsistirá para todos o encargo de
pagar o equivalente, inclusive as perdas e danos.

Só o culpado pagará as perdas e danos: a parte final da questão está errada. É o art. 279 do CC:

Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para
todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.
Errado.

034. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA ITAQUAQUECETUBA-SP/2018/ADAPTADA) Im-


possibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o
encargo de pagar o equivalente, além das perdas e danos suportadas pelo credor.

Só culpado responde pelas perdas e danos, ao contrário do dito na questão. É o art. 279 do CC.
Errado.

035. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO TJ-MG/2019//ADAPTADA) O herdeiro do credor


solidário tem o direito de exigir a receber somente o correspondente ao seu quinhão hereditá-
rio, salvante a hipótese de obrigação indivisível.

É o art. 270 do CC:

Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito
a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obriga-
ção for indivisível.
Certo.

036. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO TJ-MG/2019/ADAPTADA) Tanto na hipótese de


julgamento favorável quanto no julgamento contrário a um dos credores solidários, os demais
credores são alcançados pelos efeitos da decisão.

Julgamento contrário não prejudica os demais cocredores solidários. É o art. 274 do CC:

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Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julga-
mento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de
invocar em relação a qualquer deles.
Errado.

037. (CESPE/PROCURADOR/PGE-AM/2018/ADAPTADA) Em uma obrigação de pagar quan-


tia certa em dinheiro, eram credores solidários Caim e Abel e devedores solidários Matheus
e André. Morreu Caim, deixando dois herdeiros. Também morreu Matheus, deixando dois
herdeiros.
a) A morte de qualquer dos credores põe fim à solidariedade.
b) Os herdeiros de Matheus, reunidos, serão considerados como um devedor solidário em re-
lação a André.
c) A morte de qualquer dos devedores põe fim solidariedade.
d) Cada um dos herdeiros de Caim poderá exigir toda a dívida de André e dos herdeiros
de Matheus.
e) Cada um dos herdeiros de Matheus, isoladamente ou reunidos, poderá ser obrigado a pagar
por toda a dívida.

A alternativa “B” é a correta à luz dos arts. 270 e 276 do CC:

Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito
a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obriga-
ção for indivisível.
Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado
a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indi-
visível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais
devedores.
Letra b.

038. (CESPE/PROCURADOR/PGE-AM/2018/ADAPTADA) Se o devedor solidário de uma dí-


vida divisível falecer e deixar três herdeiros legítimos, tais herdeiros, reunidos, serão conside-
rados como um devedor solidário em relação aos demais devedores, mas cada um desses
herdeiros somente será obrigado a pagar a cota que corresponder ao seu quinhão hereditário.

É o art. 276 do CC:

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Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obriga-
do a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for
indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos
demais devedores.
Certo.

039. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA ITAQUAQUECETUBA-SP/2018/ADAPTADA) A


obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos cocredores ou codevedores, e condi-
cional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro.

É o art. 266 do CC:

Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos cocredores ou codevedores, e
condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro.
Certo.

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Obrigações – Parte I
Carlos Elias

GABARITO
3. C 16. E 29. E
4. E 17. E 30. E
5. C 18. E 31. E
6. C 19. C 32. E
7. E 20. C 33. E
8. C 21. C 34. E
9. b 22. E 35. C
10. C 23. E 36. E
11. c 24. b 37. b
12. E 25. E 38. C
13. E 26. E 39. C
14. E 27. E
15. E 28. E

Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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