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DIREITO CIVIL

Obrigações – Parte III

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III

Sumário
Carlos Elias

Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Obrigações – Parte III...................................................................................................................... 5
1. Extinção das Obrigações............................................................................................................ 5
1.1. Definição...................................................................................................................................... 5
1.2. Pagamento.. ................................................................................................................................ 6
1.3. Pagamento em Consignação................................................................................................ 20
1.4. Pagamento com Sub-Rogação............................................................................................. 25
1.4. Breve Histórico........................................................................................................................ 27
1.5. Imputação do Pagamento..................................................................................................... 33
1.6. Dação em Pagamento............................................................................................................ 35
1.7. Novação..................................................................................................................................... 37
1.8. Compensação.. ......................................................................................................................... 41
1.9. Confusão................................................................................................................................... 50
1.10. Remissão das Dívidas. . ..........................................................................................................51
Questões de Concurso.................................................................................................................. 52
Gabarito............................................................................................................................................ 63

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Obrigações – Parte III
Carlos Elias

Apresentação
Amigo(a), vamos tratar de extinção das obrigações. Temos muita coisa a falar, mas, como
já estamos fazendo nas aulas anteriores, focaremos naquilo que realmente você precisa saber
para passar no concurso. E lembre-se: quero deixar você preparado para responder às ques-
tões mais difíceis, pois é isso que garantirá que, além de aprovado no concurso, você seja
nomeado. Quem faz Gran Cursos Online tem garantia de sucesso!
Vamos lá!

Resumo

Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• A extinção normal da obrigação é o pagamento propriamente dito, mas há também for-
mas de extinção anormal da obrigação, como o pagamento em consignação, o paga-
mento com sub-rogação, a imputação do pagamento, a dação em pagamento, a nova-
ção, a compensação, a confusão e a remissão;
• O pagamento em consignação consiste no depósito da coisa devida nas hipóteses da
lei, como na situação de recusa indevida do de credor em receber o pagamento (arts.
334 ao 345, CC);
• O pagamento com sub-rogação ocorre quando um terceiro paga a dívida alheia e se sub-
-roga nos direitos que o credor originário tinha perante o devedor. A sub-rogação pode
ser legal, quando decorrer de lei, ou convencional, quando provier da vontade do credor
originário (arts. 346 ao 351, CC);
• A imputação do pagamento sucede quando o devedor, tendo mais de uma dívida peran-
te o credor, atribui o pagamento a uma delas (arts. 352 ao 355, CC);
• A dação em pagamento é a entrega de coisa diversa da pactuada, o que depende de
aceitação do credor (arts. 356 ao 359, CC);
• A novação é a criação de uma nova obrigação para extinguir a anterior (arts. 360 ao 367,
CC);
• A compensação é o encontro de direitos opostos; é a extinção de duas obrigações em
razão de as pessoas dos credores e dos devedores se alternarem entre elas (arts. 368
ao 380, CC);

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• A confusão é a extinção da obrigação em função de as figuras do credor e do devedor


se concentrarem em uma só pessoa (arts. 381 ao 384, CC);
• Há remissão quando o credor perdoa a dívida, e o devedor aceita (arts. 385 ao 388, CC).

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OBRIGAÇÕES – PARTE III


1. Extinção das Obrigações
1.1. Definição

A doutrina apresenta diferentes formas de classificar a extinção das obrigações. Adota-


remos aqui a que consideramos mais didáticas e deixaremos de expor as demais para evitar
discussões inférteis.
Há dois meios de extinção das obrigações: (1) extinção normal (meio anormal de extinção)
e (2) extinção anormal (meio normal de extinção).
A extinção anormal (meio anormal de extinção) ocorre quando a obrigação se extingue,
sem o seu cumprimento. Ex.: perecimento do bem sem culpa do devedor, advento do termo
resolutivo, invalidade etc. Diz-se anormal, porque o caminho normal para a extinção da obriga-
ção é o pagamento.

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A extinção normal (meio normal de extinção) dá-se quando a obrigação é cumprida, o que
pode ocorrer por dois tipos de pagamento: o pagamento direto e o pagamento indireto.
O pagamento direto corresponde ao cumprimento exato da prestação pactuada. Refere-se
ao pagamento propriamente dito, que está disciplinado nos arts. 304 ao 333 do CC.
Já o pagamento indireto1 diz respeito a outros fenômenos que importam no cumprimen-
to da obrigação por outra via que não o pagamento direto. Incluem-se aí todos os demais
meios de extinção da obrigação previstos nos arts. 334 ao 388 do CC. Aí se incluem, portanto,
o pagamento em consignação (= pagamento é efetuado por depósito judicial ou bancário, e
não diretamente ao credor), a dação em pagamento (= pagamento é efetuado por coisa diver-
sa da pactuada), a imputação do pagamento (= pagamento de uma das diversas obrigações
existentes entre as mesmas partes) e o pagamento com sub-rogação (um terceiro, e não o
devedor, cumpre a obrigação e se assume a posição jurídico do anterior credor). A novação, a
compensação, a confusão e a remissão são também formas de pagamento indireto, apesar de
haver quem, na doutrina, os considere como meios anormais de extinção da obrigação, e não
como pagamento indireto. Preferimos seguir o talento didático do civilista Christiano Casset-
tari (2011, p. 148).

1.2. Pagamento
1.2.1. Definição e Natureza Jurídica

1
Rosenvald e Farias preferem chamar de modalidades especiais de pagamento, pois entendem que há hipóteses que não
se enquadram como pagamento em sentido amplo por não haver, sequer indiretamente, a satisfação do débito, como a
remissão e a confusão.

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O pagamento é o cumprimento da prestação pactuada a tempo, modo e lugar e está disci-


plinado nos arts. 304 ao 333 do CC.
Há controvérsia na doutrina sobre a sua natureza jurídica2. Entendemos que se trata de ato
jurídico stricto sensu, pois, uma vez praticado, os efeitos jurídicos daí decorrentes procedem de
lei. A doutrina, porém, oscila entre várias alternativas: (1) negócio jurídico unilateral; (2) negó-
cio jurídico bilateral; (3) ato jurídico em sentido estrito; (4) outras espécies mistas.

1.2.2. Requisitos do Pagamento

Há dois requisitos do pagamento: subjetivo e objetivo.


Os requisitos subjetivos são dois: (1) o solvens, que diz respeito àquele que paga e pode ser
até mesmo um terceiro, conforme se verá mais a frente; e (2) o accipiens, que se refere àquele
que recebe.
Os requisitos objetivos são: (1) o objeto do pagamento; (2) a prova do pagamento; (3) o
local do pagamento; (4) o tempo do pagamento.

Objeto do Pagamento

2
Gonçalves, 2011, p. 252.
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Princípio da Exatidão (Vedação do Aliud pro alio): Coisa Diversa e Paga-


mento Parcial

Amigo(a), antes de tudo, vamos com esta questão de concurso. Respondam se é “certa”
ou “errada”.

001. (FCC/ANALISTA JUDICIÁRIO/OFICIAL DE JUSTIÇA/TRT-11ª/2017) O credor não pode


concordar em receber prestação diversa da que lhe é devida.

O gabarito está errado, porque, para o credor sempre tem de consentir no recebimento de coisa
diversa da pactuada.
O devedor é obrigado a entregar exatamente aquilo que foi pactuado, nem mais, nem menos.
E o credor não é obrigado a receber coisa diversa da pactuada nem porção inferior ao pactua-
do. O credor não é obrigado a receber aliud pro alio (“coisa por outra”) Trata-se do princípio da
exatidão, que está depositado nos arts. 313 e 314 do CC. Esse princípio também conhecido
como o da vedação do aliud pro alio. Essa expressão em latim é um fragmento deste brocardo
latino: aliud pro alio invito creditori solvi non potest (“não se pode pagar uma coisa por outra
contra a vontade do credor”). Há, porém, exceção, pois o CPC admite que o devedor, na fase
de execução, valha-se do direito de pagar a dívida parceladamente na forma do art. 916, CPC.
É um caso excepcional de pagamento parcial a que o credor deve se curvar, como lembra o
nobre processualista José Miguel Garcia Medina (2017, p. 1110).
Daí decorre que o credor não é obrigado a receber nem mesmo coisa mais valiosa. Se quiser
receber, a extinção da obrigação não se dará pelo pagamento direto, e sim por meio da dação
em pagamento (art. 313, CC).
Também decorre daí que o credor não é obrigado a receber pagamento parcial. Por exemplo,
“X” pode recusar receber R$ 200,00 como pagamento parcial da dívida de R$ 400,00. O interes-
se jurídico de “X” pode ser o de que os encargos de mora incidam sobre o valor total da dívida
até o pagamento integral, o que lhe renderia uma maior vantagem financeira.
Errado.

Dívidas em Dinheiro: Princípio do Nominalismo e suas Exceções (Cláusula


de Escala Móvel e Teoria da Imprevisão)

Antes de tudo, quero que você resolva esta questão.

002. (FCC/ANALISTA JUDICIÁRIO/OFICIAL DE JUSTIÇA/TRT-11ª/2017) É lícito convencio-


nar o aumento progressivo de prestações sucessivas.
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A questão está correta; trata-se da cláusula de escala móvel, que é uma exceção ao princípio
do nominalismo. Calma! Eu te explico. Vamos lá.
A regra é a de que a dívida deve ser paga no vencimento. Se for em dinheiro, o valor a ser con-
siderado é o valor nominal da dívida (art. 315, CC). É que a regra é a de que não há correção
monetária sobre a dívida antes do vencimento (período da normalidade obrigacional), pois se
presume que, ao pactuar a dívida, as partes pretendem receber o valor nominal indicado. Tra-
ta-se do princípio do nominalismo.
Há, porém, duas exceções a esse princípio.
A primeira é a cláusula de escala móvel, também batizada de cláusula de escalonamento.
Trata-se de cláusula que, expressamente, prevê a oscilação do valor da dívida a índices de
custo de vida, ou seja, a índices de correção monetária, de maneira que o valor nominal poderá
aumentar ou diminuir progressivamente a depender da inflação ou da deflação (art. 316, CC).
Todavia, como cautela para evitar crises de inflação galopante, é vedada a correção monetária
do valor da dívida em periodicidade inferior a um ano, salvo autorização legal específica (art.
2º da Lei n. 10.192/2001 e art. 28 da Lei n. 9.069/1995 – Lei do Plano Real).
Um alerta se faz desde logo. Isso só vale para a correção monetária no período da normalidade
obrigacional, ou seja, para o período anterior ao vencimento da obrigação. A correção monetá-
ria incidirá, sem restrições e de modo automático, após o vencimento da obrigação se ela for
inadimplida por força dos arts. 389 e 295 do CC (período da anormalidade obrigacional).
A segunda exceção é a aplicação da teoria da imprevisão prevista no art. 317 do CC, que deve
ser lido em conjunto com os arts. 478 ao 480 do CC. O juiz poderá mudar o valor da obrigação
(revisão da obrigação), se, por motivo imprevisível e superveniente, a prestação se tornar mani-
festamente desproporcional no momento do pagamento. Trataremos, com maior detalhe, em
contratos, ao tratar da teoria da imprevisão.
Certo.

Dívida em Ouro ou Moeda Estrangeira

Em respeito à moeda nacional, as dívidas não poderão ser pactuadas em ouro (“cláusula-
-ouro”), em moeda estrangeira (obrigação valutária) ou com indexação a moedas estrangeiras
(oscilação de acordo com o valor de troca da moeda estrangeira pela moeda nacional, ou seja,
de acordo com a variação cambial), salvo lei específica. Di-lo o art. 318 do CC, que são repeti-
dos no art. 1º da Lei n. 10.192/2001 e no art. 1º do Decreto-Lei n. 857/1969.
Excepcionalmente a legislação admite pactuações em leis estrangeiras, especificamente
em casos em que a conexão da obrigação com o mercado internacional é manifesta. As princi-
pais exceções estão no art. 2º do Decreto-Lei n. 857/1969, do que dão exemplo as obrigações
decorrentes de contrato de importação e exportação de mercadorias.

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Medição e Pesagem do Objeto do Pagamento

Se a dívida for estipulada em medida ou pesos, presume-se que estes serão utilizados de
acordo com o lugar do pagamento, salvo pacto em contrário (art. 326, CC). Assim, se alguém
se obriga a entregar mil alqueires de terras em São Paulo, presume-se que essa medida de al-
queire será o que vigora em São Paulo, especialmente porque, em outros Estados, um alqueire
corresponde a extensões diversas. Um alqueire vale, em São Paulo, 2,42 hectares (24.200 m2),
ao passo que, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e em Goiás, ele vale 4,84 hectares (48.400
m2). No Norte, um alqueire corresponde a 2,7225 hectares (27.225 m2).

Prova do Pagamento

Veja só esta questão de concurso.

003. (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRE-PE/2017) Embora a quitação


seja um direito subjetivo do devedor, ele não pode reter o pagamento como forma de compelir
o credor a fornecer-lhe o recibo.

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O gabarito é “errado”, porque o devedor pode reter o pagamento enquanto não lhe for dada a
quitação. Vamos estudar esse tema.
A prova do pagamento é disciplinada nos arts. 319 ao 325 do CC.
O devedor, ao pagar, tem direito à quitação regular. Se a quitação não lhe for dada, o devedor
pode, como proteção, reter o pagamento (art. 319, CC). Isso vale para qualquer tipo de obriga-
ção, contratual ou extracontratual. Se, porém, se cuidar de obrigação contratual, o art. 319 do
CC será reforçado pela exceptio non adimpleti contractus no art. 476 do CC.
A quitação é a prova do pagamento (é o fato jurídico), e o recibo é apenas um instrumento da
quitação (é o documento no qual o credor formaliza a quitação).
O recibo deve conter as informações essenciais à identificação do pagamento, conforme in-
dicado no art. 320 do CC. Se, porém, ele não contiver esses requisitos, a sua eficácia é pre-
servada se se puder constatar a realização do pagamento a partir de seu conteúdo ou das
circunstâncias. Não há rigor formal para o recibo; vige o princípio da liberdade das formas, que
se alinha com a regra geral de não solenidade do art. 107 do CC para os negócios jurídicos.
O recibo pode ser por instrumento particular, sempre (art. 320, CC). Isso significa que, ainda
se a obrigação tenha dependido de um instrumento público para surgir, a quitação poderá ser
comprovada por instrumento particular. Isso significa que, por exemplo, o Cartório de Registro
de Imóveis poderá aceitar um recibo por instrumento particular como título adequado para a
averbação do cancelamento de um direito real de hipoteca que foi constituído pelo registro de
uma escritura pública.
A quitação poderá ser dada por meio eletrônico; a lei não exige uma forma específica.
Como é ônus do devedor pagar, é dele também o ônus de arcar com as despesas necessárias
para realizar o pagamento. Ele, por exemplo, tem de pagar o valor de emissão de um boleto
bancário. Se, porém, o credor tiver praticado algum fato que torne mais oneroso o pagamento,
esse acréscimo de despesa deverá ser suportado pelo credor em respeito ao princípio da cau-
salidade: quem dá causa a um prejuízo deve suportá-lo (art. 325, CC).
Há dívidas cuja quitação ocorre com a entrega de um título. A entrega do título aí presume o
pagamento, assegurado, porém, ao credor o prazo decadencial de 60 dias para provar a falta
do pagamento (art. 324, CC). Se o credor alegar que o título se perdeu (extravio), o devedor
poderá reter o pagamento enquanto o credor não lhe dê uma declaração que retire a eficácia
do título, inutilizando-o (art. 321, CC).
Em dívidas parceladas, a quitação da última faz presumir a quitação das demais. A presunção
é relativa; admite prova em contrário (art. 322, CC).
E, diante da natureza acessória dos juros, a quitação da dívida principal presume abranger a
quitação dos juros, salvo ressalva expressa (art. 323, CC).
Errado.

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Lugar do Pagamento

Quanto ao lugar do pagamento, as obrigações podem ser: (1) quesíveis ou quérable, quan-
do o lugar do pagamento for o domicílio do devedor; e (2) portáveis ou portable, quando o lugar
do pagamento for o domicílio do credor. Inclui-se na dívida portável a situação de o pagamento
ser em qualquer lugar diverso do domicílio do devedor, pois isso implicaria o dever de o deve-
dor “portar” o pagamento. Assim, se o lugar do pagamento for o sistema bancário – como é
comum de ocorrer –, a dívida será portável. Há, porém, quem restrinja a expressão “obrigação
portável” para o pagamento no domicílio do credor e prefere classificar como “obrigação mista”
aquela cujo lugar de pagamento é lugar diverso do domicílio de ambas as partes. Parece-nos,
porém, mais adequada a expressão “obrigação portável” diante da necessidade de o devedor
carregar (portar) o pagamento.
A regra geral é a de que as obrigações são quesíveis: cabe ao credor ir atrás do devedor
para receber o crédito. Excepcionalmente, a obrigação pode ser portável, se assim determinar
a lei, o pacto, a natureza da obrigação ou as circunstâncias do caso concreto (art. 327, CC).

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Se houver dois ou mais lugares para pagamento, a escolha será feita pelo credor, que, por
ser o senhor do crédito, indicará o local mais cômodo para ele.
Se se tratar de dívida consistente na entrega de um imóvel ou em prestações relativas a
imóveis – como dívidas relativas à contribuição condominial ou a aluguel do imóvel –, o lugar
do pagamento é o lugar do imóvel (art. 328, CC). É, porém, de admitir-se pacto em contrário por
não se ter aí norma de ordem pública. A tradição do imóvel, por exemplo, poderia ser feita de
modo ficto em local diverso (ex.: entrega das chaves). O pagamento de prestações relativas ao
imóvel (como a contribuição de condomínio) poderia ser feito pelo sistema bancário.
Havendo motivo grave – como a greve, uma inundação etc. –, o devedor poderá pagar em
lugar diverso do pactuado, desde que não haja prejuízo ao credor (art. 329, CC).
Por fim, em nome da supressio, o pagamento reiterado em lugar diverso do pactuado impli-
ca renúncia, pelo credor, ao lugar previsto no contrato (art. 330, CC).

1.2.3. Solvens (Quem pode Pagar)

Quem pode pagar (solver) a dívida? O solvens pode ser o devedor (pessoalmente ou por
meio de representante) ou terceiros.
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Devedor e seu Representante

O devedor, por si ou por seu representante, tem direito de pagar e, por isso, no caso de re-
cusa do credor em receber o pagamento, o devedor pode valer-se da figura da ação de consig-
nação em pagamento para, depositando a prestação em juízo, extinguir a obrigação.

Terceiro Interessado

No caso de terceiros, há duas situações: o de terceiros interessados e não interessados.


O terceiro interessado tem direito de pagar e, portanto, pode valer-se da ação de consigna-
ção em pagamento no caso de recusa injustificada do credor em receber (art. 304, CC). Diz-se
interessado o terceiro que, juridicamente, pode vir a ser atingido patrimonialmente com a ina-
dimplência do devedor, a exemplo do fiador. Outro exemplo é ocessionário de quota de con-
sórcio, que pode ajuizar ação de consignação em pagamento para obrigar a administradora a
receber o valor do débito do devedor originário, pois é terceiro interessado por estar potencial-
mente sujeito aos efeitos de eventual inadimplemento (STJ, REsp 67.253/PR).
O terceiro interessado tem direito à sub-rogação legal (art. 346, III, CC). É irrelevante se o
terceiro interessado pagou em nome próprio ou em nome do devedor. Em qualquer caso, ele
tem direito à sub-rogação (art. 304 e 346, III, do NCC).
Como há sub-rogação legal, isso significa que o terceiro substitui o credor originário no
crédito. Daí decorre que o terceiro, em sede de direito de regresso, não poderá cobrar nada do
devedor se este tinha motivos jurídicos (e não morais ou sentimentais) para impedir o credor
originário de cobrar a dívida, como nulidades, prescrição etc. (art. 306, CC).

Terceiro Não Interessado

Amigo(a), resolvam a questão.

004. (MPT/PROCURADOR DO TRABALHO/MPT/2017) O terceiro não interessado que paga


a dívida em seu próprio nome tem direito a reembolsar-se do que pagou, sub-rogando-se no
direito do credor.

O gabarito é “errado”, pois não há a sub-rogação legal nesse caso de terceiro desinteressado
que paga dívida alheia. Vamos explicar isso.
O terceiro não interessado é aquele cujo patrimônio não está juridicamente sujeito ao adim-
plemento da dívida, mas salda a dívida por outros motivos que não econômicos nem jurídicos.
Ex.: filho que paga débito de seu pai para com sua mãe, para evitar impasse entre genitores.

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Há duas formas de esse terceiro desinteressado pagar a dívida: (1) em nome próprio ou (2) em
nome do devedor. As consequências jurídicas são diversas a depende de cada uma da forma
de pagamento.
Errado.

Em Nome do Devedor

Quando o terceiro desinteressado paga em nome do devedor, é como se o próprio devedor


estivesse sendo representado por esse terceiro. Consideramos que o terceiro aí está a agir
como um verdadeiro gestor de negócios. Daí decorre que essa forma de pagamento repre-
senta uma verdadeira liberalidade concedida ao devedor; é um presente. Por isso, o terceiro
desinteressado não tem direito de exigir reembolso algum.
Nesse caso, como o terceiro desinteressado não poderá constranger o devedor com uma
pretensão regressiva, o art. 304, parágrafo único, do CC concede-lhe o direito de obrigar o cre-
dor a receber o pagamento, com possibilidade, inclusive, de valer-se da ação de consignação
em pagamento. A motivo de ser assegurado um direito a pagamento a um terceiro nessa hipó-
tese em que ele age em nome do devedor é o de que a falta de direito de reembolso descarta
a possibilidade de um desafeto pretender pagar a dívida com o mero objetivo de constranger o
devedor com uma cobrança mais rigorosa do que o credor originário (negando parcelamentos,
penhorando bens etc.).
Todavia, inovando em relação ao CC/16, o art. 304, parágrafo único, do CC estabelece que
esse direito do terceiro desinteressado de pagar em nome do devedor pode ser afastado quan-
do houver oposição do devedor. Essa oposição do devedor pode ser imotivada e fundar-se em
fatores de ordem moral, religiosa ou jurídica.
Na realidade, essa oposição do devedor apenas retira a obrigatoriedade de o credor aceitar
o pagamento pelo terceiro não interessado que quer pagar em nome do devedor. Em outras
palavras, a oposição do devedor impede a ação de consignação em pagamento pelo terceiro
desinteressado que quer pagar em nome do devedor. Não impede, todavia, que o credor – se-
nhor do crédito – aceite o pagamento ofertado pelo terceiro desinteressado em nome do deve-
dor. Afinal de contas, se o devedor, por capricho, se opõe a que terceiros paguem a sua dívida,
cumpre-lhe pagar a dívida, e não oferecer resistência meramente caprichosa à satisfação da
dívida. Portanto, havendo oposição do devedor, o pagamento pelo terceiro desinteressado em
nome do devedor passa a ser uma faculdade ao credor, de modo a afastar o cabimento da
ação de consignação em pagamento.
Por fim, pode soar estranho que a lei permita que um terceiro pague a dívida de outrem,
mas há motivos para tanto. O credor não pode ficar na dependência de caprichos do devedor.
O interesse do credor em ser satisfeito deve prevalecer. Por essa razão, a nosso sentir, o paga-
mento pelo terceiro poderá ser feito mesmo antes do vencimento da dívida. Temos, porém, que
o devedor, se, por questão moral, não quiser ser beneficiado pelo pagamento, sobra-lhe a faculdade

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de obrigar o terceiro a receber, como reembolso, o valor da quantia da dívida, com possibilida-
de de, em havendo recusa do terceiro, ser admitida ação de consignação em pagamento. Essa
solução, embora não tenha previsão textual na lei, concilia o direito do terceiro de pagar dívida
e o prestígio à satisfação da dívida com o direito do devedor de se recusar liberalidades.

Em Nome Próprio

Quando o terceiro desinteressado paga em nome próprio, isso significa que ele assumiu a
obrigação para si com a ressalva de reembolsar-se do legítimo devedor. Pagou em seu próprio
nome, com o intento de poder voltar-se contra o devedor. E, nesse sentido, como o devedor
originário poderá ser constrangido em futura ação regressiva a ser manejada por esse terceiro
desinteressado (que pode ser um inimigo que pretende ser mais severo na cobrança da dívida
do que o credor originário), o terceiro interessado que paga em nome próprio não tem direito
de obrigar o credor a receber o pagamento. Em outras palavras, ele não tem direito a propor
ação de consignação em pagamento. Essa é a interpretação do silêncio eloquente do art. 304,
parágrafo único, do CC, que nada diz sobre essa situação. Todavia, se o credor quiser receber
o pagamento desse terceiro desinteressado, nada impede, pois o credor é o senhor do crédito.
Nesse contexto, indaga-se: o terceiro desinteressado que paga a dívida em nome próprio
tem direito a reembolsar-se do valor pago perante o devedor?
De um lado, se o devedor tinha meios para inibir exercício do direito de crédito (ex.: nuli-
dades, prescrição, decadência, compensação total do débito etc.) e o pagamento foi feito ao
seu desconhecimento ou à sua oposição, não há direito de reembolso. Isso, porque o devedor
podia eximir-se da obrigação por outras vias que não o adimplemento direto (art. 305 e 306,
CC). O risco é do terceiro, que não consultou o devedor antes de pagar. Os meios de impedir a
cobrança só podem ser jurídicos para obstar o direito de regresso, de modo que são irrelevan-
tes questões de ordem moral.
Se o devedor tinha meios para impedir apenas parte da dívida, então ele só terá de reembol-
sar o terceiro não interessado que pagou em nome próprio quanto à outra parte da dívida, em
homenagem à vedação do enriquecimento sem causa. Ex.: dívida de R$ 100.000,00; devedor
tinha crédito de R$ 30.000,00 a compensar; nesse caso, se o terceiro desinteressado pagar em
nome próprio, só poderá reembolsar-se dos R$ 70.000,00.
Quanto à compensação como meio para impedir a cobrança, a doutrina costuma men-
cioná-lo sem maiores detalhes. Consideramos que, em nome da vedação do enriquecimento
sem causa, não há motivos para o devedor que invoca a compensação para impedir o pleito
regressivo continua como titular do crédito. Temos que esse crédito deve cedido ao terceiro
que tinha enriquecimento sem causa. Ex.: dívida de R$ 100.000,00; devedor tinha crédito de
R$ 100.000,00 a compensar; nesse caso, se o terceiro desinteressado pagar em nome próprio,
o terceiro não poderá cobrar dinheiro do devedor, mas poderá exigir que o crédito que podia
ser invocado como compensação seja transferido ao terceiro. Nesse caso, o terceiro poderá
cobrar esse crédito.
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De outro lado, se o devedor não tinha meios para impedir o exercício do direito de crédito
(ex.: nulidades, prescrição, compensação total do débito etc.), há direito de reembolso, em
nome do princípio da vedação do enriquecimento sem causa. Todavia, esse direito de reembol-
so não será robustecido pela sub-rogação, pois não há previsão legal de sub-rogação em favor
do terceiro desinteressado que paga em nome próprio3. Realmente não há justificativa para ro-
bustecer o direito de regresso de um terceiro se aventura a pagar uma dívida que juridicamente
lhe era irrelevante; o direito de reembolso simples lhe é suficiente para evitar enriquecimentos
em causa. Nada impede, porém, que haja sub-rogação convencional, se o credor expressa-
mente prever isso nos termos do art. 347, I, do CPC. Nesses casos, o terceiro só terá direito a
receber o valor exato que pagou corrigido monetariamente, sem acréscimos de cláusula penal,
de perdas e danos ou de outros encargos contratuais que só a sub-rogação transmitiria. O res-
sarcimento decorre da vedação do enriquecimento sem causa, acolhido pelo art. 305 do CC,
que só trata de “reembolso”. A via processual a ser manejada é a actio in rem verso, ação de
enriquecimento sem causa, com fulcro nos arts. 305 e 884 do CC.

Pagamento Mediante Entrega de Coisa por quem Não é Dono

É ineficaz o pagamento feito por quem não é dono da coisa entregue (art. 307, CC). Exce-
ção: se a coisa for fungível e o credor estiver de boa-fé e já tiver consumido, o pagamento é efi-
caz. Restará ao antigo proprietário reivindicar outra coisa similar ou perdas e danos do solvens.

Dívida de Alimentos e Pagamento por Terceiro

Na ausência do alimentante, terceiros que vierem a pagar a dívida alimentar tem direito de
pleitear reembolso do alimentante (art. 871, CC). Todavia, entendemos que o art. 871 do CC
é flexibilizado pelo art. 306 do CC, dada a possibilidade de o devedor eximir-se a ressarcir o
terceiro se possuía exceções obstativa ao exercício da pretensão creditória (como prescrição,
nulidades etc.). Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves (2010, p. 339) discordam e asseguram o
direito de regresso ainda que o devedor tivesse meios para impedir a cobrança da dívida.
Como o art. 871 do CC não prevê a sub-rogação, essa só será devida se o terceiro for
interessado. É terceiro interessado quem juridicamente pode ter seu patrimônio atingido no
caso de inadimplemento do devedor principal. O STJ entende que a mãe, ao pagar ao filho os
alimentos que deviam ser pagos pelo pai (e esse pagamento pode ser feito mediante o custeio
direto de despesas do filho até o valor dos alimentos), é terceira não interessada, pois ela não
poderia ser juridicamente responsabilizada por essa dívida alimentar. Daí decorre que a mãe,
nesse caso, não tem direito à sub-rogação, mas poderá buscar o reembolso contra o pai por
força do art. 871 do CC, observado o prazo prescricional de 10 anos com fundamento no art.
205 do CC. Se ela fosse terceira interessada, teria havido sub-rogação, do que decorreria que
3
Há exceções, como o caso do terceiro desinteressado que paga dívida garantia por propriedade fiduciária (art. 1.368, CC).

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o prazo prescricional seria de 2 anos diante da natureza de dívida alimentar (art. 206, § 2º,
CC). É o que decidiu o STJ (REsp 1453838/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe
07/12/2015).
Ademais, diante da omissão do art. 871 do CC, as regras relativas à existência ou não de
direito de obrigar o credor a receber os alimentos serão as regras gerais do art. 304 e seguin-
tes do CC, de sorte que só terceiros interessados e terceiros desinteressados que paguem em
nome do devedor poderão valer-se de ação de consignação em pagamento.

1.2.4. Accipiens (a quem Pagar)

Aluno(a), olha só esta questão; aponte a alternativa correta.

005. (CESPE/PROCURADOR/PREFEITURA DE BELO HORIZONTE-MG/2017) João celebrou


contrato de locação de imóvel residencial com determinada imobiliária, que realizou negócio
jurídico de administração do bem com Júlio, proprietário do referido imóvel. Conforme con-
vencionado entre João e a imobiliária, o aluguel deveria ser pago a Carlos, um dos sócios da
imobiliária, o qual costumeiramente recebia os aluguéis e dava quitação. Em determinado mo-
mento, João foi surpreendido com uma ação de despejo, na qual se argumentava que alguns
pagamentos efetuados a Carlos não extinguiram a obrigação locatícia, porquanto ele tinha
se retirado da sociedade no curso do contrato e o locatário não havia observado a alteração
societária.
De acordo com o Código Civil, nessa situação,

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a) João deverá demonstrar que o pagamento foi revertido em favor da sociedade, para se exi-
mir das cobranças.
b) os pagamentos efetuados por João são válidos, pois Carlos é considerado credor putativo
c) a validade dos pagamentos realizados por João depende de ratificação por Júlio, proprietá-
rio do imóvel.
d) João terá de pagar novamente o valor cobrado.

A questão é bem interessante e é respondida com a lembrança de que o pagamento feito ao


credor putativo é válido. A resposta é a letra “b”. Vamos explicar isso mais abaixo.
É ditado popular no meio jurídico: “quem paga mal paga duas vezes”. Isso significa que quem
paga a quem não era legitimado a receber o pagamento continua com a dívida e, portanto,
continuará exposto a ser constrangido a pagar novamente. Nada impede, porém, que seja plei-
teada a devolução (repetição de indébito) daquilo que foi indevidamente pago, se tiver havido
erro, conforme art. 876, CC.
Quem pode receber? O CC trata do tema nos arts. 308 ao 312.
Em suma, o accipiens é o credor, o qual pode receber o pagamento pessoalmente ou por meio
de seu representante legal (v.g., pais do menor que seja credor), judicial (v.g., inventariante ou
síndico) ou convencional (v.g., mandatário). Há de presumir-se que quem portar o recibo de
quitação é autorizado a receber o pagamento pelo credor.
Se o pagamento for feito a pessoa equivocada, esse pagamento não terá eficácia, salvo (1)
ratificação do credor; (2) prova de que o valor se reverteu em seu proveito, tudo em nome da
vedação do enriquecimento sem causa; e (3) se o pagamento foi feito ao credor putativo.
Credor putativo é aquele que, nas circunstâncias do caso concreto, aparente ser credor. Em
nome da teoria da aparência – filha da boa-fé objetiva –, o pagamento ao credor putativo é efi-
caz e vincula o legítimo possuidor (art. 309, CC). Além da aparência de credor, é essencial que
o devedor tenha agido de boa-fé, de modo que ele realmente tenha, de acordo com as circuns-
tâncias do caso, se enganado. Em outras palavras, a escusabilidade do erro é um requisito para
a eficácia do pagamento a credor putativo, conforme entendimento do STJ (STJ, REsp 12.592/
SP, 4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJ 26/4/1993). Exemplos de credor putativo: (1)
inquilino que, obedecendo a um contrato de locação firmado com a imobiliária, paga o aluguel
a um sócio da imobiliária que, após a celebração do contrato, saiu do quadro societário da
imobiliária sem que disso o inquilino tivesse sido notificado; (2) inquilino que paga o aluguel
para a imobiliária com quem firmou o contrato de locação na hipótese de o proprietário, sem
ter notificado o inquilino, já haver revogado os poderes de administração outorgados a ela; (3)
herdeiro testamentário que recebe o valor do crédito do de cujus e, posteriormente, vê o testa-
mento declarado nulo; (4) herdeiro legítimo que recebe valor em troca da transferência de bem
hereditário antes de ser excluído por indignidade (art. 1817, CC4). Não há credor putativo
4
Art. 1.817 do CC: “São válidas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé e os atos de administração
legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão; mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o

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na seguinte hipótese: locatário continua pagando aluguel ao antigo proprietário do imóvel,


mesmo tendo tido inequívoca ciência da alienação do imóvel e da adjunta cessão de crédito.
Se o credor é incapaz de dar quitação, o pagamento feito a ele só tem eficácia se o devedor
provar que valor se reverteu em proveito do credor incapaz. O que é proveito do incapaz? Enten-
demos que haverá proveito do incapaz idônea a afastar a ineficácia do pagamento quando o
dinheiro pago tiver sido utilizado em despesas úteis sob a perspectiva da função social, como,
por exemplo, o pagamento de uma mensalidade escolar. Se, porém, o dinheiro foi utilizado em
fliperamas e em jogos, não houve proveito do incapaz. Esse é o caminho da doutrina majori-
tária. Não importa se o devedor sabia ou não da incapacidade de quem recebeu, pois a norma
se destina à proteção do incapaz. Todavia, Nelson Rosenvald e Cristiano Farias (2010, p. 345)
entendem que, se o devedor não tinha ciência da incapacidade de quem recebeu o pagamento,
é irrelevante o destino dado ao valor pago diante da boa-fé do devedor; basta, portanto, que o
valor tenha sido utilizado pelo incapaz ainda que de modo não proveitoso.
Letra b.

1.3. Pagamento em Consignação


1.3.1. Definição e Importância

Amigo(a), o tema que abordaremos cai bastante em prova. Veja esta “amostra grátis” para
começar o estudo:
direito de demandar-lhe perdas e danos”.

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006. (FCC/DEFENSOR/DPE-SC/2017) Para que a consignação tenha força de pagamento e


surta eficácia liberatória, é exigida a anuência do consignatário.

O gabarito é “errado”, porque a consignação em pagamento não depende de consentimento


do consignatário. Aliás, a consignação presta-se, entre outras situações, para casos em que o
credor – que é o consignatário – recusa-se indevidamente a receber o pagamento.
Vamos tratar do assunto.
Disciplinado nos arts. 334 e seguintes do Código Civil, o pagamento em consignação ou a con-
signação em pagamento consiste na extinção da obrigação a partir do depósito da coisa móvel
ou imóvel em juízo (depósito judicial) ou em estabelecimento bancário (depósito extrajudicial)
nos casos e na forma da lei. No pagamento em consignação, o devedor, no lugar de entregar a
prestação diretamente ao credor, entrega-a em juízo ou em estabelecimento bancário.
O pagamento em consignação apenas muda um aspecto do lugar do pagamento, que passa a
ser o depósito em juízo ou em instituição bancária na forma da lei. Deve-se, porém, fazer esse
depósito em juízo ou em instituição financeira situada no lugar do pagamento (art. 337, CC). Os
demais elementos da obrigação (tempo, modo, objeto e pessoa) devem ser observados para
que o pagamento em consignação produza o efeito extintivo (art. 336, CC). O procedimento de
consignação em pagamento é tratado nos arts. 539 ao 549 do CPC.
A consignação só tem lugar para obrigações de dar coisa. Não importa se se trata de coisa
certa ou incerta. Se for incerta, o procedimento respeitará o direito de quem tem o direito de
escolher a coisa (fase da concentração): se for o devedor, basta ele fazer o depósito da coisa
que escolher; se for o credor, este será citado para fazer a escolha, sob pena de ter de aceitar
a escolha feita pelo devedor (art. 342, CC). Por motivos óbvios de impossibilidade de depósi-
to de fatos, não há como valer-se da consignação em pagamento para obrigações de fazer e
não fazer. Nesses casos de obrigação de fazer ou de não fazer, como lembra Clovis Beviláqua
(1958, p. 92) com base no texto do Código Civil suíço, o devedor poderá pleitear a resolução do
contrato por culpa do credor, de modo a liberar-se de sua própria obrigação.
Em se tratando de obrigação em dinheiro, os parágrafos do art. 539 do CPC admite a consig-
nação em pagamento extrajudicial: devedor deposita valor em instituição bancária com cien-
tificação do credor para manifestar recusa perante o banco em até 10 dias. Se houver recusa,
caberá ao devedor promover a ação de consignação em pagamento em 1 mês com a prova
do depósito e da recusa. Se, porém, não houver a recusa, o devedor será considerado liberado
da obrigação
O devedor só pode fazer isso nas hipóteses legais. É preciso haver um justo motivo para o de-
vedor adotar essa postura. O pagamento em consignação costuma gerar prejuízos ao credor,

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pois ele, por exemplo, terá custos para conseguir levantar o depósito em juízo (ex.: contratação
de advogado) e, enquanto não levantar a prestação, não terá a disponibilidade da prestação
para investi-la em uma atividade rentável (ex.: aplicação financeiras) etc. Os pagamentos em
consignação feitos em sede de processos judiciais que questionam a validade da dívida exem-
plificam bem isso: o valor depositado fica em conta judicial que é remunerada de forma muito
modesta comparativamente com as aplicações financeiras em geral, de maneira que o credor,
por geralmente não conseguir levantar os valores antes do fim do processo, amargará prejuí-
zos por longo período. Não há direito de o credor pedir indenização por esses danos, salvo se
a consignação em juízo não se encaixasse em nenhuma das hipóteses legais.
Errado.

1.3.2. Hipóteses de Cabimento

O art. 335 do CC cataloga as hipóteses de cabimento do pagamento em consignação. En-


tre as causas, há:
• a) causa subjetiva: diz respeito a causas imputáveis ao próprio credor (recusa injustifica-
da em receber o pagamento ou em dar a quitação; não comparecimento do credor para
receber; paradeiro desconhecido do credor; incapacidade de receber) e a dúvidas sobre
quem tem legitimidade para receber o pagamento, conforme hipóteses I a IV do art. 335
do CC;
• b) causa objetiva: reporta-se à existência de litígio quanto ao objeto da dívida, conforme
art. 335, V, do CC.

A causa objetiva é a mais recorrente no quotidiano forense e geralmente justifica que, em


ações destinadas a declarar a nulidade de cláusulas contratuais para reduzir o valor da dívida

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(as famosas ações revisionais de contratos), o autor da ação – diante da natureza litigiosa da
dívida – costuma fazer o pedido para depositar os valores em juízo a fim de afastar os efei-
tos da mora.

1.3.3. Consequências de Consignações Fora das Hipóteses Legais

Como o pagamento em consignação só pode ocorrer nas hipóteses legais, isso decorre
que a sua utilização sem respaldo legal acarreta a improcedência do depósito. Daí decorre
que o depósito feito sem fundamento legal não extingue a obrigação e, portanto, não afasta os
ônus decorrentes do inadimplemento, como os juros moratórios e os riscos pelo perecimento
da coisa (art. 337, CC).

1.3.4. Levantamento do Depósito

O devedor pode levantar o próprio depósito que fez enquanto o credor não o impugnar ou
não o aceitar, mas, ao fazê-lo, o devedor estará desistindo do pagamento em consignação e,
portanto, não haverá qualquer extinção da obrigação (art. 338, CC).

1.3.5. Consignação em Pagamento: Obrigação ou Ônus?

A consignação em pagamento, por ser uma forma de extinção da obrigação, libera o deve-
dor da obrigação. Se houver a consignação, portanto, não se poderá falar em mora do devedor.
A questão, porém, é saber se ele tem ou não obrigação de promover a consignação nas
hipóteses legais, sob pena de suportar os encargos decorrentes da mora (juros moratórios,
por exemplo) e de ter de arcar com deveres como os da conservação da coisa. Temos que os
manuais não costumam enfrentar esse tema de forma direta, de modo que ousamos a propor
uma solução nos termos a seguir.

Causa Subjetiva Imputada ao Credor

Quando a consignação em pagamento decorrer de causa subjetiva de culpa do credor (inci-


sos I a III do art. 335 do CC), o devedor não pode ser punido. A mora aí é do credor, e não deve-
dor, de modo que este não terá de arcar com encargos oriundos da mora (juros moratórios, por
exemplo). O fato de o CC, no art. 400, não ter explicitamente previsto o afastamento dos juros
moratórios – como o fez o Código Civil alemão – é irrelevante, pois, se a mora é do credor, é
evidente que o devedor não pode ser punido com o pagamento de juros moratórios.
Não há, pois, obrigação de o devedor promover a ação de consignação em pagamento, so-
frendo os prejuízos daí decorrentes (contratação de advogado, pagamento de depósito etc.).
O devedor tem apenas a opção (e não a obrigação) de promover a consignação para extinguir
a obrigação e livrar-se do peso de ter de conservar a coisa enquanto não prescrever a dívida.

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O tratamento aí é igual às obrigações de fazer e não fazer, que não admitem consignação em
pagamento por motivos óbvios de inviabilidade material de depósito de um fato: se o credor
estiver em mora, o devedor não será punido por não ter podido cumprir a obrigação de fazer e
de não fazer. Não se pode dar tratamento assimétrico entre as várias espécies de obrigações.
Há, porém, um contratempo em não promover o pagamento em consignação no caso em
pauta (de obrigação de dar coisa). Pesará sobre devedor o dever de responder por eventual
perecimento da coisa por conduta dolosa (culposa não!), conforme art. 400 do CC, o que signi-
fica que o devedor precisará conservar a coisa. A depender do objeto, isso representa prejuízo
financeiro com despesas de conservação, assegurado, porém, o direito do devedor de pleitear
o ressarcimento do credor (art. 400, CC). E esse dever perdurará enquanto a sua dívida não
prescrever, pois, antes da prescrição, o devedor pode ser demandado a cumprir a obrigação.
Daí decorre que o pagamento em consignação é um ônus, e não uma obrigação, do deve-
dor: se ele não promover esse meio indireto de pagamento, ele deixa de se livrar do dever de
conservar a coisa.
Entendemos, porém, que esse contratempo deve ser lido em conjunto com a teoria da
vedação do abuso de direito, da boa-fé e da análise da viabilidade material5. O direito precisa
dialogar com a realidade. Em situações de considerável onerosidade financeira ou pessoal
para a conservação da coisa, de hipossuficiência do devedor, de modéstia do valor da coisa e
de pouca probabilidade de obtenção do ressarcimento das despesas de conservação, não é
razoável impor ao devedor a carga de desperdiçar esforços e dinheiro, de modo que lhe seria
lícito adotar alguma conduta razoável para se desvencilhar do objeto. Em relação de consumo,
essa flexibilização é mais acentuada diante da vulnerabilidade do consumidor. Não há uma
solução predefinida; é preciso ver o caso concreto.
Citamos um caso de que tivemos ciência a propósito dessa situação excepcional. Um con-
sumidor alugou um contêiner para descarte dos resíduos oriundos de uma reforma no seu
apartamento. Ao tentar devolver o contêiner, não conseguiu encontrar nenhum representante
da empresa locadora, pois ela fechara as portas. Cabia à empresa recolher o contêiner e havia
relativa urgência em restituir o contêiner, porque ele estava a ocupar uma vaga de garagem
em área pública, o que expunha o consumidor a receber sanções administrativas. O consumi-
dor, diante desse objeto mastodôntico de custosa conservação e de difícil remoção, chamou
uma empresa concorrente e entregou-lhe o contêiner para seu uso, cientificando-lhe acerca da
origem da coisa. Temos por razoável a solução. A empresa locadora, se reativar as suas ati-
vidades, poderá, com base no seu poder de sequela decorrente do seu direito de propriedade,
buscar o contêiner onde estiver. Afinal de contas, dormientibus non sucurrit jus (o direito não
socorre os que dormem).
5
Tratamos desse conceito em nossa
dissertação de mestrado (http://repositorio.unb.br/bits-
tream/10482/23903/1/2016_CarlosEduardoEliasdeOliveira.pdf) e no início da obra de Parte Geral do Código Civil.

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Causa Objetiva ou Causa Subjetiva sem Culpa do Credor

Nas hipóteses dos incisos IV (dúvida quanto ao credor) e V (objeto litigioso) do art. 334
do CC, não há culpa do credor, o que justifica a obrigatoriedade de o devedor promover o pa-
gamento em consignação ou de, assumindo o risco de ter seu pagamento tido por indevido e,
assim, ter de pagar ao credor correto, pagar ao credor que entenda ser correto (art. 334, IV, CC)
ou entregar o objeto que repute devido (art. 334, V, CC). Se não o fizer, o devedor incorre em
mora e suportará todas as sanções decorrentes, conforme art. 395 do CC (ex.: juros de mora,
multa moratória).

1.4. Pagamento com Sub-Rogação

1.4.1. Definição

O assunto “sub-rogação” é muito cobrado em prova. Começo com esta questão de concurso.

007. (VUNESP/PROCURADOR JURÍDICO/PREFEITURA DE PORTO FERREIRA-SP/2017) No


pagamento com sub-rogação, o credor originário, só em parte reembolsado, terá preferência
ao sub-rogado na cobrança da dívida restante.

O gabarito “certo”, por retratar a regra do art. 351 do CC. No caso de pagamento parcial pelo
sub-rogado, o credor originário seguirá com parte do crédito para si e, nessa condição, terá
preferência na cobrança da dívida em relação ao sub-rogado diante da insolvência do devedor
(art. 351, CC). Assim, se o devedor havia hipotecado um imóvel de R$ 300.000,00 por uma dí-
vida de R$ 500.000,00 e o fiador paga apenas R$ 100.000,00 dessa dívida, teremos a seguinte
situação: o credor originário continuará com um crédito hipotecário de R$ 400.000,00, ao pas-
so que o sub-rogado terá um crédito de R$ 1000.000,00. Como o imóvel hipotecado não cobre
a dívida que subsistiu com o credor originário, o direito de preferência do art. 351 do CC fará o
imóvel ser destinado inteiramente ao pagamento de parte da dívida de R$ 400.000,00; o fiador
será preterido.
Certo.

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Obrigações – Parte III
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008. (FCC/ANALISTA JUDICIÁRIO/OFICIAL AVALIADOR/TRT-24ª/2017) Considera-se sub-


-rogação legal quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere
todos os seus direitos.

O gabarito é “errado”, porque a questão define a sub-rogação convencional, e não a legal.


Vamos explicar a matéria com mais detalhamento.
A palavra “sub-rogação” repassa a ideia de algo que entra no lugar de outro. Metaforicamente,
ao casar com o amor da sua vida, você poderia dizer que se sub-rogou nos deveres do seu
sogro e da sua sogra no sentido de cuidar carinhosamente do seu par. O dicionário aponta,
como sinônimo de sub-rogar, “substituir”, “colocar em lugar de”, “assumir o lugar de outrem”,
“transferir”.
No Direito Civil, a sub-rogação é a transferência do crédito, com todas as suas garantias, pri-
vilégios, direitos e ações, ao pagador de dívida alheia. Está disciplinada nos arts. 346 ao 351
do CC. Apesar de o art. 349 do CC estabelecer que há essa transferência ao pagador de dívida
alheia, a sub-rogação não é uma cessão de crédito, pois implica uma extinção da obrigação
originária e a criação de uma nova obrigação com as mesmas características da anterior. De
fato, o “pagamento com sub-rogação” integra o título “Do Adimplemento e Extinção das Obri-
gações” do Código Civil (Título III do Livro I da Parte Especial do CC). Não é uma transmissão
da obrigação, como sucede com a cessão de crédito. Apesar disso, há algumas semelhanças
práticas da sub-rogação com a cessão de crédito, o que justifica que, no caso de sub-rogação
convencional, o art. 348, I, do CC determine a aplicação das regras de cessão de crédito. É
incontestável a influência do Código Civil brasileiro pelo direito francês, que, além de valer-se
de uma organização topológica similar, possui proximidades no conteúdo do texto normativo.
Errado.

1.4.2. Sub-rogação Pessoal vs Sub-rogação Real

A sub-rogação de que estamos a tratar aqui é a pessoal, porque envolve a substituição


de uma pessoa por outra enquanto credora mediante a extinção da obrigação originária e a
criação de uma nova obrigação de mesmas características em favor do pagador de uma dí-
vida alheia.
Há, porém, a chamada sub-rogação real (de res, de coisa), que é a transferência das carac-
terísticas que pesam sobre uma coisa para outra e que também é chamada de “substituição de
vínculos”. Quando, por exemplo, o juiz autoriza a permuta de uma fazenda gravada com cláu-
sula de inalienabilidade por um apartamento, essa cláusula restritiva da propriedade migrará
para o apartamento, pois há sub-rogação real por força dos arts. 1.848, § 2º, e 1.911, parágrafo
único, do CC. Igualmente, se um cônjuge casado no regime da comunhão parcial de bens tro-
ca um apartamento que tinha antes do casamento por dois veículos, a característica de bem

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particular que recaía sobre o apartamento se transferirá para esses automóveis, de sorte que
este, apesar de ter sido adquirido onerosamente na constância do casamento, não se virará
bem comum do casal. Trata-se de mais um caso de sub-rogação real: esses veículos são bens
sub-rogados no lugar do apartamento.
A legislação prevê outros casos de sub-rogação real, como no de regime de bens (arts.
1.659, I e II, 1.668, I, 1.674, I, CC), no de bens deixados pelo morto presumido que reaparece
nos dez anos seguintes à sucessão definitiva (art. 39, CC), no direito real de usufruto ou do di-
reito real de garantia sobre o valor da indenização do seguro paga em razão do perecimento da
coisa originariamente onerada ou sobre o valor pago em caso de desapropriação6 ou de dano
causado por terceiro (arts. 1.407, § 2º, 1.409 e 1.425, § 1º, CC), na remição do penhor ou da
hipoteca por sucessores do devedor (art. 1.429, CC), no penhor (art. 1.446, 1.449 e 1.455, CC),
no pagamento da dívida garantida por hipoteca de primeiro grau por parte do credor titular da
hipoteca de segundo grau (art. 1.478, CC) e na de sub-rogação do bem de família voluntário em
outros adquiridos em seu lugar sob autorização judicial (art. 1.719, CC).

1.4.3. Sub-rogação vs Direito de Regresso?

Quando alguém adimple uma dívida que, em última instância, pertence a outrem (hipótese
que, no direito obrigacional, costuma-se citar como exemplo de responsabilidade sem obriga-
ção), pode-se falar em direito de regresso: o pagador poderá voltar-se contra verdadeiro deve-
dor para ressarcir-se. Assim, terceiro que paga dívida alheia, em regra, tem direito de regresso
contra o devedor. O fundamento genérico do direito de regresso é a vedação ao enriquecimen-
to sem causa.
Há situações em que a legislação robustece esse direito de regresso com os privilégios de
que fruía o credor originário, especialmente em situações em que o terceiro foi juridicamente
obrigado a pagar, como no caso de terceiro interessado e do segurador em caso de seguro de
dano. Haveria aí o que chamamos de direito de regresso “robusto”. Esse direito de regresso
“robusto” ocorre por meio da sub-rogação, que transfere ao terceiro todos os privilégios credi-
tórios do credor originário.
Assim, consideramos que a sub-rogação é um fortalecimento do direito de regresso.
Há, porém, quem diga que, na sub-rogação, não há direito de regresso, e sim mero direito
de crédito a ser cobrado pelo terceiro que pagou a dívida.

1.4. Breve Histórico


Foi no direito francês que surgiu a sub-rogação moderna, pois “Pothier afirmava que a
sub-rogação no séc. XVIII não era a mesma que a sub-rogação no Direito Romano” (Rocha,
2011, p. 8).
6
Não há menção expressa ao caso de desapropriação no caso de direito real de garantia, mas entendemos que está implí-
cita no art. 1.425, § 1º, do CC e está explícito no art. 31 do Decreto-Lei n. 3.365/1941.

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Essa sub-rogação francesa, porém, foi fruto da fusão do beneficium cedendarum actionum
com a sucessio in locum dos romanos com adaptações e aprimoramentos. Essas figuras do
direito romano são a origem mais remota da sub-rogação.
O beneficium cedendarum actionum consistia na transferência do crédito com todos os
privilégios a um terceiro que pagava uma dívida, assegurado, porém, ao devedor opor as ex-
ceções que ele possuía contra o credor originário (exceptio cedendarum actionum). Todavia,
como lembra o civilista espanhol Luis Díez-Picazo (2008, p. 992), nas suas primeiras formula-
ções, o beneficium cedendarum actionum não era admitido para a fiança, porque o pagamento
“provocava a extinção do vinculum iuris entre o credor e o devedor, de maneira que não se
podia entrar em uma obrigação já extinta”7. Como se vê, a versão inicial do beneficium ceden-
darum actionum pressupunha a extinção da obrigação em si de uma maneira não sofisticada,
o que a tornava limitada para enfrentar casos relevantes como o do fiador.
Para superar os limites do beneficium cedendarum actionum, os jurisconsultos romanos
Juliano e Paulo passaram a entender que o pagamento feito pelo terceiro seria uma espécie
de compra do crédito, ou seja, um pagamento pela cessão do crédito, o que passava a justificar
a sub-rogação em favor dos fiadores e de outros que eram juridicamente obrigados a pagar a
dívida. Lembra Díez-Picazo que o Direito Romano criou, para alguns casos, a figura do succesio
in locum creditoris, admitindo que os terceiros pagadores sucedam os credores anteriores no
direito de cobrar a dívida do devedor (in locum eorum succedunt).
A evolução do Direito Romano, portanto, com as suas duas figuras embrionárias da sub-
-rogação, oscilava entre uma concepção que prestigia a “extinção da obrigação” (beneficium
cedendarum actionum) e uma que enfocava a existência de uma “cessão de crédito” (succesio
in locum creditoris).
O Direito Francês, ao modelar a sub-rogação na forma como hoje conhecemos, resolveu
esse problema, criando uma figura que mesclasse essas duas percepções. Isso – a nosso
sentir – justifica o fato de a sub-rogação ser prevista no CC francês (assim como sucede no
CC brasileiro) em capítulo dedicado à extinção, e não à transmissão das obrigações. Temos
que essa análise histórica conduz à conclusão de que a sub-rogação envolve uma mistura de
extinção da obrigação e de transmissão ao mesmo tempo, conforme exporemos no capítulo
mais abaixo.
Ademais, a sub-rogação no modelo desenhado pelo Direito Francês, tratou igualmente o ter-
ceiro interessado e o terceiro não interessado, dando-lhes a eles todos os direitos acessórios
vinculados à obrigação originária, o que pareceria injusto na visão de Labbé, citado por Díez-Pi-
cazo (2011, pp. 992-993). O direito francês criou uma sub-rogação legal e uma convencional.

1.4.5. Espécies

Quanto à fonte, a sub-rogação pode ser classificada como legal ou convencional. Diz-se
legal quando ela decorre de lei. Ela é convencional quando da vontade. A sub-rogação, porém,
não se presume; decorre de previsão expressa de lei ou da vontade.
7
Tradução livre.

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Legal

A sub-rogação legal ocorre nos casos previstos em lei. O art. 346 do CC prevê hipóteses
que poderiam ser resumidas apenas na situação de terceiro interessado, assim entendido o
terceiro que juridicamente pode ser beneficiado ou prejudicado por uma outra dívida de ou-
trem. O inciso III desse dispositivo prevê que o terceiro interessado tem direito à sub-rogação
ao pagar a dívida. Isso abrange casos como o do fiador que paga a dívida. Abrange também as
hipóteses dos incisos I e II do art. 346 do CC.
Quanto à hipótese do inciso I, trata-se de situação difícil de ser resumida em poucas pa-
lavras. O próprio texto legal é incompleto ao afirmar haver sub-rogação em prol do “credor
que paga a dívida comum”. O texto deveria ser completado com esta parte em itálico: “credor
que paga a dívida comum ao credor com direito de preferência”. Ainda assim, o texto continua
confuso. Essa hipótese só tem utilidade se houver um direito de preferência envolvido, pois,
do contrário, não há utilidade prática na sub-rogação. Seja como for, não se pode dizer que o
direito de preferência é um requisito legal.
Para explicar essa hipótese obscura, podemos afirmar que ela diz respeito a uma situa-
ção de terceiro interessado que, ao pagar a dívida, beneficia-se juridicamente com a obten-
ção de uma preferência creditória em favor de um crédito que tinha contra o devedor daquela
dívida paga.
O exemplo esclarecerá. João deve R$ 8 milhões ao BB, com garantia hipotecária de primei-
ro grau sobre imóvel de R$ 10 milhões. Deve também R$ 4 milhões ao Banco Santander, com
garantia hipotecária de segundo grau. Nesse caso, se o Santander pagar a dívida do João pe-
rante o BB, opera-se a sub-rogação legal, de sorte que o Santander poderá exigir os 8 milhões
de João, além dos 4 milhões, com garantia de hipoteca de primeiro grau. Se o Santander fosse
um credor quirografário, esse crédito continuaria quirografário se ele pagasse a dívida, mas ele
teria um benefício: poderia executar o bem anteriormente hipotecado. E, quanto ao valor que
desembolsou para quitar a dívida, ele terá direito de regresso com garantia hipotecária diante
da sub-rogação. Em suma, o Santander aí ficaria com dois créditos: um crédito quirografário
decorrente do contrato originariamente firmado com o João e outro hipotecário consisten-
te no reembolso feito para quitar a dívida que o João tinha perante o Banco do Brasil (ação
regressiva).
O inciso II do art. 346 do CC cuida do terceiro que paga dívida para não ser privado de uma
coisa, o que abrange o adquirente de imóvel hipotecado. Ex.: X adquire imóvel hipotecado ao
Banco do Brasil. X paga o saldo devedor garantido pela hipoteca. Nesse caso, X sub-roga-se
nos direitos do BB e pode agir regressivamente contra o alienante.
O inciso III do art. 346 do CC prevê o terceiro interessado como sub-rogado. Essa hipótese
já abrangia as duas acima, a nosso sentir.
Alerte-se que, se o terceiro interessado apenas pagou parte da dívida, a sua sub-rogação
se limite a essa porção (art. 350, CC). E, nessa hipótese, o credor originário terá preferência em

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cobrar a dívida restante do devedor em relação ao terceiro interessado caso o patrimônio do


devedor seja insuficiente, consoante o art. 351 do CC8.
O CC prevê outras hipóteses de sub-rogação legal.
Algumas delas são de terceiro interessado, o que torna redundante a previsão legal especí-
fica, a exemplo destes casos: codevedor que paga dívida indivisível (art. 259, parágrafo único,
CC); o segurador que indeniza o segurado no seguro de dano (art. 786, CC); o fiador que paga
a dívida (art. 831, CC); o adquirente de estabelecimento quanto aos contratos não personalís-
simos firmados pelo anterior proprietário (art. 1.148, CC);
Outras hipóteses se aplicam a terceiros não interessados, como a do caso de pagamento
de dívida garantida com alienação fiduciária em garantia (art. 1.368, CC).

Convencional

A sub-rogação convencional pode decorrer de vontade do credor, que expressamente trans-


fere ao terceiro não interessado todos os seus direitos (art. 347, I, CC), ou do próprio devedor,
que expressamente pode admitir a sub-rogação em favor de terceiro que lhe empresta a quan-
tia necessária para quitar a dívida (art. 347, II, CC). Em ambos os casos, há vontade expressa
a outorgar a sub-rogação. E veja que se trata de hipóteses de terceiros sem interesse jurídico,
pois, se fossem interessados, teriam a sub-rogação por lei. Aliás, o próprio CC é expresso em
afastar a sub-rogação por terceiro não interessado que paga a dívida (art. 305, CC). Há, porém,
exceção a essa regra mediante previsão legal, a exemplo do terceiro desinteressado que paga
dívida garantida por alienação fiduciária em garantia (art. 1.368, CC).
Na primeira hipótese (sub-rogação por vontade do credor em favor do terceiro), embora
o instituto seja o da sub-rogação – o que significa que há extinção da obrigação originária –,
o art. 348 do CC determina a aplicação das regras da cessão de crédito diante da semelhan-
ça prática das figuras. Sub-rogação, porém, se distingue da cessão de crédito, pois esta não
implica extinção da obrigação originária. Daí que a aplicação das regras de cessão de crédito
para a sub-rogação convencional será subsidiária e apenas naquilo que for compatível com a
natureza jurídica da sub-rogação enquanto figura decorrente da extinção de uma obrigação
paga por terceiro.
Na segunda hipótese, é o próprio devedor que autoriza a sub-rogação em favor de quem lhe
empresta o dinheiro necessário para quitar a dívida. Não há necessidade de consentimento do
credor. Como motivação desse negócio, deve-se presumir que o devedor quer livrar-se de um
credor mais incômodo por meio da sub-rogação em favor de um credor possivelmente mais
generoso. Essa lembrança é de Florencio García Goyena, que foi um dos responsáveis pelo
texto do CC espanhol sob a inspiração do CC francês e que é citado pelo civilista espanhol
8
O art. 351 do CC excepciona a regra de que credores de títulos de preferência iguais devem ser rateados igualmente, pois,
embora o sub-rogado de parte do crédito tenha título de preferência igual ao credor da quantia restante, este último terá
preferência por força do art. 351, CC.

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Luis Díez-Picazo (2008, p. 995) quando este expunha as origens dessa espécie de sub-rogação
convencional no direito francês.

1.4.6. Distinções Práticas com outras Figuras: Caso da Prescrição

Há utilidade prática na conceituação de sub-rogação. Cito um caso sobre o termo inicial da


prescrição. Por exemplo, se o fiador paga uma dívida que o afiançado tinha perante o Banco,
qual será a data inicial do prazo prescricional para o fiador cobrar do afiançado o que desem-
bolsou (ação regressiva)? Em outras palavras, se, por exemplo, a prescrição da pretensão de
cobrança do Banco já estava em quatro anos e 11 meses, pode-se dizer que só sobrará um mês
para o fiador exercer o seu direito de regresso, considerando o prazo prescricional em 5 anos?
Por fim, qual é o prazo prescricional para essa ação regressiva decorrente da sub-rogação?
Para responder a essa questão, temos que lembrar os conceitos. Respondo, desde logo,
que o prazo prescricional deve começar da data do pagamento feito pelo fiador, porque é aí que
nasce o seu direito de crédito e, portanto, é a partir daí que passa a correr o prazo prescricional
à luz da teoria da actio nata (art. 189, CC). A obrigação que o afiançado tinha com o Banco foi
extinta pelo pagamento feito pelo fiador. Todavia, em razão da sub-rogação, esse pagamento
fez surgir uma nova obrigação do afiançado perante o fiador, com as mesmas condições e
privilégios da obrigação anteriormente extinta (ex.: se a obrigação com o banco continha uma
hipoteca dada pelo afiançado, a nova obrigação também terá essa garantia: o fiador poderá
até mesmo pedir a averbação, no cartório de imóveis, dessa sub-rogação). A sub-rogação faz
nascer uma nova obrigação, que, a seu turno, inaugura uma nova pretensão, cujo prazo pres-
cricional começa a fluir desse nascimento: nova obrigação, nova prescrição. Não se trata de
interrupção da prescrição anterior (de um reinício de prazo), e sim de uma nova prescrição. O
STJ segue esse caminho (STJ, AgInt no AREsp 1013889/RJ, 4ª Turma, Rel. Ministro Raul Araú-
jo, DJe 22/03/2017).
Quanto ao prazo, temos que ele será o mesmo da obrigação originária que foi extinta, pois
a sub-rogação implica a criação de uma nova obrigação com os mesmos caracteres da ante-
rior. Assim, se a dívida no exemplo acima era de mútuo (valor e data de pagamento definidos),
a prescrição é de 5 anos, por ser dívida líquida constante de instrumento (art. 206, § 5º, I, CC).
Se, porém, a dívida fosse de um aluguel, o fiador teria 3 anos para exercer o seu direito de re-
gresso por força do art. 206, § 3º, I, CC. O STJ já decidiu assim em caso de locação (STJ, REsp
1432999/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio Belizze,, DJe 25/05/2017). Igualmente, o
STJ, ao tratar de sub-rogação da seguradora nos direitos do segurado contra o causador do
acidente de trânsito, reconhece que o prazo prescricional para o exercício do direito de regres-
so da seguradora será de 3 anos, visto que o segurado tinha direito de pedir indenização nesse
mesmo prazo por força do art. 206, § 3º, V, CC (STJ, AgInt no AREsp 891.044/MS, 4ª Turma, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 02/02/2017).

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A sub-rogação decorre de uma extinção da obrigação originária, que é extinta pelo paga-
mento; o pagamento com sub-rogação integra o título “Do Adimplemento e Extinção das Obri-
gações” do Código Civil. Ela implica a extinção de uma obrigação e uma consequente criação
de uma nova obrigação com as mesmas condições da anterior e com uma única diferença: o
credor tornou-se o terceiro (o pagador de dívida alheia). A criação de uma nova obrigação é
consequência do pagamento feito pelo terceiro.
A sub-rogação não se confunde com a novação subjetiva, pois nesta a criação de uma
nova obrigação é a causa (e não uma consequência) da extinção de outra obrigação. O efeito
prático, porém, seria similar quanto ao termo inicial da prescrição: a nova obrigação teria uma
nova pretensão e, portanto, um novo prazo. Todavia, o efeito prático se distinguiria quanto ao
prazo prescricional: o prazo da nova obrigação dependerá da sua natureza; não será o mesmo
da obrigação originária, ao contrário do sucede na novação. Se, por exemplo, o fiador fizesse
um contrato de empréstimo com o Banco para quitar a dívida do afiançado, esse novo contrato
representa uma nova obrigação nascida com o objetivo de extinguir a obrigação do afiançado.
Aí houve novação e, portanto, a nova obrigação terá um novo prazo de prescrição, que se inicia-
rá a partir da data do seu nascimento (da novação). O prazo prescricional não necessariamen-
te coincidirá com a obrigação originária: se, por exemplo, a dívida do afiançado era de aluguel
(prescrição de 3 anos, conforme art. 206, § 3º, I, do CC), o prazo da nova obrigação assumida
pelo fiador perante o Banco a título de contrato de empréstimo terá prescrição diferente: será
5 anos (art. 206, § 5º, I, CC).
A sub-rogação também não se confunde com a cessão de crédito, porque esta não é hipó-
tese de extinção da obrigação, e sim de transmissão da obrigação, de modo que a obrigação
é a mesma. Se o Banco vende (rectius, cede) o seu crédito a outro Banco, não há reinício do
prazo prescricional nem criação de um novo prazo, de modo que, se faltava um mês para a
consumação da prescrição, só resta um mês para o banco cobrar o seu crédito.

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1.5. Imputação do Pagamento

1.5.1. Definição e Requisitos

A imputação do pagamento está disciplinada nos arts. 352 ao 355 do CC e se aplica a si-
tuações em que uma pessoa é devedora de mais de uma dívida líquida, vencida e de mesma
natureza perante o mesmo credor. É o caso típico de pessoas que, perante um banco, possuem
várias dívidas: uma do cheque especial, outra de um empréstimo consignado em folha, outra
de um empréstimo pessoal etc. São requisitos da imputação do pagamento:
• a) pluralidade de obrigações com o mesmo credor e devedor;
• b) obrigações líquidas;
• c) obrigações vencidas.

É requisito implícito o de que o devedor pagará o valor integral da obrigação escolhida, pois
o pagamento parcial não pode ser imposto ao credor por força do art. 314 do CC. Suponha que
X tenha duas dívidas perante Y: uma de R$ 1.000,00 e outra de R$ 500,00. X só tem R$ 600,00.
Nesse caso, não há direito à imputação de pagamento por falta de pluralidade de dívidas entre
as mesmas partes. É que X não tem direito de pagar parcialmente a dívida de mil reais, pois o
pagamento parcial depende de aceitação do credor (art. 314, CC). A única dívida a que o deve-
dor tem direito de pagar é a de R$ 500,009.

1.5.2. Direito do Devedor

Imputar é atribuir, no vernáculo. Imputação do pagamento é atribuir um pagamento a satis-


fação de uma dívida entre outras que o devedor possui perante o mesmo credor. Como regra,
9
Questão cobrada em concurso promovido pelo CESPE (Analista Judiciário – TRT 1º/2008).

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o devedor que possui várias dívidas perante o mesmo credor pagar aquela que lhe aprouver.
Por isso, a regra do art. 352 do CC é a de que é direito do devedor indicar a dívida que está
sendo paga.
Essa lógica não se aplica, porém, em relação aos acessórios de uma dívida. O devedor
pode escolher a dívida que pretende pagar, mas não pode escolher se pagará o principal ou o
acessório dessa dívida. Nessa hipótese, o pagamento deverá quitar em primeiro lugar os aces-
sórios (como os juros moratórios) e, só depois, o capital, salvo se o credor consentir. Admitir o
contrário seria frustrar a legítima expectativa do credor em, por meio dos encargos acessórios,
aliviar o prejuízo de não ter recebido o principal. O direito de escolha do devedor não pode vio-
lar o direito à justa indenização do credor.

1.5.3. Silêncio, ainda que Implícito, do Devedor

Responda a questão.

009. (CESPE/2017) Márcio contraiu duas dívidas com Joana, nos valores de R$ 300 e R$ 150,
com vencimento, respectivamente, em 20/12/2015 e em 5/1/2016; em 10/1/2016, Márcio en-
tregou a Joana R$ 150, mas não indicou qual dívida desejava saldar. Joana tampouco apontou
qual dívida estava sendo quitada. Nessa situação, presume-se que o pagamento refere-se à
dívida vencida em 5/1/2016, já que o valor entregue importa em sua quitação integral.

O gabarito é “errado”, porque, no silêncio das partes, presume-se que o pagamento ocorreu
com a dívida mais antiga, a de R$ 300,00. O fato de a dívida mais antiga ser maior do que o
valor do pagamento é irrelevante, porque, nesse caso, como o credor recebeu o pagamento, ele
aceitou receber o pagamento parcial (art. 314, CC).
Vamos tratar do tema com mais profundidade.
Se o devedor não imputar o seu pagamento a nenhum das dívidas, nem mesmo de modo im-
plícito – o que ocorre quando o devedor aceita pacificamente uma imputação feita na quitação
(art. 353, CC) –, o Código deixa regras levando em conta a sua vontade presumível do devedor
e o interesse do credor. Nesse caso, o pagamento se dirigirá à quitação da dívida mais antiga
(antiguidade) ou, no caso de contemporaneidade, da dívida mais onerosa (onerosidade), con-
forme art. 355, CC.
Temos que o CC se equivocou nesse ponto. O indivíduo médio paga a dívida mais onerosa
preferencialmente, e não a mais antiga. Se alguém, perante o mesmo credor, possui uma dívida
sujeita a encargos moratórios de 600% a.a. (qual sucede com as dívidas bancárias de cheque
especial) e uma outra submetida a encargos mais módicos de 12% a.a., é evidente que o deve-
dor haveria de quitar a dívida mais onerosa para evitar o engorduramento cavalar do montante

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da dívida, ainda que essa dívida seja mais recente. A onerosidade deveria preceder à antigui-
dade na regra supletiva do art. 355 do CC. Todavia, enquanto não modificada a lei, só sobra a
rendição: legem habemus.
Errado.

1.6. Dação em Pagamento

1.6.1. Definição

Regida pelos arts. 356 ao 359 do CC, a dação em pagamento é a extinção da obrigação em
razão da entrega, pelo devedor, de coisa diversa da pactuada. O devedor dá, como pagamento
(dação em pagamento), objeto diverso daquele a que tinha se obrigado. Ex.: entregar um carro
no lugar do dinheiro; um apartamento no lugar de uma casa; um cheque de terceiro no lugar do
dinheiro. Em respeito ao princípio da exatidão (art. 313, CC), a dação em pagamento depende
de aceitação do credor.

1.6.2. Regras de Compra e Venda

Quando a coisa dada em pagamento possui um preço, a dação em pagamento asseme-


lha-se ao contrato de compra e venda, razão por que o art. 357 do CC invoca as regras dessa
espécie contratual. Se, por exemplo, alguém decide entregar uma casa como pagamento de

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uma dívida pecuniária de R$ 200.000,00, essa dação em pagamento deverá observar-se as


regras de compra e venda e, portanto, deverá ser formalizada por escritura pública (art. 108,
CC) com o devido registro no cartório de imóveis, seguir os requisitos da Lei n. 7.433/1985
(que versa sobre venda de imóveis por escritura pública), atentar para as regras do art. 481 e
seguintes do CC.

1.6.3. Dação em Pagamento de Título de Crédito

Se a dação em pagamento consistir na entrega de um título de crédito (e aí não se está a


falar apenas das cambiais, mas também de quaisquer outros documentos de dívida, como o
crédito decorrente de um contrato ou de um precatório), aplicar-se-á as regras de cessão de
crédito. Daí por que se poderá falar, por exemplo, que a regra é a de que quem der em pagamen-
to um crédito não responderá pela solvência do devedor (dação em pagamento pro soluto),
salvo se houver pacto expresso carreando-lhe esse dever (dação em pagamento pro solvendo),
tudo por força do art. 296 do CC.

1.6.4. Evicção da Coisa ou do Direito Dada em Pagamento

Como a dação em pagamento atrai as regras de compra e venda e de cessão de crédito,


aquele que deu a coisa em pagamento é obrigado a garantir a higidez do direito transferido. Se
a coisa se perder por motivo anterior (ex.: o carro dado em pagamento era roubado e o legíti-
mo proprietário conseguiu reaver o bem), o devedor haverá de responder pelas consequências
daí decorrentes. É nesse sentido que o art. 358 do CC pontua que, havendo a evicção da coisa
dada em pagamento, fica sem efeito a dação em pagamento e, portanto, perde eficácia a extin-
ção da obrigação, o que significa que a dívida originária é restabelecida, resguardado, porém,
direitos de terceiros.
Consideramos que essa regra também deve ser estendida para os casos de inexistir o
crédito cedido como dação em pagamento por aplicação sistemática do art. 359 com o art.
295 do CC.

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1.7. Novação

1.7.1. Definição e Requisitos

Tratada nos arts. 360 ao 367 do CC, a novação é a criação de uma nova obrigação para
extinguir uma obrigação anterior. Etimologicamente, novação deriva de novatio, que significa
ação de renovar. Novar é criar nova obrigação com o objetivo de extinguir a anterior. A intenção
de novar pode ser implícita, mas deve ser inequívoca (art. 361 do CC). A criação da nova obri-
gação tem de ser vontade deliberada das partes.
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1.7.2. Requisitos

São requisitos da novação:


a) a existência de uma obrigação anterior;
b) a criação de uma nova obrigação, que extinguirá a anterior;
c) aliquid novi (elemento novo);
d) animus novandi (intenção de novar).

1.7.3. Aliquid Novi e Espécies de Novação

É necessário haver um elemento novo (aliquid novi) na nova obrigação capaz de distingui-la
da anterior. Exige-se uma diversidade substancial entre as obrigações, como a substituição
das partes ou a modificação da dívida (uma nova data de vencimento, um desconto no preço
etc.). A depender do elemento novo, ter-se-á uma espécie de novação, a saber:
• a) Novação objetiva: o elemento novo está nas condições da dívida. Ex. Nova data de
vencimento, uma redução do preço etc.;
• b) Novação subjetiva: o elemento novo está na mudança de um dos sujeitos da obri-
gação (daí o adjetivo subjetiva). Se mudar o credor, tem-se novação subjetiva ativa. Se
alterar o devedor, a novação subjetiva é passiva.

1.7.4. Animus Novandi

Se as partes não tiverem intenção de novar (animus novandi), a nova obrigação simples-
mente confirma a primeira, de maneira que as duas obrigações subsistem concomitantemente
(art. 361, CC). Sem o animus novandi, a nova obrigação deve ser tida como uma mera alteração
da obrigação anterior. É o que, no quotidiano, costuma-se chamar de “aditivo contratual”.
O animus novandi pode ser expresso e tácito
Não se presume animus novandi. Ele pode ser expresso e até mesmo tácito, desde que seja
inequívoco, ou seja, desde que não deixe dúvidas. Se houver dúvidas, não há novação. Como
o CC não explicita quando o animus novandi é implícito, a doutrina enxerga-o quando a nova
obrigação for incompatível com a antiga, mesmo que inexista previsão expressa de novação.
O STJ já aceitou que a evidente incompatibilidade da nova obrigação com a anterior deixa im-
plícito o animus novandi (STJ, REsp 963.472/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
DJe 29/11/2011).
Como exemplo de obrigações que não permitem inferir a novação diante da sua compatibi-
lidade com a obrigação anterior, podem-se citar aquelas que simplesmente mudam garantias,
alteram o prazo de vencimento e dão desconto no preço. A lembrança é de Maria Helena Diniz
(2012, p. 329). É preciso, porém, sempre ver o caso concreto para buscar saber se há ou não
compatibilidade entre as obrigações.
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Mera tolerância do credor com algum inadimplemento não implica novação, ainda que
essa tolerância possa acarretar alterações nas condições contratuais. É o caso, por exemplo,
do art. 330 do CC: a tolerância do credor em receber pagamento em lugar diverso do contra-
tado não acarreta a extinção da obrigação, mas apenas a alteração de uma condição dela: o
lugar do pagamento.
Seja como for, se, em um acordo de renegociação de dívida, houver previsão expressa
afastando a novação, não haverá animus novandi e, portanto, não haverá extinção de obriga-
ção alguma: a renegociação de dívida apenas confirma a dívida anterior, como se fosse um
mero aditivo contratual (STJ, REsp 169.953/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Barros Monteiro, DJ
25/11/2002).

1.7.5. Novação por meio da Emissão de Título de Crédito

A novação pode ocorrer mediante a emissão de título de crédito, como uma nota promissó-
ria, desde que estejam presentes os requisitos pertinentes, como o animus novandi (STJ, REsp
963.472/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 29/11/2011).

1.7.6. Novação de Obrigações Inválidas?

Não podem ser objeto de novação obrigação nula (por não gerar qualquer consequência
jurídica), extinta (por já não irradiar efeitos) ou inexistentes, conforme art. 367 do CC.
Isso justifica o entendimento do STJ no sentido de que “os contratos bancários são pas-
síveis de revisão judicial, ainda que tenham sido objeto de novação, pois não se pode validar
obrigações nulas (Súmula 286 desta Corte)” (STJ, AgRg no AREsp 124.160/RS, 3ª Turma, Rel.
Ministro Sidnei Beneti, DJe 11/04/2012). A propósito, eis o teor da Súmula n. 286/STJ: “A rene-
gociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discus-
são sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores”.
Por outro lado, obrigações anuláveis podem ser objeto de novação, pois, conforme art. 177
do CC, produzem efeitos enquanto não anuladas por sentença (art. 367, CC).

1.7.7. Novação de Obrigações Naturais?

Há controvérsia sobre a possibilidade de obrigação natural poder ser objeto de novação10.


De um lado, há de admitir a novação nessa hipótese, ao argumento de que a obrigação na-
tural não é simples dever moral (do que dá nota o art. 882 do CC, que veda a repetição de indé-
bito no caso de seu adimplemento) e de que o art. 191 do CC, ao autorizar a renúncia implícita
da prescrição, permitiu a novação da dívida prescrita (espécie de obrigação natural). Nesse
sentido, Maria Helena Diniz, Silvio Rodrigues, José Soriano de Souza Neto etc. Essa parece a
melhor orientação. O STJ também a chancela, por entender, com a novação, há a extinção da
10
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil, volume 2: teoria geral das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2012. Pp. 326-327.

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obrigação anterior e, por isso, é descabido discutir posteriormente prescrição relativamente


a esta (STJ, REsp 963.472/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 29/11/2011).
Contra esse entendimento, Washington de Barros Monteiro, Clóvis Beviláqua e Carvalho de
Mendonça, para quem a obrigação natural implica apenas dever moral.

1.7.8. Novação entre Credor e um Codevedor Solidário

Em solidariedade passiva, qualquer codevedor pode extinguir a obrigação e, por isso, pode
servir-se da novação sozinho. Nesse caso, como a novação implica extinção da obrigação an-
terior (que era solidária), os demais codevedores ficam exonerados (art. 365, CC).
Desse modo, garantias e preferências do crédito extinto, se permanecerem para o novo cré-
dito – o que dependerá de previsão expressa –, só recaem sobre os bens do devedor solidário
envolvido na novação, visto que as garantias dadas por terceiro se extinguem juntamente com
a obrigação anterior, salvo se esse terceiro consentir (art. 364 do CC).

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1.8. Compensação

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1.8.1. Definição

Compensação é uma hipótese de extinção indireta das obrigações. É um adimplemento


indireto, pois a extinção não provém da entrega da coisa devido a tempo, modo e lugar.
A compensação consiste no encontro de obrigações contrapostas entre pessoas que são
reciprocamente credoras e devedores, até o limite de concorrência dos seus valores. Se, por ter
recebido um serviço de cirurgia, eu devo R$ 10.000,00 a um médico que, por outro lado, embora
tenha comprado um carro meu, ainda não me pagou o preço R$ 30.000,00, há compensação
a extinguir totalmente a minha obrigação e a extinguir um terço da dívida do médico, de sorte
que o médico continuará a me dever R$ 20.000,00.

1.8.2. Requisitos

Conforme arts. 368 e 369 do CC, são requisitos da compensação: (1) reciprocidade das
obrigações: o credor de uma obrigação é o devedor da outra, ou seja, as mesmas pessoas
são reciprocamente credoras e devedoras; (2) liquidez delas: o objeto da obrigação deve estar
individualizado, ou seja, o gênero, a qualidade, a quantidade da obrigação estão especificadas;
(3) vencimento delas: a obrigação, no momento da compensação, já tem de ser suscetível de
cobrança forçada, ou seja, tem de ser atualmente exigíveis, o que ocorre no caso de obriga-
ções vencidas e o que afasta a compensação para obrigações naturais ou sujeitas a termo ou
condição suspensiva ainda pendentes; e (4) fungibilidade recíproca das obrigações: as dívidas
têm de ser, entre si, fungíveis; as suas prestações têm de ser substituíveis entre si; o objeto de
uma obrigação tem de ser coisa do mesmo gênero, qualidade e espécie da outra obrigação;
não basta que as obrigações sejam individualmente fungíveis.
Assim, uma obrigação de pagar dinheiro não é compensável com a de entregar grãos
de arroz, pois, apesar de ambas as obrigações serem individualmente fungíveis, não o são
entre si: dinheiro não é substituível por arroz. Duas dívidas pecuniárias, porém, podem ser
compensadas.
A diversidade do lugar de pagamento não impede a compensação, desde que seja feita a
dedução das despesas necessárias à operação, como os gastos com transporte da coisa e
as variações cambiais de cada lugar do pagamento (art. 378, CC). As obrigações se tornam
fungíveis entre si com essa dedução.
Dívidas pecuniárias fixadas em moedas diversas não descaracterizam a fungibilidade
das obrigações; bastará, no entanto, fazer a conversão cambial no momento da extinção da
obrigação.

1.8.3. Espécies

A compensação pode ser legal ou voluntária.

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A compensação legal decorre automaticamente de lei e pode ser alegada pelo credor inde-
pendentemente do consentimento da outra parte. O principal exemplo é a previsão genérica do
art. 368 do CC, que fixa a compensação como regra para situações de obrigações recíprocas.
A compensação voluntária ou convencional decorre de acordo entre as partes. Se, por
exemplo, uma obrigação ainda não venceu, ela não enseja a compensação legal por falta de
um requisito essencial (a exigibilidade), mas nada impede que as partes, por acordo expresso,
utilizem essa obrigação inexigível para extinguir, por compensação voluntária, outra obrigação.
Doutrina majoritária cita também uma terceira espécie, a compensação judicial, assim en-
tendida aquela que é determinada pelo juiz com base em lei, a exemplo da compensação de
honorários advocatícios sucumbenciais determinada em sentença no caso de sucumbência
recíproca quando isso era admitido no nosso ordenamento11. Outro exemplo é a compensa-
ção alegada pelo réu na contestação e reconhecida pelo juiz na sentença. Temos por indevida
essa última espécie, pois a reputamos como inclusa na hipótese de compensação legal: o juiz
apenas declara a compensação que já ocorreu desde o momento do nascimento da obrigação.
Nossa inspiração provém do pai do CC/16, Clóvis Bevilaqua (1958, p. 133).

1.8.4. Momento de Extinção da Obrigação pela Compensação

O momento da extinção da obrigação pela compensação variará a depender do tipo de


compensação envolvida. Se se tratar de compensação voluntária, a extinção ocorre no mo-
mento do acordo de vontades. Se, porém, a compensação for legal, o momento de extinção é
o da presença dos correspondentes pressupostos fáticos.
É que a compensação legal ocorre de pleno de direito, automaticamente, por força da lei
(ipso iure, ope legis ou ex vi legis). Todavia, o juiz não pode declará-la de ofício. A compensa-
ção legal, apesar de ocorrer de pleno direito, depende de alegação do interessado, por ser de
interesse privado, e depende de reconhecimento judicial.
A decisão judicial aí terá natureza declaratória, e não constitutiva, e terá eficácia retroativa
(ex tunc), pois o momento da extinção da obrigação será o surgimento das obrigações recípro-
cas, e não o do advento da decisão judicial12.
O motivo dessa dependência de uma decisão judicial são dois. O primeiro é o de que o juiz
é o agente público que possui a fé pública para, com definitividade, atestar os pressupostos
fáticos da compensação. O segundo é o de que o nosso ordenamento indiretamente faculta ao
credor abster-se de pleitear a declaração de extinção da obrigação por compensação por meio
de uma renúncia expressa ou tácita.
11
Ao contrário do que sucedia à época do CPC/1973, o CPC/2015 veda a compensação de verbas honorárias no caso de
sucumbência recíproca em atenção ao fato de que, entre elas, não há o requisito da reciprocidade das obrigações: os cre-
dores de cada uma dessas obrigações são os advogados das partes, e os devedores são as partes.
12
Situação similar ocorre com a condição resolutiva expressa, que, apesar de operar-se de pleno direito, depende de reconhe-
cimento judicial declaratório (art. 474, CC).

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1.8.5. Renúncia Expressa e Tácita à Compensação

Definições

O art. 375 do CC dispõe sobre a renúncia expressa, ao autorizar as partes pactuarem a in-
compensabilidade da dívida13 ou ao permitir que o credor renuncie unilateralmente o direito de
alegar a compensação. Lei poderá impedir essa renúncia.
A renúncia tácita à compensação não ocorre com a mera inação do credor. A relevância
da compensação não permite essa banalização. Essa inércia precisa estar acompanhada de
uma causa legal expressa. Daí decorrem algumas consequências relevantes, abaixo indicadas.

Casos Especiais

Prazo de Favor

A mera concessão gratuita de um prazo adicional para o pagamento da dívida, por exem-
plo, não implica renúncia à compensação (art. 372, CC). De fato, o caráter obsequioso da
prorrogação torna injusto punir o generoso e prestigiar desproporcionalmente o beneficiário
da benesse14.

Inércia do Devedor diante de uma Cessão de Crédito

Se o devedor, ao tomar ciência de que o credor está a ceder o crédito a outrem, mantém
silêncio, isso implica uma renúncia tácita de ele vir a, posteriormente, alegar que essa dívida
estava extinta por compensação com uma outra dívida que o cedente tinha. A compensação
tem de ser invocada logo após o devedor tomar ciência da cessão em respeito à boa-fé do ces-
sionário (art. 377, CC). Não importa o fato de a compensação legal operar-se de pleno direito,
pois, conforme já explicitado, o interessado tem de pleitear o reconhecimento judicial dessa
compensação: a negligência do interessado não pode ser relevada diante da boa-fé do terceiro.
Se a cessão de crédito não for notificada ao devedor, ela é ineficaz em relação a ele, de
modo que nada o impedirá de opor a compensação (arts. 290 e 377, CC).

1.8.6. Princípio da Personalidade

Definição

A compensação não pode prejudicar terceiros; ela só extingue obrigações que possuam as
mesmas pessoas como reciprocamente credoras e devedoras. Esse é o princípio da personalidade,
13
Nesse caso, não se teria uma renúncia propriamente dita, assim entendida aquela que é fruto de um ato unilateral do titular
do direito. Aí se terá um ato bilateral de exclusão da compensação. Preferimos, no entanto, entender que esse acordo de
exclusão da compensação pode ser equiparada a uma renúncia também.
14
Trata-se de um exemplo do que designamos de lógica de justiça da “proteção sem prestígio” para a tutela da gratuidade.

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sediados nos arts. 371 e 380 do CC. Trata-se de uma decorrência da regra do res inter alios
acta, segundo a qual ninguém pode ser prejudicado ou beneficiado por coisas entre terceiros.
Exceções a esse princípio depende de lei.

Hipótese do Art. 376 do CC: Estipulação de Terceiro? Representantes?

De redação confusa, o art. 376 do CC prevê uma situação que confirma o princípio da per-
sonalidade e se aplica-se a situações como a de estipulação em favor de terceiro. Esse dispo-
sitivo foi uma variação do que constava no projeto primitivo do Código Civil de 1916 e, apesar
dos ajustes redacionais ocorridos, a sua interpretação deve ser no sentido de a estipulação
em favor de terceiro ser o principal foco do art. 376 do CC (Beviláqua, 1958, p. 140). O devedor
não pode invocar crédito que tenha com o estipulante para extinguir, por compensação, a sua
dívida perante o terceiro. Falta aí a reciprocidade das obrigações. Assim, no caso de um seguro
de vida, a seguradora não pode se recusar a pagar a cobertura ao terceiro beneficiário, alegan-
do compensação com uma dívida que o falecido – que era o estipulante – tinha. Em razão do
contrato de seguro, a seguradora é devedora perante o terceiro beneficiário, e não perante o
segurado, o que afasta a possibilidade de invocar compensação. Nada impede, porém, que,
na hipótese de o terceiro beneficiário ter alguma dívida perante a seguradora, haver a com-
pensação com essa dívida, pois aí sim haverá reciprocidade de credores e devedores entre as
mesmas pessoas (princípio da personalidade).
Há quem aplique o art. 376 do CC para impedir a compensação nos casos de mandatário,
tutor e curador. Parece-nos, no entanto, que o fundamento jurídico para esses casos é o art.
371 do CC, que enuncia o princípio da personalidade. É que o mandatário, tutor e curador são
apenas representantes de outrem e, portanto, as dívidas pessoais desses representantes pe-
rante terceiros jamais poderiam ser levadas em conta para extinguir créditos que o represen-
tado possui perante esses terceiros. Se João nomeia um advogado para, como mandatário,
cobrar um crédito perante o banco, o banco só poderá invocar compensação com créditos que
o banco tenha perante João, e não perante o seu advogado. Assim, se o advogado tinha muitas
dívidas perante o banco (como as cheque especial), isso é irrelevante para que ele, como man-
datário, cobre a dívida perante o banco. Seja como for, a controvérsia entre os arts. 371 e 376
do CC como fundamento jurídico é meramente estética, pois o resultado prático é o mesmo: o
credor do representado não pode pleitear compensação com as dívidas pessoais do represen-
tante (tutor, do mandatário e do curador).

Mandato em Causa Própria e a Compensação

Diferentemente do que sucede com o mandato em geral, temos que, se se tratar de manda-
to em causa própria (art. 685 do CC), o terceiro poderá compensar a sua dívida com os créditos
que tiver tanto perante o mandante quanto perante o mandatário.

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Afinal de contas, nesse caso, o mandatário atua em interesse próprio, e não na do mandan-
te, a quem sequer terá de prestar contas. E, por se tratar de um mandato – que envolve poder
de representação –, o mandatário continuará exposto às exceções pessoais que poderiam ser
opostas contra o mandante.
Em nome da vedação do enriquecimento sem causa, se a compensação se basear em
dívida que o mandante tinha, é de reconhecer ao mandatário o direito de sub-rogação contra o
mandante, por aplicação extensiva do art. 346, III, do CC: o mandatário teve interesse jurídico
em pagar indiretamente15 a dívida de outrem. Entendimento diverso enriqueceria indevidamen-
te o mandante.

Exceções ao Princípio da Personalidade

Fiador e Possíveis Analogias

Uma exceção ao princípio da personalidade é o fiador. Este, embora seja um terceiro em


relação à dívida afiançada, tem inegável interesse jurídico por ter assumido a função de ga-
rante do afiançado. E, se pagar a dívida, o fiador – diante da sub-rogação – poderá cobrar o
que pagou do devedor principal, penhorando-lhe quaisquer bens. Para evitar esse caminho
(pagamento do fiador e, depois, cobrança regressiva), o art. 371 do CC autoriza que o fiador
possa pleitear a extinção da obrigação garantida mediante a sua compensação com um crédi-
to que o próprio afiançado tinha com o credor. É uma exceção ao princípio da personalidade:
o fiador terá legitimidade para apontar um crédito que o afiançado tem perante o credor como
compensação. A solução é sábia: como o fiador, na pretensão regressiva, poderia penhorar
esse crédito que o afiançado possuía, não há motivos para impedir que o fiador se antecipe
indicando esse crédito que o afiançado tinha como meio de extinguir a dívida garantida por
compensação.
Consideramos que, por se lastrear na mesma razão de justiça (ubi eadem ratio ibi idem jus),
o art. 371 do CC deve ser aplicado analogicamente para todos os casos de terceiros interes-
sados que, ao pagarem a dívida alheia, terão pretensão regressiva contra o devedor principal,
como sucede no caso do avalista que paga a dívida em nome próprio.
Temos que a analogia não deve alcançar casos de terceiros não interessados que pagam a
dívida em nome próprio, pois, embora eles tenham direito de regresso contra o devedor apenas
para o reembolso, não há motivos para o Direito proteger, com prestígios, condutas de introme-
tidos (art. 305, CC).

1.8.7. Penhora do Crédito por Terceiros Antes da Existência de Reciprocida-


de de Obrigações

Quando um crédito é penhorado por um terceiro, o devedor deve fazer os pagamentos em


juízo ou perante o terceiro. O executado não tem mais direito de exigir esse crédito diante da
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Compensação é hipótese de adimplemento indireto.

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penhora. Para efeito de compensação, o executado só pode ser considerado o credor até a
data da penhora. Daí indaga-se: o devedor poderá recusar-se a fazer os pagamentos, alegando
a extinção da obrigação penhorada por compensação? Se o crédito a ser utilizado como com-
pensação já existia antes da penhora com todos os requisitos legais presentes e o executado
era o devedor, a compensação é plenamente devida, pois a compensação legal ocorre de pleno
direito (Beviláqua, 1958, p. 143). Se, porém, o crédito tiver surgido ou tiver preenchido os requi-
sitos legais posteriormente à penhora e o executado era o devedor, não cabe a compensação
por faltar o requisito da “reciprocidade das obrigações”. É essa a inteligência do art. 380 do
CC em consonância com o princípio da personalidade: a compensação não pode prejudicar
terceiros.
Um exemplo facilitará. João está devendo R$ 10.000,00 à Construtora Ipiranga. Esta está
sendo executada judicialmente por um banco. O banco consegue penhorar esse crédito que a
construtora possuía, de modo que João foi intimado judicialmente a depositar, em juízo, o valor
da dívida. Nesse caso, João poderá alegar compensação para se livrar do pagamento dessa
dívida de R$ 10.000,00?
Se a Construtora Ipiranga devia a João R$ 10.000,00 antes da penhora e se essa dívida já
era vencida, líquida e fungível, a compensação já tinha ocorrido antes da penhora; só faltava
uma declaração judicial retroativa. A penhora, portanto, deve ser cancelada, porque recaiu so-
bre um crédito que já havia sido extinto pela compensação legal.
Se, porém, a Construtora só passou a dever R$ 10.000,00 ao João depois da penhora ou se
essa dívida só se tornou vencida, líquida e fungível depois da penhora (ex.: construtora veio a
ser condenada judicialmente a pagar indenização por dano moral ao João após a penhora), a
compensação é indevida por faltar reciprocidade de credores e devedores, pois, com a penhora,
o exequente deve ser considerado o credor do crédito penhorado para efeito de compensação.
De qualquer forma, se o Banco estiver devendo R$ 10.000,00 ao João (ex.: o banco foi
condenado judicialmente a pagar uma indenização ao João nesse valor), não enxergamos
obstáculo algum a que o João invoque a compensação para extinguir as obrigações. Nesse
caso, por aplicação analógica do art. 346, III, do CC, João deve ser considerado um terceiro
interessado que está pagando indiretamente a dívida executada por meio da compensação e,
por isso, ele se sub-rogará nos direitos que o Banco tinha perante a construtora.

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1.8.8. Vedação à Compensação

Diferenças de causas das obrigações não impedem a compensação, salvo nos casos estri-
tamente previstos em lei. O art. 373 do CC cataloga três grupos de hipóteses, a seguir tratados.

Motivo de Extrema Torpeza

O inciso I do art. 373 do CC veda a compensação no caso de três atos criminosos: esbulho,
furto ou roubo. O motivo é a extrema torpeza que subjaz esses crimes. Não dá para prestigiar,
de modo algum, invasor e ladrão. É nesse sentido que a compensação não será admitida nem
mesmo com dívidas de mesma origem (Beviláqua, 1958, pp. 137-138). Assim, se alguém rouba
um dinheiro, ele terá a obrigação de restituir esse valor ao proprietário. Essa sua obrigação ja-
mais poderá ser compensada com outra dívida que o proprietário eventualmente tenha perante
o ladrão, ainda que essa dívida provenha também de roubo. Cada uma das dívidas poderá ser
exigida sem ser obstada pela compensação.

Motivo de Respeito à Natureza da Dívida

O inciso II do art. 373 do CC proíbe a compensação para três tipos de dívidas cuja natureza
seria desfigurada com a compensação: dívida de comodato, de depósito ou de alimento.
A natureza da obrigação de restituir a coisa por parte do comodatário e do depositário en-
volve elevadíssimo grau de fidúcia, de confiança. Admitir que essas pessoas se recusem

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a devolver o bem sob a alegação de compensação abalaria a confiança irrestrita que deve
imperar nesses tipos de contrato. Há duas ressalvas a fazer. A primeira é a de que, no caso de
depósito, o art. 638 do CC excepciona a regra, admitindo a compensação da dívida de depósito
apenas se a o crédito a ser compensado também proceder de um contrato de depósito. A iden-
tidade de origem das obrigações justifica a compensação aí. A segunda é a de que, embora
não haja previsão legal expressa para o comodato, o fato é que essa exceção do art. 638 do
CC deve ser estendida, por analogia, para permitir que o comodatário invoque a compensação
com créditos que ele tenha por força de comodato. A analogia se justifica pelo fato de que a
lógica de justiça que arrima o art. 638 do CC é a mesma para o comodato: a origem das causas
é idêntica. A favor dessa analogia, Clóvis Beviláqua (1958, p. 138) lembra que, em ambos os
casos. “a razão de decidir é a mesma”.
No caso de alimentos, a sobrevivência do alimentado está em jogo e, por isso, não se lhe
pode condenar à indigência por conta de uma compensação. Essa incompensabilidade da dívi-
da de alimentos, todavia, não é absoluta; o STJ admite, de modo muito excepcional, a compen-
sação com créditos que tenham vinculação direta com a sobrevivência do alimentado, como
no caso de um caso concreto em que o alimentante compensou parcialmente a sua dívida de
alimentos com o crédito que ele passou a ter após pagar a contribuição do condomínio rela-
cionada ao apartamento em que vivia o alimentado. O fundamento é evitar manifesto enrique-
cimento sem causa do alimentado (STJ, REsp 982.857/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministro Massami
Uyeda, DJe 03/10/2008).

Motivo de Impenhorabilidade

O inciso III do art. 373 do CC veda a compensação se o objeto de qualquer das obrigações
for impenhorável. As hipóteses de impenhorabilidade legal estão no art. 833 do CC. Se um
bem é impenhorável, ele também não ser objeto de compensação legal. A compensação legal
é imposta pelo interessado à outra parte. Admitir a compensação em detrimento de bens im-
penhoráveis seria desvirtuar o regime da impenhorabilidade de bens.
Entendemos que, em regra, nada impede que o titular do bem impenhorável abra mão des-
se privilégio e autorize a compensação. Há, porém, exceções, especificamente quando se tra-
tar de impenhorabilidades que não possam ser renunciadas voluntariamente pelo devedor. Por
exemplo, há discussão se a impenhorabilidade do bem de família pode ou não ser renunciada.
Deixamos, porém, de aprofundar o assunto neste momento.

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1.9. Confusão

A confusão é uma hipótese de extinção da obrigação em razão do fato de o credor e o de-


vedor tornarem-se a mesma pessoa (art. 381, CC). É o caso do filho único que tinha uma dívida
perante o pai e que, em razão da morte dele, herda o crédito. Esse filho tornar-se-á, em razão da
sucessão causa mortis, o credor de uma obrigação de que ele mesmo era devedor. O resultado
é a extinção dessa obrigação pela confusão.
A confusão pode ser total ou parcial (art. 382, CC). No exemplo retrocitado, se o falecido
tivesse dois filhos que herdassem o crédito, a confusão extinguiria apenas metade da dívida,
pois, quanto à outra metade, o credor passaria a ser o irmão do devedor.
Não importa a natureza da obrigação; a confusão extingue qualquer obrigação. Se a obri-
gação for solidária, a extinção total ou parcial ocorrerá normalmente. No caso de obrigação
parcial, a solidariedade subsiste quanto à parte não extinta (art. 383, CC).
Se a confusão cessar, a obrigação se restabelece com todos os seus acessórios
(art. 384, CC).
Um caso interessante foi analisado pelo STJ para definir se a Defensoria Pública da União
(DPU) poderia cobrar da União os honorários advocatícios sucumbenciais. Como a DPU é um
órgão público federal, ela integra a União; logo, não é cabível a fixação de honorários sucum-
benciais diante da confusão que, na origem, extingue essa dívida (AgInt no REsp 1546228/AL,
1ª Turma, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 27/03/2017).
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1.10. Remissão das Dívidas

Amigo(a), olhe a questão.

010. Enzo e Lucas são grandes amigos e, por estar Enzo em dificuldades financeiras, Lucas
emprestou-lhe R$2.000,00, ficando acertado que a devolução do numerário ocorreria 30 dias
depois. Passado um mês, Enzo disse que continuava com grave dificuldade e que não teria
dinheiro para honrar o compromisso. Penalizado com a situação, Lucas resolveu perdoar a
dívida, afirmando que uma boa amizade teria maior valor que dinheiro. Enzo agradeceu a sen-
sibilidade e aceitou a oferta do amigo.
No caso apresentado, a obrigação foi extinta por:
a) remissão;
b) transação;
c) dação em pagamento;
d) remição;
e) compensação.

O gabarito é “a”, pois a questão trata do tema da remissão. Vamos explicar.


A obrigação pode ser extinta pelo perdão (remissão) do credor, mas é necessário haver aceita-
ção do devedor. Essa extinção, porém, não poderá prejudicar terceiros (art. 385, CC). A discipli-
na da remissão das dívidas está nos arts. 385 ao 388 do CC.
Letra a.

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QUESTÕES DE CONCURSO
011. (PUC-PR/AUDITOR-FISCAL/PREFEITURA DE CAMPO GRANDE-MS/2019/ADAPTADA)
O nosso dia a dia é permeado de obrigações, das mais relevantes até aquelas irrelevantes do
ponto de vista jurídico. E o Direito Civil pátrio consagra diversas formas de adimplemento e
extinção das obrigações, e uma dessas modalidades de extinção das obrigações é quando um
credor aceita receber prestação diversa da que lhe é devida originalmente. A essa modalidade
damos o nome de
a) Dação em pagamento.
b) Novação.
c) Imputação.
d) Compensação.
e) Confusão.

Questão define a dação em pagamento, conforme art. 356 do CC:

CAPÍTULO V
Da Dação em Pagamento
Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.
Letra a.

012. (VUNESP/ADVOGADO/PREF. SÃO ROQUE/SP/2020/ADAPTADA) O terceiro não inte-


ressado pode pagar a dívida se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste, e
se pagar a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar, mas não se
sub-roga nos direitos do credor.

É o art. 304, parágrafo único, em conjunto com o art. 305 do CC:

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser,
dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do
devedor, salvo oposição deste.
Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembol-
sar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.
Certo.

013. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) No tocante ao pagamento, o terceiro


não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que

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pagar, mas não se sub-roga nos direitos do credor; se pagar antes de vencida a dívida, só terá
direito ao reembolso no vencimento.

É o art. 305 do CC.


Certo.

014. (CONSUPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019) O pai que não fez parte da relação ju-


rídica obrigacional na qual o filho figurou como devedor pode, em nome próprio, saldar o débito
do filho, sub-rogando-se nos direitos do credor.

Pai é terceiro não interessado, pois lhe falta interesse jurídico: ele não será juridicamente atin-
gido pela dívida do filho. Logo, ao contrário do dito na questão, (1) o pai não tem direito de, em
nome próprio, obrigar o credor a receber o pagamento, pois esse direito é dado ao terceiro de-
sinteressado que paga em nome do devedor; (2) não há sub-rogação legal em hipótese alguma
de pagamento por terceiro desinteressado. São os arts. 304 e 305 do CC.
Errado.

015. (VUNESP/ADVOGADO/PREF. SÃO ROQUE-SP/2020/ADAPTADA) O pagamento feito


de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que não era credor; se o devedor
pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele
oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor
a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.

São os arts. 309 e 312 do CC:

Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era
credor.
Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constran-
ger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.
Errado.

016. (FCC/JUIZ/TJ-MS/2020/ADAPTADA) O pagamento feito pelo devedor ao credor, apesar


de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, não
valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, prejudicado o direito
de regresso contra o credor.

O erro está na parte final da questão: cabe direito de regresso contra o credor (art. 312, CC).
Errado.

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017. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) No tocante ao pagamento, quando feito


de boa-fé ao credor putativo é válido, salvo se provado depois que não era credor.

A parte final da questão está errada, conforme art. 309 do CC, que protege o pagamento feito
ao credor putativo (àquele que aparenta ser credor no caso concreto).
Errado.

018. (FCC/JUIZ/TJ-MS/2020/ADAPTADA) O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é


válido, salvo se provado depois que ele não era credor.

É válido, ainda que provado que ele não era credor (art. 309, CC).
Errado.

019. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) No tocante ao pagamento, em qualquer


hipótese considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, pela presun-
ção legal absoluta daí decorrente.

A presunção não é absoluta, pois pode ser afastada se houver circunstâncias contrárias. É o
art. 311 do CC:

Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as cir-
cunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.
Errado.

020. (FCC/JUIZ/TJ-MS/2020/ADAPTADA) O pagamento autoriza-se a recebê-lo o portador


da quitação, fato que origina presunção absoluta.

De fato, o portador da quitação se presume autorizado a receber o pagamento. Essa presun-


ção, porém, é relativa, e não absoluta, pois admite prova em contrário se as circunstâncias não
autorizarem essa presunção (art. 311, CC).
Errado.

021. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) No tocante ao pagamento, o credor não


é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, salvo se mais valiosa, pois nesse
caso faltará interesse econômico à rejeição.

Credor não é obrigado a receber prestação diversa da pactuada, nem se for mais valiosa. Tra-
ta-se do princípio da exatidão, previsto no art. 313 do CC:

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Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa.
Errado.

022. (VUNESP/ADVOGADO/PREF. SÃO ROQUE-SP/2020/ADAPTADA) É ilícito convencionar


o aumento progressivo de prestações sucessivas e são nulas as convenções de pagamento
em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta
e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.

Ao contrário do exposto na questão, é lícito pactuar o aumento progressivo de prestações su-


cessivas: trata-se da chamada cláusula de escala móvel ou de escalonamento (art. 316, CC).
No mais, a questão está correta por condizer com o art. 318 do CC. Veja os referidos preceitos:

Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.


Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como
para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previs-
tos na legislação especial.
Errado.

023. (FCC/PROMOTOR/MPE-MT/2019/ADAPTADA) Não é lícito convencionar o aumento


progressivo de prestações sucessivas, pela insegurança patrimonial causada ao devedor.

É o contrário (art. 316, CC).


Errado.

024. (VUNESP/ADVOGADO/PREF. SÃO ROQUE-SP/2020/ADAPTADA) Efetuar-se-á o paga-


mento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o con-
trário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias, e, se designados dois ou
mais lugares, cabe ao devedor escolher entre eles.

O erro está apenas na parte final: é o credor que pode escolher entre dois ou mais lugares pac-
tuados (art. 327, parágrafo único, CC). Veja o art. 327 do CC:

Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem


diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.
Errado.

025. (VUNESP/ADVOGADO/PREFEITURA DE SÃO ROQUE-SP/2020/ADAPTADA) Ao credor


assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato, no caso
de falência do devedor, recuperação judicial ou estado notório de insolvência.
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Obrigações – Parte III
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Ao contrário do dito na questão, o vencimento antecipado da dívida (direito de cobrar a dívida


antes de vencido o prazo) não se dá nos casos de recuperação judicial nem de estado notório
de insolvência, mas sim nas hipóteses do art. 333 do CC (como falência e outros tipos de con-
cursos de credores, como a insolvência civil). Veja o art. 333 do CC:

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no con-
trato ou marcado neste Código:
I – no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II – se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;
III – se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o
devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará
vencido quanto aos outros devedores solventes.
Errado.

026. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019) As despesas com o pagamento e a


quitação presumem-se a cargo do credor.

Presume-se do devedor. É o art. 325 do CC:

Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer
aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.
Errado.

027. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019) O pagamento feito ao credor inca-


paz de quitar é válido, ainda que ciente o devedor da incapacidade, desde que fique provado
que o pagamento reverteu em benefício do credor.

A incapacidade do credor é irrelevante se efetivamente este tiver sido beneficiado com o paga-
mento. De fato, se for provado que o credor se beneficiou com o pagamento, este é válido, sob
pena de enriquecimento sem causa do credor. A ideia é a de que, se não tiver havido prejuízo,
não há por que invalidar o pagamento. É o art. 310 do CC:

Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não
provar que em benefício dele efetivamente reverteu.
Certo.

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028. (FCC/JUIZ/TJ-MS/2020/ADAPTADA) O pagamento não vale quando cientemente feito


ao credor incapaz de quitar, em nenhuma hipótese.

Vale sim, se tiver sido provado que o credor foi beneficiado com o pagamento (art. 310, CC).
Errado.

029. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019) Considere que Mévio deu em paga-


mento a Glaucius por dívida regular, vencida e preexistente, duas sacas de café que o credor
de boa-fé consumiu. Posteriormente descobriu-se que as sacas de café foram alienadas a non
domino, por isso que pertencentes a Adriano. Nesse caso, Adriano poderá cobrar as duas sa-
cas de café de Glaucius.

Alienação a non domino é a feita por quem não é dono. A questão está afirmando que Mévio
entregou sacas de café que, na verdade, pertenciam a Adriano. Nesse caso, como Mévio esta-
va de boa-fé, como ele já consumiu a saca e como se tratava de coisa fungível, o art. 307, pará-
grafo único, do CC o protege, impedindo que o verdadeiro proprietário (Adriano) reivindique as
sacas. Veja o referido dispositivo:

Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por
quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor
que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.
Errado.

030. (FCC/JUIZ/TJ-MS/2020/ADAPTADA) O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem


de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto rever-
ter em seu proveito.

É o art. 308 do CC:

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só
valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
Certo.

031. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019) Dentre as hipóteses descritas a se-


guir, assinale aquela que encerra espécie de sub-rogação convencional.
a) Do credor que paga a dívida do devedor comum.
b) Do terceiro interessado que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo
ou em parte.

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Obrigações – Parte III
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c) Do adquirente do imóvel hipotecado, que paga ao credor hipotecário, bem como do terceiro
que efetiva o pagamento para não ser privado do direito sobre o imóvel.
d) Quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob
condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

A sub-rogação pode ser legal ou convencional.


É legal quando decorre de lei. As principais hipóteses legais estão no art. 346 do CC, mas há
outras em outros dispositivos, como nos arts. 259, parágrafo único, e 1.368, do CC.
É convencional quando o credor transfere todos os seus direitos ao terceiro que está pagando
a dívida e está prevista no art. 347 do CC.
Da leitura dos arts. 346 e 347 do CC, vê-se que a única alternativa correta é a letra “D”, pois as
demais tratam de casos de sub-rogação legal.
Vejam os dispositivos supracitados:

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado
pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos ou-
tros coobrigados.
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:
I – do credor que paga a dívida do devedor comum;
II – do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que
efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;
III – do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em
parte.
Art. 347. A sub-rogação é convencional:
I – quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus
direitos;
II – quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condi-
ção expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
Art. 1.368. O terceiro, interessado ou não, que pagar a dívida, se sub-rogará de pleno direito no cré-
dito e na propriedade fiduciária.
Letra d.

032. (FAUEL/ASSESSOR JURÍDICO/PREFEITURA DE JANDAIA DO SUL-PR/2019/ADAPTA-


DA) A novação por substituição do devedor não pode ser efetuada sem o seu consentimento.

É o contrário, conforme art. 362 do CC:

Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consen-
timento deste.
Errado.

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Obrigações – Parte III
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033. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) É imprescindível o


consentimento do devedor nas hipóteses de novação que tenham por fim a sua substituição.

É o contrário (art. 362, CC).


Errado.

034. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA TATUÍ-SP/2019/ADAPTADA) Na novação por


substituição do devedor, é imprescindível o consentimento deste.

É o contrário (art. 362, CC).


Errado.

035. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA TATUÍ-SP/2019/ADAPTADA) As obrigações anulá-


veis podem ser objeto de novação.

Só as nulas ou extintas é que não podem ser objeto de novação. Ao contrário do dito na ques-
tão, as obrigações anuláveis podem ser objeto de novação, até porque a anulabilidade, ao
contrário da nulidade, pode ser convalescida por conduta da parte (arts. 172 a 175, CC). Essa
é a lógica do art. 367 do CC:

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.
Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa
de mantê-lo.
Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo de-
vedor, ciente do vício que o inquinava.
Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos
arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o
devedor.
Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obriga-
ções nulas ou extintas.
Certo.

036. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) Não podem ser objeto


de novação as obrigações anuláveis, tal como ocorre com as obrigações nulas e as extintas.

Ao contrário do dito na questão, obrigação anulável pode ser objeto de novação (art. 367, CC).
Errado.

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037. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA TATUÍ-SP/2019/ADAPTADA) A extensão do prazo


para pagamento de determinada obrigação implica novação.

Para haver novação, é essencial haver o ânimo inequívoco de novar (animus novandi), ainda
que tácito, sob pena de a nova obrigação ser considerada uma mera confirmação da anterior,
como se fosse um “mero aditivo contratual” (art. 361, CC). Nesse sentido, segundo a doutri-
na, o mero adiamento do prazo de pagamento não implica novação, mas é um mero “aditivo
contratual”, ou seja, uma mera confirmação da obrigação anterior com um pequeno ajuste no
prazo de pagamento. Por isso, está errada a questão. Veja o art. 361 do CC:

Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito, mas inequívoco, a segunda obrigação
confirma simplesmente a primeira.
Errado.

038. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA TATUÍ-SP/2019/ADAPTADA) É vedada, no ordena-


mento jurídico brasileiro, a novação de forma tácita.

Ao contrário do dito na questão, é possível que a novação seja tácita, desde que a intenção de
nova seja inequívoca (art. 361, CC).
Errado.

039. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA TATUÍ-SP/2019/ADAPTADA) A novação, em regra,


não extingue as garantias da dívida.

Extingue sim como regra geral, conforme art. 364 do CC:

Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipula-
ção em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese,
se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação.
Errado.

040. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) A novação feita sem o


consenso do fiador com o devedor principal importa exoneração daquele que prestou a garan-
tia fidejussória.

A nova obrigação não pode prejudicar terceiros que não participaram dela, a exemplo do fiador.
Essa é a lógica do art. 366 do CC (que dá a resposta à questão em pauta) e também de outros,
como o art. 365 do CC. Leia os preceitos:

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Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens
do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os ou-
tros devedores solidários ficam por esse fato exonerados.
Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.
Certo.

041. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) Se em consequência


da novação o credor vê a expectativa de receber o seu crédito debalde porque o novo devedor
tornou-se insolvente, o credor frustrado terá ação regressiva contra o devedor primitivo, ainda
que de boa-fé esse último.

Não há esse direito de regresso, salvo má-fé do devedor primitivo. Afinal de contas, é risco de
o novo credor aceitar um novo devedor. É o art. 363 do CC:

Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra
o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição.
Errado.

042. (IBFC/PROCURADOR/PREF. DIVINÓPOLIS-MG/2018/ADAPTADA) Quando as duas dí-


vidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despe-
sas necessárias à operação.

É art. 378 do CC:

Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no
compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento.
Certo.

043. (IBFC/PROCURADOR/PREF. DIVINÓPOLIS-MG/2018/ADAPTADA) Obrigando-se por


terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever

É o art. 376 do CC:

Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o cre-
dor dele lhe dever.
Certo.

044. (IBFC/PROCURADOR/PREF. DIVINÓPOLIS-MG/2018/ADAPTADA) O devedor somente


pode compensar com o credor o que este lhe dever, mas o fiador pode compensar sua dívida
com a de seu credor ao afiançado.

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É o art. 371 do CC:

Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode
compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
Certo.

045. (IBFC/PROCURADOR/PREF. DIVINÓPOLIS-MG/2018/ADAPTADA) A compensação


efetua-se entre dívidas líquidas, vincendas e de coisas fungíveis

Não é dívidas “vincendas”, e sim “vencidas”. É o art. 369 do CC:

Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.
Errado.

046. (CESPE/AUDITOR/SEFAZ-RS/2019) Pedro tem uma dívida líquida, certa e vencida com
Carlos, que reside em lugar incerto. Maria, amiga de Pedro e terceira não interessada na re-
lação jurídica de Pedro e Carlos, resolveu efetuar o pagamento da dívida. Como Maria não
localizou Carlos, ela efetuou depósito judicial em nome e à conta de Pedro, que não se opôs e,
assim, a dívida foi extinta.
Considerando o disposto no Código Civil, Maria procedeu a um(a)
a) pagamento com sub-rogação.
b) dação em pagamento.
c) novação.
d) imputação do pagamento.
e) pagamento em consignação.

A questão descreve caso de pagamento em consignação, fundamentada no desconhecimento


do paradeiro de Carlos (arts. 334 e 335, II, CC). Veja referidos dispositivos:

Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimen-


to bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.
Art. 335. A consignação tem lugar:
I – se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na
devida forma;
II – se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III – se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar
incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV – se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
V – se pender litígio sobre o objeto do pagamento.
Letra e.

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GABARITO
11. a
12. C
13. C
14. E
15. E
16. E
17. E
18. E
19. E
20. E
21. E
22. E
23. E
24. E
25. E
26. E
27. C
28. E
29. E
30. C
31. d
32. E
33. E
34. E
35. C
36. E
37. E
38. E
39. E
40. C
41. E
42. C
43. C
44. C
45. E
46. e

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Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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