Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Sumário
Carlos Elias
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Obrigações – Parte III...................................................................................................................... 5
1. Extinção das Obrigações............................................................................................................ 5
1.1. Definição...................................................................................................................................... 5
1.2. Pagamento.. ................................................................................................................................ 6
1.3. Pagamento em Consignação................................................................................................ 20
1.4. Pagamento com Sub-Rogação............................................................................................. 25
1.4. Breve Histórico........................................................................................................................ 27
1.5. Imputação do Pagamento..................................................................................................... 33
1.6. Dação em Pagamento............................................................................................................ 35
1.7. Novação..................................................................................................................................... 37
1.8. Compensação.. ......................................................................................................................... 41
1.9. Confusão................................................................................................................................... 50
1.10. Remissão das Dívidas. . ..........................................................................................................51
Questões de Concurso.................................................................................................................. 52
Gabarito............................................................................................................................................ 63
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 2 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Apresentação
Amigo(a), vamos tratar de extinção das obrigações. Temos muita coisa a falar, mas, como
já estamos fazendo nas aulas anteriores, focaremos naquilo que realmente você precisa saber
para passar no concurso. E lembre-se: quero deixar você preparado para responder às ques-
tões mais difíceis, pois é isso que garantirá que, além de aprovado no concurso, você seja
nomeado. Quem faz Gran Cursos Online tem garantia de sucesso!
Vamos lá!
Resumo
Amigo(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• A extinção normal da obrigação é o pagamento propriamente dito, mas há também for-
mas de extinção anormal da obrigação, como o pagamento em consignação, o paga-
mento com sub-rogação, a imputação do pagamento, a dação em pagamento, a nova-
ção, a compensação, a confusão e a remissão;
• O pagamento em consignação consiste no depósito da coisa devida nas hipóteses da
lei, como na situação de recusa indevida do de credor em receber o pagamento (arts.
334 ao 345, CC);
• O pagamento com sub-rogação ocorre quando um terceiro paga a dívida alheia e se sub-
-roga nos direitos que o credor originário tinha perante o devedor. A sub-rogação pode
ser legal, quando decorrer de lei, ou convencional, quando provier da vontade do credor
originário (arts. 346 ao 351, CC);
• A imputação do pagamento sucede quando o devedor, tendo mais de uma dívida peran-
te o credor, atribui o pagamento a uma delas (arts. 352 ao 355, CC);
• A dação em pagamento é a entrega de coisa diversa da pactuada, o que depende de
aceitação do credor (arts. 356 ao 359, CC);
• A novação é a criação de uma nova obrigação para extinguir a anterior (arts. 360 ao 367,
CC);
• A compensação é o encontro de direitos opostos; é a extinção de duas obrigações em
razão de as pessoas dos credores e dos devedores se alternarem entre elas (arts. 368
ao 380, CC);
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 3 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 4 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 5 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
A extinção normal (meio normal de extinção) dá-se quando a obrigação é cumprida, o que
pode ocorrer por dois tipos de pagamento: o pagamento direto e o pagamento indireto.
O pagamento direto corresponde ao cumprimento exato da prestação pactuada. Refere-se
ao pagamento propriamente dito, que está disciplinado nos arts. 304 ao 333 do CC.
Já o pagamento indireto1 diz respeito a outros fenômenos que importam no cumprimen-
to da obrigação por outra via que não o pagamento direto. Incluem-se aí todos os demais
meios de extinção da obrigação previstos nos arts. 334 ao 388 do CC. Aí se incluem, portanto,
o pagamento em consignação (= pagamento é efetuado por depósito judicial ou bancário, e
não diretamente ao credor), a dação em pagamento (= pagamento é efetuado por coisa diver-
sa da pactuada), a imputação do pagamento (= pagamento de uma das diversas obrigações
existentes entre as mesmas partes) e o pagamento com sub-rogação (um terceiro, e não o
devedor, cumpre a obrigação e se assume a posição jurídico do anterior credor). A novação, a
compensação, a confusão e a remissão são também formas de pagamento indireto, apesar de
haver quem, na doutrina, os considere como meios anormais de extinção da obrigação, e não
como pagamento indireto. Preferimos seguir o talento didático do civilista Christiano Casset-
tari (2011, p. 148).
1.2. Pagamento
1.2.1. Definição e Natureza Jurídica
1
Rosenvald e Farias preferem chamar de modalidades especiais de pagamento, pois entendem que há hipóteses que não
se enquadram como pagamento em sentido amplo por não haver, sequer indiretamente, a satisfação do débito, como a
remissão e a confusão.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 6 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Objeto do Pagamento
2
Gonçalves, 2011, p. 252.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 7 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Amigo(a), antes de tudo, vamos com esta questão de concurso. Respondam se é “certa”
ou “errada”.
O gabarito está errado, porque, para o credor sempre tem de consentir no recebimento de coisa
diversa da pactuada.
O devedor é obrigado a entregar exatamente aquilo que foi pactuado, nem mais, nem menos.
E o credor não é obrigado a receber coisa diversa da pactuada nem porção inferior ao pactua-
do. O credor não é obrigado a receber aliud pro alio (“coisa por outra”) Trata-se do princípio da
exatidão, que está depositado nos arts. 313 e 314 do CC. Esse princípio também conhecido
como o da vedação do aliud pro alio. Essa expressão em latim é um fragmento deste brocardo
latino: aliud pro alio invito creditori solvi non potest (“não se pode pagar uma coisa por outra
contra a vontade do credor”). Há, porém, exceção, pois o CPC admite que o devedor, na fase
de execução, valha-se do direito de pagar a dívida parceladamente na forma do art. 916, CPC.
É um caso excepcional de pagamento parcial a que o credor deve se curvar, como lembra o
nobre processualista José Miguel Garcia Medina (2017, p. 1110).
Daí decorre que o credor não é obrigado a receber nem mesmo coisa mais valiosa. Se quiser
receber, a extinção da obrigação não se dará pelo pagamento direto, e sim por meio da dação
em pagamento (art. 313, CC).
Também decorre daí que o credor não é obrigado a receber pagamento parcial. Por exemplo,
“X” pode recusar receber R$ 200,00 como pagamento parcial da dívida de R$ 400,00. O interes-
se jurídico de “X” pode ser o de que os encargos de mora incidam sobre o valor total da dívida
até o pagamento integral, o que lhe renderia uma maior vantagem financeira.
Errado.
www.grancursosonline.com.br 8 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
A questão está correta; trata-se da cláusula de escala móvel, que é uma exceção ao princípio
do nominalismo. Calma! Eu te explico. Vamos lá.
A regra é a de que a dívida deve ser paga no vencimento. Se for em dinheiro, o valor a ser con-
siderado é o valor nominal da dívida (art. 315, CC). É que a regra é a de que não há correção
monetária sobre a dívida antes do vencimento (período da normalidade obrigacional), pois se
presume que, ao pactuar a dívida, as partes pretendem receber o valor nominal indicado. Tra-
ta-se do princípio do nominalismo.
Há, porém, duas exceções a esse princípio.
A primeira é a cláusula de escala móvel, também batizada de cláusula de escalonamento.
Trata-se de cláusula que, expressamente, prevê a oscilação do valor da dívida a índices de
custo de vida, ou seja, a índices de correção monetária, de maneira que o valor nominal poderá
aumentar ou diminuir progressivamente a depender da inflação ou da deflação (art. 316, CC).
Todavia, como cautela para evitar crises de inflação galopante, é vedada a correção monetária
do valor da dívida em periodicidade inferior a um ano, salvo autorização legal específica (art.
2º da Lei n. 10.192/2001 e art. 28 da Lei n. 9.069/1995 – Lei do Plano Real).
Um alerta se faz desde logo. Isso só vale para a correção monetária no período da normalidade
obrigacional, ou seja, para o período anterior ao vencimento da obrigação. A correção monetá-
ria incidirá, sem restrições e de modo automático, após o vencimento da obrigação se ela for
inadimplida por força dos arts. 389 e 295 do CC (período da anormalidade obrigacional).
A segunda exceção é a aplicação da teoria da imprevisão prevista no art. 317 do CC, que deve
ser lido em conjunto com os arts. 478 ao 480 do CC. O juiz poderá mudar o valor da obrigação
(revisão da obrigação), se, por motivo imprevisível e superveniente, a prestação se tornar mani-
festamente desproporcional no momento do pagamento. Trataremos, com maior detalhe, em
contratos, ao tratar da teoria da imprevisão.
Certo.
Em respeito à moeda nacional, as dívidas não poderão ser pactuadas em ouro (“cláusula-
-ouro”), em moeda estrangeira (obrigação valutária) ou com indexação a moedas estrangeiras
(oscilação de acordo com o valor de troca da moeda estrangeira pela moeda nacional, ou seja,
de acordo com a variação cambial), salvo lei específica. Di-lo o art. 318 do CC, que são repeti-
dos no art. 1º da Lei n. 10.192/2001 e no art. 1º do Decreto-Lei n. 857/1969.
Excepcionalmente a legislação admite pactuações em leis estrangeiras, especificamente
em casos em que a conexão da obrigação com o mercado internacional é manifesta. As princi-
pais exceções estão no art. 2º do Decreto-Lei n. 857/1969, do que dão exemplo as obrigações
decorrentes de contrato de importação e exportação de mercadorias.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 9 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Se a dívida for estipulada em medida ou pesos, presume-se que estes serão utilizados de
acordo com o lugar do pagamento, salvo pacto em contrário (art. 326, CC). Assim, se alguém
se obriga a entregar mil alqueires de terras em São Paulo, presume-se que essa medida de al-
queire será o que vigora em São Paulo, especialmente porque, em outros Estados, um alqueire
corresponde a extensões diversas. Um alqueire vale, em São Paulo, 2,42 hectares (24.200 m2),
ao passo que, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e em Goiás, ele vale 4,84 hectares (48.400
m2). No Norte, um alqueire corresponde a 2,7225 hectares (27.225 m2).
Prova do Pagamento
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 10 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
O gabarito é “errado”, porque o devedor pode reter o pagamento enquanto não lhe for dada a
quitação. Vamos estudar esse tema.
A prova do pagamento é disciplinada nos arts. 319 ao 325 do CC.
O devedor, ao pagar, tem direito à quitação regular. Se a quitação não lhe for dada, o devedor
pode, como proteção, reter o pagamento (art. 319, CC). Isso vale para qualquer tipo de obriga-
ção, contratual ou extracontratual. Se, porém, se cuidar de obrigação contratual, o art. 319 do
CC será reforçado pela exceptio non adimpleti contractus no art. 476 do CC.
A quitação é a prova do pagamento (é o fato jurídico), e o recibo é apenas um instrumento da
quitação (é o documento no qual o credor formaliza a quitação).
O recibo deve conter as informações essenciais à identificação do pagamento, conforme in-
dicado no art. 320 do CC. Se, porém, ele não contiver esses requisitos, a sua eficácia é pre-
servada se se puder constatar a realização do pagamento a partir de seu conteúdo ou das
circunstâncias. Não há rigor formal para o recibo; vige o princípio da liberdade das formas, que
se alinha com a regra geral de não solenidade do art. 107 do CC para os negócios jurídicos.
O recibo pode ser por instrumento particular, sempre (art. 320, CC). Isso significa que, ainda
se a obrigação tenha dependido de um instrumento público para surgir, a quitação poderá ser
comprovada por instrumento particular. Isso significa que, por exemplo, o Cartório de Registro
de Imóveis poderá aceitar um recibo por instrumento particular como título adequado para a
averbação do cancelamento de um direito real de hipoteca que foi constituído pelo registro de
uma escritura pública.
A quitação poderá ser dada por meio eletrônico; a lei não exige uma forma específica.
Como é ônus do devedor pagar, é dele também o ônus de arcar com as despesas necessárias
para realizar o pagamento. Ele, por exemplo, tem de pagar o valor de emissão de um boleto
bancário. Se, porém, o credor tiver praticado algum fato que torne mais oneroso o pagamento,
esse acréscimo de despesa deverá ser suportado pelo credor em respeito ao princípio da cau-
salidade: quem dá causa a um prejuízo deve suportá-lo (art. 325, CC).
Há dívidas cuja quitação ocorre com a entrega de um título. A entrega do título aí presume o
pagamento, assegurado, porém, ao credor o prazo decadencial de 60 dias para provar a falta
do pagamento (art. 324, CC). Se o credor alegar que o título se perdeu (extravio), o devedor
poderá reter o pagamento enquanto o credor não lhe dê uma declaração que retire a eficácia
do título, inutilizando-o (art. 321, CC).
Em dívidas parceladas, a quitação da última faz presumir a quitação das demais. A presunção
é relativa; admite prova em contrário (art. 322, CC).
E, diante da natureza acessória dos juros, a quitação da dívida principal presume abranger a
quitação dos juros, salvo ressalva expressa (art. 323, CC).
Errado.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 11 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Lugar do Pagamento
Quanto ao lugar do pagamento, as obrigações podem ser: (1) quesíveis ou quérable, quan-
do o lugar do pagamento for o domicílio do devedor; e (2) portáveis ou portable, quando o lugar
do pagamento for o domicílio do credor. Inclui-se na dívida portável a situação de o pagamento
ser em qualquer lugar diverso do domicílio do devedor, pois isso implicaria o dever de o deve-
dor “portar” o pagamento. Assim, se o lugar do pagamento for o sistema bancário – como é
comum de ocorrer –, a dívida será portável. Há, porém, quem restrinja a expressão “obrigação
portável” para o pagamento no domicílio do credor e prefere classificar como “obrigação mista”
aquela cujo lugar de pagamento é lugar diverso do domicílio de ambas as partes. Parece-nos,
porém, mais adequada a expressão “obrigação portável” diante da necessidade de o devedor
carregar (portar) o pagamento.
A regra geral é a de que as obrigações são quesíveis: cabe ao credor ir atrás do devedor
para receber o crédito. Excepcionalmente, a obrigação pode ser portável, se assim determinar
a lei, o pacto, a natureza da obrigação ou as circunstâncias do caso concreto (art. 327, CC).
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 12 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Se houver dois ou mais lugares para pagamento, a escolha será feita pelo credor, que, por
ser o senhor do crédito, indicará o local mais cômodo para ele.
Se se tratar de dívida consistente na entrega de um imóvel ou em prestações relativas a
imóveis – como dívidas relativas à contribuição condominial ou a aluguel do imóvel –, o lugar
do pagamento é o lugar do imóvel (art. 328, CC). É, porém, de admitir-se pacto em contrário por
não se ter aí norma de ordem pública. A tradição do imóvel, por exemplo, poderia ser feita de
modo ficto em local diverso (ex.: entrega das chaves). O pagamento de prestações relativas ao
imóvel (como a contribuição de condomínio) poderia ser feito pelo sistema bancário.
Havendo motivo grave – como a greve, uma inundação etc. –, o devedor poderá pagar em
lugar diverso do pactuado, desde que não haja prejuízo ao credor (art. 329, CC).
Por fim, em nome da supressio, o pagamento reiterado em lugar diverso do pactuado impli-
ca renúncia, pelo credor, ao lugar previsto no contrato (art. 330, CC).
Quem pode pagar (solver) a dívida? O solvens pode ser o devedor (pessoalmente ou por
meio de representante) ou terceiros.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 13 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
O devedor, por si ou por seu representante, tem direito de pagar e, por isso, no caso de re-
cusa do credor em receber o pagamento, o devedor pode valer-se da figura da ação de consig-
nação em pagamento para, depositando a prestação em juízo, extinguir a obrigação.
Terceiro Interessado
O gabarito é “errado”, pois não há a sub-rogação legal nesse caso de terceiro desinteressado
que paga dívida alheia. Vamos explicar isso.
O terceiro não interessado é aquele cujo patrimônio não está juridicamente sujeito ao adim-
plemento da dívida, mas salda a dívida por outros motivos que não econômicos nem jurídicos.
Ex.: filho que paga débito de seu pai para com sua mãe, para evitar impasse entre genitores.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 14 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Há duas formas de esse terceiro desinteressado pagar a dívida: (1) em nome próprio ou (2) em
nome do devedor. As consequências jurídicas são diversas a depende de cada uma da forma
de pagamento.
Errado.
Em Nome do Devedor
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 15 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
de obrigar o terceiro a receber, como reembolso, o valor da quantia da dívida, com possibilida-
de de, em havendo recusa do terceiro, ser admitida ação de consignação em pagamento. Essa
solução, embora não tenha previsão textual na lei, concilia o direito do terceiro de pagar dívida
e o prestígio à satisfação da dívida com o direito do devedor de se recusar liberalidades.
Em Nome Próprio
Quando o terceiro desinteressado paga em nome próprio, isso significa que ele assumiu a
obrigação para si com a ressalva de reembolsar-se do legítimo devedor. Pagou em seu próprio
nome, com o intento de poder voltar-se contra o devedor. E, nesse sentido, como o devedor
originário poderá ser constrangido em futura ação regressiva a ser manejada por esse terceiro
desinteressado (que pode ser um inimigo que pretende ser mais severo na cobrança da dívida
do que o credor originário), o terceiro interessado que paga em nome próprio não tem direito
de obrigar o credor a receber o pagamento. Em outras palavras, ele não tem direito a propor
ação de consignação em pagamento. Essa é a interpretação do silêncio eloquente do art. 304,
parágrafo único, do CC, que nada diz sobre essa situação. Todavia, se o credor quiser receber
o pagamento desse terceiro desinteressado, nada impede, pois o credor é o senhor do crédito.
Nesse contexto, indaga-se: o terceiro desinteressado que paga a dívida em nome próprio
tem direito a reembolsar-se do valor pago perante o devedor?
De um lado, se o devedor tinha meios para inibir exercício do direito de crédito (ex.: nuli-
dades, prescrição, decadência, compensação total do débito etc.) e o pagamento foi feito ao
seu desconhecimento ou à sua oposição, não há direito de reembolso. Isso, porque o devedor
podia eximir-se da obrigação por outras vias que não o adimplemento direto (art. 305 e 306,
CC). O risco é do terceiro, que não consultou o devedor antes de pagar. Os meios de impedir a
cobrança só podem ser jurídicos para obstar o direito de regresso, de modo que são irrelevan-
tes questões de ordem moral.
Se o devedor tinha meios para impedir apenas parte da dívida, então ele só terá de reembol-
sar o terceiro não interessado que pagou em nome próprio quanto à outra parte da dívida, em
homenagem à vedação do enriquecimento sem causa. Ex.: dívida de R$ 100.000,00; devedor
tinha crédito de R$ 30.000,00 a compensar; nesse caso, se o terceiro desinteressado pagar em
nome próprio, só poderá reembolsar-se dos R$ 70.000,00.
Quanto à compensação como meio para impedir a cobrança, a doutrina costuma men-
cioná-lo sem maiores detalhes. Consideramos que, em nome da vedação do enriquecimento
sem causa, não há motivos para o devedor que invoca a compensação para impedir o pleito
regressivo continua como titular do crédito. Temos que esse crédito deve cedido ao terceiro
que tinha enriquecimento sem causa. Ex.: dívida de R$ 100.000,00; devedor tinha crédito de
R$ 100.000,00 a compensar; nesse caso, se o terceiro desinteressado pagar em nome próprio,
o terceiro não poderá cobrar dinheiro do devedor, mas poderá exigir que o crédito que podia
ser invocado como compensação seja transferido ao terceiro. Nesse caso, o terceiro poderá
cobrar esse crédito.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 16 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
De outro lado, se o devedor não tinha meios para impedir o exercício do direito de crédito
(ex.: nulidades, prescrição, compensação total do débito etc.), há direito de reembolso, em
nome do princípio da vedação do enriquecimento sem causa. Todavia, esse direito de reembol-
so não será robustecido pela sub-rogação, pois não há previsão legal de sub-rogação em favor
do terceiro desinteressado que paga em nome próprio3. Realmente não há justificativa para ro-
bustecer o direito de regresso de um terceiro se aventura a pagar uma dívida que juridicamente
lhe era irrelevante; o direito de reembolso simples lhe é suficiente para evitar enriquecimentos
em causa. Nada impede, porém, que haja sub-rogação convencional, se o credor expressa-
mente prever isso nos termos do art. 347, I, do CPC. Nesses casos, o terceiro só terá direito a
receber o valor exato que pagou corrigido monetariamente, sem acréscimos de cláusula penal,
de perdas e danos ou de outros encargos contratuais que só a sub-rogação transmitiria. O res-
sarcimento decorre da vedação do enriquecimento sem causa, acolhido pelo art. 305 do CC,
que só trata de “reembolso”. A via processual a ser manejada é a actio in rem verso, ação de
enriquecimento sem causa, com fulcro nos arts. 305 e 884 do CC.
É ineficaz o pagamento feito por quem não é dono da coisa entregue (art. 307, CC). Exce-
ção: se a coisa for fungível e o credor estiver de boa-fé e já tiver consumido, o pagamento é efi-
caz. Restará ao antigo proprietário reivindicar outra coisa similar ou perdas e danos do solvens.
Na ausência do alimentante, terceiros que vierem a pagar a dívida alimentar tem direito de
pleitear reembolso do alimentante (art. 871, CC). Todavia, entendemos que o art. 871 do CC
é flexibilizado pelo art. 306 do CC, dada a possibilidade de o devedor eximir-se a ressarcir o
terceiro se possuía exceções obstativa ao exercício da pretensão creditória (como prescrição,
nulidades etc.). Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves (2010, p. 339) discordam e asseguram o
direito de regresso ainda que o devedor tivesse meios para impedir a cobrança da dívida.
Como o art. 871 do CC não prevê a sub-rogação, essa só será devida se o terceiro for
interessado. É terceiro interessado quem juridicamente pode ter seu patrimônio atingido no
caso de inadimplemento do devedor principal. O STJ entende que a mãe, ao pagar ao filho os
alimentos que deviam ser pagos pelo pai (e esse pagamento pode ser feito mediante o custeio
direto de despesas do filho até o valor dos alimentos), é terceira não interessada, pois ela não
poderia ser juridicamente responsabilizada por essa dívida alimentar. Daí decorre que a mãe,
nesse caso, não tem direito à sub-rogação, mas poderá buscar o reembolso contra o pai por
força do art. 871 do CC, observado o prazo prescricional de 10 anos com fundamento no art.
205 do CC. Se ela fosse terceira interessada, teria havido sub-rogação, do que decorreria que
3
Há exceções, como o caso do terceiro desinteressado que paga dívida garantia por propriedade fiduciária (art. 1.368, CC).
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 17 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
o prazo prescricional seria de 2 anos diante da natureza de dívida alimentar (art. 206, § 2º,
CC). É o que decidiu o STJ (REsp 1453838/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe
07/12/2015).
Ademais, diante da omissão do art. 871 do CC, as regras relativas à existência ou não de
direito de obrigar o credor a receber os alimentos serão as regras gerais do art. 304 e seguin-
tes do CC, de sorte que só terceiros interessados e terceiros desinteressados que paguem em
nome do devedor poderão valer-se de ação de consignação em pagamento.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 18 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
a) João deverá demonstrar que o pagamento foi revertido em favor da sociedade, para se exi-
mir das cobranças.
b) os pagamentos efetuados por João são válidos, pois Carlos é considerado credor putativo
c) a validade dos pagamentos realizados por João depende de ratificação por Júlio, proprietá-
rio do imóvel.
d) João terá de pagar novamente o valor cobrado.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 19 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Amigo(a), o tema que abordaremos cai bastante em prova. Veja esta “amostra grátis” para
começar o estudo:
direito de demandar-lhe perdas e danos”.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 20 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 21 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
pois ele, por exemplo, terá custos para conseguir levantar o depósito em juízo (ex.: contratação
de advogado) e, enquanto não levantar a prestação, não terá a disponibilidade da prestação
para investi-la em uma atividade rentável (ex.: aplicação financeiras) etc. Os pagamentos em
consignação feitos em sede de processos judiciais que questionam a validade da dívida exem-
plificam bem isso: o valor depositado fica em conta judicial que é remunerada de forma muito
modesta comparativamente com as aplicações financeiras em geral, de maneira que o credor,
por geralmente não conseguir levantar os valores antes do fim do processo, amargará prejuí-
zos por longo período. Não há direito de o credor pedir indenização por esses danos, salvo se
a consignação em juízo não se encaixasse em nenhuma das hipóteses legais.
Errado.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 22 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
(as famosas ações revisionais de contratos), o autor da ação – diante da natureza litigiosa da
dívida – costuma fazer o pedido para depositar os valores em juízo a fim de afastar os efei-
tos da mora.
Como o pagamento em consignação só pode ocorrer nas hipóteses legais, isso decorre
que a sua utilização sem respaldo legal acarreta a improcedência do depósito. Daí decorre
que o depósito feito sem fundamento legal não extingue a obrigação e, portanto, não afasta os
ônus decorrentes do inadimplemento, como os juros moratórios e os riscos pelo perecimento
da coisa (art. 337, CC).
O devedor pode levantar o próprio depósito que fez enquanto o credor não o impugnar ou
não o aceitar, mas, ao fazê-lo, o devedor estará desistindo do pagamento em consignação e,
portanto, não haverá qualquer extinção da obrigação (art. 338, CC).
A consignação em pagamento, por ser uma forma de extinção da obrigação, libera o deve-
dor da obrigação. Se houver a consignação, portanto, não se poderá falar em mora do devedor.
A questão, porém, é saber se ele tem ou não obrigação de promover a consignação nas
hipóteses legais, sob pena de suportar os encargos decorrentes da mora (juros moratórios,
por exemplo) e de ter de arcar com deveres como os da conservação da coisa. Temos que os
manuais não costumam enfrentar esse tema de forma direta, de modo que ousamos a propor
uma solução nos termos a seguir.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 23 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
O tratamento aí é igual às obrigações de fazer e não fazer, que não admitem consignação em
pagamento por motivos óbvios de inviabilidade material de depósito de um fato: se o credor
estiver em mora, o devedor não será punido por não ter podido cumprir a obrigação de fazer e
de não fazer. Não se pode dar tratamento assimétrico entre as várias espécies de obrigações.
Há, porém, um contratempo em não promover o pagamento em consignação no caso em
pauta (de obrigação de dar coisa). Pesará sobre devedor o dever de responder por eventual
perecimento da coisa por conduta dolosa (culposa não!), conforme art. 400 do CC, o que signi-
fica que o devedor precisará conservar a coisa. A depender do objeto, isso representa prejuízo
financeiro com despesas de conservação, assegurado, porém, o direito do devedor de pleitear
o ressarcimento do credor (art. 400, CC). E esse dever perdurará enquanto a sua dívida não
prescrever, pois, antes da prescrição, o devedor pode ser demandado a cumprir a obrigação.
Daí decorre que o pagamento em consignação é um ônus, e não uma obrigação, do deve-
dor: se ele não promover esse meio indireto de pagamento, ele deixa de se livrar do dever de
conservar a coisa.
Entendemos, porém, que esse contratempo deve ser lido em conjunto com a teoria da
vedação do abuso de direito, da boa-fé e da análise da viabilidade material5. O direito precisa
dialogar com a realidade. Em situações de considerável onerosidade financeira ou pessoal
para a conservação da coisa, de hipossuficiência do devedor, de modéstia do valor da coisa e
de pouca probabilidade de obtenção do ressarcimento das despesas de conservação, não é
razoável impor ao devedor a carga de desperdiçar esforços e dinheiro, de modo que lhe seria
lícito adotar alguma conduta razoável para se desvencilhar do objeto. Em relação de consumo,
essa flexibilização é mais acentuada diante da vulnerabilidade do consumidor. Não há uma
solução predefinida; é preciso ver o caso concreto.
Citamos um caso de que tivemos ciência a propósito dessa situação excepcional. Um con-
sumidor alugou um contêiner para descarte dos resíduos oriundos de uma reforma no seu
apartamento. Ao tentar devolver o contêiner, não conseguiu encontrar nenhum representante
da empresa locadora, pois ela fechara as portas. Cabia à empresa recolher o contêiner e havia
relativa urgência em restituir o contêiner, porque ele estava a ocupar uma vaga de garagem
em área pública, o que expunha o consumidor a receber sanções administrativas. O consumi-
dor, diante desse objeto mastodôntico de custosa conservação e de difícil remoção, chamou
uma empresa concorrente e entregou-lhe o contêiner para seu uso, cientificando-lhe acerca da
origem da coisa. Temos por razoável a solução. A empresa locadora, se reativar as suas ati-
vidades, poderá, com base no seu poder de sequela decorrente do seu direito de propriedade,
buscar o contêiner onde estiver. Afinal de contas, dormientibus non sucurrit jus (o direito não
socorre os que dormem).
5
Tratamos desse conceito em nossa
dissertação de mestrado (http://repositorio.unb.br/bits-
tream/10482/23903/1/2016_CarlosEduardoEliasdeOliveira.pdf) e no início da obra de Parte Geral do Código Civil.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 24 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Nas hipóteses dos incisos IV (dúvida quanto ao credor) e V (objeto litigioso) do art. 334
do CC, não há culpa do credor, o que justifica a obrigatoriedade de o devedor promover o pa-
gamento em consignação ou de, assumindo o risco de ter seu pagamento tido por indevido e,
assim, ter de pagar ao credor correto, pagar ao credor que entenda ser correto (art. 334, IV, CC)
ou entregar o objeto que repute devido (art. 334, V, CC). Se não o fizer, o devedor incorre em
mora e suportará todas as sanções decorrentes, conforme art. 395 do CC (ex.: juros de mora,
multa moratória).
1.4.1. Definição
O assunto “sub-rogação” é muito cobrado em prova. Começo com esta questão de concurso.
O gabarito “certo”, por retratar a regra do art. 351 do CC. No caso de pagamento parcial pelo
sub-rogado, o credor originário seguirá com parte do crédito para si e, nessa condição, terá
preferência na cobrança da dívida em relação ao sub-rogado diante da insolvência do devedor
(art. 351, CC). Assim, se o devedor havia hipotecado um imóvel de R$ 300.000,00 por uma dí-
vida de R$ 500.000,00 e o fiador paga apenas R$ 100.000,00 dessa dívida, teremos a seguinte
situação: o credor originário continuará com um crédito hipotecário de R$ 400.000,00, ao pas-
so que o sub-rogado terá um crédito de R$ 1000.000,00. Como o imóvel hipotecado não cobre
a dívida que subsistiu com o credor originário, o direito de preferência do art. 351 do CC fará o
imóvel ser destinado inteiramente ao pagamento de parte da dívida de R$ 400.000,00; o fiador
será preterido.
Certo.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 25 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 26 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
particular que recaía sobre o apartamento se transferirá para esses automóveis, de sorte que
este, apesar de ter sido adquirido onerosamente na constância do casamento, não se virará
bem comum do casal. Trata-se de mais um caso de sub-rogação real: esses veículos são bens
sub-rogados no lugar do apartamento.
A legislação prevê outros casos de sub-rogação real, como no de regime de bens (arts.
1.659, I e II, 1.668, I, 1.674, I, CC), no de bens deixados pelo morto presumido que reaparece
nos dez anos seguintes à sucessão definitiva (art. 39, CC), no direito real de usufruto ou do di-
reito real de garantia sobre o valor da indenização do seguro paga em razão do perecimento da
coisa originariamente onerada ou sobre o valor pago em caso de desapropriação6 ou de dano
causado por terceiro (arts. 1.407, § 2º, 1.409 e 1.425, § 1º, CC), na remição do penhor ou da
hipoteca por sucessores do devedor (art. 1.429, CC), no penhor (art. 1.446, 1.449 e 1.455, CC),
no pagamento da dívida garantida por hipoteca de primeiro grau por parte do credor titular da
hipoteca de segundo grau (art. 1.478, CC) e na de sub-rogação do bem de família voluntário em
outros adquiridos em seu lugar sob autorização judicial (art. 1.719, CC).
Quando alguém adimple uma dívida que, em última instância, pertence a outrem (hipótese
que, no direito obrigacional, costuma-se citar como exemplo de responsabilidade sem obriga-
ção), pode-se falar em direito de regresso: o pagador poderá voltar-se contra verdadeiro deve-
dor para ressarcir-se. Assim, terceiro que paga dívida alheia, em regra, tem direito de regresso
contra o devedor. O fundamento genérico do direito de regresso é a vedação ao enriquecimen-
to sem causa.
Há situações em que a legislação robustece esse direito de regresso com os privilégios de
que fruía o credor originário, especialmente em situações em que o terceiro foi juridicamente
obrigado a pagar, como no caso de terceiro interessado e do segurador em caso de seguro de
dano. Haveria aí o que chamamos de direito de regresso “robusto”. Esse direito de regresso
“robusto” ocorre por meio da sub-rogação, que transfere ao terceiro todos os privilégios credi-
tórios do credor originário.
Assim, consideramos que a sub-rogação é um fortalecimento do direito de regresso.
Há, porém, quem diga que, na sub-rogação, não há direito de regresso, e sim mero direito
de crédito a ser cobrado pelo terceiro que pagou a dívida.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 27 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Essa sub-rogação francesa, porém, foi fruto da fusão do beneficium cedendarum actionum
com a sucessio in locum dos romanos com adaptações e aprimoramentos. Essas figuras do
direito romano são a origem mais remota da sub-rogação.
O beneficium cedendarum actionum consistia na transferência do crédito com todos os
privilégios a um terceiro que pagava uma dívida, assegurado, porém, ao devedor opor as ex-
ceções que ele possuía contra o credor originário (exceptio cedendarum actionum). Todavia,
como lembra o civilista espanhol Luis Díez-Picazo (2008, p. 992), nas suas primeiras formula-
ções, o beneficium cedendarum actionum não era admitido para a fiança, porque o pagamento
“provocava a extinção do vinculum iuris entre o credor e o devedor, de maneira que não se
podia entrar em uma obrigação já extinta”7. Como se vê, a versão inicial do beneficium ceden-
darum actionum pressupunha a extinção da obrigação em si de uma maneira não sofisticada,
o que a tornava limitada para enfrentar casos relevantes como o do fiador.
Para superar os limites do beneficium cedendarum actionum, os jurisconsultos romanos
Juliano e Paulo passaram a entender que o pagamento feito pelo terceiro seria uma espécie
de compra do crédito, ou seja, um pagamento pela cessão do crédito, o que passava a justificar
a sub-rogação em favor dos fiadores e de outros que eram juridicamente obrigados a pagar a
dívida. Lembra Díez-Picazo que o Direito Romano criou, para alguns casos, a figura do succesio
in locum creditoris, admitindo que os terceiros pagadores sucedam os credores anteriores no
direito de cobrar a dívida do devedor (in locum eorum succedunt).
A evolução do Direito Romano, portanto, com as suas duas figuras embrionárias da sub-
-rogação, oscilava entre uma concepção que prestigia a “extinção da obrigação” (beneficium
cedendarum actionum) e uma que enfocava a existência de uma “cessão de crédito” (succesio
in locum creditoris).
O Direito Francês, ao modelar a sub-rogação na forma como hoje conhecemos, resolveu
esse problema, criando uma figura que mesclasse essas duas percepções. Isso – a nosso
sentir – justifica o fato de a sub-rogação ser prevista no CC francês (assim como sucede no
CC brasileiro) em capítulo dedicado à extinção, e não à transmissão das obrigações. Temos
que essa análise histórica conduz à conclusão de que a sub-rogação envolve uma mistura de
extinção da obrigação e de transmissão ao mesmo tempo, conforme exporemos no capítulo
mais abaixo.
Ademais, a sub-rogação no modelo desenhado pelo Direito Francês, tratou igualmente o ter-
ceiro interessado e o terceiro não interessado, dando-lhes a eles todos os direitos acessórios
vinculados à obrigação originária, o que pareceria injusto na visão de Labbé, citado por Díez-Pi-
cazo (2011, pp. 992-993). O direito francês criou uma sub-rogação legal e uma convencional.
1.4.5. Espécies
Quanto à fonte, a sub-rogação pode ser classificada como legal ou convencional. Diz-se
legal quando ela decorre de lei. Ela é convencional quando da vontade. A sub-rogação, porém,
não se presume; decorre de previsão expressa de lei ou da vontade.
7
Tradução livre.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 28 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Legal
A sub-rogação legal ocorre nos casos previstos em lei. O art. 346 do CC prevê hipóteses
que poderiam ser resumidas apenas na situação de terceiro interessado, assim entendido o
terceiro que juridicamente pode ser beneficiado ou prejudicado por uma outra dívida de ou-
trem. O inciso III desse dispositivo prevê que o terceiro interessado tem direito à sub-rogação
ao pagar a dívida. Isso abrange casos como o do fiador que paga a dívida. Abrange também as
hipóteses dos incisos I e II do art. 346 do CC.
Quanto à hipótese do inciso I, trata-se de situação difícil de ser resumida em poucas pa-
lavras. O próprio texto legal é incompleto ao afirmar haver sub-rogação em prol do “credor
que paga a dívida comum”. O texto deveria ser completado com esta parte em itálico: “credor
que paga a dívida comum ao credor com direito de preferência”. Ainda assim, o texto continua
confuso. Essa hipótese só tem utilidade se houver um direito de preferência envolvido, pois,
do contrário, não há utilidade prática na sub-rogação. Seja como for, não se pode dizer que o
direito de preferência é um requisito legal.
Para explicar essa hipótese obscura, podemos afirmar que ela diz respeito a uma situa-
ção de terceiro interessado que, ao pagar a dívida, beneficia-se juridicamente com a obten-
ção de uma preferência creditória em favor de um crédito que tinha contra o devedor daquela
dívida paga.
O exemplo esclarecerá. João deve R$ 8 milhões ao BB, com garantia hipotecária de primei-
ro grau sobre imóvel de R$ 10 milhões. Deve também R$ 4 milhões ao Banco Santander, com
garantia hipotecária de segundo grau. Nesse caso, se o Santander pagar a dívida do João pe-
rante o BB, opera-se a sub-rogação legal, de sorte que o Santander poderá exigir os 8 milhões
de João, além dos 4 milhões, com garantia de hipoteca de primeiro grau. Se o Santander fosse
um credor quirografário, esse crédito continuaria quirografário se ele pagasse a dívida, mas ele
teria um benefício: poderia executar o bem anteriormente hipotecado. E, quanto ao valor que
desembolsou para quitar a dívida, ele terá direito de regresso com garantia hipotecária diante
da sub-rogação. Em suma, o Santander aí ficaria com dois créditos: um crédito quirografário
decorrente do contrato originariamente firmado com o João e outro hipotecário consisten-
te no reembolso feito para quitar a dívida que o João tinha perante o Banco do Brasil (ação
regressiva).
O inciso II do art. 346 do CC cuida do terceiro que paga dívida para não ser privado de uma
coisa, o que abrange o adquirente de imóvel hipotecado. Ex.: X adquire imóvel hipotecado ao
Banco do Brasil. X paga o saldo devedor garantido pela hipoteca. Nesse caso, X sub-roga-se
nos direitos do BB e pode agir regressivamente contra o alienante.
O inciso III do art. 346 do CC prevê o terceiro interessado como sub-rogado. Essa hipótese
já abrangia as duas acima, a nosso sentir.
Alerte-se que, se o terceiro interessado apenas pagou parte da dívida, a sua sub-rogação
se limite a essa porção (art. 350, CC). E, nessa hipótese, o credor originário terá preferência em
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 29 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Convencional
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 30 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Luis Díez-Picazo (2008, p. 995) quando este expunha as origens dessa espécie de sub-rogação
convencional no direito francês.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 31 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
A sub-rogação decorre de uma extinção da obrigação originária, que é extinta pelo paga-
mento; o pagamento com sub-rogação integra o título “Do Adimplemento e Extinção das Obri-
gações” do Código Civil. Ela implica a extinção de uma obrigação e uma consequente criação
de uma nova obrigação com as mesmas condições da anterior e com uma única diferença: o
credor tornou-se o terceiro (o pagador de dívida alheia). A criação de uma nova obrigação é
consequência do pagamento feito pelo terceiro.
A sub-rogação não se confunde com a novação subjetiva, pois nesta a criação de uma
nova obrigação é a causa (e não uma consequência) da extinção de outra obrigação. O efeito
prático, porém, seria similar quanto ao termo inicial da prescrição: a nova obrigação teria uma
nova pretensão e, portanto, um novo prazo. Todavia, o efeito prático se distinguiria quanto ao
prazo prescricional: o prazo da nova obrigação dependerá da sua natureza; não será o mesmo
da obrigação originária, ao contrário do sucede na novação. Se, por exemplo, o fiador fizesse
um contrato de empréstimo com o Banco para quitar a dívida do afiançado, esse novo contrato
representa uma nova obrigação nascida com o objetivo de extinguir a obrigação do afiançado.
Aí houve novação e, portanto, a nova obrigação terá um novo prazo de prescrição, que se inicia-
rá a partir da data do seu nascimento (da novação). O prazo prescricional não necessariamen-
te coincidirá com a obrigação originária: se, por exemplo, a dívida do afiançado era de aluguel
(prescrição de 3 anos, conforme art. 206, § 3º, I, do CC), o prazo da nova obrigação assumida
pelo fiador perante o Banco a título de contrato de empréstimo terá prescrição diferente: será
5 anos (art. 206, § 5º, I, CC).
A sub-rogação também não se confunde com a cessão de crédito, porque esta não é hipó-
tese de extinção da obrigação, e sim de transmissão da obrigação, de modo que a obrigação
é a mesma. Se o Banco vende (rectius, cede) o seu crédito a outro Banco, não há reinício do
prazo prescricional nem criação de um novo prazo, de modo que, se faltava um mês para a
consumação da prescrição, só resta um mês para o banco cobrar o seu crédito.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 32 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
A imputação do pagamento está disciplinada nos arts. 352 ao 355 do CC e se aplica a si-
tuações em que uma pessoa é devedora de mais de uma dívida líquida, vencida e de mesma
natureza perante o mesmo credor. É o caso típico de pessoas que, perante um banco, possuem
várias dívidas: uma do cheque especial, outra de um empréstimo consignado em folha, outra
de um empréstimo pessoal etc. São requisitos da imputação do pagamento:
• a) pluralidade de obrigações com o mesmo credor e devedor;
• b) obrigações líquidas;
• c) obrigações vencidas.
É requisito implícito o de que o devedor pagará o valor integral da obrigação escolhida, pois
o pagamento parcial não pode ser imposto ao credor por força do art. 314 do CC. Suponha que
X tenha duas dívidas perante Y: uma de R$ 1.000,00 e outra de R$ 500,00. X só tem R$ 600,00.
Nesse caso, não há direito à imputação de pagamento por falta de pluralidade de dívidas entre
as mesmas partes. É que X não tem direito de pagar parcialmente a dívida de mil reais, pois o
pagamento parcial depende de aceitação do credor (art. 314, CC). A única dívida a que o deve-
dor tem direito de pagar é a de R$ 500,009.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 33 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
o devedor que possui várias dívidas perante o mesmo credor pagar aquela que lhe aprouver.
Por isso, a regra do art. 352 do CC é a de que é direito do devedor indicar a dívida que está
sendo paga.
Essa lógica não se aplica, porém, em relação aos acessórios de uma dívida. O devedor
pode escolher a dívida que pretende pagar, mas não pode escolher se pagará o principal ou o
acessório dessa dívida. Nessa hipótese, o pagamento deverá quitar em primeiro lugar os aces-
sórios (como os juros moratórios) e, só depois, o capital, salvo se o credor consentir. Admitir o
contrário seria frustrar a legítima expectativa do credor em, por meio dos encargos acessórios,
aliviar o prejuízo de não ter recebido o principal. O direito de escolha do devedor não pode vio-
lar o direito à justa indenização do credor.
Responda a questão.
009. (CESPE/2017) Márcio contraiu duas dívidas com Joana, nos valores de R$ 300 e R$ 150,
com vencimento, respectivamente, em 20/12/2015 e em 5/1/2016; em 10/1/2016, Márcio en-
tregou a Joana R$ 150, mas não indicou qual dívida desejava saldar. Joana tampouco apontou
qual dívida estava sendo quitada. Nessa situação, presume-se que o pagamento refere-se à
dívida vencida em 5/1/2016, já que o valor entregue importa em sua quitação integral.
O gabarito é “errado”, porque, no silêncio das partes, presume-se que o pagamento ocorreu
com a dívida mais antiga, a de R$ 300,00. O fato de a dívida mais antiga ser maior do que o
valor do pagamento é irrelevante, porque, nesse caso, como o credor recebeu o pagamento, ele
aceitou receber o pagamento parcial (art. 314, CC).
Vamos tratar do tema com mais profundidade.
Se o devedor não imputar o seu pagamento a nenhum das dívidas, nem mesmo de modo im-
plícito – o que ocorre quando o devedor aceita pacificamente uma imputação feita na quitação
(art. 353, CC) –, o Código deixa regras levando em conta a sua vontade presumível do devedor
e o interesse do credor. Nesse caso, o pagamento se dirigirá à quitação da dívida mais antiga
(antiguidade) ou, no caso de contemporaneidade, da dívida mais onerosa (onerosidade), con-
forme art. 355, CC.
Temos que o CC se equivocou nesse ponto. O indivíduo médio paga a dívida mais onerosa
preferencialmente, e não a mais antiga. Se alguém, perante o mesmo credor, possui uma dívida
sujeita a encargos moratórios de 600% a.a. (qual sucede com as dívidas bancárias de cheque
especial) e uma outra submetida a encargos mais módicos de 12% a.a., é evidente que o deve-
dor haveria de quitar a dívida mais onerosa para evitar o engorduramento cavalar do montante
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 34 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
da dívida, ainda que essa dívida seja mais recente. A onerosidade deveria preceder à antigui-
dade na regra supletiva do art. 355 do CC. Todavia, enquanto não modificada a lei, só sobra a
rendição: legem habemus.
Errado.
1.6.1. Definição
Regida pelos arts. 356 ao 359 do CC, a dação em pagamento é a extinção da obrigação em
razão da entrega, pelo devedor, de coisa diversa da pactuada. O devedor dá, como pagamento
(dação em pagamento), objeto diverso daquele a que tinha se obrigado. Ex.: entregar um carro
no lugar do dinheiro; um apartamento no lugar de uma casa; um cheque de terceiro no lugar do
dinheiro. Em respeito ao princípio da exatidão (art. 313, CC), a dação em pagamento depende
de aceitação do credor.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 35 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 36 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
1.7. Novação
Tratada nos arts. 360 ao 367 do CC, a novação é a criação de uma nova obrigação para
extinguir uma obrigação anterior. Etimologicamente, novação deriva de novatio, que significa
ação de renovar. Novar é criar nova obrigação com o objetivo de extinguir a anterior. A intenção
de novar pode ser implícita, mas deve ser inequívoca (art. 361 do CC). A criação da nova obri-
gação tem de ser vontade deliberada das partes.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 37 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
1.7.2. Requisitos
É necessário haver um elemento novo (aliquid novi) na nova obrigação capaz de distingui-la
da anterior. Exige-se uma diversidade substancial entre as obrigações, como a substituição
das partes ou a modificação da dívida (uma nova data de vencimento, um desconto no preço
etc.). A depender do elemento novo, ter-se-á uma espécie de novação, a saber:
• a) Novação objetiva: o elemento novo está nas condições da dívida. Ex. Nova data de
vencimento, uma redução do preço etc.;
• b) Novação subjetiva: o elemento novo está na mudança de um dos sujeitos da obri-
gação (daí o adjetivo subjetiva). Se mudar o credor, tem-se novação subjetiva ativa. Se
alterar o devedor, a novação subjetiva é passiva.
Se as partes não tiverem intenção de novar (animus novandi), a nova obrigação simples-
mente confirma a primeira, de maneira que as duas obrigações subsistem concomitantemente
(art. 361, CC). Sem o animus novandi, a nova obrigação deve ser tida como uma mera alteração
da obrigação anterior. É o que, no quotidiano, costuma-se chamar de “aditivo contratual”.
O animus novandi pode ser expresso e tácito
Não se presume animus novandi. Ele pode ser expresso e até mesmo tácito, desde que seja
inequívoco, ou seja, desde que não deixe dúvidas. Se houver dúvidas, não há novação. Como
o CC não explicita quando o animus novandi é implícito, a doutrina enxerga-o quando a nova
obrigação for incompatível com a antiga, mesmo que inexista previsão expressa de novação.
O STJ já aceitou que a evidente incompatibilidade da nova obrigação com a anterior deixa im-
plícito o animus novandi (STJ, REsp 963.472/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
DJe 29/11/2011).
Como exemplo de obrigações que não permitem inferir a novação diante da sua compatibi-
lidade com a obrigação anterior, podem-se citar aquelas que simplesmente mudam garantias,
alteram o prazo de vencimento e dão desconto no preço. A lembrança é de Maria Helena Diniz
(2012, p. 329). É preciso, porém, sempre ver o caso concreto para buscar saber se há ou não
compatibilidade entre as obrigações.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 38 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Mera tolerância do credor com algum inadimplemento não implica novação, ainda que
essa tolerância possa acarretar alterações nas condições contratuais. É o caso, por exemplo,
do art. 330 do CC: a tolerância do credor em receber pagamento em lugar diverso do contra-
tado não acarreta a extinção da obrigação, mas apenas a alteração de uma condição dela: o
lugar do pagamento.
Seja como for, se, em um acordo de renegociação de dívida, houver previsão expressa
afastando a novação, não haverá animus novandi e, portanto, não haverá extinção de obriga-
ção alguma: a renegociação de dívida apenas confirma a dívida anterior, como se fosse um
mero aditivo contratual (STJ, REsp 169.953/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Barros Monteiro, DJ
25/11/2002).
A novação pode ocorrer mediante a emissão de título de crédito, como uma nota promissó-
ria, desde que estejam presentes os requisitos pertinentes, como o animus novandi (STJ, REsp
963.472/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 29/11/2011).
Não podem ser objeto de novação obrigação nula (por não gerar qualquer consequência
jurídica), extinta (por já não irradiar efeitos) ou inexistentes, conforme art. 367 do CC.
Isso justifica o entendimento do STJ no sentido de que “os contratos bancários são pas-
síveis de revisão judicial, ainda que tenham sido objeto de novação, pois não se pode validar
obrigações nulas (Súmula 286 desta Corte)” (STJ, AgRg no AREsp 124.160/RS, 3ª Turma, Rel.
Ministro Sidnei Beneti, DJe 11/04/2012). A propósito, eis o teor da Súmula n. 286/STJ: “A rene-
gociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discus-
são sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores”.
Por outro lado, obrigações anuláveis podem ser objeto de novação, pois, conforme art. 177
do CC, produzem efeitos enquanto não anuladas por sentença (art. 367, CC).
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 39 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Em solidariedade passiva, qualquer codevedor pode extinguir a obrigação e, por isso, pode
servir-se da novação sozinho. Nesse caso, como a novação implica extinção da obrigação an-
terior (que era solidária), os demais codevedores ficam exonerados (art. 365, CC).
Desse modo, garantias e preferências do crédito extinto, se permanecerem para o novo cré-
dito – o que dependerá de previsão expressa –, só recaem sobre os bens do devedor solidário
envolvido na novação, visto que as garantias dadas por terceiro se extinguem juntamente com
a obrigação anterior, salvo se esse terceiro consentir (art. 364 do CC).
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 40 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
1.8. Compensação
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 41 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
1.8.1. Definição
1.8.2. Requisitos
Conforme arts. 368 e 369 do CC, são requisitos da compensação: (1) reciprocidade das
obrigações: o credor de uma obrigação é o devedor da outra, ou seja, as mesmas pessoas
são reciprocamente credoras e devedoras; (2) liquidez delas: o objeto da obrigação deve estar
individualizado, ou seja, o gênero, a qualidade, a quantidade da obrigação estão especificadas;
(3) vencimento delas: a obrigação, no momento da compensação, já tem de ser suscetível de
cobrança forçada, ou seja, tem de ser atualmente exigíveis, o que ocorre no caso de obriga-
ções vencidas e o que afasta a compensação para obrigações naturais ou sujeitas a termo ou
condição suspensiva ainda pendentes; e (4) fungibilidade recíproca das obrigações: as dívidas
têm de ser, entre si, fungíveis; as suas prestações têm de ser substituíveis entre si; o objeto de
uma obrigação tem de ser coisa do mesmo gênero, qualidade e espécie da outra obrigação;
não basta que as obrigações sejam individualmente fungíveis.
Assim, uma obrigação de pagar dinheiro não é compensável com a de entregar grãos
de arroz, pois, apesar de ambas as obrigações serem individualmente fungíveis, não o são
entre si: dinheiro não é substituível por arroz. Duas dívidas pecuniárias, porém, podem ser
compensadas.
A diversidade do lugar de pagamento não impede a compensação, desde que seja feita a
dedução das despesas necessárias à operação, como os gastos com transporte da coisa e
as variações cambiais de cada lugar do pagamento (art. 378, CC). As obrigações se tornam
fungíveis entre si com essa dedução.
Dívidas pecuniárias fixadas em moedas diversas não descaracterizam a fungibilidade
das obrigações; bastará, no entanto, fazer a conversão cambial no momento da extinção da
obrigação.
1.8.3. Espécies
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 42 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
A compensação legal decorre automaticamente de lei e pode ser alegada pelo credor inde-
pendentemente do consentimento da outra parte. O principal exemplo é a previsão genérica do
art. 368 do CC, que fixa a compensação como regra para situações de obrigações recíprocas.
A compensação voluntária ou convencional decorre de acordo entre as partes. Se, por
exemplo, uma obrigação ainda não venceu, ela não enseja a compensação legal por falta de
um requisito essencial (a exigibilidade), mas nada impede que as partes, por acordo expresso,
utilizem essa obrigação inexigível para extinguir, por compensação voluntária, outra obrigação.
Doutrina majoritária cita também uma terceira espécie, a compensação judicial, assim en-
tendida aquela que é determinada pelo juiz com base em lei, a exemplo da compensação de
honorários advocatícios sucumbenciais determinada em sentença no caso de sucumbência
recíproca quando isso era admitido no nosso ordenamento11. Outro exemplo é a compensa-
ção alegada pelo réu na contestação e reconhecida pelo juiz na sentença. Temos por indevida
essa última espécie, pois a reputamos como inclusa na hipótese de compensação legal: o juiz
apenas declara a compensação que já ocorreu desde o momento do nascimento da obrigação.
Nossa inspiração provém do pai do CC/16, Clóvis Bevilaqua (1958, p. 133).
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 43 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Definições
O art. 375 do CC dispõe sobre a renúncia expressa, ao autorizar as partes pactuarem a in-
compensabilidade da dívida13 ou ao permitir que o credor renuncie unilateralmente o direito de
alegar a compensação. Lei poderá impedir essa renúncia.
A renúncia tácita à compensação não ocorre com a mera inação do credor. A relevância
da compensação não permite essa banalização. Essa inércia precisa estar acompanhada de
uma causa legal expressa. Daí decorrem algumas consequências relevantes, abaixo indicadas.
Casos Especiais
Prazo de Favor
A mera concessão gratuita de um prazo adicional para o pagamento da dívida, por exem-
plo, não implica renúncia à compensação (art. 372, CC). De fato, o caráter obsequioso da
prorrogação torna injusto punir o generoso e prestigiar desproporcionalmente o beneficiário
da benesse14.
Se o devedor, ao tomar ciência de que o credor está a ceder o crédito a outrem, mantém
silêncio, isso implica uma renúncia tácita de ele vir a, posteriormente, alegar que essa dívida
estava extinta por compensação com uma outra dívida que o cedente tinha. A compensação
tem de ser invocada logo após o devedor tomar ciência da cessão em respeito à boa-fé do ces-
sionário (art. 377, CC). Não importa o fato de a compensação legal operar-se de pleno direito,
pois, conforme já explicitado, o interessado tem de pleitear o reconhecimento judicial dessa
compensação: a negligência do interessado não pode ser relevada diante da boa-fé do terceiro.
Se a cessão de crédito não for notificada ao devedor, ela é ineficaz em relação a ele, de
modo que nada o impedirá de opor a compensação (arts. 290 e 377, CC).
Definição
A compensação não pode prejudicar terceiros; ela só extingue obrigações que possuam as
mesmas pessoas como reciprocamente credoras e devedoras. Esse é o princípio da personalidade,
13
Nesse caso, não se teria uma renúncia propriamente dita, assim entendida aquela que é fruto de um ato unilateral do titular
do direito. Aí se terá um ato bilateral de exclusão da compensação. Preferimos, no entanto, entender que esse acordo de
exclusão da compensação pode ser equiparada a uma renúncia também.
14
Trata-se de um exemplo do que designamos de lógica de justiça da “proteção sem prestígio” para a tutela da gratuidade.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 44 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
sediados nos arts. 371 e 380 do CC. Trata-se de uma decorrência da regra do res inter alios
acta, segundo a qual ninguém pode ser prejudicado ou beneficiado por coisas entre terceiros.
Exceções a esse princípio depende de lei.
De redação confusa, o art. 376 do CC prevê uma situação que confirma o princípio da per-
sonalidade e se aplica-se a situações como a de estipulação em favor de terceiro. Esse dispo-
sitivo foi uma variação do que constava no projeto primitivo do Código Civil de 1916 e, apesar
dos ajustes redacionais ocorridos, a sua interpretação deve ser no sentido de a estipulação
em favor de terceiro ser o principal foco do art. 376 do CC (Beviláqua, 1958, p. 140). O devedor
não pode invocar crédito que tenha com o estipulante para extinguir, por compensação, a sua
dívida perante o terceiro. Falta aí a reciprocidade das obrigações. Assim, no caso de um seguro
de vida, a seguradora não pode se recusar a pagar a cobertura ao terceiro beneficiário, alegan-
do compensação com uma dívida que o falecido – que era o estipulante – tinha. Em razão do
contrato de seguro, a seguradora é devedora perante o terceiro beneficiário, e não perante o
segurado, o que afasta a possibilidade de invocar compensação. Nada impede, porém, que,
na hipótese de o terceiro beneficiário ter alguma dívida perante a seguradora, haver a com-
pensação com essa dívida, pois aí sim haverá reciprocidade de credores e devedores entre as
mesmas pessoas (princípio da personalidade).
Há quem aplique o art. 376 do CC para impedir a compensação nos casos de mandatário,
tutor e curador. Parece-nos, no entanto, que o fundamento jurídico para esses casos é o art.
371 do CC, que enuncia o princípio da personalidade. É que o mandatário, tutor e curador são
apenas representantes de outrem e, portanto, as dívidas pessoais desses representantes pe-
rante terceiros jamais poderiam ser levadas em conta para extinguir créditos que o represen-
tado possui perante esses terceiros. Se João nomeia um advogado para, como mandatário,
cobrar um crédito perante o banco, o banco só poderá invocar compensação com créditos que
o banco tenha perante João, e não perante o seu advogado. Assim, se o advogado tinha muitas
dívidas perante o banco (como as cheque especial), isso é irrelevante para que ele, como man-
datário, cobre a dívida perante o banco. Seja como for, a controvérsia entre os arts. 371 e 376
do CC como fundamento jurídico é meramente estética, pois o resultado prático é o mesmo: o
credor do representado não pode pleitear compensação com as dívidas pessoais do represen-
tante (tutor, do mandatário e do curador).
Diferentemente do que sucede com o mandato em geral, temos que, se se tratar de manda-
to em causa própria (art. 685 do CC), o terceiro poderá compensar a sua dívida com os créditos
que tiver tanto perante o mandante quanto perante o mandatário.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 45 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Afinal de contas, nesse caso, o mandatário atua em interesse próprio, e não na do mandan-
te, a quem sequer terá de prestar contas. E, por se tratar de um mandato – que envolve poder
de representação –, o mandatário continuará exposto às exceções pessoais que poderiam ser
opostas contra o mandante.
Em nome da vedação do enriquecimento sem causa, se a compensação se basear em
dívida que o mandante tinha, é de reconhecer ao mandatário o direito de sub-rogação contra o
mandante, por aplicação extensiva do art. 346, III, do CC: o mandatário teve interesse jurídico
em pagar indiretamente15 a dívida de outrem. Entendimento diverso enriqueceria indevidamen-
te o mandante.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 46 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
penhora. Para efeito de compensação, o executado só pode ser considerado o credor até a
data da penhora. Daí indaga-se: o devedor poderá recusar-se a fazer os pagamentos, alegando
a extinção da obrigação penhorada por compensação? Se o crédito a ser utilizado como com-
pensação já existia antes da penhora com todos os requisitos legais presentes e o executado
era o devedor, a compensação é plenamente devida, pois a compensação legal ocorre de pleno
direito (Beviláqua, 1958, p. 143). Se, porém, o crédito tiver surgido ou tiver preenchido os requi-
sitos legais posteriormente à penhora e o executado era o devedor, não cabe a compensação
por faltar o requisito da “reciprocidade das obrigações”. É essa a inteligência do art. 380 do
CC em consonância com o princípio da personalidade: a compensação não pode prejudicar
terceiros.
Um exemplo facilitará. João está devendo R$ 10.000,00 à Construtora Ipiranga. Esta está
sendo executada judicialmente por um banco. O banco consegue penhorar esse crédito que a
construtora possuía, de modo que João foi intimado judicialmente a depositar, em juízo, o valor
da dívida. Nesse caso, João poderá alegar compensação para se livrar do pagamento dessa
dívida de R$ 10.000,00?
Se a Construtora Ipiranga devia a João R$ 10.000,00 antes da penhora e se essa dívida já
era vencida, líquida e fungível, a compensação já tinha ocorrido antes da penhora; só faltava
uma declaração judicial retroativa. A penhora, portanto, deve ser cancelada, porque recaiu so-
bre um crédito que já havia sido extinto pela compensação legal.
Se, porém, a Construtora só passou a dever R$ 10.000,00 ao João depois da penhora ou se
essa dívida só se tornou vencida, líquida e fungível depois da penhora (ex.: construtora veio a
ser condenada judicialmente a pagar indenização por dano moral ao João após a penhora), a
compensação é indevida por faltar reciprocidade de credores e devedores, pois, com a penhora,
o exequente deve ser considerado o credor do crédito penhorado para efeito de compensação.
De qualquer forma, se o Banco estiver devendo R$ 10.000,00 ao João (ex.: o banco foi
condenado judicialmente a pagar uma indenização ao João nesse valor), não enxergamos
obstáculo algum a que o João invoque a compensação para extinguir as obrigações. Nesse
caso, por aplicação analógica do art. 346, III, do CC, João deve ser considerado um terceiro
interessado que está pagando indiretamente a dívida executada por meio da compensação e,
por isso, ele se sub-rogará nos direitos que o Banco tinha perante a construtora.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 47 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Diferenças de causas das obrigações não impedem a compensação, salvo nos casos estri-
tamente previstos em lei. O art. 373 do CC cataloga três grupos de hipóteses, a seguir tratados.
O inciso I do art. 373 do CC veda a compensação no caso de três atos criminosos: esbulho,
furto ou roubo. O motivo é a extrema torpeza que subjaz esses crimes. Não dá para prestigiar,
de modo algum, invasor e ladrão. É nesse sentido que a compensação não será admitida nem
mesmo com dívidas de mesma origem (Beviláqua, 1958, pp. 137-138). Assim, se alguém rouba
um dinheiro, ele terá a obrigação de restituir esse valor ao proprietário. Essa sua obrigação ja-
mais poderá ser compensada com outra dívida que o proprietário eventualmente tenha perante
o ladrão, ainda que essa dívida provenha também de roubo. Cada uma das dívidas poderá ser
exigida sem ser obstada pela compensação.
O inciso II do art. 373 do CC proíbe a compensação para três tipos de dívidas cuja natureza
seria desfigurada com a compensação: dívida de comodato, de depósito ou de alimento.
A natureza da obrigação de restituir a coisa por parte do comodatário e do depositário en-
volve elevadíssimo grau de fidúcia, de confiança. Admitir que essas pessoas se recusem
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 48 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
a devolver o bem sob a alegação de compensação abalaria a confiança irrestrita que deve
imperar nesses tipos de contrato. Há duas ressalvas a fazer. A primeira é a de que, no caso de
depósito, o art. 638 do CC excepciona a regra, admitindo a compensação da dívida de depósito
apenas se a o crédito a ser compensado também proceder de um contrato de depósito. A iden-
tidade de origem das obrigações justifica a compensação aí. A segunda é a de que, embora
não haja previsão legal expressa para o comodato, o fato é que essa exceção do art. 638 do
CC deve ser estendida, por analogia, para permitir que o comodatário invoque a compensação
com créditos que ele tenha por força de comodato. A analogia se justifica pelo fato de que a
lógica de justiça que arrima o art. 638 do CC é a mesma para o comodato: a origem das causas
é idêntica. A favor dessa analogia, Clóvis Beviláqua (1958, p. 138) lembra que, em ambos os
casos. “a razão de decidir é a mesma”.
No caso de alimentos, a sobrevivência do alimentado está em jogo e, por isso, não se lhe
pode condenar à indigência por conta de uma compensação. Essa incompensabilidade da dívi-
da de alimentos, todavia, não é absoluta; o STJ admite, de modo muito excepcional, a compen-
sação com créditos que tenham vinculação direta com a sobrevivência do alimentado, como
no caso de um caso concreto em que o alimentante compensou parcialmente a sua dívida de
alimentos com o crédito que ele passou a ter após pagar a contribuição do condomínio rela-
cionada ao apartamento em que vivia o alimentado. O fundamento é evitar manifesto enrique-
cimento sem causa do alimentado (STJ, REsp 982.857/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministro Massami
Uyeda, DJe 03/10/2008).
Motivo de Impenhorabilidade
O inciso III do art. 373 do CC veda a compensação se o objeto de qualquer das obrigações
for impenhorável. As hipóteses de impenhorabilidade legal estão no art. 833 do CC. Se um
bem é impenhorável, ele também não ser objeto de compensação legal. A compensação legal
é imposta pelo interessado à outra parte. Admitir a compensação em detrimento de bens im-
penhoráveis seria desvirtuar o regime da impenhorabilidade de bens.
Entendemos que, em regra, nada impede que o titular do bem impenhorável abra mão des-
se privilégio e autorize a compensação. Há, porém, exceções, especificamente quando se tra-
tar de impenhorabilidades que não possam ser renunciadas voluntariamente pelo devedor. Por
exemplo, há discussão se a impenhorabilidade do bem de família pode ou não ser renunciada.
Deixamos, porém, de aprofundar o assunto neste momento.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 49 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
1.9. Confusão
www.grancursosonline.com.br 50 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
010. Enzo e Lucas são grandes amigos e, por estar Enzo em dificuldades financeiras, Lucas
emprestou-lhe R$2.000,00, ficando acertado que a devolução do numerário ocorreria 30 dias
depois. Passado um mês, Enzo disse que continuava com grave dificuldade e que não teria
dinheiro para honrar o compromisso. Penalizado com a situação, Lucas resolveu perdoar a
dívida, afirmando que uma boa amizade teria maior valor que dinheiro. Enzo agradeceu a sen-
sibilidade e aceitou a oferta do amigo.
No caso apresentado, a obrigação foi extinta por:
a) remissão;
b) transação;
c) dação em pagamento;
d) remição;
e) compensação.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 51 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
QUESTÕES DE CONCURSO
011. (PUC-PR/AUDITOR-FISCAL/PREFEITURA DE CAMPO GRANDE-MS/2019/ADAPTADA)
O nosso dia a dia é permeado de obrigações, das mais relevantes até aquelas irrelevantes do
ponto de vista jurídico. E o Direito Civil pátrio consagra diversas formas de adimplemento e
extinção das obrigações, e uma dessas modalidades de extinção das obrigações é quando um
credor aceita receber prestação diversa da que lhe é devida originalmente. A essa modalidade
damos o nome de
a) Dação em pagamento.
b) Novação.
c) Imputação.
d) Compensação.
e) Confusão.
CAPÍTULO V
Da Dação em Pagamento
Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.
Letra a.
Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser,
dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do
devedor, salvo oposição deste.
Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembol-
sar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.
Certo.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 52 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
pagar, mas não se sub-roga nos direitos do credor; se pagar antes de vencida a dívida, só terá
direito ao reembolso no vencimento.
Pai é terceiro não interessado, pois lhe falta interesse jurídico: ele não será juridicamente atin-
gido pela dívida do filho. Logo, ao contrário do dito na questão, (1) o pai não tem direito de, em
nome próprio, obrigar o credor a receber o pagamento, pois esse direito é dado ao terceiro de-
sinteressado que paga em nome do devedor; (2) não há sub-rogação legal em hipótese alguma
de pagamento por terceiro desinteressado. São os arts. 304 e 305 do CC.
Errado.
Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era
credor.
Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constran-
ger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.
Errado.
O erro está na parte final da questão: cabe direito de regresso contra o credor (art. 312, CC).
Errado.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 53 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
A parte final da questão está errada, conforme art. 309 do CC, que protege o pagamento feito
ao credor putativo (àquele que aparenta ser credor no caso concreto).
Errado.
É válido, ainda que provado que ele não era credor (art. 309, CC).
Errado.
A presunção não é absoluta, pois pode ser afastada se houver circunstâncias contrárias. É o
art. 311 do CC:
Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as cir-
cunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.
Errado.
Credor não é obrigado a receber prestação diversa da pactuada, nem se for mais valiosa. Tra-
ta-se do princípio da exatidão, previsto no art. 313 do CC:
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 54 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa.
Errado.
O erro está apenas na parte final: é o credor que pode escolher entre dois ou mais lugares pac-
tuados (art. 327, parágrafo único, CC). Veja o art. 327 do CC:
www.grancursosonline.com.br 55 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no con-
trato ou marcado neste Código:
I – no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II – se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;
III – se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o
devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará
vencido quanto aos outros devedores solventes.
Errado.
Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer
aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.
Errado.
A incapacidade do credor é irrelevante se efetivamente este tiver sido beneficiado com o paga-
mento. De fato, se for provado que o credor se beneficiou com o pagamento, este é válido, sob
pena de enriquecimento sem causa do credor. A ideia é a de que, se não tiver havido prejuízo,
não há por que invalidar o pagamento. É o art. 310 do CC:
Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não
provar que em benefício dele efetivamente reverteu.
Certo.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 56 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Vale sim, se tiver sido provado que o credor foi beneficiado com o pagamento (art. 310, CC).
Errado.
Alienação a non domino é a feita por quem não é dono. A questão está afirmando que Mévio
entregou sacas de café que, na verdade, pertenciam a Adriano. Nesse caso, como Mévio esta-
va de boa-fé, como ele já consumiu a saca e como se tratava de coisa fungível, o art. 307, pará-
grafo único, do CC o protege, impedindo que o verdadeiro proprietário (Adriano) reivindique as
sacas. Veja o referido dispositivo:
Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por
quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor
que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.
Errado.
Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só
valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
Certo.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 57 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
c) Do adquirente do imóvel hipotecado, que paga ao credor hipotecário, bem como do terceiro
que efetiva o pagamento para não ser privado do direito sobre o imóvel.
d) Quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob
condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado
pela dívida toda.
Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos ou-
tros coobrigados.
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:
I – do credor que paga a dívida do devedor comum;
II – do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que
efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;
III – do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em
parte.
Art. 347. A sub-rogação é convencional:
I – quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus
direitos;
II – quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condi-
ção expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
Art. 1.368. O terceiro, interessado ou não, que pagar a dívida, se sub-rogará de pleno direito no cré-
dito e na propriedade fiduciária.
Letra d.
Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consen-
timento deste.
Errado.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 58 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Só as nulas ou extintas é que não podem ser objeto de novação. Ao contrário do dito na ques-
tão, as obrigações anuláveis podem ser objeto de novação, até porque a anulabilidade, ao
contrário da nulidade, pode ser convalescida por conduta da parte (arts. 172 a 175, CC). Essa
é a lógica do art. 367 do CC:
Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.
Art. 173. O ato de confirmação deve conter a substância do negócio celebrado e a vontade expressa
de mantê-lo.
Art. 174. É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo de-
vedor, ciente do vício que o inquinava.
Art. 175. A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos
arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o
devedor.
Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obriga-
ções nulas ou extintas.
Certo.
Ao contrário do dito na questão, obrigação anulável pode ser objeto de novação (art. 367, CC).
Errado.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 59 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Para haver novação, é essencial haver o ânimo inequívoco de novar (animus novandi), ainda
que tácito, sob pena de a nova obrigação ser considerada uma mera confirmação da anterior,
como se fosse um “mero aditivo contratual” (art. 361, CC). Nesse sentido, segundo a doutri-
na, o mero adiamento do prazo de pagamento não implica novação, mas é um mero “aditivo
contratual”, ou seja, uma mera confirmação da obrigação anterior com um pequeno ajuste no
prazo de pagamento. Por isso, está errada a questão. Veja o art. 361 do CC:
Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito, mas inequívoco, a segunda obrigação
confirma simplesmente a primeira.
Errado.
Ao contrário do dito na questão, é possível que a novação seja tácita, desde que a intenção de
nova seja inequívoca (art. 361, CC).
Errado.
Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipula-
ção em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese,
se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação.
Errado.
A nova obrigação não pode prejudicar terceiros que não participaram dela, a exemplo do fiador.
Essa é a lógica do art. 366 do CC (que dá a resposta à questão em pauta) e também de outros,
como o art. 365 do CC. Leia os preceitos:
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 60 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens
do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os ou-
tros devedores solidários ficam por esse fato exonerados.
Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.
Certo.
Não há esse direito de regresso, salvo má-fé do devedor primitivo. Afinal de contas, é risco de
o novo credor aceitar um novo devedor. É o art. 363 do CC:
Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra
o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição.
Errado.
Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no
compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento.
Certo.
Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o cre-
dor dele lhe dever.
Certo.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 61 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode
compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.
Certo.
Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.
Errado.
046. (CESPE/AUDITOR/SEFAZ-RS/2019) Pedro tem uma dívida líquida, certa e vencida com
Carlos, que reside em lugar incerto. Maria, amiga de Pedro e terceira não interessada na re-
lação jurídica de Pedro e Carlos, resolveu efetuar o pagamento da dívida. Como Maria não
localizou Carlos, ela efetuou depósito judicial em nome e à conta de Pedro, que não se opôs e,
assim, a dívida foi extinta.
Considerando o disposto no Código Civil, Maria procedeu a um(a)
a) pagamento com sub-rogação.
b) dação em pagamento.
c) novação.
d) imputação do pagamento.
e) pagamento em consignação.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 62 de 64
DIREITO CIVIL
Obrigações – Parte III
Carlos Elias
GABARITO
11. a
12. C
13. C
14. E
15. E
16. E
17. E
18. E
19. E
20. E
21. E
22. E
23. E
24. E
25. E
26. E
27. C
28. E
29. E
30. C
31. d
32. E
33. E
34. E
35. C
36. E
37. E
38. E
39. E
40. C
41. E
42. C
43. C
44. C
45. E
46. e
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
www.grancursosonline.com.br 63 de 64
Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Glenda Vieira - 40957466889, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.