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DIREITO CIVIL

Responsabilidade Civil – Parte IV

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Responsabilidade Civil – Parte IV
Carlos Elias

Sumário
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Responsabilidade Civil – Parte IV................................................................................................. 4
1. Classificação da Responsabilidade Civil................................................................................. 4
1.1. Quanto à Origem........................................................................................................................ 4
1.2. Responsabilidade pela Quebra da Confiança: uma Terceira Categoria?. . ..................... 6
1.3. Quanto à Culpa.......................................................................................................................... 7
1.4. Responsabilidade Objetiva..................................................................................................... 8
2. Pressupostos da Responsabilidade Civil. . .............................................................................12
2.1. Conduta......................................................................................................................................13
2.2. Culpa..........................................................................................................................................21
2.3. Nexo Causal............................................................................................................................. 22
2.4. Dano.......................................................................................................................................... 24
2.5. Excludentes da Responsabilidade Civil............................................................................. 36
Questões de Concurso.................................................................................................................. 43
Gabarito............................................................................................................................................ 69

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Responsabilidade Civil – Parte IV
Carlos Elias

Apresentação
Amigo(a), você vai acertar tudo, tudo, tudo de Direito Civil na tua prova!
Vamos continuar na nossa aula de Responsabilidade Civil.

Resumo

Aluno(a), quem tem pressa deve ler, ao menos, este resumo e, depois, ir para os exercícios.
É fundamental você ver os exercícios e ler os comentários, pois, além de eu aprofundar o conte-
údo e tratar de algumas questões adicionais, você adquirirá familiaridade com as questões. De
nada adianta um jogador de futebol ter lido muitos livros se não tiver familiaridade com a bola.
Seja como for, o ideal é você ler o restante da teoria, e não só o resumo, para, depois, ir
às questões.
O resumo desta aula é este:
• Quanto à origem, a responsabilidade pode ser contratual (quando decorre da violação de
um dever contratual) ou extracontratual (quando decorre da violação de um dever legal);
• O STJ admite a responsabilidade pela quebra da confiança como uma terceira categoria
diferente das duas espécies de responsabilidade acima (contratual e extracontratual);
• Quanto à culpa, a responsabilidade pode ser subjetiva ou objetiva;
• Responsabilidade objetiva é a que dispensa a prova de culpa. É exceção: depende de lei,
pois excepciona a regra geral do caput do art. 927 do CC. O parágrafo único do art. 927
do CC admite a responsabilidade civil em dois casos: (1) quando for aplicável a teoria do
risco e (2) quando houver lei específica;
• Os pressupostos da responsabilidade são a conduta, a culpa, o nexo causal e o dano.
Em regra, sem esses pressupostos, não há responsabilidade civil;
• Levando em conta a conduta, a responsabilidade civil pode ser direta ou indireta;
• A responsabilidade direta ou por ato próprio se dá quando o agente é responsabilizado
por uma conduta que ele mesmo adotou. É a regra geral da responsabilidade civil e está
prevista genericamente no art. 927, caput, do CC;
• A responsabilidade indireta ocorre quando alguém responderá por um dano causado por
conduta de um terceiro ou por uma coisa ou animal. É exceção e, por isso, depende de
lei;
• Os principais danos indenizáveis são os danos material, moral, estético e existencial,
além da perda de uma chance e da perda do tempo útil;
• As excludentes de ilicitude são excludentes de responsabilidade civil;
• No caso da responsabilidade objetiva, apenas o fortuito externo é excludente, por se
tratar de risco alheio à atividade;
• Se a responsabilidade objetiva for fundada na teoria do risco integral, não há fortuito
externo, pois todos os riscos são considerados inerentes à atividade e, por isso, nenhum
fortuito será excludente.

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RESPONSABILIDADE CIVIL – PARTE IV


1. Classificação da Responsabilidade Civil
1.1. Quanto à Origem
Violação de um contrato (ou melhor, de
um negócio jurídico)
Excepcionalmente violação de lei pode
ensejar responsabilidade contratual
Credor NÃO precisa provar culpa, apenas
Contratual
o INADIMPLEMENTO Ex.: pensão alimentícia
Juros de mora: data da interpelação
Responsabilidade judicial ou extrajudicial, salvo mora ex re

civil quanto à Dever de


origem Violação de obrigação legal cuidado objetivo

Regra pode ser flexibilizada:


Extracontratual Credor deve provar a CULPA, e inversão do ônus da prova e
não apenas o DANO responsabilidade objetiva
Juros de mora: da data do dano

Aluno(a), resolva a questão.

001. (CESPE/JUIZ/TRF-2ª/2009) Na responsabilidade contratual, a distinção entre culpa e


dolo, para fins de indenização, será irrelevante conforme a natureza do contrato.

Quando se trata de um negócio jurídico gratuito, a parte generosa só responde por dolo, nos
termos do art. 392 do CC.
Errado.

Vamos tratar um pouco sobre responsabilidade contatual e extracontratual!


Quanto à origem, a responsabilidade civil pode ser contratual ou extracontratual. Marcos
Ehrardt Jr. (2012, pp. 333-334), com acerto, prefere designar essas duas espécies de responsa-
bilidade como negocial e extranegocial, pois descumprimentos de negócios unilaterais (como
a promessa de recompensa), que não são contratos, encaixam-se como responsabilidade civil
negocial. Os termos contratual e extracontratual não exprimem todos os casos por eles abran-
gidos. Manteremos, porém, a nomenclatura antiga pela sua consolidada tradição. É o que cai
em concurso público.
A responsabilidade extracontratual ou aquiliana decorre da violação direta de obrigação
legal. Diz respeito a descumprimento de deveres gerais previstos em lei, como os oriundos do
dever de cuidado objetivo (arts. 186 e 187, CC), dos direitos reais, dos direitos da personalidade

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e dos direitos de autor. O dever de cuidado objetivo é aquele que exige que todos adotem con-
dutas cautelosas para não causar danos a outrem (art. 186, CC) e não se portem com abuso
de direito (art. 187, CC). O fundamento legal da responsabilidade extracontratual são especial-
mente os arts. 186, 187, 402, 927 e 944 do CC.
A responsabilidade contratual é a que decorre da violação de uma obrigação contratual, ou
melhor, de uma obrigação de um negócio jurídico, inclusive os unilaterais, como a promessa
de recompensa etc. Excepcionalmente, deve-se admitir como contratual a responsabilidade
decorrente da violação de uma obrigação nascida de lei, quando esta for, por um negócio jurí-
dico ou judicial, individualizada, como o dever de pagar alimentos. Essa intermediação humana
por um negócio ou um ato judicial torna contratual a responsabilidade. É nesse sentido que se
deve entender os doutrinadores que, como Carlos Roberto Gonçalves (2011, p. 45), defendem
que, excepcionalmente, violação de lei pode ensejar responsabilidade contratual. O fundamen-
to legal da responsabilidade contratual são especialmente os arts. 389, 402, 475 e 927 do CC.
A título de exemplo, se um ônibus de transporte coletivo se envolve em um acidente, atropelan-
do um transeunte e causando lesões nos passageiros, haverá responsabilidade civil contratual
da empresa transportadora perante os passageiros por violação ao dever de proteção inerente
ao contrato de transporte mantido com estes (cláusula de incolumidade tácita no contrato) e
haverá responsabilidade extracontratual da empresa perante o transeunte por desrespeito ao
dever legal de cuidado objetivo (art. 186, CC): não há contrato com transeunte.
Aluno(a), diga-me: qual é a relevância prática em classificar a responsabilidade civil em
contratual ou extracontratual?
Há duas principais.
Uma utilidade prática da classificação é a de que, na responsabilidade contratual, o credor
não precisa provar culpa, mas basta provar o inadimplemento contratual. O inadimplemento,
por si só, faz presumir a culpa, admitido, porém, que o devedor faça prova em contrário para
afastar a culpa. Já na responsabilidade extracontratual, a vítima tem de provar a culpa do
causador do dano. Não basta apenas provar o dano. Essa regra geral, todavia, pode ser flexibi-
lizada por lei, pois há casos de inversão de ônus da prova por lei (como no art. 6º, VIII, do CDC
e na teoria da distribuição dinâmica da prova prevista no art. 373, § 1º, do CPC) e há casos de
responsabilidade objetiva, para qual é irrelevante a prova de culpa.
Outra utilidade da classificação é o termo inicial dos juros de mora. Na responsabilidade
extracontratual, é a data do dano. Na responsabilidade contratual, é a data da interpelação
judicial (geralmente a citação) ou extrajudicial, salvo quando se tratar de mora ex re, em que o
termo inicial será a data do advento do termo (STJ, REsp 1513262/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 26/8/2015). Sobre o tema, reportamos ao que escrevemos nas
aulas de Direito das Obrigações.

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1.2. Responsabilidade pela Quebra da Confiança: uma Terceira


Categoria?
Não é Não, pois deriva do dever
Seria 3º categoria? de boa-fé objetiva
contratual nem
extracontratual
Responsabilidade
civil pela quebra
de confiança Lesão causada
por frustração
à legitima
expectativa

Aluno(a), vocês já ouviram falar em responsabilidade pela quebra da confiança? Isso seria
uma terceira categoria de dano? O STJ analisou esse tema e, por isso, há chances de isso ser
cobrado em concurso.
Enquanto a responsabilidade contratual decorre da violação de uma prestação pactuada
entre as partes e a responsabilidade extracontratual deriva do descumprimento de um dever
genérico de abstenção, há corrente doutrinária a sustentar uma terceira categoria de respon-
sabilidade: a responsabilidade pela quebra da confiança. Esta não seria contratual, porque não
necessariamente se vincula a um contrato, nem seria extracontratual, pois não se relaciona a
um dever genérico de abstenção (Rosenvald; Farias; Braga Netto; 2015, p. 72).
A responsabilidade pela quebra da confiança consiste nos danos causados a uma vítima
em razão da frustração de uma legítima expectativa criada pelo agente com sua conduta.
Não se confundiria com a responsabilidade pré-contratual, porque esta tem, como foco, a ce-
lebração futura de um contrato, meta essa inexistente na responsabilidade pela quebra da
confiança.
O STJ já admitiu essa responsabilidade pela quebra da confiança para condenar a IBM a
indenizar uma empresa que, com base na expectativa criada pelo comportamento daquela
(apresentação de projeto, visita de engenheiros, indicação das especificações técnicas do pro-
duto e utilização de uma empresa intermediária), sofreu prejuízo ao verem rejeitadas as peças
que fabricara para serem empregadas no produto projetado pela IBM. Nesse caso, embora o
Ministro Relator tenha chegado a esse veredito entendendo que, embora inexistisse contrato
entre as partes, seria devida a responsabilidade pela quebra de confiança, a Ministra Isabel
Gallotti adotou o mesmo veredito com argumento diverso, afirmando haver um contrato in-
formal entre as partes (STJ, REsp 1309972/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
08/06/2017).
Ao nosso sentir, não é adequado considerar a responsabilidade pela quebra da confiança
como uma terceira categoria. Temos que ela se enquadra tanto dentro da responsabilidade
contratual como na extracontratual, pois deriva da violação da boa-fé, que é um dever a ser
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observado em contratos (responsabilidade contratual) ou fora deles (responsabilidade extra-


contratual).
Se o comportamento de má-fé for adotado sem haver negócio entre as partes, há respon-
sabilidade extracontratual, pois a boa-fé é um dever legal que foi descumprido. Não importa se
as partes haveriam (fase da puntuação) de celebrar um contrato no futuro, pois aí se terá uma
responsabilidade civil pré-contratual, que é uma modalidade de responsabilidade extracontra-
tual pela falta de um negócio prévio entre as partes.
Se, porém, houver um negócio, a violação à boa-fé é um descumprimento de um dever con-
tratual, ainda que conexo, e, portanto, enseja responsabilidade contratual.

1.3. Quanto à Culpa

É regra geral! Depende da prova


de culpa do agente
Culpa = em sentido amplo Abrange o dolo e a culpa
Subjetiva
Negócios jurídicos gratuitos Só responde pelo DOLO ou CULPA GRAVE

Responsabilidade
civil quanto à
culpa

É exceção e depende de LEI Dispensa a prova de CULPA


Objetiva

Quanto à culpa, a responsabilidade pode ser subjetiva ou objetiva.


Responsabilidade subjetiva é a que depende da prova de culpa do agente. É a regra geral:
sem culpa, não há responsabilidade (art. 927, CC).
Culpa é tomada em sentido amplo e abrange a culpa em sentido estrito (negligência, impru-
dência e imperícia) e o dolo (intenção deliberada de causar o dano).
Não importa o grau de culpa: mesmo no caso de culpa levíssima, já está presente a culpa
necessária para a responsabilidade civil subjetiva. Só se excepciona isso quando houver lei
ou princípio. Em contratos gratuitos, culpa leve ou média não autoriza responsabilização do
generoso; só dolo ou culpa grave permite essa responsabilização, conforme interpretação ex-
tensiva do art. 392 do CC pelo STJ (inferência da Súmula n. 145/STJ).
Responsabilidade objetiva é a que dispensa a prova de culpa. É exceção: depende de lei,
pois excepciona a regra geral do caput do art. 927 do CC. O parágrafo único do art. 927 do CC
admite a responsabilidade civil em dois casos: (1) quando for aplicável a teoria do risco e (2)
quando houver lei específica.

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1.4. Responsabilidade Objetiva


1.4.1. Breve Histórico

Responsabilidade Justificada pela VINGANÇA


Até Idade objetiva como regra Havendo dano, a demonstração
Média de culpa era prescindível

Contexto da
responsabilidade Associação do Responsabilidade subjetiva
Idade pecado com a culpa passa a ser a regra
objetiva Média
Responsabilidade subjetiva
Teoria do risco para como regra, admitindo-se
quem desenvolve a responsabilidade objetiva
Revolução certas atividades pela teoria do risco
industrial

Aluno(a), vamos ver esta questão:

002. (CESPE/JUIZ/TJ-CE/2018) Pedro descobriu que seu nome havia sido inscrito em órgãos
de restrição ao crédito por determinada instituição financeira em decorrência do inadimple-
mento de contrato fraudado por terceiro.
Nesse caso hipotético, a instituição financeira
a) não responderá civilmente, uma vez que se trata de fato de terceiro, mas deverá proceder à
retirada do registro negativo no nome de Pedro.
b) não responderá civilmente, porque a fraude configura uma excludente de caso fortui-
to externo.
c) responderá civilmente na modalidade objetiva integral.
d) responderá civilmente apenas se Pedro comprovar que sofreu prejuízos devido à inscrição
de seu nome nos órgãos de restrição ao crédito.
e) responderá civilmente na modalidade objetiva, com base no risco do empreendimento.

Se trata de uma aplicação da teoria do risco a justificar a responsabilidade objetiva da institui-


ção financeira. Fraude de terceiros integra o risco da atividade dos bancos: é fortuito interno e,
portanto, não afasta a responsabilidade objetiva. Para entender melhor esse tema, temos de
estudar alguns assuntos. Vamos lá!!!
Letra e.

É importante você ter noção rápida da história da responsabilidade objetiva.


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Até a Idade Média, a regra era a responsabilidade objetiva, que era justificada pela vingan-
ça. Quem sofresse um dano reivindicava, como ato de vingança, indenização independente-
mente de discussão de culpa.
Com a Idade Média, por influência de ideais do cristianismo – que associa o pecado à
culpa –, a responsabilidade subjetiva passou a ser a regra geral. Ninguém poderia ser respon-
sabilizado por um dano causado sem culpa.
Notadamente com a efervescência das cidades com a Revolução Industrial, muitas víti-
mas das atividades perigosas das máquinas ficavam sem obter a indenização, pois não con-
seguiam provar culpa dos industriais. Havia casos de proletários que, durante suas jornadas
desumanas de trabalho, sofriam lesões corporais nas máquinas e eram demitidos por conta
de sua incapacidade laboral. Esses proletários não tinham condições de comprovar a culpa
do industrial, ainda mais levando-se em conta que o seu baixo grau de instrução e a sua pe-
núria os tornavam vulneráveis para guardar e produzir provas (fotos, perícias etc.). A injustiça
era notável.
Foi nesse contexto que a doutrina desenvolveu a teoria do risco criado para justificar a res-
ponsabilidade objetiva, de modo que os industriais, ao criarem riscos de danos aos indivíduos,
passaram a responder objetivamente pelos danos causados em razão de suas atividades.
A teoria do risco criado se especializou nas demais teorias do risco: a do risco profissional,
do risco-proveito, risco administrativo e risco integral.
Assim, a regra continuou sendo a responsabilidade subjetiva, mas passou-se a admitir ex-
cepcionalmente a responsabilidade objetiva com base na teoria do risco. O fundamento da
responsabilidade objetiva não era mais a vingança, e sim a teoria do risco.

1.4.2. Teorias do Risco

Risco de quem tira proveito de uma


Risco proveito atividade que pode causar dano

Fundamento Risco criado Criar um risco de dano com a sua atividade


no art. 927, CC
Risco de quem exerce profissão/
Risco profissional atividade lucrativa que pode causar dano

Responsabilidade do Estado por atos de seus agentes


Teorias do Risco Risco criado pelo Poder Público de causar danos com
risco administrativo a atividade administrativa

Responde por TODOS os danos


causados, sem admitir excludentes
Dano ambiental
Risco integral Dano nuclear
Responsabilidade civil do Estado
Ataque terrorista ou bélico ou obrigação de segurador?

Aluno(a), veja esta questão:

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003. (FAURGS/JUIZ/TJ-RS/2016/ADAPTADA) Sobre a reparação de danos, é correto afirmar


que se adota, segundo entendimento majoritário, a teoria do risco integral como fundamento
da imputação de responsabilidade, independente de culpa em razão de atividade de risco (ar-
tigo 927, parágrafo único).

A teoria do risco integral é excepcional entre as várias teorias do risco. Ela só se aplica para
casos especiais.
Errado.

Vamos estudar esse tema.


Todas as espécies de teorias do risco originaram-se da teoria do risco criado. As três pri-
meiras teorias do risco (criado, profissional e proveito) encontram fundamento expresso no
parágrafo único do art. 927 do CC, de modo que, em sendo elas verificadas em um caso con-
creto, a responsabilidade será objetiva. Um mesmo caso pode ser justificado em cada uma
dessas teorias. Por exemplo, a responsabilidade dos bancos por danos causados a clientes
por estelionatários pode ser justificada na teoria do risco criado, na do risco profissional ou do
risco proveito.
Já a teoria do risco administrativo é voltada para a responsabilidade do Estado por ato dos
seus agentes públicos, e o seu fundamento será nas normas de Direito Administrativo (como
o art. 37, § 6º, CF).
Por fim, a teoria do risco integral se aplicará a casos específicos em que o responsável
terá de assumir todos os riscos de danos provocados por sua atividade e tem por fundamento
normas específicas, que geralmente são interpretadas extensivamente.
Vamos falar um pouco mais sobre essas teorias do risco.
Pela teoria do risco criado, quem cria um risco de dano com sua atividade responde objeti-
vamente pelo dano. Na teoria do risco criado, não se exige prova de lucro; basta uma atividade
criadora de risco de dano. Não se trata de qualquer risco; é preciso que se trate de um risco
além do usual, sob pena de banalizar a responsabilidade objetiva para todos os casos do mun-
do visto que qualquer atividade – até mesmo a de andar pela rua – cria um risco de dano a
terceiros. O risco criado também é conhecido como “risco da atividade” ou “risco da atividade
perigosa”.
Pelo risco profissional, quem exerce profissão ou atividade com fins lucrativos assume os
riscos dos danos. Trata-se de uma aplicação da regra do “ubi emolumentum ibi onus” (onde
há lucro, há ônus). No risco profissional, a vítima sofre dano pela atividade profissional do res-
ponsável. O risco profissional justifica responsabilidade por acidentes de trabalho e por outros

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casos, como o da responsabilidade do empregador por atos do empregado (art. 932, III, CC).
O STJ já invocou a teoria do risco profissional para responsabilizar objetivamente instituições
financeiras perante clientes cujos nomes foram negativados por dívidas decorrentes de che-
ques emitidos fraudulentamente por terceiros. A atividade profissional dos bancos, ao atrair a
atenção dos bandidos, cria risco de os clientes serem atingidos por condutas desses crimino-
sos (STJ, AgRg no AREsp 75.376/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Raul Araújo, DJe 01/07/2013; REsp
1093617/PE, 4ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe 23/03/2009).
Segundo a teoria do risco proveito, quem tira proveito de uma atividade que cria risco de
danos responde objetivamente. É também aplicação da regra do ubi emolumentum ibi onus. O
proveito não precisa ser puramente econômico e abrange também casos de proveitos econômi-
cos indiretos. É o que ocorre com os casos de estacionamentos gratuitos oferecidos por gran-
des empresas: há proveito econômico indireto pelo fato de essa comodidade atrair clientes.
No risco administrativo, o Poder Público cria risco de danos a terceiros com sua atividade
administrativa e, por isso, responderá objetivamente. De fato, o exercício da atividade estatal,
por envolver prerrogativas de poderes (poder de polícia, por exemplo), cria riscos além do usu-
al. A aplicação da teoria do risco administrativo é restrita aos casos de responsabilidade civil
do Estado.
Por fim, vamos falar da teoria do risco integral. Pelo risco integral, quem exercer uma ativi-
dade muito perigosa responde objetivamente por todos – sem exceção – os danos causados.
Distingue-se das demais teorias do risco pelo fato de que estas admitem o fortuito externo
como excludente de responsabilidade. Nos casos de teoria do risco integral, não há fortuito
externo: todos os fortuitos são internos à atividade.
A jurisprudência vem admitindo a aplicação da teoria do risco integral mesmo sem texto le-
gal expresso, desde que seja identificada a altíssima periculosidade da atividade desenvolvida.
Os três principais casos citados pela doutrina são os de responsabilidade ambiental, nuclear e
por atos terroristas ou bélicos. Tratemos deles.
Um dos casos de teoria do risco integral é a responsabilidade por dano ambiental por for-
ça de interpretação extensiva do art. 14, § 1º, da Lei n. 6.938/81 (STJ, REsp 1114398/PR, 2ª
Seção, Rel. Ministro Sidnei Beneti, DJe 16/02/2012). Essa interpretação extensiva decorre da
elevada importância do meio ambiente, de sorte que quem ameaça o meio ambiente com sua
atividade terá de responder objetivamente por qualquer dano causado: não há fortuito exter-
no. Pessoalmente discordamos desse entendimento, pois entendemos que, embora de forma
mais limitada, deve ser admitida a existência de fortuito externo, a exemplo de um dano am-
biental decorre de um ataque bélico. Não nos parece razoável impor ao explorador de uma ati-
vidade econômica na natureza um risco totalmente alheio à sua atividade, como uma guerra.
Outro caso é a responsabilidade do operador por dano causado pela atividade de energia
nuclear. O fundamento é uma interpretação extensiva do art. 21, XXIII, “c”, da CF, que, ao prever
a responsabilidade por dano nuclear independentemente de culpa sem fazer qualquer ressal-
va, teria recepcionado o art. 8º da Lei n. 6.453/77, que excluía a responsabilidade do operador

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de energia nuclear se o dano tiver decorrido de guerras e fatos excepcionais da natureza. Essa
é interpretação majoritária. Dela, porém, discordamos, pois não enxergamos incompatibilidade
do referido art. 8º da Lei n. 6.453/77 com o referido dispositivo da CF, que, em momento algum,
previu a teoria do risco integral nem atacou a opção legislativa de considerar a guerra e catás-
trofes naturais como fortuitos externos. O art. 8º da Lei n. 6.453/77, portanto, estaria em vigor.
Todavia, temos por conveniente que o Congresso Nacional revogue esse dispositivo e preveja
expressamente a teoria do risco integral. Acrescemos, porém, que a limitação de indenização
prevista no art. 9º da Lei n. 6.433/77 não foi recepcionada pela Constituição Federal, que ga-
rante o direito à reparação integral.
A doutrina cita ainda como caso de teoria do risco integral seria a responsabilidade do Es-
tado por ataque terrorista, por atos de guerra ou por eventos correlatos ocorridos no território
brasileiro. O fundamento são as Lei n. 10.309/2001 e 10.744/2003, que autoriza a União a,
com limite de valor, assumir a responsabilidade civil perante terceiros vítimas de atentados ter-
roristas ou de atos de guerra. Discordamos do enquadramento dessa hipótese como respon-
sabilidade civil. Entendemos que essas leis instituem, na verdade, uma faculdade de a União
se tornar uma espécie de segurador: ela está a assumir uma obrigação de segurador perante
qualquer vítima, e não uma responsabilidade civil. A ideia é que quem estiver em território bra-
sileiro estaria segurado por danos causados por terrorismo ou guerra. Obrigação é diferente
de responsabilidade: esta decorre da violação de uma obrigação. No caso das referidas Leis, a
União ficou autorizada a assumir uma obrigação de indenizar quem for vítima de ataque terro-
rista ou bélico. Não se trata de responsabilidade civil, e sim de obrigação.

2. Pressupostos da Responsabilidade Civil

Conduta

Culpa
Pressupostos da
responsabilidade civil
Nexo causal

Dano

Os pressupostos da responsabilidade são a conduta, a culpa, o nexo causal e o dano. Em


regra, sem esses pressupostos, não há responsabilidade civil.

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Responsabilidade Civil – Parte IV
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2.1. Conduta
2.1.1. Comissiva ou Omissiva

Só é juridicamente
1) Decorrente da profissão
relevante quando
havia do dever 2) Quem assumiu a função de
jurídico de agir Definido em LEI garante
Omissiva
3) Dever de socorrer quem está
em situação de perigo criada
Conduta pelo próprio agente

Ato praticado pelo


agente
Comissiva

Para haver responsabilidade civil, é fundamental haver uma conduta do agente que tenha
causado o dano. A conduta pode ser comissiva, quando há um ato praticado pelo agente (ex.:
xingar alguém, atropelar outrem etc.), ou omissivo.
A conduta omissiva, todavia, só é juridicamente relevante quando havia dever jurídico de
agir, em respeito ao princípio da legalidade (ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo
senão em virtude de lei). O dever jurídico de agir ocorre quando houver lei, e os principais casos
são estes: (1) dever jurídico decorrente da profissão, como no caso de médicos e bombeiros,
que têm dever de socorrer quem esteja em situação de risco; (2) dever jurídico de quem as-
sumiu a condição de garante, como um generoso que voluntariamente se obrigou a cuidar de
uma criança enquanto os pais se deslocam a algum outro lugar; e (3) dever jurídico de socorrer
alguém que está em uma situação de perigo criada pelo próprio agente, caso em que a omis-
são pode configurar não apenas um ilícito civil, mas também o crime de omissão de socorro
(art. 135, CP).
Quanto a este último caso, se a situação de perigo não tiver sido criada pelo agente, não
há dever jurídico de agir e, portanto, não poderá ser responsabilizado civilmente quem, vendo
alguém em apuros, faz ouvidos moucos e segue seu rumo. Esse ato egoísta é criticável moral-
mente, mas não pode ser considerado um ilícito por falta de obrigação legal. A lei não obriga
ninguém a ser um bom samaritano. Temos, ademais, por indevido o uso abusivo de princípios
jurídicos para criar obrigações que o texto legal não previu, de maneira que o princípio consti-
tucional do solidarismo (art. 3º, I, CF) não poderia ser utilizada para responsabilizar civilmente
esse egoísta.

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Responsabilidade Civil – Parte IV
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2.1.2. Espécies de Responsabilidade quanto à Conduta


Quando o agente é responsabilizado por sua
Responsabilidade própria conduta
direta
Espécies de
Responsabilidade causada pela conduta É exceção. Depende
responsabilidade de um 3º ou por uma coisa ou animal de previsão em LEI

quanto à conduta Responsabilização por danos


Responsabilidade por fato de 3º causados por uma 3º pessoa

Proprietário ou detentor responde


objetivamento pelos danos causados
Responsabilidade pelo animal
indireta Responsabilidade pela
guarda do animal Detentor responde solidariamente
com o proprietário, assegurado direito
de regresso contra o culpado

Ruína de prédio:
O dano não é provocado proprietário de prédio
diretamente pelo agente, responde objetivamente
mas por coisa que estava pelos danos causados
sob seu poder pela sua ruína

Responsabilidade
pelo fato da coisa Quem possui coisa
perigosa responde pelo
Teoria da guarda da coisa seu mau uso por outros
Coisas caídas

Quanto à conduta, a responsabilidade civil pode ser classificada como direta ou indireta.

2.1.3. Responsabilidade Direta

A responsabilidade direta ou por ato próprio se dá quando o agente é responsabilizado por


uma conduta que ele mesmo adotou. É a regra geral da responsabilidade civil e está prevista
genericamente no art. 927, caput, do CC. Assim, quem xinga ou atropela outrem tem de respon-
der civilmente pelos danos que ele mesmo causou.

2.1.4. Responsabilidade Indireta

A responsabilidade indireta ocorre quando alguém responderá por um dano causado por
conduta de um terceiro ou por uma coisa ou animal. A responsabilidade pela guarda do animal
é enquadrada como responsabilidade por fato da coisa por alguns doutrinadores, mas prefe-
rimos segregar as hipóteses para fins didáticos. A responsabilidade indireta é exceção e, por-
tanto, só é admitida quando houver lei expressa. Sem lei específica, não há responsabilidade
indireta. Há, porém, casos de responsabilidade civil indireta extraídas com base em princípios
jurídicos deduzidos do texto legal, como é o caso da responsabilidade por fato da coisa funda-
da na teoria da guarda da coisa.
Enfim, a responsabilidade indireta ocorre em dois casos: por fato de terceiro, pelo fato da
coisa e pela guarda do animal. Vamos falar um pouco sobre isso.
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Responsabilidade por Fato de Terceiro

A responsabilidade por fato de terceiro ocorre quando, por lei, alguém será responsabiliza-
do pelos danos causados por uma terceira pessoa. É o que ocorre nos casos do art. 932 do
CC, que, por exemplo, responsabiliza o empregador por ato do empregado. No regime do CC,
essa responsabilidade é, em regra, objetiva, solidária e com direito de regresso nos termos dos
arts. 928, 932, 933, 934 e 942, parágrafo único, do CC, mas há particularidades. Sobre o tema,
reportamos o leitor ao que escrevemos sobre a responsabilidade do incapaz e sobre a respon-
sabilidade solidária.

Responsabilidade pela Guarda do Animal

Quero começar com esta questão:

004. (FCC/ANALISTA/ALESE/2018) Thaísa é dona de cão feroz que atacou e feriu


Thiago. Thaísa
a) somente indenizará Thiago se este comprovar que Thaísa agiu com dolo, provocando o ata-
que com manifesta intenção de causar lesão.
b) somente indenizará Thiago se este comprovar que Thaísa agiu com negligência ou impru-
dência na guarda do animal.
c) será obrigada a indenizar Thiago ainda que se prove que tenha havido culpa exclusiva da
vítima ou força maior.
d) deverá ressarcir o dano causado pelo animal, a menos que prove culpa exclusiva de Thiago
ou motivo de força maior.
e) responderá subjetivamente pelo dano, não podendo alegar causa excludente do nexo de
causalidade.

Corresponde ao art. 936 do CC.


Letra d.

005. (FAURGS/JUIZ/TJ-RS/2016) A responsabilidade pelo fato do animal é independente de


culpa do seu dono ou detentor, não podendo ser afastada mesmo quando ausente o nexo de
causalidade.

O nexo causal é pressuposto da responsabilidade civil mesmo no caso de responsabilidade


objetiva, como no caso de responsabilidade pelo fato do animal. O próprio art. 936 do CC afas-
ta a responsabilidade por culpa exclusiva da vítima, pois aí se rompe o nexo causal.
Errado.

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Vamos explicar.
Pela responsabilidade por guarda do animal, o proprietário ou o detentor responde objeti-
vamente pelos danos causados por um animal, como no caso de um cachorro agressivo que,
desvencilhando-se da coleira, morde um transeunte na rua (art. 936, CC). Não importa se havia
culpa do proprietário ou do detentor; a responsabilidade é objetiva1. Quem tem a propriedade
ou o poder sobre um animal assume o risco pelos danos por este causado.
Se o animal estava sob os cuidados de alguém, esse possuidor ou detentor responderá
solidariamente com o proprietário pelos danos causados pelo animal, assegurado, porém, a
quem pagar a dívida o direito de regresso contra o culpado. A solidariedade decorre da inter-
pretação extensiva do art. 936 do CC e do parágrafo único do art. 942 do CC (ambos seriam
coautores do dano, para esse efeito).
As excludentes de responsabilidade são as mesmas que vigoram para os casos de res-
ponsabilidade objetiva baseada na teoria do risco criado, como o fortuito externo e a culpa
exclusiva da vítima.

Responsabilidade pelo Fato da Coisa

A responsabilidade indireta por fato da coisa ocorre quando o dano não é diretamente
provocado por uma conduta do agente, e sim de forma indireta, por meio de alguma coisa que
estava sob o controle ou sob o risco do agente. Os casos principais são os de ruína do prédio,
o de coisas caídas e os assentados na teoria da guarda da coisa.

Ruína do Prédio

No caso de ruína do prédio, temos o seguinte. O proprietário do prédio responde objetiva-


mente pelos danos causados pela sua ruína (art. 937, CC). Apesar de o art. 937 do CC mencio-
nar a falta de reparos de necessidade manifesta, a doutrina majoritária entende que, se houve
a ruína, é porque havia essa necessidade de reparos manifesto. As excludentes de responsa-
bilidade são as mesmas que vigoram para os casos de responsabilidade objetiva baseada na
teoria do risco criado, como o fortuito externo e a culpa exclusiva da vítima.

Teoria da Guarda da Coisa

Embora inexista um dispositivo legal com uma cláusula geral, admite-se a responsabilida-
de pelo fato da coisa com base na teoria da guarda da coisa, desenvolvida no direito francês.
Segundo essa teoria, quem detém o comando intelectual (guarda) e de direção sobre a coisa
deve responder pelos danos causados pelo mau uso por outros. É que, em última análise, tal
dano decorre da falta da necessária vigilância da coisa.
1
Há corrente minoritária a sustentar que a responsabilidade é subjetiva com base na culpa presumida.

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Entendemos que o fundamento dessa responsabilidade é a teoria do risco sediada no pa-


rágrafo único do art. 927 do CC, pois quem tem uma coisa potencialmente perigosa cria um
risco de dano à sociedade e, por isso, deve responder objetivamente. Entendemos ainda que
a teoria não pode ser aplicada para qualquer coisa, mas apenas para aquelas que, de acordo
com o senso comum, sejam potencialmente perigosas.
Com base nisso, o STJ entende que, ao emprestar o veículo, o proprietário assume a res-
ponsabilidade pelos danos por ele culposamente causados, caso em que haverá responsabili-
dade solidária entre o proprietário e o condutor. Temos ressalva pessoal contra esse entendi-
mento no caso de empréstimo gratuito de veículo, pois não consideramos o veículo um bem
potencialmente perigoso a ponto de atrair a teoria da guarda da coisa. Temos que, nesses
casos, a responsabilidade do dono do carro deveria seguir a regra geral da responsabilidade
subjetiva: se o dono emprestar o carro para alguém sem habilitação, poderia ser responsabili-
zado solidariamente por sua negligência.
Igualmente, o STJ assentou que o uso indevido de máquina retroescavadeira pelo caseiro,
que transportava na “concha” pessoa que veio a falecer, impõe a responsabilização do proprie-
tário do bem. É irrelevante que o caseiro não tivesse autorização e estivesse bêbado e fora do
horário de trabalho, pois só o fortuito externo excluiria a responsabilidade pela guarda da coi-
sa. De fato, “pela aplicação da teoria da guarda da coisa, a condição de guardião é imputada a
quem tem o comando intelectual da coisa, não obstante não ostentar o comando material ou
mesmo na hipótese de a coisa estar sob a detenção de outrem, como o que ocorre frequente-
mente nas relações ente preposto e preponente” (STJ, REsp 1072577/PR, 4ª Turma, Rel. Minis-
tro Luis Felipe Salomão, DJe 26/04/2012).

Coisas Caídas
Habitante do prédio responde objetivamente pelas coisas
que dele caírem ou forem arremessadas

Não se aplica quando Nesse caso, haverá responsabilidade


o que cai é o prédio civil por ruína

O condomínio responde
pelos danos

Queda anônima Somente as unidades de


onde a coisa possa ter
Prédio em potencialmente caído?
condomínio edilício
Responsabilidade Coisas Unidade autônoma de
caídas onde a queda procedeu é
indireta identificável

Queda não anônima O condômino dessa unidade


responde objetivamente
pelos danos

A responsabilidade é do habitante
Prédio em (que não necessariamente é
condomínio edilício proprietário)

Queda de pessoa Não se aplica o art. 938, CC


suicida Será considerado fortuito e os
danos serão cobrados do espólio

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Noções Gerais

O habitante de um prédio ou de parte dele responde objetivamente pelos danos decorren-


tes de coisas que caírem do prédio ou que forem arremessadas (art. 938, CC). É o caso, por
exemplo, de alguém que foi atingido por uma panela que caiu do prédio; nesse caso, a vítima
poderá pleitear indenização contra o dono do prédio. Trata-se do que, no Direito Romano, cha-
mava-se de actio de effusis et dejectis (ação de coisas sólidas e líquidas).
Esse dispositivo não deve ser aplicado para casos em que um pedaço do prédio se despren-
de e cai em outrem. Temos que, nesse caso, o mais adequado é aplicar o art. 937 do CC, pois
aí se trata de uma ruína parcial do prédio. Nesse caso, o proprietário da coisa é que responde
objetivamente, e não o mero habitante, pois o dano aí decorre do risco de ruína do prédio.
Portanto, o art. 938 do CC deve ser aplicado para casos de coisas arremessadas do prédio,
a exemplo de uma queda, a partir de uma janela, de um celular ou de um vaso na cabeça de
um pedestre.
No caso do art. 938 do CC, há duas situações importantes: uma em que o prédio não está
em condomínio edilício, outra em que está.

Coisas Caídas de Prédio sem Condomínio

Quando não se trata de condomínio edilício, deve-se entender que a responsabilidade é do


habitante, que não necessariamente será o proprietário. Pode ser um locatário ou um como-
datário. Quem responde é aquele que tinha a ocupação efetiva do bem. Assim, se um celular
é arremessado de uma casa alugada na cabeça de um pedestre, o locatário dela responderá
objetivamente pelo dano, e não o proprietário.
Não importa se a coisa foi arremessada por um visitante que estava na casa do locatário:
o locatário responderá objetivamente pelo dano (art. 938, CC), sem prejuízo de esse visitante
responder solidariamente por ter sido o autor do ato danoso (art. 927, CC). É que o locatário é
o “habitante” aí para todos os efeitos. Desconhecemos precedentes do STJ nesse caso.

Coisas Caídas de Prédio em Condomínio Edilício

Quando se tratar de condomínio edilício, é preciso identificar se se trata de queda anôni-


ma ou não.
2

De um lado, se puder ser identificada a unidade autônoma de onde procedeu a coisa, não
há queda anônima. Nesse caso, o condômino dessa unidade responderá objetivamente pelos
danos. Se a unidade autônoma estava na posse de um terceiro, como um inquilino, entende-
mos que é esse inquilino que terá de arcar com a indenização, e não o mero condômino, porque
o art. 938 do CC se refere ao “habitante” apenas.
2
Feliz expressão de Rosenvald, Farias e Braga Netto (2016, p. 592).

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De outro lado, se não puder ser identificada a unidade autônoma de onde caiu a coisa,
tem-se uma queda anônima. Nesse caso, por força do art. 938 em conjunto com o parágrafo
único do art. 927 do CC (teoria do risco), a responsabilidade será do condomínio, que poderá
cobrar uma contribuição extraordinária dos condôminos para arcar com a indenização (STJ,
REsp 64.682/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Bueno de Souza, DJ 29/03/1999). Se, posteriormente, for
identificada a unidade de onde partiu a coisa, o condomínio poderá pleitear direito de regresso
contra o habitante dessa unidade à época do dano para reembolsar-se do que houver pago
de indenização, deduzido, obviamente, o que esse habitante já tiver desembolsado a título de
contribuição extraordinária. No mesmo sentido, é o enunciado n. 557/JDC (“nos termos do art.
938 do CC, se a coisa cair ou for lançada de condomínio edilício, não sendo possível identificar
qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso”).
Nesse caso, indaga-se: essa contribuição extraordinária pode ser cobrada do condômino
mesmo se a sua unidade estiver em posse de terceiro (como um inquilino)? Entendemos que
sim, assegurado direito de regresso contra esse terceiro (o habitante). É que, apesar de o art.
938 do CC se referir apenas ao habitante como responsável por coisas caídas, o fato de o
condomínio ser o responsabilizado no caso de queda anônima implica que ele poderá cobrar a
contribuição extraordinária com fundamento no art. 1.336, I, do CC. Essa contribuição tem na-
tureza propter rem, decorre do regime jurídico dos condomínios edilícios e, portanto, vincula-se
a cada unidade autônoma. Dessa maneira, se uma unidade estiver na posse de um terceiro que
não o condômino, essa contribuição extraordinária poderá ser cobrada tanto do condômino
quanto do inquilino, assegurado àquele direito de regresso contra este.
Ainda nesse caso de queda anônima, se a coisa caída só puder ter procedido potencial-
mente de determinadas unidades autônomas, há controvérsia doutrinária e desconhecemos
julgados do STJ sobre o assunto.
De um lado, com nosso apoio, respeitados doutrinadores, como Pablo Stolze Gagliano e
Rodolfo Pamplona Filho (2020, p. 230), defendem que só os condôminos dessas unidades po-
derão sofrer o encargo financeiro pela responsabilidade civil. Temos que, nesse caso, o condo-
mínio continuará sendo responsabilizado, mas só cobrará contribuição extraordinária desses
condôminos potencialmente vinculados ao dano. Assim, se, por exemplo, o prédio possui duas
faces de unidades autônomas, somente os condôminos de uma face poderão ser obrigados a
pagar a contribuição extraordinária ao condomínio pelos danos causados por uma pedra que
caiu em um carro estacionado em frente dessa face. Os condôminos da outra face não terão
esse dever, pois é impossível ter procedido de lá a coisa caída. Para concursos públicos, em
provas objetivas, recomendamos seguir essa primeira corrente por ela haver precedentes de
Tribunais locais nesse sentido, como dão conta Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona
Filho (2020, p. 230), embora entendamos que uma questão objetiva nesse ponto merece ser
anulada diante da divergência doutrinária e da falta de julgado do STJ.
De outro lado, juristas de escol, como Flávio Tartuce (2020, p. 629) e Sílvio de Salvo Venosa,
defendem ser irrelevante a face do bloco de onde potencialmente tenha partido a coisa caída.

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Todos os condôminos devem suportar os ônus financeiros da condenação do condomínio,


mesmo daqueles cujas unidades estejam no lado oposto àquele de onde procedeu a coisa
caída. O fundamento dessa tese é a necessidade do que Venosa chama de pulverização dos
danos na sociedade, de modo que todos os integrantes de um grupo devem responder pelos
danos causados por um membro não identificado. Transcrevemos aqui as palavras do cérebre
doutor pelas Arcadas Flávio Tartuce:
Dúvidas surgem (...) quanto à responsabilização dos condôminos que que estão do lado
oposto de onde caiu a coisa. Entendemos, com Sílvio de Salvo Venosa, que todo o condomínio
deve ser responsabilizado, não interessando de onde exatamente caiu o objeto. Para justificar
seu ensinamento, o doutrinador fala em pulverização dos danos na sociedade, ensinando que,
“assim, quando o dano é praticado por um membro não identificado de um grupo, todos os
seus integrantes devem ser chamados para a reparação” (Direito civil..., 2003, p. 119).
Entendemos que é perfeitamente possível sustentar que o caso é de aplicação da tese da
responsabilidade pressuposta, que busca, antes de qualquer discussão, reparar a vítima diante
de uma exposição ao perigo ou ao risco. Em síntese, o condomínio deve reparar todos os pre-
juízos suportados pela pessoa atingida pelo objeto. Após a vítima estar devidamente reparada,
está assegurado o direito de regresso do condomínio contra o eventual culpado.
Apesar do brilho dos juristas sectários dessa corrente, preferimos a outra por entendermos
que a pulverização dos danos só deve ocorrer entre aqueles membros do grupo que potencial-
mente tenham causado o dano, de modo que não poderíamos onerar os moradores de unida-
des do lado oposto do bloco de onde procedeu a “coisa caída”. Para a vítima, não há prejuízo
algum: ela poderá cobrar a indenização diretamente do condomínio. Para a comunidade con-
dominial, é que o repasse desse valor desembolsado pelo condomínio só poderá recair sobre
os habitantes da face do prédio de onde pode ter procedido a coisa.
Por fim, nada impede que a vítima, no lugar de propor a ação contra o condomínio, endere-
ce o seu pleito contra cada um dos condôminos das unidades de onde potencialmente pode
ter procedido a coisa. Entendemos que não há solidariedade entre os condôminos, porque ela
não se presume, mas decorre de lei ou da vontade (art. 265, CC). A vítima só poderá cobrar a
quota de cada um. Todavia, a dificuldade processual será notável, razão por que é melhor co-
brar do condomínio.

Queda de Pessoa Suicida

No caso de a queda ser de uma pessoa suicida que pulou de um prédio, e não de uma
coisa, não se aplica o art. 938 do CC, pois este se aplica apenas para queda de coisas, e não
de pessoas. Ainda que assim não fosse, o suicídio nessas hipóteses deve ser considerada um
fortuito a excluir a responsabilidade objetiva do art. 938 do CC. Nesse caso, apenas o espólio
do suicida responderá pelos danos causados a terceiros (Rosenvald, Farias e Braga Netto,
2016, p. 593).

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Pode, porém, haver alguma outra norma que responsabilize terceiros por esse episódio,
como o próprio art. 12 do CDC, que responsabilizaria o shopping solidariamente pelo dano
sofrido por um consumidor que venha a ser atingido por um suicida que de um andar alto in-
terno do Shopping saltou no chão do térreo da parte interna do Shopping. Nesses casos, por
se tratar de relação de consumo, dificilmente se poderá considerar uma hipótese de fortuito
externo, pois nos parece ser risco interno à atividade de Shopping lidar com essas espécies de
potenciais suicidas que ameacem os consumidores.

2.2. Culpa

É pressuposto da responsabilidade civil e


abrange o dolo e a culpa stricto sensu
Culpa
É dispensada na Depende de previsão legal
responsabilidade civil objetiva

A culpa em sentido amplo é um pressuposto da responsabilidade civil e abrange o dolo (in-


tenção deliberada) ou a culpa em sentido estrito (negligência, imprudência e imperícia). Se, to-
davia, a responsabilidade for objetiva – o que exigirá lei específica ou a aplicação da teoria do
risco (art. 927, parágrafo único, CC) –, a culpa será dispensada para a responsabilização civil.
Vamos ver um caso concreto do STJ para ilustrar.
Empresa de vigilância responde por danos causados à instituição financeira que a contra-
tou apenas no caso de culpa. O contrato de prestação de serviço de vigilância constitui obri-
gação de meio, e não de resultado, de modo que a empresa de segurança deve envidar todos
os esforços possíveis para coibir assaltos às agências bancárias. Não se trata de obrigação
de resultado, sob pena de desfigurar esse contrato de vigilância em um contrato de seguro.
Na análise da culpa, é preciso considerar que a empresa de segurança tem de observar as
restrições de armamento impostas pela legislação específica (Lei n. 7.102/1983), o que limite
o seu poder de ação. Por isso, o STJ isentou de responsabilidade, por falta de culpa, a empresa
Congelseg Vigilância Privada Ltda numa ação proposta pelo Banco do Brasil com o objetivo de
obter, a título de indenização, valor superior a um milhão de reais em razão de assalto realiza-
do em agência bancária por bandidos fortemente armados e disfarçados de funcionários de
empresa de transporte de valores. O STJ entendeu que o fato de o segurança ter destravado
espontaneamente a porta para os bandidos disfarçados não configura culpa, pois, se tivesse
mantido as portas fechadas, é certo que os bandidos fortemente armados adentrariam a agên-
cia ceifando a sua vida e dos clientes (STJ, REsp 1329831/MA, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, DJe 05/05/2015).

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2.3. Nexo Causal


A conduta deve ter sido a causa do dano

Nexo Responsabilidade por conduta de 3º


Somente havendo previsão legal

causal
TUDO que concorre para o dano
Teoria da equivalência das é considerado CAUSA
condições (conditio sine qua non)
Não adotada pelo CC

Há nexo causal em qualquer circunstância


que seja apta para ocasionar o dano sob a
Teorias do nexo causal Teoria da causalidade adequada ótica da experiência comum.

Deve haver entre a conduta e o dano uma


relação de causa e efeito direta e imediata
Teoria do dano direito e imediato
Dano remoto não será indenizado

O nexo de causalidade consiste na necessidade de a conduta do agente ter sido a causa do


dano. Não há responsabilidade civil se o dano tiver sido causado por outro fato não relaciona-
do com a conduta do agente. Assim, ninguém pode ser condenado a indenizar dano causado
exclusivamente por uma conduta de terceiro, salvo se houver lei (como nos casos de respon-
sabilidade por ato de terceiro nas hipóteses do art. 932 do CC).
Há ampla margem de subjetividade na definição do nexo causal em cada caso concreto,
o que gera intenso debate na doutrina e na jurisprudência. Na doutrina, há várias teorias do
nexo causal, conforme abordaremos a seguir. Os tribunais oscilam entre as teorias e, no STJ,
há precedentes tanto a favor da teoria da causalidade quanto em prol da teoria do dano direto
e imediato. Ao nosso sentir, preferimos a teoria do dano direto e imediato, pois, além de estar
no art. 403 do CC, abrange elementos das demais teorias.

2.3.1. Teorias do Nexo Causal

Teoria da Equivalência das Condições ou da Conditio Sine Qua Non

Aluno(a), resolva esta questão:

006. (CESPE/JUIZ/TRF-2ª/2009) O Código Civil adota a teoria da equivalência dos antece-


dentes causais, para fins de indenização.

Embora haja controvérsia acerca de qual teoria foi adotada, a doutrina é majoritaríssima no
sentido de que a teoria da equivalência dos antecedentes causais não foi a adotada pelo CC.
Errado.

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Vamos tratar mais do tema.


Pela teoria da equivalência das condições, também batizada de teoria da conditio sine qua
non ou de teoria da equivalência dos antecedentes causais, toda e qualquer circunstância é
considerada causa, se tiver concorrido para o dano. Sem qualquer delas, o dano não ocorreria.
Critica-se essa teoria por ela chancelar uma cadeia causal infinita. Em tese, o fabricante de uma
arma teria vínculo causal com todos os assassinatos ocorridos no mundo com uso de suas
armas, pois, sem a fabricação da arma, o crime não teria ocorrido, o que é um despropósito.
Apesar da sua insuficiência, a teoria da equivalência das condições pode ser usada como
uma triagem inicial do caso: se um caso concreto não passa por essa teoria, não poderá pas-
sar pelas demais, que são mais rigorosas na caracterização do nexo causal.

Teoria da Causalidade Adequada

Pela teoria da causalidade adequada, há nexo causal em qualquer circunstância que, se-
gundo a experiência comum3, seja apta para ocasionar o dano. Entende-se por “apta” aquela
circunstância que seja necessária e determinante para o dano. Critica-se essa teoria por ela
não contemplar determinadas situações, como, por exemplo, a de alguém que desferiu um
“cascudo” na cabeça de uma pessoa que, sem ciência do agressor, possuía uma abertura na
caixa craniana e que veio a falecer. Em princípio, a conduta “cascudo” não é apta, segundo a
experiência comum, para causar o dano “morte”, de modo que, pela teoria da causalidade ade-
quada, não haveria nexo causal, o que livraria o agressor de responder pelos danos causados
pela morte. Nesse caso, ele poderia responder apenas por uma eventual lesão corporal, que
seria o resultado que um “cascudo”, segundo a experiência comum, geraria.
Seja como for, a teoria da causalidade adequada é útil e já foi utilizada pelo STJ. Por exem-
plo, o STJ reconheceu que Park Shopping (um dos maiores Shoppings de Brasília/DF) responde
por avarias causadas por assaltantes durante fuga policial em veículo de cliente do shopping.
A conduta do Shopping em falhar no seu serviço de guarda e vigilância do veículo consumidor
foi determinante para que os bandidos, durante fuga policial, atingissem o veículo do consumi-
dor (STJ, EDcl no AgRg no AREsp 790.643/DF, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,
DJe 01/07/2016).
Igualmente, o STJ livrou empresa televisiva vinculada ao SBT de pagar indenização em um
caso em que uma criança que, após ver um programa em que um mágico ateava fogo em si
mesmo e não se queimava, combinou com o seu irmão – também criança – de imitar a mágica
em casa e, com uso de álcool e fogo, ateou fogo nele. O STJ entendeu que, embora o programa
tenha inspirado as crianças, ele não era causa adequada para causar o dano: a queimadura
dos irmãos. Em princípio, o sinistro foi causado pela omissão dos pais em não se manterem
perto dos filhos e pela conduta deles de deixar substâncias inflamáveis ao alcance da criança.
Assim, com base na teoria da causalidade adequada, o STJ afastou a responsabilidade do SBT
(STJ, REsp 1067332/RJ, 4ª Turma, Rel. Ministro Marco Buzzi, DJe 05/05/2014).
3
Grosso modo, o bom senso.

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Teoria do Dano Direto e Imediato

A teoria do dano direto e imediato representa um meio-termo das duas teorias anteriores (a
da equivalência das condições e a da causalidade adequada). Essa teoria foi adotada expres-
samente pelo NCC, conforme art. 403. Deve haver, entre a conduta e o dano, uma relação de
causa e efeito direta e imediata. O dano é efeito direto e imediato de determinada causa. Por
essa razão, não é indenizável o dano remoto, assim entendido o decorrente de consequência
indireta da conduta, por ausência de nexo causal a luz da teoria dos danos diretos e imediatos.
O STJ analisou o seguinte caso. Um adolescente havia fugido há oito dias do centro de
internação no qual cumpria uma medida socioeducativa sob regime de semi-liberdade e, em
tiroteio com um desafeto, atingiu mortalmente uma terceira pessoa por erro de mira. O STJ
entendeu que o Estado não poderia ser responsabilizado civilmente por essa morte, pois a sua
conduta omissiva (não ter evitado a fuga do adolescente) não foi a causa direta e imediata do
dano (a morte). Se, porém, a morte de um terceiro tivesse ocorrido durante um tiroteio entre a
polícia e o fugitivo durante a fuga, poder-se-ia falar em nexo causal. Todavia, na espécie, já ha-
via vários dias da fuga (STJ, REsp 858.511/DF, 1º Turma, Rel. Ministro Luiz Fux, Rel. p/ Acórdão
Ministro Teori Albino Zavascki, DJe 15/09/2008).

2.4. Dano
Lei tem conceitos abertos
Nem todos são
juridicamente Princípios criam novas
modalidades de dano indenizável
indenizáveis

Dano Dano moral


Dano material
Principais Dano estético
danos Dano existencial
indenizáveis Perda de uma chance
Perda do tempo útil

Nem todos os danos são juridicamente indenizáveis. Só o são aqueles que se enquadrarem
naquelas espécies de danos indenizáveis admitidos na lei. A lei, todavia, tem categorias muito
abertas (como o dano moral), além de a utilização de princípios jurídicos para criar novas espé-
cies de danos indenizáveis (como o dano existencial) gerar um maior grau de subjetividade. O
enquadramento dos danos como indenizáveis e não indenizáveis geram muitas controvérsias
por conta dessa abertura dos tipos legais.
Assim, por exemplo, o descumprimento de um contrato gera um aborrecimento no credor,
mas esse aborrecimento não necessariamente caracterizará um dano indenizável. Em regra,
trata-se de mero aborrecimento, que é um dano não indenizável. Excepcionalmente, porém,
esse aborrecimento pode caracterizar um dano indenizável, na modalidade do dano moral.
Aguardar na fila de um banco é um aborrecimento, que é um dano não indenizável, salvo se
houver um tempo excessivo de espera.

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Há muitos danos na vida que não são indenizáveis.


Os principais danos indenizáveis são os danos material, moral, estético e existencial, além
da perda de uma chance e da perda do tempo útil.

2.4.1. Dano Material

Dano Emergente e Lucros Cessantes

Dano Efetivo desfalque patrimonial


emergente

Dano
material
Aquilo que a vítima
razoavelmente deixou de lucrar
Lucro
Exige prova de que foram
cessante frustrados proveitos econômicos

O dano material corresponde a danos patrimoniais. Podem ser divididos em duas espé-
cies: os danos emergentes e aos lucros cessantes (art. 402 do CC4).
O dano emergente é o efetivo desfalque patrimonial, é o efetivo prejuízo, é a efetiva dimi-
nuição patrimonial sofrida pela vítima, é o dano patrimonial que emerge do evento danoso. No
caso, por exemplo, de uma batida de carro, o valor do conserto do carro e das despesas médi-
co-hospitalares para o passageiro lesionado é um dano emergente.
Lucro cessante, também chamado de dano negativo ou dano frustrado, corresponde àquilo
que a vítima razoavelmente deixou de lucrar. É a frustração de um lucro razoável, ou seja, é a
perda de um lucro esperado. Decorre da constatação de que, presumindo que os fatos se de-
senrolariam no seu curso normal (tendo em conta os antecedentes), a vítima deixaria de lucrar
aquilo que, à luz do bom senso, lucraria.
Não se trata de dano meramente hipotético ou fantasioso. Os lucros cessantes precisam
ser razoáveis, o que exige prova de que foram frustrados proveitos econômicos que, à luz do
bom sendo, adviria naturalmente de uma atividade que foi interrompida pelo agente. A existên-
cia de antecedentes causais reforça a razoabilidade, mas não é requisito essencial.
A definição é aberta, o que gera controvérsias na jurisprudência em cada caso concreto.
Vamos ver alguns casos concretos.
4
O art. 402 do CC vale-se da expressão “perdas e danos”, que nos parece atécnica pela sinonímia dos dois termos coorde-
nados (Gonçalves, 2011, p. 356). Preferimos simplesmente utilizar o termo “dano”.

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Aquilo que a vítima


razoavelmente deixou de lucrar
Atraso na entrega Exige prova de que foram
de um imóvel frustrados proveitos econômicos

Não é lucro cessante, mas mero


dano hipotético
Frustração do início
Não se pode presumir que a
de uma empresa empresa teria sucesso

Ganho que o aluno teria com a atividade profissional


Atraso no término não pode ser pleiteado a título de lucro cessante
de um curso
Impossibilidade de exercer sua
Casos concretos atividade até a cura
Danos causados a
É considerado lucro cessante
de lucros profissionais autônomos
cessantes Produtos agropecuários que a empresa
poderia transportar com o veículo
Recusa da seguradora em
Pode ser cobrada a título de lucro
reparar veículo segurado cessante
de empresa agropecuária

Média de lucro percebido pode ser


Paralisação da atividade cobrada a título de lucro cessante
de posto de gasolina
Lucro que seria obtido com aumento
da produção industrial NÃO
Falta de repasse de recursos para caracteriza lucro cessante
ampliação de parque industrial

Atraso na Entrega de um Imóvel: Aluguéis e Rendas de uma Hipotética Ati-


vidade

O atraso na entrega de um imóvel pelo devedor, como no caso de um inquilino que tinha
de restituir o bem ou no de um vendedor que tinha de entregar as chaves para o comprador,
causa ao credor lucros cessantes correspondentes aos alugueis que seriam percebidos com a
entrega do imóvel. É compatível com o bom senso que o credor, ao receber o imóvel, iria fruir
dele pessoalmente, ainda que essa fruição consista em simplesmente deixar o imóvel fechado
por fútil capricho. Essa fruição tem um valor econômico: o valor de aluguel.
Todavia, não podem ser considerados, como lucros cessantes, a renda que o credor teria
explorando economicamente o imóvel, abrindo, por exemplo, um comércio, pois aí se tem um
dano meramente hipotético. Não é compatível com o bom senso presumir que o credor haveria
de conseguir abrir um comércio e, ainda por cima, obter lucro com isso (STJ, REsp 194.483/RN,
5ª Turma, Rel. Ministro Felix Fischer, DJ 12/04/1999).

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Frustração do Início de uma Empresa vs Lucros Cessantes

A frustração do lucro que seria percebido com o início de uma atividade empresarial não
é lucro cessante, e sim mero dano hipotético, pois não é razoável presumir que o sucesso de
uma nova atividade empresarial, especialmente levando-se em conta que, no Brasil, é pequena
a chance de sucesso das novas empresas (STJ, REsp 253.068/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Par-
gendler, DJe 04/08/2003).

Atraso no Término de um Curso: Renda Hipotético em Atividade

No caso de demora no término de um curso por culpa da instituição de ensino, não pode
pleitear, a título de lucros cessantes, o ganho que o aluno teria com uma atividade profissional
que seria exercida com base no curso. Trata-se aí de dano meramente hipotético, pois não é
razoável presumir que a vítima, caso terminasse o curso no prazo inicialmente previsto, iria per-
ceber lucros em uma atividade profissional baseada na titulação obtida (STJ, REsp 615.203/
MS, 4ª Turma, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, DJe 08/09/2009).

Dano Causado A Profissionais Autônomos: Renda Perdida Durante O Perí-


odo De Convalescença

No caso de profissional autônomo que, por conta de uma dano físico, fica inabilitados a
exercer sua atividade profissional até a sua cura, há lucros cessantes correspondentes à média
da renda que, até a data do dano, o profissional percebia (STJ, REsp 971.721/RJ, 4ª Turma, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 22/03/2011).

Recusa da Seguradora em Reparar Veículo Segurado de Empresa Agrope-


cuária: Lucros Cessantes pela Indisponibilidade do Bem

Empresa agropecuária que fica sem veículo essencial à sua atividade econômica por culpa
da seguradora – que recusou indevidamente cobrir a reparação desse veículo – pode pleitear,
a título de lucros cessantes, o valor correspondente aos produtos agropecuários que, com o
veículo, a empresa poderia transportar para venda (STJ, REsp 1056295/RJ, 3ª Turma, Rel. Mi-
nistra Nancy Andrighi, DJe 18/02/2009).
O STJ já aceitou, em outro caso, esses lucros cessantes contra a seguradora por negativa
indevida a cobertura de veículos importantes para a atividade normal do segurado (STJ, REsp
593.196/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa, DJ 17/12/2007).

Paralisação da Atividade de um Posto de Gasolina vs Lucros Cessantes

Posto de gasolina cuja atividade é interrompida por incêndio sofre, como lucros cessan-
tes, durante o período necessário para a reconstrução, a média dos lucros que ele percebia
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antes do sinistro (STJ, REsp 1110417/MA, 4ª Turma, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe
28/04/2011).

Falta de Repasse de Recursos para Ampliação de Parque Industrial: Lucro


que Seria Percebido

No caso de indevida falta de repasse de recursos pelo banco financiador para empresa que
promoveria a ampliação do parque industrial, o lucro que seria percebido com o aumento da
produção industrial após essa obra não configura lucro cessante, mas caracteriza mero dano
hipotético, que não é indenizável (STJ, REsp 846455/MS, 3ª Turma, Rel. Ministro Castro Filho,
Rel. p/ Acórdão Ministro Sidnei Beneti, DJe 22/04/2009).

2.4.2. Dano Moral

Atraso na entrega
de um imóvel
Dano
Lesão causada diretamente ao
moral Direto direito de personalidade

Frustração do início Lesão a um bem patrimonial que causa


de uma empresa Indireto dano a um bem extrapatrimonial

Dano moral é uma lesão a um direito da personalidade. Não é a mera tristeza e angústia.
Se alguém sofre angústia por ver uma criança ser atropelado, não necessariamente sofre dano
moral, pois isso não implica direito da personalidade. Se, porém, nesse caso, a criança atro-
pelada fosse filha do telespectador, haveria dano moral, pois a morte da criança implicou a
violação de um direito da personalidade deste telespectador (o direito relacionado ao vincula
familiar).

Dano Moral Direto e Indireto

O dano moral pode ser classificado como direto ou indireto.


O dano moral direto é lesão causada diretamente ao direito da personalidade, como no
caso de alguém xingar outrem.
O dano moral indireto é uma lesão a um bem patrimonial, mas que causa um dano a um
bem extrapatrimonial. Ex.: perda de um bem com valor afetivo. Nesse caso, é cabível indeni-
zação pelo dano moral indireto (pelo valor afetivo da coisa). O art. 952, parágrafo único, do CC
estabelece que o valor de afeição da coisa não pode exceder o preço ordinário da coisa, no
caso de usurpação ou esbulho de coisa alheia. Sobre o tema, anota Rui Stoco (2011, p. 1.436):

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A previsão da lei de ‘preço de afeição’ é feita tendo em conta que alguns objetos pessoais em uso
há longos anos já não têm valor material, senão e apenas afetivo. Nesta hipótese, estima-se o valor
de modo mais ou menos aleatório, desde que não supere o valor que o bem alcançaria se tivesse
que ser comprado.

Arbitramento do Valor do Dano Moral

Bem violado Insuscetível de reparação integral


é imaterial
1º) Fixa valor básico
baseado em precedentes

Dimensão do dano
STJ - método
Culpabilidade do
bifásico 2º) Aumenta ou diminui
o valor com base no caso agente Leva em conta a
concreto função punitiva
Culpa concorrente
Arbitramento e preventiva da
Condição econômica indenização por
do valor do do ofensor dano moral

dano moral Tendência de TARIFAMENTO


Leva em conta a
função punitiva
do dano moral e preventiva da
Condições pessoais indenização por
da vítima dano moral

O valor da indenização por dano moral é mais ou menos aleatório, pois o bem violado é
imaterial (direito da personalidade) e, portanto, insuscetível de uma reparação integral. O valor
pecuniário da indenização apenas destina-se a atenuar a lesão extrapatrimonial. O arbitramen-
to não pode ser tão alto a ponto de expor o causador do dano a um “inferno de severidade”5,
nem tão baixo de tal modo a estimular reincidências.
O STJ desenvolveu o método bifásico como critério para o arbitramento do valor do
dano moral (STJ, REsp 959.780/ES, 3ª Turma, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe
06/05/2011). Por esse método, a liquidação do dano moral ocorre em duas etapas.
Em um primeiro momento, fixa-se um valor básico com base no estudo dos precedentes
dos Tribunais em casos análogos. Atenta-se aí essencialmente para o bem jurídico lesado para
fixar uma indenização básica.
Em uma segunda etapa, aumenta-se ou diminuiu esse valor-base a partir da análise das
particularidades do caso concreto, de modo a fixar o valor final da indenização. Por esse cri-
tério bifásico, o valor da indenização do caso concreto se aproximará de outros já apreciados
pela jurisprudência.
Há grande margem de manobra ao juiz na segunda etapa, mas ele deverá agir com equida-
de em razão da aplicação analógica do parágrafo único do art. 953 do CC (analogia autorizada
pelo fato de inexistir regra específica no Código Civil para o arbitramento do dano moral) e, ao
5
Trata-se do enfer de severité, em francês, expressão utilizada pelo jurista francês Geneviève Viney e invocada pelo STJ (REsp
1127913/RS, 4ª Turma, Rel. Ministro Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 30/10/2012).

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atentar para as “particularidades do caso concreto”, o juiz deverá levar em conta estes parâ-
metros: a dimensão do dano (gravidade do fato e consequências para a vítima), culpabilidade
do agente (intensidade do dolo ou da culpa), eventual culpa concorrente (participação culposa
da vítima, conforme art. 945, CC), condição econômica do ofensor e condições pessoais da
vítima (posição política, social e econômica). No tocante a esse último critério, o STJ, embora
admita que se leve em conta a situação econômica da vítima para evitar que valores elevados
de indenização levem a enriquecimentos injustificados da própria vítima, adverte o juiz para
ter a cautela de impedir que discriminações que levem a pessoas atingidas pelo mesmo fato
danoso recebam indenizações em valores diferentes.
A função punitiva e preventiva da indenização por dano moral é levada em conta no exame
da culpabilidade do agente e da situação econômica do ofensor: quanto mais reprovável a
conduta do agente e quanto maior a sua condição econômica, maior deve ser o valor da inde-
nização por dano moral.
Como se vê, o Código Civil adotou, como regra, o arbitramento equitativo da indenização, e
não o tarifamento legal da indenização6. Todavia, como reconhece o Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino7, há uma tendência de tarifamento judicial da indenização por dano moral com
base na análise apenas no bem jurídico atingido, prática que não é expressamente confessada
pelos juízes, mas que, na prática, vem se consolidando. O mais adequado, porém, é sempre in-
dividualizar o dano, conforme a segunda etapa do critério bifásico supracitado, deixando a aná-
lise dos valores usualmente praticados pela jurisprudência para a primeira etapa desse critério.
Como exemplo de aplicação do critério bifásico, em um caso envolvendo morte, o Ministro
Paulo de Tarso Sanseverino arbitrou o valor de 400 salários mínimos como indenização básica
(1ª etapa), levando em conta que os valores arbitrados pelo STJ em casos de morte oscilam
entre 300 e 500 salários mínimos. Em seguida, o ministro aumentou esse valor para 500 salários
6
Este último chegou a ser previsto nos arts. 1.547 (injúria e calúnia) e 1.550 (ofensa à liberdade pessoal) do CC/1916, os
quais fixavam a indenização no dobro da multa máxima prevista para a pena criminal respectiva sempre que não for viável
comprovar prejuízo material. Todavia, a jurisprudência, assustada com os altos valores alcançados, afastou essa regra ao
argumento de que o CC/1916 se remetia à legislação penal anterior ao Código Penal de 1940. Também o art. 51 da não
recepcionada Lei de Imprensa (Lei n. 5.250/67) fixava os valores de indenização por dano moral a ser paga pelo jornalista
profissional a depender do tipo de lesão praticada (ex.: 2 salários mínimos para notícias falsas; 5 salários mínimos para
ofensa à dignidade; 10 salários mínimos para agressão à reputação; 20 salários mínimos para imputação falsa de crime),
ao passo que o art. 52 da mesma lei autoriza majorar, em dez vezes, esses valores se a causadora do dano fosse uma
empresa jornalística, o que também era um tarifamento legal. A Lei de Imprensa, no entanto, não foi recepcionada pela CF,
segundo o STF; todavia, antes de o STF se manifestar, o STJ já havia rejeitado o sistema de tarifamento legal dessa lei por
reputá-la contrária aos incidos V (direito de indenização) e X (inviolabilidade da vida privada, da honra e da imagem com
direito à indenização) do art. 5º da CF, tudo conforme a Súmula n. 281/STJ: “a indenização por dano moral não está sujeita
à tarifação prevista pela Lei de Imprensa”. Seja como for, infere-se daí que seria plenamente constitucional uma lei que
tabelasse o valor da indenização por dano moral dentro de uma margem de valor máximo e mínimo, desde que essa faixa
fosse razoável e permitisse ao juiz uma margem de manobrada adequada para individualizar os casos concretos. É o que
implicitamente reconhece o Ministro Paulo de Tarso neste julgado: STJ, REsp 959.780/ES, 3ª Turma, Rel. Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino, DJe 06/05/2011.
7
Ver seu voto neste julgado: STJ, REsp 959.780/ES, 3ª Turma, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 06/05/2011.

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mínimos ao atentar para as circunstâncias do caso concreto, que envolvia a morte de uma
mulher de 43 anos casada e com quatro filhos por atropelamento (gravidade do fato em si), a
existência de culpa leve do agente (culpabilidade) e falta de provas acerca de culpa concorren-
te da vítima ou da condição econômica de ambas as partes (STJ, REsp 959.780/ES, 3ª Turma,
Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 06/05/2011).

Casuística

Cabe dano moral. Viola direitos


Iminente ingestão da personalidade do consumidor,
ainda que a ingestão não ocorra
de biscoito recheado
Casuística com corpo estranho

(danos morais)
STJ condenou ao pagamento de
dano moral à vítima e ao seu
Estupro de paciente companheiro
por médico

Iminente Ingestão de Biscoito Recheado com Corpo Estranho

O simples “levar à boca” de um objeto estranho em um biscoito industrializado, ainda que


não haja a efetiva ingestão, configura dano moral por atingir o direito da personalidade do
consumidor relacionado à sua integridade física e psíquica. Se isso ocorrer em relação de
consumo, como a responsabilidade do fabricante é objetiva para o defeito do produto (art. 12,
CDC), é seu dever indenizar o consumidor independentemente de prova de culpa sua. O STJ,
em caso similar, arbitrou indenização no valor de R$ 10.000,00 a título de dano moral para o
consumidor, cujo filho de oito anos de idade mastigou, sem engolir, um biscoito recheado com
uma aliança misturada no recheio (STJ, REsp 1644405/RS, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy An-
drighi, DJe 17/11/2017).

Estupro de Paciente por Médico

Estupro por médico cirurgião, que dopou uma paciente para manter conjunção carnal não
autorizada, implicou, em um caso julgado pelo STJ, condenação do estuprador a pagar inde-
nização por dano moral de R$ 300.000,00 para a vítima e de R$ 200.000,00 para o compa-
nheiro dela (STJ, AgRg no REsp 1457651/RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe
10/12/2014).

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2.4.2. Dano Estético


Mudança na morfologia
física da vítima

Morfologia é direito de personalidade,


Dano
mas sua deformação é tratada como
estético outra espécie de dano

É possível a cumulação Súmula n. 387/STJ


com outros danos

Aluno(a), veja esta questão:

007. (CESPE/ADVOGADO/PETROBRAS/2007) Na responsabilidade civil por ato ilícito, não


se admite a cumulação da indenização por danos moral e estético, ainda que decorrentes do
mesmo fato ou de causalidade múltipla ou, ainda, quando tiverem causas autônomas, pois o
fundamento do dano moral é o próprio dano estético, que geraria, assim, uma dupla condena-
ção pelo mesmo fato.

O dano estético é cumulável com o dano moral.


Errado.

Vamos explicar melhor.


O dano estético consiste na mudança na morfologia física da vítima. Apesar de a morfo-
logia poder ser considerada como um direito da personalidade, a sua deformação por uma
conduta não é tratada como dano moral, e sim como dano estético, pois a doutrina e a juris-
prudência, para fins didáticos, separam as categorias e admitem-lhes a cumulação, conforme
Súmula n. 387/STJ (“É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”).
Assim, por exemplo, se uma pessoa tem o rosto desfigurado por um ataque com ácido, ela
poderá pleitear indenização por dano estético correspondente à deformação da morfologia
do rosto, além da indenização por dano moral relativo aos outros direitos da personalidade
violados (como o relativo à autoestima) e de outros danos, como os materiais concernentes
aos tratamentos médicos.

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2.4.3. Perda de uma Chance

Somente quando a chance


Perda de uma É considerado DANO de proveito econômico
chance INDENIZÁVEL ou moral seja séria, real e
razoável

Aluno(a), veja a questão.

008. (CESPE/DEFENSOR/DPU/2017) A aplicação da teoria da perda da chance pressupõe


uma possibilidade concreta, real e com alto grau de probabilidade de se garantir um benefício
ou sofrer um prejuízo, bem como que a ação ou omissão do agente tenha nexo causal com a
perda da oportunidade de exercer a chance.

A perda de uma chance, além de exigir os pressupostos gerais de responsabilidade civil (como
o nexo causal), exige seriedade na probabilidade da chance.
Certo.

Vamos explicar o assunto.


A perda de uma chance é admitida como um dano indenizável desde que a chance de pro-
veito material ou moral (daí o STJ dizer que a teoria da perda de uma chance também se aplica
a dano moral) seja séria, real e razoável. Trata-se de conceito desenvolvido por Sérgio Savi.
Um exemplo é o do caso do dano sofrido por um cliente em razão de o advogado ter perdido o
prazo recursal em um feito em relação ao qual a jurisprudência era pacífica a favor do cliente.
O valor da indenização pela perda de uma chance deveria ser proporcional à probabilidade de
êxito no caso.

2.4.4. Perda do Tempo Livre


Somente quando a chance de
Perda do tempo livre, perda proveito econômico ou moral
seja séria, real e razoável
do tempo útil ou desvio
produtivo do consumidor

Perda do tempo livre, perda do


Espécie de dano moral?
tempo útil ou desvio produtivo Pode ser indenizado

do consumidor

Controvérsia
Valor

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O outro dano indenizável é a perda do tempo do livre, perda do tempo útil ou desvio produ-
tivo do consumidor. De acordo com esse conceito, o tempo perdido por uma pessoa com a re-
solução de problemas causados por outrem também deve ser indenizado. Em outras palavras,
a teoria da perda do tempo livre consiste em estabelecer que o tempo injusta e ilegitimamente
desperdiçado por conduta da outra parte deve ser indenizável. É o caso, por exemplo, de horas
que os consumidores costumam perder com ligações ao moroso call center das operadoras
telefônicas. Essa categoria de dano indenizável pode ser aplicada em causas consumeristas
ou não. Na doutrina, destacam-se os escritos do Advogado Marcos Dessaune (“Desvio Produ-
tivo do Consumidor – O Prejuízo do Tempo Desperdiçado”). Há inúmeros julgados reconhecen-
do a indenização pela perda do tempo livre por conta de dispêndio de tempo pelo consumidor
para resolver problemas causados:
• pela companhia telefônica com bloqueio indevido da linha (TJDFT-Juizado Especial,
Acórdão n. 553549, 20100310352096ACJ, 1ª Turma Recursal, Rel. Juiz Paulo Rogério
Santos, DJe 12/12/2011);
• pelas sucessivas ligações telefônicas e envios de documentos por e-mail pelo consumi-
dor para contestar a indevida negativação do seu nome em cadastro de inadimplentes
(TJDFT, Acórdão n. 633653, 20120110593028APC, 6ª Turma Cível, Rel. Desembargadora
Vera Andrighi, DJe 22/11/2012).

Esses julgados, ao entenderem configurada a perda do tempo livre, concedem indenização


a título de dano moral, e não como uma categoria autônoma de dano indenizável. Assim, a
perda do tempo livre é considerada uma espécie de dano moral indenizável.
Embora concordemos com essa categorização do tempo livre como uma espécie de dano
moral por consideramos a disponibilidade do tempo livre como um direito da personalidade, te-
mos que a estimativa do valor a ser indenizado deveria levar em conta a quantidade de tempo
dispendido indevidamente e valor da hora-trabalho da vítima, admitindo o salário mínimo como
parâmetro se a vítima não tiver prova de sua hora-trabalho. É que a indenização aí deve ser do
tempo perdido, e não outros aspectos do direito da personalidade, os quais também poderiam
ser indenizados de modo cumulado com o tempo perdido.

2.4.5. Dano Existencial

Frustração dos projetos


de vida da vítima

Destina-se a reparar os projetos


Dano pessoais da vítima objetivamente
existencial considerados

Difere do dano Enquanto o dano moral se destina


a compensar aspectos subjetivos
moral da pessoa

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O dano existencial consiste na frustração do projeto de vida da vítima, comprometendo-lhe


a concretização de sonhos pessoais, a criação de relações sociais, a formação de família etc.
Atinge, pois, a própria concepção de vida da pessoa. É um “dano à vida de relações” (Almeida
Neto, 2005, p. 35). Apesar de o projeto de vida ser um direito da personalidade, ele não é trata-
do como um dano moral, e sim como uma outra categoria, a de dano existencial. A indenização
pelo dano existencial destina-se a reparar o “projeto de vida” objetivamente considerado, ao
passo que o dano moral almeja compensar os aspectos subjetivos da pessoa. Em princípio,
ambos são cumuláveis, pois dizem respeito a danos diversos.
Assim, se, por exemplo, um trabalhador fosse submetido, durante 20 anos, a jornadas de
trabalho excessivas, com horas extraordinários exageradas, ele poderia pleitear indenização
por dano existencial pelo fato de vários projetos de vida dele – como o de ter família, o de
acompanhar a criação dos filhos, o de ter lazer, o de desenvolver atividades culturais etc. – te-
riam sido frustrados pela falta de tempo livre em razão das jornadas abusivas.
No Brasil, o dano existencial chegou a receber menção expressa no art. 223-B da CLT, que,
para efeitos de responsabilidade civil trabalhista, restringiu o dano extrapatrimonial a ofensas
“à esfera moral ou existencial da pessoa”.
Em questões trabalhistas, o TST têm sido rigoroso em admitir a caracterização de dano
existencial, considerando insuficiente a mera falta de férias ou a mera existência de jornada
exaustiva e exigindo provas mais contundentes de que tal efetivamente comprometeu o proje-
to de vida do trabalhador, como na hipótese de esse cenário de jornadas extenuantes tenham
ocorrido ao longo de vários anos (TST, RR – 523-56-2012.5-04.0292, 7ª Turma, Rel. Min. Luiz
Phillippe Vieira de Mello Filho, DEJT 28/08/2015; ARR - 10312-16.2016.5.15.0104, 8ª Turma,
Rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, DEJT 17/08/2018; RR - 1477-06.2013.5.20.0007, 8ª Tur-
ma, Rel. Ministra Cristina Irigoyen Peduzzi, DEJT 24/08/2018).
O tema é relativamente recente e ainda está a consolidar na doutrina. A tendência majori-
tária é considerar o dano existencial como uma categoria distinta do dano moral e, portanto,
esses dois danos poderiam ser cumulados na hipótese de um mesmo fato gerar, além de um
prejuízo ao projeto de vida (dano existencial), lesão a outros direitos da personalidade, como
os relativos à autoestima (dano moral).
Ao nosso sentir, embora nos rendamos à separação do dano existencial em relação ao
moral por conta da previsão legal do art. 223-B da CLT, temos que a caracterização do dano
existencial só deveria ocorrer em situações bem excepcionais em que a vítima efetivamente
não tinha nenhuma margem de escolha quanto a construir o seu próprio projeto de vida, como
numa situação de prisão indevida, de sequestros ou de trabalho escravo. Parece-nos indevido
considerar que a escolha do trabalhador em sujeitar-se a jornadas exaustivas de trabalho em
troca de remuneração para isso possa ser considerado um caso de lesão ao seu projeto de
vida. O empregador já será punido com todas as verbas e multas trabalhistas cabíveis com
valores que serão revertidos para o trabalhador. Temos que multas administrativas severas
também devem ser infligidas ao empregador por desrespeito às normas trabalhistas. Todavia,

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não nos parece adequado imputar-lhe ainda uma indenização por um dano existencial, pois,
em princípio, foi o trabalhador que preferiu fazer do trabalho o seu projeto de vida com olhos
nas verbas trabalhistas a que terá direito. O dano existencial, a nosso sentir, deve ficar para
hipóteses de impossibilidades efetivas de escolhas pela vítima quanto ao seu projeto de vida.

2.5. Excludentes da Responsabilidade Civil

Excluem a Independem de CULPA

responsabilidade Afasta o dever de indenizar

objetiva e subjetiva
Excludentes de
ilicitude Legítima defesa
Exercício regular de um direito
Art. 188, CC
Estado de necessidade

Vamos tratar dos fatos que excluem a responsabilidade civil, ou seja, que afastam o dever
de indenizar.

2.5.1. Excludentes de Ilicitude

Salvo lei expressa, a responsabilidade civil pressupõe um ilícito civil. Os ilícitos civis estão
nos arts. 186 (causar dano culposamente com violação de direito) e 187 (abuso de direito) do
CC. Por isso, as excludentes de ilicitude, que estão no art. 188 do CC (legítima defesa, exercício
regular do direito e estado de necessidade), excluem a responsabilidade civil. Não importa se a
responsabilidade é objetiva ou subjetiva, pois essa excludente não diz respeito à culpa.
Assim, se um segurança de um shopping center agride um violento consumidor para contê-
-lo de atacar outras pessoas, a legítima defesa em prol de terceiros exclui a ilicitude da conduta
do segurança e, portanto, afasta o dever de indenizar.

2.5.2. Culpa Exclusiva da Vítima

Rompe o nexo
causal

Culpa exclusiva da
vítima Exceção: casos de
Afasta a aplicação do risco integral
responsabilidade
objetiva e subjetiva

A culpa exclusiva da vítima rompe o nexo causal, que é um dos pressupostos da respon-
sabilidade civil, pois a causa do dano passa a ser apenas a conduta da vítima. O agente foi um

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mero instrumento da vítima. Se, por exemplo, uma pedestre se joga inesperadamente na frente
de um carro que trafegava na velocidade limite da via, a causa da lesão sofrida pelo transeunte
suicida foi o seu “pulo”, e não a “direção” do motorista. O pedestre apenas se aproveitou do
motorista, que foi um mero instrumento dele.
A culpa exclusiva da vítima afasta a responsabilidade subjetiva e objetiva, pois diz respeito
ao pressuposto da responsabilidade civil do “nexo causal”, e não ao da “culpa do agente”. A
exceção corre à conta dos casos de responsabilidade objetiva com base na teoria do risco in-
tegral, pois aí o responsável, com sua atividade perigosíssima, assume o risco de vítimas que,
sozinhas, causem o dano.

2.5.3. Caso Fortuito e Força Maior

Fato humano ou da natureza


que não possa ser evitado

Caso fortuito afasta a culpa e, portanto, a


responsabilidade subjetiva
Caso fortuito e
Fortuito interno: risco inerente à
força maior atividade normal do agente
Só exclui a responsabilidade
Fortuito externo: risco alheio à
objetiva se for fortuito externo atividade normal do agente

Todos os fortuitos são internos


Risco integral

Caso fortuito ou força maior é qualquer fato, humano ou da natureza, que não possa ser evitado
(art. 393, parágrafo único, CC). Preferimos considerar os termos como sinônimos, pois é irrelevan-
te distingui-los. Com isso, escapamos da confusão existente na doutrina, que ora associa a força
maior a fatos da natureza e o caso fortuito a fatos humanos, ora entende o contrário.
O caso fortuito sempre afasta a culpa do agente, pois se trata de fato inevitável. Por isso,
ele sempre exclui a responsabilidade subjetiva.
É diferente, porém, a situação quando se tratar de responsabilidade objetiva.
Na responsabilidade objetiva, a culpa do agente é irrelevante, razão por que o caso fortuito
não necessariamente será uma excludente. Como a responsabilidade objetiva se funda na te-
oria do risco, o caso fortuito só a excluirá se não estiver abrangido pelo raio de risco assumido
pelo agente com a sua atividade (fortuito externo). Só o fortuito externo exclui responsabilida-
de objetiva. Se, porém, o fato for inerente à atividade (fortuito interno), o agente responde pelo
dano. De fato, o caso fortuito pode ser dividido em duas espécies: (1) fortuito interno: é o fato
que se insere no risco normalmente esperado da atividade do agente, ou seja, é o fato inerente
ao risco da atividade; (2) fortuito externo: é o fato alheio ao risco da atividade. Só o fortuito
externo exclui a responsabilidade objetiva.

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Como o fortuito externo é fato inevitável alheio à atividade do agente, ele exclui o próprio
nexo causal, que é um dos pressupostos da responsabilidade civil: a causa do acidente não é a
atividade do agente, e sim o fato inevitável que estava fora da órbita do risco do agente.
Quando a responsabilidade objetiva se baseia na teoria do risco integral, não há fortuito
externo, pois o agente está a assumir qualquer risco de dano. Todos os fortuitos são internos,
razão por que nenhum tipo de caso fortuito excluirá a responsabilidade.
Quando, porém, a responsabilidade objetiva se escorar nas demais teorias do risco (criado,
profissional, proveito ou administrativo), há fortuitos internos e externos.

Casuística

Ainda que ocasionado por


Acidente durante o
Fortuito interno culpa exclusiva de um 3º
transporte de pessoas

Questão de segurança
Assalto em transporte Fortuito externo pública
Casuística rodoviário
Fortuito interno, pois há legítima
(caso fortuito e expectativa de maior segurança
Assalto em razão de
força maior) Inclui o transporte rodoviário em
transporte aéreo substituição ao voo cancelado

Fraude em contratos bancários Banco responde


praticada por 3º objetivamente
Assalto em agência bancária ou Banco responde objetivamente
estacionamento privativo
Assalto em via pública = fortuito externo
Cárcere privado da família do
gerente por conta de assalto a
banco É fortuito interno. Banco deve indenizar
Instituições
Assalto a bens depositados pelos Banco responde objetivamente
financeiras bancos
É nula cláusula contratual que
limite o valor da indenização

Responsabilidade do transporta- Responde objetivamente, inclusive pelos


dor de dinheiro danos que ocorrerem em via pública

Acidentes durante o Transporte de Pessoas

Por ser inerente à atividade de transporte de pessoas, acidentes ocorridos sem culpa al-
guma da empresa são fortuitos internos e obrigam o transportador a responder pelos danos
sofridos pelo passageiro. Não importa se o acidente foi provocado exclusivamente por tercei-
ros, pois se trata de fortuito interno. A responsabilidade do transportador é objetiva e, portanto,
só fortuito externo seria hábil a excluir sua responsabilidade. Isso vale tanto para transportes
rodoviários quanto para transportes aéreos (STJ, AgInt no REsp 1632269/DF, 3ª Turma, Rel. Mi-
nistro Marco Aurélio Bellizze, DJe 22/06/2017; REsp 293.292/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, DJ 08/10/2001).

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Assalto em Transporte Rodoviário

O assalto (roubo ou furto) em transporte coletivo rodoviário de pessoas é fortuito externo,


pois diz respeito a problema de segurança pública que não é inerente à atividade do transporta-
dor rodoviário. Além de tal risco não está refletido no preço das tarifas cobradas, o consumidor
não tem a legítima expectativa de que o veículo terá seguranças armados ou porta detectoras
de metais para coibir ação de assaltantes. Não importa se o local do transporte é habitualmen-
te testemunha de assaltos, pois esse risco não é inerente à atividade do transportador. Por
isso, a concessionária do serviço público de transporte não responde por assaltos ocorridos
no interior de seus veículos (STJ, AgRg no REsp 823.101/RJ, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo
Villas Bôas Cueva, DJe 28/06/2013; Rcl 4.518/RJ, 2ª Seção, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, DJe 07/03/2012).
Todavia, se for provada alguma culpa do transportador pelo assalto ocorrido – como na
hipótese de o transportador ter estacionado o veículo em local irregular onde os assaltantes
embarcaram –, não se poderá falar em caso fortuito (seja interno, seja externo) e, portanto,
será devida a responsabilização do transportador pelo dano sofrido pelo consumidor (STJ,
REsp 1136885/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJe 07/03/2012; REsp 200.808/RJ,
3ª Turma, Rel. Ministro Ari Pargendler, DJ 12/02/2001).
Isso vale também para assalto de mercadorias transportadas na hipótese de o motorista
parar em lugar irregular, pois há culpa do transportador pelo assalto (STJ, REsp 145.614/SP, 3ª
Turma, Rel. Ministro Ari Pargendler, DJ 13/08/2001).

Assaltos em Transporte Aéreo ou de Transporte Rodoviário a Ele Vinculado

Em transporte aéreo – que é sabidamente mais oneroso do que o rodoviário e que ocorre
em aeroportos com estrutura de segurança mais sofisticada (com seguranças armados, con-
trole de raio “X” das bagagens e de detecção de metais dos passageiros), a legítima expecta-
tiva do consumidor abrange a garantia de segurança a si e a seus bens diante de assaltantes.
Por isso, a companhia aérea responde objetiva por roubos ocorridos a passageiros.
Esse entendimento vale mesmo na hipótese de a companhia aérea, em razão do cancela-
mento de um voo, fornecer um transporte rodoviário aos passageiros em substituição ao traje-
to aéreo. Nesse caso, a companhia aérea responderá por assaltos sofridos pelos passageiros
durante esse trajeto rodoviário ocorrido em substituição ao voo cancelado. Afinal de contas,
a legítima expectativa do consumidor é que a segurança do transporte aéreo será estendida a
esse transporte rodoviário substitutivo. Com base nisso, o STJ condenou a companhia aérea
Passaredo Transporte Aéreos Ltda a indenizar passageiros assaltados e agredidos durante
trajeto rodoviário em ônibus fretado pela companhia para substituir o voo que foi cancelado
de Brasília a São José do Rio Preto/SP. (STJ, REsp 1728068/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Marco
Aurélio Bellizze, DJe 08/06/2018). Como destacado no voto do relator do julgado retrocitado,
essa orientação vale apenas contra a companhia aérea que fretou o ônibus, e não contra a

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empresa transportadora que foi contratada, pois, em relação a ela, o assalto seria considerado
um fortuito externo.
Os precedentes do STJ supracitados cuidam apenas de casos de roubos, que envolve vio-
lência, e não furtos. Entendemos que, para furtos, a responsabilidade do transporte só ocorre-
ria se o furto for de bagagens que foram despachadas, pois estão sob o seu depósito. Temos
que furtos a pertences de passageiros dentro da aeronave ou do aeroporto é fortuito externo,
alheio à atividade do transportador, e, portanto, excluem responsabilidade do transportador.

Responsabilidade de Instituição Financeira

Aluno(a), veja a questão.

009. (CESPE/PROCURADOR/PGM-MANAUS/2018) Lucas — vítima de importante perda de


discernimento em razão de grave doença degenerativa em estágio avançado —, devidamente
representado por sua filha e curadora Maria, ajuizou ação indenizatória por danos materiais e
morais contra determinada instituição financeira, sustentando que foram realizados saques
indevidos em sua conta-corrente com a utilização de um cartão magnético clonado por tercei-
ros. Durante a instrução processual, foi comprovado que os fatos alegados na petição inicial
eram verdadeiros. Nessa situação hipotética, conforme a jurisprudência do STJ, como o ilícito
foi praticado por terceiro, que clonou o cartão magnético e efetuou os saques, ficou configura-
do evento que rompeu o nexo causal, afastando a responsabilidade da instituição financeira.

Fraudes cometidas contra o banco são fortuitos internos e, portanto, são riscos inerentes à sua
atividade a imporem-lhe o dever de indenizar. Vamos tratar mais desse assunto abaixo.
Errado.

Fraudes em Contratos Bancários por Parte de Terceiros

Os bancos respondem objetivamente por danos provocados a clientes em razão de fraudes


praticados por terceiros em serviços bancários, como nas hipóteses de terceiros que, com uso
de documento falso ou de meios fraudulentos, abrem conta-corrente ou obtém empréstimos
em nome de um cliente (STJ, REsp 1197929/PR, 2ª Seção, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,
DJe 12/09/2011).

Assalto em Agência Bancária ou em Estacionamento Privativo Gratuito


para Clientes

Bancos respondem objetivamente por assaltos sofridos por clientes no inteiro de sua
agência, pois, por lidar com dinheiro, a atividade bancária normalmente atrai a atenção de

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bandidos. Há até obrigatoriedade, por lei, de bancos e de empresas que transportam valores
adotarem sistema especial de segurança com aprovação do Ministério da Justiça (art. 1º, Lei
n. 7.102/1983). Trata-se, pois, de fortuito interno (STJ, AgInt no AREsp 1218051/RJ, 3ª Turma,
Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe 16/04/2018).
Igual responsabilidade terá o banco se o assalto ocorrer em estacionamento privativo do
banco oferecido gratuitamente aos clientes, pois ele possui lucro indireto com a oferta dessa
comodidade aos clientes e, portanto, assume o risco por eventuais assaltos ocorridos nesse
local (STJ, AgRg no AREsp 613.850/SP, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe
05/08/2015).
Entretanto, se o assalto ao cliente do banco ocorrer em via pública, a instituição financeira
não responderá por esse dano, ainda que o cliente tenha acabado de sair da agência com um
alto volume de dinheiro sacado na agência. Isso, porque a obrigação de segurança em áreas
públicas pertence ao Estado, e não à instituição financeira. Há, portanto, fortuito externo nesse
caso, a excluir a responsabilidade da instituição financeira. Não importa se o cliente estava
sendo espreitado dentro da agência bancária pelo bandido, pois a obrigação do banco é garan-
tir segurança dentro do seu estabelecimento (STJ, REsp 1557323/PR, 3ª Turma, Rel. Ministro
Marco Aurélio Bellizze, DJe 15/02/2018; REsp 1621868/SP, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy An-
drighi, DJe 18/12/2017).

Cárcere Privado de Família de Gerente de Banco por Conta de Assalto a


Banco

É dever da instituição financeira indenizar o gerente e os seus familiares que foram vítimas
de violência praticada por assaltantes que promoviam um assalto ao banco, pois se trata de
fortuito interno (STJ, AgRg no REsp 1337920/MG, 3ª Turma, Rel. Ministro Paulo de Tarso San-
severino, DJe 08/10/2015).

Assalto a Bens Depositados pelos Bancos e Nulidade de Limitação da Inde-


nização

O banco responde por assaltos aos valores e aos bens de terceiros depositados em suas
dependências, como nos casos de contratos de depósito ou de penhor de joias, pois o perigo
desses crimes integra a atividade bancária. E, à luz do art. 51 do CDC, é nula, por abusividade,
cláusula contratual que limite o valor da indenização a ser paga pelo banco nesses casos (STJ,
REsp 1227909/PR, 3ª Turma, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, DJe 23/09/2015).

Responsabilidade de Transportador de Dinheiro

Empresas que transportam dinheiro e outros bens valiosos respondem objetivamente por
qualquer dano causado em razão de assaltos violentos, inclusive por danos sofridos por pessoas

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em via pública que sejam vítimas de tiros, pois se trata de atividade que ordinariamente atrai a
atenção de criminosos.
Se o assalto ocorrer dentro de um supermercado enquanto a empresa de transporte de
valores estava a recolher malotes de dinheiro, o supermercado também responderá solidaria-
mente pelo dano sofrido por consumidores que sejam vítimas do tiroteio causado durante o
assalto. E, se o supermercado estiver dentro de um shopping center, este também responderá
solidariamente. Foi assim que o STJ manteve a condenação solidária de um shopping, de um
supermercado e de uma empresa de transporte de valores no caso de um consumidor que es-
tava passeando no shopping quando levou um tiro na perna em razão de tiroteio travado com
meliantes que tentavam roubar malotes de dinheiro retirados do supermercado por funcioná-
rios da transportadora de valores (STJ, REsp 1327778/SP, 4ª Turma, Rel. Ministro Luis Felipe
Salomão, DJe 23/08/2016).

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QUESTÕES DE CONCURSO
010. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) Acerca
da responsabilidade civil objetiva, é correto afirmar:
A responsabilidade surge como consequência da prática de atividades ilícitas.

A regra é que a responsabilidade civil decorra de ato ilícito, conforme art. 927 do CC. Para tal
efeito, há dois principais ilícitos civis: (1) art. 186 do CC: causar dano a outrem com culpa vio-
lando o direito; (2) art. 187 do CC: abuso de direito.
Excepcionalmente, porém, a responsabilidade pode decorrer de ato LÍCITO, desde que a lei
assim o estabeleça. Entre esses casos excepcionais, destacam-se: (1) arts. 929 e 930 do CC:
agir em legítima defesa ou em estado de necessidade e causar dano a terceiro, caso em que
caberá direito de regresso contra o causador da situação excepcional; (2) hipóteses de respon-
sabilidade. objetiva (art. 927, parágrafo único, CC).
A propósito desse último caso (responsabilidade objetiva), o agente terá de indenizar mesmo
se não tiver agido com culpa, ou seja, mesmo se não tiver praticado os ilícitos do art. 186 (que
exige a culpa) nem o abuso de direito (art. 187 do CC). O motivo é que o fundamento principal
da responsabilidade civil objetiva não é a existência de culpa do agente, e sim o fato de a ati-
vidade dele criar risco de danos a terceiros, de maneira que, por critérios de justiça, esse risco
deve ser assumido pelo agente (teoria do risco).
A responsabilidade civil objetiva, portanto, abrange casos de responsabilidade civil por ato
lícito, e não apenas de atos ilícitos, ao contrário do exposto na questão. Por isso, o gabari-
to é errado.
Veja os dispositivos citados:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187 ), causar dano a outrem, fica obrigado a repa-
rá-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos espe-
cificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo imi-
nente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tor-
narem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do
perigo.

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DIREITO CIVIL
Responsabilidade Civil – Parte IV
Carlos Elias

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpa-
dos do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o
autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (
art. 188, inciso I ).
Errado.

011. (FCC/JUIZ/TJ-PE/2015/ADAPTADA) Haverá obrigação de reparar o dano, independen-


temente de culpa,
a) sempre que o juiz, verificando a hipossuficiência da vítima, inverter o ônus da prova.
b) apenas quando o dano for ocasionado por agente público ou preposto de empresa conces-
sionária de serviço público, no exercício de seu trabalho.
c) quando a lei não estabelecer que a hipótese se regula pela responsabilidade civil subjetiva.
d) quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua nature-
za, risco para os direitos de outrem.
e) somente nos casos especificados em lei.

É o art. 927, parágrafo único, do CC:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos espe-
cificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por
sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Letra d.

012. (VUNESP/PROCURADOR/AVAREPREV-SP/2020/ADAPTADA) Quando a atividade nor-


malmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem, será necessário demonstrar imperícia, imprudência ou negligência para a sua respon-
sabilização.

Trata-se de caso de responsabilidade objetiva e, portanto, é dispensável a prova de culpa (im-


perícia, imprudência e negligência), ao contrário do indicado pela questão (art. 927 do CC).
A responsabilidade objetiva é excepcional no nosso ordenamento e, conforme parágrafo único
do art. 927 do CC, só se dará em duas hipóteses: (1) quando houver lei específica; ou (2) quan-
do for aplicável a teoria do risco, ou seja, quando a atividade do agente, por sua natureza, criar
risco de danos a terceiros.
Fora desses casos, vale a regra geral, que é a de que a responsabilidade civil é subjetiva, ou
seja, a que depende de culpa (art. 927, caput, do CC).
Errado.

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Responsabilidade Civil – Parte IV
Carlos Elias

013. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) Acerca


da responsabilidade civil objetiva, é correto afirmar:
O dever ressarcitório surge pois quem exerce atividade perigosa, independentemente de agir
com culpa, tem a obrigação de velar para que dela não resulte prejuízo.

É o art. 927, parágrafo único, do CC, que acolhe a teoria do risco para a responsabilidade objetiva.
Certo.

014. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) Acerca


da responsabilidade civil objetiva, é correto afirmar:
Só haverá obrigação de reparar o dano independentemente de culpa nos casos especifica-
dos em lei.

Também nos casos de a atividade do agente ser arriscada (art. 927, parágrafo único, CC).
Errado.

015. (VUNESP/PROCURADOR/CÂMARA DE TATUÍ-SP/2019/ADAPTADA) No âmbito estri-


tamente civil, quando a atividade normalmente desenvolvida por determinada pessoa jurídica
de direito privado implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem, a responsabilida-
de civil de indenizar
a) se dá por culpa presumida.
b) é subjetiva.
c) é objetiva.
d) independe da existência de nexo de causalidade.
e) é objetiva em relação aos danos materiais, mas subjetiva em relação aos danos morais.

É o art. 927, parágrafo único, CC.


Letra c.

016. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) Acerca


da responsabilidade civil objetiva, é correto afirmar:
É o perigo que resulta do comportamento do agente o que fundamenta o dever de indenizar.

A questão é mal redigida e merecia ser anulada. Seja como for, ela foi considerada errada, por-
que o fundamento da responsabilidade objetiva não é propriamente o perigo do comportamen-
to do agente, e sim o risco de danos a terceiros que esse comportamento. É que, se alguém
exercer uma atividade que ameaça causar dano apenas a si mesmo (perigo do comportamento),
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isso não gera responsabilidade objetiva. Esta se dá quando há risco de dano a terceiros. Se a
questão tivesse falado em “perigo a terceiros”, o gabarito poderia ser correto.
Errado.

017. (NC-UFPR/PROCURADOR/PREFEITURA DE CURITIBA-PR/2020/ADAPTADA) Acerca


da responsabilidade civil objetiva, é correto afirmar:
Ante a dificuldade da prova da culpa, cabe à vítima apenas fazer prova da ocorrência do dano.

A vítima não precisa provar culpa pelo fato de a responsabilidade ser objetiva, e não pelo fato
de ser difícil produzir essa prova, ao contrário do dito pela questão. Ademais, a vítima precisa
provar não apenas o dano, mas também o nexo causal. De fato, a responsabilidade civil tem os
seguintes pressupostos: (1) dano; (2) nexo causal entre a conduta e o dano; e (3) culpa. Este
último pressuposto fica afastado com a responsabilidade objetiva, de modo que sobra à vítima
o dever de provar os outros dois pressupostos.
Errado.

018. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) O regime jurídico do Código de


Defesa do Consumidor é o da responsabilidade civil objetiva, comportando exceção relativa-
mente aos profissionais liberais, para os quais vige o regime da responsabilidade civil subjetiva.

Os arts. 12, 14 e 18 do CDC estabelecem, como regra, a responsabilidade objetiva do fornece-


dor perante o consumidor por fato ou vício do produto ou do serviço. A exceção se dá para os
profissionais liberais, que, na responsabilidade por fato do serviço, respondem subjetivamente
(art. 14, § 4º, do CDC). Leia os dispositivos:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem,


independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumido-
res por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1º O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – sua apresentação;
II – o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colo-
cado no mercado.
§ 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I – que não colocou o produto no mercado;
II – que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

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Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela repa-
ração dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo de seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de
culpa.
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solida-
riamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.
§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternati-
vamente e à sua escolha:
I – a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;
III – o abatimento proporcional do preço.
§ 2º Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo ante-
rior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a
cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do
consumidor.
§ 3º O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1º deste artigo sempre que, em
razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou
características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.
§ 4º Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1º deste artigo, e não sendo
possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo
diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do
disposto nos incisos II e III do § 1º deste artigo.
§ 5º No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o for-
necedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.
§ 6º São impróprios ao uso e consumo:
I – os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II – os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, frauda-
dos, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regula-
mentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III – os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.
Certo.

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019. (CONSULPLAN/TITULA/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) É objetiva a responsa-


bilidade civil do fornecedor de bens ou serviços pelos danos decorrentes do fato do produto
ou serviço.

É o art. 12 e 14 do CDC.
Certo.

020. (FCC/DEFENSOR/DPE-SP/2019/ADAPTADA) O risco do desenvolvimento depende da


prova de culpa para gerar direito à indenização.

A teoria do risco do desenvolvimento é o risco de, após o lançamento de um produto no merca-


do, vir a ser descoberto um vício nele por conta do desenvolvimento científico ou tecnológico.
Nesse caso, à época do lançamento do produto, não era viável identificar o vício com base na
tecnologia e conhecimento científico da época. Esse risco é inerente à atividade do fornecedor
e, por isso, é um fortuito interno a ser absorvido por ele. Por isso, não há exclusão da respon-
sabilidade da responsabilidade objetiva do fornecedor por esse produto com vício, à luz do
art. 931 do CC e dos arts. 12 e 18 do CDC. A responsabilidade do fornecedor aí é objetiva e,
portanto, independe de prova de culpa. Veja este julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO


DO DANO MORAL. MORTE DA PARTE AUTORA ANTES DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO.
DESCONHECIMENTO DO FATO PELOS ADVOGADOS E AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO
DA MÁ-FÉ. SUCESSÃO PROCESSUAL REQUERIDA PELO ESPÓLIO E REGULARIZAÇÃO DA
REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. VALIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA.
RISCO INERENTE AO MEDICAMENTO. DEVER DE INFORMAR QUALIFICADO DO FABRI-
CANTE. VIOLAÇÃO. DEFEITO DO PRODUTO. RISCO DO DESENVOLVIMENTO.
DEFEITO DE CONCEPÇÃO. FORTUITO INTERNO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO
FABRICANTE CONFIGURADA. CULPA CONCORRENTE DO CONSUMIDOR AFASTADA.
COMPROVAÇÃO DOS DANOS EMERGENTES E DOS LUCROS CESSANTES. NECESSIDADE
DE LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA. REEXAME DE FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ.
DANO MORAL. MAJORAÇÃO DA VERBA FIXADA. VERBA ALIMENTAR RECEBIDA EM
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. NATUREZA IRREPETÍVEL. COMPENSAÇÃO INVIÁVEL.
INCIDENTE DE FALSIDADE JULGADO IMPROCEDENTE. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA QUE
RECAI SOBRE A PARTE VENCIDA. JULGAMENTO: CPC/15.
1. Ação de indenização por danos materiais e compensação do dano moral ajuizada em
30/04/2004, da qual foram extraídos os presentes recursos especiais, ambos interpostos
em 24/11/2017 e atribuídos ao gabinete em 07/11/2018.

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2. O propósito dos recursos é decidir sobre: (i) a sucessão processual; (ii) a negativa de
prestação jurisdicional; (iii) a responsabilidade civil do laboratório e a culpa concorrente
da paciente; (iv) a comprovação dos danos materiais e a necessidade de liquidação da
sentença; (v) o valor arbitrado a título de compensação do dano moral; (vi) a compensa-
ção dos valores pagos em sede de antecipação de tutela com os devidos em virtude da
condenação; e (vii) o ônus da sucumbência relativo ao incidente de falsidade.
3. Esta Corte tem o entendimento, com base no art. 689 do CC/02, de que são válidos
os atos praticados pelo mandatário após a morte do mandante, na hipótese de desco-
nhecimento do fato e, notadamente, quando ausente a má-fé, razão pela qual, requerida
a sucessão processual e promovida a devida regularização da representação nos autos,
ratificando-se, inclusive, os atos anteriormente praticados, não há falar em inexistência
do recurso.
4. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e suficientemente funda-
mentado o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional, não há falar
em violação dos arts. 489, §1º, IV, 1.013, 1.022, II, do CPC/15.
5. O risco inerente ao medicamento impõe ao fabricante um dever de informar qualificado
(art. 9º do CDC), cuja violação está prevista no § 1º, II, do art. 12 do CDC como hipótese
de defeito do produto, que enseja a responsabilidade objetiva do fornecedor pelo evento
danoso dele decorrente.
6. O ordenamento jurídico não exige que os medicamentos sejam fabricados com garan-
tia de segurança absoluta, até porque se trata de uma atividade de risco permitido, mas
exige que garantam a segurança legitimamente esperável, tolerando os riscos considera-
dos normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, desde que o consu-
midor receba as informações necessárias e adequadas a seu respeito (art. 8º do CDC).
7. O fato de o uso de um medicamento causar efeitos colaterais ou reações adversas, por
si só, não configura defeito do produto se o usuário foi prévia e devidamente informado
e advertido sobre tais riscos inerentes, de modo a poder decidir, de forma livre, refletida e
consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além de ter a possibilidade de mitigar
eventuais danos que venham a ocorrer em função dele.
8. O risco do desenvolvimento, entendido como aquele que não podia ser conhecido ou
evitado no momento em que o medicamento foi colocado em circulação, constitui defeito
existente desde o momento da concepção do produto, embora não perceptível a priori,
caracterizando, pois, hipótese de fortuito interno.
9. Embora a bula seja o mais importante documento sanitário de veiculação de informa-
ções técnico-científicas e orientadoras sobre um medicamento, não pode o fabricante se
aproveitar da tramitação administrativa do pedido de atualização junto a Anvisa para se
eximir do dever de dar, prontamente, amplo conhecimento ao público - pacientes e profis-
sionais da área de saúde -, por qualquer outro meio de comunicação, dos riscos inerentes
ao uso do remédio que fez circular no mercado de consumo.

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10. Hipótese em que o desconhecimento quanto à possibilidade de desenvolvimento


do jogo patológico como reação adversa ao uso do medicamento SIFROL subtraiu da
paciente a capacidade de relacionar, de imediato, o transtorno mental e comportamental
de controle do impulso ao tratamento médico ao qual estava sendo submetida, sobre-
tudo por se tratar de um efeito absolutamente anormal e imprevisível para a consumidora
leiga e desinformada, especialmente para a consumidora portadora de doença de Parkin-
son, como na espécie.
11. De um lado, a culpa concorrente do consumidor não está elencada dentre as hipóte-
ses que excluem a responsabilidade do fabricante, previstas no rol do § 3º do art. 12 do
CDC; de outro lado, a responsabilidade por eventual superdosagem ou interação medica-
mentosa não pode recair sobre o paciente que ingere a dose prescrita por seu médico,
considerando, sobretudo, a sua vulnerabilidade técnica enquanto consumidor.
(...)
16. Recursos especiais de BOEHRINGER INGELHEIM DO BRASIL QUÍMICA E FARMACÊU-
TICA LTDA e MARIA AMÉLIA SOUZA DA ROCHA-ESPÓLIO conhecidos, sendo desprovido
o primeiro e provido, em parte, o segundo.
(REsp 1774372/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
05/05/2020, DJe 18/05/2020)

Errado.

021. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) Tratando-se de uma relação de


consumo, havendo responsabilidade civil, o juiz de direito é obrigado a inverter o ônus da prova.

À luz do CDC, a inversão do ônus da prova não é automática no caso de relação de consumo,
mas apenas quando houver hipossuficiência do consumidor ou verossimilhança das alega-
ções do consumidor. Veja o art. 6º, VIII, do CDC:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor,
no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossufi-
ciente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Errado.

022. (VUNESP/PROCURADOR/AVAREPREV-SP/2020/ADAPTADA) O dono, ou detentor, do


animal ressarcirá o dano por este causado nos casos de força maior, mas não nos casos de
culpa exclusiva da vítima.

Força maior também exclui a responsabilidade civil do dono ou detentor do animal, ao contrá-
rio do dito na questão. É o art. 936 do CC:

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Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da
vítima ou força maior.
Errado.

023. (CESPE/DEFENSOR/DPE-DF/2019/ADAPTADA) A responsabilidade civil do dono de


animal é objetiva, admitindo-se a excludente do fato exclusivo de terceiro.

É o art. 936 do CC, que exclui a responsabilidade objetiva do animal o caso de culpa exclusi-
va da vítima ou de força maior. No conceito de força maior, está incluído o fato exclusivo de
terceiros.
Certo.

024. (CESPE/DEFENSOR/DPE-AC/2017/ADAPTADA) A responsabilidade civil, de acordo


com o Código Civil, no caso de ato danoso praticado por animal, será imputável ao dono deste,
se não houver culpa da vítima.

A questão não está muito bem redigida, mas é possível considerá-la correta por corresponder
ao espírito do art. 936 do CC. O ideal era que a questão tivesse feito referência à força maior
como excludente e quanto à existência de culpa EXCLUSIVA da vítima.
Certo.

025. (CESPE/DELEGADO/PC-SE/2018) Túlio, cidadão idoso, natural de Aracaju-SE e domi-


ciliado em São Paulo-SP, caminhava na calçada em frente a um edifício em sua cidade natal
quando, da janela de um apartamento, caiu uma garrafa de refrigerante cheia, que lhe atingiu
o ombro e provocou a fratura de sua clavícula e de seu braço. Em razão do incidente, Túlio
permaneceu por dois meses com o membro imobilizado, o que impossibilitou seu retorno a
São Paulo para trabalhar. Por essas razões, Túlio decidiu ajuizar ação de indenização por da-
nos materiais. Apesar da tentativa, ele não descobriu de qual apartamento caiu ou foi lançada
a garrafa.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
Diante da impossibilidade de saber de qual apartamento caiu ou foi lançada a garrafa que o
atingiu, Túlio poderá buscar a responsabilização direta do condomínio, indicando-o como réu
na ação de reparação de danos.

Essa é a interpretação dada ao art. 938 do CC, conforme o enunciado n. 557/JDC (“Nos termos
do art. 938 do CC, se a coisa cair ou for lançada de condomínio edilício, não sendo possível
identificar de qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de regresso”). Veja
o referido dispositivo e este julgado do STJ:

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Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que
dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido.

RESPONSABILIDADE CIVIL. OBJETOS LANÇADOS DA JANELA DE EDIFÍCIOS.


A REPARAÇÃO DOS DANOS É RESPONSABILIDADE DO CONDOMÍNIO.
A impossibilidade de identificação do exato ponto de onde parte a conduta lesiva, impõe
ao condomínio arcar com a responsabilidade reparatória por danos causados à terceiros.
Inteligência do art.
1.529, do Código Civil Brasileiro.
Recurso não conhecido.
(REsp 64.682/RJ, Rel. Ministro BUENO DE SOUZA, QUARTA TURMA, DJ 29/03/1999)

Certo.

026. (CESPE/DELEGADO/PC-SE/2018) Túlio, cidadão idoso, natural de Aracaju-SE e domi-


ciliado em São Paulo-SP, caminhava na calçada em frente a um edifício em sua cidade natal
quando, da janela de um apartamento, caiu uma garrafa de refrigerante cheia, que lhe atingiu
o ombro e provocou a fratura de sua clavícula e de seu braço. Em razão do incidente, Túlio
permaneceu por dois meses com o membro imobilizado, o que impossibilitou seu retorno a
São Paulo para trabalhar. Por essas razões, Túlio decidiu ajuizar ação de indenização por da-
nos materiais. Apesar da tentativa, ele não descobriu de qual apartamento caiu ou foi lançada
a garrafa.
Considerando essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
Em caso de condenação do condomínio, o direito de regresso contra o morador do apartamen-
to do qual caiu a garrafa, caso ele seja posteriormente identificado, depende da comprovação
de dolo ou culpa do causador do dano.

A responsabilidade por coisas caídas é objetiva contra o habitante do prédio de onde a coisa
caída (art. 938, CC). Não há, pois, necessidade de discussão de culpa. Por isso, se o condo-
mínio descobrir o apartamento de onde caiu a coisa, ele poderá buscar, em ação de regresso,
o reembolso do que pagou a título de indenização independentemente de prova de culpa ou
dolo. Essa é a lógica do enunciado n. 557/JDC.
Errado.

027. (CESPE/JUIZ/TJ-CE/2018) Pedro descobriu que seu nome havia sido inscrito em órgãos
de restrição ao crédito por determinada instituição financeira em decorrência do inadimple-
mento de contrato fraudado por terceiro.
Nesse caso hipotético, a instituição financeira
a) não responderá civilmente, uma vez que se trata de fato de terceiro, mas deverá proceder à
retirada do registro negativo no nome de Pedro.

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b) não responderá civilmente, porque a fraude configura uma excludente de caso fortui-
to externo.
c) responderá civilmente na modalidade objetiva integral.
d) responderá civilmente apenas se Pedro comprovar que sofreu prejuízos devido à inscrição
de seu nome nos órgãos de restrição ao crédito.
e) responderá civilmente na modalidade objetiva, com base no risco do empreendimento.

O caso de negativação indevida do nome do devedor, há responsabilidade objetiva da institui-


ção financeira com base no art. 14 do CDC, que adota a teoria do risco-proveito (quem tem pro-
veito econômico com sua atividade responde objetivamente). Trata-se, pois, de um risco doo
empreendimento: a atividade da instituição financeira abrange esse risco. Não se trata da apli-
cação da teoria do risco integral (risco integral), pois esta, segundo doutrina e jurisprudência,
só se aplica para casos excepcionais, como os de danos nucleares ou ambientais. Na teoria do
risco integral, não haveria excludente alguma de responsabilidade, pois qualquer risco de dano
seria fortuito interno (seria risco inerente à atividade).
A fraude de terceiros e consequente inscrição indevida em cadastro de inadimplentes é risco
inerente à atividade da instituição financeira e gera dano moral presumido.
A única alternativa que corresponde ao quanto exposto é a letra “E”.
Nesse sentido, confira-se:

Súmula n. 479 do STJ: “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos
gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito
de operações bancárias.”
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. JULGAMENTO PELA SISTE-
MÁTICA DO ART. 543-C DO CPC. RESPONSABILIDADE CIVIL.
INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS. DANOS CAUSADOS POR FRAUDES E DELITOS PRATICA-
DOS POR TERCEIROS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FORTUITO INTERNO. RISCO DO
EMPREENDIMENTO.
1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: As instituições bancárias respondem objetivamente
pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros - como, por exem-
plo, abertura de conta-corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude ou utili-
zação de documentos falsos -, porquanto tal responsabilidade decorre do risco do empre-
endimento, caracterizando-se como fortuito interno.
2. Recurso especial provido.
(REsp 1197929/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
24/08/2011, DJe 12/09/2011)
RECURSO ESPECIAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
DANO MORAL IN RE IPSA. INTIMAÇÃO PESSOAL. SUMULA 410 STJ.

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Responsabilidade Civil – Parte IV
Carlos Elias

INSCRIÇÃO DEVIDAMENTE FEITA. SÚMULA 385/STJ. DANO MORAL. AUSÊNCIA.


(...)
4. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica no sentido de que inscrições
indevidas são causa de dano moral in re ipsa, salvo algumas exceções bem delimitadas,
como a existência de prévia anotação de débito nos serviços de proteção de crédito.
(...)
7. Recurso especial desprovido.
(REsp 1562194/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
06/08/2019, DJe 12/08/2019)

Letra e.

028. (IESES/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-SC/2019/ADAPTADA) A responsabilidade contratual


do transportador aéreo por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, con-
tra o qual tem ação regressiva. COMENTÁRIO
Trata-se de fortuito interno e, por isso, não exclui a responsabilidade objetiva do transpor-
tador. Veja:

Súmula n. 187, STF


A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é
elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.

Certo.

029. (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2019/ADAPTADA) Ana, maior de sessenta e cinco anos de idade,


valendo-se da gratuidade constitucional do transporte coletivo urbano, ingressou em ônibus
da empresa Transpark S.A. e declarou o valor da bagagem em R$ 10.000, o que foi aceito pela
transportadora. Durante o trajeto, o veículo que estava à frente do ônibus freou abruptamente,
sem causa aparente. O motorista do coletivo, visando não colidir, perdeu o controle do carro
e caiu em uma ponte, ocasionando perda de bens e lesões em vários passageiros, entre eles,
Ana, que ingressou em juízo pleiteando danos morais e estéticos, além de danos materiais
pela perda total da bagagem. A empresa, por sua vez, alegou a ocorrência de fato exclusivo
de terceiro, o que ficou comprovado mediante laudo pericial da polícia civil. Nessa situação
hipotética, de acordo com o Código Civil, com o entendimento doutrinário sobre o tema e com
a jurisprudência do STJ,
por se tratar de transporte gratuito, não se pode cogitar a incidência da cláusula de incolumidade.

Em primeiro lugar, não se trata de um transporte propriamente gratuito, pois a gratuidade aí


decorreu de imposição legal. A empresa de transporte tem proveito econômico, ainda que indi-
reta, com sua atividade. Por isso, à luz do art. 736, parágrafo único, do CC, aplicam-se as regras
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de contrato de transporte, com inclusão da obrigação de garantir a incolumidade do transpor-


tado (cláusula de incolumidade). Entre essas regras, está a responsabilidade objetiva do trans-
portador, a qual não é excluída por fato de terceiro com conexão com o transporte em razão de
se cuidar de um fortuito interno. Veja o referido dispositivo e o seguinte julgado do STJ:

Art. 736, CC. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por ami-
zade ou cortesia.
Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o
transportador auferir vantagens indiretas.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL.


PROCESSUAL CIVIL. TRANSPORTE ONEROSO DE PASSAGEIROS. EXCLUDENTES DA
OBRIGAÇÃO REPARATÓRIA. ARESTO EMBARGADO: ACIDENTE DE TRÂNSITO PROVO-
CADO POR ATO CULPOSO DE TERCEIRO. FORTUITO INTERNO. RESPONSABILIDADE
DO TRANSPORTADOR CONFIGURADA. ACÓRDÃO PARADIGMA: PEDRA ARREMESSADA
CONTRA ÔNIBUS. ATO DOLOSO DE TERCEIRO. FORÇA MAIOR. FORTUITO EXTERNO. RES-
PONSABILIDADE AFASTADA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA.
AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA ENTRE OS ACÓRDÃOS CONFRONTADOS. EMBARGOS
DE DIVERGÊNCIA NÃO CONHECIDOS.
1. Conforme concordam doutrina e jurisprudência, a responsabilidade decorrente do con-
trato de transporte de pessoas é objetiva, sendo obrigação do transportador a repara-
ção do dano causado ao passageiro quando demonstrado o nexo causal entre a lesão
e a prestação do serviço, pois o contrato de transporte acarreta para o transportador a
assunção de obrigação de resultado, impondo ao concessionário ou permissionário do
serviço público o ônus de levar o passageiro incólume ao seu destino. É a chamada cláu-
sula de incolumidade, que garante que o transportador irá empregar todos os expedientes
que são próprios da atividade para preservar a integridade física do passageiro, contra os
riscos inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o destino final da viagem.
2. Nos moldes do entendimento uníssono desta Corte, com suporte na doutrina, o ato cul-
poso de terceiro, conexo com a atividade do transportador e relacionado com os riscos
próprios do negócio, caracteriza o fortuito interno, inapto a excluir a responsabilidade do
transportador. Por sua vez, o ato de terceiro que seja doloso ou alheio aos riscos próprios
da atividade explorada, é fato estranho à atividade do transportador, caracterizando-se
como fortuito externo, equiparável à força maior, rompendo o nexo causal e excluindo a
responsabilidade civil do fornecedor.
(...)
(EREsp 1318095/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, DJe 14/03/2017)

Errado.

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030. (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2019/ADAPTADA) Ana, maior de sessenta e cinco anos de idade,


valendo-se da gratuidade constitucional do transporte coletivo urbano, ingressou em ônibus
da empresa Transpark S.A. e declarou o valor da bagagem em R$ 10.000, o que foi aceito pela
transportadora. Durante o trajeto, o veículo que estava à frente do ônibus freou abruptamente,
sem causa aparente. O motorista do coletivo, visando não colidir, perdeu o controle do carro
e caiu em uma ponte, ocasionando perda de bens e lesões em vários passageiros, entre eles,
Ana, que ingressou em juízo pleiteando danos morais e estéticos, além de danos materiais
pela perda total da bagagem. A empresa, por sua vez, alegou a ocorrência de fato exclusivo
de terceiro, o que ficou comprovado mediante laudo pericial da polícia civil. Nessa situação
hipotética, de acordo com o Código Civil, com o entendimento doutrinário sobre o tema e com
a jurisprudência do STJ,
ainda que demonstrado o fato exclusivo de terceiro, a responsabilidade da empresa não é eli-
dida em relação a Ana.

O fato exclusivo de terceiro no trânsito é fortuito interno e, por isso, não exclui a responsabilida-
de objetiva do transportador (STJ, EREsp 1318095/MG, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA
SEÇÃO, DJe 14/03/2017).
Certo.

031. (CESPE/JUIZ/TJ-PR/2019/ADAPTADA) Ana, maior de sessenta e cinco anos de idade,


valendo-se da gratuidade constitucional do transporte coletivo urbano, ingressou em ônibus
da empresa Transpark S.A. e declarou o valor da bagagem em R$ 10.000, o que foi aceito pela
transportadora. Durante o trajeto, o veículo que estava à frente do ônibus freou abruptamente,
sem causa aparente. O motorista do coletivo, visando não colidir, perdeu o controle do carro
e caiu em uma ponte, ocasionando perda de bens e lesões em vários passageiros, entre eles,
Ana, que ingressou em juízo pleiteando danos morais e estéticos, além de danos materiais
pela perda total da bagagem. A empresa, por sua vez, alegou a ocorrência de fato exclusivo
de terceiro, o que ficou comprovado mediante laudo pericial da polícia civil. Nessa situação
hipotética, de acordo com o Código Civil, com o entendimento doutrinário sobre o tema e com
a jurisprudência do STJ,
os danos estéticos são espécie de danos morais, razão pela qual os pedidos não podem ser
cumulados.

Ao contrário do exposto na questão, os danos estéticos podem ser cumulados com danos
morais, conforme Súmula n. 387/STJ (“É lícita a cumulação das indenizações de dano estético
e dano moral).
Errado.

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032. (VUNESP/ADVOGADO/PREFEITURA DE SÃO ROQUE–SP/2020/ADAPTADA) É lícita a


cumulação das indenizações de dano estético e dano moral, mas não são cumuláveis as inde-
nizações por dano moral e material oriundos do mesmo fato.

Dano moral e material podem ser cumulados, pois são danos diferentes (Súmula n. 37/STJ:
“São cumuláveis as indenizações por dano material e moral oriundos do mesmo fato”). Igual-
mente, dano estético pode ser cumulado com dano moral (Súmula n. 387/STJ).
Errado.

033. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE FRANCISCO MORATO-SP/2020/ADAPTA-


DA) Não é possível a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

É o contrário, conforme Súmula n. 387/STJ.


Errado.

034. (CESPE/PROCURADOR/PREFEITURA DE BOA VISTA-RR/2019/ADAPTADA) Atenden-


do a um pedido de seu amigo Flávio, Gustavo lhe deu carona no percurso compreendido entre
o local de trabalho e a faculdade onde ambos estudavam. Em determinado momento do per-
curso, Gustavo reduziu a velocidade do veículo por ter avistado um transeunte em uma faixa
de pedestres, recebendo uma colisão violenta do carro que estava atrás com o seu veículo.
Em decorrência desse acidente, Flávio ficou paraplégico. Nessa situação, de acordo com a
jurisprudência do STJ, Gustavo poderá ser responsabilizado civilmente pelos danos materiais
e morais suportados por Flávio.

No caso de transporte gratuito (“carona”) – caso da questão –, o transportador só responde


se tiver culpa grave ou dolo, conforme Súmula n. 145/STJ (“No transporte desinteressado,
de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao
transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave”). Trata-se de um exemplo de aplicação
do princípio da proteção simplificada do agraciado, segundo o qual o Direito protege, sem pres-
tígio, o agraciado.
Errado.

035. (CONSULPLAN/TITULAR/CARTÓRIO/TJ-MG/2019/ADAPTADA) A responsabilidade


contratual do transportador por acidente com o passageiro é objetiva, sendo excluída por mo-
tivo de força maior ou por culpa de terceiro.

Embora a responsabilidade seja objetiva, ela não é afastada por culpa de terceiro, ao contrário
do dito na questão (art. 735 do CC). Ademais, não é qualquer caso fortuito que exclui a

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responsabilidade, mas apenas o fortuito externo (= risco não inerente à atividade). Veja o refe-
rido dispositivo e este julgado do STJ:

Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidi-
da por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS E MATERIAIS. ASSALTO NA ESTAÇÃO DE METRÔ. AUSÊNCIA DE RES-
PONSABILIDADE DA TRANSPORTADORA. FATO EXCLUSIVO DE TERCEIRO E ESTRANHO
AO CONTRATO DE TRANSPORTE. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Nos termos da jurisprudência firmada nesta Corte Superior, a responsabilidade do
transportador em relação aos passageiros é objetiva, podendo, portanto, ser elidida por
fortuito externo, força maior, fato exclusivo da vítima ou por fato doloso e exclusivo de
terceiro - quando este não guardar conexidade com a atividade de transporte.
2. “Assalto ocorrido nas escadas de acesso ao metrô não pode ser considerado como
falta do serviço, equiparando-se a assalto ocorrido em transporte coletivo” (REsp
402.708/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, Segunda Turma, julgado em 24/08/2004, DJ
de 28/02/2005).
3. Na hipótese, afasta-se a responsabilidade da concessionária pelo dano material
sofrido em decorrência de roubo cometido por terceiros, na modalidade conhecida como
“saidinha de banco”, contra vítima que saiu de agência bancária com grande quantia em
dinheiro e foi abordada pelos assaltantes na escada de acesso à estação metroviária.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1491619/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
06/02/2020, DJe 18/02/2020)

Errado.

036. (CESPE/DEFENSOR/DPE-DF/2019/ADAPTADA) As concessionárias de rodovias res-


pondem civilmente por roubos e sequestros ocorridos nas dependências de estabelecimento
de suporte mantido para utilização de usuários dessas rodovias.

Trata-se de fortuito externo a excluir a responsabilidade objetiva dessas concessionárias, se-


gundo STJ (AgInt no AREsp 1491619/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, DJe
18/02/2020).
Errado.

037. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE RIBEIRÃO PRETO-SP/2020/ADAPTADA) O


dano moral coletivo é categoria autônoma de dano relacionado à violação injusta e intolerável
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de valores fundamentais da coletividade, sendo indenizável apenas se comprovada a dor, o


sofrimento e a humilhação das pessoas que compõem a coletividade lesada.

Não há necessidade de prova de dor, sofrimento ou humilhação, pois o dano moral coletivo é
tido como presumido (in re ipsa). Veja este julgado:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VIGILÂNCIA SANITÁRIA. SAÚDE PÚBLICA. IRRE-


GULARIDADES SANITÁRIAS EM DROGARIA. ART. 18, § 6º, I E II, DO CÓDIGO DE DEFESA
DO CONSUMIDOR. FÉ PÚBLICA DE AUTO DE INFRAÇÃO. MULTAS APLICADAS NO ÂMBITO
ADMINISTRATIVO. NEGATIVA DE ASSINATURA DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CON-
DUTA - TAC. DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA. ART. 3º DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
OBRIGAÇÕES DE FAZER E DE NÃO FAZER. ART. 11 DA LEI 7.347/1985. DESNECESSIDADE
DE PROVA DE REINCIDÊNCIA DAS INFRAÇÕES. DE RESPONSABILIDADE POR DANO
MORAL COLETIVO IN RE IPSA.
(...)
10. Finalmente, em situações graves desse jaez, que põem em risco a saúde e a segu-
rança da população, o dano moral coletivo independe de prova (damnum in re ipsa). Con-
soante inúmeros precedentes do STJ, “a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido
do cabimento da condenação por danos morais coletivos, em sede de ação civil pública,
considerando, inclusive, que o dano moral coletivo é aferível in re ipsa” (AgInt no REsp
1.342.846/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe de 26/3/2019). No
mesmo sentido, o AgInt no AREsp 1.251.059/DF, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda
Turma, DJe de 9/9/2019. Essa também a posição dos colegiados de Direito Privado: “Os
danos morais coletivos configuram-se na própria prática ilícita, dispensam a prova de
efetivo dano ou sofrimento da sociedade e se baseiam na responsabilidade de natureza
objetiva, a qual dispensa a comprovação de culpa ou de dolo do agente lesivo, o que é
justificado pelo fenômeno da socialização e coletivização dos direitos, típicos das lides
de massa” (REsp 1.799.346/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe de
13/12/2019).
11. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido para ser determi-
nada a devolução dos autos ao Tribunal de origem a fim de que prossiga o julgamento.
(REsp 1784595/MS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
18/02/2020, DJe 18/05/2020)

Errado.

038. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE VALINHOS-SP/2020) Uma empresa de


transporte aéreo teve problemas em uma de suas aeronaves e, por esse motivo, deslocou seus
passageiros utilizando-se da locação de um ônibus, com uma alteração substancial e unilateral do

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contrato de transporte. No trajeto terrestre, os passageiros foram roubados e ameaçados com


armas de fogo. A título de responsabilidade civil, o contrato de transporte previsto no Código
Civil e o tipo de transporte escolhido pelos passageiros, é correto dizer que
a) não há indenização, pela existência de cláusula excludente.
b) não há indenização, pela excludente de caso fortuito externo.
c) há responsabilidade apenas da empresa de transporte rodoviário.
d) há responsabilidade apenas da empresa de transporte aéreo.
e) há responsabilidade concorrente entre as duas transportadoras.

O risco do roubo no transporte terrestre decorrente de alteração contratual provocada por pro-
blemas na aeronave deve ser assumido pela companhia de transporte aéreo, conforme enten-
dimento do STJ. A empresa de transporte terrestre, todavia, tem de ser isentada, pois o roubo
é tido como fortuito externo. O item “D” é correto. Veja este julgado do STJ:

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. 1. TRANSPORTE AÉREO QUE SEGUIU


VIA TERRESTRE (ÔNIBUS), EM VIRTUDE DE CANCELAMENTO DO VÔO.
PASSAGEIROS ROUBADOS DURANTE O TRAJETO. CONCORRÊNCIA DE CULPA DA TRANS-
PORTADORA. ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL E UNILATERAL DO CONTRATO.
PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. AUSÊNCIA DE CONFIGURAÇÃO DE FORTUITO
EXTERNO. 2. VALORES ARBITRADOS A TÍTULO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. ACÓR-
DÃO RECORRIDO BEM FUNDAMENTADO. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE. 3. JUROS
DE MORA. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. TERMO INICIAL A PARTIR DA CITAÇÃO.
JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO STJ. 4. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
1. No que concerne ao transporte de pessoas, o ordenamento jurídico estabelece a res-
ponsabilidade civil objetiva do transportador, o qual deverá responder pelos danos causa-
dos às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo a existência de alguma excludente
de responsabilidade, como motivo de força maior, caso fortuito, culpa exclusiva da vítima
ou de terceiro.
1.1. Em relação ao fato de terceiro, todavia, a teor do que dispõe o art. 735 do Código
Civil, a responsabilidade só será excluída se ficar comprovado que a conduta danosa era
completamente independente em relação à atividade de transporte e aos riscos inerentes
à sua exploração, caracterizando-se, nesse caso, como fortuito externo.
Precedentes.
1.2. Nessa linha de entendimento, a jurisprudência do STJ reconhece que o roubo dentro
de ônibus configura hipótese de fortuito externo, por se tratar de fato de terceiro inteira-
mente independente ao transporte em si, afastando-se, com isso, a responsabilidade da
empresa transportadora por danos causados aos passageiros.
1.3. Não obstante essa seja a regra, o caso em análise guarda peculiaridade que com-
porta solução diversa. Com efeito, a alteração substancial e unilateral do contrato firmado

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pela recorrente - de transporte aéreo para terrestre -, sem dúvida alguma, acabou criando
uma situação favorável à ação de terceiros (roubo), pois o transporte rodoviário é sabida-
mente muito mais suscetível de ocorrer crimes dessa natureza, ao contrário do transporte
aéreo. Dessa forma, a conduta da transportadora concorreu para o evento danoso, pois
ampliou significativamente o risco de ocorrência desse tipo de situação, não podendo,
agora, se valer da excludente do fortuito externo para se eximir da responsabilidade. 2.
Em relação aos danos morais, não se verifica qualquer exorbitância no valor arbitrado
de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), pois, além do cancelamento do vôo pela recorrente, o
autor foi obrigado a seguir o trajeto por via terrestre (ônibus), viagem que durou mais de
14h (quatorze horas), sendo, ainda, durante o percurso e na madrugada, roubado e agre-
dido por meliantes.
3. No tocante aos danos materiais, conquanto haja uma certa dificuldade em compro-
var os bens efetivamente subtraídos em casos dessa natureza, as instâncias ordinárias,
após amplo exame do conjunto fático-probatório produzido, decidiram de forma correta a
questão, levando-se em consideração para a aferição do quantum indenizatório, na linha
de precedentes desta Corte, além da inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º,
VIII, do Código de Defesa do Consumidor, a verossimilhança das alegações, embasada na
estrita observância ao princípio da razoabilidade.
4. Tratando-se de responsabilidade contratual, os juros de mora devem ser computados
a partir da citação, a teor do art. 405 do Código Civil. Precedentes.
5. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1728068/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado
em 05/06/2018, DJe 08/06/2018)

Letra d.

039. (MPE-SC/PROMOTOR/MPE-SC/2019/ADAPTADA) Segundo entendimento do Superior


Tribunal de Justiça, a fixação do valor devido à título de indenização por danos morais deve
considerar o método bifásico, que conjuga os critérios da valorização das circunstâncias do
caso e do interesse jurídico lesado, e minimiza eventual arbitrariedade ao se adotar critérios
unicamente subjetivos do julgador, além de afastar eventual tarifação do dano.

É a jurisprudência do STJ. Veja:

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE DE MENOR POR AFOGAMENTO.


RESPONSABILIDADE DO CLUBE PELA FALHA NO SERVIÇO. DANO MORAL. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO EQUITATIVO.
MÉTODO BIFÁSICO. NÚCLEO FAMILIAR SUJEITO DO DANO. NECESSIDADE DE INDIVIDU-
ALIZAÇÃO DA INDENIZAÇÃO. PENSÃO MENSAL DEVIDA.

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1. O clube recreativo que possui em sua estrutura piscinas e lagoas é responsável pelo
afogamento e óbito de criança em suas dependências, quando comprovada falha na
prestação do serviço, configurada pela não adoção de medidas preventivas adequadas
ao risco de sua fruição: segurança dos banhistas, salva-vidas, boias para a indicação da
parte funda da rasa do lago, profissional médico, aparelho de respiração artificial.
2. O Superior Tribunal de Justiça, quando requisitado a se manifestar sobre o arbitra-
mento de valores devidos pelo sofrimento de dano moral, deve interferir somente diante
de situações especialíssimas, para aferir a razoabilidade do quantum determinado para
amenizar o abalo ocasionado pela ofensa 3. O método bifásico, como parâmetro para a
aferição da indenização por danos morais, atende às exigências de um arbitramento equi-
tativo, pois, além de minimizar eventuais arbitrariedades, evitando a adoção de critérios
unicamente subjetivos pelo julgador, afasta a tarifação do dano.
Traz um ponto de equilíbrio, pois se alcançará uma razoável correspondência entre o
valor da indenização e o interesse jurídico lesado, além do fato de estabelecer montante
que melhor corresponda às peculiaridades do caso.
4. Na primeira fase, o valor básico ou inicial da indenização é arbitrado tendo-se em conta
o interesse jurídico lesado, em conformidade com os precedentes jurisprudenciais acerca
da matéria (grupo de casos).
5. Na segunda fase, ajusta-se o valor às peculiaridades do caso, com base nas suas
circunstâncias (gravidade do fato em si, culpabilidade do agente, culpa concorrente da
vítima, condição econômica das partes), procedendo-se à fixação definitiva da indeniza-
ção, por meio de arbitramento equitativo pelo juiz.
6. Ainda na segunda fase de fixação, tendo em vista tratar-se de um núcleo familiar como
titular da indenização, há que se ponderar acerca da individualização do dano, uma vez
que um evento danoso capaz de abalar o núcleo familiar deve ser individualmente consi-
derado em relação a cada um de seus membros (EREsp 1127913/RS, Rel. Ministro NAPO-
LEÃO NUNES MAIA FILHO, CORTE ESPECIAL, DJe 05/08/2014)
7. Conforme a jurisprudência do STJ, a indenização pela morte de filho menor, que não
exercia atividade remunerada, deve ser fixada na forma de pensão mensal de 2/3 do salá-
rio mínimo até 25 (vinte e cinco) anos, e a partir daí, reduzida para 1/3 do salário até a
idade em que a vítima completaria 65 (sessenta e cinco) anos.
8. Recurso especial parcialmente provido.
(REsp 1332366/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
10/11/2016, DJe 07/12/2016)
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO.
MORTE. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO EQUITATIVO PELO JUIZ. MÉTODO BIFÁSICO.
VALORIZAÇÃO DO INTERESSE JURÍDICO LESADO E DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO.

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1. Discussão restrita à quantificação da indenização por dano moral sofrido pelo esposo
da vítima falecida em acidente de trânsito, que foi arbitrado pelo tribunal de origem em
dez mil reais.
(...)
3. Elevação do valor da indenização por dano moral na linha dos precedentes desta Corte,
considerando as duas etapas que devem ser percorridas para esse arbitramento.
4. Na primeira etapa, deve-se estabelecer um valor básico para a indenização, conside-
rando o interesse jurídico lesado, com base em grupo de precedentes jurisprudenciais
que apreciaram casos semelhantes.
5. Na segunda etapa, devem ser consideradas as circunstâncias do caso, para fixação
definitiva do valor da indenização, atendendo a determinação legal de arbitramento equi-
tativo pelo juiz.
6. Aplicação analógica do enunciado normativo do parágrafo único do art. 953 do CC/2002.
7. Doutrina e jurisprudência acerca do tema.
8. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
(REsp 959.780/ES, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, jul-
gado em 26/04/2011, DJe 06/05/2011)

Certo.

040. (VUNESP/PROCURADOR/PREFEITURA DE VALINHOS-SP/2020) A fixação do valor de-


vido a título de indenização por danos morais deve considerar o método trifásico, que conjuga
os critérios da valorização das circunstâncias do caso e do interesse jurídico lesado, minimiza
eventual arbitrariedade ao se adotar critérios unicamente subjetivos do julgador, bem como
considera a tarifação do dano.

É adotado o critério bifásico, e não trifásico, conforme jurisprudência do STJ (REsp 959.780/
ES, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/04/2011,
DJe 06/05/2011).
Errado.

041. (CESPE/PROCURADOR/PREFEITURA BELO HORIZONTE/2017/ADAPTADA) No que


se refere ao nexo causal, elemento da responsabilidade civil, o Código Civil adota a teoria da
equivalência das condições.

A jurisprudência é pacífica em rejeitar a teoria da equivalência, o que faz a questão errada. Ela
oscila, porém, entre a teoria da causalidade adequada e a teoria do dano direto e imediato, em-
bora haja prevalência da primeira (causalidade adequada). Veja estes julgados do STJ:

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Responsabilidade Civil – Parte IV
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RECURSO ESPECIAL E AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL


OBJETIVA. AQUISIÇÃO DE VEÍCULO. CARTA DE CRÉDITO. DANO MATERIAL. CULPA
EXCLUSIVA DE TERCEIRO. REEXAME DE FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE. CAUSA-
LIDADE ADEQUADA. PREPONDERÂNCIA CAUSAL. SUCESSIVIDADE DE CONDUTAS CUL-
POSAS. CONCORRÊNCIA DE CULPAS. ART. 945 DO CC/02. AFASTAMENTO.
1. Ação de obrigação de dar com pedido sucessivo de indenização de danos materiais
e de compensação de danos morais, por meio da qual se sustenta que, por erro nos ser-
viços prestados pela ré, a autora transferiu a terceiro a quantia referente ao preço de R$
58.000,00 (cinquenta e oito mil reais), destinada à aquisição de veículo em seu nome, a
qual teria sido indevidamente invalidada pela concessionária por falta de pagamento.
2. O propósito recursal cinge-se a determinar se: a) houve culpa exclusiva de terceiro, apta
a romper o nexo causal e afastar a responsabilidade civil objetiva; e b) ocorreu, na hipó-
tese concreta, a concorrência de culpas por atuação culposa da vítima, suficiente para
acarretar o desvio do nexo causal e ensejar a repartição dos ônus decorrentes do dano.
(...)
7. A concorrência culposa da vítima diminui a intensidade do nexo causal e, como con-
sequência, reduz a parcela de responsabilidade do ofensor, nos termos do art. 945 do
CC/02.
8. À luz da teoria da causalidade adequada, prevista expressamente no art. 403 do CC/02,
somente se considera existente o nexo causal quando a conduta do agente for determi-
nante à ocorrência do dano. Precedentes.
9. Pela causalidade adequada, a concorrência de culpas, que na verdade consubstancia
concorrência de causas para o evento danoso, só deve ser admitida em casos excepcio-
nais, quando não se cogita de preponderância causal manifesta e provada da conduta do
agente. Precedentes.
10. A configuração da culpa concorrente exige a simultaneidade dos atos jurídicos, razão
pela qual a sucessividade no descumprimento dos deveres de cuidado implica o seu
afastamento.
11. Na hipótese dos autos, segundo a moldura fática delimitada pelo acórdão recorrido,
a atuação imprudente do preposto da concessionária, “ao confirmar o negócio e emitir a
nota fiscal de compra e venda de veículo em favor da autora, induzi[u a autora] ao paga-
mento exigido pelos terceiros” (e-STJ, fl. 547), podendo, assim, ser considerada decisiva
para a ocorrência do dano. Além disso, há sucessividade entre as condutas culposas
da vítima e da responsável, o que também impede a caracterização de concorrência de
culpas.
(...)”
(REsp 1808079/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
06/08/2019, DJe 08/08/2019)

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Responsabilidade Civil – Parte IV
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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ROUBO EM ESTACIONAMENTO GRATUITO DE
SHOPPING. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. ROMPIMENTO DO NEXO DE CAUSALIDADE, ACÓR-
DÃO OMISSO NO PONTO. EMBARGOS ACOLHIDOS EM PARTE, SEM EFEITOS INFRINGEN-
TES.
(...)
3. A doutrina majoritária entende que, na responsabilidade civil, o ordenamento pátrio
adotou a teoria da causalidade adequada, segundo a qual devem ser considerados os
fatos e condições que concorreram para o evento danoso, selecionando aqueles que con-
tribuíram de forma necessária e determinante para a ocorrência do prejuízo. No caso,
a conduta do shopping foi determinante para provocação do dano, pois falhou na sua
obrigação de guarda e vigilância, e a conduta posterior dos criminosos não foi capaz de
romper com o nexo de causalidade. Precedentes.
4. Embargos de declaração parcialmente acolhidos, sem efeitos infringentes.
(EDcl no AgRg no AREsp 790.643/DF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 23/06/2016, DJe 01/07/2016)
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - RESTITUIÇÃO DE QUANTIA DEPOSITADA
EM CONTA CORRENTE - SOLIDARIEDADE RECONHECIDA ENTRE COOPERATIVA DE CRÉ-
DITO E BANCOOB - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE CONHECEU EM PARTE DO RECLAMO
PARA DAR-LHE PROVIMENTO A FIM DE AFASTAR A SOLIDARIEDADE.
IRRESIGNAÇÃO DOS AUTORES
(...)
2.3 No âmbito das relações de consumo, aplicando-se a teoria da causalidade adequada
e do dano direto imediato, somente há responsabilidade civil por fato do produto ou ser-
viço quando houver defeito e se isso for a causa dos danos sofridos pelo consumidor.
2.4 Na hipótese sob julgamento, nenhuma das causas da insolvência da cooperativa sin-
gular pode ser atribuída ao recorrente BANCOOB, o qual atuava como simples prestador
de serviços do sistema de crédito cooperativo, nos termos da regulamentação das autori-
dades competentes, motivo pelo qual não há como reconhecer a responsabilidade solidá-
ria prevista nos arts. 7º, parágrafo único, 20 e 25 do CDC, pois o insurgente BANCOOB não
forma a cadeia de fornecimento do serviço em discussão na controvérsia em julgamento.
3. Agravo interno desprovido.
(AgInt no REsp 1520390/ES, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em
22/05/2018, DJe 28/06/2018)
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ABANDONO AFETIVO.
OFENSA AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. ALEGADA OCORRÊNCIA DO DESCUM-
PRIMENTO DO DEVER DE CUIDADO. NÃO OCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DEMONSTRA-
ÇÃO DA CONFIGURAÇÃO DO NEXO CAUSAL. APLICAÇÃO DA TEORIA DO DANO DIRETO
E IMEDIATO. PREQUESTIONAMENTO INEXISTENTE NO QUE TANGE AOS ACORDOS E

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CONVENÇÕES INTERNACIONAIS. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N..s 282 E 235 DO STF.


DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO CARACTERIZADO.
RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
(...)
2. Considerando a complexidade dos temas que envolvem as relações familiares e que a
configuração de dano moral em hipóteses de tal natureza é situação excepcionalíssima,
que somente deve ser admitida em ocasião de efetivo excesso nas relações familiares,
recomenda-se uma análise responsável e prudente pelo magistrado dos requisitos auto-
rizadores da responsabilidade civil, principalmente no caso de alegação de abandono
afetivo de filho, fazendo-se necessário examinar as circunstâncias do caso concreto, a
fim de se verificar se houve a quebra do dever jurídico de convivência familiar, de modo a
evitar que o Poder Judiciário seja transformado numa indústria indenizatória.
3. Para que se configure a responsabilidade civil, no caso, subjetiva, deve ficar devida-
mente comprovada a conduta omissiva ou comissiva do pai em relação ao dever jurídico
de convivência com o filho (ato ilícito), o trauma psicológico sofrido (dano a personali-
dade), e, sobretudo, o nexo causal entre o ato ilícito e o dano, nos termos do art. 186 do
CC/2002. Considerando a dificuldade de se visualizar a forma como se caracteriza o ato
ilícito passível de indenização, notadamente na hipótese de abandono afetivo, todos os
elementos devem estar claro e conectados.
4. Os elementos e as peculiaridades dos autos indicam que o Tribunal a quo decidiu com
prudência e razoabilidade quando adotou um critério para afastar a responsabilidade por
abandono afetivo, qual seja, o de que o descumprimento do dever de cuidado somente
ocorre se houver um descaso, uma rejeição ou um desprezo total pela pessoa da filha por
parte do genitor, o que absolutamente não ocorreu.
5. A ausência do indispensável estudo psicossocial para se estabelecer não só a exis-
tência do dano mas a sua causa, dificulta, sobremaneira, a configuração do nexo causal.
Este elemento da responsabilidade civil, no caso, não ficou configurado porque não houve
comprovação de que a conduta atribuída ao recorrido foi a que necessariamente causou
o alegado dano à recorrente. Adoção da teoria do dano direto e imediato.
(...)
7. Recurso especial não provido.
(REsp 1557978/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em
03/11/2015, DJe 17/11/2015)
RESPONSABILIDADE CIVIL. FALÊNCIA DE EMPRESA. AÇÃO INDENIZATÓRIA PROPOSTA
EM FACE DO SEBRAE. ELABORAÇÃO DE PROJETO DE VIABILIDADE ECONÔMICO-FINAN-
CEIRA. NÃO CONFIGURAÇÃO CAUSA DIRETA, IMEDIATA E NECESSÁRIA DA INSOLVÊN-
CIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(...)
5. Somente rende ensejo à responsabilidade civil o nexo causal demonstrado segundo
os parâmetros jurídicos adotados pelo ordenamento, vigorando no direito civil pátrio, sob

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a vertente da necessariedade, a “teoria do dano direto e imediato”, também conhecida


como “teoria do nexo causal direto e imediato” ou “teoria da interrupção do nexo causal”.
Todavia, no caso concreto, não se vislumbra a configuração do nexo de causalidade entre
o alegado erro na elaboração do projeto de viabilidade econômico financeira pelo SEBRA-
E-MT e os danos advindos com a falência da empresa.
(...)
(REsp 1154737/MT, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
21/10/2010, DJe 07/02/2011)
PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. NEXO DE CAUSALIDADE
ENTRE A NEGLIGÊNCIA DO ESTADO E O ATO ILÍCITO PRATICADO POR FORAGIDO DE
INSTITUIÇÃO PRISIONAL. AUSÊNCIA.
1. A imputação de responsabilidade civil, objetiva ou subjetiva, supõe a presença de dois
elementos de fato (a conduta do agente e o resultado danoso) e um elemento lógico-nor-
mativo, o nexo causal (que é lógico, porque consiste num elo referencial, numa relação
de pertencialidade, entre os elementos de fato; e é normativo, porque tem contornos e
limites impostos pelo sistema de direito).
2.”Ora, em nosso sistema, como resulta do disposto no artigo 1.060 do Código Civil [art.
403 do CC/2002], a teoria adotada quanto ao nexo causal é a teoria do dano direto e ime-
diato, também denominada teoria da interrupção do nexo causal. Não obstante aquele
dispositivo da codificação civil diga respeito à impropriamente denominada responsabili-
dade contratual, aplica-se também à responsabilidade extracontratual, inclusive a objetiva
(...). Essa teoria, como bem demonstra Agostinho Alvim (Da Inexecução das Obrigações,
5ª ed., n. 226, p. 370, Editora Saraiva, São Paulo, 1980), só admite o nexo de causalidade
quando o dano é efeito necessário de uma causa” (STF, RE 130.764, 1ª Turma, DJ de
07.08.92, Min. Moreira Alves).
3. No caso, não há como afirmar que a deficiência do serviço do Estado tenha sido a
causa direta e imediata do ato ilícito praticado pelo foragido. A violência contra a recor-
rida, que produziu os danos reclamados, ocorreu mais de dez meses após o foragido
ter se evadido do presídio. Ausente o nexo causal, fica afastada a responsabilidade do
Estado. Precedentes do STF (RE 130.764, 1ª T., Min. Moreira Alves, DJ de 07.08.92; RE
369.820-6, 2ª T., Min. Carlos Velloso, DJ de 27.02.2004; RE 341.776-2, 2ª T., Min. Gilmar
Mendes, DJ de 17.04.2007) e do STJ (REsp 858.511/DF, 1ª T., relator para acórdão Minis-
tro Teori Albino Zavascki, julgado em 19.08.2008) .
4. Recurso especial a que se dá provimento.
(REsp 719.738/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em
16/09/2008, DJe 22/09/2008)

Errado.

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042. (VUNESP/ASSISTENTE/PREFEITURA DE SÃO BERNARDO DO CAMPO-SP/2018/


ADAPTADA) Considerando a situação hipotética de um imóvel exclusivamente destinado à
prática ilegal de jogos de azar, tais como vídeobingos e caça-níquel, caracteriza hipótese de
a) dano estético.
b) dano social.
c) perda de uma chance.
d) dano moral coletivo.
e) responsabilidade objetiva, sendo necessário comprovar a dor, sofrimento e abalo psicológico.

O STJ entende haver dano moral coletivo nessa hipótese. Veja este julgado:

PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONSUMIDOR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


JOGO DE AZAR ILEGAL. BINGO. INEXISTÊNCIA DE LEGISLAÇÃO QUE AUTORIZE A ATIVI-
DADE. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO. CABIMENTO.
1. Na hipótese dos autos, o Ministério Público Federal promoveu Ação Civil Pública
visando à condenação dos réus ao pagamento de indenização por dano moral coletivo,
por exploração de bingo ilegal.
2. No caso concreto, prevalece o interesse social na tutela coletiva. A necessidade de cor-
reção das indigitadas lesões às relações de consumo transcende os interesses individu-
ais dos frequentadores das casas de jogos ilegais para dizer respeito ao interesse público
na prevenção da reincidência da suposta conduta lesiva por parte dos exploradores dos
jogos de azar, de onde exsurge o direito da coletividade a danos morais coletivos, ante
a exploração comercial de uma atividade que, por ora, não encontra guarida na legisla-
ção. (REsp 1.509.923/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em
6/10/2015, DJe 22/10/2015).
3. O dano moral sofrido pela coletividade decorre do caráter altamente viciante de jogos
de azar, passíveis de afetar o bem-estar do jogador e desestruturar o ambiente familiar. A
responsabilidade civil é objetiva, respondendo os réus, “independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores” (art. 12, caput, do CDC).
4. O dano moral coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo
psicológico, pois tal comprovação, embora possível na esfera individual, torna-se inapli-
cável quando se cuida de interesses difusos e coletivos. (REsp 1.410.698/MG, Rel. Minis-
tro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 30/6/2015; REsp 1.057.274/RS, Rel. Ministra
Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 26/2/2010).
5. Recurso Especial provido.
(REsp 1464868/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
22/11/2016, DJe 30/11/2016)

Letra d.

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Responsabilidade Civil – Parte IV
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GABARITO
10. E 21. E 32. E
11. d 22. E 33. E
12. E 23. C 34. E
13. C 24. C 35. E
14. E 25. C 36. E
15. c 26. C 37. E
16. E 27. e 38. d
17. E 28. C 39. C
18. C 29. E 40. E
19. C 30. C 41. E
20. E 31. E 42. d

Carlos Elias
Consultor Legislativo do Senado Federal em Direito Civil, Processo Civil e Direito Agrário (único aprovado no
concurso de 2012). Advogado. Professor em cursos de graduação, de pós-graduação e de preparação para
concursos públicos em Brasília, Goiânia e São Paulo. Ex-membro da Advocacia-Geral da União (Advogado
da União). Ex-Assessor de Ministro do STJ. Ex-técnico judiciário do STJ. Doutorando e Mestre em Direito
pela Universidade de Brasília (UnB). Bacharel em Direito na UnB (1º lugar em Direito no vestibular da UnB
de 2002). Pós-graduado em Direito Notarial e de Registro. Pós-Graduado em Direito Público. Membro do
Conselho Editorial da Revista de Direito Civil Contemporâneo.

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