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Práticas Integrativas I - Responsabilidade Civil Responsabilidade Civil

Prof: Andrezza Passani

AULÃO
Responsabilidade Civil
1- INTRODUÇÃO
Em face das necessidades decorrentes dos novos tempos, que exigem respostas mais eficientes e
condizentes como senso de justiça e com a segurança das pessoas, a responsabilidade civil deve, além de
permitir o ressarcimento e compensação da vítima pelo dano injusto, fazer valer a punição do
comportamento antijurídico, e, ainda, garantir a reeducação da conduta do ofensor, para prevenir da
ocorrência de novas lesões.
A lei, assim, possui um sentido quádruplo: ressarcir, compensar, punir e educar. Dessa forma, hoje
é possível visualizar quatro funções no instituto de reparação civil: ressarcitória do dano, compensatória da
lesão, punitiva do ofensor e desmotivacional ou reeducativa da conduta lesiva.
A função punitiva, aos poucos, recebe adeptos tanto na doutrina como na jurisprudência, e a
tendência atual permanece sendo no sentido de aumentar o valor das indenizações a esse título.
A função sócio preventiva demonstra o esforço do legislador com o escopo de evitar, de prevenir, a
infração. Trata-se de uma forma mais branda que a pena em sentido amplo, e por isso seu emprego revela-
se mais vantajoso.

2- ASPECTOS HISTÓRICOS
A concepção de compensar prejuízo injustamente causado é algo moderno no Direito, trazida pelos
romanos com o princípio da Lei de Talião, pelo qual se pagava o mal com o mal na chamada vingança privada.
Assim, ficava claro que não se havia nenhum mecanismo que pudesse limitar as reações humanas.
Poderíamos pensar que, essa prática poderia estar vigendo até os dias de hoje, se não se encontrasse
impedimento no ordenamento jurídico vigente.
No século XIII a.C, com a presença de uma autoridade estatal imperante, foi que o legislador começou a
pensar na idéia de indenização, proibir a vingança particular e constranger o causador do dano a compor
ofensas. Já em 450 a.C surgiram alguns ordenamentos modificadores da responsabilidade civil, como o
Alcorão e o livro de Deuteronômio.
Entretanto, foi no século III a.C que o ente estatal de forma exclusiva, passou a intervir nas lides privadas;
dando valores aos danos e coagindo o lesado a aceitar a composição sem recorrer ao acerto de contas

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particular. E isso tudo, por meio da Lex Aquilia, considerada o marco da responsabilidade civil na época de
Justiniano.
A Lex Aquilia foi um plebiscito que datou o final do século III e que permitiu ao titular de bens destruídos
ou deteriorados, o direito de receber pagamento de quem lhe deu causa como forma de penalidade
pecuniária. Naquele momento surgia a concepção de responsabilidade extracontratual.
O Direito Romano interpretou esse diploma afirmando que no caso de ocorrer dano injusto a outrem, o
autor deste dano deveria ser punido independentemente de haver uma obrigação pactuada anteriormente.
Porém, a teoria da reparação de danos só teve seu real início quando os juristas enxergaram que seu
fundamento consistia na ruptura sofrida no equilíbrio patrimonial em virtude do dano. A partir daí os
franceses já no início do séc XVIII aprimoraram as teorias romanas e consolidando os princípios gerais da
responsabilidade civil.
Após a Segunda Guerra, com o advento da evolução tecnológica, econômica e industrial no ocidente,
surgiram importantes alterações no campo dos contratos e nos princípios norteadores das indenizações. A
partir deste momento, verificou-se que a responsabilidade civil na cultura ocidental sofreu constantes
mudanças decorrentes da necessidade de adequação social.

3- DEVER JURIDICO E SUCESSIVO DA RESPONSABILIDADE CIVIL


Todo aquele que violar direito e causar dano a outrem comete ato ilícito (CC, art. 186). Complementa
este artigo o disposto no art. 927, que diz: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo”.
A responsabilidade civil tem, pois, como um de seus pressupostos, a violação do dever jurídico e o
dano. Há um dever jurídico originário, cuja violação gera um dever jurídico sucessivo ou secundário, que é o
de indenizar o prejuízo.
Responsabilidade Civil é, assim, um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano
decorrente da violação de um dever jurídico originário. Portanto, toda conduta humana que, violar um dever
jurídico originário e causar prejuízo a outrem é fonte geradora de responsabilidade civil.
Cabe esclarecer que o mesmo fato ou a mesma conduta ilícita podem ser analisadas sob a égide da
esfera cível, penal e administrativa e em cada uma delas, haverá uma consequência jurídica para tal fato.
Portanto pode o lesante sofrer sanções penais, civis e ainda administrativas decorrente do mesmo ato
lesivo.
Ex: Tício ultrapassa o sinal vermelho e atropela Mévio. Temos uma conduta que poderá ser analisada pelo
direito penal – lesão corporal, pela esfera administrativa – multa por ter avançado o sinal e ainda pelo direito
civil, o qual irá aplicar a indenização como forma de ressarcir os danos causados.

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Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a
existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo
criminal.
.
4- CONCEITUAÇÃO:
A responsabilidade civil é definida como uma obrigação imposta a alguém de indenizar os danos
causados a outrem. Estes prejuízos podem ocorrer por ato próprio ou por fato ou ato de terceiro.
➔ Ato próprio – algo que fiz;
➔ Fato ou ato de terceiro – art 932, alguém é posto com o autor do dano para indenizar ainda que
não tenham provocado diretamente o dano. Ex: empregador que se responsabiliza pelos danos
provocados por seu empregado.
➔ O fato ou ato de terceiro relembra e teoria alemã dualista da divisão do vínculo obrigacional:
SHULD E HAFTUNG, tratados a seguir.

5- DISTINÇÃO ENTRE OBRIGAÇÃO E RESPONSABILIDADE


Contraída a obrigação, duas situações podem ocorrer: ou o devedor cumpre normalmente a
prestação assumida — e, nesse caso, ela se extingue, por ter atingido o seu fim (por um processo normal)
— ou se torna inadimplente. Nesse caso, a satisfação do interesse do credor se alcançará pela
movimentação do Poder Judiciário, buscando-se no patrimônio do devedor o quantum necessário à
composição do dano decorrente.
A possibilidade de ocorrerem as duas situações descritas — cumprimento normal da prestação ou
inadimplemento — exige que se distingam os vocábulos obrigação e responsabilidade, que não são
sinônimos e exprimem situações diversas.
□ Obrigação: como vimos, a relação jurídica obrigacional resulta da vontade humana ou da vontade do
Estado, por intermédio da lei, e deve ser cumprida espontânea e voluntariamente. Quando tal fato não
acontece, surge a responsabilidade. Esta, portanto, não chega a despontar quando se dá o que normalmente
acontece: o cumprimento da prestação. Cumprida, a obrigação se extingue. Não cumprida, nasce a
responsabilidade, que tem como garantia o patrimônio geral do devedor.
□ Responsabilidade: é a consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação
obrigacional. O dever de prestar surge do débito e a ação judicial sobre o patrimônio surge da
responsabilidade ou garantia.
Tal distinção entre obrigação e responsabilidade foi feita por Brinz, na Alemanha, que discriminou,
na relação obrigacional, dois momentos distintos:
a) o do débito (Shuld),

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b) o da responsabilidade (Haftung).
O Shuld consiste no dever legal, imposto ao devedor, de cumprir a obrigação. Uma vez cumprida,
ela se extingue, não dando oportunidade a que surja a responsabilidade, isto é, o Haftung ( o dever de
indenizar).
Esquematicamente, assim se delineia a situação:

Embora os dois conceitos — obrigação e responsabilidade — estejam normalmente ligados, nada


impede que haja uma obrigação sem responsabilidade ou uma responsabilidade sem obrigação. Como
exemplo do primeiro caso, costumam-se citar as obrigações naturais, que não são exigíveis judicialmente,
mas que, uma vez pagas, não dão margem à repetição do indébito, como ocorre em relação às dívidas de
jogo e aos débitos prescritos pagos após o decurso do prazo prescricional.
Há, ao contrário, responsabilidade sem obrigação no caso de fiança, em que o fiador é responsável,
sem ter dívida, surgindo o seu dever jurídico com o inadimplemento do afiançado em relação à obrigação
originária por ele assumida.
➔ onde tem-se o Haftung sem ter o Shuld, é a chamada responsabilidade pelo débito alheio.

Elementos da Responsabilidade Civil


A responsabilidade civil corresponde à aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano
moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato ilícito do próprio imputado, de pessoa por quem
ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda, ou, ainda, de simples imposição legal.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
A prática de um ato ilícito pode se dar através da violação de um direito (art. 186 do CC) ou através
de um abuso de direito (art. 187 do CC). Nas duas hipóteses é necessário que o ato praticado provoque um
dano a outrem, seja ele patrimonial ou extrapatrimonial (moral).
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.

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VIOLAR DIREITO + DANO A OUTREM


ATO ILÍCITO
ABUSAR DE DIREITO + DANO A OUTREM

Dessa forma, podemos listar três elementos para que surja responsabilidade civil:

1- Conduta humana (ato): A responsabilidade civil pressupõe sempre conduta humana.


Conceito de conduta humana: é o comportamento positivo ou negativo marcado pela nota da
voluntariedade. A conduta humana só tem interesse para o direito se há grau de consciência para quem o
realiza (tem que existir voluntariedade). A conduta humana pode ser positiva (comissiva) ou negativa
(omissiva).

2- Nexo de causalidade: elemento complexo e de difícil percepção, segundo o professor Serpa Lopes, traduz
o vínculo jurídico (liame) que une o agente ao dano ou prejuízo causado. Não se trata de uma análise física,
a análise é jurídica do nexo causal. Sem nexo causal não há responsabilidade civil.

3- Dano ou prejuízo:
→ Elemento Central da Responsabilidade Civil
Conceito: Dano é a lesão ao interesse jurídico tutelado, material ou moral.

Se não houver dano, vai indenizar o que? Haveria enriquecimento sem causa, por isso que o dano tem que
existir. Nem todo dano interessa a responsabilidade civil, assim não é passível de indenização. Há situações
em que o dano é presumido.

3.1- Espécies de Dano.


3.1.1- Dano material ou patrimonial direto: consiste na lesão de bens e direitos economicamente
apreciáveis de alguém. Afeta o patrimônio do ofendido. É a regra. Modernamente, porém, além de sua faceta
direta, a doutrina também afirma existir um dano patrimonial indireto, ou seja, um dano patrimonial como
resultado de lesão a interesses ou bens extrapatrimoniais, a exemplo de um modelo que, em função a uma
indevida lesão a sua imagem perpetrada por um veículo de imprensa, perde importantes contratos.

De acordo com o artigo 402 do CC, o dano patrimonial direto, subdivide-se em:
• Dano emergente ou dano positivo: o que se efetivamente perdeu, a perda efetiva. É a diminuição
patrimonial sofrida pelo lesado. Sua dimensão é verificada aplicando a teoria da diferença – entre o

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patrimônio da vítima antes do ato ilícito e posterior a conduta. Exemplifica-se com a indenização do
valor correspondente ao conserto do carro após a colisão.
• Lucros cessantes ou dano negativo: aquilo que razoavelmente se deixou de ganhar. É o lucro
frustrado. Perda de um ganho esperado de reflexo futuro.
Ex1: clássico: taxista
Ex2: problemas relacionados à saúde. Perda temporária da capacidade laborativa (a pessoa deixa de
ganhar). Neste caso, até quando deverá ser pago o lucro cessante? Art.949 - Ofensa à saúde, paga-
se até o fim da convalescença. (Despesas do tratamento é dano emergente).

3.1.2- Dano moral ou extrapatrimonial: Art. 186 o dano pode ser exclusivamente moral. E na doutrina
existem diversas linhas. Em uma primeira, que é negativa, é moral o dano que não for patrimonial. Em uma
segunda análise, um conceito positivo aduzindo ser extrapatrimonial o dano que ocasiona dor, angústia,
sofrimento, desconforto e humilhação.

Dano material: é ressarcido, pode retornar ao status quo.


Dano moral: é reparado, não há como retornar ao status quo, pois será carregar este dano para o resto de
sua vida.

Art. 5º CF/1988
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;
STJ 37 – São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos
do mesmo fato.
STJ 387 – É possível a acumulação das indenizações de dano estético e moral.

Em suma, dano moral é uma lesão à dignidade humana, cuja proteção é prevista na Constituição
Federal, significando que todo o ser humano deve ser respeitado em sua essência e em sua existência.
Sempre que ela é vulnerada, o ser humano passa a ser tratado como coisa, surgindo o dever de reparar o
mal causado. Como não há como indenizar ou ressarcir o dano moral, eis que a dignidade não tem preço, a
doutrina usa o termo reparação ou satisfação do dano moral, já que o valor a ser pago não traz ao
momento anterior à lesão, servindo apenas para satisfazer ou compensar o dano, servindo como uma
espécie de anestesia à ofensa praticada. A dor, a angústia ou o sofrimento que a pessoa sente após ter sido
atingida em sua dignidade, são apenas consequências, não se confundindo como próprio dano moral
(também chamado de dano moral impróprio).
Dano Moral : → Próprio;
→ Impróprio;

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a) Dano Moral Próprio: Refere-se ao abalo de sentimentos de uma pessoa, provocando-lhe dor, tristeza,
desgosto, depressão, perda da alegria de viver, etc

b) Dano Moral Impróprio: Abrange a lesão de todos e quaisquer bens ou interesses pessoais (exceto os
econômicos), como a liberdade, o nome, a família, a honra, e a própria integridade física. A lesão corporal é
um dano moral, no sentido técnico do termo.
O dano moral próprio ou impróprio é subclassificado:

➢ Dano Moral Subjetivo precisa ser provado por quem alega, é a regra.

➢ Dano Moral Objetivo ou IN RE IPSA (presumido) é exceção. Se dá nas hipóteses consagradas pela
jurisprudência: pais que demandam perda dos filhos, extravio de bagagem, abandono afetivo,
inclusão indevida nos cadastros de restrições ao crédito. Súmula 388 STJ: a simples devolução de
cheque caracteriza dano moral;
Súmula 403 STJ: independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da
imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais. A presunção do dano moral IN RE IPSA é
relativa, juris tantum.

➢ Dano Moral Direto: é aquele que atinge somente a vítima do evento.

➢ Dano Moral Indireto: aquele que atinge além da vítima, outras pessoas. Também chamado DANO
EM RICOCHETE.

Para que que tenha responsabilidade civil é necessário apenas os três elementos
anteriores: conduta, dano e nexo de causalidade. A culpa surge apenas como um 4º elemento que pode
existir ou não, e caracteriza uma espécie de responsabilidade civil.

4- Culpa:
Sabe-se que o ato ilícito é a conduta voluntária contrária ao direito, sendo, pois, o descumprimento
de um dever preexistente de cuidado. O ilícito pode se dar por deveres específicos regulados em lei, em
contratos e em regulamentos administrativos.
A culpa é requisito, também, da responsabilidade civil extracontratual ou subjetiva, a teor do que
preconiza os artigos 186 e 927 do Código Civil brasileiro.
A conduta culposa pode ser averiguada de duas formas: pela ação ou da omissão.

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Contudo, somente se pode atribuir culpa a alguém se este é imputável (capacidade civil). Isso, pois,
imputar é atribuir a responsabilidade a alguém.
Imputabilidade é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para compreender
e responder por seus atos exigindo, assim, maturidade e sanidade mental (art. 3º e 4º do CC).
Assim, questiona-se: Pode existir a responsabilidade de incapazes?
Vejamos o artigo 932 do Código Civil:
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas
condições;

Portanto, numa primeira visão, os incapazes não são responsáveis por seus atos. Contudo, há que se
verificar a regra inserta no artigo 928 do CC, de responsabilidade subsidiária:
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se
privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

1- CULPA EM SENTIDO LATO:


É a violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de um fato intencional ou de
omissão de diligência ou cautela, que compreende:
➢ o dolo, sendo este a violação intencional ao dever jurídico;
➢ a culpa em sentido estrito caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência

2- CULPA EM SENTIDO ESTRITO: descumprimento do dever de diligência ou cuidado.


O critério para a aferição da culpa é a do homem médio. Não importa a intenção do agente, mas sua conduta.
2.1- Hipóteses de culpa:
✓ Imprudência: falta de cautela em conduta comissiva;
✓ Negligência: falta de cautela em conduta omissiva;
✓ Imperícia: falta de habilidade no exercício de atividade técnica.
Pouca importância prática da distinção: o resultado prático é o mesmo.

2.2- Espécies de culpa:

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A) Culpa grave, leve e levíssima


➢ Culpa grave: é aquela que o agente atua com grosseira falta de cautela, com descuido
injustificável ao homem normal, impróprio ao comum dos homens. É a culpa com previsão do
resultado, também chamada de culpa consciente, que se avizinha do dolo eventual do direito
penal.
➢ Culpa leve: aquela em que é a falta que poderia ser evitada com a atenção comum, com o
cuidado próprio do homem comum.
➢ Culpa levíssima: aquela que caracteriza-se pela falta de atenção extraordinária, pela ausência de
habilidade especial ou de conhecimento singular.

B) Culpa contratual e extracontratual


➢ Culpa contratual: é aquela em que tem por fonte uma relação jurídica obrigacional preexistente,
isto é, um dever oriundo de um contrato.
➢ Culpa extracontratual ou “aquiliana”: é aquela que tem por causa geradora a lei ou um preceito
geral de Direito, ou seja, que não há uma relação contratual. O nome “aquiliana” tem origem
romana, em razão da lex aquilia.

C) Culpa “in eligendo”, “in vigilando” e “in custodiando”


➢ Culpa "in eligendo": é aquela decorrente da má escolha. Tradicionalmente, aponta-se como
exemplo a culpa atribuída ao patrão por ato danoso do empregado ou comitente (comissão).
Considerando que o CC/02 firmou o princípio da responsabilidade objetiva nessa hipótese,
consoante com o art. 932, III.
➢ Culpa "in vigilando": é a que decorre da falta de vigilância, de fiscalização, em face da conduta
do terceiro por quem se responsabiliza. Exemplo clássico a culpa atribuída ao pai por não vigiar
o filho que causa o dano. No CC a responsabilidade dos pais por atos dos filhos menores, sob sua
autoridade e companhia, foi consagrada como responsabilidade objetiva, ou seja, sem análise de
culpa, nos termos do art. 932, I;
➢ Culpa "in custodiando": assemelha-se com a culpa in vigilando, embora a expressão seja
empregada para caracterizar na guarda de coisas ou animais, sob custódia. Nos termos do CC/02,
o fato da coisa ou do animal desafia a responsabilidade civil objetiva, razão por que essa
categoria perdeu importância prática, subsistindo mais a título ilustrativo.

Espécies de Responsabilidade Civil

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A responsabilidade civil tem seu início no Direito Romano, que delimitava o conceito de
responsabilidade, em somente reparar o dano causado injustamente. Porém a forma de reparação deste
dano, vem evoluindo ao longo dos tempos mais modernos.
A concepção de culpa está intimamente ligada à responsabilidade, por isso que ninguém, em
hipótese alguma, pode ser fruto de reprovação ou censura, sem que tenha gerado um comportamento
baseado na falta de cautela ou negligência. Assim, baseando-se na teoria clássica, o principal pressuposto da
responsabilidade civil subjetiva é a própria culpa.
Cabe esclarecer que, esta culpa é a “latu sensu” e é fundamento da responsabilidade subjetiva,
regra geral no CC02 e, que deve ser interpretada, como dolo, e não somente a culpa stricto sensu.
Neste entendimento, a vítima só obterá reparação do dano se provar a culpa do agente, o que nem
sempre é possível na sociedade moderna. O desenvolvimento industrial, proporcionado pelo advento do
maquinismo e outros inventos tecnológicos, bem como o crescimento populacional geraram novas situações
que não podiam ser amparadas pelo conceito tradicional de culpa.
Dito isso, surgiram importantes trabalhos no velho continente, principalmente na França,
sustentando uma responsabilidade objetiva, sem culpa, baseada na chamada teoria do risco. A lei brasileira,
por sua vez, adotou a teoria objetiva para certos casos, até que, o Código Civil em seus arts. 927 e 931 e
outros, a adotou amplamente:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.

[...]
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários
individuais e as empresas respondem independentemente de culpa pelos danos
causados pelos produtos postos em circulação.
Em outros termos, é razoável que se discuta sobre as duas formas de responsabilidade, mencionando
a subjetiva, como aquela pela qual o dano contra a vítima foi causado por culpa do agente, enquanto que a
objetiva, por sua vez, configura-se como sendo aquela que tem, por fundamento, a teoria do risco, onde não
existe a obrigação de provar culpa para que prevaleça o dever de indenizar. Entretanto, é necessário um
maior aprofundamento para distingui-las.
Sendo assim, vamos relembrar o organograma da última aula e estudarmos cada parte dele:
I – Tendo como fundamento a classificação de acordo com o fato gerador, a responsabilidade civil pode
ser:

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a) Responsabilidade contratual: é aquela que está relacionada com a inexecução de uma obrigação
decorrente de um contrato. O contrato faz lei entra as partes, dessa forma, suas cláusulas devem ser
respeitadas, sob pena de responsabilidade daquele que as descumprir. A base legal dessa modalidade de
responsabilidade se fundamenta nos arts 389 (obrigação positiva) e 390 (obrigação negativa) do CC.
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais
juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, e honorários de advogado.
Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o
dia em que executou o ato de que se devia abster.

b) Responsabilidade extracontratual ou aquiliana: é aquela que está relacionada com a infração a


um dever geral imposto por lei (legal). Como exemplo, se uma pessoa é atropelada por um ônibus deve ser
ressarcida pelo autor do fato. Temos aqui um caso de responsabilidade extracontratual. Porém, se a pessoa
está dentro do ônibus viajando para algum lugar e ocorrer um
acidente na qual ela sofra danos (materiais e/ou morais), estaremos diante de uma responsabilidade
contratual, pois existe um contrato de transporte.

II – Tendo como base a classificação quanto ao seu fundamento, a responsabilidade civil pode ser subjetiva
ou objetiva:
a) Responsabilidade subjetiva: É aquela que só se configura diante da culpa do agente causador do
dano. É a regra no Código Civil . Será subjetiva quando não for objetiva, pois é residual arts. 186. A
responsabilidade do causador do dano somente se configura se ele agiu com dolo ou culpa. Trata-se da teoria
clássica, também chamada teoria da culpa ou subjetiva, segundo a qual a prova da culpa lato sensu
(abrangendo o dolo) ou stricto sensu se constitui num pressuposto do dano indenizável.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.

b) Responsabilidade objetiva: é aquela imposta por lei, havendo, entretanto, em determinadas


situações, a obrigação de reparar o dano independentemente de culpa. É quando ocorre a responsabilidade
objetiva que se adota a teoria do risco, que prescinde (NÃO NECESSITA) de comprovação da culpa para a
ocorrência do dano indenizável. Basta haver o dano e o nexo de causalidade para justificar a responsabilidade
civil do agente. Em alguns casos presume-se a culpa (responsabilidade objetiva imprópria), em outros a prova
da culpa é totalmente prescindível (responsabilidade civil objetiva própria).
Art. 927. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a

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atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua


natureza, risco para os direitos de outrem.

III – Tendo como referência a classificação quanto ao agente a responsabilidade civil pode ser direta ou
indireta:
a) Responsabilidade civil direta: ocorre quando o autor do dano é o responsável pelo seu
pagamento. Como exemplo, temos o fato de A jogar uma pedra no carro de B causando-lhe danos. Na
situação apresentada, é o próprio autor do dano que deve ressarcir o lesado (B).
b) Responsabilidade civil indireta: também chamada de responsabilidade civil complexa ou por fato
de outrem (arts. 932 a 934 do CC), ocorre quando uma pessoa é civilmente responsável, perante terceiros,
por ações e omissões perpetradas por outra pessoa. Mais adiante teceremos maiores detalhes.

Principais Teorias do Risco (objetivação)

a) Teoria do Risco Administrativo (fora do CC)


Não se exige culpa dos Pessoas Jurídicas de Direito Público para que nasça o dever de indenizar
decorrente do ilícito causado pelo seus agentes – Responsabilidade Civil do Estado– art 37 § 6º CF –
objetivação da responsabilidade estatal pelo risco administrativo.
• Prazo prescricional par se propor ação indenizatória contra o Estado - Art. 206, § 3º,V (3 anos)
CC ou Decreto 20.910/32 – 5 anos (Fazenda Pública) → há julgados do STJ em ambos casos.

b) A Teoria do Risco Profissional


É o enfoque da mesma teoria do risco, mas restrita na definição da responsabilidade civil.
Responsável seria não apenas o que assumiria o risco no exercício de uma atividade. Seria responsável tão-
somente se a vítima estivesse a agir na sua atividade ou profissão.
Sustenta a teoria do risco profissional que cabe sempre indenizar quando o fato prejudicial é uma
decorrência da atividade ou profissão do lesado. Foi criada para justificar a reparação dos acidentes
ocorridos por empregados no trabalho ou por ocasião dele, independentemente de culpa do empregador.

c) Teoria do Risco Integral


O risco integral é modalidade extremada da doutrina do risco destinada a justificar o dever de indenizar
até os casos de inexistência do nexo causal. Mesmo na responsabilidade objetiva, embora dispensável o
elemento culpa, a relação de causalidade é indispensável. Por essa teoria, o dever de indenizar se faz
presente tão-só em face do dano, ainda que nos casos de culpa exclusiva e essencial da vítima, fato de
terceiro, caso fortuito ou força maior. O direito brasileiro só a adotou em casos excepcionais:

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✓ Dano ambiental – aquele que provoca dano ambiental fica obrigado a repará-lo,
independentemente de culpa. Tal regra vem do preceito contido na CF88, no §3º do art. 225 - “As
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados”, combinado com a lei da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei nº 6.938 – no §
1º do art. 14 - “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá
legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio
ambiente”.
✓ Seguro obrigatório (DPVAT) - a Lei nº 6.194/74 (alterada pela Lei nº 8.441/92) em seu art. 5º
determina: “O pagamento da indenização será efetuado mediante simples prova do acidente e do
dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida
qualquer franquia de responsabilidade do segurado”. Assim, a indenização pelo seguro obrigatório
para os proprietários de veículos automotores é devida, mesmo que o acidente tenha sido provocado
por veículo desconhecido ou não identificado, e ainda que tenha havido culpa exclusiva da vítima.
✓ Danos nucleares – sabe-se que a exploração de atividades nucleares trazem uma gama de riscos.
Desta forma, a CF88, na alínea “d”, que foi incluída pela EC nº 49/2006, do inciso XXIII do art. 21,
determina: “a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa”. A Lei nº
6.453/1977, em seu art. 8º, apresenta uma exceção, quando preceitua: “O operador não responde
pela reparação do dano resultante de acidente nuclear causado diretamente por conflito armado,
hostilidades, guerra civil, insurreição ou excepcional fato da natureza”

Principais hipóteses de Responsabilidade Civil Objetiva

Hipótese “fora” do CC:


a) Responsabilidade civil por dano ao meio ambiente – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente L 6938/81
art. 14 § 1º.

b) Responsabilidade civil por vicio ou fato do produto ou do serviço (CDC) – arts 12 e 18. (No art. 14 § 4º
CDC tem-se a resp civil de profissionais liberais que é subjetiva).

c) Responsabilidade civil por danos causados por Agentes Públicos art. 37 § 6º CF. O Estado responde
objetivamente quando o agente público agir com dolo ou culpa.

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d) Responsabilidade civil por danos nucleares – art. 4º L6453/77 mexer com material nuclear importa em
riscos de danos a outrem.

Hipóteses de Responsabilidade Civil Objetiva no CC:


a) Responsabilidade civil pelo fato do animal- art. 936 CC. É caso de teoria do risco, pois ter um animal
importa em risco aos direitos de outrem, se não provar culpa da vítima ou força maior → responde também
o detentor.
b) Responsabilidade civil EFFUSIS ET DEJECTIS - art. 938 CC.
Responsabilidade por líquidos e sólidos arremessados ou caídos um edifício. A responsabilidade é de
quem habita um prédio (proprietário, locatário ou comodatário). E quando não for possível identificar quem
arremessou o liquido ou sólido? Neste caso, o vaso foi arremessado por “alguém” que habita a parte do
fundo do prédio. Faz-se um rateio de todos os que habitam esta parte do prédio. Se o dono do carro mora
no fundo também, excluir-se ele, pois ele não iria danificar o próprio carro. Se houver algum apartamento
comprovadamente fechado, este também não entra na divisão do valor da indenização. “Morar nas alturas
importa em risco aos direitos de outrem”, pois as pessoas não andam na rua olhando para cima achando
que algo pode cair na cabeça delas.
c) Responsabilidade civil pela cobrança de dívida A VENCER (art. 939 CC) hipótese excepcional de
responsabilidade civil sem danos! Ex: pagar as custas em dobro é a indenização e não segue a regra do 944
caput (a indenização mede-se pela extensão do dano porque não há dano neste caso), pois cobrar antes não
gera dano mais gera responsabilidade civil.
c) Responsabilidade civil pela cobrança de dívida já paga no todo ou parte (art 940):
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas
ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver
cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.
Ex1: Maria cobra R$ 1.000,00 de José. José já pagou os R$ 1.000,00. Maria deverá indenizar José em
R$ 2.000,00 (o dobro do que se cobra). É responsabilidade civil sem danos (exceção)
Ex2: Ana tem uma dívida de R$ 1.000,00 com Pedro. Já pagou R$ 800,00. Mas Pedro cobra R$ 1.000,00
ao invés de cobrar somente os R$ 200,00. Ou seja, há cobrança de dívida já paga em parte, sem ressaltar o
que já foi pago. Pedro será condenado a pagar o valor de R$ 1.000,00 à Ana pelo que exigiu. Também é
hipótese de responsabilidade civil, sem dano, quantificado na própria lei.
. Ex3: Dívida 1.000,00 → Cobrança R$ 2.000,00. Também gera pagamento total ou parcial da divida.
Pedir mais do que foi devido:
✓ Pagamento total - será condenado a pagar R$ 4.000,00, o dobro do que for cobrado
✓ Pagamento parcial - será condenado a pagar o que esta sendo cobrado R$ 2000,00

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✓ Quem cobra o que e já foi pago deve ser responsabilizado.


✓ Art. 941: as penas do 939 e 940 não se aplicam quando o autor desiste da ação, antes de contestada a lide.

e) Responsabilidade civil por fato ou ato de 3º (art. 932 a 934CC): são também responsáveis pela reparação
civil – art 932 - responsabilidade dupla.

ROMPIMENTO DO NEXO CAUSAL

Se rompe pelas excludentes de responsabilidade civil.

a) Culpa exclusiva da vítima é aquela em que o dano ocorre por culpa somente da vítima. Ex: pedestre
que atravessa fora da faixa e é atropelado pelo carro que trafega em condições normais (velocidade da via,
pneus adequados, sem condições normais, freio funcionando). Ex2: criança que pula muro da casa do vizinho
para pegar a bola e atacado pelo pitbull. Ex3: No CDC, pessoa que compra aparelho 110 volts e liga na tomada
220 volts, desde que o aparelho traga as especificações. Ex4: o cara que tentou ter relação sexual com o
aspirador de pó, encaixando o pênis no furo que suga o pó, veio a se lesionar gravemente. Tentou
responsabilizar a empresa por fazer um aparelho com uma “sucção tão forte”
OBS: O surfista de trem também era considerado culpado exclusivamente. Mas a jurisprudência atual
entende que há culpa em vigilando por parte da empresa.

b) Culpa de terceiros ocorre nas hipóteses em que alguém só comete um dano por culpa de outrem.
Ex: engavetamento de veículos.

OBS: Cuidado com a CULPA CONCORRENTE! Pois ela não exclui o nexo causal, apenas atenua a
responsabilidade pela concorrência de culpa.

c) Caso fortuito ou Forca maior - ambos excluem a responsabilidade civil.


1ª teoria- fatos naturais e atos humanos
• Caso fortuito: evento produzido pelo homem (greve)

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• Força maior: evento produzido pela natureza (enchente)


Estão ultrapassados pela jurisprudência, pois a greve dos correios não excluem os juros das contas.
2ª teoria- previsibilidade e inevitabilidade
• Caso Fortuito: acontecimento imprevisível e por isso inevitável.
• Força maior: vento previsível e inevitável.

As duas teorias se contrapõe, pois o choque da terra com a lua seria força maior pela 1ª teoria, mas já pela
2ª seria caso fortuito. Então tudo vai depender do caso concreto. É o CC02? Essa discussão é boba pois o
CC02 no art. 393 § único ambos geram a mesma conseqüência, a exclusão de responsabilidade civil.

OBS: Cuidado com a Responsabilidade Civil Contratual que pode prever cláusula de responsabilização por
caso fortuito e força maior (caput. 393 CC).

Conceitos de Agostinho Alvim de Caso Fortuito e Força Maior:

➢ Autor do livro “Das Obrigações “do Código Civil

➢ Fortuito interno: É o caso fortuito o evento está ligado a pessoa ou atividade do devedor. Não exclui
a Responsabilidade Civil, pois o evento está ligado a pessoa do devedor.

➢ Fortuito externo. É a força maior, está ligado a um evento estranho a pessoa ou atividade do devedor
Exclui a Responsabilidade Civil, pois está atrelado a evento estranho.

Ex: Pessoa dentro do ônibus é alvejada por um tiro. O evento é estranho a atividade da empresa que é possui
a função de transporte e não de fazer segurança pública. Portanto é caso de fortuito externo.

Ex2: O motorista de ônibus guiando ônibus, sofre um infarto e morre. O ônibus desgovernado cai da
ribanceira e todos morrem. A empresa de ônibus responde pois está ligado a atividade. O fortuito é interno
e não exclui a responsabilidade civil.

Vários julgados adotam as teorias do professor Alvim.

Responsabilidade Civil pela Perda de uma Chance


Tem origem na França “PERTE D’UNE CHANCE”. Não há lei no Brasil sobre esse tema, mas a
jurisprudência adota essa teoria
a) Perda de uma chance e perda do prazo pelo advogado
O simples fato de um advogado ter perdido o prazo para a contestação ou para a interposição de
um recurso enseja indenização pela aplicação desta teoria?

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NÃO. Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas como


negligentes, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem não experimentada, as demandas que
invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser solucionadas a partir de uma detida análise acerca
das reais possibilidades de êxito do processo, eventualmente perdidas em razão da desídia do causídico.

É importante frisar que, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação ou
para a interposição de recursos, que enseja sua automática responsabilização civil com base na teoria da
perda de uma chance. É absolutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade - que se supõe real
- que a parte teria de se sagrar vitoriosa. (STJ. 4ª Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 16/11/2010)

A Perda de uma chance está entre a inexistência de dano e dano concreto. É uma situação
intermediária. O problema é quantificação da responsabilidade civil na perda de uma chance. No caso do
advogado, como se sabe se o recurso seria ou não provido, mas também não dá pra condenar o advogado a
pagar o valor da discussão patrimonial existente no processo, pois não era certo que se ganharia isso no
processo.

Os americanos dizem que só dá pra se falar em indenização por perda de uma chance se esta chance for
séria!
Ex: O Grande Prêmio Brasil de Turfe (corrida de cavalos). O jóquei contrata uma empresa para
transportar o cavalo do haras para o Jóquei Clube. No caminho há um acidente e o cavalo morre. O jóquei
perde a chance de competir. Neste caso deve-se analisar se a chance dele era séria ou não. Se ele era bem
cotado para poder ganhar? Ou era simplesmente um azarão? Se bem cotato, há chance séria. Os americanos
definem chance séria como aquela superior a 50%.
O caso mais famoso foi o Show do Milhão. A pessoa chegou na pergunta milhão e não havia ajuda para
responder. Quando visualizasse a pergunta decidida, se ia para a pergunta do milhão ou saía com os 500 mil
que já havia ganho. Se arriscasse e acertasse levaria 1 milhão, mais se errasse perdia tudo. No caso, ao
observar a pergunta do milhão, o candidato ficou em dúvida entre duas assertivas e decidiu parar. Porém ao
desistir, o apresentador do programa deixava o candidato arriscar uma resposta, mesmo sem valer nada, só
para dar a sensação de ganho e perda. Ao visualizar a resposta, o concorrente viu que havia um erro nelas,
pois havia duas respostas corretas e ele deixou de responder exatamente por isso. Ajuizou uma ação
pedindo 1 milhão de indenização no TJBA que concedeu a indenização. Após o recurso, o STJ manteve a
decisão. E o valor? Como foi calculado? É certo 1 milhão? Neste caso o STJ calculou que se havia 4 respostas
possíveis cada uma valia 500 mil (já que a pessoa já tinha ganho os outros 500 mil por não responder) sendo
125 mil para cada. (Percentual da chance). Assim ele ganhou 250 mil a mais, a título de danos morais, por
perda de uma chance.

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b) Perda de uma chance e erro médico

Os franceses também criaram a perda de uma chance de cura e sobrevivência que será atrelada a
uma ocorrência médica. Ex: Se a pessoa faz “check-ups” anuais com seu médico recebendo a notícia que
tudo está perfeito, ela confia. Porém se mais tarde detecta um problema que poderia ter sido facilmente
diagnosticado pelo médico e este não o fez levando o paciente a uma situação incurável, a pessoa perdeu a
chance de se curar. E o pior, pode se descobrir o ocorrido após a morte do paciente (perda de chance de
sobrevivência).

A teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a apuração de
responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em que o erro tenha reduzido possibilidades
concretas e reais de cura de paciente que venha a falecer em razão da doença tratada de maneira inadequada
pelo médico. STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

➢ Caso concreto julgado pelo STJ:

“R”, viúvo de “V”, ajuizou ação de indenização contra “M”, médico responsável pelo tratamento da falecida,
que possuía um câncer no seio. O autor alegou que, durante o tratamento da doença, “M” cometeu uma
série de erros médicos, entre os quais se destacam os seguintes: após o tratamento inicial da doença não foi
recomendada quimioterapia; a mastectomia realizada foi parcial (quadrantectomia), quando seria
recomendável mastectomia radical; não foi transmitida à paciente orientação para não mais engravidar; com
o desaparecimento da doença, novamente o tratamento foi inadequado; o aparecimento de metástase foi
negado pelo médico; entre outras alegações. O laudo pericial apontou que houve, de fato, erro médico. O
réu foi condenado por danos morais e materiais, tendo sido aplicada a teoria da perda de uma chance.

→ Teoria da perda de uma chance CLÁSSICA (TRADICIONAL) X Teoria da perda de uma chance no caso de
ERRO MÉDICO

Ocorre quando o agente frustrou a oportunidade da pessoa de auferir uma vantagem. Ocorre quando o
médico, por conta de um erro, fez com que a pessoa não tivesse um tratamento de saúde adequado que
poderia tê-la curado e evitado a sua morte.

➢ A aplicação da teoria da perda de uma chance no caso de erro médico possui algumas diferenças
da aplicação tradicional da teoria da perda de uma chance às demais hipóteses (baseado nas
lições da Min. Nancy Andrighi):

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Os Tribunais já possuem julgados na seara médica, como resta comprovado abaixo:


→ Julgados no TJDFT:

1- DIREITO CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. SERVIÇO MÉDICO-HOSPITALAR.


AMPUTAÇÃO DE MEMBRO INFERIOR. FALHA NO DIAGNÓSTICO E NO TRATAMENTO. CONTAMINAÇÃO POR
VÍRUS HIV NÃO COMPROVADA. TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. DANO MORAL CONFIGURADO.
ARBITRAMENTO JUDICIAL. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. DANO MATERIAL. PENSÃO VITALÍCIA.
INCAPACIDADE LABORAL DEFINITIVA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.
COMPENSAÇÃO.
I. As pessoas jurídicas de direito público respondem objetivamente pelos danos causados por ação ou
omissão de seus agentes, nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal.
II. A responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de direito público funda-se no risco administrativo e não
no risco integral, motivo por que dispensa apenas a prova da culpa do agente público, porém não elide a
necessidade de demonstração de todos os demais pressupostos da responsabilidade civil: ação ou omissão,
dano e relação de causalidade.
III. Demonstrado nos autos que a precariedade do diagnóstico e a falta de intervenção oportuna para a
retirada de tumor foram as causas determinantes da amputação da perna do paciente e da longa e
dolorosa internação, o Estado deve reparar os danos material e moral causados.
IV. Aplica-se a teoria da perda de uma chance, surgida no direito francês justamente no contexto da
prestação de serviços médicos, quando as provas dos autos denotam que a prestação adequada do serviço
médico-hospitalar poderia ter evitado o resultado lesivo à integridade física do paciente.
V. A amputação de membro inferior afeta a integridade física e, por via de conseqüência, atinge diretamente
direito da personalidade do ofendido, causando-lhe dano moral passível de compensação pecuniária.
VI. A contaminação pelo vírus HIV é assintomática, de maneira que, sem a prévia realização de exame, via de
regra não é possível estabelecer o nexo de causalidade com a transfusão de sangue realizada durante a
internação.

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VII. À luz das particularidades do caso concreto, o valor de R$ 80.000,00 alia o equilíbrio entre a justa
compensação do dano moral e a vedação ao enriquecimento ilícito.
VIII. À falta de prova do salário ou dos rendimentos percebidos pela vítima, a pensão vitalícia devida pela
perda ou diminuição da capacidade de trabalho resultante de lesão corporal deve ser fixada em um salário
mínimo.
IX. A percepção de benefício previdenciário em função da incapacidade laborativa não interfere
juridicamente no direito à indenização de que cuida o artigo 950 do Código Civil.
X. A tutela previdenciária está assentada no "seguro social" vinculado às contribuições pagas, ao passo que
a verba de que cuida o artigo 950 da Lei Civil tem cunho estritamente indenizatório e está assentada no
direito comum.
XI. Havendo sucumbência recíproca em patamares equivalentes, os honorários advocatícios devem ser
compensados.
XII. Recursos desprovidos.
(Acórdão n.874429, 20110111911654APO, Relator: JAMES EDUARDO OLIVEIRA, Revisor: CRUZ MACEDO, 4ª
Turma Cível, Data de Julgamento: 20/05/2015, Publicado no DJE: 22/06/2015. Pág.: 204).
______________________________________________________________________________
2- DIREITO CIVIL E ADMINISTRATIVO. REDE PÚBLICA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL. OMISSÃO ESPECÍFICA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. MORTE DE PACIENTE AGUARDANDO ATENDIMENTO EM PRONTO-SOCORRO.
TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE. DEVER DE INDENIZAR. SENTENÇA REFORMADA.
1. Tendo o cidadão comparecido ao hospital público em busca de atendimento médico, a Administração
Pública passa a ter o dever de atendê-lo, de forma que a falta do serviço (ou a falha no serviço) consubstancia
uma omissão específica, atraindo, por consequência, a responsabilidade civil objetiva para o ente estatal,
apurada independentemente da culpa dos agentes incumbidos de prestar o atendimento.
2. O ente estatal tem o dever de classificar e priorizar as urgências/emergências a fim de garantir a eficiência
do serviço prestado e, quando erra na classificação, causando a morte do paciente, resta patente a falha no
serviço.
3. Não sendo possível afirmar que o falecimento do paciente foi provocado somente pela omissão do
Apelado, pois se pode cogitar que, mesmo que o atendimento do pronto-socorro tivesse sido prestado com
eficiência, este poderia ter falecido, é aplicável ao caso a teoria da perda de uma chance, mais
especificamente da perda de uma chance de sobrevivência.
4. Constatado que a chance perdida era séria e real, é passível de indenização a situação com alta
probabilidade de ocorrer, que, no caso, seria a sobrevivência do paciente. Com efeito, até mesmo para o
homem médio é corriqueiro saber que o rápido atendimento é decisivo para o sucesso em casos de parada
cardíaca, não sendo justificável o paciente ter ficado por quase seis horas sob a guarda do Estado, no interior

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de um pronto-socorro, sem receber qualquer atendimento emergencial, apesar dos graves sintomas que
apresentava.
5. No caso de aplicação da teoria da perda de uma chance de sobrevivência, deve-se indenizar
efetivamente a "perda da chance" e não o bem perdido, no caso a vida.
6. Na fixação da indenização por danos morais, deve considerar o Juiz a proporcionalidade e razoabilidade
da condenação em face do dano sofrido pela parte ofendida e o seu caráter compensatório e inibidor,
mediante o exame das circunstâncias do caso concreto.
7. Recurso provido.
(Acórdão n.870513, 20110110541462APC, Relator: CRUZ MACEDO, Revisor: FERNANDO HABIBE, 4ª Turma
Cível, Data de Julgamento: 13/05/2015, Publicado no DJE: 09/06/2015. Pág.: 201)

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