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INTENSIVO II

Bárbara Brasil
Direito Civil
Aula 1

ROTEIRO DE AULA

Responsabilidade civil

1. Introdução ao estudo da responsabilidade civil

Nós, enquanto pessoas, somos titulares de direitos. Não à toa, o ordenamento jurídico nos denomina de “sujeito de
direitos”. Dentre os direitos titularizados encontram-se os subjetivos, os quais decorrem ou do exercício da autonomia
privada ou da lei. Caso resultem da autonomia, estaremos diante dos direitos subjetivos obrigacionais; se da lei, direitos
da personalidade ou subjetivos reais. Todos os três estão consagrados no Código Civil.

Direitos subjetivos são aqueles que permitem ao seu titular exigir de outrem o cumprimento de uma prestação (dar,
fazer ou não fazer), a qual recebe o nome de dever jurídico. Assim, para que o indivíduo seja titular de um direito
subjetivo, necessariamente outrem deve ter assumido para com ele um dever jurídico.

O ordenamento consagra duas espécies de dever jurídico que incidirão a depender do tipo de direito subjetivo ao qual o
indivíduo irá titularizar:

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 Direito subjetivo obrigacional: dever jurídico específico assumido pelo devedor (indivíduo específico e
determinado) - advém de uma relação jurídica obrigacional.

 Direito subjetivo da personalidade ou real: dever jurídico geral de abstenção assumido pela coletividade –
advém da lei.

A partir do momento em que um indivíduo específico descumpre um dever jurídico específico ou qualquer membro da
coletividade descumpre um dever jurídico geral de abstenção é praticado um ato ilícito, a priori. No entanto, como
visto, há duas espécies de dever jurídico:

Dever jurídico específico Dever jurídico geral de abstenção

Violação Inadimplemento Ato ilícito extracontratual.

Consequência Ex.: Mora Ex.: Ação de Reintegração de Posse.

Responsabilidade civil Contratual ou negocial (CC, art. 389 e Extracontratual ou responsabilidade


ss.) civil em sentido estrito (CC, arts. 186 a
188 c.c. art. 927 e ss.)

O dever de reparar o dano causado consubstancia o conceito de responsabilidade civil. Em outras palavras, o dever de
reparar o dano advém da prática de um ato ilícito do qual sobrevém um dano.

Observação n. 1: de acordo com a doutrina moderna, existe uma terceira espécie de responsabilidade civil, a qual não
emana do descumprimento de um dever jurídico específico ou de um dever geral de abstenção. Ela é denominada de
responsabilidade civil pela confiança ou pré-negocial ou pré-contratual. A confiança é inerente a qualquer tipo de
relação humana. Ao resguardá-la, por meio do dever de agir conforme a legítima expectativa depositada pela parte
contrária, o direito garante estabilidade às relações jurídicas. Se frustrado (o dever), pratica-se um ato ilícito gerando
responsabilidade civil pela confiança.

Conclusões:

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 I – Sem dever jurídico não há responsabilidade civil. A responsabilidade civil pressupõe um dever jurídico
primário. Em razão disto, é denominada de dever jurídico sucessivo (ou secundário).

 II – Atos lícitos não geram responsabilidade civil. A responsabilidade civil pressupõe a ocorrência de um ato
ilícito: CC, art. 927, “caput” (cláusula geral de responsabilidade civil): “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e
187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

 III – Não há responsabilidade civil independente de dano. O conceito de responsabilidade civil é o dever de
reparar o dano causado.

1.1. Sem dever jurídico não há responsabilidade civil

I – Banco do Brasil e o Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos.

S. 572 STJ: “O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos (CCF), não tem
a responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido cadastro, tampouco
legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia comunicação”.

O Banco do Brasil é mero gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos. Assim, não é ele quem efetua a
inscrição do nome do devedor, mas o credor. Consequentemente, é dever jurídico do credor notificar previamente o
devedor acerca da existência da dívida. Em suma, o Banco do Brasil não possui o dever jurídico de notificação não sendo
possível imputar a ele responsabilidade civil.

II – Provedor de conteúdo.

Geralmente, é trabalhoso identificar autores de atos ilícitos perpetrados na rede mundial de computadores em razão do
anonimato. Além disto, os danos causados na internet não encontram limites territoriais - segundo a doutrina, eles são
regidos pelo princípio da ubiquidade ou desterritorialização. E mais. Diante da extensão dos danos, é dificultosa a
quantificação do valor da indenização. Em razão destas características, o Direito tem dificuldades de garantir à vítima ou
ao usuário do serviço a reparação de danos.

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A par dos entraves, os prejudicados começaram a ajuizar ações contra os provedores de conteúdo - disponibilizam as
informações na rede mundial de computadores (não as elaboram).

Questão n. 1: os provedores de conteúdo tem responsabilidade civil sobre o conteúdo ofensivo postado na rede
mundial de computadores1? O entendimento do STJ foi baseado na teoria do “notice and take down” importada da
doutrina norte-americana. O Tribunal entendeu que os provedores de conteúdo não assumem o dever jurídico de
controle das informações que são postadas. Consequentemente, se são postados conteúdos ofensivos, ilícitos ou
violadores de direitos da personalidade, aos provedores de conteúdo não poderá ser imputada responsabilidade civil -
fundamento da decisão: violação da livre manifestação de pensamento (censura de natureza administrativa). Todavia, a
partir do momento em que o provedor é notificado de que um conteúdo ofensivo foi postado na rede, ele tem o dever
jurídico de retirar de acesso no prazo de 24 horas. Caso contrário, é atraído ao provedor de conteúdo responsabilidade
civil (solidária com o autor do ilícito). Precedente:

REsp n. 997.993-MG: RESPONSABILIDADE CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ANÚNCIO ERÓTICO FALSO PUBLICADO EM SITES DE
CLASSIFICADOS NA INTERNET. DEVER DE CUIDADO NÃO VERIFICADO. SERVIÇOS PRESTADOS EM CADEIA POR MAIS DE
UM FORNECEDOR. SITE DE CONTEÚDO QUE HOSPEDA OUTRO. RESPONSABILIDADE CIVIL DE TODOS QUE PARTICIPAM
DA CADEIA DE CONSUMO. 1. No caso, o nome do autor foi anunciado em sites de classificados na internet,
relacionando-o com prestação de serviços de caráter erótico e homossexual, tendo sido informado o telefone do local
do seu trabalho. O sítio da rede mundial de computadores apontado pelo autor como sendo o veiculador do anúncio
difamante - ipanorama.com - é de propriedade da ré TV Juiz de Fora Ltda., a qual mantinha relação contratual com a
denunciada, Mídia 1 Publicidade Propaganda e Marketing, proprietária do portal O Click, que se hospedava no site da
primeira ré e foi o disseminador do anúncio. Este último (O Click) responsabilizava-se contratualmente pela "produção
de quaisquer dados ou informações culturais, esportivas, de comportamento, serviços, busca, classificados, webmail e
outros serviços de divulgação". 2. Com efeito, cuida-se de relação de consumo por equiparação, decorrente de evento
relativo a utilização de provedores de conteúdo na rede mundial de computadores, organizados para fornecer serviços
em cadeia para os usuários, mediante a hospedagem do site "O click" no site "ipanorama.com". 3. Assim, a solução da
controvérsia deve partir da principiologia do Código de Defesa do Consumidor fundada na solidariedade de todos
aqueles que participam da cadeia de produção ou da prestação de serviços. Para a responsabilização de todos os
integrantes da cadeia de consumo, apura-se a responsabilidade de um deles, objetiva ou decorrente de culpa, caso se

1
À época da formação do entendimento do STJ não havia sido promulgado o Marco civil da internet. A Lei n.
12.965/2014, a partir do seu artigo 18, regula a responsabilidade civil dos provedores de conteúdo.
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verifiquem as hipóteses autorizadoras previstas no CDC. A responsabilidade dos demais integrantes da cadeia de
consumo, todavia, não decorre de seu agir culposo ou de fato próprio, mas de uma imputação legal de responsabilidade
que é servil ao propósito protetivo do sistema. 4. No caso em apreço, o site O click permitiu a veiculação de anúncio em
que, objetivamente, comprometia a reputação do autor, sem ter indicado nenhuma ferramenta apta a controlar a
idoneidade da informação. Com efeito, é exatamente no fato de o veículo de publicidade não ter se precavido quanto à
procedência do nome, telefone e dados da oferta que veiculou, que reside seu agir culposo, uma vez que a publicidade
de anúncios desse jaez deveria ser precedida de maior prudência e diligência, sob pena de se chancelar o linchamento
moral e público de terceiros. 5. Mostrando-se evidente a responsabilidade civil da empresa Mídia 1 Publicidade
Propaganda e Marketing, proprietária do site O click, configurada está a responsabilidade civil da TV Juiz de Fora,
proprietária do site ipanorama.com, seja por imputação legal decorrente da cadeia de consumo, seja por culpa in
eligendo. 6. Indenização por dano moral arbitrada em R$ 30.000,00 (trinta mil reais). 7. Recurso especial provido. (REsp
997.993/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 06/08/2012).

Após o Superior Tribunal de Justiça sedimentar o seu entendimento, foi promulgado o Marco Civil da Internet
regulamentando o tema. Observações:

 Enquanto o STJ importou a teoria do “notice and take down”, o Marco Civil da Internet adotou a teoria do
“judical notice and take down”. Distinção: os provedores de conteúdo não tem o dever jurídico de controlar o
conteúdo ilícito das informações postadas, sob pena de violar a liberdade de manifestação de pensamento
(censura prévia). Todavia, uma vez notificado ele tem o dever jurídico de retirar de acesso. Para o STJ, a
notificação pode ser judicial ou extrajudicial; para o Marco Civil da Internet ela deve ser necessariamente
judicial. Embora na prática a participação do Poder Judiciário possa causar alguns entraves, ela é importante
diante da colisão de dois direitos fundamentais: a liberdade de manifestação do pensamento e a inviolabilidade
de direitos da personalidade.

 Segundo o Marco Civil da Internet, caso o provedor de conteúdo não retire de acesso, no prazo fixado pelo juiz,
será a ele atraída responsabilidade. Esta não é solidária, mas subsidiária - primeiro, busca-se responsabilizar o
autor do ilícito.

 Existe uma única hipótese em que é possível notificar extrajudicialmente o provedor e solicitar a retirada de
acesso: conteúdo violado referir-se à cenas de nudez ou sexo.

Previsões legais:
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Lei 12.965/2014, art. 18: “O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos
decorrentes de conteúdo gerado por terceiros”.

Lei 12.965/2014, art. 19: “Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de
aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por
terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu
serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as
disposições legais em contrário.

§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, identificação clara e específica do
conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do material.

§ 2º A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos conexos depende de previsão
legal específica, que deverá respeitar a liberdade de expressão e demais garantias previstas no art. 5º da Constituição
Federal.

§ 3º As causas que versem sobre ressarcimento por danos decorrentes de conteúdos disponibilizados na internet
relacionados à honra, à reputação ou a direitos de personalidade, bem como sobre a indisponibilização desses
conteúdos por provedores de aplicações de internet, poderão ser apresentadas perante os juizados especiais.

§ 4º O juiz, inclusive no procedimento previsto no § 3o, poderá antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela
pretendida no pedido inicial, existindo prova inequívoca do fato e considerado o interesse da coletividade na
disponibilização do conteúdo na internet, desde que presentes os requisitos de verossimilhança da alegação do autor e
de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação”.

Lei 12.965/2014, art. 21: “O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será
responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus
participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter
privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover,
de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.

Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que permitam a
identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da
legitimidade para apresentação do pedido”.

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III – Violação de direitos autorais.

Questão n. 2: os provedores de conteúdo possuem responsabilidade sobre violação de direitos autorais ocorridas na
rede mundial de computadores? Segundo o STJ, os provedores de conteúdo não tem o dever de controlar o conteúdo
das informações que são postadas na rede. Caso sejam postadas informações violadoras de normas jurídicas não há
atração de responsabilidade civil. Todavia, o Tribunal decidiu que o ideal teria sido o Marco Civil da Internet regular tal
responsabilidade relacionada à violação de direitos autorais na rede (a Lei n. 12.965/14, art. 19, § 2º faz referência à
legislação específica, a qual inexiste). Diante da ausência de regulamentação, o STJ pautou-se no regramento geral
(como visto), mas também em um específico. Trata-se do preenchimento de dois requisitos para atrair a
responsabilidade civil: a) se o provedor de conteúdo contribuiu, criando um meio virtual hábil, a gerar a violação do
direito autoral (responsabilidade contributiva); b) se o provedor de conteúdo lucrou com a venda da obra fraudada
(responsabilidade vicária). Precedente:

REsp n. 1.512.647-MG: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS. REDE SOCIAL.
ORKUT. RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROVEDOR (ADMINISTRADOR). INEXISTÊNCIA, NO CASO CONCRETO.
ESTRUTURA DA REDE E COMPORTAMENTO DO PROVEDOR QUE NÃO CONTRIBUÍRAM PARA A VIOLAÇÃO DE DIREITOS
AUTORAIS. RESPONSABILIDADES CONTRIBUTIVA E VICÁRIA. NÃO APLICAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE DANOS QUE POSSAM
SER EXTRAÍDOS DA CAUSA DE PEDIR. OBRIGAÇÃO DE FAZER. INDICAÇÃO DE URL'S. NECESSIDADE. APONTAMENTO
DOS IP'S. OBRIGAÇÃO DO PROVEDOR. ASTREINTES. VALOR. AJUSTE. 1. Os arts. 102 a 104 da Lei n. 9.610/1998
atribuem responsabilidade civil por violação de direitos autorais a quem fraudulentamente "reproduz, divulga ou
de qualquer forma utiliza" obra de titularidade de outrem; a quem "editar obra literária, artística ou científica" ou a
quem "vender, expuser a venda, ocultar, adquirir, distribuir, tiver em depósito ou utilizar obra ou fonograma
reproduzidos com fraude, com a finalidade de vender, obter ganho, vantagem, proveito, lucro direto ou indireto,
para si ou para outrem". 2. Em se tratando de provedor de internet comum, como os administradores de rede
social, não é óbvia a inserção de sua conduta regular em algum dos verbos constantes nos arts. 102 a 104 da Lei de
Direitos Autorais. Há que investigar como e em que medida a estrutura do provedor de internet ou sua conduta
culposa ou dolosamente omissiva contribuíram para a violação de direitos autorais. 3. No direito comparado, a
responsabilidade civil de provedores de internet por violações de direitos autorais praticadas por terceiros tem sido
reconhecida a partir da ideia de responsabilidade contributiva e de responsabilidade vicária, somada à constatação
de que a utilização de obra protegida não consubstanciou o chamado fair use. 4. Reconhece-se a responsabilidade
contributiva do provedor de internet, no cenário de violação de propriedade intelectual, nas hipóteses em que há
intencional induzimento ou encorajamento para que terceiros cometam diretamente ato ilícito. A responsabilidade
vicária tem lugar nos casos em que há lucratividade com ilícitos praticados por outrem e o beneficiado se nega a
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exercer o poder de controle ou de limitação dos danos, quando poderia fazê-lo. 5. No caso em exame, a rede social em
questão não tinha como traço fundamental o compartilhamento de obras, prática que poderia ensejar a distribuição
ilegal de criações protegidas. Conforme constatado por prova pericial, a arquitetura do Orkut não provia
materialmente os usuários com os meios necessários à violação de direitos autorais. O ambiente virtual não
constituía suporte essencial à pratica de atos ilícitos, como ocorreu nos casos julgados no direito comparado, em que
provedores tinham estrutura substancialmente direcionada à violação da propriedade intelectual. Descabe,
portanto, a incidência da chamada responsabilidade contributiva. 6. Igualmente, não há nos autos comprovação de
ter havido lucratividade com ilícitos praticados por usuários em razão da negativa de o provedor exercer o poder
de controle ou de limitação dos danos, quando poderia fazê-lo, do que resulta a impossibilidade de aplicação da
chamada teoria da responsabilidade vicária. 7. Ademais, não há danos materiais que possam ser imputados à inércia
do provedor de internet, nos termos da causa de pedir. Ato ilícito futuro não pode acarretar ou justificar dano
pretérito. Se houve omissão culposa, são os danos resultantes dessa omissão que devem ser recompostos,
descabendo o ressarcimento, pela Google, de eventuais prejuízos que a autora já vinha experimentando antes mesmo
de proceder à notificação. 8. Quanto à obrigação de fazer - retirada de páginas da rede social indicada -, a parte autora
também juntou à inicial outros documentos que contêm, de forma genérica, URLs de comunidades virtuais, sem a
indicação precisa do endereço interno das páginas nas quais os atos ilícitos estariam sendo praticados. Nessas
circunstâncias, a jurisprudência da Segunda Seção afasta a obrigação do provedor, nos termos do que ficou decidido
na Rcl 5.072/AC, Rel. p/ acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe 4/6/2014. 9. A responsabilidade dos provedores de
internet, quanto a conteúdo ilícito veiculado em seus sites, envolve também a indicação dos autores da informação
(IPs). 10. Nos termos do art. 461, §§ 5º e 6º, do CPC, pode o magistrado a qualquer tempo, e mesmo de ofício,
alterar o valor ou a periodicidade das astreintes em caso de ineficácia ou insuficiência ao desiderato de compelir o
devedor ao cumprimento da obrigação. Valor da multa cominatória ajustado às peculiaridades do caso concreto. 11.
"Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório"
(Súmula n. 98/STJ).12. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1512647/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/05/2015, DJe 05/08/2015)”.

IV – Provedor de informação.

Provedor de conteúdo (ainda que a nomenclatura não seja a mais adequada, mas é empregada pelo STJ) é aquele que
hospeda, na rede mundial de computadores, informações produzidas por terceiros. Ao lado dele, há o provedor de
informação, o qual elabora as informações que serão disponibilizadas na rede.

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Questão n. 3: aquele que elabora as informações e as disponibiliza na rede mundial de computadores possui
responsabilidade sob o conteúdo dessas informações caso veiculem conteúdo ofensivo, abusivo ou violador de direitos
da personalidade de terceiros? Sim. A questão decidida pelo Superior Tribunal de Justiça, no entanto, é distinta: o
provedor de informação é responsável por comentários postados por leitores? Para esta indagação, o Tribunal decidiu
de modo distinto entendendo que o provedor de informação é responsável sob o conteúdo ilícito de informações
postadas, ainda que realizadas pelos leitores. A partir do momento em que o provedor permitiu que os leitores
comentassem, ele assumiu o risco de condutas ofensivas de terceiros - o risco é inerente ao exercício da atividade e,
consequentemente, há responsabilização. Precedente:

REsp n. 1.352.053/AL: “RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE CIVIL. INTERNET.
PORTAL DE NOTÍCIAS. RELAÇÃO DE CONSUMO. OFENSAS POSTADAS POR USUÁRIOS. AUSÊNCIA DE CONTROLE POR
PARTE DA EMPRESA JORNALÍSTICA. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA PERANTE A
VÍTIMA. VALOR DA INDENIZAÇÃO. 1. Controvérsia acerca da responsabilidade civil da empresa detentora de um portal
eletrônico por ofensas à honra praticadas por seus usuários mediante mensagens e comentários a uma noticia
veiculada. 2. Irresponsabilidade dos provedores de conteúdo, salvo se não providenciarem a exclusão do conteúdo
ofensivo, após notificação. Precedentes. 3. Hipótese em que o provedor de conteúdo é empresa jornalística, profissional
da área de comunicação, ensejando a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. 4. Necessidade de controle
efetivo, prévio ou posterior, das postagens divulgadas pelos usuários junto à página em que publicada a notícia. 5. A
ausência de controle configura defeito do serviço. 6. Responsabilidade solidária da empresa gestora do portal eletrônica
perante a vítima das ofensas. 7. Manutenção do 'quantum' indenizatório a título de danos morais por não se mostrar
exagerado (Súmula 07/STJ). 8. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO” (REsp 1352053/AL, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/03/2015, DJe 30/03/2015).

Observação (geral): há outros precedentes no material de apoio (slides).

1.2. Atos lícitos não geram responsabilidade civil

A responsabilidade civil pressupõe ato ilícito. Portanto, em regra, atos lícitos não geram responsabilidade civil. Todavia,
há exceções.

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O “caput” do art. 188 do CC possui a seguinte redação: “Não constituem atos ilícitos”. Portanto, o dispositivo enumera
(incisos) condutas lícitas por expressa determinação do legislador: legítima defesa, exercício regular do direito ou estado
de necessidade (o Código Civil traz o conceito).

CC, art. 188: “Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II – [estado de necessidade] a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo
iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente
necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo”.

Diante de qualquer uma das excludentes de ilicitude, ainda que o indivíduo gere dano a outrem, não estará ele obrigado
a reparar o dano causado, pois sua conduta é lícita. Todavia, existe uma excludente de ilicitude que, excepcionalmente,
poderá gerar a responsabilidade civil: estado de necessidade (lido em cotejo com o CC, arts. 929 e 930). Trata-se da
hipótese em que o indivíduo deteriora ou destrói patrimônio alheio e este é um terceiro que não contribuiu para a
formação da situação de perigo (o terceiro é vítima). Previsões legais:

CC, art. 929: “Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo,
assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram”.

CC, art. 930: “No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano
ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado”.

1.3. Não há responsabilidade civil independente de dano

Para a doutrina moderna, haverá responsabilidade civil independentemente da ocorrência de um dano. A


responsabilidade civil, enquanto reparação, consubstancia a sua função reparadora. Todavia, atualmente, a
responsabilidade civil não é limitada à função reparadora. Ela possui, também, a função precaucional: coibir a
ocorrência de danos. Exemplo: restrição ao exercício de determinada atividade.

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2. Pressupostos da responsabilidade civil

CC, art. 927, “caput”: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.

Pressupostos de qualquer espécie de responsabilidade civil extracontratual (subjetiva ou objetiva):

 Ato ilícito.

 Dano.

 Nexo de causalidade.

Observação n. 1: à responsabilidade civil subjetiva é agregado um quarto pressuposto: a culpa - ela estará dispensada de
comprovação na hipótese de responsabilidade civil objetiva.

2.1. Ato ilícito

Para existir o ato ilícito exige dois elementos:

 Objetivo: caráter reprovável da conduta do agente (violação do ordenamento jurídico/descumprimento do


dever jurídico). É denominado de “antijuridicidade”. Portanto, todo ato ilícito é antijurídico, mas nem todo ato
antijurídico é ato ilícito.

 Subjetivo: capacidade do agente de compreender o caráter reprovável da conduta. É denominado de


imputabilidade: prerrogativa de atribuir a alguém responsabilidade. Para o Código Civil, a imputabilidade está
atrelada à capacidade civil do indivíduo:

 Imputável: capacidade civil plena (sanidade e maioridade).

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 Inimputável: CC, arts. 3º e 4º. Questão n. 1: caso o dano seja causado por um inimputável, a vítima,
além de suportar o dano, não será reparada? Não. Para suprir a inimputabilidade, o Código Civil
emprega o mecanismo da responsabilidade civil indireta, também denominada de responsabilidade civil
por fato de terceiro ou de outrem. Assim, o indivíduo será responsabilizado por um dano que não deu
causa direta. Os terceiros responsáveis estão indicados no CC, art. 932 em rol taxativo – critério
empregado pelo Código: dever de vigilância ou fiscalização.

Análise dos incisos I e II do art. 932 do Código Civil:

CC, art. 932: “São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

(...)”.

Regras:

I - Se o dano é causado por um filho menor, tutelado ou curatelado quem se responsabiliza são os pais, tutores ou
curadores.

A responsabilidade dos pais, tutores e curadores é objetiva com fundamento no CC, art. 933. Todavia, a
responsabilidade é objetiva impura porque ela somente é imposta se a vítima comprovar que o filho menor, o tutelado
ou curatelado agiu com culpa. Em outras palavras, é indispensável a comprovação da culpa do causador direto do dano.

 Enunciado N. 590: “A responsabilidade civil dos pais pelos atos dos filhos menores, prevista no art. 932, inc. I, do
Código Civil, não obstante objetiva, pressupõe a demonstração de que a conduta imputada ao menor, caso o
fosse a um agente imputável, seria hábil para a sua responsabilização”.

II – Os pais, tutores e curadores, em tese, ao arcarem com os danos causados pelos filhos menores, tutelados ou
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curatelados, estão se responsabilizando por um dano ao qual não deram causa direta. Diante disto, o Código Civil
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permite que posteriormente eles exerçam pretensão de regresso (CC, art. 934). Todavia, a pretensão possui limitações,
pois o Código excepciona a regra quando se tratar de descendente do responsável civil indireto, seja absoluta ou
relativamente incapaz. Neste caso, o responsável indireto não fará jus ao exercício da pretensão de regresso.

III – Quanto o dano é causado por um filho menor, pelo tutelado ou curatelado a ação de reparação de danos já é
movida diretamente em face do pai, tutor ou curador. Questão n. 2: é possível mover a pretensão em face do incapaz?
Sim, mas excepcionalmente nos termos do CC, art. 928. A responsabilidade civil do incapaz é:

 Subsidiária: primeiro é chamado o representante. Se, eventualmente, o representante legal não possuir
patrimônio suficiente será chamado o incapaz.

 Mitigada: a responsabilidade civil do incapaz não chega ao ponto de garantir à vítima uma reparação integral do
dano por ela suportado.

 Observação n. 1: embora o princípio norteador da responsabilidade civil seja o princípio da restituição


integral (“restitutio in integrum”), o Código Civil o excepciona em algumas passagens.

 Observação n. 2: a responsabilidade do incapaz subsistirá somente se a indenização não privar o incapaz


do necessário à sua subsistência ou daqueles que dele dependam.

Enunciados (CJF):

 N. 40: “Art. 928: o incapaz responde pelos prejuízos que causar de maneira subsidiária ou excepcionalmente
como devedor principal, na hipótese do ressarcimento devido pelos adolescentes que praticarem atos
infracionais nos termos do art. 116 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no âmbito das medidas sócio-
educativas ali previstas”.

 N. 39: “Art. 928: a impossibilidade de privação do necessário à pessoa, prevista no art. 928, traduz um dever de
indenização eqüitativa, informado pelo princípio constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana.
Como conseqüência, também os pais, tutores e curadores serão beneficiados pelo limite humanitário do dever
de indenizar, de modo que a passagem ao patrimônio do incapaz se dará não quando esgotados todos os
recursos do responsável, mas se reduzidos estes ao montante necessário à manutenção de sua dignidade”.

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Questão n. 3: o litisconsórcio passivo entre o representante e incapaz é necessário? Segundo o STJ, não. Precedente:

REsp n. 1.436.401-MG: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM - PAIS PELOS ATOS
PRATICADOS PELOS FILHOS MENORES. ATO ILÍCITO COMETIDO POR MENOR. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E
SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ PELOS SEUS ATOS (CC, ART. 928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA. 1. A
responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária e mitigada (CC, art. 928). 2. É subsidiária
porque apenas ocorrerá quando os seus genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima; é condicional e mitigada
porque não poderá ultrapassar o limite humanitário do patrimônio mínimo do infante (CC, art. 928, par. único e En.
39/CJF); e deve ser equitativa, tendo em vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo
necessário para a sobrevivência digna do incapaz (CC, art. 928, par. único e En. 449/CJF). 3. Não há litisconsórcio passivo
necessário, pois não há obrigação - nem legal, nem por força da relação jurídica (unitária) - da vítima lesada em litigar
contra o responsável e o incapaz. É possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta
que os direitos ou obrigações derivem do mesmo fundamento de fato ou de direito (CPC,73, art. 46, II) intente ação
contra ambos - pai e filho -, formando-se um litisconsórcio facultativo e simples. 4. O art. 932, I do CC ao se referir a
autoridade e companhia dos pais em relação aos filhos, quis explicitar o poder familiar (a autoridade parental não se
esgota na guarda), compreendendo um plexo de deveres como, proteção, cuidado, educação, informação, afeto,
dentre outros, independentemente da vigilância investigativa e diária, sendo irrelevante a proximidade física no
momento em que os menores venham a causar danos. 5. Recurso especial não provido” (REsp 1436401/MG, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/02/2017, DJe 16/03/2017).

IV – O CC, art. 932, I estabelece que os pais respondem pelos danos causados pelos seus filhos menores que estão sob
sua autoridade e companhia.

Observação n. 1: o Código Civil não empregou a expressão “pais” desnecessariamente. Ambos os genitores,
solidariamente, respondem pelos danos causados pelos seus filhos menores. A ideia, a priori, não é excluir o pai ou a
mão, mas lançar ambos os genitores sob o dano causado pelo seu filho menor. A solidariedade advém das redações dos
artigos 1.634, inc. I e 942, parágrafo único:

 CC, art. 1.634: “Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder
familiar, que consiste em, quanto aos filhos:

I - dirigir-lhes a criação e a educação;


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(...)”.

 CC, art. 942, parágrafo único: “São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas
designadas no art. 932”.

Enunciados (CJF):

 N. 450: “Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é
objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra,
solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em
caso de culpa exclusiva de um dos genitores”.

Questão n. 4: o que significa autoridade e companhia? Elas sempre foram interpretadas pela doutrina e pelo STJ como o
exercício do poder familiar. Portanto, se ambos os genitores estiverem no exercício do poder familiar, o dever de
responsabilidade será a eles atribuído diante do CC, art. 1.642.

Todavia, há um julgado (isolado) do STJ em que foi decidido que caso o dano decorresse de uma conduta exclusiva de
apenas um dos genitores, a responsabilidade civil competiria apenas a ele, embora ambos estejam no exercício do
poder familiar. Não obstante, o STJ continuou entendendo a autoridade e companhia significavam exercício do poder
familiar.

Por conseguinte, mais recentemente, a 3ª Turma do STJ adotou o entendimento isolado supracitado. Nesta decisão, foi
decidido que a autoridade e companhia não são interpretadas como exercício do poder familiar. A responsabilidade
dependerá daquele genitor que, no momento da ocorrência do dano, exercia sobre seu filho menor uma autoridade de
fato (poder de comando ou direcionamento). Precedente:

REsp n. 1.232.011/SC: “DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO ENVOLVENDO MENOR.
INDENIZAÇÃO AOS PAIS DO MENOR FALECIDO. ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. REVISÃO. ART. 932, I, DO CÓDIGO
CIVIL. 1. A responsabilidade dos pais por filho menor - responsabilidade por ato ou fato de terceiro -, a partir do advento
do Código Civil de 2002, passou a embasar-se na teoria do risco para efeitos de indenização, de forma que as pessoas

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elencadas no art. 932 do Código Civil respondem objetivamente, devendo-se comprovar apenas a culpa na prática do
ato ilícito daquele pelo qual são os pais responsáveis legalmente. Contudo, há uma exceção: a de que os pais
respondem pelo filho incapaz que esteja sob sua autoridade e em sua companhia; assim, os pais, ou responsável, que
não exercem autoridade de fato sobre o filho, embora ainda detenham o poder familiar, não respondem por ele, nos
termos do inciso I do art. 932 do Código Civil. 2. Na hipótese de atropelamento seguido de morte por culpa do condutor
do veículo, sendo a vítima menor e de família de baixa renda, é devida indenização por danos materiais consistente em
pensionamento mensal aos genitores do menor falecido, ainda que este não exercesse atividade remunerada, visto que
se presume haver ajuda mútua entre os integrantes dessas famílias. 3. Recurso especial conhecido parcialmente e,
nessa parte, provido também parcialmente” (REsp 1232011/SC, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 17/12/2015, DJe 04/02/2016).

Posteriormente (após a decisão da 3ª Turma), a 4ª Turma do STJ analisou novamente a responsabilidade civil dos pais
pelos danos causados pelos seus filhos menores. A Turma lançou a responsabilidade civil dos genitores sob os olhos do
exercício do poder familiar. Precedente:

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL POR FATO DE OUTREM - PAIS PELOS ATOS PRATICADOS PELOS FILHOS
MENORES. ATO ILÍCITO COMETIDO POR MENOR. RESPONSABILIDADE CIVIL MITIGADA E SUBSIDIÁRIA DO INCAPAZ
PELOS SEUS ATOS (CC, ART. 928). LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. INOCORRÊNCIA. 1. A responsabilidade civil do incapaz
pela reparação dos danos é subsidiária e mitigada (CC, art. 928). 2. É subsidiária porque apenas ocorrerá quando os seus
genitores não tiverem meios para ressarcir a vítima; é condicional e mitigada porque não poderá ultrapassar o limite
humanitário do patrimônio mínimo do infante (CC, art. 928, par. único e En. 39⁄CJF); e deve ser equitativa, tendo em
vista que a indenização deverá ser equânime, sem a privação do mínimo necessário para a sobrevivência digna do
incapaz (CC, art. 928, par. único e En. 449⁄CJF). 3. Não há litisconsórcio passivo necessário, pois não há obrigação - nem
legal, nem por força da relação jurídica (unitária) - da vítima lesada em litigar contra o responsável e o incapaz. É
possível, no entanto, que o autor, por sua opção e liberalidade, tendo em conta que os direitos ou obrigações derivem
do mesmo fundamento de fato ou de direito (CPC,73, art. 46, II) intente ação contra ambos - pai e filho -, formando-se
um litisconsórcio facultativo e simples. 4. O art. 932, I do CC ao se referir a autoridade e companhia dos pais em relação
aos filhos, quis explicitar o poder familiar (a autoridade parental não se esgota na guarda), compreendendo um plexo de
deveres como, proteção, cuidado, educação, informação, afeto, dentre outros, independentemente da vigilância
investigativa e diária, sendo irrelevante a proximidade física no momento em que os menores venham a causar danos.
5. Recurso especial não provido (REsp n. 1.436.401/MG – Rel. Min. Luiz Felipe Salomão).

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V – A emancipação significa que o indivíduo antecipa a capacidade civil plena sem, contudo, ter adquirido a maioridade.
As hipóteses de emancipação estão elencadas no CC, art. 5º, parágrafo único (voluntária, legal e judicial).

Questão n. 5: se o menor é emancipado, os pais podem vir a ser chamados para suportarem os danos por ele causado?
Em regra, não, diante da capacidade civil plena. Todavia, existe uma única exceção criada pelo Superior Tribunal de
Justiça: caso o menor seja emancipado e esta for do tipo voluntária, o menor responderá com seus genitores em regime
de solidariedade.

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