Você está na página 1de 32

RESPONSABILIDADE CIVIL

PROFESSOR:

Luiz Sávio Aguiar Lima


Advogado
Mestre em Direito Constitucional
Especialista em Direito e Gestão Tributária
Auditor do Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol do Ceará

EMENTA
Te o r i a G e r a l d a R e s p o n s a b i l i d a d e C i v i l .
Responsabilidade Civil Contratual. Responsabilidade
Civil Extracontratual. Responsabilidade Civil das
Pessoas Jurídicas e seus administradores.
Responsabilidade Civil do Estado e seus Agentes.
C l á u s u l a s A b u s i v a s e M o d i f i c a t i v a s d a
Responsabilidade Civil.

OBJETIVOS

Apresentar ao aluno a disciplina da Responsabilidade Civil tratada no


ordenamento civil brasileiro. Estudar os elementos caracterizadores da
responsabilidade. Distinguir, diante do caso concreto, as diferentes formas
de responsabilização civil previstas no ordenamento jurídico, aplicando as
teorias correlatas. Verificar os pressupostos da obrigação de indenizar e as
causas que excluem o dever de reparar o dano, proporcionando ao aluno o
entendimento dos efeitos decorrentes da prática de atos ilícitos e
pontuando a apuração da responsabilidade civil em algumas situações
relevantes do cotidiano como por exemplo de pais, hoteleiros, educadores,
bem como agentes da administração pública, dentre outros.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

1 - GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 12.ed.


São Paulo: Saraiva, 2017, v. 4.

2 - TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e


responsabilidade civil. 9.ed. São Paulo: Gen/Método, 2017, v. 2.

3 -VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. 17.ed. São Paulo:


Atlas, 2016, v. 4.




BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
1 - CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 11.ed. São
Paulo: Atlas, 2014.
2 - DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade
civil. 29.ed. São Paulo: Saraiva, 2013, v. 7.
3- DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 17.ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
4 - ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves; BRAGA NETO, Felipe
Peixoto. Curso de Direito Civil: teoria geral da responsabilidade civil -
responsabilidade civil em espeecie. Salvador: Juspodivm, 2014, v3.
5 - GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva,
2008-2009.
6 - RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 6 ed. São Paulo, 2013.





UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional,


pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por
deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo que regula a
vida.

Responsabilidade civil contratual ou negocial;

Responsabilidade civil extracontratual ou aquiliana.



UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Evolução Histórica no Brasil

Massificação no Direito do Consumidor na década de 70;

Em 1985, surge a Lei 7.347, que possibilita a defesa coletiva dos direitos a ser intentada por
alguns órgãos legitimados, como, por exemplo, o Ministério Público.

Em 1988 a Constituição de 1988 trouxe a defesa dos consumidores como norma principiológica
(art. 5.o, XXXII), a reparação de danos imateriais ou morais (art. 5.o, V e X), a função social da
propriedade (art. 5.o, XXII e XXIII), a proteção do Bem Ambiental (art. 225), a proteção da
dignidade da pessoa humana como direito fundamental (art. 1.o, III), a solidariedade social
como preceito máximo de justiça (art. 3.o, I) e a isonomia ou igualdade lato sensu (art. 5.o,
caput).

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Evolução Histórica no Brasil

Em 1990, surge o Código de Defesa do Consumidor, passando a consagrar a


responsabilidade civil sem culpa como regra inerente à defesa dos consumidores;

Ponto de destaque: perpetuação da responsabilidade sem culpa também nas


relações privadas no âmbito do Direito Privado Brasileiro.

Em 2002, com a edição do Código Civil o artigo 927 passou a tratar


especificamente da responsabilidade objetiva;

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Observância da Responsabilidade Civil nas perspectivas:

- Dignidade da Pessoa Humana;

- Da Solidariedade Social;

- Da Igualdade.

CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL












UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

A responsabilidade civil deve ser encarada no ponto de vista da personalização do


Direito Privado, ou seja, da valorização da pessoa em detrimento da
desvalorização do patrimônio (despatrimonialização).

Pelo Direito Civil Constitucional, há, assim, não uma invasão do direito
constitucional sobre o civil, mas sim uma interação simbiótica entre eles,
funcionando ambos para melhor servir o todo Estado/Sociedade, dando as
garantias para o desenvolvimento econômico, social e político, mas respeitadas
determinadas premissas que nos identificam como seres coletivos.

Existe, portanto, uma superação parcial, da velha dicotomia público x privado.

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Ato ilícito

Responsabilidade Lesão do Direito

Art. 186 do Código Civil

É o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica violando direitos e causando


prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência a norma jurídica cria o dever de reparar o
dano, o que justifica o fato de ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional.

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Ato Ilícito

O ato ilícito é considerado como fato jurídico em sentido amplo, uma vez que
produz efeitos jurídicos que não são desejados pelo agente, mas somente
aqueles impostos pela lei.

Quando alguém comete um ilícito há a infração de um dever e a imputação


de um resultado.

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Abuso de Direito

Ato lícito pelo conteúdo, mas ilícito pelas consequências. Caracterizado como
um exercício irregular de direitos, em que o titular de um direito, ao exerc -lo,
excede os limites impostos:

a) pelo fim social do instituto;


b) pelo fim econômico;
c) pela boa fé objetiva;
d) pelos bons costumes.

ê­
UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Diferenças entre ato ilícito e abuso de direito:

O ato ilícito é ilícito no todo.

O abuso de direito é lícito pelo conteúdo, mas ilícito pelas consequências.

ATENÇÃO

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Exemplos de abuso de direito, em uma visão interdisciplinar:

a) Do Direito do Consumidor: publicidade abusiva (art. 37, § 2.o, do CDC) e


práticas abusivas (art. 39 do CDC).

b) Do Direito do Trabalho: abuso no direito de greve (art. 9.o, § 2.o, da CF/


1988) e dispensa de empregado doente (julgado do TRT/SP).

c) Do Direito Processual: lide temerária (arts. 79 a 81 do CPC/2015,


correspondentes aos arts. 16 a 18 do CPC/1973).

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Exemplos de abuso de direito, em uma visão interdisciplinar:

d) Do Direito Civil: abuso no direito de propriedade (art. 1.228, §§ 1.o e 2.o, do


CC).

e) Do Direito Eletrônico: spam (envio de mail indesejado ou não solicitado).

Conforme o Enunciado n. 37 do CJF, a responsabilidade decorrente do


abuso de direito independe de culpa, ou seja, é objetiva.


UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um


direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Princípio da Solidariedade
Princípio da Eticidade

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

A T E N Ç Ã O

Aplicand - se os arts. 166, 187 e 421 da norma civil geral, pod se afirmar que
a função social do contrato está no plano da validade do negócio jurídico
celebrado, sendo esse um exemplo da eficácia interna do referido princípio,
como reconhece o Enunciado n. 360, aprovado na IV Jornada de Direito Civil,
de autoria do Flávio Tartuce.


UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

STJ - REsp 1.558.086/SP, 2.a Turma, Rel. Min. Humberto Martins, j. 10.03.2016, DJe 15.04.2016

A Corte entendeu pela sua proibição, pelo fato de vincular a aquisição de brindes ao consumo
exagerado do produto.

Nos termos do aresto, “a hipótese dos autos caracteriza publicidade duplamente abusiva.
Primeiro, por se tratar de anúncio ou promoção de venda de alimentos direcionada, direta ou
indiretamente, às crianças. Segundo, pela evidente ‘venda casada’, ilícita em negócio jurídico
entre adultos e, com maior razão, em contexto de marketing que utiliza ou manipula o universo
lúdico infantil (art. 39, I, do CDC).

- Configurada a venda casada, uma vez que, para adquirir/comprar o relógio, seria necessário
que o consumidor comprasse também 5 (cinco) produtos da linha ‘Gulosos’”

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Elementos da Responsabilidade Civil

a) conduta humana;

b) culpa genérica ou lato sensu;

c) nexo de causalidade;

d) dano ou prejuízo.

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

a) Conduta Humana:

- ação (conduta positiva) ou omissão (conduta negativa);


para a omissão é necessária ainda a demonstração de que, caso a conduta
fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado.

- voluntária ou por negligência, imprudência ou imperícia.



UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

“Agravo Regimental no Agravo de Instrumento. Responsabilidade civil. Condomínio. Furto em unidade autônoma.
Matéria de prova. Súmula 7/STJ. Alegada existência de cláusula de responsabilidade. Súmula 5/STJ. Preposto.
Responsabilidade objetiva do condomínio. Ausência de prequestionamento. Súmula 211/STJ. Precedentes. 1. A
Segunda Seção desta Corte firmou entendimento no sentido de que ‘O condomínio só responde por furtos ocorridos
nas suas áreas comuns se isso estiver expressamente previsto na respectiva convenção’. (EREsp 268.669/SP, Relator o
Ministro Ari Pargendler, DJ de 26.4.2006) 2. Na hipótese dos autos, o acórdão recorrido está fundamentado no fato
de que: (a) o furto ocorreu no interior de uma unidade autônoma do condomínio e não em uma área comum; (b) o
autor não logrou êxito em demonstrar a existência de cláusula de responsabilidade do condomínio em indenizar
casos de furto e roubo ocorridos em suas dependências. 3. Para se concluir que o furto ocorreu nas dependências
comuns do edifício e que tal responsabilidade foi prevista na Convenção do condomínio em questão, como alega a
agravante, seria necessário rever todo o conjunto fático probatório dos autos, bem como analisar as cláusulas da
referida Convenção, medidas, no entanto, incabíveis em sede de recurso especial, a teor das Súmulas 5 e 7 desta
Corte. 4. Impossibilidade de análise da questão relativa à responsabilidade objetiva do condomínio pelos atos
praticados por seus prepostos por ausência de prequestionamento. 5. Agravo regimental a que se nega provimento”
(STJ, AgRg no Ag 1.102.361/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, 4.a Turma, j. 15.06.2010, DJe 28.06.2010).
UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

A pessoa pode responder:

- Por ato próprio, o que acaba sendo a regra da responsabilidade civil, por ato
de terceiro, como nos casos previstos no art. 932 do CC;

- Pode ainda responder por fato de animal (art. 936 do CC);

- Por fato de uma coisa inanimada (arts. 937 e 938 do CC);

- Por um produto colocado no mercado de consumo (arts. 12, 13, 14, 18 e 19 da


Lei 8.078/1990).

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Culpa:

- Em sentido amplo: DOLO


Falta de Cuidado Falta de Qualificação

- Em sentido estrito: IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA

Falta de Cuidado e Omissão

Obs: no que se refere à indenização, esta deve ser fixada de acordo com o grau de culpa dos
envolvidos, ou seja, segundo a sua contribuição causal (arts. 944 e 945 do CC). Dessa forma, em
havendo dolo, por regra, deverá o agente pagar indenização integral, sem qualquer redução.

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

- Para o Direito Civil não importa se o autor agiu com dolo ou culpa, sendo a
consequência inicial a mesma, qual seja a imputação do dever de reparação do dano ou
indenização dos prejuízos.

- Arts. 944 e 945 do CC. A regra geral do Direito Civil brasileiro é a


adoção da teoria da culpa, segundo a
qual haverá obrigação de indenizar
somente se houver culpa genérica do
agente, sendo certo que o ônus de provar
a existência de tal elemento cabe, em
regra, ao autor da demanda, conforme
determina o art. 373, inc. I, do CPC/2015.

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Nexo de Causalidade:

Nexo Causal

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

ATENÇÃO
Tartuce explica que se houver dano sem que a sua
causa esteja relacionada com o comportamento do
suposto ofensor, inexiste a relação de causalidade,
não havendo a obrigação de indenizar.

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

– Na responsabilidade subjetiva o nexo de causalidade é


formado pela culpa genérica ou lato sensu, que inclui o
dolo e a culpa estrita (art. 186 do CC).

– Na responsabilidade objetiva o nexo de causalidade é


formado pela conduta, cumulada com a previsão legal de
responsabilização sem culpa ou pela atividade de risco
(art. 927, parágrafo único, do CC).

UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Excludentes do nexo de causalidade:

- a culpa exclusiva ou o fato exclusivo da vítima;

- a culpa exclusiva ou o fato exclusivo de terceiro;

- o caso fortuito e a força maior.





UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Dano

- Dano Patrimonial ou Material (ressarcimento)

a) Emergentes ou danos positivos: O que efetivamente se perdeu.

b) Lucros Cessantes ou danos negativos: O que deixou de lucrar.



UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Dano

- Dano Moral: uma lesão aos direitos da personalidade (arts. 11 a 21 do


CC), para a sua reparação não se requer a determinação de um preço
para a dor ou o sofrimento, mas sim um meio para atenuar, em parte, as
consequências do prejuízo imaterial.

Trata-se reparação e não de ressarcimento.



UNIDADE I – Noções Gerais de Responsabilidade Civil.

Dano

No dano moral não há uma finalidade de acréscimo


patrimonial para a vítima, mas sim de compensação
pelos males suportados.

Você também pode gostar