O ordenamento jurídico brasileiro permite às pessoas jurídicas possuírem
personalidade distinta da dos seus membros, possibilitando que sociedades empresariais utilizem a pessoa jurídica como uma “máscara” para proteger seus negócios escusos, um meio para a prática de fraudes e abusos de direito contra credores, proporcionando prejuízos não só financeiros.
Em virtude a esses abusos, se deu a origem à teoria da desconsideração da
personalidade jurídica em diversas doutrinas diferentes. Permite a teoria, então, em casos de fraude e de má-fé, que o juiz desconsidere a distinção entre pessoa jurídica e de seus membros constituintes. Segundo Fábio Ulhoa Coelho: “porque é necessário coibir a fraude perpetrada graças à manipulação de tais regras. Não seria possível a coibição se respeitada a autonomia da sociedade. Note-se, a decisão judicial que desconsidera a personalidade jurídica da sociedade não desfaz o seu ato constitutivo, não o invalida, nem importa a sua dissolução. Trata, apenas e rigorosamente, de suspensão episódica da eficácia desse ato.”
Distingue-se, também, a despersonalização de desconsideração da
personalidade jurídica, a despersonalização acarreta na dissolução ou cassação da autorização para seu funcionamento da pessoa jurídica, enquanto a desconsideração, segundo Fábio Konder Comparato, subsiste o princípio da autonomia subjetiva da pessoa coletiva, distinta da pessoa de seus sócios ou componentes.
No direito brasileiro, são reconhecidas duas teorias da desconsideração tanto
pela doutrina quanto pela jurisprudência. Denominada como “teoria maior”, prestigia a contribuição doutrinaria e em que a comprovação da fraude e do abuso por parte dos sócios constitui requisito para que o juiz possa ignorar a autonomia patrimonial das pessoas jurídicas; a “teoria menor” considera o simples o simples prejuízo do credor motivo suficiente para a desconsideração, sem se preocupar em verificar se houve ou não utilização fraudulenta do princípio da autonomia patrimonial sem se houve ou não abusa da personalidade. A teoria reconhecida como “teoria maior” divide-se em objetiva e subjetiva. A teoria objetiva reconhece a confusão patrimonial como o pressuposto necessário e suficiente da desconsideração, basta a constatação da existência de bens de socio registrados em nome da sociedade e vice-versa. A vertente subjetiva, por sua vez, não prescinde do elemento anímico, presente nas hipóteses de desvio de finalidade e de fraude. É pressuposto inafastável para a desconsideração o abuso da personalidade jurídica.
Especialmente no campo do direito das sucessões, nas hipóteses de
utilização de pessoas jurídicas por genitores que pretendem beneficiar alguns filhos em detrimento de outros, podem ocorrer abusos que justificam a aplicação da teoria da desconsideração inversa da personalidade jurídica. Segundo o STJ, a desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-se pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre na desconsideração da personalidade propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações do socio controlador.
RESPONSABILIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS
A responsabilidade jurídica por danos em geral pode penal e civil, como na
Lei n.9605, de 12 de fevereiro de 1998, referente aos crimes ambientais. Essa lei, portanto, responsabiliza administrativamente, civilmente e penalmente as pessoas jurídicas nos casos que o delito seja cometido por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”. As sanções aplicáveis podem ser: multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade.
RESPONSABILIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO
No campo do direito civil, a responsabilidade da pessoa jurídica pode ser
contratual e extracontratual, sendo para esse fim equiparada à pessoa física. No âmbito contratual essa responsabilidade, de caráter patrimonial, emerge do art. 389 do Código Civil, e do Código de Defesa do Consumidor que responsabiliza de forma objetiva as pessoas jurídicas pelo fato e por vicio do produto e do serviço, conforme os arts. 12 e s. e 18 e s.
Na questão extracontratual, a responsabilidade do delito é proveniente do
Código Civil nos arts. 186, 187 e 927, bem como dos arts. 932, III, e 933, estabelecendo, para o autor, a obrigação de reparar o dano/prejuízo causado, impondo a todos, mesmo que de forma indireta, o dever de não lesar a outrem.
Toda pessoa jurídica de direito privado, tenha ou não fins lucrativos,
responde, portanto, pelos danos causados a terceiros, qualquer que seja a sua natureza e os seus fins, dando ênfase a preocupação em não deixar o ato danoso não ressarcido. A pessoa jurídica responde, assim, civilmente pelos atos de seus dirigentes ou administradores, empregados ou preposta que, nessa qualidade, causem danos a alguém.
RESPONSABILIDADE DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO
A responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito publico passou por
diversas fases, conhecidas como: a) da irresponsabilidade do Estado; b) a civilista, representada pelo art. 15 do Código Civil de 1916, que responsabilizava civilmente as pessoas jurídicas de direito publico pelos atos de seus representantes, que causassem danos a terceiros; c) a publicista: a partir 1946, quando a questão passou a ser tratada em nível de direito público, regulamentada na Constituição Federal, a responsabilidade passou a ser objetiva, mas na modalidade do risco administrativo.
Mesmo quando não se identifique o funcionário causador do dano, é cabível
ação contra o Estado, especialmente em casos de omissão da administração. Estes casos são reconhecidos como “culpa anônima” da administração.
De acordo com Bandeira de Mello, quando o comportamento lesivo é
comissivo, os danos são causados pelo Estado. Causa é o evento que produz certo resultado. No caso de dano por comportamento comissivo, a responsabilidade do Estado é objetiva. Quando o comportamento lesivo é omissivo, os danos são causados pelo Estado, mas por evento alheio a ele. A omissão é condição do dano, porque propicia a sua ocorrência. Condição é o evento cuja ausência enseja o surgimento do dano. No caso de dano por comportamento omissivo, a responsabilidade do Estado é subjetiva.
A jurisprudência, no entanto, não faz essa distinção. O STF já decidiu que a
atividade administrativa a que alude o art. 37, parágrafo 6.º, da Constituição Federal, abrange tanto a conduta comissiva como a omissiva, desde que a omissão seja a causa direta e imediata do dano causado.
Durante muito tempo entendeu-se que o ato do juiz é uma manifestação da
soberania nacional. No entanto, soberania não é sinônimo de irresponsabilidade. A responsabilidade estatal decorre do princípio da igualdade dos encargos sociais, segundo o qual o lesado fará jus a uma indenização toda vez que sofrer um prejuízo causado pelo funcionamento do serviço público.
O juiz só pode ser pessoalmente responsabilizado se houver comprovação de
dolo ou fraude de sua parte, e quando, sem motivo plausível, recusar, omitir ou retardar providência que dava ordenar de ofício ou a requerimento da parte. Membros Do Ministério Público, por serem agentes políticos e gozarem de um regime especial de responsabilidade civil, não são, quando agirem com culpa, responsáveis diretos pelos danos que causarem a terceiros atuando em suas atividades funcionais. Para que haja responsabilidade direita e pessoal, é preciso que ele tenha agido comprovadamente com dolo ou fraude, excedendo, portanto, os limites de sua atuação funcional.
A responsabilidade estatal em decorrência de erro judiciário é expressamente
reconhecida no art. 5.º, da Constituição Federal. Impondo ao órgão estatal a obrigação de indenizar àquele que ficar preso além do tempo fixado na sentença, estará implicitamente também ao sentenciado o direito de ser indenizado em virtude de prisão sem sentença condenatória.
Autores diversos defendem a tese de que o Estado não é responsável por
atos legislativos causadores de danos injusto, por conta da soberania do Poder Legislativo e a imunidade parlamentar, as funções do Legislativo, como poder soberano, são sempre legais. E outra vertente de pensamento defende que o Estado responde sempre por atos danosos, causados quer por lei inconstitucional, quer por lei constitucional. A lei, em princípio, é impessoal, uma norma genérica, não pode causar prejuízo a nenhum cidadão. Mas a sua aplicação pode sim causar uma eventual lesão de direito subjetivo, seus efeitos dependem, portanto da efetiva incidência sobre o caso concreto, não da lei em tese, nesse caso cabendo a verificação do nexo causal entre a lei inconstitucional e o dano ocorrido.
Enfatiza-se, também, a responsabilidade do Estado em face da atividade
legislativa normal, visto que mesmo a lei constitucionalmente perfeita pode causar dano injusto aos particulares ou a uma certa categoria de particulares. Um exemplo a se mencionar, uma situação em que o Estado estabelece em seu benefício um monopólio industrial ou comercial de certa atividade, que assim fica interdita aos particulares, importando na eliminação de empreendimentos já existes, com diversos prejuízos para a economia privada, em tal hipótese existe jurisprudência que reconhece a responsabilidade ressarcitória do Estado.
EXTINÇÃO DA PESSOA JURIDICA
O começo da existência legal das pessoas jurídicas de direito privado se da
com o registro do ato constitutivo no órgão competente, mas seu termino pode decorrer de diversas causas, especificadas nos arts. 54, VI, segunda parte, 69, 1.028, II e 1.033 e s.
A primeira forma de extinção da pessoa jurídica é nomeada como
“convencional” que consiste no fim por deliberação de seus membros, conforme quórum previsto nos estatutos ou na lei. A vontade humana criadora, hábil a gerar uma entidade com personalidade distinta da de deus membros, é também capaz de extingui-la.
Por conseguinte, existe a forma “legal” que em razão de motivo determinante
na lei (arts. 1.028, II, 1.033 e 1.034), a decretação da falência (Lei n. 11.101), a morte dos sócios ou o desaparecimento do capital, nas sociedades sem fins lucrativos.
A forma “administrativa” – quando a pessoa jurídica depende de autorização
do Poder Publico e esta é cassado, seja por infração a disposição de ordem publica ou prática de atos contrários aos fins declarados no seu estatuto (art. 1.125), seja por se tornar ilícita, impossível ou inútil a sua finalidade (art. 69).
E, por fim, a forma “judicial” – quando se configura algum dos casos de
dissolução previstos em lei ou no estatuto, especialmente quando a entidade se desvia dos fins para que se constituiu, mas continua a existir, obrigando um dos sócios a ingressar em juízo.
Responsabilidade Objetiva na Lei Anticorrupção e Compliance: construção do conceito de culpabilidade de empresa na busca de uma política pública eficiente