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Personalidade jurídica
O art. 66º refere-se ao começo da personalidade jurídica, sendo que é reconhecida a
pessoas coletivas e singulares. As pessoas em caso vegetativo persistente continuam com
personalidade jurídica, pois se o tronco cerebral não for lesado a pessoa continua com
personalidade jurídica. O fim desta é regulado segundo o art. 68º, em conjunto com a lei da
morte cerebral 141/99, de 28 de agosto.
Direitos de personalidade
A personalidade jurídica (Art. 66º) é a suscetibilidade de ser sujeito de direitos e de
obrigações. Corresponde a uma condição indispensável da realização por cada ser humano
dos seus fins ou interesses na vida com os outros. Os direitos de personalidade (Art. 70º e
81º CC) são direitos necessários, sendo um conteúdo mínimo e imprescindível da esfera
jurídica de cada pessoa. São direitos absolutos, que se impõem ao respeito de todos os
outros, incidindo sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade. Não
há um elenco taxativo, pois existem tantos quantos forem as manifestações da
personalidade humana. A violação de um direito de personalidade (art. 70º/2) constitui um
facto ilícito, que incorre em responsabilidade civil, sendo necessário que o infrator repare os
danos (indemnizações).
Direitos reais
Os direitos reais disciplinam as relações de um sujeito jurídico com todas as outras pessoas,
por força das quais aquele sujeito adquire um poder de direito e imediato sobre uma coisa.
É o caso do direito de propriedade, do usufruto, da hipoteca, etc. A propriedade é o direito
real máximo, o de conteúdo pleno e polimórfico. Em confronto com ele podem ser
considerados os chamados direitos reais limitados, que são direitos sobre coisas que em
propriedade pertencem a outrem. Poderão ser direitos reais de garantia, de gozo e de
aquisição. Os direitos reais de garantia são direitos que conferem o poder de, pelo valor de
uma coisa ou pelo valor dos seus rendimentos, um credor obter, com preferência em obter,
com preferência sobre todos os outros credores, o pagamento da dívida de que é titular
ativo. Existem garantias sobre os bens imóveis como as hipotecas (686º CC) e sobre os bens
móveis, como o penhor (666º CC). Outros exemplos são o direito de retenção que recai
sobre bens móveis e imóveis (754º e 755º) e os privilégios creditórios que podem ser
mobiliários ou imobiliários (733º).
Tipos de sucessões
Sucessão legítima - 2131º a 2155º
Sucessão legitimária - 2156º a 2178º
Sucessão testamentária - 2179º a 2334º
Direitos potestativos - são poderes jurídicos de , por um ato livre de vontade, sozinho ou
integrado por uma decisão judicial, produzir efeitos que se impõem à contraparte.
- constitutivos (constituição de uma relação jurídica por ato unilateral do seu titular)
- modificativos (modificação da RJ já existente, que continua a existir)
- extintivos (o efeito é a extinção da RJ já existente)
Capacidade jurídica/capacidade negocial de gozo
É a aptidão de ser titular de um círculo, maior ou menor, de relações jurídicas. A
incapacidade negocial de gozo provoca a nulidade dos negócios e é insuprível, isto é, os
negócios a que se refere não podem ser concluídos por outra pessoa, em nome do incapaz.
As incapacidades negociais de gozo são as incapacidade nupciais (1601º e 1602º),
incapacidade de testar dos menores não emancipados e dos interditos por anomalia
psíquica (2189º) e a incapacidade de perfilhar dos menores de 16 anos, dos interditos por
anomalia psíquica e dos dementes no momento de perfilhação (1850º).
Consentimento do lesado
Não podemos renunciar definitivamente aos direitos de personalidade. Podemos limitá-los
através do consentimento do lesado. Esta limitação para ser válida deve ser conforme os
princípios da ordem pública (81º e 280º) e os bons costumes (340º/2). Assim, o
consentimento do lesado traduz-se na limitação dos direitos de personalidade. O
consentimento pode ser tácito, quando deduzido pelo comportamento da pessoa; express,
há uma causa de justificação para interferir naquele direito e presumido, no caso de
emergências/urgência, segundo o art. 340º/3. No caso de se identificar uma intervenção
feita no interesse da pessoa e de acordo com a sua vontade hipotética, se está inconsciente
e há um risco de vida, então presume-se que quer ser salva. Na Convenção sobre os Direitos
humanos e a Biomedicina, no artigo 8º estão mencionadas as situações de urgência e no art.
39º do código penal. Assim, o ato dos médicos que agirem por urgência é lícito , sem existir
a possibilidade de responsabilidade civil.
Menoridade
A capacidade de exercício dos menores está prevista no art. 123º, sendo que os menores
carecem de capacidade de exercício de direitos, salvo as exceções prevista no art. 127º. O
legislador teve em conta que o menor percorre um caminho de autonomização progressiva,
em que o legislador vai abrindo a possibilidade do menor praticar atos considerados
excecionalmente válidos. As formas de suprimento da incapacidade são o poder paternal
(1878º/1), a tutela (1921º) e a administração de bens (1967º a 1972º).
Tese defendida pelo prof. doutor Orlando de Carvalho (também defendida pelo dr. André
Dias Pereira): diz que os menores e os herdeiros não podem arguir a anulabilidade, mas os
pais gozam desse direito (potestativo). Defende-se uma interpretação literal deste artigo e,
no plano dos interesses protegidos pela norma, a interpretação que mais valoriza a
necessidade de proteção do menor.
Tese defendida pelos profs. drs. Mota Pinto e Pinto Monteiro: ninguém pode anular o
negócio, nem os pais. Defende-se uma interpretação extensiva do artigo, em nome do
princípio da segurança e confiança jurídica, com a finalidade da proteção do comércio
jurídico e dos terceiros (princípio da boa-fé em sentido objetivo).
A ação de anulação deve ser proposta dentro do prazo, já não podendo o negócio ser
anulado quando o menor atingir a maioridade (289º).
Maior acompanhado
Regime regulado nos arts. 138º e ss. A incapacidade resultante da interdição é aplicável
apenas em maiores, em situações de anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, quando
pela sua gravidade tornem o interdito incapaz de reger a sua pessoa e bens. Sujeitas à
inabilitação estão as pessoas mencionadas no art. 152º CC. A incapacidade é suprida
mediante o instituto de representação legal, tutela regulada pelas mesmas normas que
regulam a dos menores (143º). No entanto, quanto ao casamento (1601º/b), não há
possibilidade de suprimento da incapacidade dos interditos por anomalia psíquica, estamos
perante uma incapacidade negocial de gozo. Só os interditos por surdez-mudez ou cegueira
têm plena capacidade matrimonial. Quanto ao testamento (2189º/b e 2190º), só os
interditos por anomalia psíquica estão feridos de uma incapacidade de gozo, tendo os
surdos-mudos e os cegos capacidade testamentária de gozo e de exercício. Quanto ao valor
dos atos do maior acompanhado serão distintos consoante o período em questão.
Ausência
Consiste no desaparecimento sem notícias, ou seja, o desaparecimento de alguém “sem que
dele se saiba parte” (art. 89º/1). As medidas legais tomadas podem ser de 3 tipos. A
curadoria provisória (89º) é a nomeação de um curador provisório aquando do
desaparecimento de alguém sem notícias, existindo a necessidade de prover informação
acerca dos seus bens e a falta de representação legal ou de procurador. A presunção de lei é
um possível regresso do ausente. A curadoria definitiva está regulada no art. 99º quando é
uma ausência de 2 anos, logo a possibilidade da pessoa ausente voltar é menor. Por fim, a
morte presumida está prescrita nos arts. 114º e 115º.
Pessoas coletivas
São organizações constituídas por uma coletividade de pessoas ou por uma massa de bens,
dirigidas à realização de interesses comuns ou coletivos, às quais a OJ atribui personalidade
jurídica, que constituem centros autónomos de relações jurídicas. Um dos tipos de pessoas
coletivas são as sociedades que se encontram reguladas nos art. 980º e ss. Normalmente,
sociedade por quotas, sendo que é uma forma jurídica de empresa, com responsabilidade
limitada, constituída por 2 ou mais sócios, cujo capital social da empresa está dividido por
quotas. As pessoas coletivas têm capacidade para o exercício de direito, que é a aptidão de
pôr em movimento a capacidade jurídica por atividade própria, sem necessidade de ser
representado ou assistido por outrem. As pessoas coletivas carecem de um organismo
físico-psíquico, só podendo agir por intermédio de certas pessoas físicas. nos termos do art.
165º as pessoas coletivas respondem civilmente pelos atos ou omissões dos seus
representantes, caso causem dano a terceiros, logo incorre em responsabilidade civil. Existe
uma relação contratual (800º), em que a sociedade responde pelos danos causados pelos
seus auxiliares, havendo uma presunção de culpa. Podemos invocar o art. 500º,
relativamente à responsabilidade extracontratual, se existir comissão, existir
responsabilidade do comissário e se o ato ilícito tiver sido praticado pelo comissário “no
exercício de função que lhe foi confiada”.
- corporações e fundações
As pessoas coletivas possuem 2 elementos constitutivos principais: o elemento material ou
substrato e o elemento formal ou reconhecimento. O substrato é a realidade que dá peso à
pessoa coletiva, que lhe dá existência no mundo exterior e é condição necessária. É
constituído por subelementos. O elemento pessoal e patrimonial; o pessoal (nas
corporações) é o conjunto de associados, sendo que pode existir corporação, sem que lhe
pertença um património; o patrimonial (nas fundações) é o complexo de bens que o
fundador afetou à consecução do fim fundacional. O elemento teleológico diz-nos que a
pessoa coletiva deve prosseguir uma certa finalidade, determinante da formação da
coletividade social. O elemento intencional consiste em constituir uma nova pessoa jurídica,
distinta dos associados, do fundador ou dos beneficiários. O elemento organizatório traduz a
ideia de que a pessoa coletiva é integrada por uma organização destinada a introduzir na
pluralidade de pessoas e bens existentes uma ordenação unificadora, que se traduz num
conjunto de preceitos disciplinadores das características e do funcionamento da pessoa
coletiva. As corporações são coletividades de pessoas, que subscrevem originariamente os
estatutos e outorgam no ato constitutivo ou aderem posteriormente à organização. Têm um
substrato constituído por pessoas. Exemplos de corporações: associações recreativas,
culturais, etc. As fundações são massas de bens, instituídas por um ato unilateral do
fundador de afetação de uma massa de bens a um dado escopo de interesse social. Visam
um interesse estranho às pessoas que entram na organização fundacional, sendo o substrato
o património.