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CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
Definição de obrigação
O Direito das Obrigações encontra-se regulado no livro II do Código Civil.
397º CC- Obrigação é o vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para
com outra à realização de uma prestação
As obrigações são situações jurídicas que têm como conteúdo a vinculação de uma
pessoa em relação a outra à adoção de uma determinada conduta em benefício da
última.
O conceito de “obrigação” também pode ser visto num sentido amplo, abrangendo qualquer
vínculo jurídico entre duas pessoas:
- sujeição: consiste na necessidade de suportar as consequências jurídicas correspondentes
ao exercício de um direito potestativo
Enquanto a obrigação é um dever jurídico, quem tem o ónus não tem nenhum dever,
pelo que o seu não acatamento não é considerado ilícito, havendo apenas uma perda
ou não obtenção de uma vantagem.
A diferenciação entre o Direito Privado e o Direito Público tem reflexos na motivação dos
sujeitos, pois que no Direito Público as motivações são sempre relevantes, enquanto no
Direito Privado as motivações não têm relevância.
Normalmente, refere-se que a diferenciação entre o Direito das Obrigações e o Direito das
Coisas passa pelo facto de que o primeiro abrange a transmissão dos bens e o segundo o
domínio estático dos bens. Porém, deve-se dizer mais precisamente que o Direito das Coisas
abrange a regulação de relações jurídicas já existentes, ao passo que o Direito das
Obrigações se refere à regulação de fenómenos futuros.
São abrangidas todas as situações das quais resulte alteração na ordenação jurídica
dos bens através de negócios jurídicos: transmissão dos direitos reais (ex.: compra e
venda- art. 874º ss.); concessão de gozo de bens alheios (ex.: comodato- art. 1129º
ss.); fenómenos de transmissão de créditos e dívidas (ex.: cessão de créditos- art.
577º ss.)
- prestação de serviços
- instituição de organizações
Relativamente a esta realidade temos o contrato de sociedade civil (art. 980º ss.)
Danos: abrangida pela responsabilidade pelo risco (499º ss.); não é vista como tendo
uma natureza sancionatória
Despesas: abrangida pela gestão de negócios (art. 464º ss.); tutela as atuações
realizadas sem autorização em benefício de outrem
Enriquecimento: abrangida pelo instituto do enriquecimento sem causa (art. 473º
ss.) visa determinar a compensação dos enriquecimentos obtidos injustamente à
custa de outrem
CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
O direito subjetivo é uma permissão normativa específica, pois só o titular do direito tem a
permissão de beneficiar das utilidades que certo bem produz.
Quanto à constituição de obrigações, a lei atribui primazia aos contratos, referida no artigo
405º, havendo liberdade de celebração e de estipulação. Já nos negócios jurídicos unilaterais
só podem dar origem a obrigações em certos casos, pois o artigo 457º refere que a
promessa unilateral de uma prestação só obriga nos casos previstos por lei.
Normalmente, a simples promessa unilateral, sem que tenha ocorrido uma aceitação do seu
beneficiário, é irrelevante.
Consiste nas partes não estarem limitadas aos tipos negociais reconhecidos pelo
legislador, podendo escolher contratos inominados (o legislador ignora essa
categoria) ou atípicos (não foi estabelecido nenhum regime).
- liberdade de estipulação
O relevo que é dado à autonomia privada neste ramo, significa que as regras estabelecidas
por lei devam ceder perante a decisão das partes. Apenas excecionalmente se encontram
regras imperativas.
Assim, a ordem jurídica necessita de tutelar a parte mais fraca, impondo restrições pontuais
à liberdade contratual.
Esta sucede, pois a autonomia privada por vezes pode ser insuscetível de obter um equilíbrio
adequado das prestações do contrato.
Esta está prevista no art. 24º LCCG, remetendo para as regras gerais.
No artigo 13º nº1 LCCG é previsto que o aderente pode optar pela
manutenção do contrato, quando algumas das clausulas forem nulas. Assim,
estas irão ser substituídas pelas normas supletivas aplicáveis.
- ação inibitória
- contratos pré-formulados
Com o tempo, desenvolveu-se a ideia de que a imputação de danos podia dispensar a culpa
do lesante, surgindo a responsabilidade pelo risco.
Responsabilidade pelo risco- criação de riscos específicos de que outrem tira proveito ou
que pode controlar
Sempre que alguém enriqueça à custa de outrem sem causa justificativa tem que restituir
aquilo com que enriqueceu.
Principio da boa-fé
Pode-se falar em dois sentidos da boa-fé:
- subjetivo: ignorância de estar a lesar os direitos alheios
- objetivo: regra de conduta
A lei estabelece deveres de boa-fé para ambas as partes da relação obrigacional, de maneira
a permitir o aproveitamento integral da prestação, em termos da satisfação do interesse do
credor, mas também evitar que a realização da prestação provoque danos ao credor ou ao
devedor.
Existem situações em que há bens de terceiro a responder pela divida, que sucede
sempre que tenha sido constituída uma garantia pessoal ou real abrangendo bens de
terceiro, ou ainda tenha sido impugnada paulianamente a transmissão de bens do
devedor para terceiro.
Esta regra implica que não haja uma hierarquização entre os direitos de crédito pela
ordem da sua constituição, sendo que os créditos mais antigos e os mais novos têm
todos a mesma possibilidade de executar o património do devedor.
Assim, no caso do património do devedor não ser suficiente para pagar a todos, os
credores dividem proporcionalmente esse património.
O duplo risco de não satisfação do direito de crédito pode ser evitado por duas vias:
- risco de variação do património do devedor: possibilidade dos credores reagirem
em casos de omissão ou ação do devedor que levem a uma diminuição do seu
património (declaração de nulidade- art. 605º; ação sub-rogatória- art. 606º;
impugnação pauliana- art. 610º; arresto- art. 619º)
PARTE II
CAPÍTULO I
CONCEITO, ESTRUTURA E COMPRENSÃO DA OBRIGAÇÃO
Generalidades
O direito de crédito tem como objeto a prestação, ou seja, o comportamento que o devedor
está vinculado a adotar em benefício do credor.
Contudo, ninguém pode ser coagido fisicamente a realizar uma prestação. Assim, o credor
apenas pode proceder à execução do património do devedor (art. 827º ss.) ou uma
indemnização pelos danos sofridos com a não realização da prestação (art. 798º ss.)
Com isto, temos duas realidades a tomar em consideração como possíveis objetos do direito
de crédito:
- a prestação: conduta do devedor
- o património: bens do devedor
A discussão sobre o objeto do direito de crédito leva a diferentes conceções.
Teorias personalistas
Segundo estas teorias, o direito de crédito é um vínculo pessoal, tendo como objeto uma
conduta do devedor.
Atualmente, o Direito Moderno já não permite uma atuação direta sobre a pessoa do
devedor, pelo que a execução para satisfação do direito de crédito apenas se pode fazer
sobre os bens e não sobre a pessoa do devedor.
Próxima desta conceção, outra é a que caracteriza que o direito de crédito representa um
domínio sobre uma atuação de prestação do devedor.
A liberdade de atuação do devedor seria excluída e submetida à vontade do credor, que
exerceria um direito de domínio sobre essa atuação.
Esta tese foi objeto de várias críticas, pois a atuação é uma expressão direta da
personalidade, logo não pode ser separada para constituir objeto de um direito de domínio
de outrem.
Teorias realistas
Para as teorias realistas o direito de crédito é um direito sobre o património do devedor.
Esta conceção é falsa, pois os patrimónios são complexos de bens e as relações jurídicas
apenas se estabelecem entre pessoas.
A diferença entre o direito de crédito e o direito real reside na circunstância de que o direito
real é exercido diretamente sobre a coisa, enquanto o direito de crédito haveria o fenómeno
da “propriedade indireta”, um direito à aquisição de bens do devedor.
Esta conceção encontra-se errada, pois a obrigação não envolve a transmissão ou sucessão
de bens, já que a prestação pode ser de facto, não possuindo valor económico.
Mesmo no âmbito das prestações de coisa, o que está em causa é a conduta do devedor
relativa à entrega da coisa, que é juridicamente distinta da transmissão da propriedade
sobre ela.
Na situação que o credor possa penhorar bens do devedor, estes são sujeitos a venda
executiva para pagamento, não ficando o credor proprietário destes bens.
Teorias mistas
Para estas a obrigação tem por objeto a prestação e o património do devedor.
O credor tem, assim, dois direitos, o direito à prestação (direito pessoal) e um direito sobre o
património do devedor (direito real de garantia).
Pode-se falar em obrigação em sentido estrito (direito de crédito individual), mas também
em obrigação em sentido amplo (relação causal que existe entre o credor e o devedor), da
qual surge o direito de crédito e a obrigação.
Posição adotada
A obrigação é um vínculo pessoal entre dois sujeitos, através do qual um deles pode exigir
do outro a adoção de um determinado comportamento em seu benefício.
É esta a posição adota pelo legislador, que no artigo 397º consagra a teoria clássica.
Também é posição adotada pela maioria da doutrina, que entende o direito de crédito como
tendo como objeto a prestação, negando a existência de qualquer direito do credor sobre o
património do devedor.
A ação executiva representa a aplicação pelo Estado de uma sanção pelo incumprimento das
obrigações, assegurando-se a segurança jurídica ao direito de crédito.
O atual Código Português refere que a prestação não necessita ter carater pecuniário (art.
398º nº2).
Hipóteses, sem cariz patrimonial, que estão excluídas por não corresponderem a um
interesse do credor:
- Antunes Varela: estão excluídas as prestações que correspondam a simples caprichos e
manias do credor; as prestações que correspondam a situações tuteladas por outras ordens
normativas (ex.: religião, moral e trato social)
As situações em que a obrigação não reveste cariz patrimonial são raras, logo fala-se numa
patrimonialidade tendencial.
O direito de crédito consiste num ativo no património do credor, enquanto a obrigação é um
passivo do património do devedor. Isto é passível de ser ver no momento do vencimento,
em que a ação executiva permite a realização de dinheiro em substituição do objeto da
prestação, enquanto que, mesmo que o crédito não esteja vencido, este representa um ativo
do credor, podendo este transformá-lo e dinheiro através da sua cessão onerosa a terceiro
(art. 577º) ou da sua afetação a fins de garantia (art. 679º).
A relatividade
Esta característica pode ser entendida em dois sentidos:
- prisma estrutural
O direito de crédito estrutura-se com base numa relação entre credor e devedor.
Apenas o devedor deve prestar e apenas dele pode o credor exigir que realize a
prestação.
- prisma de eficácia
O direito de crédito apenas é eficaz contra o devedor.
- nacional: o dever geral que todos têm de não lesar os direitos alheios abrange os
direitos de crédito, havendo tutela delitual
Autonomia
Considerar-se-ia a autonomia coo o facto de a obrigação ser reguladas pelo Direito das
Obrigações.
Contudo, assim estariam excluídas as situações estruturalmente obrigacionais, mas que
estão reguladas noutros ramos do Direito.
Com isto, a autonomia não deve ser considerada uma característica das obrigações.