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Definição de Obrigação- CC, livro II. A definição presente no artigo 397º retiramos que são
situações jurídicas que têm por conteúdo a vinculação de uma pessoa em relação a outra à
adoção de uma determinada conduta em benefício desta.
Contudo, o conceito pode ser entendido em sentido amplo, podendo abranger todo e
qualquer vínculo jurídico entre 2 pessoas, como sejam os deveres jurídicos genéricos (situação
em que se encontram os outros sujeitos relativamente aos titulares de direitos absolutos), os
ónus (consiste na necessidade de adotar uma conduta em proveito próprio) e as sujeições
(correlato passivo dos direitos potestativos, consistindo na necessidade de suportar as
consequências jurídicas correspondentes ao exercício de um direito potestativo).
De acordo com o professor ML, o que caracteriza a obrigação em relação a estas figuras é a
circunstância de determinada pessoa se encontrar adstrita a realizar uma especifica conduta,
positiva ou negativa, no interesse de outra, também determinada. Esta conduta é designada
por prestação.
O ónus não se confunde com a obrigação uma vez que consiste num dever jurídico,
imposto em benefício de outra pessoa, o credor (398º, nº2).
Na sujeição (para o professor) não há possibilidade de violação enquanto a obrigação é
eminentemente violável, ainda que o devedor acarrete com a sanção de indemnização (798º)
ou da execução de património (817º),
Os deveres jurídicos genéricos não se confundem com a obrigação pois esta tem uma
relação jurídica entre credor e devedor, enquanto os direitos absolutos são direitos sem
relação, pelo que o dever geral de respeito não passa de uma simples expresso, posto isto não
é considerado como vínculo específico que autorize uma pessoa a exigir a outrem uma
prestação.
Este assume-se como um ramo do direito civil que constitui direito privado comum, por
esse motivo goza das características do direito privado, entre elas a liberdade e a igualdade.
Em princípio, o sujeito das relações obrigacionais tem os mesmos poderes e são livres de fazer
tudo o que não se encontre abrangido por uma proibição.
O direito das obrigações abrange matérias sujeitas a campos jurídicos distintos, as quais
são unicamente unificadas através do conceito de obrigação. MC inclui entre esses campos a
circulação de bens, as prestações de serviços e as sanções civis enquanto para ML além destes
a instituição de organizações, as sanções civis para comportamentos ilícitos e culposos e a
compensação por danos, despesas ou pela obtenção de um enriquecimento são realidades do
direito das obrigações.
Circulação de bens são abrangidas pelo direito das obrigações todas as situações das quais
resulte alteração na ordenação jurídicas dos bens através de negócios jurídicos. Assim, são
regulados pelo direito das obrigações a transmissão dos direitos reais (408º), os contratos que
a desencadeiam como a compra e venda (874º e ss.), bem como a concessão de gozo de bens
O princípio do ressarcimento dos danos- Sempre que exista uma razão de justiça, da qual
resulte que o dano deva ser suportado por outrem, que não o lesado, deve ser aquele e não o
lesado a suportar o dano. A transferência do dano do lesado para outrem opera-se mediante a
constituição de uma obrigação de indemnização, através da qual se deve reconstituir a
situação que existira se não tivesse ocorrido o evento lesivo (562º). A imputação de danos
ocorre quando a lei considera existir, não apenas um dano injusto para o lesado, mas também
uma razão de justiça que justifica que esse dano seja transferido para outrem, esta justifica a
constituição de responsabilidade civil (483º), a sua transferência para o património do
responsável efetua-se mediante a constituição de uma obrigação de indemnização.
Encontra-se em 5 institutos:
1. Responsabilidade pré-contratual (227º, nº1);
2. Integração dos negócios (239º);
3. Abuso do direito (334º);
4. Resolução ou modificação dos contratos por alteração das circunstâncias (437º,
nº1);
5. Complexidade das obrigações (762º,nº2);
Caso as partes tenham omitido uma regulação negocial sobre determinados pontos, é
também com recurso a esses deveres que o intérprete deve ponderar a integração da lacuna
negocial (239º), por forma a. que a solução corresponde as expectativas das partes.
1. Sujeição a execução de todos os bens do devedor (601º) desta norma resulta que o
princípio da responsabilidade patrimonial é ilimitado, estendendo-se a todos os bens
do devedor excluindo os bens não suscetíveis de penhora e a situação de separação
de patrimónios. A limitação da responsabilidade patrimonial pode ainda ocorrer por
convenção das partes, ao abrigo da autonomia privada (602º e 603º). A limitação pode
ser positiva (caso em que algum credor só pode executar alguns dos bens do devedor,
mas essa limitação não ocorre para a generalidade dos credores (2071º, 602º, 603º))
ou negativa quando a lei exclui certos bens do devedor do poder de execução da
generalidade dos seus credores, só o permitindo a certos credores (1184º).;
2. E só dos bens do devedor regra geral quando limita o poder de execução ao
património do devedor, há algumas exceções como a do artigo 818º (em que há bens
de terceiro a responder pela divida, o que sucede sempre;
3. Estando os credores em pé de igualdade, esta regra implica a não hierarquização dos
direitos de crédito pela ordem da sua constituição, tendo tantos os créditos + antigos
como os + novos, a possibilidade de executar o património do devedor. Caso o
património do devedor não chegar para todos não há, em princípio, hierarquização de
credores, tendo o património do devedor que ser rateado para todos se pagarem
proporcionalmente, a isto chama-se “concurso de credores” (604º). As exceções
encontram-se no nº2 do artigo e representam casos em que o credor obtém direitos
reais de garantia, os quais atribuem ao seu titular a faculdade de ser pago à frente dos
demais credores em relação ao bem objeto do seu direito.
As teorias personalistas
O direito de crédito é um vínculo pessoal, tem por objeto a conduta do devedor. Essas
teorias podem essencialmente agrupar-se em:
1. O crédito como um direito sobre a pessoa do devedor:
O devedor permanece um sujeito da obrigação e não um objeto dela, pelo que a execução
para satisfação do direito de crédito apenas se pode fazer sobre os bens e não sobre a pessoa
do devedor.
Para Larenz, o credor só domina a atuação do devedor indiretamente através da pessoa
deste, sendo uma decisão da sua liberdade pessoal realizar a prestação ou sujeitar-se as
consequências do incumprimento. Seria, por isso, contraditório admitir a existência de um
domínio direto sobre uma atuação alheia, já que cada atuação tem a base da sua existência na
liberdade do agente e não pode consequentemente constituir objeto de um direito de outrem.
As teorias realistas
Aqui, o direito de crédito não é um direito à prestação, mas antes um direito sobre o
património do devedor. Estas teorias podem conhecer diversas modalidades, “o crédito
como...:
3. Um direito sobre os bens do devedor”.
O crédito é à semelhança do direito real, um direito sobre bens, havendo apenas que
considerar que não recai sobre bens determinados, mas antes sobre todo o património do
devedor, entendido como universalidade. Nega a existência de um direito à prestação,
considerando que, por incoercível, o cumprimento da obrigação se apresenta como um ato
absolutamente libre, que não é objeto de um direito do credor. Assim, consiste apenas na
faculdade de executar o património do devedor.
Posição adotada
A obrigação não se pode considerar um direito incidente sobre os bens do devedor, sendo
antes um vínculo pessoal entre 2 sujeitos, através do qual um deles pode exigir que o outro
adote determinado comportamento em seu benefício. Direito de crédito como tendo por
objeto a prestação, negando a existência de qualquer direito do credor sobre o património do
devedor. No processo de execução, o Estado substitui-se ao devedor na satisfação do direito
de crédito, obtendo para o efeito os meios necessários através da execução do seu património.
Ao credor não e reconhecido qualquer direito sobre os bens do devedor, parecendo assim
claro que se deve reconhecer um direito subjetivo à prestação, uma vez que o devedor está
vinculado ao cumprimento, sendo que a existência de um direito apenas depende do seu
reconhecimento por uma norma, independentemente de ser garantido por uma sanção e
muito menos por uma sanção com plena eficácia.
Características da obrigação
1. Patrimonialidade
Para Antunes Varela – Esta norma pretende excluir do âmbito da obrigação as prestações
que correspondam a simples caprichos do devedor e as prestações que correspondam a
situações tuteladas por outras ordens normativas, como a religião moral e que não merecem,
por esse motivo, a tutela do direito.
Para MC não há obstáculos a que se constituam obrigações relativas a meros caprichos
desde que se refiram a situações jurídicas. Apenas se corresponderem a situações oriundas de
outros complexos normativos, é que não será admissível a constituição de obrigações com
esse objeto. ML concorda com esta, pois efetivamente, o interesse do credor corresponder a
um capricho para a generalidade das pessoas não exclui a sua eventual importância para o
credor e dai a admissibilidade de, através de exercício da autonomia privada, se constituir uma
obrigação com esse objeto. Apenas se a situação disser exclusivamente respeito a outras
3. Relatividade
Defendida por Cunha Gonçalves, afirma que o direito de crédito numa pode ser violado por
terceiros, já que, sendo direitos relativos, o terceiro não tem o dever de os respeitar. Assim, só
poderiam ser violados pelo devedor, esta solução resultaria do 406º, nº2 e a distinção entre a
responsabilidade delitual e a responsabilidade obrigacional. Esta doutrina clássica teve, porém,
desde sempre forte oposição na doutrina nacional, já que inúmeros autores, entre eles MC,
entendiam que o dever geral de respeito, que todos tem, de não lesar direitos alheios também
abrangia os direitos de crédito, que consequentemente teriam tutela delitual (483º).
Por fim, conclui-se que a obrigação tem como característica a relatividade estrutural e que o
regime da responsabilidade patrimonial implica a admissibilidade de constituir direitos de
crédito incompatíveis entre sim, não tendo o direito de crédito anterior prevalência sobre o
posterior. Em certos casos, a constituição do segundo direito de crédito pode ser vista como
abusiva (334º), caso em que o terceiro poderá ser responsabilizado.
4. Autonomia
Os direitos reais são direitos sobre coisas, enquanto os direitos de crédito são direitos
a prestações, ou seja, direitos a uma conduta do devedor.
Se o crédito é um direito à prestação, caracteriza-se por necessitar de mediação ou
colaboração do devedor para ser exercido. Assim, mesmo quando a prestação tem por objeto
uma coisa, o credor não possui qualquer direito sobre ela, o que só sucederia se possuísse um
direito real. Tem apenas o direito a que o devedor lhe entregue a coisa.
Nos direitos reais o credor não necessita da colaboração de ninguém para exercer o seu
direito, já que este incide direta e imediatamente sobre uma coisa.
O direito de crédito assenta numa relação, o que implica que tenha de ser exercido
contra o devedor. O direito real não assenta em qualquer tipo de relação,
encontra-se desligado de relações interpessoais, dado que se exerce diretamente
sobre a coisa, podendo ser oposto a toda e qualquer pessoa (denomina-se de
oponibilidade erga omnes do direito real).
Os direitos reais têm prevalência, que, no seu sentido amplo, significa a prioridade
do direito real primeiramente constituído sobre posteriores constituições, salvo as
regas do registo, e a maior forca dos direitos reais sobre os direitos de crédito, o
que significa não ser possível constituir sucessivamente 2 direitos reais
incompatíveis sobre o mesmo objeto, só um podendo prevalecer. Os direitos de
crédito não se hierarquizam entre si pela ordem da constituição, antes concorrem
em pé de igualdade sobre o património do devedor que, se não for suficiente, e
rateado para se efetuar um pagamento proporcional a todos os credores (604º,
nº2). Porém, se surgirem acompanhados de um direito real que atribua
prevalência no pagamento, o direito real por ter mais forca prevalecera.
1º exemplo direitos reais: se alguém vender o mesmo objeto 2 vezes a pessoas diferentes
prevalecer a primeira alienação, ou em casos de bens sujeitos a registo, a que for 1º registada).
Exigência de requisito de legitimidade para a constituição dos direitos reais (892º), uma vez
que com a 1º alienação o vender perde a sua legitimidade para dispor do bem.
2º exemplo direitos de crédito: se alguém tiver um património no valor de 1000 euros, e
assumir sucessivamente 2 obrigações de pagar 1000 euros a 2 credores distintos, as 2
obrigações foram validamente assumidas, tendo o património do devedor que ser dividido
para pagar a cada um dos credores metade do seu crédito.
Direitos pessoais de gozo: 407º e 1682º-A, inclui o direito do locatário (1022º), depositário
(1185º), do comodatário (1129º) e do parceiro pensador (1121º). Antunes Varela e Carvalho
Fernandes (entre outros) pronuncia-se no sentido da qualificação destes direitos como direitos
de crédito. Outros autores, como Oliveira Ascensão reconhecem, pelo menos, natureza real ao
direito do arrendatário. Foi ainda defendida na doutrina por Manuel Henriques Mesquita uma
posição intermedia. Neste caso, direitas pessoais de gozo constituiriam um Tertium genus
entre direitos de crédito e direitos reais. Em relação ao locatário, esse cariz dualista resulta do
facto de, para alguns efeitos, ele ser titular de uma verdadeira posição de soberania,
enquanto, para outro, permanece como mera contraparte num contrato. Finalmente, para
MC, numa curiosa evolução, defendeu inicialmente a natureza real de todos os direitos
pessoais de gozo, com exceção do direito depositário (1189º), passando posteriormente a
defender a tese personalista, para finalmente aderir à intermedia.
Para ML a posição intermedia devera ser rejeita. Efetivamente, a classificação entre os direitos
reais e os direitos de crédito não admite realidades intermedias. A configuração do direito
pessoal de goza como um direito misto entre os direitos de crédito e os direitos reais implica a
juncão de características contraditórias entre si. Se o direito recai imediatamente sobre uma
coisa, não necessitando da colaboração do devedor para ser exercido, não se como se pode
afirmar que e estruturalmente relativo. Se, pelo contrário, o direito se estrutura numa relação
O legislador pretendeu qualificar estes direitos como direitos de crédito, estabelecendo que
embora confiram o gozo de uma coisa, esse resulta ou de uma obrigação positiva assumida
pela outra parte (locação) e pareceria pecuária (1121º) ou de uma obrigação negativa por esta
assumida (comodato) ou ainda de uma autorização eventual (deposito). A inserção sistemática
do seu regime no título relativo aos contratos em especial e não no livro dos direitos reais
indica uma intenção de qualificação destes como direitos de crédito.
Por fim, parece-nos assim de considerar que os direitos pessoais de gozo são direitos de
crédito, uma vez, que através deles o titular adquire o direito a uma prestação do devedor,
que consiste em assegurar o gozo de uma coisa corpórea, tutelável através da ação de
cumprimento. A satisfação dessa prestação pressupõe, porem a atribuição ao credor de um
direito a posse das coisas entregues, o que justifica que a lei lhe atribua as ações possessórias
para defesa dessa situação jurídica. A existência de posse nestes direitos não implica, porem, a
sua qualificação como direitos reais, uma vez que neste caso o direito ao gozo da coisa é
obtido a partir de uma prestação do devedor, resultando, portanto, de um direito de crédito.
Licitude- 280º, nº1 e 294º. O objeto negocial não pode ser contrário a qualquer disposição
que tenha carater injuntivo (as normas injuntivas constituem um importante limite à
autonomia privada, impondo a nulidade dos negócios que as contrariem). A ilicitude pode ser
de resultado ou de meios consoante o negócio viste objetivamente um resultado ilícito
(assassinar x) ou se proponha alcançar um resultado lícito, através de meios cuja utilização e
proibida por lei (tratamento de uma pessoa, em desrespeito as regras da medicina). Em ambos
os casos, o 280º considera o negócio nulo.
MC salienta que não deve ser confundida com ilicitude de resultado da situação em que
apenas o fim subjetivo de quem celebra o negócio e ilícito (p.e. aquisição de arma para
cometer um homicídio). Uma vez que cada uma das partes pode ter um fim subjetivo distinto
em relação ao negócio, o negócio só será nulo, no caso de o fim ser comum a ambas as partes
(281º).
Determinabilidade
Do 280º resulta que a prestação tem de ser determinável, caso não seja o negócio é
nulo (a prestação pode constituir-se estando ainda indeterminada, desde que seja
determinável (obrigações genéricas são indeterminadas). Em caso de indeterminação
da prestação, aplica-se o 400º. Os terceiros ou as partes não podem determinar
arbitrariamente a prestação, tendo antes de seguir critérios pré-estabelecidos de
adequação só fim da obrigação e a prossecução do interesse do credor, por este
mesmo motivo o ato de terminação não pode ser considerado um NJ, devendo ser
qualificado como ato jurídico simples, a que se aplica por analogia as regras dos NJ
(295º), podendo assim ser anulado por dolo, erro ou coação moral. Caso, não resulte
do negócio qualquer critério que permita realizar a determinação da prestação, ele
terá de ser considerado nulo por indeterminável (280º) não podendo o 400º servir
para suprir essa nulidade.
280º, nº2. MC afirma que deverão abranger na referência aos bons costumes, as regras de
conduta familiar e sexual, bem como as regras deontológicas estabelecidas no exercício de
certas profissões. Não é valido o NJ que tenha por objeto a realização de favores sexuais. À
semelhança do que acontece com a ilicitude apenas o fim das partes pode ser contrário a
ordem publica ou aos bons costumes, nesse caso o NJ será nulo, se o fim for comum a ambas
(281º).
Esta complexidade justifica que se fale de obrigação em sentido estrito (397º) que apenas
abrange o binómio direito de crédito-dever de prestar e outro mais amplo que abrangeria
todo o conjunto de situações jurídicas geradas no âmbito da relação entre o credor e o
devedor. A obrigação constitui analiticamente uma realidade complexa que permite abranger:
1. O dever de efetuar a prestação principal, que por sua vez pode analiticamente
ainda ser decomposto em SUB deveres relativos a diversas condutas materiais ou
jurídicas (p.e. a situação do devedor se comprometer a entregar um automóvel).
Modalidades de obrigações
Prestação, ou seja, a conduta a que o devedor está vinculado. Acontece, no entanto, que essa
conduta pode consistir numa série de situações, as quais são por vezes objeto de um regime
específico. Importa, por isso, esclarecer esses regimes específicos, analisando a classificação
das obrigações em função dos tipos de prestações que, por isso, se reconduz a uma
classificação de prestações.
Crítica de Gomes da Silva: Afirma que mesmo nas obrigações de meios existe vinculação a
um fim, que corresponde ao interesse do credor, e que se o fim não e obtido presume-se
sempre a culpa do devedor. Em ambos os casos aquilo a que o devedor se obriga é sempre
uma conduta (a prestação) e o credor visa sempre um resultado, que corresponde ao seu
interesse (398º,nº2). Por outro lado, ao devedor cabe sempre o ónus da prova de que realizou
a prestação (342º,nº2) ou de que a falta de cumprimento não procede de culpa sua (799º),
sem o que será sujeito de responsabilidade. Posto isto, não parece haver base no nosso direito
para distinguir entre obrigações de meios e obrigações de resultado.
A declaração de determinação da prestação tem natureza negocial, mas não esta sujeito a
forma especial, mesmo que o contrato tenha natureza formal (221º,nº2)
As obrigações genéricas
Não são obrigações alternativas aquelas em que só exista uma prestação, mas se possa
escolher a forma da sua execução, designadamente em termos de lugar e prazo, bem como
aquelas em que se estabelece uma alternativa condicional, realizando-se uma prestação em
caso de verificação da condição e outra em caso da sua não verificação, não pode ainda ser
realizada parte da prestação, isto é, parte de uma ou parte de outra (544º).
Quando a escolha compete ao devedor a determinação só ocorrera no momento de
cumprimento? Não, 408º,nº2. É a designação do devedor, desde que conhecida da outra
parte, que determina a prestação devida (543º,nº1 e 548º). Não é permitido ao devedor a
revogação posterior da escolha efetuada, pois após a realização da escolha, ele só se exonera
efetuando a prestação escolhida. A escolha é igualmente irrevogável quando compete ao
credor ou terceiro, por remissão do 549º para o 542º.
Se alguma das partes não realizar a escolha no tempo devido a lei prevê a devolução dessa
faculdade a outra parte (542º, nº2, 549º e 548º).
Se a escolha couber ao credor e ele não fizer no prazo estipulado ou naquele que para o
efeito foi fixado pelo devedor, a escolha passa imediatamente a competir a este.
Obrigações com faculdade alternativa abrangem apenas uma prestação, ainda que a
outra parte tenha a faculdade de a substituir (onde a prestação já se encontra determinada,
mas de ao devedor a possibilidade de substituir o objeto da prestação por outro) não se
confundem com as obrigações alternativas o direito do credor abrange 2 prestações em
alternativa.
Obrigações pecuniárias
Têm dinheiro por objeto, visando proporcionar ao credor o valor que as respetivas
espécies monetárias possuam. Estes requisitos são cumulativos.
O dinheiro assegura na ordem económica simultaneamente as funções de:
Meio geral de trocas – advém do facto do dinheiro em função do seu poder de
compra, ser utilizado para efeitos e alienação de bens e serviços, funcionado como
meio intermediador da circulação desses bens.
Meio legal de pagamento – resulta do facto de, por força de uma disposição legal,
ser atribuída eficácia liberatória à entrega de espécies monetárias em pegamento
das obrigações pecuniárias, vinculando-se o credor a sua aceitação.
Unidade de conta – resulta do facto de, sendo o valor da moeda relativamente
estável, poder ser utilizado como medida do valor dos bens e serviços de qualquer
tipo.
Obrigações de juros
A lei caracteriza os juros como frutos civis – 212º, nº2 – uma vez que são frutos das
coisas fungíveis, produzidos periodicamente em virtude de uma relação jurídica.
O juro é calculado em função do lapso de tempo correspondente à utilização do capital
– representam assim uma prestação devida como compensação ou indemnização pela
privação temporária de uma quantidade de coisas fungíveis denominada capital e pelo
risco de reembolso desta.
1. Juros legais – 559º, nº1. São aplicáveis sempre que haja normas legais que
determinem a atribuição de juros em consequência do diferimento na realização de
uma prestação – 806º. Funciona ainda supletivamente sempre que as partes estipulem
a atribuição de juros sem determinarem a sua taxa ou quantitativo – 559º, nº1.
2. Juros convencionais - São aqueles em que a sua taxa é estipulada pelas partes. A lei
coloca alguns limites à liberdade de estipulação das partes: 1146º (estendido a todas
as obrigações de juros pelo 559º). Caso as partes estipulem juros que ultrapassem os
limites do artigo supramencionado, a lei determina em derrogação ao 292º, a fixação
dos juros nesses montantes máximos, ainda que tivesse sido outra a vontade dos
contraentes.
3. Juros remuneratórios – Finalidade remuneratória, correspondente ao preço do
empréstimo do dinheiro. O credor priva-se do capital por tê-lo cedido ao devedor por
meio de mutuo, exigindo uma remuneração por essa cedência (1145º, nº1).
4. Juros compensatórios – Destinam-se a proporcionar ao credor um pagamento que
compense uma temporária privação do capital, que ele não deveria ter suportado
(480º e 1167º, c).
5. Juros moratórios – Tem uma natureza indemnizatória dos danos causados pela mora,
visando recompensar o credor pelos prejuízos sofridos, em virtude do retardamento
no cumprimento -806º.
6. Juros indemnizatórios – Destinam-se a indemnizar os danos sofridos por outro facto
praticado pelo devedor.
Indeterminação do credor
511º - o devedor é obrigatoriamente determinado logo quando a obrigação é constituída.
Cada um dos devedores só está vinculado a prestar ao credor ou credores a sua parte na
prestação e cada um dos credores só pode exigir do devedor ou devedores a parte que lhe
cabe. A prestação é assim realizada por partes, prestando cada um dos devedores a parte a
Obrigações solidarias
Caracterizam-se pelo facto de nelas qualquer um dos devedores estar obrigado perante o
credor a realizar a prestação integral (solidariedade passiva) ou ainda por qualquer um dos
credores poder exigir do devedor a prestação integral (solidariedade ativa) ou ainda pelo facto
de qualquer um dos credores poder exigir a qualquer um dos devedores a prestação devida
por todos os devedores a todos os credores (solidariedade mista)- 512º e ss.
Relações internas
Relações externas
Em relação aos credores – caracteriza-se pela circunstância de apenas um deles pode
exigir, por si só, a prestação integral, liberando.se o devedor perante todos com a
realização da prestação a qualquer um dos credores – 512º, nº1. 528º, nº1 e 2. Os
credores solidários podem, porém, optar por demandar conjuntamente o devedor,
podendo este igualmente demandar conjuntamente os seus credores – 517º, nº2.
Em relação ao devedor – 532º. Outra causas de extinção da obrigação, que incidirem
sobre a totalidade da dívida, como a impossibilidade objetiva da prestação - 790º -
exoneram naturalmente o devedor perante todos os credores. Se a divida se extinguir
apenas em relação a um dos credores, como sucede na remissão concedida apenas
por um dos credores – 864º,nº3 – ou na confusão apenas com o credito deste –
869º,nº2 – dá-se uma extinção parcial do credito limitada à parte daquele credor. Já se
a prestação vier a ser não cumprida por facto imputável ao devedor
Se a obrigação for indivisível com pluralidade de credores, a lei refere que qualquer deles tem
o direito de exigir a prestação por inteiro, mas que o devedor, enquanto não for judicialmente
citado, só relativamente a todos os credores em conjunto se pode exonerar- 538º.
MC afirma que este regime significa que a citação judicial do devedor por um dos credores
transforma a obrigação conjunta em solidaria.
A lei não refere neste caso a possibilidade de extinção da obrigação em relação a algum ou
alguns dos credores, mas parece que, neste caso, a solução não pode ser diferente da que
resulta da aplicação analógica do 536º.
A posição adotada afirma que as obrigações podem resultar de diversos fenómenos jurídicos,
sendo denominado fonte da obrigação o facto jurídico de onde emerge a relação obrigacional.
O contrato
Modalidades de contratos:
Quanto à forma – 219º e ss.
Quanto ao modo de formação – reais quoad constitutionem (a exigência da tradição da coisa
para a constituição destes contratos costuma ser referida na descrição do tipo contratual e do
facto de no seu regime não se prever a obrigação de entrega da coisa) vs consensuais.
Discussão doutrinária: Tem sido levanta a questão de saber se a exigência de tradição da coisa
para a constituição de certos contratos desempenharia, no direito atual, alguma função útil e
se as partes não poderiam, ao abrigo da sua autonomia privada, dispensar este requisito – Vaz
Serra, Mota Pinto, MC e Carvalho Fernandes (é excluído o penhor das coisas). Pires de Lima e
Antunes varela negam a possibilidade de dispensar o requisito.
No atual direito é recusada a possibilidade destes contratos se constituírem como consensuais.
Quanto aos efeitos – Distinção de contratos consoante o tipo de situações jurídicas a que dão
origem. Obrigacionais (reconduzem-se à criação de direitos de crédito e obrigações, sendo a
sua eficácia sobre a esfera jurídica das partes imediata) e reais (pode suceder que a sua
eficácia não seja imediata, o que sucede sempre que não estejam preenchidos, no momento
da celebração do contrato, os requisitos necessários para que o contrato dê origem a uma
situação jurídica de natureza real). A transmissão dos direitos reais ocorre apenas em virtude
do próprio contrato, não ficando dependente de qualquer ato posterior.
A cláusula de reserva de propriedade- 409º. Implica que por acordo entre o vendedor e o
comprador, a transmissão da propriedade fique diferida para o momento do pagamento
integral do preço. A função desse acordo não é permitir ao vendedor a continuação do gozo
sobre o bem, mas apenas defende o vendedor de eventuais consequências do incumprimento
A união de contratos
Verifica-se a celebração conjunta de diversos contratos unidos entre si. Permite que cada
contrato mantenha a sua autonomia, possibilitando a sua individualização em face do
conjunto. Como existe alguma ligação entre os diversos contratos, esse nexo justifica que se
falei, não em vários contratos, mas em união da contratos. São admitidas as seguintes formas
de união de contratos:
União externa – A ligação entre os diversos contratos resulta apenas da circunstancia
de serem celebrados ao mesmo tempo, já que as partes não estabeleceram qualquer
nexo de dependência entre os diversos contratos (p.e. se alguém vai a um café pede
tabaco, um café e um bolo, existem 3 contratos, mas cada um conserva a sua
autonomia entre si, só existindo a união de contratos pelo facto de os 3 serem
celebrados ao mesmo tempo).
União interna – Aqui, os 2 contratos apresentam-se ligados entre si por uma relação
de dependência, já que na altura da sua celebração uma das partes estabeleceu que
não aceitaria celebrar um dos contratos sem o outro. A dependência pode ser
unilateral quando apenas 1 dos contratos depende do outro ou bilateral quando
ambos os contratos se encontram dependentes entre si. (p.e. alguém determina que
Os contratos preliminares
O contrato-promessa
410º, nº1 – Contrato preliminar de outro contrato que por sua vez se designa de contrato
definitivo. Caracteriza-se pelo seu objeto, uma obrigação de contar, a qual pode ser relativa a
qualquer outro contrato. Apesar desta autonomia entre os 2, a lei não deixou de sujeitar o
contrato-promessa ao mesmo regime do contrato definitivo – principio da equiparação.
Extensão entre o regime do contrato definitivo ao promessa.
Não se verifica:
Se se verificar uma impossibilidade definitiva de cumprimento (p.e. o bem que se
prometeu vender já ter sido alienado a um terceiro, ou não ser possível obter a
licença de utilização do imóvel).
A existência de convenção em contrario – a possibilidade de execução especifica
da obrigação de contratar não se apresenta como um regime imperativo, pelo que
as partes podem derrogá-lo através de convenção. O mesmo acontece se as
partes constituírem sinal ou estipularem uma penalização para o incumprimento
por se presumir que nessa situação o que as partes pretendem em caso de
incumprimento é unicamente a obtenção da indemnização convencionada e não a
execução especifica. Essa presunção é ilidível por prova em contrario, nada
impedindo, por isso, que as partes convencionem a aplicação dos 2 regimes,
cabendo nesse caso ao credor optar pela alternativa que lhe for mais conveniente.
A execução especifica ser incompatível com a natureza da obrigação (p.e.
contratos reais quoad constitutionem, em que se exige a tradição da coisa para se
poder operar a constituição do contrato definitivo, não é possível decretar-se a
execução especifica, uma vez que o tribunal não pode substituir-se ao promitente
na tradição da coisa, ato cuja espontaneidade a lei pressupõe). O incumprimento
apenas poderá gerar indemnização por responsabilidade contratual, não se
admitindo a produção dos seus efeitos através da sentença judicial.
No caso de o bem ter sido prometido vender livre de ónus e encargos, mas se encontrar
presentemente hipotecado é admitida na ação de execução especifica que seja
simultaneamente pedida a condenação do promitente faltoso na quantia necessária para
expurgar a hipoteca, assim se conseguindo a sua extinção, sem prejuízo para o beneficiário da
promessa. – 830º, nº4. No caso de o promitente faltoso poder invocar a exceção de não
cumprimento do contrato, caso em que a ação improcede se ele não consignar em depósito a
sua prestação no prazo que lhe for fixado pelo tribunal – 830º,nº5.
O sinal consiste numa cláusula acessória dos contratos oneroso, mediante a qual uma das
partes entrega à outra, por ocasião da celebração do contrato, uma coisa fungível. Funciona
como fixação das consequências do incumprimento, uma vez que se a parte que constitui o
sinal deixou de cumprir a sua obrigação, a outra parte tem o direito de fazer sua a coisa
Regime do 442º
Nº2- MC defendeu que deve ser exigida a constituição de sinal, uma vez que, quando este não
é estipulado, a tradição da coisa para o promitente comprador apresenta-se como um ato de
mera tolerância do promitente vendedor, não havendo razão para que ele seja prejudicado
por esse ato.
Nº3- Consistia em admitir que a oferta do cumprimento da promessa, por parte do promitente
faltoso, paralisasse o direito ao aumento do valor da coisa ou do direito pela outra parte.
Função do sinal
No direito português atual, a natureza do sinal tem sido controvertida, contudo o sinal só pode
ser exigido em caso de incumprimento definitivo da obrigação pela outra parte, funcionando
como predeterminação das consequências desse incumprimento.
Eficácia real
Nos casos em que a promessa respeitar a bens imóveis ou móveis sujeitos a registo – 413º,nº1.
Cumprindo os requisitos do 413º, o contrato promessa adquire eficácia real, o que significa
que o direito à celebração do contrato definitivo prevalecerá sobre todos os direitos reais que
não tenham registo anterior ao registo da promessa com eficácia real.
MC defende que que se trata de um direito real de aquisição.
Pacto de preferência
415º - não se aplica o regime do 410º, nº3 pelo que o documento não estará em caso algum
sujeito a mais formalidades.
Ocorro sempre que o obrigado à preferência celebra com terceiro um contrato incompatível
com a preferência, sem efetuar qualquer comunicação para preferência ou, tendo-a efetuado,
se o titular tiver comunicado, dentro do prazo, a intenção de exercer a preferência – provoca o
incumprimento definitivo da obrigação de preferência.
A ação de preferência em caso de haver eficácia real – Neste caso, o titular da preferência não
possui apenas um direito de crédito à preferência, mas também um direito real de aquisição,
que pode opor erga omnes, mesmo a posteriores adquirentes da propriedade.
A lei esclarece neste caso que o processo adequado para o exercício deste direito é a
denominada ação de preferência – 1410º (a propósito da preferência do comproprietário, mas
é extensível a qualquer titular de direitos reais de preferência. A posição maioritária
(defendida por MC) era a de que o obrigado à preferência não seria, parte legítima para a ação
de preferência (discute-se unicamente se o bem é atribuído ao titular da preferência ou
permanece na propriedade do terceiro, não podendo a ação afetar o obrigado, que
normalmente já recebeu o preço que lhe era devido, nada mais tendo a ganhar ou a perder),
só o sendo caso o titular da mesma decida simultaneamente exigir uma indemnização
Quanto ao preço devido exigido no 1410º é apenas exigido o depósito do preço devido não
incluindo assim as outras despesas.
443º e ss. Contrato em que uma das partes (o promitente) se compromete perante outra (o
promissário) a efetuar uma atribuição patrimonial em beneficio de outrem, estranho ao
negócio (o terceiro). O terceiro não é interveniente no contrato, embora adquira um direito
contra o promitente, em virtude do compromisso deste para com o promissário.
Existem 3 relações:
Negócios unilaterais
Declaração negocial dirigida ao publico, através da qual se promete uma prestação a quem se
encontre em determinada situação ou pratique certo facto, positivo ou negativo. Não se pode
confundir com declarações negociais dirigidas ao publico, como a oferta ao público.
O anúncio público poderá revestir formas variadas, abrangendo qualquer meio de
comunicação social ou difusão publica de mensagens. Estamos perante uma obrigação de
sujeito ativo indeterminado, mas determinável 511º. A promessa só é eficaz durante o prazo
fixado pelo promitente e se não for exercido durante esse período extingue-se por caducidade
– 331º, se não tiver prazo fixado só se pode extinguir por revogação.