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Resolução de Casos Práticos – Competências Legislativas

Exemplo de caso prático:

O Governo aprovou, em Conselho de Ministros, um decreto-lei, a 20/04/2023, que criminaliza o


consumo de drogas para tentar conter o tráfico ilegal, e enviou-o para o Presidente para ser
promulgado.

Resolução:

1. Identificar a matéria sobre a qual versa o ato legislativo.


a. Ex: “criminaliza o consumo de drogas”
2. Concluir se é matéria reservada de algum órgão:
a. Assembleia da República:
i. Reserva Absoluta: artigos 161, a), b), d), e), f), g), h);
art.164; art.168/6, a), b) e c); art.255; art.256/1; art.227/1, i)
(apenas para a lei-quadro)
ii. Reserva relativa: art.165
iii. Auto-organização interna – art.175, a) (mas não é matéria
de lei)
b. Governo:
i. Auto-organização interna – art.198/2 (por decreto-lei)
ii. A questão do desenvolvimento de leis de bases (mais à
frente)
c. AL das Regiões Autónomas:
i. Reserva Absoluta: art.227/1, i), l), n), p) e q)
ii. Reservas estatutárias e de desenvolvimento
d. Ex: art.165/1, c) – “definição dos crimes, penas […]”
3. Grau de Reserva
a. Regime (toda aquela matéria é reservada)
i. Regime Geral (apenas o regime comum é reservado,
regimes especiais podem ser definidos por outros órgãos)
1. Bases (apenas as bases gerais dos regimes
jurídicos são matéria reservada)
b. Ex: nada é dito, pelo que se entende que todo o regime é matéria reservada
4. Verificar a existência de autorizações legislativas válidas, no caso de
reserva relativa (atenção: as AL das RA também podem ser autorizadas
nos termos do art.227/1, b)) ou outras questões relevantes, como o
Estatuto das RA
a. Assim, neste exemplo, não havendo autorização legislativa, teríamos uma
inconstitucionalidade orgânica, visto que o Governo legislou sobre matéria do
art.165

A divergência doutrinária do desenvolvimento da lei de bases:

Conceção Tradicional (LUÍS PEREIRA COUTINHO, MARCELO REBELO DE


SOUSA, MELO ALEXANDRINO) – o sentido do art.198, c) é o de vincular o
Gov a desenvolver as leis de bases sempre por via de Decreto-lei, não o
podendo nunca fazer por mero regulamento.

Conceção Limitativa (GOMES CANOTILHO, VITAL MOREIRA) – a alínea c) do


art.198 constitui uma limitação à alínea a) do mesmo preceito. Ou seja, o
Governo não pode nunca emitir ou modificar lei de bases anteriores.

Conceção Ampliativa (SÉRVULO CORREIA) – o art.198, c) permite ao Gov


legislar sobre qualquer matéria, mesmo que esta seja de reserva da AR, se a
AR se limitou a fixar as bases do regime jurídico de dada matéria.

Posição da Regência (PAULO OTER, BLANCO DE MORAIS E JAIME VALLE)


– a norma em causa atribui ao Gov uma competência legislativa reservada de
desenvolvimento de leis de bases, quer em matérias de competência reservada
da AR, quer no âmbito concorrencial.

Aplicação Prática:
“O Governo desenvolveu, por decreto-lei, a lei de bases, aprovada o ano passado pela
AR, sobre as Associações e partidos políticos. Posteriormente, a AR também aprovou
uma lei de desenvolvimento da mesma lei de bases.”
Conceção Tradicional: inconstitucionalidade orgânica do DL, a matéria é de reserva absoluta.
Conceção Limitativa: inconstitucionalidade orgânica do DL
Conceção Ampliativa: nem o DL nem a lei são inconstitucionais
Posição da Regência: inconstitucionalidade da lei, pois ao limitar-se a regular as bases, a AR
criou uma reserva de competência legislativa a favor do Gov naquela matéria.

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