O Governo

Aristides R. Lima

1. O estudo do Governo como órgão

a) Governo não é só um órgão político, mas também um

órgão administrativo;

b) É na ótica administrativa, o órgão principal da

administração central do Estado, incumbido do Poder
Executivo;

c) Como órgão político, o Governo é estudado na Ciência

Política e no Direito Constitucional;

d) Governo é um órgão predominantemente político ou

administrativo?

a. Normalmente nas ditaduras ou regimes autoritários

sobressai o carater administrativo;

b. Nas democracias costuma haver um certo

equilíbrio, ou então a função política sobreleva,
dado que o Estado se sobrepõe aos Governantes e
aos Partidos;

c. A resposta à pergunta depende também do sistema

de Governo .

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 i. No sistema presidencial o Presidente é o titular
da função política, os secretários de Estado
( como são chamados os Ministros nos EUA) são
mais executivos;

ii. No sistema parlamentar os ministros são

sobretudo políticos: mas exercem também
funções administrativas;

iii. No sistema semipresidencial como em CV os

Ministros são ao mesmo tempo agentes políticos
e administrativos;

2. Estatuto jurídico-constitucional e composição do

Governo

 Conceito plurissignificativo : organizatório e material

a) Sentido organizatório

 Conjunto de órgãos aos quais se reconhece competência de

direção política

 Conjunto de todos os órgãos que desempenham tarefas e

funções não enquadráveis no «poder legislativo» e no
«poder jurisdicional»

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 Órgão constitucional de soberania com competência para
a condução da política geral do país ( Art.º 185º) :

o O Governo é órgão que define, dirige e executa a

política geral interna e externa do país e é órgão
superior da Administração Pública

b) Sentido material ( «governo» , com letra minúscula)

 Aqui não se trata de questões de designação, formação e

composição do Governo, mas sim das atividades e atos
que se enquadram no conceito de governo ou governação

 Previsão, planificação, atuação de direção em relação a

«todas as matérias de importância geral, de política interna
e externa, económica, social, financeira ou cultural»

 Governar é dar uma certa orientação a toda a atividade

do Estado e, no exercício de responsabilidade perante o
Parlamento, fazer com que todas as instâncias que
dependem do Governo materializem esta orientação.

 Isto, no nosso sistema de Governo

c) Composição ( Artigo 187º)

 Três órgãos necessários e distintos, mas em íntima ligação

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 Ca) Primeiro-Ministro
Cb) Conselho de Ministros

Cc) Os Ministros e Secretários de Estado

 Quando se fala em Governo quer-se referir ao órgão

complexo

d) Responsabilidade ( artigo 186º)

 Responsável politicamente perante a Assembleia Nacional

 Autonomia própria: órgão constitucional autónomo e não

um comité da Assembleia Nacional

e) Órgão colegial e solidário – Conselho de Ministros

 Composto pelo PM, que o preside e coordena, e pelos

Ministros (Art.º 188º)

 Secretários de Estado podem participar, sem direito a voto,

mediante convocatória do PM ou deliberação do CM ( nº 2 do
artigo 188º)

f) Pode haver CM especializados em razão da matéria

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  Órgãos secundários e auxiliares do CM formados por
alguns membros deste e que funcionam como secções
do CM ( artigo 188º/3)

g) Vice - PM, como órgão eventual;

h) Ministros como órgãos necessários;

i) Poder de auto-organização do Governo, como órgão de

soberania ( Art.º 204º)

 Aprovação de Decretos-leis sobre a sua

organização e funcionamento

 Cfr. Decreto-Lei nº 14/2018 de 7 de

março, que procede à segunda alteração ao
Decreto-Lei nº 37/2016, de 17 de junho,
que aprova a Orgânica do Governo

 Regimento (263º)

j) Princípios estruturantes

Ja) Princípio da colegialidade

 Compete ao Conselho de Ministros definir as linhas

gerais da política governamental interna e externa e

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 organizar a execução e avaliação da mesma com
regularidade (Art.º 206º)

o Diferença em relação à Alemanha :

«Richtlinienkompetenz» da Chanceler !

 Aprova decretos-leis e decretos-legislativos ( Art.º

204º)

 Propostas de leis e de resoluções que corporizam

iniciativas do Governo para a atuação do Parlamento
no domínio legislativo ou noutros;

Jb) Preeminência do PM

Ele é mais do que um primus inter pares

 Vice - PM e outros Ministros nomeados e

exonerados sob proposta dele e perante ele
responsáveis;

 Dirige e coordena a política geral do Governo;

 Preside o Conselho de Ministros

 Orienta e coordena a ação dos Ministros e

Secretários de Estado

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  Poder de referenda dos atos do PR ( nº 2 do
artigo 138º e alínea e) do artigo 207º)

 Em termos estritamente políticos ele é o líder da

maioria parlamentar

Jc) Repartição das competências

 Ministros executam com autonomia a sua

competência, observando, contudo, as linhas de
direção política definidas pelo CM

 Secretários de Estado ( ver artigo 208º/2)

Jd) Princípio da solidariedade governativa (Art.º 195º)

 Vinculação ao programa do Governo +

diretivas do CM;

 Responsabilidade pela execução do

Programa;

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 3. Formação do Governo e duração do mandato

3.1. A formação do Governo ( Art.º 194º)

 Inicia as funções com a posse do PM e dos Ministros

 PM nomeado pelo PR tendo em conta o seguinte:

o Audição das forças políticas com assento no

Parlamento;

o Consideração dos resultados eleitorais;

o Existência ou não de força política maioritária;

o Consideração das possibilidades de coligações ou

de alianças.

3.2. A responsabilidade política do Governo

a) Perante o Parlamento (Art.º 198º)

 Governo é responsável perante a Assembleia Nacional

 Idem PM ( nº 1);

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 Idem Ministros ( nº 2);

 Secretários de Estado respondem perante o PM e perante os

respetivos Ministros ( nº 3);

 1º ato de responsabilidade geral: apresentação do

programa do Governo para apreciação parlamentar;

 Solicitação de uma moção de confiança de investidura

(aprovada por maioria absoluta dos deputados em
efetividade de funções, nos termos do artigo 267º do
Regimento da Assembleia Nacional ) sobre a política geral ;

o Limita Governos minoritários

b) Responsabilidade «Institucional » ou fraca perante o PR

 PM tem obrigação de informar o Presidente da

República regular e completamente sobre os assuntos
relativos à política interna e externa do Governo
( alínea f) do artigo 207º)

c) Situações de efetivação da responsabilidade governativa

perante o Parlamento com implicação na subsistência do
Governo

i. Aprovação de duas moções de censura

ii. Rejeição de uma moção de confiança

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 iii. A não submissão à apreciação da Assembleia
Nacional do programa do Governo ou

iv. A não apresentação juntamente com o programa

do Governo de uma moção de confiança sobre a
política geral a ser seguida.

 PR pode demitir o Governo se a Assembleia votar uma

moção de censura (por maioria absoluta de votos dos
deputados em efetividade de funções – artigo 272º do
Regimento da Assembleia Nacional)

d) Outras situações que acarretam a demissão do Governo

(Art.º 202º)

i. Início da Legislatura
ii. Dissolução da Assembleia Nacional
iii. Aceitação do pedido de exoneração do PM
iv. Morte
v. Ou incapacidade física permanente do PM

e) Responsabilidade criminal

 Detenção ou prisão preventiva só com autorização da

Assembleia Nacional, salvo em caso de flagrante
delito por crime a que caiba pena com limite máximo
superior a três anos

3.3. A duração do mandato do Governo

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  Legislatura

 Todavia o Governo cessa funções nas situações

referidas antes:

4. As funções do Governo

4.1. Função Política ou de Governo (Art.º 203º)

 Não há caraterização constitucional-material da função

política

a) Delimitação «negativa»

i. Nem todas as atividades exercidas pelo

Governo são atividades políticas ou de governo

ii. O Governo não tem o monopólio das funções

políticas, porque a CRCV atribui a outros órgãos
de soberania também a função política

iii. Há atividades atribuídas expressamente como

atividades políticas ao Governo em sentido
orgânico-institucional ( artigo 203º)

iv. O governo (com letra minúscula) ( governação)

não é concebido como um poder autónomo, mas
sim como um domínio ou âmbito funcional que
em parte pertence ao Governo, em sentido

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 orgânico-institucional, e, noutra parte ao PR e à
AN

v. Governo é uma parte do Executivo

b) Sentido material

 A CRCV fala de competência política no seu Art.º 203º

 Todavia caráter não exaustivo

 «Função política ou de governo é um complexo de funções

legislativas, planificadoras, administrativas e militares, de
natureza económica, financeira, social e cultural dirigidas à
individualização e graduação dos fins constitucionalmente
estabelecidos»

 Implica tomar iniciativa, dirigir, coordenar, combinar,

planificar e decidir com liberdade

c) Forma de revelação da função de governo

 Função de governo manifesta-se em

i. Atos legislativos ou regulamentares

ii. Linhas de direção políticas ou instruções
iii. Planos globais ou setoriais
iv. Atos de comando militar
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 v. Informações e propostas
vi. Atos de nomeação de funcionários e presidentes
de órgãos

 Atos de governo estão vinculados à Constituição e à lei, não

podendo estar à sua margem

 Medida de vinculação diferente

i. Vinculação do exercício de uma função à

competência de determinado órgão
(competência constitucionalmente vinculada)

ii. Vinculação jurídico-material através de

limites, deixando-se ao órgão uma margem de
liberdade para a conformação política

iii. Vinculação jurídico-material positiva e

determinante, estando os órgãos competentes
obrigados a «executar» os programas ou
imposições constitucionais (exercício de funções
com simples discricionariedade)

 Ver a competência política (Art.º 203º)

4.2. Função Legislativa do Governo ( Art.º 204º)

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 a) Decretos-leis em matéria da própria organização e
funcionamento do Governo (competência exclusiva);

b) Decretos-Leis em matérias não reservadas à Assembleia

Nacional (Competência concorrencial);

c) Decretos-Legislativos em matérias relativamente

reservadas à Assembleia Nacional mediante autorização
desta;

d) Decretos- leis de desenvolvimento das bases e regimes

gerais contidos em leis;

e) Decretos de aprovação de tratados e acordos

internacionais;

4.3. Função Administrativa (Art.º 205º)

Distinção entre funções de Governo e administrativas

A)Função de governo =

 Função exercida pelos órgãos superiores do executivo

 Funções políticas livres e iniciais

B) Função Administrativa =

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  Função desempenhada pelos órgãos inferiores

 Funções derivadas, executivas e heteronomamente

determinadas

 « Concretização e realização dos interesses públicos

da comunidade, quer dando execução a decisões ou
deliberações, constantes de atos legislativos, atos de
governo e atos de planificação, quer intervindo,
conformadora ou ordenadoramente, na prossecução
de fins (de interesse público ) individualizados na
Constituição e nas leis. »

Conceito constitucional de Administração Pública

A. Caracterização positiva material

 Prossecução permanente e autónoma de tarefas da

comunidade

 Efetuada por órgãos do Estado , do Poder Local e das

demais formas de administração indireta do Estado e
da administração autónoma de caráter associativo ou
institucional

 Através de medidas concretas

 Juridicamente vinculadas a fins de interesse público

constitucional e ou legalmente pré-determinados

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B. Caraterização organizatória da Administração Pública

 Administração do Estado que inclui administração direta +

 Administração indireta exercida por entes públicos que

funcionam sob orientação do Estado +

 A administração associativa autónoma ( ex: ordens

profissionais) e administração institucional autónoma
(Câmaras de Comércio) +

 Administração «delegada» ou concessionada, a cargo de

entidades particulares, a que se conferiu por ato legal ou
administrativo a capacidade para exercer tarefas
administrativas, incluindo poderes de autoridade ( ex:
federações desportivas)

Formas de atuação da Administração Pública

Medidas concretas adequadas e necessárias à

prossecução de interesses públicos

a) Atos administrativos individuais

b) Contratos

c) Atos de planificação

d) Atos de direção

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 Domínios de atuação administrativa

a) Administração de Polícia (garantia da ordem e

segurança)

b) Atividade planificadora e diretiva da economia

c) Atividade financeira e fiscal

d) Atividade social e prestacional

Sujeição ao controlo contencioso administrativo

Conclusão :

………..

Bibliografia :

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