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CONSTITUCIONAL II
FONTES NORMATIVAS
P1 E P2
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO
Leis de bases
o Conceito
o Leis com valor reforçado (parametricidade específica) – artigo 112.º, n.ºs 2, in fine
e3
Decreto-lei de
Pressuposto e
Lei de bases desenvolvimento
parâmetro
(art. 198.º/1/c)
• Leis de base = são leis que definem as opções político-legislativas fundamentais num dado
sector normativo e que devem ser desenvolvidas/complementadas pelo Governo, através de
um:
– decreto-lei de desenvolvimento (artigo 198.º/1/c),
– ou, desde a revisão constitucional de 2004, também pelas assembleias legislativas das regiões, através
de um decreto legislativo regional de desenvolvimento (artigo 227.º/1/c).
Leis de base
Leis de autorização
1. Intervêm e alteram diretamente o 1. Apenas habilitam o governo a
ordenamento jurídico promover essa intervenção. Não
2. Não vale o princípio da produzem efeitos externos, ou seja, não
irrepetibilidade - o governo pode é possível invocar quaisquer efeitos
jurídicos decorrentes de uma lei de
emanar vários decretos-leis de autorização legislativa, uma vez que os
desenvolvimento ao abrigo da mesma mesmos se esgotam na relação jurídica
lei de bases que se estabelece entre a Assembleia da
3. Podem incidir tanto sobre matéria de República e o Governo. Logo, as leis de
autorização legislativa apenas produzem
competência reservada à Assembleia da efeitos jurídicos para o respectivo
República (absoluta e relativa), como destinatário, que é o Governo.
sobre matéria de competência 2. Princípio da irrepetibilidade
concorrente ou paralela. 3. Só podem incidir sobre matéria de
reserva relativa de competência
legislativa da AR
Em matérias de reserva
Em matérias de relativa
reserva absoluta
• Quando a matéria não esteja reservada à AR, o Governo pode legislar livremente,
independentemente de haver, ou não, leis de bases prévias. Significa que o Governo não está
sujeito à eventual inércia da AR na fixação das bases gerais de uma dada matéria.
• Tese da superioridade geral das leis de bases perante os decretos-leis
– Esta tese alicerça-se fundamentalmente em argumentos de natureza lógica e formal:
• Formal porque se enfatiza a circunstância de o artigo 112.º, n.º 2 não distinguir
entre as leis de bases em matéria reservada e as leis de bases em matéria de
competência concorrente, o que parece indiciar que a parametricidade das leis de
bases não varia em função deste critério.
• Lógico porque admitindo-se uma supremacia meramente parcial das leis de bases, gorar-
se-ia o sentido útil do artigo 112.º, n.º 2 e o princípio da superioridade
paramétrica da lei de bases nele consagrado. Com efeito, no domínio das matérias
reservadas à AR, a superioridade da lei de bases sempre resultaria do princípio da
reserva de competência, revelando-se desnecessária a consagração dessa
superioridade num preceito ad hoc. Para conservar o seu sentido útil, o artigo 112.º, n.º 2
tem de poder abarcar todas as leis de bases, seja em matéria de competência reservada
ou não.
Princípio da tipicidade
Princípio geral de primazia
constitucional de
legislativa do parlamento
competências
• É que embora aquela lei de bases não esteja a coberto da reserva de competência
legislativa da Assembleia da República, se o Governo entender exercer apenas a
competência legislativa de desenvolvimento, coloca-se voluntariamente sob o
critério da parametricidade específica das leis de bases, devendo o decreto-lei lei de
desenvolvimento conformar-se com os limites impostos pelo acto legislativo do parlamento,
mesmo que não estivesse obrigado a fazê-lo.
• Trata-se de um caso de “auto-limitação do respectivo poder de conformação
legislativa” por parte do Governo.
POSIÇÃO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ( AC. 142/85 E 334/91)
• Inconstitucionalidade orgânica. Governo não pode legislar sobre a matéria sem que antes a AR
emane uma lei de bases. O decreto-lei do governo que contrarie a lei de bases está ferido de
inconstitucionalidade orgânica
• Mesma solução para as duas teses.
Caso prático
A Lei n.º 107/2001 estabelece as "bases da política e do regime de proteção e
valorização do património cultural" (artigo 1.º). Neste diploma, estabelece-se que
o acesso aos bens culturais classificados deve ser tendencialmente gratuito.
O Governo, invocando a competência que lhe é atribuída pelo artigo 198.º/1/c)
da CRP, aprovou um Decreto-Lei que prevê que, com vista a garantir o
financiamento da conservação do património classificado, o mesmo só pode ser
visitado mediante o pagamento de uma quantia pecuniária a fixar
administrativamente, mas nunca inferior a 50€ por pessoa/visita.
• Quid iuris?
• O caso em apreço respeita à categoria de lei de bases e decretos-lei de desenvolvimento. As
leis de bases são leis da Assembleia da República que consagram as bases gerais ou os
princípios fundamentais de um determinado regime jurídico, deixando a cargo do executivo o
desenvolvimento ou concretização dessas mesmas (através de decretos de desenvolvimento).
• Questão fundamental que se coloca a propósito do desenvolvimento de uma lei de bases é a
de saber qual o sentido da primariedade material das leis de bases relativamente aos decretos-
leis de desenvolvimento:
– Posição de Jorge Miranda: o artigo 112.º/2 abrange quer as leis sobre matéria de reserva de
competência legislativa da Assembleia da República, quer matérias da competência concorrente.
– Posição de Gomes Canotilho (e do Tribunal Constitucional): existe, por força dos princípios da
tipicidade constitucional de competências e da competência concorrencial entre a Assembleia da
República e o Governo, uma limitação do valor paramétrico das leis de bases às matérias de
competência reservada da Assembleia da República.
• Ora, a matéria sobre a qual incide a lei de bases integra-se na reserva relativa da competência
legislativa da Assembleia da República, contemplada no artigo 165.º/1g) da CRP. Nessa medida,
verificando-se uma violação da lei de bases pelo decreto-lei de desenvolvimento do Governo, e
estando nós ante uma matéria de competência reservada da AR para legislar, estaremos então
perante uma inconstitucionalidade orgânica (por violação do disposto no art. 112.º/2
CRP).
Caso Prático
• Suponha que, na falta da Lei de Bases que define as bases de politica de ambiente, estão
atualmente em vigor no nosso ordenamento jurídico vários diplomas da Assembleia da
República dos quais é possível retirar os princípios básicos fundamentais que formam a
estrutura do sistema de proteção da natureza e do equilíbrio ecológico.
• Neste contexto, o Governo, exercendo a sua competência legislativa originária, ao abrigo do
artigo 198.º/1/a) da CRP, pretende criar um regime jurídico relativo à proteção das espécies
florestais nativas, que contraria o que se encontra disposto numa das referidas leis da
Assembleia da República.
• Pode fazê-lo? Justifique.
• No caso em apreço, inexiste qualquer Lei de Bases da Assembleia da República que, ao abrigo do
artigo 165.º, n.º 1, alínea g) da CRP, limite a liberdade de conformação do Governo na tarefa de
desenvolvimento dessas bases. Existe, sim, um quadro geral de princípios básicos fundamentais que
formam a estrutura do sistema de proteção da natureza e do equilíbrio ecológico que é passível de
ser retirado de um conjunto de diplomas legislativos. Queremos, pois, saber se o Governo, ao
legislar sobre a proteção das espécies florestais nativas, pode ou não contrariar o
disposto em Lei da Assembleia da República que, note-se, não é, em sentido formal, uma
Lei de Bases.
• Numa primeira análise, considerar-se-ia que, segundo o princípio da tendencial paridade ou igualdade
entre as leis e os decretos-leis (artigo 112.º, n.º 2, primeira parte da CRP), o Governo poderia alterar
ou até revogar o regime consagrado numa Lei da Assembleia da República.
• Contudo, e segundo a interpretação abrangente que o Tribunal Constitucional faz do que
se deve considerar-se a habilitação legal do Governo para legislar em matérias nas quais
o legislador reservou à Assembleia da República apenas a competência para fixar as
bases do regime jurídico, não é necessária a existência prévia de uma lei de bases “em
sentido formal”. Ou seja, não é necessário que exista um diploma que expressamente se
autointitule como lei de bases sobre a matéria, sendo suficiente a habilitação se, da
legislação em vigor (por exemplo, diversos artigos dispersos em diplomas legislativos do
parlamento) for possível extrair um conjunto de princípios e orientações gerais sobre a
matéria – veja-se, a este propósito, o disposto no acórdão n.º 334/91.
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO
Leis de enquadramento
• Não se limitam a fixar as bases de um regime jurídico, antes visam regular efectivamente o
sector a que se referem, estabelecendo um regime jurídico global de regras e princípios.
• Ou seja, trata-se de leis que estabelecem os parâmetros jurídico-materiais estruturantes de
um determinado sector da vida económica, social ou cultural.
• Exemplos:
– lei-quadro do orçamento do Estado,
– lei-quadro das reprivatizações,
– lei-quadro da criação, modificação e extinção das autarquias locais,
– lei-quadro da criação das regiões administrativas,
– lei-quadro da adaptação do sistema fiscal às especificidades regionais,
– lei das finanças regionais
– lei das finanças locais.
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO
Art. 198.º/1/b e c e 3
Derivada ou dependente Decretos-leis autorizados (ao abrigo de uma lei
de autorização legislativa) e decretos-leis de
desenvolvimento (ao abrigo de uma lei de bases)
1. a iniciativa, que pode partir de qualquer membro do Governo, sendo depois dirigida ao Secretário de Estado
da Presidência do Conselho de Ministros;
2. a instrução, que envolve a obtenção de pareceres facultativos ou obrigatórios, sendo obrigatórios nos casos
de transposição de actos da União Europeia (parecer obrigatório do Ministro dos Negócios Estrangeiros), de
actos legislativos que envolvam um aumento de despesa (parecer obrigatório do Ministro das Finanças) ou
de actos legislativos que envolvam um aumento de encargos administrativos (parecer obrigatório da Ministra
da Presidência e da Modernização Administrativa);
3. a circulação legislativa (os projectos vão a análise e comentário de todos os gabinetes ministeriais);
4. a discussão e aprovação em reunião de Conselho de Ministros;
5. os decretos que se destinem a ser promulgados como decretos-lei são enviados ao Presidente da República
para promulgação;
6. referenda ministerial do acto de promulgação do decreto-lei ex vi o disposto nos artigos 140.º/1 e 134.º/b)
da CRP;
7. publicação em DR - artigo 119.º/1c) da CRP.
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO
• Nos n.º 2 e 3, prevê-se a figura da suspensão da vigência de um decreto-lei. Tal suspensão está
sujeita a pelo menos dois requisitos:
(1) ter sido o decreto-lei em causa emanado ao abrigo de uma lei de autorização
legislativa; (2) terem sido apresentadas propostas de alteração ao mesmo.
A suspensão manter-se-á até à publicação da lei que o vier a alterar ou até à rejeição de todas as
propostas de alteração, verificando-se porém a caducidade da suspensão se, decorridas dez sessões
plenárias, a AR não se tiver pronunciado sobre as propostas de alteração.
Apreciação parlamentar de actos legislativos
(artigo 169.º CRP)
Finalidade Controlar politicamente a actividade legislativa do Governo
(expressão do primado legislativo da AR)
Legitimidade Deputados (10)
a) As leis orgânicas carecem de aprovação, na votação final global, por uma maioria
de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções.
b) Para superação do veto político incidente sobre leis orgânicas, exige-se uma
maioria menos exigente do que para a superação do veto político incidente sobre as
demais leis.
b) O valor reforçado das leis orgânicas significa que todas elas servem de
parâmetro normativo-material a outros atos legislativos.