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DIREITO

CONSTITUCIONAL II
FONTES NORMATIVAS
P1 E P2
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

Leis de bases

o Conceito

o Leis de bases e leis de autorização (diferenças)

o Leis com valor reforçado (parametricidade específica) – artigo 112.º, n.ºs 2, in fine
e3

Decreto-lei de
Pressuposto e
Lei de bases desenvolvimento
parâmetro
(art. 198.º/1/c)
• Leis de base = são leis que definem as opções político-legislativas fundamentais num dado
sector normativo e que devem ser desenvolvidas/complementadas pelo Governo, através de
um:
– decreto-lei de desenvolvimento (artigo 198.º/1/c),
– ou, desde a revisão constitucional de 2004, também pelas assembleias legislativas das regiões, através
de um decreto legislativo regional de desenvolvimento (artigo 227.º/1/c).

Leis de base
Leis de autorização
1. Intervêm e alteram diretamente o 1. Apenas habilitam o governo a
ordenamento jurídico promover essa intervenção. Não
2. Não vale o princípio da produzem efeitos externos, ou seja, não
irrepetibilidade - o governo pode é possível invocar quaisquer efeitos
jurídicos decorrentes de uma lei de
emanar vários decretos-leis de autorização legislativa, uma vez que os
desenvolvimento ao abrigo da mesma mesmos se esgotam na relação jurídica
lei de bases que se estabelece entre a Assembleia da
3. Podem incidir tanto sobre matéria de República e o Governo. Logo, as leis de
autorização legislativa apenas produzem
competência reservada à Assembleia da efeitos jurídicos para o respectivo
República (absoluta e relativa), como destinatário, que é o Governo.
sobre matéria de competência 2. Princípio da irrepetibilidade
concorrente ou paralela. 3. Só podem incidir sobre matéria de
reserva relativa de competência
legislativa da AR
Em matérias de reserva
Em matérias de relativa
reserva absoluta

O Governo só pode exercer a competência


legislativa de desenvolvimento após a entrada
Governo só pode exercer a competência em vigor da lei de bases, mas, caso esta não
legislativa de desenvolvimento após a entrada
em vigor da lei de bases, e, caso esta não
exista poderá, através do seu poder de
exista, terá de limitar-se a exercer o poder iniciativa legislativa (artigo 167.º/1 da CRP),
de iniciativa legislativa, apresentando ao apresentar à Assembleia da República uma
parlamento uma proposta de lei de bases na proposta de lei de autorização legislativa para
respectiva matéria nos termos do disposto legislar sobre as bases do referido regime
no artigo 167.º/1 da CRP e esperar que jurídico.
aquele aprove o referido regime jurídico. Após a aprovação pela Assembleia da
República da mencionada lei de autorização
legislativa, o Governo poderá aprovar, no
uso da competência legislativa autorizada (ao
abrigo, portanto, do artigo 198.º/1b) da
CRP), um decreto-lei autorizado
contemplando as bases do regime jurídico (o
decreto-lei autorizado de bases), e,
Se a reserva de competência legislativa subsequentemente, no uso da competência
do parlamento se limita às bases, isso legislativa de desenvolvimento (ao abrigo do
significa que o desenvolvimento da artigo 198.º/1c) da CRP), o respectivo
matéria faz parte da competência decreto-lei de desenvolvimento.
legislativa concorrente
são pressuposto e
leis de valor reforçado parâmetro de validade
por força do critério dos decretos-leis de
Leis de base da parametricidade desenvolvimento e dos
específica (artigo decretos legislativos
112.º/3) regionais de
desenvolvimento

Problema: qual é o sentido da primariedade


material (= a extensão da prevalência) das leis de
bases sobre os decretos-leis de desenvolvimento – art.
112.º/2?
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO
Leis de bases
Sentido da primariedade material das leis de bases relativamente aos decretos-leis
de desenvolvimento (artigos 112.º/2 e 198.º/1/c CRP)
Teses Tese da limitação do valor Tese da superioridade geral das leis de
paramétrico das leis de bases às bases sobre os decretos-leis de
matérias de competência reservada desenvolvimento - as leis de bases são
da AR - só são pressuposto e sempre pressuposto e parâmetro dos
parâmetro de validade dos decretos- decretos-leis de desenvolvimento,
leis quando as bases sejam matéria independentemente de as bases
constituírem matéria reservada à
de competência reservada da
Assembleia ou matéria de competência
Assembleia (artigos 164.º e 165.º) concorrente

Argumentos Princípio da tipicidade constitucional Primazia legislativa do parlamento


de competências Argumento literal (art. 112.º/2, parte
final)
Posição do curso (actualmente)
• Tese da limitação do valor paramétrico e superioridade hierárquica das leis de bases às matérias de
reserva absoluta ou relativa da AR.
– Esta tese está ligada a dois postulados:
• Quando as leis de bases incidam sobre matéria não reservada, nada impede que
possam ser alteradas por decreto-lei, ao abrigo do artigo 198.º, n.º 1, al. a). De outro modo,
estar-se-ia a admitir uma restrição dos poderes legislativos do Governo pela AR, já que
bastaria a esta última ocupar os espaços de competência concorrente com leis de bases. É
esta a solução que se chega mediante recurso ao princípio da tipicidade constitucional de
competências.

• Quando a matéria não esteja reservada à AR, o Governo pode legislar livremente,
independentemente de haver, ou não, leis de bases prévias. Significa que o Governo não está
sujeito à eventual inércia da AR na fixação das bases gerais de uma dada matéria.
• Tese da superioridade geral das leis de bases perante os decretos-leis
– Esta tese alicerça-se fundamentalmente em argumentos de natureza lógica e formal:
• Formal porque se enfatiza a circunstância de o artigo 112.º, n.º 2 não distinguir
entre as leis de bases em matéria reservada e as leis de bases em matéria de
competência concorrente, o que parece indiciar que a parametricidade das leis de
bases não varia em função deste critério.
• Lógico porque admitindo-se uma supremacia meramente parcial das leis de bases, gorar-
se-ia o sentido útil do artigo 112.º, n.º 2 e o princípio da superioridade
paramétrica da lei de bases nele consagrado. Com efeito, no domínio das matérias
reservadas à AR, a superioridade da lei de bases sempre resultaria do princípio da
reserva de competência, revelando-se desnecessária a consagração dessa
superioridade num preceito ad hoc. Para conservar o seu sentido útil, o artigo 112.º, n.º 2
tem de poder abarcar todas as leis de bases, seja em matéria de competência reservada
ou não.
Princípio da tipicidade
Princípio geral de primazia
constitucional de
legislativa do parlamento
competências

argumentos de natureza lógica e formal


existem matérias de competência reservada à Assembleia, e
matérias de competência concorrente, sobre as quais
Assembleia e Governo podem legislar em idênticos termos
Formal: o artigo 112.º, n.º 2, in fine não distinguir entre as leis de
bases em matéria reservada e as leis de bases em matéria de
competência concorrente, o que parece indiciar que a
parametricidade das leis de bases não varia em função deste
critério.

Dizer que as leis de bases prevalecem sempre sobre os


decretos-leis de desenvolvimento equivale, no fundo, a destruir
a competência concorrente
Lógico: no domínio das matérias reservadas à AR, a
superioridade da lei de bases sempre resultaria do princípio da
reserva de competência, revelando-se desnecessária a
consagração dessa superioridade num preceito ad hoc. Para
conservar o seu sentido útil, o artigo 112.º, n.º 2 tem de poder
bastaria à AR aprovar uma lei de bases para impedir o abarcar todas as leis de bases, seja em matéria de competência
Governo de exercer a sua competência legislativa reservada ou não.
originária ou independente
Leis de bases - Vícios dos decretos-leis

Teses (1) Tese da limitação do valor (2) Tese da superioridade


paramétrico das leis de bases às matérias geral das leis de bases
de competência reservada da AR sobre os decretos-leis de
desenvolvimento
Bases são matéria Inconstitucionalidade orgânica Inconstitucionalidade orgânica
reservada à AR • Governo não pode legislar sobre a matéria sem
que antes a AR emane uma lei de bases
• O decreto-lei do governo que contrarie a lei de
bases está ferido de inconstitucionalidade
orgânica
Bases são matéria Governo faz uso Ilegalidade por violação de lei Ilegalidade por violação de lei com
não reservada à da sua com valor reforçado valor reforçado
competência • o governo não pode emanar um decreto-
AR lei – nem simples nem de desenvolvimento -
legislativa derivada
(competência que contrarie a lei de bases
(art. 198.º/1/c) • Se o Governo não concorda com as
concorrente) bases já fixadas pela Assembleia, resta-
Governo faz uso Não há inconstitucionalidade lhe apresentar no parlamento uma
da sua nem ilegalidade proposta de lei de bases (artigo
competência 167.º/1).
legislativa originária
(art. 198.º/1/a)
• Para a tese da limitação do valor paramétrico, há que distinguir duas
situações:
– A situação em que o Governo emana um decreto-lei de desenvolvimento, isto
é, emana um decreto-lei ao abrigo da sua competência legislativa
derivada (artigo 198.º/1/c), e esse decreto-lei viola uma lei de bases já
existente = o decreto-lei de desenvolvimento é ilegal por violação de lei
com valor reforçado.
– A situação em que o Governo emana um decreto-lei simples, isto é, um
decreto-lei ao abrigo da sua competência legislativa originária (artigo
198.º/1/a), e esse decreto-lei contraria a lei de bases = não há qualquer vício,
nem ilegalidade nem inconstitucionalidade.
• Caso o Governo, na sequência da aprovação pela Assembleia da República de uma lei de bases
sobre uma matéria da competência legislativa concorrente, aprovar um decreto-lei de
desenvolvimento – ou seja, que aprove um decreto-lei ao abrigo da alínea c) do artigo
198.º da CRP – que contrarie o disposto na lei de bases – ilegalidade por violação de lei
com valor reforçado

• É que embora aquela lei de bases não esteja a coberto da reserva de competência
legislativa da Assembleia da República, se o Governo entender exercer apenas a
competência legislativa de desenvolvimento, coloca-se voluntariamente sob o
critério da parametricidade específica das leis de bases, devendo o decreto-lei lei de
desenvolvimento conformar-se com os limites impostos pelo acto legislativo do parlamento,
mesmo que não estivesse obrigado a fazê-lo.
• Trata-se de um caso de “auto-limitação do respectivo poder de conformação
legislativa” por parte do Governo.
POSIÇÃO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ( AC. 142/85 E 334/91)

• O Tribunal Constitucional inclina-se para a tese da


limitação do valor paramétrico da lei de bases,
embora com uma especificidade.
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

A Assembleia da República aprovou, ao abrigo da alínea c) do artigo 161.º e da alínea z) do n.º 1


do artigo 165.º, uma nova Lei de Bases do Solo, do Ordenamento do Território e do Urbanismo, em
cujo artigo 46.º/5 se pode ler o seguinte: ”Se os municípios não atualizarem os seus instrumentos
planeamento (por ex. PDM) no sentido de os adaptarem a planos hierarquicamente superiores,
suspendem-se as normas do plano que deveriam ter sido alteradas, não podendo, na área abrangida,
haver lugar à prática de atos ou operações que impliquem alteração do uso do solo”.
O Governo aprovou um decreto-lei, ao abrigo da alínea c) do n.º 1 do artigo 198.º, em que
dispôs o seguinte: “Para efeitos do artigo 46.º/5 da Lei de Bases do Solo, do Ordenamento do
Território e do Urbanismo, entende-se que o plano municipal só fica suspenso mediante decisão do
Governo”.
1. Pronuncie-se sobre a validade do decreto-lei do Governo.
Resolução:
• BASES SOBRE MATÉRIA RESERVADA DA AR (alínea z) do n.º 1 do artigo 165.º)

• Inconstitucionalidade orgânica. Governo não pode legislar sobre a matéria sem que antes a AR
emane uma lei de bases. O decreto-lei do governo que contrarie a lei de bases está ferido de
inconstitucionalidade orgânica
• Mesma solução para as duas teses.
Caso prático
A Lei n.º 107/2001 estabelece as "bases da política e do regime de proteção e
valorização do património cultural" (artigo 1.º). Neste diploma, estabelece-se que
o acesso aos bens culturais classificados deve ser tendencialmente gratuito.
O Governo, invocando a competência que lhe é atribuída pelo artigo 198.º/1/c)
da CRP, aprovou um Decreto-Lei que prevê que, com vista a garantir o
financiamento da conservação do património classificado, o mesmo só pode ser
visitado mediante o pagamento de uma quantia pecuniária a fixar
administrativamente, mas nunca inferior a 50€ por pessoa/visita.
• Quid iuris?
• O caso em apreço respeita à categoria de lei de bases e decretos-lei de desenvolvimento. As
leis de bases são leis da Assembleia da República que consagram as bases gerais ou os
princípios fundamentais de um determinado regime jurídico, deixando a cargo do executivo o
desenvolvimento ou concretização dessas mesmas (através de decretos de desenvolvimento).
• Questão fundamental que se coloca a propósito do desenvolvimento de uma lei de bases é a
de saber qual o sentido da primariedade material das leis de bases relativamente aos decretos-
leis de desenvolvimento:
– Posição de Jorge Miranda: o artigo 112.º/2 abrange quer as leis sobre matéria de reserva de
competência legislativa da Assembleia da República, quer matérias da competência concorrente.
– Posição de Gomes Canotilho (e do Tribunal Constitucional): existe, por força dos princípios da
tipicidade constitucional de competências e da competência concorrencial entre a Assembleia da
República e o Governo, uma limitação do valor paramétrico das leis de bases às matérias de
competência reservada da Assembleia da República.
• Ora, a matéria sobre a qual incide a lei de bases integra-se na reserva relativa da competência
legislativa da Assembleia da República, contemplada no artigo 165.º/1g) da CRP. Nessa medida,
verificando-se uma violação da lei de bases pelo decreto-lei de desenvolvimento do Governo, e
estando nós ante uma matéria de competência reservada da AR para legislar, estaremos então
perante uma inconstitucionalidade orgânica (por violação do disposto no art. 112.º/2
CRP).
Caso Prático
• Suponha que, na falta da Lei de Bases que define as bases de politica de ambiente, estão
atualmente em vigor no nosso ordenamento jurídico vários diplomas da Assembleia da
República dos quais é possível retirar os princípios básicos fundamentais que formam a
estrutura do sistema de proteção da natureza e do equilíbrio ecológico.
• Neste contexto, o Governo, exercendo a sua competência legislativa originária, ao abrigo do
artigo 198.º/1/a) da CRP, pretende criar um regime jurídico relativo à proteção das espécies
florestais nativas, que contraria o que se encontra disposto numa das referidas leis da
Assembleia da República.
• Pode fazê-lo? Justifique.
• No caso em apreço, inexiste qualquer Lei de Bases da Assembleia da República que, ao abrigo do
artigo 165.º, n.º 1, alínea g) da CRP, limite a liberdade de conformação do Governo na tarefa de
desenvolvimento dessas bases. Existe, sim, um quadro geral de princípios básicos fundamentais que
formam a estrutura do sistema de proteção da natureza e do equilíbrio ecológico que é passível de
ser retirado de um conjunto de diplomas legislativos. Queremos, pois, saber se o Governo, ao
legislar sobre a proteção das espécies florestais nativas, pode ou não contrariar o
disposto em Lei da Assembleia da República que, note-se, não é, em sentido formal, uma
Lei de Bases.
• Numa primeira análise, considerar-se-ia que, segundo o princípio da tendencial paridade ou igualdade
entre as leis e os decretos-leis (artigo 112.º, n.º 2, primeira parte da CRP), o Governo poderia alterar
ou até revogar o regime consagrado numa Lei da Assembleia da República.
• Contudo, e segundo a interpretação abrangente que o Tribunal Constitucional faz do que
se deve considerar-se a habilitação legal do Governo para legislar em matérias nas quais
o legislador reservou à Assembleia da República apenas a competência para fixar as
bases do regime jurídico, não é necessária a existência prévia de uma lei de bases “em
sentido formal”. Ou seja, não é necessário que exista um diploma que expressamente se
autointitule como lei de bases sobre a matéria, sendo suficiente a habilitação se, da
legislação em vigor (por exemplo, diversos artigos dispersos em diplomas legislativos do
parlamento) for possível extrair um conjunto de princípios e orientações gerais sobre a
matéria – veja-se, a este propósito, o disposto no acórdão n.º 334/91.
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

Leis de enquadramento
• Não se limitam a fixar as bases de um regime jurídico, antes visam regular efectivamente o
sector a que se referem, estabelecendo um regime jurídico global de regras e princípios.
• Ou seja, trata-se de leis que estabelecem os parâmetros jurídico-materiais estruturantes de
um determinado sector da vida económica, social ou cultural.
• Exemplos:
– lei-quadro do orçamento do Estado,
– lei-quadro das reprivatizações,
– lei-quadro da criação, modificação e extinção das autarquias locais,
– lei-quadro da criação das regiões administrativas,
– lei-quadro da adaptação do sistema fiscal às especificidades regionais,
– lei das finanças regionais
– lei das finanças locais.
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

Poder legislativo do governo (artigo 198.º)

• Autónomo - o Governo pode legislar, num vasto conjunto


de matérias, sem a autorização da Assembleia da República

• Normal - o Governo tem poder legislativo mesmo fora de


situações de urgência (ao contrário do que acontece, por ex.,
em Espanha ou em Itália).
Competência legislativa Decretos-leis

Originária ou independente Decretos-leis originários ou Art. 198.º/1/a - em matéria de competência


legislativa concorrente ou paralela.
simples Os decretos-leis podem alterar, suspender,
interpretar e revogar as leis da AR e vice-
versa.
A AR pode fazer cessar os diplomas
legislativos do Governo através do instituto
da apreciação parlamentar (artigo 169.º).

Art. 198.º/1/b e c e 3
Derivada ou dependente Decretos-leis autorizados (ao abrigo de uma lei
de autorização legislativa) e decretos-leis de
desenvolvimento (ao abrigo de uma lei de bases)

Exclusiva Reserva de decreto-lei Art. 198.º/2 - em matérias ligadas à sua


organização e funcionamento - Esta
reserva de competência legislativa do
Governo justifica-se em nome de um
princípio de auto-organização dos órgãos
de soberania, o qual encontra igualmente
expressão no artigo 175.º, desta feita para a
AR.
Os decretos-leis que o Governo emane ao
abrigo desta reserva não estão sujeitos a
apreciação parlamentar, nos termos do artigo
169.º, nem podem por outro modo ser
alterados ou revogados pela AR.
• O Governo assume, então, três tipos de competência legislativa distintos:
• Competência legislativa originária ou independente (artigo 198.º, n.º 1, al. a)
– em matérias não reservadas à AR, existe uma concorrência legislativa entre o Governo e a AR, podendo os
decretos-leis alterar, suspender, interpretar e revogar as leis da AR e vice-versa. Note-se, no entanto, que
como veremos infra, a AR pode fazer cessar os diplomas legislativos do Governo através do
instituto da apreciação parlamentar (artigo 169.º).
• Competência legislativa derivada ou dependente
– O governo é competente para emanar decretos-leis autorizados, ou seja, editados ao abrigo de uma lei de
autorização legislativa (artigo 165.º), em matérias de reserva relativa de competência da AR (artigo 198.º,
n.º 1, al. b); e para emanar decretos-leis de desenvolvimento nos termos das respectivas leis de bases
(artigo 198.º, n.º 1, al. c).
• Competência legislativa exclusiva (artigo 198.º, n.º 2).
– O Governo é exclusivamente competente no que concerne as matérias relativas à sua organização e
funcionamento. Uma tal reserva não se estende nem à organização dos serviços administrativos e ao
regime da função pública, nem à distribuição de competências entre os vários órgãos do Governo. Esta
reserva de competência legislativa do Governo justifica-se em nome de um princípio de auto-
organização dos órgãos de soberania, o qual encontra igualmente expressão no artigo 175.º, desta feita
para a AR.
– Os decretos-leis que o Governo emane ao abrigo desta reserva não estão sujeitos a apreciação
parlamentar, nos termos do artigo 169.º, nem podem por outro modo ser alterados ou
revogados pela AR.
A S P R I N C I PA I S FA S E S D O P R O C E D I M E N T O L E G I S L AT I V O G O V E R N A M E N TA L I N C L U E M :

1. a iniciativa, que pode partir de qualquer membro do Governo, sendo depois dirigida ao Secretário de Estado
da Presidência do Conselho de Ministros;
2. a instrução, que envolve a obtenção de pareceres facultativos ou obrigatórios, sendo obrigatórios nos casos
de transposição de actos da União Europeia (parecer obrigatório do Ministro dos Negócios Estrangeiros), de
actos legislativos que envolvam um aumento de despesa (parecer obrigatório do Ministro das Finanças) ou
de actos legislativos que envolvam um aumento de encargos administrativos (parecer obrigatório da Ministra
da Presidência e da Modernização Administrativa);
3. a circulação legislativa (os projectos vão a análise e comentário de todos os gabinetes ministeriais);
4. a discussão e aprovação em reunião de Conselho de Ministros;
5. os decretos que se destinem a ser promulgados como decretos-lei são enviados ao Presidente da República
para promulgação;
6. referenda ministerial do acto de promulgação do decreto-lei ex vi o disposto nos artigos 140.º/1 e 134.º/b)
da CRP;
7. publicação em DR - artigo 119.º/1c) da CRP.
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

Em 22 de dezembro de 2017, Governo e parceiros sociais celebraram um acordo de


concertação social, em que se previa o aumento do salário mínimo nacional para 557 euros
e a redução da taxa social única para as empresas em 1,25%. Em janeiro de 2018, o Governo
aprovou, em Conselho de Ministros, um decreto-lei concretizando a redução da TSU nos
termos previstos naquele acordo. Em seguida, o Decreto-lei foi promulgado pelo Presidente
da República e publicado em Diário da República, em 17 de janeiro de 2018.

Disporá a Assembleia da República, em caso de discordância política, de algum


instrumento capaz de fazer cessar a vigência do referido decreto-lei? Se sim, qual a
importância desse instrumento num contexto político como o atual?
APRECIAÇÃO PARL AMENTAR DOS DECRETOS -LEIS – ART. 169.º
• Mecanismo constitucional de controlo através do qual a Assembleia da República pode
fiscalizar o mérito dos decretos-leis do governo, com excepção dos decretos-leis emanados
ao abrigo da sua competência legislativa exclusiva (artigo 198.º/2).
• Também estão sujeitos a apreciação parlamentar pela Assembleia da República alguns
decretos legislativos regionais, concretamente os decretos legislativos regionais
autorizados (artigo 227.º/4).
• A apreciação parlamentar é uma manifestação da superioridade ou do primado do poder
legislativo da Assembleia da República.
– Ou seja, o Governo dispõe de amplo poder legislativo, valendo um princípio de tendencial paridade
entre leis e decretos-leis, mas o órgão legislativo por excelência é o parlamento.

A apreciação parlamentar permite à Assembleia da República controlar o poder


legislativo do governo sem ter de exercer, ela mesma, o seu poder legislativo.
• A apreciação parlamentar é um mecanismo constitucional específico de
controlo através do qual a AR pode fiscalizar o mérito político dos
diplomas legislativos do Governo, alterando-os, suspendendo-os ou
fazendo cessar a sua vigência.
• Não estão sujeitos a apreciação parlamentar os decretos-leis do
Governo em matéria da sua competência legislativa exclusiva (artigo
169.º, n.º 1).
• Só os deputados podem chamar os decretos-leis à
apreciação da AR (conjunto de 10 deputados) e não
também os grupos parlamentares, e devem fazê-lo no
prazo de 30 dias após a publicação
• A sujeição de um decreto-lei a apreciação parlamentar pode ter um de dois desideratos: a
alteração ou a cessação da respectiva vigência.
– No primeiro caso, abre-se um procedimento legislativo específico, que se inicia com uma proposta de
alteração ao decreto-lei em apreciação;
– A cessação da vigência traduz-se na revogação do decreto-lei. Esta revogação assume a forma de
resolução (artigo 169.º, n.º 4) e deve ser publicada em Diário da República; produz, via de regra, efeitos ex
nunc, embora a AR possa, através de lei autónoma, neutralizar retroactivamente os efeitos de um decreto-
lei recusado (v. ac. 461/87), e tem efeitos repristinatórios, ou seja, repõe em vigor a lei revogada pelo
decreto-lei que agora se aprecia.

• Nos n.º 2 e 3, prevê-se a figura da suspensão da vigência de um decreto-lei. Tal suspensão está
sujeita a pelo menos dois requisitos:
(1) ter sido o decreto-lei em causa emanado ao abrigo de uma lei de autorização
legislativa; (2) terem sido apresentadas propostas de alteração ao mesmo.
A suspensão manter-se-á até à publicação da lei que o vier a alterar ou até à rejeição de todas as
propostas de alteração, verificando-se porém a caducidade da suspensão se, decorridas dez sessões
plenárias, a AR não se tiver pronunciado sobre as propostas de alteração.
Apreciação parlamentar de actos legislativos
(artigo 169.º CRP)
Finalidade Controlar politicamente a actividade legislativa do Governo
(expressão do primado legislativo da AR)
Legitimidade Deputados (10)

Prazo 30 dias subsequentes à data da publicação do decreto-lei em Diário


da República (art. 169.º/1)
Finalidade • Alteração do decreto-lei (art. 169.º/2 e 5)

• Cessação da vigência do decreto-lei (art. 169.º/4 e 5)

• Suspensão da vigência do decreto-lei (art. 169.º/2 e 3)


SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

a) O valor reforçado das leis de autorização consiste no facto de todas elas


carecerem de uma maioria qualificada de 2/3 dos deputados para a sua
aprovação.

b) O princípio da irrepetibilidade não se aplica às leis de bases.

c) São atos legislativos as leis, os decretos-leis e os decretos regulamentares.


SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

a) As leis orgânicas carecem de aprovação, na votação final global, por uma maioria
de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções.

b) Para superação do veto político incidente sobre leis orgânicas, exige-se uma
maioria menos exigente do que para a superação do veto político incidente sobre as
demais leis.

c) O veto político incidente sobre decretos-leis é sempre definitivo.


SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

a) Os decretos legislativos regionais são atos legislativos emanados pelos


Governos Regionais.

b) Em matérias da sua competência exclusiva, a iniciativa de lei pertence


apenas à Assembleia da República.

c) A competência para a aprovação de decretos-leis cabe ao Conselho de


Ministros.
Art. 200.º, n.º 1, al. d)
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

a) Só algumas leis orgânicas têm valor reforçado.

b) O valor reforçado das leis orgânicas significa que todas elas servem de
parâmetro normativo-material a outros atos legislativos.

c) Nem todas as leis orgânicas são votadas na especialidade pelo Plenário.


SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

a) Entre nós, o Governo só goza de poder legislativo quando autorizado pela


Assembleia da República.

b) Os decretos-leis nem sempre podem alterar, revogar ou suspender as leis.

c) Com exceção dos decretos-leis elaborados no uso de autorização


legislativa, todos os decretos-leis do Governo podem ser objecto de
apreciação parlamentar.
SEGUNDA PARTE – FONTES DE DIREITO

a) Todas as leis orgânicas são votadas na especialidade em plenário.

b) Em matérias da sua competência exclusiva, a iniciativa de lei pertence


apenas à Assembleia da República.

c) Nas leis orgânicas, a superação do veto político, através de


confirmação, não se basta com uma maioria absoluta dos Deputados em
efetividade de funções.
• Em 3 de janeiro de 2018, o Governo solicitou à Assembleia da República uma autorização
para legislar sobre o regime das finanças locais. Em 14 de fevereiro, a Assembleia da República
emanou a necessária lei, autorizando o Governo a legislar sobre aquela matéria até de 3 abril
de 2018. Em 6 de março, o Governo aprovou o referido diploma em Conselho de Ministros.
No entanto, o Presidente da República decidiu não promulgar o Decreto-lei, exercendo o seu
poder de veto político.
• Em 29 de março, ao abrigo da mesma lei de autorização, o Conselho de Ministros aprovou
um novo Decreto-lei, recebido para promulgação no dia 4 de abril de 2018.
– Pronuncie-se sobre o procedimento legislativo acima descrito, qualificando o (s) eventual (ais) vício
(s) em causa.

Lei de autorização legislativa (definição e requisitos/limites), vícios do decreto-lei autorizado: defeito de


autorização (inconstitucionalidade orgânica); Princípio da irrepetibilidade (art. 165.º, n.º 3 CRP);
momento relevante para o controlo dos limites temporais (posição do curso e posições alternativas).
• A Ministra das Finanças apresentou à Assembleia da República um projeto de
lei sobre o regime de finanças das Regiões Autónomas. Este projeto foi
discutido e votado, na especialidade, em comissões parlamentares
especializadas, e aprovado, na votação final global, por maioria simples dos
Deputados em efetividade de funções.
– Quid iuris? Na sua resposta, explique também o que pode acontecer ao
diploma uma vez recebido pelo Presidente da República.
• - Procedimento legislativo parlamentar comum, fase da iniciativa de lei (artigo 167.º, n.º 1); os atos de iniciativa
de lei do Governo são designados “propostas de lei” e não “projetos de lei”, e a sua aprovação é da
competência do Conselho de Ministros e não dos Ministros (artigo 200.º, n.º 1, al. c) da Constituição);
• - Leis orgânicas: princípio da tipicidade (artigo 166.º, n.º 2 da Constituição); as finanças regionais como uma
matéria que deve ser disciplinada através de lei orgânica (art. 166.º, n.º 2, conjugado com o art. 164.º, al. t), da
Constituição); leis orgânicas como leis sujeitas a uma reserva total de normação (exceção à reserva total de
normação); leis orgânicas como leis com valor reforçado (artigo 112.º, n.º 3) – critério da forma e do
procedimento específicos; enunciação das especificidades relativamente ao procedimento legislativo
parlamentar comum e identificação daquelas que não estão a ser cumpridas in casu (referência ao facto de a lei
orgânica relativa às finanças das Regiões Autónomas não ser uma daquelas que carece de ser votada na
especialidade em Plenário – cfr. artigo 168.º, n.º 4, da Constituição);
• - Receção do diploma pelo Presidente da República (fase do controlo) – artigo 136.º da Constituição; regime
regra: possibilidade de promulgação, envio para o Tribunal Constitucional em sede de fiscalização abstrata
sucessiva (artigo 278.º, n.º 1, da Constituição), e veto político (características); superação mediante confirmação
da AR por uma maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (artigo 136.º, n.º 2 da Constituição);
tratando-se de uma lei orgânica: alargamento da legitimidade processual ativa em sede de fiscalização abstrata
preventiva (artigo 278.º, n.º 4, da Constituição); superação do veto político do PR através de confirmação
mediante maioria qualificada de 2/3 dos deputados presentes desde que superior à maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções (artigo 136.º, n.º 3, da Constituição)
• Matéria dos Regulamentos não será abordada na aula prática.

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