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Construção Civil

Legislação

Maria João Carreira


O processo de formação das normas

a) As leis e os decretos-leis
A lei emerge do poder legislativo da Assembleia da República, órgão legislativo por excelência, conforme
consagra a CRP nos art.os 161.º c) Fazer leis sobre todas as matérias, 164.º matérias de reserva absoluta de
competência e 165.º matérias de reserva relativa de competência.
Por sua vez, os decretos-leis são criados pelo Governo, no exercício do seu poder legislativo. No entanto, a
atividade legislativa do Governo é uma atividade algo condicionada, senão vejamos:
a) Quando se trata de matérias não reservadas à Assembleia da República, o Governo pode, através de
decretos-leis, e em concorrência com a Assembleia da República, legislar sobre essa matéria –
competência concorrente do Governo e da Assembleia da República (cfr. o art.º 198.º n.º 1 als. a) e
b) da CRP, (…) fazer decretos-leis em matérias não reservadas à Assembleia da República (a);
Fazer decretos-leis em matérias de reserva relativa da Assembleia da República, mediante autorização
desta (b);
O processo de formação das normas

b) Quando se trata de matérias sujeitas a reserva relativa da Assembleia da República, o Governo


necessita de autorização legislativa daquela, só podendo legislar depois de obtido o diploma de
autorização (lei de autorização legislativa)) e os decretos-leis estão subordinados, nestes casos, aos limites
estabelecidos pelas respetivas leis de autorização – competência legislativa concorrente mas dependente
(art.ºs 165.º n.ºs 2, 3 e 4 da CRP, (…) As leis de autorização legislativa devem definir o objeto, o sentido, a
extensão e a duração da autorização, a qual pode ser prorrogada n.º 2).
As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez, sem prejuízo da sua execução
parcelada n.º 3).
As autorizações caducam com a demissão do Governo a que tiverem sido concedidas, com o termo da
legislatura ou com a dissolução da Assembleia da República (n.º 4).
O processo de formação das normas

c) Quando se tratar de matérias respeitantes à própria organização e funcionamento do Governo, este


pode legislar sem qualquer dependência da Assembleia da República – competência exclusiva art.º 198.º
n.º 2 da CRP, (…) É da exclusiva competência legislativa do Governo a matéria respeitante à sua própria
organização e funcionamento.
Processo de formação da lei

Tal como previsto e formulado na CRP o processo de formação de uma lei consta de três fases:

1) Iniciativa legislativa
2) Discussão e Aprovação
3) Promulgação, Referenda e Publicação
1) Iniciativa legislativa
A iniciativa legislativa cumpre aos deputados, aos grupos parlamentares através de projeto de lei (iniciativa
parlamentar), ao Governo por via de proposta de lei (iniciativa governamental), e ainda a grupos de cidadãos
eleitores;
No que concerne às regiões autónomas, tal iniciativa cabe às assembleias legislativas regionais, através de
proposta de lei (iniciativa regional), nos termos do art.º 167.º n.º 1 da CRP.

2) Discussão e Aprovação
Entregue o projeto ou proposta de lei na Assembleia da República, sendo este aceite e inscrito na ordem do
dia do Parlamento, haverá uma apresentação perante o Plenário, podendo, então, os deputados apresentar
propostas de alteração (emenda, substituição, aditamento ou eliminação).
As propostas ou projetos de lei, uma vez admitidos, são remetidos às comissões permanentes especializadas
que deverão elaborar parecer devidamente fundamentado, podendo, inclusive, sugerir ao Plenário, a título
de substituição, outro texto para o projeto ou proposta de lei. Estas comissões podem, igualmente, se o
Plenário assim decidir, e com respeito pelas restrições estabelecidas no art.º 168.º da CRP, votar na
especialidade os textos já aprovados na generalidade.
No Plenário, tanto a discussão como a votação passam primeiro pela generalidade (a discussão incide sobre
os princípios e o sistema de cada projeto ou proposta de lei e a votação recai sobre cada um dos diplomas
apresentados) e, posteriormente, pela especialidade ( a discussão versa sobre cada artigo e a votação incide
sobre cada um dos artigos, números ou alíneas); estando, ainda, prevista a votação final e global.
Processo de urgência
Para além do processo legislativo ordinário, há ainda o processo de urgência, que se encontra previsto no
art.º 170.º da CRP, e no qual se pode dispensar o exame em comissão ou reduzir-se o respetivo prazo, limitar-
se o número de intervenções e uso da palavra pelos deputados e Governo e dispensar-se o envio à comissão
para redação final.

1. A Assembleia da República pode, por iniciativa de qualquer Deputado ou grupo parlamentar, ou do


Governo, declarar a urgência do processamento de qualquer projeto ou proposta de lei ou de resolução.
2. A Assembleia pode ainda, por iniciativa das Assembleias Legislativas das regiões autónomas, declarar a
urgência do processamento de qualquer proposta de lei por estas apresentada.
3) Promulgação, Referenda e Publicação
A promulgação é o ato através do qual o Presidente da República declara que um determinado diploma,
elaborado por um órgão constitucional competente, passa a valer como lei.
Finalidade da promulgação: Controlo jurídico formal e material dos atos praticados no exercício do poder
legislativo.
Em virtude desses poderes de controlo o Presidente da República pode, pois, exercer o Direito de veto, se
considerar que determinada medida legislativa é inconstitucional, não a promulgando.
Sem a promulgação, as leis não têm qualquer valor, sendo mesmo consideradas como inexistentes.
No caso de ter exercido o Direito de veto, o Presidente da República deve solicitar nova apreciação do
diploma em mensagem fundamentada (cfr. o art.º 136.º n.º 1 da CRP).
No prazo de vinte dias contados da receção de qualquer decreto da Assembleia da República para ser
promulgado como lei, (…) deve o Presidente da República promulgá-lo ou exercer o direito de veto, solicitando
nova apreciação do diploma em mensagem fundamentada.
3) Promulgação
Se, mesmo assim, a Assembleia da República confirmar o voto por maioria absoluta dos Deputados em
efetividade de funções, então o Presidente da República deverá promulgar o diploma no prazo de oito dias a
contar da data em que o recebeu para promulgação (n.º 2 do art.º 136.º da CRP).
Porém, as matérias, relativas às Relações externas (a); Limites entre o sector público, o sector privado e o
sector cooperativo e social de propriedade dos meios de produção (b); e Regulamentação dos atos eleitorais
previstos na Constituição, que não revista a forma de lei orgânica, é exigida uma maioria qualificada, isto é,
não basta a maioria absoluta, é necessária a maioria de 2/3 dos Deputados presentes, desde que superior à
maioria absoluta dos Deputados em efetividade de funções (n.º 3 do art.º 136.º da CRP).
3) Referenda
O Primeiro-Ministro, em representação do Governo, tem de referendar a promulgação do Presidente da
República, sob pena de inexistência jurídica da lei, nos termos do art.º 140.º da CRP.

3) Publicação
É o meio de levar a lei ao conhecimento geral dos cidadãos, sendo a partir daquele ato que a lei tem
existência jurídica.
As leis são publicadas no jornal oficial – Diário da República – conforme decorrência do art.º 119.º da CRP, e
nas Regiões Autónomas nos respetivos Jornais Oficiais.
A publicação determina a eficácia jurídica do diploma.
Processo de formação do decreto-lei

A elaboração de um decreto-lei passa pelas seguintes fases:

1) Iniciativa governamental

2) Promulgação e Referenda ministerial

3) Publicação e Ratificação
1) Iniciativa governamental
O decreto-lei tem a sua proveniência exclusiva no Governo, no órgão executivo, que legisla em conformidade
com as suas necessidades e sensibilidades governativas.
Assim, salvo se for matéria de competência exclusiva do Governo, este, no que respeita às matérias do art.º
165.º n.º 1 da CRP, necessita de pedir autorização legislativa à Assembleia da República para poder legislar
dentro dos limites definidos, e no prazo que for estabelecido na aludida autorização, podendo, contudo, este
último ser prorrogado (cfr. o art.º 165.º n.º 2 da CRP).

As leis de autorização legislativa devem definir o objeto, o sentido, a extensão e a duração da autorização, a
qual pode ser prorrogada.
2) Promulgação e Referenda ministerial
A proposta de decreto-lei é apresentada e aprovada em Conselho de Ministros, sendo posteriormente enviada
para promulgação ao Presidente da República.

O Presidente da República ao receber o diploma pode promulgá-lo, exercer o direito de veto ou requerer ao
tribunal Constitucional a apreciação preventiva da sua constitucionalidade (vide o art.º 136.º n.º 4 da CRP).

Se o Presidente da República exercer o seu direito de veto, deve devolver o diploma ao Governo e comunicar-lhe,
por escrito, o sentido do seu veto, e, se assim o entender, o Governo poderá reformular o diploma acatando o
sentido de veto.

No prazo de quarenta dias contados da receção de qualquer decreto do Governo para ser promulgado, ou da
publicação da decisão do Tribunal Constitucional que não se pronuncie pela inconstitucionalidade de norma dele
constante, deve o Presidente da República promulgá-lo ou exercer o direito de veto, comunicando por escrito ao
Governo o sentido do veto, (vide o n.º 4 do art.º 136.º da CRP).
2) Referenda ministerial
Após promulgação o decreto-lei é sujeito a referenda ministerial, nos termos do art.º 140.º da CRP.

A referenda ministerial nada mais é do que a aposição da expressão: de acordo por parte do Primeiro-
Ministro, em decreto presidencial, quando a matéria do decreto se refere a temas vinculados a
pasta ministerial.
3) Publicação e Ratificação
Os decretos-leis, tal como as leis da Assembleia da República, têm de ser publicados na 1.ª série do Diário da
República.

Depois de publicados, os decretos-leis que não tenham sido aprovados no exercício da competência
legislativa exclusiva do Governo, podem ser sujeitos à apreciação da Assembleia da República para efeitos de
recusa de ratificação, ou de alteração do texto, a requerimento de dez deputados, nos 30 dias subsequentes
à publicação, descontados os períodos de suspensão do funcionamento da Assembleia da República (cfr. o
art.º 169.º n.º 1 da CRP).
3) Publicação e Ratificação
Requerida a referida apreciação, e no caso de serem apresentadas propostas de alteração, a Assembleia
poderá suspender, no todo ou em parte, a vigência do decreto-lei.
Tal suspensão durará até à publicação da lei que vier alterar o decreto-lei ou até à rejeição das propostas
apresentadas (art.º 169.º n.º 2 da CRP). Tal suspensão caduca se decorridas dez reuniões plenárias a
Assembleia não se pronunciar sobre a ratificação.

Por sua vez, caduca o processo de ratificação se, requerida a apreciação, a Assembleia não se tiver sobre ela
pronunciado ou, havendo deliberado introduzir emendas, não tiver votado a respetiva lei até ao termo da
sessão legislativa em curso, desde que decorridas quinze reuniões plenárias.
Início e termo de vigência

a) Publicação
O art.º 119.º da CRP, sob a epígrafe Publicidade dos atos – elenca nas suas diversa alíneas [a) a i)], os atos
sujeitos a publicitação no jornal oficial.

Começo e vigência da lei

Art.º 5.º do Código Civil

A lei só se torna obrigatória depois de publicada no jornal oficial.


Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei fixar ou, na falta de fixação, o que
for determinado em legislação especial.
Publicação dos diplomas

Art.º 1.º da Lei n.º 74/98, de 11 de novembro republicada pela Lei n.º 43/2014, de 11 de julho
Publicação dos diplomas
1 - A eficácia jurídica dos atos a que se refere a presente lei depende da sua publicação no Diário da
República.
2 - A data do diploma é a da sua publicação, entendendo-se como tal a data do dia em que o Diário da
República se torna disponível no sítio da Internet gerido pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda, S. A..

Art.º 2.º
Começo de vigência
1 - Os atos legislativos e os outros atos de conteúdo genérico entram em vigor no dia neles fixado, não
podendo, em caso algum, o início da vigência verificar-se no próprio dia da publicação.
2 - Na falta de fixação do dia, os diplomas referidos no número anterior entram em vigor, em todo o território
nacional e no estrangeiro, no quinto dia após a publicação.
b) Vacatio Legis
O período de tempo que decorre entre a data da publicação e a data da entrada em vigor designa-se de
vacatio legis. É um período de tempo em que o diploma legal está em “descanso”, pois juridicamente já
existe, mas não surte qualquer efeito, por ainda não estar em vigor.
Finalidade
Serve para que os destinatários da lei – os cidadãos – tomem conhecimento da existência do diploma e das
condições da sua aplicação.
Ex: Os decretos-leis n.ºs 329-A/95, de 12 de dezembro, e 180/96, de 25 de setembro, que vieram alterar
profundamente o Código de Processo Civil, foram publicados no Diário da República n.º 285/95, suplemento
1.ª Série - A, de 12 de dezembro de 1995 e 223/96, 1.ª Série - A, de 25 de setembro de 1996, respetivamente,
somente entraram em vigor em 1 de janeiro de 1997, dado que as alterações foram profundas, quase que
originando um novo código, e os seus destinatários, nomeadamente os técnicos do direito, precisavam de
algum tempo para estudarem as modificações operadas.
O período de Vacatio Legis pode ser maior ou menor, consoante a lei em causa, podendo mesmo, caso assim
determine o legislador, a lei entrar imediatamente em vigor após a sua publicação, não existindo qualquer
Vacatio Legis.
Quando o legislador no próprio diploma nada refere quanto à data da sua entrada em vigor, segue-se o
estabelecido na legislação especial sobre o começo da vigência da lei.
Ou seja, “ (…) entram em vigor, no quinto dia após a publicação. [art.º 2.º da Lei n.º 74/98, de 11 de
novembro].
c) Caducidade e Revogação da lei

Art.º 7.º do Código Civil


Cessação da vigência da lei
1. Quando se não destine a ter vigência temporária, a lei só deixa de vigorar se for revogada por outra lei.
2. A revogação pode resultar de declaração expressa, da incompatibilidade entre as novas disposições e as
regras precedentes ou da circunstância de a nova lei regular toda a matéria da lei anterior.
3. A lei geral não revoga a lei especial exceto, se outra for a intenção inequívoca do legislador.
4. A revogação da lei revogatória não importa o renascimento da lei que esta revogara.

Da análise à norma supra, verifica-se duas possibilidades legalmente previstas de cessação da vigência da lei:

1. A caducidade e
2. A revogação
1. Caducidade

Podemos falar de caducidade da lei quando:


 Estamos perante uma lei temporária ( criadas para vigorar durante num determinado período de tempo,
podendo o seu termo de vigência ser certo, se for fixada, desde logo, uma data determinada para a lei
deixar de vigorar; ou ser incerto, se se condicionar o término da lei à verificação de um determinado
facto, designadamente a existência de uma nova lei, ou se for para vigorar enquanto se mantiver um
certo estado de coisa, ex. estado de emergência ou calamidade), e é o próprio diploma que determina a
data em que o mesmo deixará de vigorar.
 Estamos perante uma lei temporária que determina a sua vigência até à data em que será revista por
outro diploma legal.
 Estamos perante uma lei que se destina a regular uma determinada realidade e esta, definitivamente,
deixa de existir, tornando inútil a lei então existente.
2. Revogação

A revogação da lei pressupõe a entrada em vigor de uma nova lei em substituição da lei já existente. Neste
caso pode tratar-se de:

 Revogação expressa se a nova lei diz expressamente que a lei existente está revogada.
 Revogação tácita se existir incompatibilidades entre as disposições novas e as disposições antigas ou se a
nova lei vier regulamentar toda a matéria da lei anterior.
 Revogação total (ab-rogação) se a nova lei vem substituir, por completo, a lei anterior.
 Revogação parcial (derrogação) se a lei nova só vem alterar alguns normativos da lei anterior.

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