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Caso prático

Na sequência de cheias que inundaram toda a zona baixa da cidade de Lisboa, imagine que:

1. A Assembleia da República aprova uma lei que requisita todos os barcos de recreio dos munícipes
lisboetas durante o dia seguinte para resgate de pessoas e bens submersos;
2. A Assembleia da República aprova uma lei que regula a requisição de barcos de residentes de zonas
afetadas para resgate de pessoas e bens submersos.
a. Discussão sobre a qualificação da situação para eventual aplicação do artigo 19.º e/ou
situação de colisão direitos/bem do Estado ou da sociedade;
b. O direito de propriedade (62º) como direito análogo aos DLG e aplicação do regime do
artigo 18.º ex vi artigo 17º.
c. A falta de abstração da lei; suscetibilidade de uma lei sem abstração restritiva de direitos;
discussão do conceito de lei medida; discussão de outros requisitos do artigo 18.º.
3. O Primeiro-Ministro, reunido de emergência com o Ministro das Finanças, o Ministro Adjunto e dos
Assuntos Parlamentares, o Ministro da Solidariedade e Segurança Social e o Secretário de Estado
Adjunto do Primeiro-Ministro, foi informado da existência de uma grande carência de fundos para
cobrir as necessidades de pagamento dos subsídios de desemprego. Logo ali é decidido aprovar um
decreto-lei que procede a cortes adicionais na despesa, diminuindo o valor dos subsídios, com
efeito imediato.
a. Composição do Conselho de Ministros e quórum de funcionamento e deliberativo;
b. Competência para aprovação de DL/comparação com dispositivo travão.
4. O decreto-lei é enviado para o Presidente da República no dia 2 de maio que o decide enviar para o
Tribunal Constitucional no dia 6 de maio por este não ter sido assinado pelo Ministro da Economia e
do Emprego.
a. Competências do PR quanto a promulgação e envio para o TC; prazos; qualificação de
vícios; aplicação de normas processuais; eventuais fundamentos do pedido.
5. O Tribunal Constitucional vem a pronunciar-se, no dia 14 de maio no sentido da sua
inconstitucionalidade por violação do direito de propriedade. O Presidente da República veta o
diploma e devolve-o ao Governo, que o confirma, por maioria absoluta dos ministros presentes no
conselho de ministros. O Presidente da República promulga o diploma confirmado, por entender
que estava obrigado a fazê-lo, mas decide solicitar, de imediato, a fiscalização sucessiva da sua
constitucionalidade.
a. Prazos de decisão do TC; consequências da decisão do TC em matéria de fiscalização
preventiva nos termos do artigo 279.º; insusceptibilidade de confirmação pelo Governo;
discussão da atitude do PR; o pedido de fiscalização preventiva não preclude eventuais
pedidos futuros de inconstitucionalidade.
6. Indignados com a medida, os Deputados da oposição anunciaram que iriam fazer todos os possíveis
para fazer cessar a vigência do decreto-lei.
a. Suscetibilidade de apreciação parlamentar do DL; suscetibilidade de pedido de fiscalização
sucessiva da constitucionalidade.
7. Almerinda Abelho Alcoforado, jurista desempregada que beneficiava do subsídio de desemprego,
considera que a redução é inconstitucional por violação do princípio da tutela da confiança e
pretende reagir à redução do seu montante.
a. Sistema de fiscalização jurisdicional difusa: procedimento e efeitos; suscetibilidade de
queixa a entidade com legitimidade para desencadear pedido de fiscalização abstrata
sucessiva.
Caso prático
1. No dia 9 de maio de 2019, a Assembleia da República aprovou, por maioria absoluta dos seus
deputados em efetividade de funções em votação final global, uma proposta de lei de bases sobre o
regime das forças policiais.
a. Iniciativa – artigo 167º CRP – e aprovação
b. Identificação da matéria: artigo 164º alíneas u)
c. Procedimento – artigos 116º e 168º
2. A mesma contemplava, no seu artigo 3.º, que os membros das forças policiais não poderiam
pertencer a qualquer sindicato.
a. Artigo 164º alínea o)
b. Análise e discussão substancial relativa aos direitos fundamentais de militares e agentes
militarizados e agentes de serviços e forças de segurança: liberdade de associação sindical
(artigos 46.º e 55.º CRP) e possibilidade de restrição (artigos 18.º, 270.º e 164.º o)
3. A referida Lei de Bases continha ainda, no seu artigo final, uma autorização legislativa às Regiões
Autónomas da Madeira e dos Açores, estabelecendo que as mesmas estavam autorizadas a legislar,
para o âmbito regional, sobre a mesma questão, no prazo de um ano.
a. Competência legislativa regional e competência autorizada (112.º, 227.º, maxime 1/b) e
228.º)
b. Regime das autorizações legislativas (maxime 165.º/2)
4. O Governo veio a aprovar também um Decreto-Lei de desenvolvimento, estabelecendo o artigo 3.º
que os membros da Guarda Nacional Republicana se encontravam excecionados da proibição
referente à integração em sindicatos.
a. Leis de bases e seu desenvolvimento - 112.º/2 e 198.º/1/c) e 3
b. Procedimento legislativo governamental – promulgação (136.º/4), referenda (140.º) e
publicação (119.º) e consequências da sua falta
5. Tendo recebido o referido decreto para ser promulgado como Decreto-Lei (DL), o Presidente da
República decidiu promulgá-lo devido a urgência invocada pelo Governo, mas, logo após a sua
promulgação e antes da sua entrada em vigor, decidiu solicitar ao Tribunal Constitucional (TC) a
fiscalização da constitucionalidade do artigo 3.º por violação do princípio da igualdade
a. Legitimidade e requisitos temporais da fiscalização preventiva e da fiscalização sucessiva
abstrata; prazos; qualificação de vícios; aplicação de normas processuais; eventuais
fundamentos do pedido;
b. Artigo 270.º e Princípio da igualdade (artigo 13.º CRP)
6. O TC decidiu ao fim de 5 meses não declarando a inconstitucionalidade da norma.
a. Efeitos do acórdão do Tribunal Constitucional
7. O Provedor de Justiça voltou de novo a solicitar a intervenção do TC por entender existir um caso de
inconstitucionalidade por omissão quanto a outros membros das forças de segurança.
a. Sistema de fiscalização da constitucionalidade por omissão: legitimidade, pressupostos e
procedimento.
Caso prático
1. Em 15 de março de 2017, o Governo apresentou um projeto de lei de autorização legislativa à
Assembleia da República para regular o exercício do direito de manifestação por profissionais da
PSP e da GNR, com o objetivo de tornar esse direito dependente de uma autorização do Ministro da
Administração Interna.
a. Matéria de reserva absoluta e lei orgânica
2. Apreciado na generalidade, o projeto de autorização legislativa foi aprovado por larga maioria, com
o voto favorável de 149 deputados, o voto contra de 30 e a abstenção dos restantes. Em seguida, a
comissão parlamentar competente apreciou o projeto de autorização legislativa e introduziu uma
modificação, explicitando que a autorização legislativa tinha de ser exercida no prazo máximo de 90
dias, quando antes não existia qualquer prazo para a mesma.
a. Apreciação substantiva
b. Apreciação do procedimento legislativo
c. Caducidade da eventual autorização
3. O projeto foi depois aprovado em votação final global através do voto favorável de 151 deputados,
o voto contra de 22 e a abstenção dos restantes.
4. O decreto foi enviado ao Presidente da República para promulgação que o promulgou ao fim de 20
dias. O decreto foi então referendado pelo Primeiro-Ministro e publicado no Diário da República a
15 de maio de 2017.
a. Apreciação de promulgação (possibilidade e prazo) e referenda (objeto) e publicação
5. Porém, face a um péssimo resultado eleitoral autárquico, o Primeiro-Ministro apresentou ao
Presidente da República a sua demissão em 20 de junho de 2017, a qual foi aceite pelo Presidente.
6. Na audiência concedida onde o Primeiro-Ministro apresentou a demissão, o Presidente manifestou-
lhe a importância em executar a autorização legislativa ainda pendente, pois a mesma era de
relevância crucial.
7. Assim, logo na semana seguinte, o Conselho de Ministros aprovou um decreto para ser publicado
como decreto-lei onde se visava cumprir a autorização legislativa em causa, onde se determinou
que o direito de manifestação por profissionais da PSP e da GNR poderia ser exercido se fosse
autorizado por despacho conjunto do Ministro da Defesa Nacional e do Ministro da Administração
Interna.
8. O Presidente da República, porém, teve dúvidas acerca da constitucionalidade deste decreto e
decidiu vetá-lo. Face a esse veto, o Conselho de Ministros decidiu voltar a aprová-lo e a submetê-lo
ao Presidente, que o promulgou.
a. Distinção entre motivação do veto político e do envio para o TC
b. Veto e recusa de promulgação de norma com fundamento em inconstitucionalidade não
são conceitos equivalentes
c. Impossibilidade de confirmação
9. Em outubro de 2017, Adosindo, militar da GNR, foi detido por participar numa manifestação.
Condenado após julgamento, decidiu então recorrer para o Tribunal Constitucional alegando a
inconstitucionalidade da norma.
a. Explanação do sistema e pressupostos de fiscalização sucessiva concreta
Caso prático
1. Em 31 de Abril de 2017, o Primeiro-Ministro, reunido de emergência com o Ministro das Finanças, o
Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, o Ministro da Solidariedade e Segurança Social e o
Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, foi informado da existência de uma grande
carência de fundos para cobrir as necessidades de pagamento dos subsídios de desemprego. Logo
ali é decidido aprovar um decreto lei que procede a cortes adicionais na despesa, diminuindo o
valor dos subsídios, com efeito imediato, para os cidadãos da Madeira e Açores. O diploma é
enviado para o Presidente da República no dia 2 de maio que o decide enviar para o Tribunal
Constitucional no dia 6 de maio por este não ter sido assinado pelo Ministro da Economia e do
Emprego.
a. Identificação da matéria e dos direitos em causa
b. Princípio da igualdade quanto à aplicação às RA
c. Competência para promulgação e envio ao TC
2. O Tribunal Constitucional vem a pronunciar-se, no dia 14 de maio no sentido da sua
inconstitucionalidade por violação do direito de propriedade. O Presidente da República veta o
diploma e devolve-o ao Governo, que o confirma, por maioria absoluta dos ministros presentes no
conselho de ministros. O Presidente da República promulga o diploma confirmado, por entender
que estava obrigado a fazê-lo, mas decide solicitar, de imediato, a fiscalização sucessiva da sua
constitucionalidade.
a. Discussão dos efeitos da pronúncia de inconstitucionalidade na fiscalização preventiva da
constitucionalidade
b. Distinção face aos pressupostos e requisitos da fiscalização sucessiva abstrata
3. Indignados com a medida, os Deputados da oposição anunciaram que iriam fazer todos os possíveis
para fazer cessar a vigência do decreto-lei. Almerinda Abelho Alcoforado, jurista desempregada que
beneficiava do subsídio de desemprego, considera que a redução é inconstitucional por violação do
dever de assistência do Estado e pretende lançar mão de um processo de inconstitucionalidade por
omissão.
a. Possibilidade de lançar mão da apreciação parlamentar?
b. Possibilidade de lançar mão da fiscalização sucessiva abstrata?
c. Pressupostos da fiscalização da constitucionalidade por omissão
Caso prático
1. A Assembleia da República aprovou, em 2012, a Lei X, que estabelece limites à renovação sucessiva
de mandatos dos presidentes dos órgãos executivos das autarquias locais. O referido diploma havia
sido proposto pela ALRM e foi aprovado com 200 votos a favor, 20 votos contra e 20 abstenções. De
acordo com o artigo 1.º, n.º 1, do referido diploma: “O presidente de câmara municipal e o
presidente de junta de freguesia não podem ser reeleitos para um segundo mandato consecutivo”.
O Presidente da República vetou o diploma, mas o mesmo veio a ser confirmado pela Assembleia da
República.
a. A iniciativa da ALR não é possível porque não respeita a matéria de âmbito regional –
dúvidas na doutrina quanto ao 167º/1 da CRP
b. Identificação da matéria – 164ºl), que reveste a forma de lei orgânica nos termos do artigo
166º/2 da CRP
c. Discussão da solução material face ao artigo 118º CRP e ao regime de restrições e aos
requisitos do artigo 18º da CRP
d. Especificidades de formação e discussão de vícios de inconstitucionalidade em resultado da
qualificação como lei orgânica
e. Explanação da natureza reforçada da lei
f. Veto do Presidente da República de lei orgânica – maioria e tempo: explanação
g. Discussão da promulgação ou veto vedado
2. O cidadão Sálvio Sardinha, presidente da CM de Santa Comba Dão desde 1976, anunciou
publicamente que se iria candidatar à presidência da câmara municipal de Mortágua, município
limítrofe. Perante o anúncio do cidadão Sálvio Sardinha, a associação de cidadãos “Contra o
caciquismo e o clientelismo” requereu ao Tribunal de Comarca de Santa Comba Dão que impedisse
Sálvio Sardinha de se candidatar ao referido cargo, atento o disposto no n.º1 do artigo 1.º da Lei X.
Sálvio Sardinha contestou o pedido da associação de cidadãos alegando que a norma em questão
era inconstitucional por se tratar de uma restrição desproporcional a um seu direito fundamental. O
Tribunal de Comarca veio a dar razão à associação de cidadãos. Sálvio Sardinha interpôs recurso
para o Tribunal da Relação de Coimbra, com o mesmo argumento. Este tribunal indeferiu-o no dia 1
de maio de 2013, tendo mantido a decisão do Tribunal de Comarca de Santa Comba Dão. Sálvio
Sardinha recorreu então para o TC.
a. Identificação do direito fundamental de participação na vida pública do país e de acesso a
cargos eletivos, previsto nos artigos 48.º/1, e 50.º/1 e 3 e discussão dos termos e requisitos
do artigo 18º da CRP
b. Explanação do sistema de fiscalização sucessiva concreta – artigos 204º, 280º CRP
c. Recurso (facultativo) por exaustão/direto – artigo 70º/2 da LTC
d. Legitimidade – 72º LTC
e. Prazo e regimes – artigos 73º e ss LTC
3. O TC decidiu que a norma sub judicio violava afinal o artigo 13º da Constituição, mas apenas na
interpretação da norma constante do n.º1 do artigo 1.º da Lei X, de acordo com a qual é proibida a
reeleição dos presidentes de câmara municipal e de junta de freguesia para um segundo mandato
consecutivo para outra câmara municipal e/ou junta de freguesia que não aquela em que haviam
exercido o mandato anterior. Carlos Carapau – presidente da CM da Calheta desde 1976 e que
pretende candidatar-se à presidência da câmara municipal de Câmara de Lobos em 2013 –,
prevalece-se do referido Acórdão do TC num processo que corre perante o Tribunal de Comarca do
Funchal e que que lhe foi movido pela mesma associação.
a. O TC pode julgar com base em norma diversa da invocada – artigo 79º C LTC
b. Efeitos da decisão – artigos 280º CRP, 80º LTC – e discussão da extensão do objecto do
recurso – 74º LTC
c. Efeitos de decisão interpretativa – artigo 80º/3 LTC
d. Discussão sobre o papel do TC no âmbito deste sistema
4. Caso prático
1. No dia 7 de março de 1981, o Governo aprovou o Decreto-Lei X em matéria de pensões devidas por
doenças profissionais, prescrevendo o seguinte no artigo 3.º: “As dúvidas suscitadas na execução e
interpretação do presente diploma serão resolvidas por despacho do Ministro da Saúde”. No dia 11
de junho de 2000 o Grupo Parlamentar do Partido FDUP pediu a suspensão do referido diploma no
contexto de um processo de apreciação parlamentar, mas o processo não teve seguimento.
a. Identificação da matéria – artigo 59º1f) da CRP
b. Discussão do artigo 112º/5 CRP
c. Prazo do pedido de apreciação parlamentar – artigo 169º CRP
d. Aplicação das normas constitucionais no tempo
2. No dia 4 de outubro de 2006, o Provedor de Justiça requereu, ao abrigo do artigo 281.º da CRP, a
declaração de inconstitucionalidade de todo o Decreto-Lei X com fundamento na violação do artigo
112.º, n.º 5, da CRP, aprovado na revisão constitucional de 1982. Pediu igualmente que fosse dada
urgência na apreciação do pedido, tendo em conta a gravidade da violação da Constituição que
estava em causa, ou que, em alternativa, o Presidente do Tribunal Constitucional determinasse a
suspensão da vigência do diploma enquanto o caso não fosse decidido. O Presidente do Tribunal
Constitucional admitiu o pedido e notificou o Primeiro-Ministro para se pronunciar no prazo de 30
dias. Na sua resposta, o Primeiro-Ministro alegou que o pedido do Provedor de Justiça não
identificava a norma ou normas constitucionais alegadamente violadas e juntou um parecer de
direito do Professor Trifólio Girassol, ilustre constitucionalista da Faculdade de Direito do
Entroncamento. Como não tivesse havido decisão passados 6 meses, o Provedor de Justiça desistiu
do pedido – o que foi indeferido pelo Presidente do Tribunal Constitucional. Passados 6 anos, saiu a
seguinte decisão:
a. “1 – Declara-se a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral do artigo 3.º do
Decreto-Lei X , por violação do n.º5 do artigo 112.º da Constituição.
b. 2 – Ao abrigo do n.º4 do artigo 282.º da Constituição, determina-se que os efeitos desta
declaração de inconstitucionalidade se apliquem apenas a partir de 2014”.
i. Pedido de fiscalização sucessiva abstrata (legitimidade, prazo e processo) – artigo
282º da CRP
ii. Urgência no pedido – admissível para o PR em sede de fiscalização preventiva
iii. Resposta da entidade – artigo 54º CRP
iv. Possibilidade de desistência - artigo 53º CRP
v. Efeitos – discussão do artigo 282º da CRP

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