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DCII - Práticas da Joana Neto

Direito Constitucional II (Universidade de Coimbra)

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Direito Constitucional II
Aulas Práticas

I - Estruturas Normativas

Atos Legislativos

Notas características dos atos legislativos:

 Nota Orgânica: Pretende significar o órgão que tem competência para emanar o ato legislativo.
o Assembleia da República (Lei)
o Governo (Decreto-Lei)
o Assembleias Legislativas Regionais (Decretos Legislativos Regionais)
 Nota Formal: Significa que só são atos legislativos aqueles que estão previstos na Constituição da
República Portuguesa – Princípio da Tipicidade (Art. 112.º/1 da CRP)
 Nota Substantiva: Significa que o ato legislativo tem de prosseguir o interesse público.

Ato legislativo em sentido formal

O ato legislativo tem:

Carácter Geral → Determina que uma lei se tem de aplicar a um número indeterminado de casos ou situações.

Carácter Abstrato → Significa que se deve aplicar a um número indeterminado de pessoas.

Exceções

 Leis Medida: É uma exceção à regra da generalidade. Admite-se que exista uma lei que se aplica a casos
concretos/determinados para fazer face a uma situação de urgência. Ex: Incêndios.
 Leis Individuais: É uma exceção à regra da abstração. Admite-se que uma lei vise abranger apenas um
número determinado e limitado de pessoas, desde que dela se possa reiterar um princípio geral.

O ato legislativo tem ainda:


Conteúdo Legislativo → Uma lei, para ter conteúdo legislativo (em sentido formal), tem que prosseguir o interesse
público e ter carácter inovador.
Exceção
Medida administrativa em forma de lei: Se não tiver conteúdo inovador, é uma medida administrativa.
Uma medida administrativa é emanada pela administração pública. Ora, o órgão máximo da administração
pública é o Governo. Este pode atuar fazendo um decreto-lei ou um regulamento administrativo.

Em suma, vejamos a diferença entre uma lei/decreto-lei e uma medida administrativa:


Enquanto que um decreto-lei ou uma lei terão conteúdo inovador, uma medida administrativa vai limitar-se
a cumprir aquilo que a lei lhe permite fazer (obedece à lei – Princípio da Juridicidade da Administração).

Princípio da Reserva de lei


 Reserva Absoluta da Assembleia da República – Art. 164.º CRP
 Reserva Relativa da Assembleia da República – Art. 165.º CRP
 Matéria de Concorrência – Diz respeito a matérias que não se encontram consagradas nem na reserva
absoluta nem na reserva relativa da Assembleia da República e, por essa razão, tanto a Assembleia da
República como o Governo podem legislar sobre elas – Os decretos-leis e as leis emanadas em relação a
matérias de reserva relativa têm o mesmo peso. → Princípio da Igualdade/ Paridade

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Categorias de Leis

Procedimento comum de elaboração legislativa


 Uma lei pode ser apresentada como:

 Projeto de lei: Iniciativa dos Deputados.


 Proposta de lei: Iniciativa do Governo.

 Entra o diploma na Assembleia da República e passa por diferentes fases:

 Discussão e aprovação em generalidade: Em Plenário (todos os que constituem a AR), ver se o


diploma é, em geral, aceite para avançar – se “tem pernas para andar”.
 Passando a votação, avança para a fase de Especialidade: É discutido artigo a artigo em Comissão
Parlamentar Especializada.
 Votação Global Final: Volta ao Plenário para ser votado. Para a lei ser aprovada, tem de ser votada a
favor por um mínimo de 50% + 1 dos deputados presentes (maioria simples).
 É encaminhada para o Presidente da República e este promulga ou veta.

I. Leis Constitucionais
Dizem respeito às leis de revisão constitucional.

II. Leis Orgânicas

 São as leis cuja Constituição determina que são leis orgânicas no Art. 166.º/2, sem que haja um qualquer
denominador comum entre elas.

“Revestem a forma de lei orgânica os atos previstos


nas alíneas a) a f), h), j), primeira parte da alínea l), q)
e t) do art. 164.º e no art. 255.º”

 As leis orgânicas são de Reserva Absoluta da


Assembleia da República em duplo sentido:

1º Só a Assembleia da República pode legislar sobre elas;


2º A Assembleia da República deve esgotar o regime jurídico da matéria.

Exceção: Alínea d) do art. 164.º da CRP


Só as bases gerais é que estão sob reserva.

 As leis orgânicas são leis


 Infraconstitucionais – Estão abaixo da CRP.
 Supralegais – Estão acima das restantes leis porque têm um procedimento de elaboração mais
exigente.

 As leis orgânicas têm a. Forma específica


b. Procedimento Específico de Feitura
c. Valor Reforçado

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A. Forma Específica

 A forma específica de uma lei orgânica é o facto de ser lei orgânica.


 Se for orgânica, a lei tem que ser chamada de tal ou terá um vício de forma.

B. Procedimento específico de feitura

 Art. 168.º / 4 da CRP – Algumas leis orgânicas são votadas em Plenário (a maioria).
 Art. 168.º / 5 da CRP – As leis orgânicas têm de ser aprovadas pela maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções .
 Art. 136.º / 3 da CRP – Para superar o veto político do Presidente da República, é exigida a maioria
de 2/3 dos deputados presentes, desde que em número superior à maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções. Diferentemente de uma lei normal que, para superar o veto
do Presidente da República, apenas exige a maioria absoluta.
 Art. 278.º / 4 da CRP – Alargamento da legitimidade processual para suscitar a fiscalização
preventiva da Constitucionalidade:
 Primeiro Ministro
 1/5 dos deputados em efetividade de funções

Suspensão de 8 dias do direito de promulgação - Art. 278.º / 3 da CRP

Só após 8 dias, o Presidente da República pode promulgar o diploma para não impedir
uma hipotética suscitação de fiscalização preventiva de Constitucionalidade por parte
dos outros órgãos.
C. Valor
Reforçado
 As leis orgânicas têm valor reforçado porque a CRP assim o diz no art. 112.º/3.
 Significa que as leis orgânicas vão ter um valor superior às restantes leis, por força da Constituição.

Leis de Valor Reforçado

 Leis Orgânicas

 Leis que carecem de maioria de 2/3 para aprovação

 Parametricidade Específica
Tem valor reforçado uma lei que, por força da CRP, é pressuposto normativo necessário de
outras leis.
Ex: - Leis de Autorização
- Leis de Bases

 Parametricidade Geral
Algumas leis têm valor reforçado porque vão ter de ser respeitadas por outras.
Ex: - Leis Estatutárias

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III. Leis Estatutárias


É a lei que aprova os estatutos político-administrativos das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

 As leis estatutárias têm 2 especificidades


1. Ao nível do Procedimento
Fase da iniciativa – tomada pela Assembleia Legislativa Regional
Fase Deliberativa – Objetivo de delimitar as matérias sobre as quais a Assembleia Legislativa Regional pode
legislar.

Nota: Uma Lei Estatutária é uma lei da Assembleia da República pois é esta que a aprova.
2. Valor Reforçado
As leis estatutárias têm valor reforçado ao abrigo da Parametricidade Geral, o que significa que as leis
estatutárias têm de ser por outras requisitadas e respeitadas.

IV. Leis de Autorização Legislativa


São as leis onde a Assembleia da República dá autorização ao Governo para legislar sobre uma determinada
matéria de reserva relativa da AR – Art. 165.º da CRP.
 Requisitos da Autorização (Art.165.º/2 CRP)

Definir o Objeto – Tem de definir a matéria sob a qual vai incidir a autorização.
Definir o Sentido – Tem de definir a orientação que vai ter que ter o regime que o Governo vai criar, que a lei
de autorização vai seguir.
Definir a Extensão – Tem de definir até onde é que a lei de autorização pode ir, definir o número objetivo (nº
de casos) e subjetivo (nº de destinatários).
Definir a Duração – Tem que definir o tempo que é dado ao Governo para legislar. Acabado esse tempo, a
autorização deixa de existir.

 Cessação da Autorização (Causas)

Utilização da Autorização – Quando a autorização é utilizada, cessa. (Art.165.º CRP)

Princípio da Irrepetibilidade

Decurso do Prazo – Quando o prazo estipulado para legislar acabar, a autorização cessa.

Revogação da Autorização – A Assembleia da República retira (revoga) a autorização. A revogação pode ser:

o Expressa: Simplesmente retira.


o Tácita: Antecipa-se ao Governo e
elabora o regime jurídico dessa
matéria.

Caducidade da Autorização (Art.165.º/4 CRP) – As autorizações caducam com:

o A demissão do Governo;
o O termo da Legislatura;
o A dissolução da Assembleia da República.

Isto acontece porque uma autorização legislativa é concedida com base na relação de
confiança existente entre os dois órgãos.
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 Valor Reforçado da Lei de Autorização Legislativa

As leis de autorização legislativa têm valor reforçado ao abrigo do critério da Parametricidade Específica (Art.
112.º/3 CRP) pois são pressupostos normativos de outras leis, nomeadamente dos decretos-lei autorizados.
Tenhamos ainda em atenção que não é o decreto-lei autorizado que tem valor reforçado, mas sim a lei da
Assembleia da República que o autoriza. Assim, se este violar a Lei de Autorização Legislativa, estaremos
perante uma ilegalidade reforçada/qualificada.
Uma lei de autorização legislativa não afeta diretamente os cidadãos, ou seja, não produz efeitos externos.
Estes são só emanados dos decretos-lei autorizados.
Inconstitucionalidade derivada: o vício está na lei de autorização (por exemplo, quando não é definido o
sentido da lei) e o decreto-lei autorizado que derivou dele e entrou em vigor padece de inconstitucionalidade
derivada (e não própria).

 Vícios do Decreto-Lei Autorizado

Viola o Objeto – Vício orgânico/Inconstitucionalidade Orgânica (Não tem competência para);


Viola o sentido – Vício orgânico e ilegalidade reforçada; *
Falta autorização – Vício orgânico;
Falta de referência à lei de autorização (ou se já se esgotou o prazo) – Vício Formal (Falta a forma).

* A par da inconstitucionalidade orgânica, temos uma ilegalidade reforçada porque o decreto-lei está a ir
contra a lei de autorização (que tem valor reforçado). Sempre que temos uma ilegalidade e uma
inconstitucionalidade, o que pesa mais é a inconstitucionalidade. Logo, a inconstitucionalidade “consome” a
ilegalidade reforçada.

 Esgotamento da Autorização

Início da Autorização

O Governo pede uma autorização à AR e a AR concede-lha. O Governo, para legislar, precisa que o diploma seja
promulgado e publicado em Diário da República. Nunca um diploma pode produzir efeitos sem que seja
publicado no Diário da República. Sendo assim, é esse o momento de início da autorização.

Até quando é que podemos utilizar a autorização?

 Posição do Tribunal Constitucional – Data da aprovação em Conselho de Ministros;


 Posição do Curso - data da receção do diploma pelo Presidente da República (não é a data de envio nem
a data da promulgação), porque é a maneira que temos de controlar se de facto foi cumprido o prazo.

Exemplo

Imaginemos que temos uma lei de autorização publicada no DR no dia 1 de fevereiro. O CM aprovou o decreto-
lei autorizado no dia 1 de março. Mas no dia 15 de março o PR vetou. Pode o Governo, ao abrigo da mesma lei de
autorização, fazer um novo decreto-lei autorizado?

Depende: se o conseguirem aprovar e enviar para o Presidente da República dentro do prazo, sim, mas, se não
conseguir, então não pode e há uma inconstitucionalidade orgânica. A posição do curso considera o momento
em que o Presidente da República recebe o diploma para promulgação, ao contrário do Tribunal Constitucional
que considerou num acórdão que o momento a considerar é aquele em que o decreto-lei autorizado é aprovado
pelo Conselho de Ministros. Em suma, a data considerada relevante é a data em que o Presidente da República
recebe o diploma reformulado e aprovado pelo Conselho de Ministros.

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Isto contradiz o princípio da Irrepetibilidade?

Consideramos que a autorização foi utilizada quando temos o decreto-lei autorizado completo, ou seja, quando é
aprovado, promulgado e publicado em Diário da República. Logo, isto não põe em causa o princípio da
irrepetibilidade da cessação da autorização.

 Autorizações na Lei do Orçamento de Estado

Regime geral – artigo 165.º/2.


O momento da iniciativa de uma lei de orçamento de Estado cabe ao Governo (logo, é uma proposta), apesar
de a lei ser da Assembleia da República.

Procedimento de elaboração de um Decreto-lei no Governo


O Governo faz uma proposta, a proposta (diploma) vai para todos os Ministérios. Temos assim uma proposta
de decreto-lei que vai para reunião com secretários de Estado que irão fazer uma primeira apreciação do
decreto-lei. Se o diploma passar na reunião, posteriormente vai a reunião de Conselho de Ministros (órgão
deliberativo do Governo) e é aqui que o diploma vai ser aprovado. Depois disto, vai para o Presidente da
República que o promulga (ou veta) e, se for promulgado, depois é publicado no Diário da República.
Imaginemos que o orçamento de Estado entra em vigor no dia 1 de janeiro. A proposta do Governo tem que
dar entrada na AR em outubro. Quando é que a proposta de lei de orçamento de Estado começa a ser feita
no Governo? Normalmente, em abril, no máximo em maio. Portanto, este procedimento com as leis de
orçamento de Estado é muito complexo.

No meio deste processo, quando o Governo precisa de uma lei de autorização para fazer algo, o que é que
ele faz?
“Cavaleiros orçamentais” - são autorizações legislativas (normalíssimas) que não têm nada a ver com
matérias orçamentais, mas que vão “a cavalo” do orçamento, de forma a que a autorização legislativa seja
utilizada dentro do prazo. Mas há uma particularidade: estas leis têm a duração de 1 ano. (Artigo 165.º/5)

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V. Leis de Bases

 Noções

Noção: É uma lei da Assembleia da República que define as regras gerais/princípios orientadores que um
determinado regime jurídico deve seguir.

Como é que se distingue uma Lei de Bases de uma Lei de Autorização Legislativa?
As Leis de Base já vão produzir efeitos, já há uma certa vinculação dos destinatários do regime. Enquanto que
a Lei de Autorização não produz efeito nenhum por si só – só produz efeitos para o Governo.

A Lei de Bases pode servir a múltiplos decretos lei de desenvolvimento.

 Valor Reforçado (Art. 112.º/3)

As leis de base têm valor reforçado pelo critério da Parametricidade específica porque são pressupostos
normativos necessários dos decretos-lei de desenvolvimento.

 Sentido da Primariedade da Lei de Bases

Posição de Gomes Canotilho e Vital Moreira


A superioridade da lei de bases perante o decreto-lei de desenvolvimento só se dá se estiverem a ser
tratadas matérias de reserva absoluta ou relativa (art. 164.º e 165.º da CRP) da Assembleia da República.

Posição de Jorge Miranda


As leis de base têm sempre superioridade relativamente aos decretos-lei de desenvolvimento, quer seja em
matéria de reserva ou fora da reserva.

Posição do curso – Gomes Canotilho e Vital Moreira

 Se estivermos perante uma matéria de reserva e o decreto-lei do Governo violar a lei de bases,
estamos perante uma ilegalidade reforçada.

 Se estivermos perante uma matéria de concorrência e o Governo violar a lei de bases:


o Se o Governo fizer um decreto-lei simples: Não há problema nenhum.
o Se o Governo fizer um decreto-lei de desenvolvimento: Ilegalidade Reforçada.

Exemplo: Imaginemos que na nossa casa a nossa mãe cola no frigorífico as regras gerais que temos
que cumprir para ajudar as tarefas domésticas – estas são as bases gerais que a nossa mãe
determina. Neste cenário a nossa mãe é a Assembleia da República a fazer uma lei de bases. Nós
olhamos para o frigorífico e dizemos: “não vou fazer isto, vou fazer um regime diferente deste”,
então fazemos um decreto-lei simples e está tudo bem porque lei e decreto-lei fora da reserva têm o
mesmo valor. Coisa diferente é se dissermos que vamos fazer tudo e, portanto, fazemos um decreto-
lei de desenvolvimento, mas depois não levamos o lixo e não fazemos a cama, ou seja,
desobedecemos às regras, porque neste caso teremos uma ilegalidade reforçada.

 Em suma, se o Governo quiser contrariar ou não concordar com a lei de bases emanada da
Assembleia da República, pode fazer um decreto lei simples (se for matéria concorrente). Pelo
contrário, se se comprometer a cumprir aquilo que está estipulado na lei de bases e violar algum dos
seus aspetos, comete uma ilegalidade reforçada.

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Apreciação Parlamentar (Art. 189.º da CRP)

Noção: A Apreciação Parlamentar é um instrumento de que a Assembleia da República dispõe para controlar a
atividade legislativa do Governo.

Imaginemos que o Governo faz um decreto-lei sobre uma determinada matéria, passa por todas as fases por que
tem que passar e entra em vigor. Contudo, a Assembleia da República não concorda com este regime. Que forma tem
a Assembleia da República de alterar ou suspender este regime jurídico? Pedindo uma apreciação parlamentar.

O regime jurídico de apreciação parlamentar encontra-se no art. 189.º da CRP.

Em suma

Finalidade da Apreciação Parlamentar: Controlar a atividade legislativa do Governo.

Legitimidade para pedido de Apreciação Parlamentar: Têm que ser, no mínimo, 10 deputados a pedir a A.P.

Prazo: Os deputados têm 30 dias para fazer o pedido de A.P.

Objetivos: - Cessação do diploma;


- Alteração do diploma;
- Suspensão do diploma.

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II. Direito Fundamentais


Dedicam-se a proteger os direitos das pessoas, que se encontram na constituição.

Os direitos fundamentais têm caraterísticas que permitem proteger os cidadãos, sedo que há uma divisão:

Direitos Liberdades e Garantias


Têm um regime mais rigoroso, pois colocados em causa põem em risco a nossa vida.

Direitos Económicos, sociais e Culturais

Notas Características

 Posição Jurídica
Visam proteger uma posição de uma pessoa individualmente considerada. Ou seja, cada pessoa na sua
individualidade tem acesso aos direitos.

 Individualidade
Os direitos fundamentais são individuais, ou seja, cada pessoa singular possui direitos fundamentais.

 Direitos Fundamentais de Exercício Coletivo


Não perdem a questão da individualidade, mas só fazem sentido em coletivo.
Exemplo: Direito à Greve – Só se verificam os efeitos de uma greve se um grupo de pessoas se manifestar
em prol de algo. Se for só uma pessoa a fazer greve, esta não tem qualquer efeito.

 Direitos Fundamentais de Pessoas Coletivas (associações, empresas, etc.)


Há uma exceção ao princípio da individualidade. As pessoas coletivas podem invocar direitos individuais,
consoante se quilo que foi invocado faz sentido.
Por exemplo, uma cooperativa agrícola invocar direitos ambientais, faz sentido, pois está no seu âmbito
de trabalho.

 Direitos Fundamentais de Grupos (por exemplo, minorias religiosas)


Os direitos fundamentais são concedidos especificamente a um determinado grupo.
Contudo, este direito nunca pode colocar em causa os direitos fundamentais das pessoas individuais
desse grupo, as pessoas que fazem parte desse grupo têm de continuar a ter a sua individualidade.
Por exemplo, realojamento da comunidade cigana.

 Universalidade e Permanência
Os direitos fundamentais são universais, valem sem diferenciações e permanecem a partir do momento em
que são adquiridos.

 Direitos Fundamentais dos Estrangeiros


Exceção com base no art. 15.º da CRP

Tipos de Direitos Fundamentais

 Direitos Fundamentais Positivados na CRP

 Direitos Liberdades e Garantias


Catálogo: Artigo 24.º ao art. 47.º da CRP.

 Direitos Económicos, Sociais e Culturais


Catálogo: Artigo 58.º ao art. 70.º da CRP.

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 Direitos Fundamentais só Materialmente Constitucionais


Em razão do seu conteúdo/matéria são direitos fundamentais que não estão consagrados na CRP.
Exemplo: Direito ao nome, Art.70 do CC.

 Direitos Fundamentais Formalmente Constitucionais


Estão na CRP, mas em termos de conteúdo não são considerados direitos fundamentais. Ou seja, estão no
catálogo dos direitos fundamentais da CRP, mas a doutrina considera que aquele direito não reúne as
caraterísticas necessárias para que lhe seja atribuído o estatuto de Direito Fundamental.
Exemplo: Direitos de antena, de resposta e de réplica política – Art.40.º da CRP.

 Direitos Fundamentais Análogos a Direitos, Liberdades e Garantias (DLG, em diante)


Podem ou não estar na CRP, mas não estão dentro do catálogo. Ou seja, podem estar em qualquer sítio
(código civil, legislação ordinária, etc.), mas têm as caraterísticas de um direito de liberdade e garantia.

Art. 16.º nº1 da CRP- “ Os direitos fundamentais consagrados na Constituição não excluem quaisquer outros
constantes das leis e das regras aplicáveis de direito internacional. “
Artigo 17.º da CRP - “O regime dos direitos, liberdades e garantias aplica-se aos enunciados no título II e aos
direitos fundamentais de natureza análoga.”

Lista de Artigos Análogos

CRP: Art.61.º, 62.º, 21.º, 268.º, 269.º nº3 e 276.º nº7.

CT: Direito dos trabalhadores a férias pagas e direito a


jornada máxima de horas de trabalho.

Distinção ente DLG e Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC, em diante)

Primeira diferença: Função Negativa | Função Positiva ou Prestacional

 Os DLG não exigem uma intervenção do estado, o Estado tem um papel negativo, não interferindo.
 Pelo contrário, os DESC exigem uma intervenção positiva ou prestacional por parte do Estado (Exemplo:
Art.73º. da CRP).

Segunda Diferença: Conteúdo determinado na CRP | Conteúdo mínimo depois densificado

 Todos os DLG têm um conteúdo determinado na CRP. Ou seja, o seu conteúdo está determinado a nível
constitucional.
 Já os DESC têm um conteúdo mínimo - não está totalmente determinado na CRP. É o legislador que
posteriormente o classifica.

Terceira Diferença: Independência | Dependência de escolhas políticas

 Os DLG são independentes de qualquer Governo . A sua efetivação é independente de escolhas políticas.
 Os DESC estão dependentes de escolhas políticas. Ou seja, estão dependes de um determinado Governo e
necessitam da intervenção do Estado – que está diretamente ligada a questões económico/financeiras.

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III. Fiscalização da Constitucionalidade

Em Portugal, temos um modelo misto de fiscalização da constitucionalidade porque admitimos um controlo da


constitucionalidade em abstrato e em concreto. Isto significa que nós temos uma jurisdição autónoma de controlo da
constitucionalidade (o órgão responsável é o TC), mas ao mesmo tempo, nos tribunais ordinários os juízes também
têm acesso direto à Constituição – quando os juízes estão a julgar um determinado processo, podem dizer se está a
ser violada uma qualquer noma constitucional. Quer na jurisdição normal, quer na jurisdição própria do Tribunal
Constitucional, existe o controlo de constitucionalidade. Por isso é que temos dois tipos de fiscalização:

 Em abstrato
Significa decidir sobre a validade da norma sem qualquer caso em apreço. Ou seja, ver se a norma é
compatível com a CRP, independentemente do contexto em que está inserida.

 Em concreto
Neste tipo de fiscalização da constitucionalidade, não se vai para o Tribunal Constitucional decidir uma
questão de constitucionalidade, o que nós temos aqui é um litígio real que vai para um Tribunal ordinário e
surge uma questão de constitucionalidade. Aí é o juiz que está a julgar aquele processo que vai decidir se vai
ou não aplicar a norma em questão consoante ela for ou não conforme a Constituição. Em suma, é aquela
fiscalização da constitucionalidade que se faz num determinado caso/litígio.
- O Tribunal Constitucional pode intervir em recurso.

Fiscalização da Constitucionalidade

1. Fiscalização Abstrata Preventiva - Art. 278.º e 279.º da CRP


2. Fiscalização Abstrata Sucessiva - Art. 281.º e 282.º da CRP
3. Fiscalização Concreta - Art. 280.º da CRP + Art. 80.º da LTC
4. Fiscalização por Omissão - Art. 283.º da CRP
5. Generalização do Controlo Concreto - Art. 281.º da CRP + Art. 82.º da LTC

Fórmulas

 Se estivermos perante Fiscalização Abstrata Preventiva, o TC “pronuncia-se” pela inconstitucionalidade ou


não da norma;
 Se estivermos perante Fiscalização Abstrata Sucessiva, o TC “declara” a inconstitucionalidade ou não da
norma em apreço;
 Se estivermos perante Fiscalização Concreta, o TC “julga” a norma em apreço inconstitucional ou não;
 Se estivermos perante Fiscalização por Omissão, o TC “verifica” a inconstitucionalidade ou não na norma em
apreço;
 Se estivermos perante uma Generalização do Controlo Concreto, o TC “declara” a inconstitucionalidade ou
não da norma em apreço.

1 – Fiscalização Abstrata Preventiva

As exigências para a fiscalização abstrata preventiva são muito mais do que para a fiscalização abstrata sucessiva, pois
esta vem para prevenir que entre em vigor uma norma que tenha algum vício constitucional.

Temos um diploma que é aprovado, enviado para o Presidente da República para o promulgar e este parece-lhe
haver ali um problema de constitucionalidade. Se o PR considerar que há ali um vício, envia o diploma para o TC
colocando a questão. O TC, por sua vez, pode pronunciar-se ou não pela inconstitucionalidade.

o Se o TC não se pronunciar pela inconstitucionalidade, o diploma volta para o Presidente da República e este
pode promulgar ou vetar politicamente.

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o Se, por outro lado, o TC pronunciar-se pela inconstitucionalidade, o diploma volta para o Presidente da
República, mas este tem a obrigação de vetá-lo por inconstitucionalidade.
Este é um veto:
Obrigatório - o PR não pode optar por não vetar o diploma;
Expresso - tem de dar a fundamentação;
Suspensivo - suspende o procedimento normativo e quaisquer efeitos daquele diploma.

Após o veto por inconstitucionalidade, o diploma volta para o órgão que o aprovou, que pode ser a Assembleia da
República ou o Governo.

Se o órgão responsável for a Assembleia da República, tem três alternativas:

A. Expurgar a norma inconstitucional;


B. Reformular o diploma;
C. Superar o veto de inconstitucionalidade.

Se for o Governo tem apenas duas alternativas:

A. Expurgar a norma inconstitucional


B. Reformular o diploma

O Governo não tem legitimidade para superar o veto constitucional. .

Se, de facto, o veto for superado e a


norma entrar em vigor, pode fazer-se a
fiscalização abstrata sucessiva.

Em suma

a) Quem tem legitimidade para


dar início ao processo?

Decretos-lei e leis: Presidente


da República
Decretos legislativos regionais: Representantes da República
Leis orgânicas: Primeiro Ministro e 1/5 dos deputados em efetividade de funções.

b) Qual o prazo para dar início ao processo?


8 Dias, a contar da data da receção do diploma.

c) Qual é o órgão que fiscaliza?


Tribunal Constitucional.

d) Questões que podem ser suscitadas?


Ao nível da fiscalização abstrata preventiva, apenas podem ser colocadas questões de inconstitucionalidade
(e não de ilegalidade reforçada).

e) Efeitos da decisão
O TC pode pronunciar-se ou não pela inconstitucionalidade. Se houver uma pronúncia por
inconstitucionalidade, o PR faz um veto por inconstitucionalidade – que tem de ser obrigatório, expresso e
suspensivo – e o diploma volta para o órgão que o emanou.
Se for a AR, esta pode expurgar a norma inconstitucional, reformular ou superar o veto; se for o Governo, ou
expurga ou reformula. Nunca há uma superação do veto por parte do Governo, só a AR o pode fazer.
Por outro lado, se não se pronunciar, está tudo bem e não acontece nada.

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Quando o Presidente da República pede ao Tribunal Constitucional para este se pronunciar, estamos perante
o “princípio do pedido” - quando o TC se pronunciar, só o vai fazer sobre a/as normas para cuja a
fiscalização foi suscitada.

2 – Fiscalização Abstrata Sucessiva

Contrapõe-se à fiscalização abstrata preventiva porque a fiscalização abstrata sucessiva sucede a entrada em vigor da
norma, o que pode ter acontecido em qualquer data anterior ao início do processo de fiscalização da
constitucionalidade.

a) Quem tem legitimidade para dar início ao processo?


Art. 281.º/2 da CRP.

b) Qual o prazo para dar início ao processo?


Não há prazo.

c) Qual é o órgão que fiscaliza?


O Tribunal Constitucional.

d) Questões que podem ser suscitas?


Ao nível da fiscalização abstrata sucessiva podem ser suscitadas questões de inconstitucionalidade e de
ilegalidade reforçada.
Art. 281.º/1 da CRP.

e) Efeitos da decisão
O TC pode declarar ou não a inconstitucionalidade da norma.
o Se não declarar, a norma continua em vigor e a produzir os seus efeitos.
o Se declarar a inconstitucionalidade da norma:

1. Tem força obrigatória geral, ou seja, mais nenhum órgão público ou privado pode aplicar a
norma – esta é eliminada do ordenamento jurídico.

2. Eficácia retroativa, isto significa que se vão apagar todos os efeitos que a lei produziu desde o
momento que entrou em vigor;
Exceção: Art. 282.º/e CRP – Ficam ressalvados os casos julgados, salvo decisão em contrário do
Tribunal Constitucional quando a norma respeitar a matéria penal, disciplinar ou de ilícito de
mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao arguido.

3. Efeito repristinatório, isto é, a reentrada em vigor da norma que foi revogada pela norma agora
declarada inconstitucional, para que não exista um vazio jurídico. (a norma que estava em vigor
antes da que foi declarada inconstitucional vai voltar a ser aplicada).

Art. 282.º/4 – O Tribunal Constitucional pode dizer que não há efeitos


retroativos ou repristinatórios por motivos de segurança jurídica, razões de
equidade ou interesse público de excecional relevo.

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3- Fiscalização Concreta

Contrapõe-se à fiscalização abstrata porque temos um litígio que está em tribunal e, no meio desse processo, é
suscitada a fiscalização da constitucionalidade. O juiz, para resolver aquele litígio, vai julgar inconstitucional ou não a
lei para cuja fiscalização constitucional foi suscitada.

a) Quem tem legitimidade para dar início ao processo?


 O juiz do caso;
 O Ministério Público; **
 Uma das partes.

b) Qual o prazo?
A fiscalização da constitucionalidade tem de ser suscitada enquanto o processo está a decorrer.

c) Quem fiscaliza?
O juiz do tribunal ordinário – o juiz do caso.

d) Questões suscitadas?
 Questões de inconstitucionalidade (Art. 280.º/1)
 Questões de ilegalidade reforçada (Art. 280.º/2)

e) Efeitos da decisão

1ª Fase
 Passa-se no tribunal do caso (Tribunal “a quo”)
 Confrontado com uma questão de inconstitucionalidade, faz uma de duas coisas:
 Aplica a norma;
 Não aplica a norma.

2ª Fase – Recurso

 Passa-se no Tribunal Ad quen


 Se uma parte não concorda com a decisão tomada, pode pedir recurso ao Tribunal Constitucional;

 Decisão Negativa (Rejeição da Inconstitucionalidade)


O Tribunal Constitucional não vê nenhuma inconstitucionalidade e, por isso, aplica a norma
ao caso;

 Decisão Positiva (Acolhimento da Inconstitucionalidade)


Há violação da constitucionalidade e, por isso, o Tribunal Constitucional não aplica a norma
ao caso.

Quem é que pode recorrer para o Tribunal Constitucional?

Parte que suscitou o incidente, quando tiver esgotado todas as restantes vias de recurso.

Decisão Negativa

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O Ministério Público, se for parte e tiver suscitado o incidente, quando esgotar as restantes
vias de recurso. (Art. 70.º/2 LTC)

Parte Prejudicada

Decisão Positiva Ministério Público

Ministério Público é obrigado a recorrer, mesmo não sendo parte do processo, se a norma
constar de:

 Convenção Internacional;
 Ato legislativo; Art. 280.º/3 da CRP
 Decreto Regulamentar

Art. 72.º /3 da LTC – Obrigatoriedade de recurso para o MP

Art. 72.º/4 da LTC – Exceção à obrigatoriedade de recurso pelo MP em casos de convenção internacional, ato
legislativo ou decreto regulamentar:

Quando já houver uniformização de jurisprudência em relação àquela norma pelo Tribunal Constitucional, ou seja,
quando o TC já tiver estipulado que aquela norma é/ não é para ser aplicada, o MP não é obrigado a recorrer.

O que é mais grave para o interesse público: Decisão Negativa ou Decisão Positiva?

Positiva, porque a norma foi aplicada pelo juiz ordinário e rejeitada pelo Tribunal Constitucional em recurso.

** Magistratura do Ministério Público

Os procuradores do MP são juízes que são colocados em todos os tribunais, que vão defender e zelar pelos interesses
do Estado

4 - Fiscalização por omissão (Não será lecionada)

5 - Generalização do Controlo Concreto

A partir do momento em que uma norma vai para o Tribunal Constitucional no âmbito da fiscalização concreta e o TC
a julga inconstitucional, pode iniciar-se um processo de fiscalização abstrata sucessiva, pois se a norma já foi por 3
vezes, em casos concretos, julgada inconstitucional, algo não estará bem. Logo, daremos início ao processo de
fiscalização abstrata sucessiva para ver se a norma deve ou não ser inserida no nosso ordenamento jurídico. (Art.
281.º/3 CRP + art. 82.º LTC). Através desse processo, a norma pode ou não ser julgada inconstitucional.

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