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Constitucional II

O direito constitucional é um direito muito importante na medida em que a CRP é a


base jurídica, é a fonte primeira do direito de qualquer ordenamento jurídico.
 É a partir da constituição que nós somos capazes de construir todo um “edifício”
jurídico de um Estado, isto porque a CRP, sobretudo as constituições
contemporâneas dos estados de direito democráticos, como o nosso,
caracterizam-se exatamente por serem um estado de direito, portanto assente
num princípio de legalidade da lei, naquilo que é uma característica que nos
salvaguarda a todos nós cidadãos perante o Estado e que garante ao Estado que
pode funcionar normalmente sem ser posta em causa a sua atuação, que é o
princípio da legalidade.
Princípio da Legalidade: qualquer atuação de qualquer entidade publica só é legitima se
se basear numa lei previamente existente, seja essa lei a constituição, uma lei
internacional, uma lei ordinária, um regulamento.
 Porém nenhuma atuação do Estado, seja do Estado Central, seja das autarquias
locais, seja dos organismos desconcentrados, seja dos institutos públicos,
nenhuma atuação de uma entidade pública é legitima se não se basear numa lei
previamente existente.
 O princípio da legalidade consagrado na constituição é a garantia primeira para
nós cidadãos de que não sofremos abusos.
Lei é feita na Assembleia da República.
Decreto-Lei é feito no Governo.
As Assembleias Legislativas Regionais também produzem normas legais, normas de 1º
nível de definição de direito que são os decretos-legislativos regionais e normas
complementares que são os regulamentos, designados como decretos-regulamentares
regionais.
O Governo também pode produzir regulamentos.
As Autarquias Locais que podem produzir normas de 2º nível regulamentares.
Artigo 112º da CRP – este artigo é muito importante, pois é este artigo que nos permite
dizer que os tribunais não fazem leis, porque de facto antes faziam, mas agora não
podem fazer. É ainda este artigo que permite definirmos qual a hierarquia dos atos
normativos.
O que vale mais? Uma lei da AR ou um DL do Governo? Valem o mesmo, segundo o
artigo 112º, nº2 da CRP, exceto nas situações em que um decreto-lei depende de uma lei
e isto acontece em dois tipos de situações, ou nas situações de autorização legislativa da
AR ao Governo, ou quando diz respeito aos decretos-lei que não inovam no panorama
jurídico, mas desenvolvem leis de base, porque as leis de base são leis quadro, leis de
grandes princípios que a AR faz, mas que para não serem muito longas e conterem tudo
e mais alguma coisa têm os princípios básicos e que depois são desenvolvidas por DL
mais “técnicos” pelo Governo.
 Quando um DL é um DL de desenvolvimento ou que regulamenta uma lei de
bases aqui não existe concorrência, pois este está a desenvolver aquilo que a lei
criou e, portanto, a lei possui uma posição hierárquica superior.
Os regulamentos podem ser do Governo, das Assembleias Legislativas Regionais ou das
Autarquias Locais, são as três entidades com competências para elaborar regulamentos,
com eficácia externa, ou seja, que se apliquem a pessoas fora da própria entidade que os
está a fazer, isto porque, qualquer entidade pode fazer um regulamento interno, por
exemplo, um regulamento de funcionamento no caso de escolas, sendo que estes só se
aplicam a quem lá está.
Os regulamentos do Governo podem ser de três tipos:
 Decretos regulamentares (artigo 112º, nº6) – porque são aprovados pelo
Governo como um todo em Conselho de Ministros.
 Portaria - provado por um ou vários Ministros e não pelo Governo.
 Resoluções do Conselho de Ministros – também são do Governo e podem ter
uma dupla natureza, podem ter atos normativos e atos não normativos
simultaneamente.
Os Ministros para além das Portarias também podem elaborar Despachos, que tanto
pode ser um despacho normativo como um despacho individual.
As Portarias e os Despachos não estão previstos na Constituição, pois como não são do
Governo, mas sim dos Ministros estão então previstos na legislação do Governo.
As Regiões Autónomas o que podem fazer de regulamentos são os chamados decretos
regulamentares regionais que se distinguem dos que são legais.
Os Municípios elaboravam, tradicionalmente, posturas, mas hoje em dia são só
designados como regulamentos, visto que o termo caiu em desuso.

Órgãos de Soberania da CRP (artigo 110º, nº1 da CRP):


 Assembleia da República – que tem função legislativa e política
 Presidente da República – que tem função política e moderadora
 Governo – que tem função política, legislativa e executiva/administrativa
 Tribunais – órgão judicial independente, portanto não está relacionado com a
componente política.
A nível nacional temos politicamente 3 poderes: (OBRIGATÓRIO SABER)
 Poder legislativo  Parlamento
 Poder executivo  Governo, é ele que toma as decisões concretas
 Poder moderador  Presidente da República, é o que faz de intermediário, de
árbitro que exerce a intermediação política entre os outros órgãos, controla,
sendo também controlado.
O Presidente da República tem um órgão de aconselhamento que é o Conselho de
Estado.
Apesar do Ministério Público fazer parte dos Tribunais, este possui uma natureza
diferente.
Autarquias Locais às quais a Constituição dá o nome de poder local – tem uma
inconstitucionalidade por omissão porque diz que deveriam de existir regiões
administrativas e a verdade é que não existem nem nunca existiram.
As autarquias locais não se chamam Camara Municipal e Junta de Freguesia, mas sim
Município e freguesia, estas sim são as entidades.
A Camara Municipal é um órgão dentro do município e a Junta de Freguesia é um órgão
dentro da freguesia.
O Presidente da República não legisla, contudo não significa que não tenha intervenção
no procedimento legislativo, pois pode vetar a lei.
Porém, o PR tem uma única hipótese de elaborar uma norma que não se chama Lei, que
é o caso do Decreto de Emergência de Estado de Sítio. É a única norma que o PR faz
diretamente, é uma norma até amplamente restritiva de certos direitos fundamentais,
tem que ter a proposta do Governo, tem de ser autorizada pela Assembleia da República
e por fim, é o PR que decreta o estado de emergência.
A Assembleia da República é que legisla – art161º e ss CRP, contudo pode autorizar o
Governo nas situações previstas no artigo 165º da CRP.
Reserva absoluta da Assembleia da República (art.164º da CRP)  Esfera de
competências exclusivas, diz respeito ao conjunto de matérias que só podem ser objeto
de lei, não podem ser objeto de DL nem DL legislativo regional. Apenas a Assembleia
pode legislar.
Reserva Relativa da AR (art.165º da CRP)  são aquelas matérias que estão
reservadas pela constituição à Assembleia, mas que esta pode autorizar o Governo ou os
Governos Regionais a legislarem sobre as referidas matérias. A Assembleia legisla, mas
pode autorizar quer o Governo quer as Assembleias Legislativas Regionais a legislar.
Esta autorização é feita mediante uma lei de autorização e esta lei quem tem a iniciativa
de a propor é o Governo ou as Assembleias Regionais, depois a Assembleia da
República é que decide se confere ou não tal poder.
Por outro lado, a lei de autorização obedece a determinados critérios de base, ou seja,
evitar as autorizações em branco.
As autorizações em branco eram praticadas no tempo do Salazar, onde a Assembleia
autorizava o Governo em branco e era assim que o Governo fazia o que queria. Este
sistema das autorizações em branco deu um péssimo resultado.
Como exemplo de uma lei aprovada pela Assembleia é a Lei do Orçamento.
 O orçamento é uma lei da AR, que depois o Governo vai colocar em execução
através do chamado Decreto Orçamental.
 A aprovação do orçamento é uma das competências principais da Assembleia da
República.
 Para mexer nos impostos é preciso uma aprovação do órgão com maior
legitimidade democrática que é o Parlamento.
 Contudo, os impostos em Portugal são matéria de reserva de competências da
Assembleia, mas não absoluta, ou seja, são matéria de reserva relativa, o que
significa que a Assembleia pode autorizar o Governo a mexer nos impostos.
 O orçamento é um ciclo e é organizado pelo Governo e tem de estar pronto até
outubro, em outubro é apresentado à Assembleia a 15 de outubro e é suposto
estar aprovada a tempo de entrar em vigor no dia 1 de janeiro.
 O orçamento é um documento técnico que é apresentado a AR e esta decide se é
aprovada ou não, e depois o orçamento entra em vigor sob a forma de lei, a lei
do orçamento. Depois o Governo faz um decreto, que é o Decreto Orçamental,
mediante o qual desenvolve e aplica o orçamento, sendo aí que ele cobra as
receitas e faz as despesas que se encontram previstas na lei do orçamento,
desenvolvendo um pouco o que a lei do orçamento diz.
 Portanto, começa por ser um projeto, que é apresentado à Assembleia, é
aprovado na forma de lei e depois entra em vigor sob a forma de Lei e depois é
desenvolvido através do chamado Decreto Orçamental. Posto isto, existem 3
fases.
 Como é organizado o orçamento?
Quem o organiza/faz é o Governo, existe uma secretaria de Estado que é
especial para isto, que é secretaria de estado do orçamento, só elabora o
orçamento, recebe as propostas que vem dos diversos Ministérios, que depois
apresenta ao Governo e depois este apresenta à Assembleia para ser aprovado.
 Como se calculam as despesas que o Governo vai fazer?
Para calcular existem 2 métodos possíveis: método tradicional e método
racional/económico, sendo o mais adotado o método tradicional.
o Método tradicional: em cada ministério existe um representante das
finanças que interroga os sucessivos diretores de serviço e lhes pergunta
assim “ó X quanto é que o senhor gastou o ano passado?” “Olhe gastei
10 milhões de euros.” “Ora, sim senhor e gastou muito bem, olhe então
chegue aí um planozinho para o ano que vem bote lá outra vez os 10
milhões e coloque lá mais 1 milhão que é por causa da inflação, que é
para não dizerem que você é um borra botas, que não gasta dinheiro
(mais dinheiro, mais peso político, mais importância política)”. É barato,
é fácil e dá milhões. Não coloca ninguém em causa e assim o orçamento
consegue estar pronto a tempo e horas.
o Método racional: é herdado das empresas privadas, que é o feito nas
grandes empresas privadas. Chamado orçamento base zero. “Não quero
saber quanto é que o senhor gastou o ano passado (base zero), o senhor
vai é fazer um relatório a justificar tostão por tostão porque precisa de
dinheiro para esta empresa.” Este dá mais trabalho.
o Em Portugal, o método utilizado é o tradicional.
 No cálculo das despesas do orçamento aquilo está péssimo e mexer nisto não é
uma questão económica, mas sim política.
 Orçamento concluído e é apresentado a AR, esta tem +/- 3 meses (desde 15 de
outubro até ao fim do ano) para aprovar o orçamento.
 Se orçamento for aprovado em março, os seus efeitos até março não são
cumpridos, não se podem pagar os salários à função pública até março, mas
depois quando é aprovado em março tem efeitos retroativos a janeiro e outros
meses, por exemplo, existem funcionários públicos que no mês de abril recebem
uma “batelada de massa” relativamente aos meses em falta.
 A Assembleia tem de o aprovar a tempo de ele entrar em vigor a 1 de janeiro?
Não, pode não aprovar. Contudo, a não aprovação do orçamento tem efeitos
económicos extramente desagradáveis e graves sobre pessoas que nada tem a ver
com a luta política entre a maioria e a oposição.
 Existe garantias que o orçamento é aprovado a tempo e horas em Portugal? Não
existem, porque segundo o sistema português a partir do momento em que o
orçamento é apresentado à Assembleia em outubro para ser aprovado, os
deputados podem apresentar todos os projetos de lei que quiserem e entenderem
de alteração ao orçamento, não existem restrições aos projetos de lei.
 Quando a oposição tem a certeza de que as suas propostas não são aprovadas,
não estão a boicotar a aprovação do orçamento, mas se não retirarem as
propostas o orçamento só é aprovado em abril ou maio.
 Hoje em dia, qualquer deputado pode apresentar projetos de alteração do
orçamento.
 Método das receitas compensadoras: os deputados a partir do momento em que o
orçamento era apresentado à Assembleia, a 15 de outubro, podiam apresentar os
projetos de alteração que quisessem, sem restrições. No entanto, se esses
projetos de alteração implicassem aumento das despesas do Estado, o deputado
tinha que indicar onde é que ia buscar o dinheiro, ou seja, tinha de indicar qual
era a receita compensadora.
O deputado pode apresentar o projeto para aumentar as despesas que entender,
mas se apresentar um projeto que aumente as despesas, o deputado tem de
indicar qual é a receita onde vais buscar o dinheiro para compensar essa despesa
a mais.
 Uma vez aprovado o orçamento pela AR, esta não pode apresentar um projeto
para o alterar, isto é, o orçamento quando aprovado ele tem de ser colocado em
execução tal como foi aprovado  Lei travão – lei que limita a iniciativa dos
deputados (art. 167º, nº2 da CRP)
Projetos: é quando a iniciativa é da Assembleia.
Propostas: é quando é exterior à Assembleia.
O ano económico só está em curso depois do orçamento estar aprovado.
 Orçamento Retificativo: é uma proposta de lei que faz o Governo à AR, que
depois se aprova ou não, quer dizer o orçamento pode ser alterado, mas sempre
sob proposta do governo. O Orçamento depois de aprovado para ser alterado tem
de ser por iniciativa do Governo, nunca por iniciativa da AR.
 Suponhamos que a AR não aprova o orçamento, o Governo cai? Não
necessariamente, ou seja, a CRP não prevê que o Governo caia, então o Governo
pode apresentar uma nova proposta de Orçamento, mas isto é extramente difícil.
Se a AR aprova uma moção de censura o Governo cai.
Teoria da Lei parlamentar (aprovada pela AR)
Existem várias espécies de leis na nossa CRP, previstas nos artigos 168º e 112º da
CRP.
Lei orgânica: tem o mesmo valor que qualquer outra lei, é aprovada pela AR, a única
diferença prende-se com o facto de estas precisarem para a sua aprovação uma maioria
qualificada. Incidem sobre matérias politicamente mais sensíveis.
 As leis orgânicas, no caso concreto de Portugal, acabaram por colocar fora da
alternância democrática as matérias politicamente mais sensíveis.
O Plenário aprova apenas as leis na generalidade. Quando se fala na especialidade são
aprovadas nas Comissões.
 Aprovar uma lei no Plenário na especialidade é um processo extremamente
demoroso, porque tem de ser aprovados os artigos todos e as alíneas todas um
por um, podendo assim demorar muito tempo. Por isso, a metodologia normal é
que as Comissões aprovam na especialidade e depois o Plenário aprova apenas
na generalidade.
Tipos de maiorias:
 Simples:
Relativa – a que corresponde a ter mais votos expressos que as outras opções.
o Ex: se existir 3 opções de votos, eu posso votar em A, B ou C. Eu posso
ter uma maioria relativa e dizer “ganha dos 3 o que tiver mais votos”,
pode ter 35% dos votos, mas se nenhum dos outros tiver mais do que
35% dos votos, isto significa que tem tiver 35% dos votos ganha, ainda
que não tenha metade dos votos, mas dos votos expressos tem a maioria.
Absoluta – a que corresponde a mais de metade dos votos expressos ou
metade dos votos expressos mais 1 (voto e não %).
 Qualificada – é mais exigente que a maioria absoluta
Dupla maioria: isto é, que se tenha a maioria, por exemplo, qualificada de 2/3 dos
votos expressos, desde que esses 2/3 correspondam a pelo menos, 50 + 1 dos deputados
em efetividade de funções, ou seja, existe uma maioria qualificada que não pode ser
inferior a uma maioria absoluta.
A AR tem 230 deputados, segundo a constituição este é o máximo que pode existir de
deputados.
Maioria simples (normal): é a maioria dos deputados presentes existindo quórum (este
é o número mínimo de membros de um órgão colegial que tem de estar presentes numa
reunião para que se possa deliberar). Se não existir quórum nada pode ser aprovado.
 Normalmente, para a aprovação das leis comuns, existindo quórum, a maioria
dos deputados presentes havendo quórum, chega. O quórum é metade mais 1,
logo são 116, de modo que metade de 116 dá 58, por isso, com 59 votos já se
aprova uma lei.  Regra
Maioria qualificada existem várias:
 Maioria de deputados em efetividade de funções - por exemplo:
Para aprovar uma moção de censura é preciso a maioria dos deputados em
efetividade de funções, em efetividade de funções são 230, logo a maioria são
116 para aprovar uma moção de censura.
Para fazer uma revisão constitucional são 2/3 dos deputados em efetividade de
funções;
Para aprovar uma lei orgânica depende, existem leis orgânicas e similares que
requerem 2/3 dos deputados em efetividade de funções (art.168º da CRP).

Leis de valor reforçado (art.112º, nº3 da CRP):


 São leis que pela sua importância, pela sua natureza, não só estarão na parte que
diz respeito à exclusividade da AR, mas que têm uma particular exigência de
maioria e, portanto, têm de ser aprovadas por maiorias de 2/3.
 Existe um problema com estas leis, é que a constituição não faz um elenco
destas leis como faz, por exemplo, das leis orgânicas e das leis que requerem
maiorias qualificadas do art.168º da CRP, o que nos provoca um problema de
interpretação.
 Servem de parâmetro a outras leis e na pirâmide das normas estão entre as leis
ordinárias e a CRP.
 Uma lei ordinária que viole uma lei de valor reforçado incorre em ilegalidade e é
competente para conhecimento desta ilegalidade o Tribunal Constitucional.
 Exemplos de leis com valor reforçado:
Lei da autorização – porque o decreto de lei emitido ao abrigo da autorização
tem de estar subordinado ao sentido, ao conteúdo, ao projeto, à duração que
constam da lei de autorização. Caso viole a lei de autorização incorre em
ilegalidade.
Leis bases gerais, leis de princípios gerais, às quais a nossa Constituição
também chama de Lei-quadro das reprivatizações (art.292º da CRP – é uma
norma transitória).
o As leis de bases têm de ser desenvolvidas e que faz isso é o Governo ou
as Assembleias Legislativas Regionais através de Decretos de Leis de
desenvolvimento. O único problema é que o Governo ao desenvolver as
leis de base está sujeito às bases, isto é, não pode ir para além das leis de
base, portanto a lei de bases também possui valor reforçado em relação
ao DL que a desenvolve.
o Lei-quadro das reprivatizações (art.292º CRP): esta diz que as
reprivatizações são feitas por DL em obediência a determinados critérios,
ora o DL que vai reprivatizar está sujeito à lei-quadro/ lei de bases das
reprivatizações, logo esta tem valor reforçado.
Lei do orçamento – que é desenvolvido pelo DL orçamental, evidentemente
que este DL do Governo está sujeito à lei do orçamento que é da AR, logo não a
pode alterar.
Lei do plano – esta tem de ser acolhida pela lei do orçamento, portanto,
também é uma lei de valor reforçado.
A lei do enquadramento do orçamento relativamente à lei do orçamento é que
a lei do orçamento tem de ser aprovada de acordo com a lei do enquadramento.
A lei do orçamento não pode violar a lei de enquadramento do orçamento, logo,
mais uma lei com valor reforçado.
 As leis de valor reforçado requerem maiorias qualificadas?
Não, exceto a lei-quadro das reprivatizações, que tem valor reforçado e ao
mesmo tempo requer uma maioria qualificada (é a única exceção).

Leis similares: requerem maiorias qualificadas, previstas no art.168º, mas que este
artigo não as chama orgânicas.
A figura do controlo parlamentar (dita apreciação parlamentar) dos DL, isto é, apesar do
Governo poder fazer DL ao abrigo da autorização ou não, a AR pode dizer ao Governo
“mostra cá o que tu andas a fazer, que é para agente apreciar” e isto é uma manifestação
de predominância legislativa da AR que o Governo não pode fazer o mesmo em relação
às leis da AR, óbvio, mesmo que o DL tenha sido emitido ao abrigo de uma autorização,
a AR pode apreciar o DL governamental e pode retificá-lo.
Nesta parte da organização política, o que a nossa Constituição pensou para o normal
funcionamento da democracia portuguesa é um sistema político assente em partidos,
não é obrigatório que assim o seja, existem muitos modelos políticos que nós podemos
conceber constitucionalmente o desenho da forma de funcionamento não deixa de ser
democrático por seguir diferentes vias, existem opções possíveis. Contudo, a opção da
Constituição é uma opção assente nos partidos políticos tal como resulta do artigo 114º
da CRP.
As eleições para os órgãos colegiais são essencialmente assentes em partidos políticos,
exceto as eleições para PR, porque este é um órgão individual. Existe outra exceção,
que são as eleições autárquicas, aqui existe uma exceção, embora se mantenha o
princípio de eleição por lista, a verdade é que podem existir listas de cidadãos, ou seja,
para as autárquicas, seja para as freguesias, seja para os municípios, é possível que os
cidadãos se agrupem em listas e concorram como tal, sem estarem formalizados com
uma estrutura político-partidária por trás.
A regra é a das candidaturas serem apresentadas por partidos políticos ou por coligações
de partidos políticos, ou seja, mais do que um partido político coligados entre si. Isto é
assim para as legislativas, isto é, para as eleições dos deputados para o parlamento, à
AR, é assim também para as eleições regionais – para as assembleias legislativas
regionais dos Açores e da Madeira – e é assim para as autárquicas, com a exceção de
além dos partidos também listas de cidadãos poderem concorrer.
Este é um princípio em que a Constituição estruturou, nomeadamente, a composição do
Parlamento – ela é feita com base nos partidos, apesar de poderem existir deputados
independentes não inscritos.
Em Portugal, as eleições para a AR, são feitas em círculos eleitorais (artigo 149º da
CRP), que coincidem com aquilo a que chamamos distritos, em cada círculo eleitoral
concorrem certos partidos, um partido não tem de concorrer a todos os círculos
eleitorais, porque para cada círculo eleitoral ele tem de apresentar uma lista de
deputados correspondente ao número de deputados que podem ser eleitos por esse
círculo mais 1/3 de suplentes. Portanto, um partido pode estar interessado em concorrer
ao Algarve, mas não estar interessado em concorrer ao Alentejo, embora, em princípio,
todos os partidos tenham que ter uma expressão nacional e não haja partidos regionais,
ou seja, em Portugal, em princípio, não é admissível um partido do Algarve concorrer
no círculo eleitoral só do Algarve e nos outros sítios ninguém iria votar nele.
No artigo 149º da CRP, a Constituição aqui até permitia uma opção diferente, isto
porque, este artigo refere que os círculos eleitorais podem ser plurinominais ou
uninominais. O que isto significa?
 Pela Constituição podem existir, como existem hoje em dia, estes círculos
eleitorais com uma lista de deputados, cada partido apresenta a sua lista, mas se
o legislador ordinário quiser, a Constituição também permite que os círculos
sejam uninominais, ou seja, à inglesa, na Inglaterra os círculos são mais
pequenos que em Portugal, portanto em vez de termos um círculo eleitoral
coincidente com o distrito, teríamos um circulo coincidente com dois ou três
concelhos, mas por exemplo, podemos definir círculos com base em deputado
por cada 50 mil habitantes e, portanto, dividir os círculos em áreas de 50 mil
habitantes e depois ter círculos uninominais.
Círculo uninominal: eu candidato-me sozinho para aquele círculo.
 Nos círculos uninominais puros, como é Inglaterra, o sistema é por um lado,
muito interessante porque obriga a um grande contacto do eleito com o eleitor.
O sistema puro inglês tem um defeito, que é se eu ganhar nem que seja por 1 voto, o que
ficou em 2º lugar pode ter tido poucos menos votos do que eu, mas não serviram para
nada aqueles votos e isto pode fazer com que partidos que tenham muitos votos e não
ter quase deputados nenhuns. Para corrigir este sistema, para tornar mais justo e
aproveitar todos os votos, inventou-se um sistema
Sistema misto, que é o francês, onde mesmo que existam círculos uninominais é preciso
eleição por maioria absoluta, ou seja, para ser o deputado eleito tem de se ter mais de
metade dos votos daquele círculo, o que significa que vai haver muitas vezes segunda
volta entre os dois primeiros. Este sistema também é acusado de prejudicar partidos,
como por exemplo o partido da Lepen, que embora ganhando muitas vezes a primeira
volta, depois perde a segunda volta porque os outros juntam-se todos contra ela e ela
tinha mais votos que os outros, mas obviamente não consegue ter mais votos que os
outros todos juntos, acabando assim por perder na segunda volta. Isto significa que o
partido acaba por ter menos deputados do que aquilo que é a expressão de votos que
pode ter, por exemplo, a nível nacional.
Para corrigir estes defeitos, existe uma proposta que já se pensou implementar em
Portugal, que é a criação de um círculo uninominal complementado por um círculo
nacional, qual é a ideia? A ideia é esta, que cada círculo eleitoral elege de facto um só
deputado, portanto o que ganhar, mas os votos dos que perderem não são jogados fora e
nós vamos ter o pacote de, por exemplo, 50 deputados a nível nacional que vão ser
eleitos usando os votos de todos os que perderam nas eleições dos círculos uninominais.
 Exemplo: círculo uninominal de Lagoa, Portimão e Silves, íamos eleger 1
deputado. O João ganhou, o partido dele elegeu a ele, mas nós outros ficamos a
Joana em 2º, a Filipa em 3º, a Patrícia em 4º, a Ana em 5º, o que acontece? Os
votos delas não são perdidos nem jogados fora, vão para o bolo nacional do
partido delas para depois distribuir os 50 deputados desse bolo nacional em
função desses resultados e, portanto, um partido que perca muitas vezes em 2º
lugar, há de ter muitos votos no final, portanto desses 50 deputados se calhar vai
buscar 15 ou 20, aproveitando assim os votos.

Método de Hondt (art.149º, nº2 da CRP): é um esquema em que nós vamos dividir o
número de votos expressos, ou seja, o número de pessoas que votaram, pelo número de
eleitos, portanto, potenciais eleitos e vamos ver quantos votos são precisos para eleger
cada um. É o método utilizado em Portugal.
A Assembleia até o alterar ou não, suspendi-o logo, sendo isto uma medida preventiva,
uma medida quase que cautelar, fica logo suspenso até que a administração, até que a
AR se pronuncia sobre se vai ou não alterar. Só que esta suspensão não pode ser eterna,
a AR tem um prazo, se suspendeu o DL, tem um prazo para o alterar ou não. Caso não
altere, se nada propõe, então o DL volta a entrar em vigor, não pode estar eternamente
suspenso e este prazo é relativamente curto para que a AR altere o DL estando ele
suspenso, desde que se trate de um DL emitido ao abrigo de uma autorização, não
noutros casos.
Por sua vez, o período durante o qual a AR pode pedir a apreciação do DL é desde a sua
publicação, ou seja, 30 dias, isto porque não existe nenhuma conveniência em que esse
período fosse muito longo ou por uma questão de segurança se o DL entrou em vigor, a
possibilidade da sua alteração pela AR não pode durar eternamente, até porque isto
poderia gerar inconvenientes, por exemplo, de um Dl que criminaliza uma determinada
atividade, a matéria penal não é matéria de reserva absoluta da AR, mas sim de reserva
relativa, logo o Governo desde que autorizado pode modificar o código penal e criar
novos crimes. Então suponhamos que o Governo por DL criminaliza uma atividade
qualquer e isso está em vigor há 30 dias, se efetivamente a AR passados os 30 dias
resolve alterar o DL, tudo quanto se verificou ao abrigo desse DL, que está agora
suspenso, então aquilo só foi considerado crime durante 30 dias depois deixou de ser,
portanto para evitar estas situações que podem gerar desigualdades é que o período
durante o qual a AR pode alterar/pode pedir a sua apreciação para efeitos de alteração
do DL, é relativamente curto e findo este período já não o pode fazer.
Mas a AR está sempre a tempo de revogar o DL através de uma nova lei?
 Claro que sim, mas isto não é alterá-lo, nem o apreciar. Neste caso a AR altera o
DL que o Governo fez, fazendo uma lei nova sobre a mesma questão da Lei. 
Por norma é o que acontece.
NOTA: As leis revogam os DL, tal como os DL emitidos no âmbito das competências
concorrente revogam as leis.

Discussão e votação: art.168º da CRP.


Proposta de lei: sugestão, é algo que vem fora do órgão que pode decidir e que é
submetido caso assim o entendam se poder transformar em lei. São propostas sempre
que venham de fora, é externo, do Parlamento, de fora da AR.
Projeto de lei: é um rascunho de uma lei, é um estudo que se propõe que seja uma lei,
logo é interna é feita pelo próprio órgão que vai fazer a lei. Sempre que emanem dos
grupos parlamentares, que é o nome que os partidos têm quando se organizam na AR.
Decidir – é sempre por um órgão singular ou, então é usado no sentido amplo de
abarcar, é o poder de tomar uma decisão.  órgão é individual
Deliberar – é sempre uma decisão tomada por um órgão colegial, ou seja, por um órgão
que tem mais de um titular/membro.  órgão é coletivo
 Ex: sempre que um Tribunal Coletivo decide delibera. Sempre que uma
Assembleia decide delibera. O Governo em Conselho de Ministros delibera, mas
o Ministro quando faz uma Portaria já decide, porque decide sozinho.
Quando o Governo pretende legislar sob a forma de DL, o que ele elabora é um projeto
para levar ao Conselho de Ministros.
Quando o Governo entende que a forma não deve ser a de DL, mas sim a de Lei e pode
entender isto por 2 razões:
 Pode entender que deve ser uma Lei e não um DL porque não cabe a forma de
DL, imaginemos, porque nos termos da lei tem de ser uma lei, o Governo
entende que deve ser feita uma lei sobre a aquisição/perda e reaquisição da
cidadania portuguesa – alínea f) do art.164º da CRP – isto é reserva absoluta,
logo não pode ser DL. Ora, se o Governo entende que deve ser feita uma
alteração ou uma nova, só tem uma hipótese é apresentar uma proposta ao
parlamento.
 Se for relativo a matérias onde existe livre concorrência, ou seja, nenhuma das
que estão no artigo 164º nem no art.165º da CRP, o que o Governo faz é
elaborar um projeto para ele próprio de lei.

Não se confunde o poder deliberativo, o poder de decidir, com o poder de iniciativa.


Quando se diz “as leis são da AR” significa que as leis só podem ser aprovadas pela
AR, isto chama-se poder de decidir/deliberar.
Contrariamente é o poder de iniciativa, quem pode fazer espoletar o processo. Quem
pode dar o arranque? Quem tiver poder de iniciativa (que é diferente do poder de
decidir), existem situações onde quem tem a iniciativa é o mesmo que pode decidir, por
outro lado, existem situações onde o poder de iniciativa está atribuído a umas entidades
e o poder de decidir está atribuído a outras.
Ao contrário de um DL, que o Governo leva ao Conselho de Ministros e, no mesmo
momento, é debatido e deliberado logo. Na AR o processo legislativo é mais
complexo e tem obrigatoriamente 2 momentos:
 Um de discussão de debate na generalidade
 Um de discussão de debate na especialidade

Depois, por uma questão muitas vezes de vinculação formal, tem mais um terceiro
momento. Portanto existem 3 momentos:
 Uma votação na generalidade – que ocorre no final do debate na generalidade;
 Uma votação na especialidade – que ocorre no final do debate na especialidade;
 Uma votação final global
Concluindo, existem 2 debates e 3 votações para que possa existir uma lei.
Os projetos propostas de lei é diferente: 2 debates e 3 votações.

Timeline de uma lei na AR:


1º momento: apresentação/entrada do(a) projeto/proposta.
Momento intermédio – agendamento: onde se juntam os líderes parlamentares e fazem o
agendamento para o momento 2º.
2º momento: discussão da(o) proposta/projeto na generalidade – vamos discutir os
méritos daquela proposta sem a preocupação de aquilo ser o produto final. O que
importa é discutir se a ideia é boa ou não, se contempla boas soluções.
3º momento: votação na generalidade – não é tanto quanto ao texto, mas sim quanto a
ideia ser boa ou não.
NOTA: A proposta aqui pode ser retificada? Pode porque, imaginemos, se a ideia era
votar contra, mas se disserem “se vocês retirarem o artigo 30º, nós já votamos a favor”,
portanto, neste caso mais vale retirar logo e ter uma votação favorável para o processo
avançar. Embora o normal não seja existirem grandes alterações, porque normalmente a
votação na generalidade não é tanto quanto ao texto, mas quanto à ideia que está incita
ao texto, isto é, quanto ao fim da proposta.
4º momento: discussão na especialidade – ou seja, aprovada a lei na generalidade, ela
passa a ser discutida na especialidade. Aqui existe 2 hipóteses, que são a discussão na
comissão ou discussão no Plenário.
 Até aqui foi tudo feito no plenário, ou seja, a discussão e a votação na
generalidade foram feitas no plenário. Na votação na especialidade ela na
maioria dos casos, não é feita no plenário, mas é feita em comissões próprias
especializadas da matéria em causa. porque é mais produtivo, mais técnico, e no
plenário, só em determinados casos. O parlamento está dividido em comissões
de especialidade para esta análise de pormenores, depois de uma discussão
genérica passar a uma análise de filigrana, uma análise de verificação mais fina,
já com a preocupação não sobre o tema, mas sobre o discurso, sobre a decisão,
sobre os artigos, o que cada artigo vai dizer/contempla. Na maior parte das
matérias a AR pode dizer “e agora a discussão faz-se na comissão”.
 Regra: a discussão faz-se na comissão porque é mais produtivo/mais técnico.
Exceção: é se a AR deliberar o contrário e disser “por uma questão de
visibilidade a discussão é feita no plenário, em vez de ser numa comissão
fechada onde ninguém poderia assistir” visto que os debates no plenário são
públicos, sendo as exceções aquelas previstas no nº4 do art.168º da CRP.
5º momento: votação na especialidade – ou seja, depois da discussão na especialidade
chegamos a uma proposta ou várias, isto porque sobre algumas matérias, por exemplo,
um partido decide apresentar um projeto de lei sobre a revisão do programa educativo
em Portugal, os outros partidos normalmente sabendo que vai ser discutido aquilo
também eles apresentam as suas propostas com diferenças, e é normal que no final, ou
seja, quando se faz logo a votação na generalidade pode acontecer uma de duas coisas:
 ou uma proposta ganha logo e as outras são todas derrotadas e é na vencedora
que vamos trabalhar;
 ou, como já tem acontecido, os deputados até decidem votar favoravelmente
duas ou três propostas para depois as fundir na discussão na especialidade, ou
seja, dizendo “a proposta do partido A é muito boa na primeira parte, mas é
péssima naquilo que estabelece em termos de regime de funcionamento. A do
partido B é boa nessa parte, mas não é tão boa assim na primeira. Mas nós
vamos votar nas duas favoravelmente e vamos das duas fazer uma melhor” e o
local próprio para fazer isto é o debate na especialidade. Mesmo que só passe
uma proposta todos os outros partidos podem apresentar propostas de alteração à
proposta que foi aprovada, isto tudo depende da sensibilidade dos deputados e
dos interesses que têm em que a lei seja boa e das maiorias políticas que se
formam em cada momento no Parlamento.
 Este momento é aquele que faz apurar um texto, que já deve ser nesta fase
coerente conforme aquilo que é a vontade do Parlamento e o correspondente a
tal.
6º momento: votação final global – existe porque normalmente a votação na
especialidade não se faz da lei enquanto todo, mas ponto a ponto, artigo a artigo e a
votação global final é um arrumar de ideias e dizer “o todo final é este”. Por outro lado,
tem a vantagem de ser feita no Plenário para que o ato seja efetivamente do Parlamento
e da Assembleia, para que seja uma lei destes e não da comissão, isto é, pata que não
existam dúvidas de que aquela lei é do Parlamento e não da comissão.
 Posto isto, por um lado, fazer uma votação do texto como um todo e não do
texto aos bocadinhos, como acontece na especialidade, e, por outro lado, para
que ela seja formalmente um ato do órgão que tenha esse poder, isto é, o
Parlamento, e por tanto, é na AR e não numa comissão de especialidade.
Chegados aqui temos a lei aprovada.
Qualquer lei ou DL entre ser proposta ou projeto e de ter a forma final, DL ou Lei,
chama-se Decreto. Ou seja, quando entra chama-se proposta ou projeto, enquanto faz
este percurso até ter a forma final é um decreto, ou seja, é uma lei em potência ou é um
decreto-lei em potência. No final depois de aprovada e devidamente promulgada assume
a figura formal que tem, no caso da AR é Lei, no caso do Governo é DL, mas só quando
o processo está concluído é que ela é lei ou DL, até aqui é sempre um decreto.
Terminamos assim a parte da Assembleia.
Existe aqui uma parte que já não é jurídica, mas que é importante, que é depois da lei
ser votada, a AR gasta dinheiro com um conjunto de pessoas especializadas e muito
atentas que vão ler a lei de fio a pavia, de trás para a frente aos bocadinhos para
verificar se não existem contradições, esta revisão de pormenor da lei é feita por uma
equipa técnica para ter a certeza de que não existem erros e contradições.
Nem depois da aprovação final global ela se chama lei, só é chamada de lei depois de
recolher a promulgação do PR.
O momento seguinte é – do artigo 136º da CRP – enviar para o Presidente da República
para ele promulgar, vetar ou enviar para o Tribunal Constitucional.  Promulgação e
Veto
Não existem leis nem DL sem a promulgação do PR.
Decreto é o nome que a lei tem antes de ser promulgada – artigo 136º da CRP.
Artigo 136º, nº1 da CRP – diz que o PR tem 20 dias para:
 Promulgar; ou
 Exercer o direito de veto
 Este prazo é o prazo para promulgar ou vetar politicamente, porque o prazo que
o PR tem para suscitar a fiscalização da constitucionalidade não é este, este é um
momento prévio, o prazo da fiscalização da constitucionalidade encontra-se
previsto no artigo 278º, nºs 1 e 3 da CRP – 8 dias.
Isto significa que o PR recebido o decreto da AR ou do Governo tem 8 dias
para suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade. Este é o primeiro
prazo que o PR tem, ou seja, é a primeira coisa que tem de se preocupar, onde
tem de decidir se manda ou não verificar a constitucionalidade.
Caso o PR mande verificar a constitucionalidade, ele fica à espera que o Tribunal
Constitucional decida e comunique a decisão.
Se ele nestes 8 dias não comunicou e não pediu a fiscalização da constitucionalidade,
então nos 12 dias seguintes ele tem de decidir se veta ou não veta, isto porque ele tem
20 dias para decidir se veta ou promulga desde que recebeu o decreto.
Posto isto, os prazos são cumulativos na parte em que coincidem. Portanto, se o PR
recebeu o decreto, tem 8 dias para decidir se manda ou não, se ele não tiver dúvidas
nenhumas que aquilo não é inconstitucional e acha que é urgente promulga de imediato.
Contudo, ele pode ter dúvidas relativamente à constitucionalidade, ele envia o decreto
para o Tribunal Constitucional, sendo que este envio tem de ser feito no prazo de 8 dias
corridos – art. 278º, nº3 da CRP – depois o PR tem 20 dias, sendo que destes 20 dias ele
já consumiu 8 dias para decidir se enviava ou não o decreto para o TC e caso não envie
passados estes 8 dias, então já só tem 12 dias para poder promulgar ou vetar.
Agora, caso ele tenha enviado para o TC e este disse que a norma é constitucional, o
que tem o PR de fazer quando recebe a decisão do TC e qual o prazo que tem?
 Ele pode vetar ou promulgar, no prazo é 20 dias corridos (este prazo renasce
desde que o TC não se pronuncie pela inconstitucionalidade) – art. 136º, nº1 da
CRP.
 Contudo, o PR é obrigado a vetar caso o TC se pronuncie sobre a
inconstitucionalidade – art. 279, nº1 da CRP + art.136º, nº5 da CRP.

Promulgação e veto político ≠ veto por inconstitucionalidade

Veto por inconstitucionalidade tem carácter obrigatório.


Veto político tem carácter facultativo, é a alternativa de promulgar.
O Presidente pode fazer um veto político e solicita nova apreciação baseando-se no
facto de ser inconstitucional este decreto?
 Pode achar que é inconstitucional e vetar com base neste fundamento. Ele não
tem obrigatoriamente de requerer que o Tribunal Constitucional faça uma
apreciação, pois o previsto no nº1 da CRP é um poder e não uma obrigação.
 Porém, é arriscado fazer isto, por norma, o PR solicita antes de tomar uma
decisão o Tribunal Constitucional para que fique claro que aquilo é uma
interpretação do ponto de vista jurídico, não é uma interpretação política, porque
o veto pelo PR está mais associado a uma posição do Presidente contrária aquilo
que a AR fez. Exemplo: a AR decidiu baixar o IVA, mas o PR entende que num
cenário como este não faz sentido baixar o IVA, portanto assume uma posição
política dizendo que não acha aconselhado.
Caso o TC não se pronuncie sobre a inconstitucionalidade o PR tem 20 dias para ou
promulgar ou vetar politicamente.
Sempre que haja veto, mesmo que não seja político, o decreto é devolvido para a AR.
Depois de recebido o decreto pela AR  artigo 136º, nº2 da CRP – e aqui existe um
choque de legitimidades democráticas, isto porque o PR é eleito democraticamente, por
isso é que ele tem este poder de veto, por outro lado a AR também é um órgão
democrático, é o órgão dos representantes do povo, daí existir aqui um choque de
legitimidades democráticas e o legislador aqui escolheu optar pela legitimidade
parlamentar que se vai sobrepor à do PR, isto poderá dever-se ao facto de que existe
uma representatividade na AR que é de um espectro mais alargado, isto é, existe mais
gente, isto porque se o PR foi eleito pela maioria, no parlamento estão todos, e também
por uma razão conceptual da divisão de poderes, isto porque quem tem o poder
legislativo por excelência é a AR, logo o poder legislativo é do Parlamento e não do
Presidente.
O nº3 do art.136º da CRP prevê uma exceção.
A dupla maioria é de 2/3 dos presentes, mas sempre com a obrigação de ser mais do que
a maioria absoluta dos deputados, logo tem de ser pelo menos 117.
O nº4 do art.136º da CRP é a promulgação ou veto dos decretos que vem do Governo,
porque o Governo também tem uma função legislativa. Tem um poder legislativo
próprio e um poder legislativo derivado (através das leis de autorização do art.165º da
CRP).
 Os decretos que vem do Governo para ser promulgado como decreto-lei, o PR
aqui tem o dobro do tempo (40 dias), porque mais tempo? Porque à partida os
diplomas do Governo podem ser diplomas mais técnicos do que os diplomas da
AR, normalmente na AR fazem-se leis com os princípios gerais, leis-quadro,
normas genéricas quase principais, e depois compete ao Governo fazer os
decretos-leis desenvolvendo e especificando mais e, portanto, normalmente os
decretos de leis podem um carácter mais técnico do que as próprias leis.
 Aqui o PR só faz uma coisa que é se vem um decreto do Governo para se
promulgado como DL e o PR acha que não deve ser, este só promulga ou veta.
Caso vete, o decreto é devolvido, explica porque é que vetou e fica por aí. O
Governo não tem hipótese de ultrapassar o veto político como acontece com os
decretos da AR.  Aqui se o PR vetar “morre” a questão
 A única alternativa que o Governo tem é, por exemplo, o Governo manda um
decreto onde queria fazer um novo regime jurídico do arrendamento, o PR veta,
diz que não tem lógica nenhuma e devolve ao Governo. O Governo tem como
única alternativa transformar aquele decreto em proposta de lei, enviar, ao
abrigo do seu poder de iniciativa (art.167º da CRP, esta proposta de lei para a
AR e caso esta aprove, ela remete para o PR como decreto da AR e não como
decreto do Governo, e aqui caso o PR vete já pode existir a sobreposição através
da maioria, prevista no nº2 do art.136º da CRP.
Poder de iniciativa:
 artigo 167º da CRP
 do Governo – art.197º, nº1, d) da CRP

Distinga o exercício do veto em relação a um decreto da AR e a um decreto do


Governo (IMPORTANTE)
 2 diferenças são o prazo, 20 para a AR e 40 para o Governo, e o facto de na AR
poder ser ultrapassado e no Governo não.
4 possibilidades de iniciativa legislativa:
 Normal – que é a dos deputados.
 Governo
 Assembleia Legislativa Regional – das regiões
 Grupo de cidadãos
Governo (art.182º e ss CRP):
Órgão de Estado mais complexo, isto porque compete em 3 funções: políticas,
legislativas e administrativas/executivas. Contrariamente à AR que só tem competências
políticas e legislativas, o PR que só tem competências políticas, e os Tribunais que só
tem competências judiciais.
O Governo embora tenha competências legislativas, essencialmente é um órgão
executivo, é o órgão a quem compete, segundo a CRP, a condução da política, ou seja, a
definição da atuação em concreto no Governo (no sentido da condução do país) e é
simultaneamente o órgão superior da Administração Pública.
Administração Pública – artigo 266º e ss da CRP – é a organização dentro do Estado
que visa a prossecução do interesse público, ou seja, visa assegurar que aquilo que são
os interesses comuns da população, aquilo que são os interesses que se sobrepõem aos
interesses particulares de qualquer cidadão enquanto tal, e que configura este sentido de
interesse público, interesse geral prevalecendo sobre o interesse individual.
Compete ao Governo conduzir a órgão de topo desta administração que tem outros
órgãos e agentes, de acordo com o nº2 do art.266º da CRP.
Princípios fundamentais que devem respeitar (art.266º, nº2 da CRP):
 Legalidade – de a administração só agir nos termos do que a lei permite, esta não
pode fazer nada sem invocar uma lei/norma jurídica como fundamento para
fazer algo, todas as atuações têm de ser sempre fundamentadas de direito e de
facto, ou seja, explicar porquê estão mal ou bem e a norma que confere esse
poder. Portanto, a norma jurídica é a base do princípio da legalidade e a
administração tem sempre de agir com base na lei, isto é, tem sempre que
invocar uma norma para poder agir. E ainda assim tem de agir com respeito no
princípio da igualdade.
 Igualdade – ou seja, a administração não pode tratar de forma diferente os que
são iguais, nem de forma igual os que são diferentes. Porque o princípio da
igualdade não é tratar todos da mesma maneria, mas sim tratar da mesma
maneira o que é igual e tratar de maneira diferente o que é diferente.
 Proporcionalidade – é o princípio que nos dá a exata medida, tal com o da
igualdade, daquilo que a administração pode fazer. A proporcionalidade exige
que haja uma adequação dos meios ao fim. Este princípio é visto através de 3
aspetos, divide-se em 3 princípios:
adequação – uma coisa ser adequada, ser o caminho correto, ser o meio
adequado. A adequação significa que a opção escolhida pela administração é a
certa para chegar ao fim;
exigibilidade – ser no momento certo e pelo caminho certo;
proporcionalidade em sentido estrito – ou seja, na quantidade certa e na
medida exatamente certa.
Exemplo destes 3 princípios: O Estado precisa de dinheiro:
o princípio da adequação: lançar um imposto. O imposto é uma medida
adequada ao Estado ter dinheiro
o princípio da exigibilidade: lançar o imposto já agora e não mais tarde,
porque o dinheiro faz falta é agora e, portanto, é neste momento que é
devido e exigido
o princípio da proporcionalidade em sentido estrito: no sentido do imposto
é de 1% e não de 4% ou de 5%, porque para o dinheiro que o Estado
precisa chega 1% e não mais.
Portanto, a atuação da administração mesmo quando é com base na lei deve
ser apenas na medida exata daquilo que é o necessário.
 Justiça – a administração deve ter em conta este princípio importante. O
Governo, os órgãos do Governo – a administração em geral – tem que atuar
tendo em conta os princípios de justiça, justiça quer relativa (que já decorre do
princípio da igualdade) quer de justiça absoluta (se uma coisa, ainda que da lei
possa parecer que é uma obrigação, se não for justo pedir que as pessoas
cumpram, exemplo: isentar alguém que cometeu uma infração, mas ia em
socorro de alguém, então não é exigível a alguém que cumpra a lei com um
parente a morrer em estado grave.
 Imparcialidade – a administração tem de ser imparcial, a administração não
existe para prosseguir outro fim que não o interesse público e este pode às vezes
ser coincidente com interesses privados, mas nunca pode ser a prevalência desse
privado pelo interesse público.
 Boa-fé – que deve regular todas as atuações em geral, não só da administração,
mas de todas as pessoas. A boa-fé significa a proteção da confiança dos outros
que cofiem em nós, ou seja, quem confia em nós merece que nós atuemos de
acordo com essa confiança que é depositada e com o princípio que se chama o
primado da materialidade subjacente, isto é, que aquilo que nós exteriorizamos
corresponda exatamente àquilo que é a nossa determinação e a nossa decisão e
que, por exemplo, não atuemos com reserva mental, que não pareçamos que
estamos a fazer uma coisa e depois estamos a fazer outra.
 Transparência – ou seja, tudo o que a administração faz deve poder ser sindical.
A transparência é essencial para percebermos tudo o resto, porque para nós
conseguirmos ver se existe proporcionalidade, se existe justiça, se houve
igualdade tem de existir transparência. Só tendo conhecimento do que a
administração faz é que se pode julgar. Isto é muito importante porque a
administração e o Governo, enquanto seu órgão principal, prossegue o fim
público e este é aquele que pode condicionar a vida de todos nós, porque o fim
público pode conduzir a coisas como expropriações.
O Estado é uma pessoa coletiva pública, a figura desta pessoa é inventada no séc. XVIII
pelo Barão Samuelson, que lançou a ideia da pessoa coletiva para identificar realidades
como o Estado ou Autarquias Locais.
 Nota: Também existem pessoas coletivas privadas.
Uma pessoa coletiva é uma abstração, é um conceito, porque não existe, e serve como
centro de imputação de direitos e deveres, os direitos do Estado imputam-se aos
Estados, os deveres do Estado para connosco imputam-se ao Estado. O Estado pode ser
demandado em Tribunal, as autarquias podem ser demandadas em tribunal, isto porque
são centros de direitos e deveres.
As pessoas coletivas públicas, assim como as privadas, atuam através de órgãos, que são
centros de poderes, centros institucionais. Exemplos:
 a autarquia de Portimão atua através da Câmara Municipal de Portimão.
 o Estado português atua através da Assembleia da República, do Governo, dos
Tribunais e da Administração.
A CRP tem a parte financeira que refere que existem necessidades coletivas que o
Estado tem que assegurar e quem tem de as assegurar é a administração pública e a sua
“cabeça” que é o Governo.
Cabe ao Governo a condução da política geral do país, ou seja, a tomada das decisões
que condicionam o país e, por isto, é que o Governo tem um forte poder de iniciativa
legislativa, porque se cabe a ele a condução da política, esta é por essência a tomada da
decisão.
Política – a definição etimológica é o governo da polis, ou seja, o governo da cidade, a
condução dos destinos da cidade. Ora, a condução dos destinos da cidade é a tomada
das decisões.
A tomada da decisão – o momento de escolher – é o momento chave, porque a partir do
momento em que escolhemos tudo o resto está condicionado à escolha que tomamos.
Na organização do Governo há uma regra muito importante  quem tem as
competências concretas para o exercício de cada área são os ministros, ou seja, o fim
genérico que o Governo visa prosseguir da prossecução do interesse público está divido
em sub-fins, em fins secundários, exemplo: área da saúde, dos transportes, da justiça,
etc, e estas áreas estão cometidas ao ministro respetivo. Portanto, a condução da política
de cada uma das áreas pertence ao ministro da área respetiva, não pertence ao primeiro-
ministro. O Primeiro-Ministro é o coordenador do Governo, é aquele que tem de
assegurar que o Governo funciona, mas a condução de uma política em concreto não é
do primeiro-ministro, é do ministro da área.
O Vice-Primeiro-Ministro só assume a chefia do Governo interinamente, por exemplo,
uma doença do primeiro-ministro, numa ausência do primeiro-ministro, nas férias do
primeiro-ministro, mas pressupõe que temos o primeiro-ministro em funções.
Se o Primeiro-Ministro cair, o Governo cai todo, porque todo o Governo é de confiança
do Primeiro-Ministro.
Os órgãos não têm personalidade jurídica, quem tem personalidade jurídica é o Estado
ou a Autarquia, sendo os órgãos apenas instrumentos que a pessoa jurídica se serve para
poder atuar.
Os órgãos têm de ser titulares, que são as pessoas físicas que os órgãos carecem para
poder atuar, não são computadores, são humanos, que podem ser eleitos ou nomeados.
Os órgãos podem ser:
 Singulares – é o caso do Presidente;
 Coletivos – é o caso da AR e do Governo.
O Governo é um órgão do Estado, só que como é complexo tem vários órgãos
secundários:
 Primeiro-ministro;
 Ministros;
 Secretários de Estado;
 Subsecretários de Estado; e, ainda do ponto de vista do prof.
 Conselho de Ministros – que é o conjunto do Primeiro-ministro e dos Ministros.
O Governo tem vários órgãos:
 Coletivos – ex: Conselho de Ministros
 Individuais – ex: Primeiro-Ministro, Ministros individualmente considerados

O Vice-Primeiro-Ministro, não é um órgão necessário – mas pode existir – atualmente


não existe, mas já houve.
Alguns dos ministros acumulam a função de Vice-Primeiro-Ministro, mas este não é
uma figura diferente dos ministros. São 3 ministros que podem ser Vice-Primeiro-
Ministro.
Assim como também é hábito criar-se, recentemente, a figura Ministro de Estado. Os
Ministros de Estado, que normalmente acumulam com uma das pastas para não existir
um ministro que seja só ministro de estado, é para não termos muitos Vice-primeiros-
ministros, para dar uma hierarquia dentro do Governo. Portanto, o Ministro de Estado
tem além da competência própria da área que lhe pertence, tem ainda uma competência
genérica para coordenar, ele tem um nível hierárquico superior em relação aos outros
ministros.
O Governo pode funcionar de 2 maneiras:
 Conselho de Ministros – com os ministros todos juntos (art.184º da CRP); ou
 Cada ministro individualmente ou em conjunto consoante a interligação entre as
matérias especificas.
Por isso, é que quando se encontra uma Portaria, que é uma norma regulamentar do
Ministério ou de vários Ministérios em conjunto, as Portarias não são assinadas em
Conselho de Ministros, as Portarias são da competência própria do respetivo ministro. É
um ato de competência ministerial, do próprio ministro, não é do Conselho de
Ministros, não existe uma responsabilidade solidária do Conselho de Ministros.
Se há um DL, uma resolução ou um decreto regulamentar – são da competência do
Conselho de Ministros, ainda que sejam da área especifica de um qualquer ministro, a
solidariedade por aquele DL é solidária em termos colegiais porque é provada em
Conselho de Ministros.
Quem compõe o Conselho de Ministros? Art.184º, nº1 da CRP, estes são os
integrantes normais do Conselho de Ministros. Porém, pode haver presenças de
Secretários de Estado em Conselho de Ministros, quer em substituição do seu ministro
quer por convite do Governo, nos termos do nº3 do referido artigo.
A gestão de cada pasta, a gestão política, é do ministro, mas em todas as áreas para além
da questão política, existem normalmente questões técnicas e, portanto, é preciso ter
gente que possa tomar decisões políticas e que sejam bons técnicos.  a figura do
Secretário e do Subsecretário de Estado.
O Secretário de Estado alia uma competência técnica a uma competência política, tem
as 2 decisões, normalmente os Secretários de Estado quando existem são mesmo
técnicos. Nas leis orgânicas, os Secretários de Estado não têm nenhuma competência
distribuída, as competências são do ministro e este depois é que vai, através da
delegação de competências, distribuir entre os seus Secretários de Estado.
Substituição dos membros do Governo  art.185º da CRP
Artigo 186º da CRP:
 O ato de exclusão de um membro do Governo chama-se exoneração.
 Nº3: estamos perante uma situação de hierarquização, isto porque estes já não
são dependentes do Primeiro-Ministro, mas sim dos Ministros. Cai um ministro
e os secretários de Estado caiem todos também, sendo que o Ministro que vier a
seguir pode chamar alguns do Secretários de Estado que caíram.
Em Portugal, atualmente e segundo a CRP, o Primeiro-Ministro é o órgão de
coordenação da política geral do Governo, é um coordenador, ou seja, não é um
superior hierárquico dos ministros, não existe uma relação de hierarquia entre o
primeiro-ministro e os Ministros. Porquê?
 Porque o primeiro-ministro embora proponha a nomeação e a exoneração dos
ministros, quem nomeia os ministros e os exonera é o Presidente e não pelo
primeiro-ministro. Na altura de Salazar não acontecia isto, quem nomeava e
exonerava era o primeiro-ministro, o Presidente da República nem era ouvido, o
Governo era uma espécie de gabinete de apoio ao primeiro-ministro. O Salazar
pelo que se diz despedia os Ministros por carta e o Presidente da República nem
era ouvido.

Mas o PR pode dizer ao PM se o PM lhe aparece com uma proposta para nomear o
Ministro da Justiça determinada pessoa, poderá o PR dizer que não aceita e para este
arranjar melhor?
 Pode e já aconteceu.
 Tal como pode aconselhar a não demitir um Ministro, pois pode trazer
desvantagens ou só pelo motivo de estar a fazer um bom trabalho.

O Primeiro-Ministro NÃO é superior hierárquico dos Ministros, mas sim um


coordenador.
O Primeiro-Ministro é responsável perante o Presidente e perante a AR, mas os
Ministros são responsáveis perante a AR, podendo serem chamados à AR para prestar
declarações e o PM também. Mas perante o PR não são os Ministros que são
individualmente responsáveis, é sim o primeiro-ministro.
O Governo é um órgão colegial e solidário, ou seja, quase tudo o que o Governo
delibera é no Conselho de Ministros, este aprova os tratados, DL, aprova grande parte
dos regulamentos e aprova as linhas gerais da política governamental, ou seja, os
Ministros individualmente considerados não decidem nada, é no Conselho de Ministros
que tudo se passa.  Esta é a regra, consagrada na CRP na parte das competências do
Conselho de Ministros.
O Governo é um órgão solidário, ou seja, por qualquer deliberação que seja tomada no
Conselho de Ministros, são responsáveis todos os outros Ministros, seja de que área
forem. Portanto, o Governo é solidariamente responsável por tudo o que se passa. No
Conselho de Ministros não existem maiorias, quem não quiser votar vai-se embora,
demite-se.
O Governo ainda que seja de soberania, é iminentemente técnico, é o órgão que tem de
executar.
O Governo é ao mesmo tempo um órgão de soberania político (a quem cabe tomada de
decisões políticas, ou seja, de opções), é, ao mesmo tempo, um órgão legislativo (não é
o órgão legislativo por excelência, mas é um órgão, em termos de quantidade, é o que
faz mais produção legislativa, pela natureza das coisas) e é a “cabeça” da administração
(é o órgão executivo por excelência, ou seja, aquele que tem de executar as decisões,
quer as que ele tome, quer as que decorrem da lei (independentemente de ser dele ou
não) e, portanto, tem competência administrativa, tem a responsabilidade máxima pelo
funcionamento da administração público, pelo funcionamento do setor administrativo
do estado).
Entende-se que os Ministros são essencialmente coadjuvantes técnicos de competência
da confiança do Primeiro-Ministro, isto porque quem escolhe os ministros é o PM,
segundo o artigo 187º da CRP. Porém que valida a escolha é o PR.
O governo é o órgão executivo a nível nacional.
Ninguém escolhe o Governo, em país nenhum existe eleições para o Governo. O
Governo é escolhido dentro dos deputados ou não, mas não existem eleições para
escolher o Governo. Porém, existem eleições para escolher o Presidente e para escolher
o Parlamento.
A nível da freguesia também é assim, existe um boletim de voto para eleger a
assembleia de freguesia, mas ninguém elege a junta de freguesia. Depois na primeira
sessão da assembleia de freguesia é eleita a junta de freguesia, consoante as maiorias.
Relativamente às Câmaras Municipais existem uma eleição para a Câmara e uma
eleição para a assembleia, o que faz com que quer a assembleia quer a câmara tenham
legitimidades completamente distintas, o que confere um subpoder à Câmara Municipal
sem sentido, isto porque a câmara deveria ser politicamente controlada/responsável
perante a assembleia, tal como o Governo é controlado pela Assembleia da República.
A Câmara tem de ter sempre número ímpar de membros.
Competência do Conselho de Ministros: artigo 200º da CRP  neste conselho não
existem maiorias.
Competência dos ministros per si – artigo 201º da CRP
Quando o governo faz DL, é ele que legisla, portanto, é em sede de conselho de
ministros.  alínea c) e d) do nº1 do artigo 200º da CRP.
Nos artigos 197º, 198º e 199º da CRP  temos a divisão de competências de acordo
com a sua natureza (política, legislativa e administrativa).
Nos artigos 200º e 201º da CRP  temos a divisão dessas competências, já não segundo
a natureza, mas tendo em conta qual a entidade competente, se é o Conselho de
Ministros (todos os ministros juntos com o primeiro-ministro) ou cada ministro
individualmente ou de forma conjunto de dois ou três (caso se trate de Portarias).
O primeiro-ministro não tem nenhuma competência ao nível político especificamente,
ele tem competências de direção do funcionamento do Governo, direção da política
geral (ele dá as diretrizes, mas depois as medidas concretas não são do primeiro-
ministro).
Artigo 201º, nº2, a) da CRP – portanto, a definição da política, das regras orientadoras
gerais se vamos, por exemplo, melhorar ou piorar a saúde, ou se vamos apostar na
agricultura ou nas pescas – estas são diretrizes genéricas e são da responsabilidade do
primeiro-ministro, mas a execução em concreto compete de cada ministro e não do
Governo enquanto um todo.
Artigo 201º, nº3 da CRP – vem dizer que ainda que o DL seja aprovado pelo Conselho
de Ministros, não vão os ministros todos assinar o DL, normalmente este é sempre
assinado pelo primeiro-ministro e pelo ministro que tiver competência em função da
matéria em causa.
Como se processa o procedimento normativo no interior do Governo (não está na
CRP, mas está num DL que trata disto):
 Aqui tem muita importância o papel de um órgão secundário do Governo que é a
Presidência do Conselho de Ministros.
 Existe um proponente, suponhamos, é o Ministério da saúde propõe um diploma
qualquer e este circula por todas as secretarias de Estado, estando algum tempo
em cada uma delas, é um processo longo. Nas secretarias de Estado podem ser
ou não feitas observações, concluídas as observações o diploma, depois de
passar por todas, regressa à Presidência do Conselho de Ministros e aqui é dada
a versão final.
 Depois é agendada, vai para a agenda do Conselho de Ministros e é aprovada em
Conselho de Ministros, sendo de seguida por fim publicada.
 Normalmente, de acordo com a lei orgânica de cada Governo, o ponto de vista
do Ministério das Finanças é decisivo, quando a proposta envolve aumento das
despesas públicas, o Ministério das Finanças tem uma espécie de veto “não, não
existe dinheiro, antes de chegarem às secretarias. Acabou”. Isto faz com que na
prática o Ministro das Finanças seja sempre um super ministro, porque pode
vetar um diploma vindo de outro ministério que provoque aumento das
despesas.
Existe ainda outro Ministro que dispõe de uma posição política de grande importância
que é o Ministro dos Negócios Estrangeiros, porque é a ele e só a ele negociar os
tratados e os acordos internacionais.
 Tratados quando incidem sobre matéria de competência da AR. Estes são
aprovados pela Assembleia.  ex: Tratados de definição de fronteiras
 Acordos quando não incidem sobre a matéria de competência da AR. São
aprovados em Conselho de Ministros  ex: Acordos comerciais (que não é de
matéria de competência exclusiva da AR)
 O termo genérico é Convenções. Sendo que estas se dividem em Tratados e
Acordos.
Mas quem negoceia tudo é sempre o Ministro dos Negócios Estrangeiros.
 Então se a matéria é da competência da AR, porque é que o tratado não é
negociado pela AR? Não é possível, porque ter-se-ia de eleger um grupo de
deputados pertencentes a diversos partidos para ir negociar um tratado. O que
acontecia é que não acabavam por negociar nada, isto porque eles não se iriam
entender.
 É a AR que aprova, mas quem negociei-a é o Ministro dos Negócios
Estrangeiros. O que sucede é que quando este ministro, quando a matéria é
especializada, por exemplo, tratado militar ou um tratado comercial, o Ministro
dos Negócios Estrangeiros não vai lá pessoalmente, nomeia um plenipotenciário,
que será um militar, tratar desse assunto técnico, contudo, este não o aprova,
porque quem o aprova é a AR ou o Governo, este apenas negoceia. As vezes são
embaixadores, mas quando são áreas especificas, manda-se alguém dessa área.

Os membros do Governo também gozam de algumas imunidades criminais semelhantes


aos deputados. Se, porém, eles forem acusados por crime a que corresponde uma pena
superior a 3 anos, a AR é obrigada a viabilizar a prossecução do processo-crime, assim
como, é obrigada a levantar imunidades para que o processo-crime possa prosseguir. Só
seriam acusados e julgados depois de terminado o mandato, no entanto, se ao crime
corresponder uma pena de prisão superior a 3 anos, exemplo, crime de pedofilia, a AR é
obrigada a viabilizar a continuação do processo contra esse membro do Governo. O
membro do Governo pode ser condenado e julgado durante o mandato do Governo,
provavelmente o primeiro-ministro obriga-o a demitir-se.
 Portugal é um país em que esta imunidade está constitucionalmente consagrada,
no entanto, movido processo-crime contra qualquer membro do Governo ou
demandado este como testemunha, a AR tem de autorizar a continuidade do
processo obrigatoriamente se à conduta corresponder um crime penalizado com
uma pena superior a 3 anos, neste caso a constituição do membro do Governo
como arguido é estritamente obrigatória para a AR, ou seja, a AR não pode
deixar de autorizar o membro do Governo a ser ouvido como arguido nestas
circunstâncias.
Função administrativa ou executiva (é de todas a mais complexas e é a que mais
contactamos diariamente):
 É objeto da unidade curricular de Direito Administrativo.
 O Governo para além da função administrativa, ele complementa e desenvolve
as leis.
 Quanto mais cresce esta função do Governo, mais este vai assumindo
protagonismo entre os órgãos do Estado. Dos órgãos do Estado, tirando os
Tribunais, o menos democrático é o Governo, porque não é eleito, mas sim
nomeado, tendo em conta os resultados eleitorais. Os mais democráticos são a
AR e o PR.
 O Estado Social é um Estado de Governo e não de Assembleia, é um Estado
Governamental e isto tem grandes desvantagens.
 Em Portugal, caso único na Europa, o Governo é legislador, nos outros países
não é.
 O Governo dispõe de condições ótimas para ser um poder enorme.

O Governo legisla, tem atividade política e administra, sendo este o seu papel mais
importante na prática.
Governo é um órgão coletivo, integrado pelo Primeiro Ministro, pelos Ministros, pelos
Secretários de Estado e pelos Subsecretários de Estado, e também por um órgão
essencial, onde se delibera quase tudo, que é o Conselho de Ministros, visto que é por
ele que passa quase tudo, raros são os atos que podem ser praticados pelos Ministros
individualmente e mesmo que exista alguns despachos normativos, portanto, os
regulamentos que são assinados apenas pelos Ministros da tutela desse setor, a realidade
é que mesmo estes despachos normativos que não vão a Conselho de Ministros, mas
que têm de ser assinados sempre pelo Primeiro Ministro. Regra: é que todos os atos
normativos, todos os regulamentos são necessariamente aprovados em Conselho de
Ministros, bem como os decretos-leis, os acordos internacionais, as resoluções políticas,
etc.
 Em suma, o Conselho de Ministros é o órgão por onde passa tudo ou quase tudo.
Sendo por isso que se diz que o Governo é um órgão coletivo e que a
responsabilidade de qualquer deliberação que o Governo tome é sempre do
Governo como um todo e nunca de um Ministro individualmente considerado.
Até porque se o Ministro individualmente considerado tiver competência para
assinar, ele só, um despacho normativo, este despacho tem de ser
necessariamente assinado pelo primeiro-ministro e o PM é responsável perante o
Presidente e perante a AR, em nome do Governo, isto significa que estamos
perante um princípio da responsabilidade solidária de todos os ministros do
Governo.
 NOTA: O Governo é sempre tido como um todo, é uma equipa, é um órgão
coletivo, não há nenhum Ministro que possa dizer que não sabia do que se
passava e que não teve responsabilidade no que se decidiu e que não é nada com
ele.
Relativamente às competências diferenciadas dos membros do Governo, o Ministro dos
Negócios Estrangeiros tem uma posição especial dentro do Governo, na medida em que
lhe compete em exclusivo a negociação dos tratados internacionais, o que é uma matéria
de extrema importância, sobretudo numa altura em que a internacionalização é um
fenómeno constante. Por outro lado, também há um ministro que tem um papel
importante, isto porque é por ele que passam necessariamente todos os diplomas e que
levam a última revisão que é ele que a faz antes de irem para a aprovação em Conselho
de Ministros, é um ministro que nem sempre existe, é o ministro da presidência do
Conselho de Ministros. Atualmente esta última figura não existe, mas existe um
secretário de estado da presidência do Conselho de Ministros, que é o homem que dá
forma final, a redação final, a todos os diplomas que se destinam à aprovação em
Conselho de Ministros e isto traz à evidência a importância política que este secretário
de estado tem, funciona como uma espécie de “capitão de equipa”, é um membro
importantíssimo do Governo, até porque é o único secretário de estado que tem
necessariamente assento no Conselho de Ministro.
O Governo não tem um órgão consultivo necessário, o que não significa que na
orgânica dos diversos ministérios não existam órgãos consultivos, mas órgão consultivo
do Governo como um todo não existe. Contudo, o Governo pode pedir consultas a quem
quiser, exemplo, em Portugal o Governo costuma pedir consultas ao Conselho
Consultivo do Ministério Público (o Ministério Público tem um conselho consultivo),
estas consultas têm forma de pareceres, não são vinculativas e estão publicadas e, de
uma maneira geral, trata-se de peças jurídicas de altíssima qualidade.
Funcionamento do Governo: é indispensável um princípio de continuidade do
Governo, este não pode cair, o país não pode estar sem Governo nem um dia. Então a
Constituição arranjou um mecanismo que permite esta continuidade, assim, mesmo
quando o Governo é demitido, o Governo anterior continua até que o novo Governo
tome posse. O período em que o Governo é demitido e até que o novo Governo tome
posse, diz-se que durante esse período o Governo está em gestão corrente dos assuntos,
denomina-se Governo de Gestão.
Governo de gestão: é o Governo que não pode praticar atos de conteúdo político
significativo, mas pode funcionar normalmente, continua a reunir o Conselho de
Ministros, apesar do Governo já se encontrar demitido ou então, mesmo que não
demitido pelo PR, esteja demissionário, porque o PM apresentou a demissão e o
Presidente aceitou-a, o que o Conselho de Ministros não pode fazer é aprovar atos
significativos do ponto de vista político, por exemplo, não faz sentido neste período o
Governo apresentar um orçamento ou nacionalizar uma empresa ou privatizar um banco
ou negociar e assinar um tratado de adesão ou confirmação da nossa posição na EU.
Contudo, é necessário neste período mandarem pagar os salários à função pública, tal
como é necessário honrar os compromissos do Governo decorrentes de contratos
celebrados com os particulares, estes atos de gestão corrente têm de ser praticados, até
porque a partir do momento em que o Governo é demitido ou está demissionário e a
demissão foi aceite até à tomada de posse do novo Governo, pode mediar um prazo
longo em várias circunstâncias.
 O Governo fica em gestão enquanto o seu programa não for aprovado pela AR,
caso não seja aprovado o Governo cai logo, foi o que aconteceu com o Passos
Coelho.
Competências Governamentais:
O Governo desempenha diversas funções, mas que podem ser tipificadas em 3 grandes
núcleos:
 Funções políticas – pratica atos políticos, tal como o Presidente e a AR – artigo
197º da CRP;
 Funções Legislativas – artigo 198º da CRP. o Governo faz DL e é uma
competência importante, porque a quantidade de DL por ano é superior à
quantidade de leis, logo, em termos quantitativos, o Governo é muito produtivo
em termos de legislação;
 Funções Administrativas: regulamentos (normas tem carácter geral e abstrato,
exemplos: resoluções, portarias, despachos); atos administrativos individuais e
concretos (por exemplo: nomeações, liquidações de impostos, outorga de
subsídios às empresas, autorizações, licenças, aplicação de multas); celebra
ainda contratos com os particulares, que podem ser administrativos ou contratos
de direito privado, regidos pelo CC. – artigo 199º da CRP
Ex de contrato administrativo: o Governo com uma Autarquia Local concede
a exploração a alguém de um bar/terreno numa praia, a praia é de domínio
público, onde alguém vai instalar um bar.
Ex de contrato privado: O Governo ou a Câmara Municipal quer comprar um
prédio para instalar serviços, o prédio é de um particular, compram o prédio e é
um negócio de compra e venda, regido pelo CC.
Artigo 197º, nº1, a) da CRP – acaba por ser uma espécie de controlo também do ato do
PR. Se não existir referenda não há ato jurídico, portanto, o PR tem de ter aqui também
uma validação da funcionalidade do seu ato pelo Governo.
 E se o PR quiser praticar um destes atos e o Governo recusar a refenda. Quem é
que tem a última palavra? Ou seja, por exemplo, alínea j) do artigo 136º da CRP,
o PR decidiu dissolver a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos
Açores tendo em conta que esta “geringonça” açoriana não está a funcionar e
decide, também, convocar novas eleições. Só que o Governo, era favorável ao
governo regional, recusa a referenda (é uma assinatura do ato), referindo que não
referendam porque acham que esse ato é inconstitucional e não tem razão de ser.
O que acontece?
Não há ato jurídico, ou seja, não existe dissolução, segundo o artigo 140º, nº2
da CRP. E o que faz o PR ou se é que pode fazer alguma coisa? Pode demitir o
Governo – artigo 195º, nº2 da CRP – destitui o governo declarando que está em
causa o normal funcionamento das instituições democráticas (porque o PR
também é uma instituição democrática), ou de forma menos “agressiva”,
convocar o Conselho de Estado para pedir conselhos sobre a situação.
NOTA: O PR nunca pode demitir o Governo sem ouvir antes o Conselho de Estado!!!!
– artigo 195º, nº2 da CRP
NOTA: a recusa da referenda tem de ser algo muito bem pensada pelo Governo, porque
como nas relações entre o PR e o Governo, o PR tem sempre a prevalência porque é ele
que nomeia e pode demitir o Governo, já se viu que o Governo responde perante o PR,
logo, tem de ter muito cuidado com as suas decisões, porque o PR pode demitir o
Governo, mas o inverso não se pode verificar.
As competências em matéria de DL são de 4 tipos:
 Concorrencial (artigo 198º, nº1, a) da CRP) – em todas as matérias onde não
exista reserva da Assembleia da República. Portanto, exceto as matérias do
artigo 164º da CRP – onde o Governo não pode de todo legislar – e artigo 165º
da CRP – onde o Governo só pode legislar se a AR lhe der autorização prévia.
Logo, excetuando estas 2 situações, em todas as outras matérias existe
competência concorrencial, ou seja, tanto pode existir uma Lei como um DL.
 Exclusiva (artigo 198º, nº2 da CRP) – portanto, a AR não pode interferir nesta
matéria.
 Autorizada (artigo 198º, nº1, b) da CRP) – em que o Governo só pode legislar
depois de ter uma lei de autorização com os elementos do artigo 165º, nº2 da
CRP
 Desenvolvimento (artigo 198º, nº1, c) da CRP) – acontece naquelas situações em
que a AR faz uma lei-quadro ou uma lei de bases, depois o Governo pode
desenvolver esse quadro legal ou essas bases através de um DL. Exemplo: temos
a lei de bases do território e do urbanismo e depois temos o DL que é o regime
jurídico dos instrumentos de gestão do território, que é um DL de
desenvolvimento dessa lei de bases.  é uma competência legislativa
complementar de desenvolvimento
A AR, normalmente, é no âmbito de competências legislativas reservadas, que estão as
leis-quadro. Exemplo: artigo 164º, i) da CRP – fazer as bases do sistema de ensino, logo
a lei de bases do sistema de ensino não pode deixar de ser uma lei de bases. O
desenvolvimento destas bases, ou seja, a criação de um regime jurídico mais
pormenorizado já pode ser através de um DL de desenvolvimento de princípios ou de
bases gerais destas leis.
Sempre que o Governo execute uma lei de autorização ou desenvolva uma lei de bases
tem que indicar que o está a fazer – artigo 198º, nº3 da CRP
Quando o Governo produz legislação (faz leis), ao governo compete com a AR, nos
termos da alínea a) do nº1 do artigo 198º da CRP, ou seja, a competência é
concorrencial. Portanto, o primeiro que a fizer cria o regime jurídico, posto isto, tanto
pode aquela matéria vir a constar numa lei como pode vir a ser um DL.  esta é a
regra!
Porém, a AR é o órgão legislativo por excelência, ou seja, é aquele que em regra tem
por natureza a competência legislativa. Portanto, o legislador constitucional tinha que
arranjar uma forma de sobrepor a AR ao Governo e, esta sobreposição (mais um
exemplo da interdependência), é o artigo 169º da CRP que cria a apreciação parlamentar
dos atos legislativos.
Ora, isto significa que os DL feitos pelo Governo – exceto os do artigo 198º, nº2 da
CRP – pode ser submetido à apreciação da AR para uma de duas coisas (artigo 169º, nº1
da CRP):
 Para cessar a sua vigência – ou seja, para dizer que esse DL não existe, mesmo
que tenha cumprido tudo, isto é, tenha sido aprovado no Conselho de Ministros,
foi ratificado pelo PR, foi promulgado pelo PR, foi publicado e esteja em vigor,
ou seja, existe já um DL, porém, a AR politicamente não concorda com aquele
conteúdo, acha que o regime jurídico está errado; ou
 Fazer uma alteração – quando entende que o DL não está tão mal, então procede
à alteração desse decreto-lei. Aqui o DL não muda como tal, apenas são
alteradas algumas partes.
Esta norma explica a supremacia legislativa do Parlamento sob o Governo, que é
parecido à avocação de uma competência pelo órgão delegante no órgão delegado, ou
seja, quando existe um órgão que tem uma competência que pode delegar essa
competência noutro órgão, normalmente subalterno, porque não se delega para cima,
mas sim para baixo, o órgão delegante pode sempre avocar/chamar a si o assunto, isto
porque a competência primária é do delegante, é esta que prevalece.
Estas funções compreendem o exercício de muitas atribuições e, por sua vez, as
atribuições decompõe-se em competências. As competências são em concreto aquilo
que as atribuições são em geral, em abstrato.
As atribuições não cabem/competem ao Estado, mas sim aos órgãos do Estado. Isto
porque as pessoas coletivas atuam através de órgãos. Os órgãos não têm personalidade
jurídica, quem tem personalidade jurídica é o Estado. Os órgãos são apenas
instrumentos de que o Estado carece para desempenhar as suas funções, ou melhor, as
suas atribuições. Apesar do Governo ser um órgão do Estado, quem possui
personalidade jurídica é o Estado.
Sempre que a AR chegar a uma conclusão de que o Governo afinal não está a executar
aquilo que era o seu pensamento, chama-o a si, ou seja, faz uma apreciação parlamentar
de um ato legislativo do Governo e com isto pode fazer o previsto no artigo 169º, nº1 da
CRP.
Para que isto aconteça o requisito constitucional é mínimo, isto porque basta que 10
deputados, nos 30 dias subsequentes à publicação, este prazo serve para evitar que tendo
o DL entrado na normal vigência, depois as pessoas viessem a ser surpreendidas com
alterações do regime. Exceto, quando a AR esteja em suspensão de funcionamento,
neste caso só se conta o prazo depois do restabelecimento dessa suspensão.
 Requisito quantitativo – 10 deputados
 Requisito temporal – 30 dias subsequentes à publicação
Posto isto, o previsto no artigo 169º, nº1 da CRP tem de ser feito já em vida do DL, mas
com ele ainda “bebe”, ou seja, ainda no início da sua vigência.
Assim sendo, sempre que exista um ato legislativo, a AR tem este poder,
independentemente d opinião que o PR tenha sobre o ato legislativo.
Se não se tratar de um DL no exercício de competências concorrenciais, mas de
competências autorizadas (no uso da autorização), desde que existam propostas de
alteração dentro do Parlamento, pode-se suspender a aplicação do DL enquanto se
discutem essas alterações e, depois no final, ou se decide que fica tudo na mesma ou se
decide que fica diferente.  artigo 169º, nº2 da CRP
No entanto, a suspensão caduca se durante 10 reuniões plenárias (naquelas em que o
Parlamento está todo reunido) não tiver feito a discussão, ora a suspensão caduca e o
diploma volta a aplicar-se.
O diploma deixa de vigorar desde o dia em que a resolução for publicada no Diário da
República, ou seja, deixa de existir aquele Decreto-Lei. Esta cessação de vigência tem a
forma de resolução da AR, porque é um ato político da AR, não é um ato legislativo.
Caso não faça esta apreciação, a AR tem sempre outra forma de agir, que é dado o facto
de isto ser concorrencial, o Governo faz um decreto-lei e a AR, pode de seguida fazer
uma Lei de sentido contrário, logo, e dado que a lei posterior revoga sempre a lei
anterior, portanto, o decreto-lei deixava de existir.
Porém, o legislador para ser mais “rápido” criou este sistema de apreciação e até para
demonstrar a preponderância legislativa da AR perante o Governo.
Competência Administrativa (artigo 199º da CRP):
 O Governo é o órgão máximo da Administração – lidera aquilo que se chama a
Administração Central – a administração que tem no Governo a “cabeça” e
depois está espalhada pelo país em órgãos centralizados.
 Em termos administrativos, ou seja, de gestão administrativa o Governo faz:
planos – planeia;
executa o orçamento – é a administração enquanto o órgão atuando que tem
de executar o orçamento, tem que transformar aquilo que é uma perspetiva de
despesa em despesa efetiva, tem de gastar o dinheiro que está no orçamento,
tomas as decisões em que se traduzem a gestão orçamental;
tem de fazer regulamentos – que são normas administrativas, não são normas
legais, ou seja, não são normas de primeira linha, são normas de segunda linha,
que vem concretizar aquilo que são os regimes jurídicos legais, por exemplo, a
lei diz que uma pessoa tem o direito a pedir o subsidio de desemprego, então é
necessário que exista um regulamento que refira a quem entrega o papel, qual o
prazo, o que deve constar do pedido  isto são os regulamentos, que são normas
secundárias de segundo nível necessárias à vigência das leis primárias;
d) – a administração pressupõe uma ação e pressupõe uma orgânica, ou seja,
existem os órgãos da administração pública. A direção e a gestão dos órgãos da
administração pública – dos serviços públicos – compete ao Governo e,
portanto, é ele que tem de fazer os regulamentos de funcionamento das
diferentes entidades da administração e, também, tem de garantir a tomada das
decisões, da nomeação das pessoas, logo fazer funcionar a administração. Na
administração existe:
o Administração civil e militar – a parte da administração que está
relacionada com a prática de atos que não tem a ver com a segurança do
estado e a prática de atos, em princípio, que tem a ver com a segurança
do estado.
o Administração direta e indireta
o Autónoma – aqui o que se exerce é a tutela/controlo sobre a
administração autónoma – da legalidade e da sua atuação. Ex:
administração local das autarquias.
e) – tem de avaliar os funcionários, fazer a progressão na carreira, levantar
processos disciplinares, tem de fazer a gestão normal dos quados que têm.
f) – tem de existir mecanismos dentro do próprio Governo de controlo da
legalidade democrática, de que a lei é cumprida e, portanto, verificam-se os
princípios da transparência, princípios da proporcionalidade, princípios da
legalidade, etc.
g) – compete ao Governo satisfazer as necessidades coletivas, ou seja, aquele
tipo de necessidades que nós não conseguimos satisfazer individualmente. São
satisfações, que ainda que tenham a ver com cada um de nós, a forma mais
eficiente e eficaz de as providenciar é através de uma organização coletiva,
porque elas são necessidades do nós enquanto indivíduos na coletividade. Ex: a
segurança, a educação, a saúde, etc.
Administração Direta – depende do próprio estado, que é o estado que a tem e aqui é o
estado que dirige. Ex: serviços dos ministérios – secretarias gerais, as repartições,
divisões, etc.
Administração Indireta – aqui o estado superintende, ou seja, em que o estado não
dirige, mas controla/define as linhas gerais. São os órgãos desconcentrados do Estado
que existem pelo território, que têm alguma autonomia. Ex: tem grau de autonomia, mas
ainda faz parte da organização do estado – os institutos públicos, estes têm autonomia
de gestão, mas têm superintendência, isto é, eles podem fazer o que quiserem, desde que
o que façam cumpra as diretrizes percebida do Governo.
Resumindo:
 Dirigir a administração direta
 Superintender na administração indireta
 Tutelar a administração autónoma.

As competências do Governo podem ser exercidas:


 Diretamente pelo Conselho de Ministros (artigo 200º da CRP) – no conjunto de
todos os ministros, que é aqui nas reuniões onde estão todos, que é tomada a
decisão; ou
 As competências, ou algumas delas, estão cometidas a cada ministro,
começando pelo Primeiro-Ministro (artigo 201º da CRP).
O primeiro-ministro não tem de tomar decisões em matéria nenhuma, só tem que
coordenar e dirigir o funcionamento do Governo.
Quem tem que definir medidas políticas/tomar decisões são os ministros, porque esses,
na área da competência própria, são eles que sabem o que se deve ou não se deve fazer.
O Primeiro-Ministro como “manda” nos ministros, quando achar que um ministro está a
fazer algo diferente daquilo que ele acha demite-o ou diz que aquela ideia não tem razão
de ser.
Os Conselhos de Ministros podem ser relativamente a um certo assunto:
 Normais
 Especiais
O Governo pode convidar o PR para assistir aos Conselhos de Ministros, e,
normalmente, existe uma certa praxe de no último Conselho de Ministros, do fim de
mandato do PR convidá-lo a como gesto de simpatia para dirigir e presidir ao Conselho
de Ministros. Embora, a regra é de que compete ao Primeiro-Ministro dirigir o Governo
e, portanto, as reuniões do Conselho de Ministros.
O Presidente da Câmara é um órgão do Município, logo quem tem personalidade
jurídica é o Município.
No nosso país o Primeiro-Ministro não é o chefe/superior hierárquico dos ministros, ao
contrário do que se verificava no tempo de Salazar, onde aqui o PM, que se chamava
nessa altura de Presidente do Conselho de Ministros, era um superior hierárquico dos
Ministros, isto porque quem os nomeava e quem os demitia não era o Presidente, mas
sim o Primeiro-Ministro.
Porém, hoje não é assim, porque quem os demite e os nomeia o Primeiro-Ministro é o
Presidente, sendo que a proposta é do Primeiro-Ministro, mas o Presidente pode dizer
que não concorda com a nomeação ou que não concorda com a demissão. Pode-se
afirmar então que a nomeação e a demissão para o Primeiro-Ministro não são
completamente livres como eram antes.
Além do mais, o que a Constituição prevê é que o PM é um coordenador do Governo,
não é um chefe. O PM só representa o Governo face ao PR, no entanto, face à AR os
ministros também são responsáveis, ou seja, a AR não ouve somente o PM, também
pode ouvir os ministros individualmente considerados, o que significa que eles têm
alguma autonomia.
No tempo de Salazar os ministros não faziam declarações a imprensa, aliás ninguém
fazia declarações à impressa, nem o próprio Salazar. O que o Governo fazia era maios
ou menos discreto, ninguém sabia de nada.
Os atos políticos do Governo são muito variados: aprovação de acordos, negociação
de tratados e a referenda dos atos do PR (não é de todos os atos, só de alguns), esta é
muito importante.
A referenda é um ato político, que consiste num meio de controlo do Governo sobre
os atos do PR. Se a referenda não for feita o ato não existe, esta representa o acordo do
Governo com aquilo o que o PR faz, ou seja, representa ou quer-nos trazer à evidência
que os atos mais importantes do PR, como por exemplo, a declaração do estado de
emergência, tem de ser referendados pelo Governo, isto é, o Governo e o PR têm de
estar de acordo, porque se não o ato não chega a existir.
A referenda é um típico ato de interdependência.
Artigo 197º, nº1, e) da CRP – o referendo é o exemplo mais acabado da
interdependência, isto porque é aprovado pelo PR, a frase é aprovada pelo Parlamento e
a proposta é feita pelo Governo.  logo intervém todos
Portugal é o único país da europa em que o Governo faz normas com força de lei, isto
corresponde à tradição portuguesa. Durante a monarquia o Governo não podia fazer
normas com força de lei, mas fazias à socapa. Na república o Governo passou a poder
fazer decretos com força de lei, no entanto, tinha de estar sempre autorizado. Durante o
tempo do Salazar o Governo começou por fazer decretos com força de lei, mas tinha de
estar autorizado, no entanto, as autorizações eram cheques em branco, não tinham
condições. Depois da 2ª Guerra Mundial, o Salazar alterou a Constituição e o Governo
passou a poder fazer decretos com força de lei sem necessidade de estar autorizado, o
que foi uma grande novidade e que contribuiu muito para transformar o regime
português, que já era um regime autoritário, num regime ainda mais autoritário. Depois
vem o 25 de abril, que estavam os juristas de direito público à espera, já que viviam
num regime democrático, que fosse desta que voltassem à normalidade, ou seja, que a
possibilidade de o Governo fazer decretos com força de lei sem ter de pedir autorização
à AR fosse desaparecer, no entanto, isto não aconteceu e continua a não precisar de
autorização até aos dias de hoje. Isto faz com que na prática o Governo seja o órgão
principal Estado.
Porque se chamam decretos-leis? O mais correto seria chamá-los de decretos com
força de lei, como eram chamados anteriormente. Porque têm força de lei? Porque
podem revogar leis nos casos em que os decretos sejam de competência concorrente
entre a AR e o Governo e é por isto que têm força de lei, ou seja, porque revogam uma
lei da AR anterior. E se for um decreto-lei autorizado, pode revogar uma lei? Sim,
porque foi autorizado, só não pode revogar é a lei de autorização. E se for um DL de
desenvolvimento, pode revogar uma lei? Sim, só não pode revogar é a lei de bases que
desenvolve.
Se a matéria for de reserva de competência absoluta da AR, o DL sobre esta matéria é
inconstitucional, porque aqui só a AR pode legislar.
Em Portugal o Governo pode fazer diplomas que podem até revogar as leis feitas pelo
Parlamento.
A política portuguesa é uma democracia em que o Governo acaba por ter um papel
especialmente preponderante no contexto dos órgãos do Estado, coisa que não acontece
nos outros países. Nós temos uma democracia com um Governo musculado, ao
contrário do Governo dos outros países europeus.
Grande parte das normas são feitas pelo Governo. Então qual o papel reservado ao
Parlamento? A importância legislativa do Parlamento é cada vez menor, e isto para a
democracia é fatal, a democracia sofre muito com isto, a democracia de bases
parlamentares. O sistema em que vivemos hoje em dia é cada vez menos democrático.
Isto porque maior parte das decisões fundamentais são tomadas fora de Portugal e as
que são tomadas em Portugal, a maior parte delas é tomada pelo Governo, ficando o
Parlamento cada vez mais sem “papel”.
A UE é tudo menos democrático.
É património do pensamento democrático, desde sempre, a separação entre quem faz as
leis e quem as executa. Entende-se que atribuir a feitura e a execução das leis ao mesmo
órgão dá maus resultados, o legislador e o executante devem ser diferentes, ou seja,
devem ser diferentes órgãos.
Entendia-se que isto, já Platão e Montesquieu entendiam isto, faz parte de uma
Constituição mista em que o poder está repartido por diversos órgãos, esteja ou não por
trás de cada um grupo/classe social definido.
Ser o mesmo órgão a fazer as leis e a colocá-las em execução é de evitar porque é sinal
de má composição, é um atentado aos princípios democráticos.  em Portugal não
temos isto, porque o Governo faz decretos com força de lei e depois executa-os. Quer
dizer o benefício que para a democracia resultava da separação entre quem faz e quem
executa em Portugal não existe, o que é grave, porque o Governo faz o decreto-lei e
depois coloca-o em execução mediante um regulamento, tudo isto se passa nas costas da
AR. A AR a única coisa que pode fazer é uma lei a revogar o decreto-lei ou pode
apreciar o decreto-lei governamental.
Se o decreto-lei governamental tiver uma componente técnica muito acentuada e incidir
sobre uma matéria, por exemplo, técnica como a proteção do ambiente, não é natural
que a AR, que não tem preparação técnica, porque a AR é um órgão mais político do
que técnico, efetivamente possa alterar esse diploma, porque, enquanto o Governo
dispõe de um aparelho técnico que o aconselha, a AR não dispõe desse aparelho técnico
e, portanto, provavelmente não o fará.
Nos outros países europeus o Governo pode também fazer normas, o que não acontece é
essas normas terem força de lei. Exemplo: na Alemanha o Governo também faz normas
e em França também, o que acontece é que não tem a força de lei. Contrariamente ao
que acontece em Portugal, que tem força de lei.
Qual é a maneira que a AR tem de controlar os decretos de lei governamentais  é
pedir a sua apreciação parlamentar dos decretos de leis e alterá-los ou fazer cessar a sua
vigência temporariamente. Porém, é muito difícil a AR alterar um DL governamental
que incida sobre uma matéria particularmente complexa, como por exemplo o ambiente,
porque a AR não é um órgão técnico e, portanto, não tem competências técnicas, os
deputados não são especialistas dos assuntos. Contrariamente ao governo é um órgão
técnico, isto é, dispõe de um aparelho técnico que faz isso, o Governo tem órgãos
consultivos em todos os Ministérios.
 Exemplo: suponhamos que a AR quer fazer uma lei para proteção do ambiente
na Ria Formosa. Qual é o deputado da AR que percebe de ambiente?
Provavelmente nenhum. Contrariamente o Governo encomenda estudos a
técnicos, tem o instituto nacional do ambiente, que é um órgão controlado pelo
Governo, é um instituto público, e pode fazer o trabalho bem feito. Com que
autoridade técnica é que a AR vai contrariar um DL feito pelo Governo ou vai
apreciar um DL feito pelo Governo, sendo que este DL teve o apoio técnico de
institutos especializados e de técnicos independentes que trabalham para o
Governo? Não tem, o melhor é estar quieta, porque vai fazer asneira, quase de
certeza.
Os decretos de lei podem revogar as leis, mas não podem revogar as de valor reforçado.
Os decretos de lei não podem incidir sobre a matéria de reserva absoluta, fora deste
âmbito os decretos de lei só não podem revogar as leis de autorização e as leis de base.
A função administrativa é a função mais importante do Governo.

Existem 2 controlos em relação aos órgãos políticos:


 Controlo de legalidade – feito pelos Tribunais
 Controlo político – feito normalmente pelo órgão com ascendência política – as
AR – em relação aos órgãos executivos.

Um órgão executivo não tem normalmente uma legitimidade própria, tem é a


legitimidade que o órgão – AR – de onde ele emana lhe dá.
 Exemplo: No direito europeu em relação à comissão política e ao parlamento
europeu.
Programa do Governo:
1º momento – art.187º da CRP – nomeação do Primeiro-Ministro. Depois de nomeado o
Primeiro-Ministro, este apresenta ao Presidente da República as propostas de ministros
para comporem o Governo que ele entende e o PR dá posse/nomeia e assumem a posse
as equipas ministeriais, normalmente os ministros e os secretários de estado. Passando o
Governo a estar formado por Primeiro-Ministro, Ministros, Secretários de Estado e,
eventualmente, Subsecretários de Estado caso existam.
2º momento – art.188º da CRP – fazer o programa do Governo. Nenhum órgão
executivo pode governar sem um programa do que pretende fazer, isto devido ao
controlo político, porque o Governo não existe per si, ele existe tendo em conta uma
eleição e um resultado eleitoral que conduziu a um órgão deliberativo – Assembleia –
do qual emanou e através do qual nasceu o Governo, logo o Governo está vinculado
politicamente ao controlo da Assembleia.
O Programa do Governo é o elo de ligação entre o órgão executivo e o órgão
deliberativo do qual ele emana, isto é, é em função do programa que ele apresenta, que
pode ou não ser validado, e depois do cumprimento que ele faz ou não desse programa
que o Parlamento lhe pode retirar a confiança política através de uma moção de censura
ou, se existir dúvidas e se formar uma maioria, dando-lhe uma moção de confiança.
Todos os ministros estão vinculados ao programa aprovado, segundo o artigo 189º da
CRP. Cada ministro tem a área do seu ministério, porém o que liga os ministros todos é
o programa do Governo.
Interdependência – art.190º da CRP – esta é responsabilidade política. Legalmente ele
é responsável perante os tribunais, porém, em termos políticos, ele responde perante o
Parlamento de onde emanou e perante o Presidente da República que lhe deu posse. Por
isso, quer o Presidente da República o pode destituir/demitir, quer a Assembleia da
República lhe pode aprovar uma moção de censura obrigando-o a cair, porque ele
responde politicamente perante estes dois e tem de ter a confiança política dos dois.
Este artigo 190º da CRP é o exemplo do porque de sermos um sistema semipresidencial,
porque se fossemos um sistema apenas parlamentar, o Governo só era responsável
perante o Parlamento e não perante também o PR.
Sempre que o Governo se desviar do programa a Assembleia pode censurá-lo/atacá-lo,
mas ele tem a confiança política do PR.
No artigo 191º da CRP:
 nº1 – O PM é responsável perante os dois, mas politicamente é mais responsável
perante o Parlamento, porque foi o Parlamento que lhe validou o programa. Em
termos do PR, é em casos que não se mostre digno do cargo, se não cumprir a
constituição, se tiver atitudes socialmente reprováveis, etc., é uma espécie de
controlo mais genérico. Politicamente a ação é à Assembleia que compete.
 nº2 – Os vice-primeiros-ministros e os ministros não respondem diretamente
perante o Presidente da República. Caso o PR queira demitir algum ministro
porque acha que ele não está bem, deve dizê-lo ao PM para tomar medidas de
demissão, caso o PM não faça nada o PR perde a confiança neles todos e faz
com que se “vão embora”.
 nº3 – Os secretários e subsecretários são mais técnicos, já nem respondem
perante a AR porque não têm competências próprias, normalmente só têm
competências delegadas e, portanto, respondem perante o PM e respetivo
Ministro.
Apreciação do programa do Governo – artigo 192º da CRP.
Artigo 192º, nº3 da CRP – pode acontecer uma de três coisas:
 Não acontece nada – discutido toda a gente ficou esclarecida e toda a gente ficou
satisfeita e não acontece nada; ou
 Um grupo parlamentar, não podem ser deputados, pode propor a rejeição do
programa; ou
 Se o Governo quiser estar mais forte e obrigar o Parlamento a estar mais
vinculado, pode propor um voto de confiança.
NOTA: Sem programa de Governo, não existe Governo.
A oposição pode apresentar moções de censura.  artigo 194º da CRP
A moção de censura é uma ferramenta que o Parlamento tem para exercer o controlo
político.
O primeiro-ministro (…) responsável pelo programa da sua área, isto porque o
primeiro-ministro pode ser irresponsável, ou seja, pode não perceber nada sobre aquela
área, ele só tem de coordenar o Ministério, a não ser aqueles assuntos de secretarias de
estado que ficam no que se chamada a presidência do conselho de ministros. Portanto,
existem secretarias de estado que se o primeiro-ministro quiser tutelar diretamente um
assunto, imaginemos, o primeiro-ministro entende que a juventude é um assunto
importante e que, portanto, deve ser ele, que tem uma particular preocupação e sabe do
assunto, o responsável por esta área. O que é que faz?
 Não dá a ninguém esse assunto, a pasta da secretaria de estado da juventude, e
em vez de ficar junto de qualquer outro ministro, vai ficar na presidência do
Conselho de Ministros, ou seja, a responder diretamente ao primeiro-ministro,
logo fica ele a tutelar essa área.
 A não ser esta situação de secretários da presidência do Conselho de Ministros,
todos os outros assuntos são da responsabilidade do ministro respetivo, cabendo
a cada Governo, ou seja, ao primeiro-ministro mais os ministros, conceberem a
estrutura do governo e a divisão, depois cada ministro faz a parte do programa
que lhe diz respeito, posteriormente é tudo discutido e validado pelo primeiro-
ministro num primeiro conselho de ministros para organizar essa matéria, só
depois de tudo aprovado é que é submetido o programa, já como um todo, ao
Parlamento (AR) para ser votado.
 Não pode existir chumbos parciais, ou seja, não pode haver o voto contra, por
exemplo, o programa da saúde, mas tudo o resto estar bem. Ou se gosta de tudo
ou não se gosta de nada, não existe aqui um fenómeno parecido ao da
verificação da inconstitucionalidade onde o TC pode dizer que apenas uma
norma é inconstitucional, apesar de o diploma ter de ser todo revisto novamente,
porém só aquela parte é que é alterada.
 Logo, o programa do Governo ou é chumbado como um todo ou é aprovado
como um todo.
Quem pode apresentar uma moção de censura?
 Por um quarto dos Deputados em efetividade de funções (58 deputados) ou
qualquer grupo parlamentar com assento no Parlamento (por norma, da
oposição)  artigo 194º, nº1 da CRP
Demissão do Governo: artigo 195º da CRP
No caso do artigo 195º, nº2 da CRP, o PR, depois de demitido o governo, pode fazer
uma de duas coisas:
 Arranjar outro governo – chamados de governos de iniciativa presencial (já
aconteceu em Portugal, mas foram antes da revisão da Constituição); ou
 Dissolve tudo e provoca novas eleições.

Tribunais:
Atualmente, os tribunais são órgãos independentes, integrados por juízes, sendo que
estes têm um estatuto de total e completa independência, não são responsáveis civil nem
penalmente pelas decisões/opiniões tomadas no exercício das suas funções.
Os juízes podem ser responsabilizados criminalmente no exercício das suas funções.
São órgão de soberania.
Não são os juízes que são o órgão de soberania, mas sim os tribunais enquanto
instituição que são um órgão de soberania.
Os juízes são titulares do cargo de um órgão de soberania.
Os tribunais, enquanto órgão de soberania, a sua função é administrar a justiça, ou seja,
fazer/concretizar a justiça, isto é, fazer com que a atuação dos demais órgãos de
soberania (atuação da administração, atuação das pessoas) seja conforme à lei.
A primordial função do tribunal é que haja uma atuação/conduta conforme a lei.
Artigo 202º, nº2 da CRP:
 Eles devem defender os direitos e interesses legítimos do cidadão, são aqueles a
que a lei da cobertura.
 Reprimir a violação da legalidade – ou seja, agir contra todas as ações
desconformes à lei e à democracia (legalidade democrática).
Nota: em Portugal presume-se que a legalidade é democrática porque Portugal é uma
democracia.
Todos os juízes na aplicação do direito/ na aplicação das normas (no julgamento dos
comportamentos das pessoas, em função das normas ou de uma norma
comparativamente a outra) devem verificar da democraticidade da lei, ou seja, a
verificação da constitucionalidade, do cumprimento da Constituição, a verificação do
cumprimento das regras constitucionalmente e legalmente definidas para o normal
funcionamento dos órgãos em Portugal, pode e devem ser sindicada pelos juízes, isto
porque se os juízes devem reprimir a violação da legalidade democrática, quer dizer que
tem que fazer um juízo quanto à democraticidade dessa legalidade.
 Logo, se o juiz considerar que uma determinada norma é inconstitucional, ele
deve declarar essa inconstitucionalidade.
A magistratura judicial é independente e é, ainda, inamovível, ou seja, ninguém pode
ser posto ou retirado num sítio, a não ser no âmbito de um processo disciplinar que leve
a um juízo de censura que não fez bem aquilo que lhe competia, e não podem os juízes e
os juízes ser responsabilizados pelos atos que pratiquem na sua normal atividade, a não
em casos de crimes.
 Os tribunais e os juízes são independentes, irresponsáveis e inamovíveis – não
podem ser condicionados.
O juízo de constitucionalidade não é só realizado pelo tribunal constitucional, porque
em cada julgamento os tribunais (que não sejam o TC) têm que validar a
constitucionalidade das normas ou dos princípios que aplicam. Logo, sempre que
acharem que existe uma norma que é formalmente inconstitucional ou materialmente
inconstitucional, então esta norma sendo inconstitucional não pode ser aplicada.
O juízo do sentido da norma e da constitucionalidade desse sentido é algo que os
tribunais têm de fazer, porque segundo a Constituição, eles não podem aplicar normas
consideradas inconstitucionais.
As decisões dos tribunais têm sempre fundamentadas – artigo 205º da CRP.
Antes do 25 de abril quem promovia e nomeava os juízes era o Ministro da Justiça,
agora é o Conselho superior da magistratura, que é um órgão independente e integrado
por pessoas que que os são por inerência, por exemplo, o presidente do STJ é membro
do Conselho Superior da Magistratura, os outros são eleitos pela AR.
Assim sendo, atualmente é o Conselho Superior da Magistratura que coloca, promove e
disciplina os juízes.
Para os tribunais administrativos é o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais, que também é um órgão independente.
O Conselho Superior da Magistratura e o Conselho Superior dos Tribunais
Administrativos e Fiscais não são órgãos judiciais, não são tribunais, são órgãos
administrativos, mas que tratam de toda a parte profissional da “carreira” dos juízes.
Os tribunais não são todos do Estado, isto porque a Constituição admite a existência de
tribunais arbitrais, estes tribunais são constituídos pelas partes, sendo as partes que
nomeiam os árbitros, que tem de ser sempre em número ímpar, estes dão sentenças com
o mesmo valor das sentenças dos tribunais.
A jurisdição arbitral está hoje em dia muito vulgarizada, o que é muito bom para os
particulares e muito bom para os advogados, porque é rápida. Normalmente é muito
usada quando está em causa dinheiro, pedidos de indemnização, isto porque se o
assunto vai para os tribunais demora imenso tempo, enquanto no tribunal arbitral é
bastante mais rápido. Então o que os advogados dizem normalmente ao cliente é que
aconselham a recorrer à jurisdição arbitral porque o fulano não vai de certeza receber
tudo o que pretende, mas recebe ao fim de 3 meses, por exemplo, e o advogado também
demonstra interesse porque vê os seus honorários pagos.
Posto isto, a justiça arbitral tem a grande vantagem de ser rápida e a nossa Constituição
admiti-a em termos muito amplos.

Em Portugal existem:
 Tribunais Comuns – são os civis e penais;
 Jurisdição especializada – que são os tribunais administrativos, os tribunais de
trabalho (aqui o supremo é comum, mas a 1ª instância é diferente, os processos
de trabalham começam no tribunal de trabalho, mas depois acabam no supremo).

A jurisdição administrativa, os tribunais administrativos, são separados dos tribunais


comuns.
Não são permitidos tribunais especiais para julgamento de crimes em especial, que em
Portugal existiram antes do 25 de abril e depois. Antes do 25 de abril eram os tribunais
coletivos, que eram os tribunais especiais para crimes políticos, para o julgamento de
crimes políticos, eram tribunais nomeados pelo Governo, que só nomeava para juiz
aquele que o Governo sabia que eram favoráveis, então quem instruía o processo não
era a judiciária, era a PIDE, quem acusava não era o Ministério Público, era a PIDE, e
quem julgava eram os tribunais coletivos, basicamente o condenado já estava acusado à
partida. Depois do 25 de abril eram os tribunais militares para o julgamento de crimes
militares. Porém, hoje em dia isto não é possível, os militares são julgados em tribunal
comum.
Curiosidade: só em 1982 é que os tribunais militares foram extintos.
Nos tribunais comuns existem 2 ordens de recurso: 1ª instância  Relação  Supremo
Nos tribunais administrativos só existe 1 ordem de recurso (existe apenas 1 recurso).
Existe aqui uma desigualdade porque no âmbito do direito civil ou do direito penal é
possível existirem 2 recursos e no âmbito dos tribunais administrativos só existe 1
recurso.
Os juízes são competentes, em Portugal, para não aplicarem uma norma por acharem
inconstitucional ou ilegal. Ao fim de 3 vezes que não as apliquem podem declarar, em
casos concretos, a mesma norma como ilegal com força obrigatória geral, não é
inconstitucional, é ilegal e elas deixam de existir.
Em Portugal, os juízes têm a capacidade de filtrar a validade das normas, o que é uma
homenagem ao pensamento liberal e que existem em Portugal desde a 1ª República.
Os tribunais em Portugal gozam de um estatuto muito favorável. Acresce que a carreira
judicial hoje em dia é uma carreira com prestígio. Os juízes são relativamente bem
pagos.
Os juízes, em Portugal, podem não aplicar uma lei se a considerarem ilegal ou
inconstitucional. Mais algum órgão do poder pode fazer isto? Nenhum! Nem o
Presidente da República, este pode vetar a lei, mas a partir do momento em que a lei se
encontrar em vigor, pode suscitar a questão da sua inconstitucionalidade, mas até lá tem
de aplicar e estar sujeito a ela.
Os juízes são órgãos do Estado, tal como considerados pela nossa Constituição, apesar
de serem independentes. Não são funcionários públicos!! Faz sentido que façam greve,
visto que são órgãos do Estado? Não! Os juízes podem estar organizados em
associações sindicais e podem entender que estão mal pagos, mas não faz sentido
fazerem greve por questões salariais, por exemplo.
Curiosidade: um juiz ganha quase tanto como o PR, aliás ganha mais que o Primeiro-
Ministro, o que o Primeiro-Ministro tem a mais são é as ajudas de custo, o que o juiz
não tem. Mas se um juiz estiver deslocado tem uma casa do estado, não para renda.
O Tribunal Constitucional é um tribunal, mas não é um tribunal como os outros! É
um tribunal que julga somente normas, não julga casos!! O Tribunal Constitucional
não se pronuncia sobre a questão de saber se a indemnização que lhe foi atribuída ao
fulano é a correta ou não, pronuncia-se é sobre a questão de saber se a norma ao abrigo
da qual a indemnização lhe foi atribuída é constitucional ou não. São coisas diferentes!!
Entidades que promovem e disciplinam, aplicam sanções disciplinares são o Conselho
Superior da Magistratura e o Conselho Superior.
Conselho Superior da Magistratura é um órgão que apresenta a legitimidade necessária
para isso.
Regiões Autónomas:
As regiões autónomas beneficiam de uma autonomia enorme atualmente.
Autarquias Locais – ex: como Portimão, Lisboa – fazem normas que não são leis, são
regulamentos subordinados às leis.


Regiões autónomas – dos Açores e da Madeira – fazem normas com força de lei.
As regiões autónomas são regidas pelo princípio de descentralização.
Ora, o modelo político português exprime relações, não apenas entre os órgãos de
estado (AR, Governo e PR) – sendo que aqui se considera um regime
semipresidencialista –, mas exprime também relações entre os órgãos do estado e
órgãos de outras entidades públicas que são de 2 tipos: das Regiões Autónomas dos
Açores e da Madeira e as Autarquias Locais (municípios e freguesias). A caracterização
é, no sentido, de que em Portugal vivemos, atualmente, num regime de
descentralização.
A descentralização faz parte do modelo político português. O modelo português é
semipresidencialista, mas é também descentralizado.
Descentralização: significa que o poder não provém todo do mesmo centro, o poder
está repartido. O poder está descentrado, funciona em rede.
Esses centros são as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira e, por outro lado, as
Autarquias locais, isto para os órgãos de base territorial, ou seja, órgãos que ocupam um
território e tratam dos interesses dos residentes nesse território. Porque, depois, ainda
existem órgãos descentralizados, mas que não têm por base um território, tê por base o
exercício de uma profissão que é o caso das ordens profissionais (ex: ordens dos
advogados; ordens dos engenheiros; ordens dos médicos, etc).
A descentralização em Portugal tem 2 níveis:
 nível político – integrado pelas regiões autónomas dos Açores e da Madeira 
descentralização política
 nível administrativo – integrados pelas autarquias locais (municípios e
freguesias), que existem tanto no Continente como nos Açores e na Madeira 
descentralização administrativa
Diferença entre a descentralização política e a descentralização administrativa:
 Descentralização Política: é política porque as regiões autónomas legislam,
fazem normas com força de lei chamadas de decretos-legislativos regionais.
 Descentralização Administrativa: é administrativa porque os municípios apenas
fazem regulamentos, não fazem leis. As autarquias locais não legislam, as
normas que fazem são regulamentos e estes são normas de segunda
geração/extração, não só normas iniciais, isto porque antes dos regulamentos
existe sempre uma lei, esta lei pode ser mais ou menos densa.
Nota: antes das leis só está a Constituição, exceto quando se trate de leis de valor
reforçado.
O principal regulamento que a autarquia local atualmente faz é o Plano Diretor
Municipal (PDM), em que se define o que se pode construir dentro da autarquia e até
onde se pode construir e o que se pode construir (ex: se são 2 ou 3 andares), é o PDM,
que é aprovado pela assembleia municipal da localidade. O PDM é diferente de
município para município.
Dado que o PDM é um regulamento então ele está sujeito às leis de base em matéria de
urbanismo que definem critérios iguais para todos os municípios.
As leis base definem o que é a reserva agrícola, a reserva ecológica, e o PDM não pode
autorizar construções dentro da reserva agrícola e dentro da reserva ecológica.
Existem ainda outros tipos de descentralização, que nem são políticas nem
administrativas, mas que é mais profissional de que são exemplos as ordens
profissionais, neste caso, são tituladas por corporações, que são as ordens profissionais,
não dispõe sobre um território, mas sim uma profissão (ex: médico, advogado,
engenheiro, etc).  descentralização corporativa
Quer os municípios e as freguesias, quer as ordens profissionais são entidades
administrativas e são-no ainda as entidades privadas de interesse público (ex: ISMAT).
 só é preciso saber em direito administrativo
As Assembleias Legislativas Regionais podem fazer leis que se chamam decretos
legislativos regionais.
Num Estado centralizado o poder vem todo do mesmo centro.
Num Estado descentralizado o poder vem de centros diferentes.
A descentralização nunca foi uma tradição portuguesa, a autonomia das regiões e das
autarquias não está na tradição portuguesa. Pelo contrário, a tradição portuguesa é uma
tradição fortemente centralizadora, Portugal sempre foi mais centralizado. E por isto é
que em Portugal nunca existiu feudalismo e Portugal foi a primeira monarquia absoluta
da Europa, desde o séc. XIV.
Curiosidade: Portugal foi o primeiro país europeu a ter monarquia absoluta, pelo menos
desde a 2ª dinastia, desde o séc. XIV, a ter existido algum municipalismo terá sido
durante os primórdios da nossa nacionalidade, séculos XII e XIII, mas a partir do séc.
XIV é indiscutível qualquer tendência para a descentralização, esta foi posta de parte, e
a prova disso é que todos os funcionários locais nos municípios, quer o militares quer os
capitães mores, entre outros, todos estes eram cargos nomeados, quem os nomeava era o
rei, os únicos que eram eleitos eram os vereadores. Isto prova que a descentralização em
Portugal nunca existiu. Com a 1ª República, em 1911, o partido republicano prometeu
implementar a descentralização, mas nunca o fez. O Salazar combateu qualquer
descentralização, basta dizer que os presidentes das câmaras eram nomeados.
A descentralização é uma conquista do 25 de abril. A descentralização faz modelo
político português ao mais alto nível.
Descentralização tem de estar 4 elementos cumulativos, basta que não esteja presente
um deles para que não se possa falar em descentralização:
 1º personalidade jurídica autónoma das entidades descentralizadas – ex: se eu
quiser celebrar um contrato com a Autarquia de Portimão, dirijo-me à Autarquia
de Portimão, não ao Ministério da Administração Interna, isto porque a
Autarquia de Portimão possui personalidade jurídica autónoma
 2º competências próprias – ex: os municípios têm competências próprias
diferentes das competências governamentais. Assim como as Regiões
Autónomas também têm competências próprias diferentes das governamentais.
Ex: quem é competente para mandar colocar um sinal de estacionamento
proibido à porta da minha casa em Portimão? É o Ministério da Administração
Interna? Não! É a Autarquia de Portimão e mais ninguém. A câmara de
Portimão tem competências próprias que não se confundem com as das outras
câmaras nem com o Governo.
Ex: quem é competente para elaborar o plano diretor municipal de Portimão?
É a Assembleia Municipal de Portimão, sob proposta da Câmara.
 3º elegibilidade dos seus órgãos – os órgãos das autarquias e das regiões
autónomas são eleitos (democraticamente eleitos) pelos habitantes das
Autarquias Locais ou pelos munícipes. Portanto, existe autogoverno, mediante
órgãos que gozam de legitimidade democrática direta.
Ex: quem elege a Assembleia Legislativa dos Açores são os açorianos.
Quem elege a Assembleia Municipal de Portimão são os residentes em
Portimão.
Portanto, órgãos próprios eleitos – democracia direta, o que significa que a
maioria que existe em Portimão ou em Serpa na Assembleia Municipal pode ser
completamente diferente da maioria da Assembleia da República. Em Serpa a
maioria é do partido comunista, mas em Viseu é o PSD. Logo, são maiorias
completamente diferentes.
 4º receitas próprias – as entidades descentralizadas têm receitas próprias, que
não se confundem com as receitas dos Estados. Por exemplo, a Região
Autónoma da Madeira pode cobrar taxas, a Autarquia de Portimão também pode
cobrar taxas – as quais são receitas próprias. Portanto, as regiões autónomas e as
autarquias locais caracterizam-se pelo autogoverno de órgãos eleitos e pela auto
direção, podem fazer normas, sendo que as normas das regiões autónomas são
legislativas, mas as normas das autarquias locais são apenas administrativas, não
têm força de lei.
 Estas 4 características querem dizer autogoverno, auto direção, auto normus
(norma) – dá-se a si própria a sua própria norma.
As regiões autónomas dos Açores e da Madeira são exemplos de descentralização,
porque tem personalidade jurídica, os seus órgãos são eleitos (a Assembleia Legislativa
dos Açores é eleita pelos açorianos e o Governo Regional é nomeado tendo em conta os
resultados eleitorais), tem competências próprias podendo fazer decretos legislativos
regionais, que são leis, e que só são válidas nos açores ou só na madeira, em mais lado
nenhum, isto é, uma lei feita pela Assembleia Legislativa dos Açores não é válida na
Madeira nem no Algarve, só é válida nos Açores, mas é uma lei. E, ainda, tem receitas
próprias, sobretudo oriundas de taxas.
A descentralização é diferente da desconcentração!! Desconcentração é o estado à
periferia, são órgãos do Estado só que existem em todas as capitais de distrito, por
exemplo, em Faro existe uma direção regional da saúde, uma direção regional da
cultura, etc., mas são órgãos do Estado, não são órgãos autárquicos.
A desconcentração também é um princípio constitucional e é muito conveniente as
pessoas que moram fora da Capital, porque se não fosse a direção regional de saúde ou
de cultura ou a repartição de Finanças de Faro, os indivíduos para pagarem um imposto
teriam de ir a Lisboa. As repartições de Finanças são órgãos do Estado e que existem
localmente. É chamada a administração periférica.
Órgãos das regiões autónomas:
 Assembleia legislativa regional – que é a lei;
 Governo regional – que é nomeado tendo em conta os resultados eleitorais;
 Chefe/Presidente do governo regional – a que se chama presidente, mas que não
é presidente nenhum, é um Primeiro-Ministro;
 Representante da república – que antes se chamava ministro da república – este
é o representante do Presidente da República nas regiões, exerce nas regiões as
competências que o PR exerceria, por exemplo, vetar as leis regionais e assiná-
las (aqui não se diz promulgá-las), aqui não se diz ratificar, mas sim assinar, ele
pode suscitar a questão da sua constitucionalidade ao Tribunal Constitucional.
Este é nomeado pelo PR, o PR nomeia quem quiser, não é por proposta do
Governo, mas sim por iniciativa própria. É um órgão vicário, ou seja, é um
órgão que representa o PR. Em termos protocolares ele é mais importante que o
presidente do governo regional porque representa o PR. Este não é um órgão
próprio das regiões autónomas. As suas competências são puramente políticas,
não são legislativas.
São órgãos próprios a Assembleia Legislativa Regional, o Governo Regional e o
Presidente do Governo Regional.
O Representante da República não é um órgão próprio das regiões, é um órgão da
República, de representação do PR. Este tem competências para vetar as leis regionais e
tem competências para nomear o Presidente do Governo Regional, pode ainda suscitar a
questão da inconstitucionalidade das normas.
Não existem tribunais regionais. Os tribunais são todos tribunais da república tanto nos
Açores como na Madeira.
Os cidadãos das regiões autónomas votam mais que os cidadãos do continente, porque
para além de votarem para a Assembleia, ainda votam para os órgãos regionais e para as
autarquias locais.
O Governo é nomeado pelo Representante da república tendo em conta os resultados
eleitorais.
Curiosidade: na Madeira o partido maioritário é o PSD, nos Açores varia, costuma ser o
PS, mas agora é uma coligação entre vários partidos entre o PSD, CHEGA, retirando a
maioria ao PS.
O Governo Regional dos Açores é uma coligação de partidos que vão do centro de
direita à direita propriamente dita.
A Assembleia Legislativa Regional está organizada em grupos parlamentares tal como
no Continente, não existem mandato vinculativo, os deputados representam toda a
região e não apenas os sítios onde foram eleitos, é exatamente como na AR.
Mas existe uma diferença que é o facto de que o Governo regional não legisla. A única
entidade nas regiões autónomas que legisla é a assembleia legislativa regional e legisla
através dos decretos legislativos regionais, não são decretos de lei nem leis. O Governo
regional só faz regulamentos, assim podemos observar que existe uma acentuação
parlamentarista, porque o Governo Regional não faz normas com forma de lei.
O representante da república não é eleito, mas sim nomeado pelo Presidente da
República, o que se traduz numa acentuação presidencialista. Porém, a A.L.R é eleita.
A ALR é responsável perante o PR, este pode dissolvê-la, é um ato do Presidente da
República e não do representante da república. O Governo Regional é responsável
perante a ALR, porque esta pode aprovar uma moção de censura, e aqui o Governo
Regional cai, ou pode não aprovar uma moção de confiança, aqui também o Governo
Regional cai. Portanto, do mesmo modo o Governo Regional tem de apresentar um
programa de Governo à Assembleia Legislativa Regional e caso este não aprove o
programa o Governo cai. Exatamente como acontece na Assembleia da República, a
única diferença está no facto de o presidente do governo regional não é responsável
perante o PR, porque a constituição não prevê isso.
A CRP não prevê em lado nenhum que o PR possa demitir o presidente do Governo
Regional.
IMPORTANTE: não esquecer que o Governo regional não pode fazer normas com
força de lei!!
O Presidente do Governo Regional não responde perante o PR, logo é uma acentuação
presidencialista, embora presidencialismo do presidente do governo regional.
Portugal é um estado unitário envolvendo as regiões autónomas dos açores e da
madeira.
O que são as competências próprias das Assembleias Legislativas Regionais: A CRP
não refere quais são. Estas são diferentes das do Continente e diferentes entre si
consoante são da Madeira ou dos Açores. As competências especificas de cada região
estão enunciadas nos estatutos político-administrativos de cada região, um para a
Madeira e outro para os Açores. Estes estatutos são uma lei e quem as aprova é a
Assembleia da República, porém a proposta é da Assembleia Legislativa Regional.
Os estatutos funcionam quase como uma espécie de uma pequena constituição, pelo
menos no aspeto de serem uma demarcação de quais são as competências práticas de
cada região. Muitas destas competências estão relacionadas com interesses específicos,
por exemplo, o turismo, a caça, a pesca, etc., ou seja, existem assuntos que não dizem
respeito a mais ninguém a não ser à região autónoma a que respeita.
Posto isto, os estatutos são leis da AR, mas a proposta destas leis tem de derivar das
assembleias regionais. A AR pode altera por não concordar, não pode é fazer uma
proposta.
Os estatutos precisam de maioria absoluta – sim maioria qualificada, art.168º, nº6, f)
CRP.
Competências das Regiões Autónomas – art.227º da CRP – versam sobre as
competências políticas, legislativas e administrativas.
Não são estados federados as regiões autónomas.
Existem 2 tipos de federalismo:
 Federalismo mais federal – é o contrário, as competências da federação é que
são pequenas, os Estados têm as competências quase todas  caso norte
americano, é por isso que nos EU era o país dos criminosos, porque estes
cometiam um crime num sítio fugiam e passavam a fonteira para outro sítio que
já não possuía jurisdição na fronteira deste estado. Depois Edgar (qualquer
coisa) acabou com isto, pois conseguiu que o Parlamento define-se crimes
federais, como por exemplo, um assalto a um banco
 Federalismo de execução – menos federal – aqui existem regras comuns e os
Estados só executam as regras comuns diferenciadamente.  é o caso alemão
Depois da 6ª revisão constitucional que foi a penúltima, a matéria das regiões
autónomas foi muito simplificada, sendo que antes era das matérias mais difíceis.
Quem nomeia o Presidente do Governo Regional é o Representante da República,
nomeia-o tendo em conta os resultados eleitorais.
Questão: Houve eleições nos Açores, o partido socialista ganhou as eleições, mas não
teve maioria absoluta, e o PS e o PC (este nem teve um único voto). O PS e o BE (que
elegeu 1 deputado) não tinham maioria absoluta. Ao passo que o PSD, CDS e o Chega
tinham maioria absoluta, embora o PS tenha tido mais votos do que o PSD. Portanto, o
que fez o Representante da República fez?
Não nomeou para Presidente do Governo Regional o chefe do PS nos Açores, nomeou
sim o chef do PSD posto que o PDS, o CDS e o CHEGA fizeram um acordo
parlamentar para suportar/dar apoio a um Governo. Portanto, fez a chamada
“geringonça” só que desta vez à direita.
Quando isto aconteceu na televisão apareceu um dignatário açoriano do PS a dizer que o
Representante da República não podia fazer isto, não podia nomear aquele Governo.
Quid Iuris
 Ele podia sim nomear o Governo, da mesma maneira que quando foi o PS na
AR foi nomeado. Quer dizer, o Representante da República vendo que não há
maioria com o partido que ganhou as eleições, em vez de convocar novas
eleições, ele pede à maioria que viabilize um Governo. Esta atitude do
Representante da República está dentro das suas competências, logo não existe
nenhum problema de inconstitucionalidade.
Caracterização do sistema de Governo das Regiões:
 Ele não é um sistema semipresidencialista porque não se verifica o requisito sine
qua non do semipresidencialismo que é a dupla responsabilidade do Governo
perante a Assembleia e perante o PR.
 O Governo regional é responsável perante a Assembleia Legislativa Regional
sem dúvidas, pode, por exemplo, aprovar uma moção de censura, mas não é
responsável perante o PR, ou seja, o Presidente da República não pode demitir o
Presidente do Governo Regional porque nas competências do PR isto não está
previsto.
 O PR pode dissolver a Assembleia Legislativa Regional, mas não pode demitir o
Presidente do Governo Regional. Logo, se não o pode demitir, isto significa que
o Presidente do Governo Regional não é responsável perante ele.  logo, não
existe semipresidencialismo
 Existe um regime diferente, não existe uma qualificação “à mão de semear” para
ele, mas semipresidencialista podemos afirmar que não é! É um regime
diferente.
 Então como se vai caracterizar o sistema do Governo das regiões autónomas?
Não existe dúvida de que, como o presidente do governo regional, em bom
rigor, é responsável perante a A.L.R., mas não é responsável perante mais
ninguém. Logo, parece que existe uma certa acentuação presidencialista, porque
o presidente do Governo Regional não responde perante o PR. É um sistema que
não se compreende bem o que é.
 Sistema de governo que vigora nas regiões autónomas existe uma certa
acentuação presidencialista pelo presidente regional. Parlamentarista e
semipresidencialista não é, presidencialista também não é, porque o presidente
do Governo Regional é responsável perante a A.L.R., logo não é nada concreto.
Define-se pela negativa e não pela positiva, isto porque se define mais pelo que
não é do que pelo que é.
 O sistema de governo das regiões autónomas não é semipresidencialista, porque
não se verifica a condição sine qua non, ou seja, o governo teria que ser
duplamente responsável. Porém, a Constituição não diz, em lado nenhum,
designadamente nas competências do Presidente da República (…). O Presidente
da República pode dissolver as Assembleias Legislativas Regionais – artigo
133º, j) da CRP. No entanto, não pode demitir o Presidente do Governo
Regional porque em lado nenhum da CRP, ora se não diz é porque não pode.
 Logo, se não o pode fazer, então o sistema das regiões não é
semipresidencialista.
Competências dos vários órgãos próprios da região  artigo 227º da CRP.
 A distribuição de competências deste artigo é deficiente, isto porque não estão
distribuídas pelos 2 órgãos – a Assembleia e o Governo.
 nº1, a) – aqui temos uma competência muito vasta, ou seja, em matérias que não
sejam reservadas, a Assembleia Regional pode legislar sem ter de pedir
autorização.
Por exemplo, a Assembleia Legislativa Regional pode legislar sobre a
caça/pesca/relações comerciais com a Espanha por exemplo? Pode, porque não é
matéria reservada à AR (não consta no artigo 165º da CRP).
 nº1, b) – as regiões autónomas podem legislar sobre as matérias do art.165º,
desde que autorizadas, com algumas exceções. A lei de autorização aqui é em
tudo igual à conferida ao Governo, que consta no artigo 165º da CRP.
 nº1, d) – as Assembleias Legislativas Regionais também fazem regulamentos.
São regulamentos de 2 tipos:
regulamentam as leis da República, a não ser que estas digam que quem as
regulamenta é o Governo da República; e
regulamentam as leis regionais
Imaginemos que o decreto de emergência do PR não refere que a sua
regulamentação cabe exclusivamente ao Governo da República, o que
significava isto? Que nos Açores e na Madeira podiam também tomar medidas.
Agora imaginemos que ao desenvolver o decreto de emergência os Açores
diziam assim “cá nos Açores não há confinamento” ou “só há confinamento
24h” e na Madeira “também há confinamento, só que só dura 12h”, isto seria um
perigo total.
 nº1, e) – Quem tem iniciativa de propor os estatutos das regiões autónomas é a
Assembleia Legislativa da Região Autónoma, não a AR. Os estatutos das
regiões autónomas são aprovados pela AR, mas a iniciativa cabe às regiões, ou
seja, a Assembleia Regional. Dentro das regiões quem propõe os estatutos é a
Assembleia Legislativa Regional.
A lei da AR que aprova os estatutos quer uma maioria qualificada.
 nº1, g) – cabe ao Governo, é ele que regulamenta as leis regionais, paga aos
funcionários regionais, celebra contratos de concessão e de prestação de
serviços, etc.
 nº1, i) – eles não podem criar impostos, mas podem criar taxas, isto porque os
tributos dividem-se em impostos e taxas. E podem adaptar os impostos às
especificidades do território.
Suponhamos que nos Açores, por exemplo, dizem assim “em contrapartida do
serviço da proteção civil criamos uma taxa” podem fazer? Podem.
 nº1, j) – esta alínea diz que o governo português atribui uma parcela das verbas
orçamentais às regiões (esta é a maior fonte de receitas deles) e ainda dispõe de
uma parcela dos impostos cobrados lá.
Exemplo: um individuo açoriano paga o seu imposto nos Açores, na sua
repartição de Finanças, parte do que o individuo paga não sai de lá, é afeta para
despesas locais, que é para impedir que o Governo da República fique com tudo.
 nº1, m) – a tutela é o controlo menos intrusivo que existe. Em Portugal quem
exerce a tutela sobre a autarquia de Portimão é o governo, se o governo manda lá
um inspetor e entende que a autarquia de Portimão está a licenciar construções
em terrenos de reserva agrícola está a cometer uma ilegalidade, então o governo
participa ao Ministério Público, e este põe uma ação em tribunal e o resultado
dessa ação pode ser a perda de mandato.
 nº1, u) – esta alínea prevê, pela primeira vez em Portugal, a possibilidade de um
direito inter-regional. Já existia o direito internacional e agora passou a existir o
direito inter-regional.
Exemplo, a região autónoma da Madeira pode celebrar um acordo com a
região autónoma das Canárias para promover, por exemplo, o turismo.
O presidente da Câmara de Portimão pode celebrar um acordo com o governo
das Canárias para promover o turismo? Não!
Mas o presidente do governo regional pode.

Os Açores e a Madeira têm competência para criar impostos?


 Não, porque esta matéria pertence a uma das exceções previstas na alínea b) do
nº1 do artigo 227º da CRP.
 Quem tem competência para criar impostos é a AR ou o Governo com
autorização – artigo 165º, i) da CRP.
O Governo Regional em matéria de normas só pode fazer regulamentos!!
O Governo Regional pode regulamentar as leis que vem da república?
 Não, quem as regulamenta é a Assembleia.
 Logo, o governo regional só pode regulamentar as leis regionais. Não pode
regulamentar as leis que vêm da República.
A capacidade normativa do governo regional é relativamente pequena.
As regiões autónomas são competentes para legislar sobre matérias próprias, mas
suponhamos que não o fazem e que está em vigor uma lei que dispondo para todo o
território nacional, enquanto eles não fizerem vale esta lei, porque se não a matéria
ficaria sem disciplina.  ou seja, enquanto eles não fizerem normas especificas vale a
lei nacional (se existir).
O Representante da República faz aqui o que o PR faria, ou seja, veta, suscita a questão
da inconstitucionalidade, assina os diplomas (não promulga, porque quem promulga é o
PR) e nomeia o Presidente do Governo Regional tendo em conta os resultados eleitorais.
Nota: em matéria de competências constitucionais só existem aquelas que a
Constituição expressamente prevê. Ora, se não prevê algo é porque isso não existe!
A Assembleia Legislativa Regional tem o monopólio das leis regionais e, além do mais,
regulamenta as leis da República.
O Governo Regional só regulamentas as leis regionais.
As regiões autónomas legislam sobre matérias próprias, tal como definidas nos
respetivos estatutos. Isto significa que a norma mais importante delimita/circunscreve a
autonomia das regiões autónomas.
 Os estatutos das regiões autónomas têm de ser aprovados pela AR, mas a
iniciativa dessas leis depende da Assembleia Legislativa Regional.
 Caso não seja aprovada, a lei volta para trás e tem que ser a Assembleia
Regional a fazer outra proposta, até que a AR aceite ou não, porque podem
andar nesta vai e volta durante muito tempo.
 Logo, a iniciativa tem de partir da ALR, só que depois a AR pode ou não
aprovar.
 O estatuto político-administrativo das regiões autónomas é uma norma
fundamental, que é aprovada pela AR, mas que é apresentada pela ALR. Só que
a AR não é obrigada a aprovar.
As competências das Regiões Autónomas, previstas na alínea a) do nº1 do artigo 227º
da CRP, para legislar sobre matérias da sua competência própria definidas nos estatutos
são competências exclusivas da ALR, como podemos constatar no artigo 232º, nº1 da
CRP.
Caso uma lei da AR incide sobre matéria exclusiva da ALR, porque definida nos
estatutos como própria, essa lei da AR é inconstitucional ou não?
 Não é válida, ou seja, é inconstitucional, porque se é da matéria exclusiva da
ALR, não pode haver leis da AR sobre essa matéria.
 Logo, se são exclusivas a AR não pode legislar sobre essas matérias.
 É inconstitucional porque viola o artigo 232º da CRP.

Ser próprias ≠ Ser exclusivas (artigo 232º da CRP)

Suponhamos agora que estamos a falar sobre a matéria da pesca ao cachalote, que é uma
matéria de competência própria dos Açores e, além do mais, segundo o artigo 232º da
CRP é exclusiva da ALR. Mas por qualquer razão, os açorianos andam distraídos e a
Assembleia Açoriana não legislou sobre a pesca ao cachalote, não fez nenhum decreto
legislativo regional sobre esta matéria. No entanto, existe já há muito tempo uma lei da
AR sobre esta matéria (todos sabemos que não podia, mas fez na mesma). Então o que
acontece? A matéria fica sem disciplina, ninguém sabe se pode ou não pescar o
cachalote?
 Enquanto a ALR não legisla, a lei que se aplica é a geral (lei nacional/da
república), de acordo com o artigo 228º, nº2 da CRP.
 A disposição prevista neste número deste artigo é uma norma transitória, porque
assim que existir legislação da ALR é essa que depois passa a vigorar nas
regiões autónomas, ou seja, só está em vigor a norma nacional até que a região
autónoma decida fazer uma norma regional.
Suponhamos que o Representante da República vetou um decreto legislativo regional,
vetou por razões políticas. Pode fazê-lo?
 Pode. E este decreto legislativo regional volta à ALR e esta confirma o decreto,
ele tem de o assinar depois? Tem!
Suponhamos agora que o Representante da República suscita ao TC a inconstitucional
do decreto legislativo regional. O TC entendeu que o decreto era inconstitucional, logo
ele volta a ALR. A ALR, por maioria qualificada, mantem o decreto. O representante da
República tem que assinar?
 Sim, segundo o artigo 233º, nº3 da CRP. (é igual ao que acontece relativamente
ao PR sobre as leis nacionais, a base legal do que acontece nas leis nacionais
está no art.136º, nº2 da CRP).
Suponhamos que o Governo faz um decreto-lei e deste DL consta uma norma final que
diz assim “a regulamentação deste DL tem de ser feita pelo próprio Governo”, isto é
possível?
 Pode.
 Suponhamos que o Governo não dizia nada. Se o DL nada diz sobre quem faz a
sua regulamentação, ela pode ser feita pela ALR? A regulamentação deste DL
para os Açores podia ser feita pela ALR?
Pode. Mas quem regulamenta é a ALR, não é o Governo Regional, porque a
lei não é regional, mas sim da república.
Quando o Governo ou a ALR querem que determinada norma seja executada da mesma
maneira para todo o território nacional, para que não exista diferenças entre o
Continente e os Açores e a Madeira, o que dirá essa norma?
 Dirá numa norma final que a execução deste DL será feita exclusivamente pelo
Governo da República, de modo que ela seja de aplicação uniforme a todo o
território nacional. Porque se não o disserem ela pode executada de forma
diferente para os Açores e para a Madeira.  o que leva a que existam
diferenças.

O Governo Regional não faz DL, quem legisla é, exclusivamente, a Assembleia


Legislativa Regional. O Governo só faz normas sobre a sua organização ou
funcionamento (art. 231º, nº6 da CRP) – tem competência reservada a este propósito, tal
como o Governo da República – e esta norma não vai ao PR, mas sim ao Representante
da República.
Garantia e revisão da Constituição:
Incide, essencialmente, sobre a fiscalização da constitucionalidade de normas.
Diversos modelos que existem de fiscalização da constitucionalidade.
Necessário para esta matéria: Lei Orgânica do TC.
A ideia segundo a qual as normas, seja que normas forem, estão sujeitas à fiscalização
da sua validade constitucional, é uma ideia que fica a dever-se ao pensamento liberal.
O pensamento liberal parte do princípio de que efetivamente as leis mesmo que venham
do legislador, que sejam aprovadas por uma assembleia eleita, podem não ser boas, ou
seja, podem ser leis más, leis celeradas. Logo, podem violar a Constituição. A origem
democrática-parlamentar das leis não quer dizer que elas sejam necessariamente boas,
podem não ser.  este é um dos contributos do pensamento liberal dele para o
constitucionalismo moderno. As leis podem violar os direitos fundamentais ou podem
violar outras normas essenciais da própria Constituição.
Onde o modelo da fiscalização da constitucionalidade aparece, o primeiro país em que
os tribunais se arrogam o dever de fiscalizar a validade das normas, tendo por parâmetro
a Constituição, é os Estados Unidos. Apesar da Constituição norte americana não prever
expressamente que os tribunais podem fiscalizar a Constituição, a realidade é que desde
fins do séc. XVIII – princípios do século XIX, os tribunais norte americanos arrogaram
essa competência e é absolutamente indiscutível.
1º modelo – modelo norte americano: de influência liberal, que passou e teve uma
influência profunda em todo o constitucionalismo dos países americanos. Passou para o
Brasil e para diversos outros países da América do Sul e da América Central, portanto,
pode dizer-se que os norte americanos, a sua Constituição, foi a “bandeira” atrás da qual
o constitucionalismo americano se desenvolveu, designadamente, o constitucionalismo
brasileiro tem pouca influência do constitucionalismo europeu, mas possui uma grande
influência do constitucionalismo norte americano.
• Este é um modelo com grandes vantagens e com grandes desvantagens.
• É o modelo mais complexo.
2º modelo – modelo europeu: da europa continental (Inglaterra à parte porque esta tem
o modelo norte americano). Este modelo refere que os tribunais comuns não são
competentes para fiscalizar a constitucionalidade, mas existe um tribunal especial para
isso que é o Tribunal Constitucional.
• Este modelo é do século XX e apareceu na Europa por um grande jurista – Hans
Kelsen – é o autor da metáfora da pirâmide normativa/das normas (Constituição, lei,
regulamentos, ato administrativo e sentença). Hans Kelsen foi um grande adepto da
figura do Tribunal Constitucional como um tribunal especial fora da ordem judicial, ou
seja, nada tem a ver com os outros tribunais, não é sequer integrado por juízes (pode ser,
mas não é necessariamente assim), é integrado por individualidades eleitas pela
Assembleia, não são juízes de carreira (podem ser, mas não são necessariamente) e tem
como única finalidade fiscalizar a validade das normas, isto é, o legislador faz e o TC
desfaz, o legislador faz a lei e o TC anula a lei, e esta deixa de existir.
• O TC é o principal guardião da Constituição.
• Os tribunais ordinários não têm competências para isto e, portanto, tem que
aplicar as leis em vigor, concordem com elas ou não.
• O TC não atua oficiosamente, só atua a pedido de alguém, ou seja, tem de ser
alguém que suscite a questão e este alguém é um órgão político (Parlamento, Presidente,
PM, Governo, Provedor de Justiça, Procurador-Geral da República, etc).  Não tem
iniciativa
• Este modelo também tem grandes vantagens e desvantagens.
• Na Europa a figura do TC foi adotada por todos os países europeus, exceto na
França. Isto porque a influência do pensamento democrático em França é de tal maneira
acentuada que ainda hoje (em França) a lei depois de entrar em vigor não pode ser
fiscalizada por ninguém. O TC em França não existe (único país europeu que não tem
TC).
Nota: em França continua a dar-se grande importância à vontade geral e a partir do
princípio que tudo aquilo que o legislador faz é bem feito.
• O direito europeu não se meteu neste assunto, não exige aos Estados-Membros
que tenham um TC, mas o Tribunal de Justiça da União Europeia tem atribuições de
fiscalização da validade das normas, tomando por parâmetro o direito europeu e,
portanto, o Tribunal de Justiça da UE tem atribuições que se assemelham a um TC.
Logo, pode dizer-se que o modelo do TC está de acordo com o direito europeu, embora
o direito europeu não exija aos Estados-Membros que invoquem o TC.  O TC é uma
figura, hoje em dia, normal no direito europeu ocidental, exceto no caso da França.
• Em Portugal, o TC só existe a partir da 1ª revisão constitucional de 1982, que é
aquela que marca um verdadeiro início da democracia política em Portugal. Porque até
1982 a fiscalização da constitucionalidade das normas cabia a uma Comissão
Constitucional (que não era um Tribunal) e que, por sua vez, estava sujeita à sanção do
Conselho da Revolução que era integrado por um conjunto de criminosos como o Otel
Saraiva de Carvalho e outros militares que não eram eleitos.
São 2 modelos completamente opostos e pode dizer-se que as vantagens de um são as
desvantagens do outro e vice-versa.
Portugal tem os 2 modelos misturados e isto faz com que o nosso sistema seja
particularmente complexo. Aliás, Portugal é o único país europeu em que o sistema
norte americano funciona e foi trazido para cá com a Constituição republicana de 1911,
mantendo-se até hoje inalterado.
• O PR pode suscitar a questão da validade da norma ao TC, mas enquanto ela
estiver em vigor ele tem de a aplicar, não pode repudiar a lei.
• Um juiz em Portugal pode desaplicar a lei, embora ela continue em vigor, só não
a aplica ao caso que está a julgar.  Mais ninguém em Portugal pode fazer isto, exceto
o juiz.
• Os juízes não são funcionários públicos, mas sim órgãos de soberania e não
respondem perante ninguém. (IMPORTANTE)
Qual a vantagem do sistema norte americano:
• Independência do juiz – este não é responsável perante ninguém, toma a decisão
que entende em função da sua própria consciência e do seu entendimento das leis, tem é
de fundamentar, independentemente devia ou não de aplicar esta lei e tem de explicar o
porquê, tem de explicar o porquê de não aplicar uma lei cuja validade foi suscitada na
causa que aquele juiz está a julgar.
Desvantagem do sistema norte americano:
• Desarmonia das sentenças – ou seja, por exemplo, nos Estados Unidos existem
juízes que não aplicam a pena de morte porque pensam que ela é inconstitucional,
porém, existem outros que aplicam porque acham que ela não é inconstitucional.
Outra questão que teve grande impacto político nos Estados Unidos e que só foi
resolvida nos anos 60, que consistiu no facto de os Estados Unidos serem uma
federação e muitas das competências não pertencem à federação, mas pertencem aos
Estados, uma delas é o ensino. Logo existiam muitos Estados no Sul, com tradição
estrategista, e que estavam em vigor leis que proibiam o ensino misto (entre negros e
brancos), as escolas para brancos estavam vedadas às crianças negras.
• Exemplo: havia um casal negro que tinham 1 filho e queriam inscrever a criança
numa escola ao pé de casa. Chegavam à escola com a criança e o diretor da escola
recusava a inscrição da criança porque a criança era negra e a escola estava vedada a
negros. Posto isto, os pais da criança inconformados recorriam para o tribunal de 1ª
instância (county court) e alegavam a inconstitucionalidade da norma, o juiz tinha de
decidir e suponhamos que o juiz decidia que a norma não era inconstitucional, está em
vigor neste Estado e, portanto, a norma é para cumprir, logo o filho deles não se podia
inscrever na escola. Os pais descontentes recorriam agora à instância superior (supreme
court) e passado uma série de anos o supreme court decidia que a norma era
inconstitucional e que o colégio teria de aceitar a inscrição da criança, porém a norma
continuava em vigor. Suponhamos agora que a criança tinha um irmão mais novo e este
chegava à escola e esta não o aceitava porque estava em vigor aquela lei discriminatória
que proibia, então os pais decidiam recorrer novamente e processo teria de se repetir
todo de novo porque o tribunal pode declarar uma norma inconstitucional naquele caso,
mas a norma continua em vigor.
• NOTA: o supreme court nos Estados Unidos entendeu sempre que as normas
discriminatórias contra o acesso ao ensino eram inconstitucionais.
• Porém, como os negros nos Estados Unidos são milhões, isto nunca mais tinha
solução. Então, depois de muita luta pelos direitos civis, no início dos anos 60, houve
um presidente nos Estados Unidos – Lyndon B. Johnson – que conseguiu obter o acordo
de um partido republicano do Congresso dos Estados Unidos para fazerem uma lei
federal, aplicável em todos os Estados, a proibir a discriminação étnica em qualquer
escola.  só assim é que o problema ficou resolvido.
• NOTA: Congresso – única entidade nos Estados Unidos que pode revogar ou
modificar uma lei.
• Logo, foi necessária uma alteração legislativa para que isto pudesse ser
definitivamente resolvido.
Porém, na europa isto não se passava assim:
• Esta lei chegava ao TC e este chumbava de imediato a lei e já não havia
problemas, a lei deixava de estar em vigor.
É, por isto, que o modelo norte americano se diz o modelo de fiscalização concreta e
difusa.
• Concreta – porque a fiscalização só pode fazer-se a propósito de um caso
concreto que esteja a ser julgado em tribunal.
• Difusa – porque a fiscalização cabe a todos os tribunais.
Opõe-se ao modelo europeu em que a infusação é concentrada, ou seja, cabe apenas a
um tribunal (TC) e é abstrata, porque a norma é fiscalizada independentemente de ter
sido aplicada ou não (quando é suscitada a questão em tribunal). É tão abstrata que a
norma pode ser fiscalizada pelo TC numa altura em que ainda nem sequer entrou em
vigor. Logo, se ainda não entrou em vigor não pode ser aplicada/invocada em nenhum
tribunal.
A fiscalização, segundo o modelo europeu, é abstrata e é concentrada. Opõe-se à
concreta e difusa. (IMPORTANTE)
Qual a grande desvantagem do modelo europeu:
• Falta de independência dos juízes relativamente aos partidos que os elegem. O
juiz do TC é eleito pelo Parlamento e, portanto, o juiz pode ser levado a fazer “fretes”
ao Governo, não declarando inconstitucionais as normas que o Governo elabora, isto
porque foi eleito pelo parlamento. Isto provocou uma certa osmose entre os partidos
políticos e os juízes do TC que nos Estados Unidos não existe.
• Na nossa Constituição existe uma solução para evitar a dependência dos juízes
do TC relativamente aos partidos políticos que os elegeram na Assembleia. Esta solução
consiste, segundo a nossa Constituição, o mandato dos juízes do TC é de 9 anos (é um
mandato longo), portanto, o governo muda, a composição do Parlamento muda (houve,
pelo menos, 2 eleições) e o juiz do TC continua a ser o mesmo. E os juízes não são
reelegíveis (mandato único).  logo, a solução foi que o mandato dos juízes do TC é
único, não podem ser reeleitos e dura 9 anos, o que, por sua vez, assegura a
independência deles relativamente aos partidos que os elegeram.
NOTA:
• Os juízes do TC 10 são eleitos e 3 são cooptados (ou seja, são escolhidos entre
eles – juízes).
• O presidente do TC é eleito pelos juízes.
• Os juízes do TC têm as mesmas regalias, o mesmo vencimento que têm os juízes
dos tribunais comuns. Ganham o mesmo que os juízes do supremo.
• Não podem exercer mais nada, tem de estar dedicação exclusiva.
• Os juízes do TC têm de ser juristas, mas podem não ser juízes de carreira. A
maioria deles não são juízes de carreira, são professores universitários, mas também
existem juízes de carreira.
Qual a vantagem do modelo europeu?
• É a segurança total – o tribunal declara a lei inconstitucional e ela fica
automaticamente extinta, logo deixa de poder ser aplicada.
O modelo português é um modelo conjugado, ou seja, conjuga o sistema da fiscalização
concreta com o sistema da fiscalização abstrata.
A fiscalização abstrata pode ser:
• Preventiva – se a norma ainda não entrou em vigor.
• Sucessiva – depois da norma entrar em vigor.
A fiscalização concreta é sempre sucessiva. – se a questão foi suscitada num tribunal é
porque a norma estava em vigor.
A fiscalização concreta é desenvolvida pelos tribunais comuns.
A fiscalização abstrata é desenvolvida pelo TC, os tribunais comuns não podem aplicar
normas que não estejam em vigor, logo a fiscalização é sempre sucessiva. Porém, o TC
pode pronunciar-se sobre norma que ainda não está em vigor, logo pode existir
fiscalização preventiva. Ex: casos em que o PR manda a norma para o TC antes de a
promulgar ou assinar.
Em Portugal, existe uma conjugação dos dois modelos:
• A concreta desde 1911
• A abstrata desde 1982
Tribunais comuns – decidem.
Tribunal Constitucional – expurga ou não a norma, anula ou não a norma.
Exemplo:
• Aparece um cliente seu a dizer “a câmara municipal de Lagoa quer expropriar o
meu terreno, eu não posso opor-me à expropriação, mas eles querem me pagar 200 mil
€ e o terreno vale mais. Então, eu não vou aceitar o que eles me querem pagar e vou
colocar uma ação em tribunal”. A ação para tribunal e a advogada diz assim “a lei ao
abrigo da qual a Câmara Municipal de Lagoa atribuiu ao meu cliente uma indemnização
de 200 mil € pelo terreno que lhe expropriou é uma lei inconstitucional, porque o
critério legal viola o direito de propriedade privada”. Suponhamos que o juiz (questão
em 1ª instância) pensa assim “sim senhor a advogada tem razão, esta norma é
inconstitucional, viola o direito de propriedade privada, de modo que não vou aplicar
essa norma e, consequentemente, eu vou aplicar um critério da justa indemnização (que
é um critério constitucional), vou mandar avaliar o terreno por um louvado
independente”. O louvado chega lá e diz “o terreno vale 400 mil €” e o juiz pensa “são
esses 400 mil € que eu vou mandar pagar”. Depois, caso a câmara ficasse descontente
que recorresse para um tribunal superior.
• Suponhamos agora que o Eduardo está no TC e aparece uma norma, o Eduardo
vai pronunciar-se sobre a norma, não sobre o montante da indemnização. O caso não
está em tribunal, o Eduardo vai apreciar abstratamente se a norma que manda calcular a
indemnização daquela maneira é uma norma que está conforme a propriedade privada
ou não. Caso considere que a norma é inconstitucional então anula a norma e nunca
mais ninguém a pode aplicar, o legislador tem de fazer outra.
O TC pronuncia-se sobre normas, pode ser qualquer norma, pode ser lei, DL, DLR,
Regulamento, etc.  norma em sentido amplo
Em Portugal, as entidades com competência para suscitar a questão são sempre
entidades políticas, não são os cidadãos. Todavia, existem países em que podem ser os
cidadãos a suscitar a questão, por exemplo, a Alemanha e a Espanha, entre outros.
Só o TC é que pode fiscalizar a constitucionalidade de normas, não se pronuncia sobre
casos concretos.
Exemplo:
• O Eduardo é juiz, a Ana é advogada, suscitou num feito que está a ser julgado
pelo Eduardo uma questão sobre a constitucionalidade de uma norma. O prof. é o réu.
• O Eduardo diz assim “a Ana não tem razão, a norma ao abrigo da qual este
senhor está a ser julgado no processo-crime ou processo cível é válida, não vejo razão
nenhuma para não aplicar esta norma”, portanto, dá uma sentença que não agrada à
Ana, nem ao réu.  o juiz fez uma fiscalização concreta, ou seja, não aplicou a norma,
mas ela continua em vigor.
• O réu não pode ir diretamente ao TC, então o que pode fazer? O réu e a Ana
recorrem para o tribunal superior.
• Suponhamos que o tribunal superior dá razão ao juiz Eduardo. A Ana e o réu
continuam inconformados, então decidem recorrer para o supremo.
• Suponhamos que o supremo refere que a sentença que vem da 1ª instância e da
relação estão bem, a norma não é inconstitucional e vamos manter a sentença. Só aqui é
que ainda existe uma última hipótese de recorrer para o TC.
• Suponhamos que o TC dá razão à Ana e diz “a norma é inconstitucional”, não se
vai pronunciar sobre a pena ou sobre o montante da indemnização. Então, o Eduardo
não tinha razão, logo a sentença volta para o Eduardo e este tem de reformular a
sentença e desta vez não pode aplicar a norma, tem de proferir outra sentença.

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