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Leis similares: requerem maiorias qualificadas, previstas no art.168º, mas que este
artigo não as chama orgânicas.
A figura do controlo parlamentar (dita apreciação parlamentar) dos DL, isto é, apesar do
Governo poder fazer DL ao abrigo da autorização ou não, a AR pode dizer ao Governo
“mostra cá o que tu andas a fazer, que é para agente apreciar” e isto é uma manifestação
de predominância legislativa da AR que o Governo não pode fazer o mesmo em relação
às leis da AR, óbvio, mesmo que o DL tenha sido emitido ao abrigo de uma autorização,
a AR pode apreciar o DL governamental e pode retificá-lo.
Nesta parte da organização política, o que a nossa Constituição pensou para o normal
funcionamento da democracia portuguesa é um sistema político assente em partidos,
não é obrigatório que assim o seja, existem muitos modelos políticos que nós podemos
conceber constitucionalmente o desenho da forma de funcionamento não deixa de ser
democrático por seguir diferentes vias, existem opções possíveis. Contudo, a opção da
Constituição é uma opção assente nos partidos políticos tal como resulta do artigo 114º
da CRP.
As eleições para os órgãos colegiais são essencialmente assentes em partidos políticos,
exceto as eleições para PR, porque este é um órgão individual. Existe outra exceção,
que são as eleições autárquicas, aqui existe uma exceção, embora se mantenha o
princípio de eleição por lista, a verdade é que podem existir listas de cidadãos, ou seja,
para as autárquicas, seja para as freguesias, seja para os municípios, é possível que os
cidadãos se agrupem em listas e concorram como tal, sem estarem formalizados com
uma estrutura político-partidária por trás.
A regra é a das candidaturas serem apresentadas por partidos políticos ou por coligações
de partidos políticos, ou seja, mais do que um partido político coligados entre si. Isto é
assim para as legislativas, isto é, para as eleições dos deputados para o parlamento, à
AR, é assim também para as eleições regionais – para as assembleias legislativas
regionais dos Açores e da Madeira – e é assim para as autárquicas, com a exceção de
além dos partidos também listas de cidadãos poderem concorrer.
Este é um princípio em que a Constituição estruturou, nomeadamente, a composição do
Parlamento – ela é feita com base nos partidos, apesar de poderem existir deputados
independentes não inscritos.
Em Portugal, as eleições para a AR, são feitas em círculos eleitorais (artigo 149º da
CRP), que coincidem com aquilo a que chamamos distritos, em cada círculo eleitoral
concorrem certos partidos, um partido não tem de concorrer a todos os círculos
eleitorais, porque para cada círculo eleitoral ele tem de apresentar uma lista de
deputados correspondente ao número de deputados que podem ser eleitos por esse
círculo mais 1/3 de suplentes. Portanto, um partido pode estar interessado em concorrer
ao Algarve, mas não estar interessado em concorrer ao Alentejo, embora, em princípio,
todos os partidos tenham que ter uma expressão nacional e não haja partidos regionais,
ou seja, em Portugal, em princípio, não é admissível um partido do Algarve concorrer
no círculo eleitoral só do Algarve e nos outros sítios ninguém iria votar nele.
No artigo 149º da CRP, a Constituição aqui até permitia uma opção diferente, isto
porque, este artigo refere que os círculos eleitorais podem ser plurinominais ou
uninominais. O que isto significa?
Pela Constituição podem existir, como existem hoje em dia, estes círculos
eleitorais com uma lista de deputados, cada partido apresenta a sua lista, mas se
o legislador ordinário quiser, a Constituição também permite que os círculos
sejam uninominais, ou seja, à inglesa, na Inglaterra os círculos são mais
pequenos que em Portugal, portanto em vez de termos um círculo eleitoral
coincidente com o distrito, teríamos um circulo coincidente com dois ou três
concelhos, mas por exemplo, podemos definir círculos com base em deputado
por cada 50 mil habitantes e, portanto, dividir os círculos em áreas de 50 mil
habitantes e depois ter círculos uninominais.
Círculo uninominal: eu candidato-me sozinho para aquele círculo.
Nos círculos uninominais puros, como é Inglaterra, o sistema é por um lado,
muito interessante porque obriga a um grande contacto do eleito com o eleitor.
O sistema puro inglês tem um defeito, que é se eu ganhar nem que seja por 1 voto, o que
ficou em 2º lugar pode ter tido poucos menos votos do que eu, mas não serviram para
nada aqueles votos e isto pode fazer com que partidos que tenham muitos votos e não
ter quase deputados nenhuns. Para corrigir este sistema, para tornar mais justo e
aproveitar todos os votos, inventou-se um sistema
Sistema misto, que é o francês, onde mesmo que existam círculos uninominais é preciso
eleição por maioria absoluta, ou seja, para ser o deputado eleito tem de se ter mais de
metade dos votos daquele círculo, o que significa que vai haver muitas vezes segunda
volta entre os dois primeiros. Este sistema também é acusado de prejudicar partidos,
como por exemplo o partido da Lepen, que embora ganhando muitas vezes a primeira
volta, depois perde a segunda volta porque os outros juntam-se todos contra ela e ela
tinha mais votos que os outros, mas obviamente não consegue ter mais votos que os
outros todos juntos, acabando assim por perder na segunda volta. Isto significa que o
partido acaba por ter menos deputados do que aquilo que é a expressão de votos que
pode ter, por exemplo, a nível nacional.
Para corrigir estes defeitos, existe uma proposta que já se pensou implementar em
Portugal, que é a criação de um círculo uninominal complementado por um círculo
nacional, qual é a ideia? A ideia é esta, que cada círculo eleitoral elege de facto um só
deputado, portanto o que ganhar, mas os votos dos que perderem não são jogados fora e
nós vamos ter o pacote de, por exemplo, 50 deputados a nível nacional que vão ser
eleitos usando os votos de todos os que perderam nas eleições dos círculos uninominais.
Exemplo: círculo uninominal de Lagoa, Portimão e Silves, íamos eleger 1
deputado. O João ganhou, o partido dele elegeu a ele, mas nós outros ficamos a
Joana em 2º, a Filipa em 3º, a Patrícia em 4º, a Ana em 5º, o que acontece? Os
votos delas não são perdidos nem jogados fora, vão para o bolo nacional do
partido delas para depois distribuir os 50 deputados desse bolo nacional em
função desses resultados e, portanto, um partido que perca muitas vezes em 2º
lugar, há de ter muitos votos no final, portanto desses 50 deputados se calhar vai
buscar 15 ou 20, aproveitando assim os votos.
Método de Hondt (art.149º, nº2 da CRP): é um esquema em que nós vamos dividir o
número de votos expressos, ou seja, o número de pessoas que votaram, pelo número de
eleitos, portanto, potenciais eleitos e vamos ver quantos votos são precisos para eleger
cada um. É o método utilizado em Portugal.
A Assembleia até o alterar ou não, suspendi-o logo, sendo isto uma medida preventiva,
uma medida quase que cautelar, fica logo suspenso até que a administração, até que a
AR se pronuncia sobre se vai ou não alterar. Só que esta suspensão não pode ser eterna,
a AR tem um prazo, se suspendeu o DL, tem um prazo para o alterar ou não. Caso não
altere, se nada propõe, então o DL volta a entrar em vigor, não pode estar eternamente
suspenso e este prazo é relativamente curto para que a AR altere o DL estando ele
suspenso, desde que se trate de um DL emitido ao abrigo de uma autorização, não
noutros casos.
Por sua vez, o período durante o qual a AR pode pedir a apreciação do DL é desde a sua
publicação, ou seja, 30 dias, isto porque não existe nenhuma conveniência em que esse
período fosse muito longo ou por uma questão de segurança se o DL entrou em vigor, a
possibilidade da sua alteração pela AR não pode durar eternamente, até porque isto
poderia gerar inconvenientes, por exemplo, de um Dl que criminaliza uma determinada
atividade, a matéria penal não é matéria de reserva absoluta da AR, mas sim de reserva
relativa, logo o Governo desde que autorizado pode modificar o código penal e criar
novos crimes. Então suponhamos que o Governo por DL criminaliza uma atividade
qualquer e isso está em vigor há 30 dias, se efetivamente a AR passados os 30 dias
resolve alterar o DL, tudo quanto se verificou ao abrigo desse DL, que está agora
suspenso, então aquilo só foi considerado crime durante 30 dias depois deixou de ser,
portanto para evitar estas situações que podem gerar desigualdades é que o período
durante o qual a AR pode alterar/pode pedir a sua apreciação para efeitos de alteração
do DL, é relativamente curto e findo este período já não o pode fazer.
Mas a AR está sempre a tempo de revogar o DL através de uma nova lei?
Claro que sim, mas isto não é alterá-lo, nem o apreciar. Neste caso a AR altera o
DL que o Governo fez, fazendo uma lei nova sobre a mesma questão da Lei.
Por norma é o que acontece.
NOTA: As leis revogam os DL, tal como os DL emitidos no âmbito das competências
concorrente revogam as leis.
Depois, por uma questão muitas vezes de vinculação formal, tem mais um terceiro
momento. Portanto existem 3 momentos:
Uma votação na generalidade – que ocorre no final do debate na generalidade;
Uma votação na especialidade – que ocorre no final do debate na especialidade;
Uma votação final global
Concluindo, existem 2 debates e 3 votações para que possa existir uma lei.
Os projetos propostas de lei é diferente: 2 debates e 3 votações.
Mas o PR pode dizer ao PM se o PM lhe aparece com uma proposta para nomear o
Ministro da Justiça determinada pessoa, poderá o PR dizer que não aceita e para este
arranjar melhor?
Pode e já aconteceu.
Tal como pode aconselhar a não demitir um Ministro, pois pode trazer
desvantagens ou só pelo motivo de estar a fazer um bom trabalho.
O Governo legisla, tem atividade política e administra, sendo este o seu papel mais
importante na prática.
Governo é um órgão coletivo, integrado pelo Primeiro Ministro, pelos Ministros, pelos
Secretários de Estado e pelos Subsecretários de Estado, e também por um órgão
essencial, onde se delibera quase tudo, que é o Conselho de Ministros, visto que é por
ele que passa quase tudo, raros são os atos que podem ser praticados pelos Ministros
individualmente e mesmo que exista alguns despachos normativos, portanto, os
regulamentos que são assinados apenas pelos Ministros da tutela desse setor, a realidade
é que mesmo estes despachos normativos que não vão a Conselho de Ministros, mas
que têm de ser assinados sempre pelo Primeiro Ministro. Regra: é que todos os atos
normativos, todos os regulamentos são necessariamente aprovados em Conselho de
Ministros, bem como os decretos-leis, os acordos internacionais, as resoluções políticas,
etc.
Em suma, o Conselho de Ministros é o órgão por onde passa tudo ou quase tudo.
Sendo por isso que se diz que o Governo é um órgão coletivo e que a
responsabilidade de qualquer deliberação que o Governo tome é sempre do
Governo como um todo e nunca de um Ministro individualmente considerado.
Até porque se o Ministro individualmente considerado tiver competência para
assinar, ele só, um despacho normativo, este despacho tem de ser
necessariamente assinado pelo primeiro-ministro e o PM é responsável perante o
Presidente e perante a AR, em nome do Governo, isto significa que estamos
perante um princípio da responsabilidade solidária de todos os ministros do
Governo.
NOTA: O Governo é sempre tido como um todo, é uma equipa, é um órgão
coletivo, não há nenhum Ministro que possa dizer que não sabia do que se
passava e que não teve responsabilidade no que se decidiu e que não é nada com
ele.
Relativamente às competências diferenciadas dos membros do Governo, o Ministro dos
Negócios Estrangeiros tem uma posição especial dentro do Governo, na medida em que
lhe compete em exclusivo a negociação dos tratados internacionais, o que é uma matéria
de extrema importância, sobretudo numa altura em que a internacionalização é um
fenómeno constante. Por outro lado, também há um ministro que tem um papel
importante, isto porque é por ele que passam necessariamente todos os diplomas e que
levam a última revisão que é ele que a faz antes de irem para a aprovação em Conselho
de Ministros, é um ministro que nem sempre existe, é o ministro da presidência do
Conselho de Ministros. Atualmente esta última figura não existe, mas existe um
secretário de estado da presidência do Conselho de Ministros, que é o homem que dá
forma final, a redação final, a todos os diplomas que se destinam à aprovação em
Conselho de Ministros e isto traz à evidência a importância política que este secretário
de estado tem, funciona como uma espécie de “capitão de equipa”, é um membro
importantíssimo do Governo, até porque é o único secretário de estado que tem
necessariamente assento no Conselho de Ministro.
O Governo não tem um órgão consultivo necessário, o que não significa que na
orgânica dos diversos ministérios não existam órgãos consultivos, mas órgão consultivo
do Governo como um todo não existe. Contudo, o Governo pode pedir consultas a quem
quiser, exemplo, em Portugal o Governo costuma pedir consultas ao Conselho
Consultivo do Ministério Público (o Ministério Público tem um conselho consultivo),
estas consultas têm forma de pareceres, não são vinculativas e estão publicadas e, de
uma maneira geral, trata-se de peças jurídicas de altíssima qualidade.
Funcionamento do Governo: é indispensável um princípio de continuidade do
Governo, este não pode cair, o país não pode estar sem Governo nem um dia. Então a
Constituição arranjou um mecanismo que permite esta continuidade, assim, mesmo
quando o Governo é demitido, o Governo anterior continua até que o novo Governo
tome posse. O período em que o Governo é demitido e até que o novo Governo tome
posse, diz-se que durante esse período o Governo está em gestão corrente dos assuntos,
denomina-se Governo de Gestão.
Governo de gestão: é o Governo que não pode praticar atos de conteúdo político
significativo, mas pode funcionar normalmente, continua a reunir o Conselho de
Ministros, apesar do Governo já se encontrar demitido ou então, mesmo que não
demitido pelo PR, esteja demissionário, porque o PM apresentou a demissão e o
Presidente aceitou-a, o que o Conselho de Ministros não pode fazer é aprovar atos
significativos do ponto de vista político, por exemplo, não faz sentido neste período o
Governo apresentar um orçamento ou nacionalizar uma empresa ou privatizar um banco
ou negociar e assinar um tratado de adesão ou confirmação da nossa posição na EU.
Contudo, é necessário neste período mandarem pagar os salários à função pública, tal
como é necessário honrar os compromissos do Governo decorrentes de contratos
celebrados com os particulares, estes atos de gestão corrente têm de ser praticados, até
porque a partir do momento em que o Governo é demitido ou está demissionário e a
demissão foi aceite até à tomada de posse do novo Governo, pode mediar um prazo
longo em várias circunstâncias.
O Governo fica em gestão enquanto o seu programa não for aprovado pela AR,
caso não seja aprovado o Governo cai logo, foi o que aconteceu com o Passos
Coelho.
Competências Governamentais:
O Governo desempenha diversas funções, mas que podem ser tipificadas em 3 grandes
núcleos:
Funções políticas – pratica atos políticos, tal como o Presidente e a AR – artigo
197º da CRP;
Funções Legislativas – artigo 198º da CRP. o Governo faz DL e é uma
competência importante, porque a quantidade de DL por ano é superior à
quantidade de leis, logo, em termos quantitativos, o Governo é muito produtivo
em termos de legislação;
Funções Administrativas: regulamentos (normas tem carácter geral e abstrato,
exemplos: resoluções, portarias, despachos); atos administrativos individuais e
concretos (por exemplo: nomeações, liquidações de impostos, outorga de
subsídios às empresas, autorizações, licenças, aplicação de multas); celebra
ainda contratos com os particulares, que podem ser administrativos ou contratos
de direito privado, regidos pelo CC. – artigo 199º da CRP
Ex de contrato administrativo: o Governo com uma Autarquia Local concede
a exploração a alguém de um bar/terreno numa praia, a praia é de domínio
público, onde alguém vai instalar um bar.
Ex de contrato privado: O Governo ou a Câmara Municipal quer comprar um
prédio para instalar serviços, o prédio é de um particular, compram o prédio e é
um negócio de compra e venda, regido pelo CC.
Artigo 197º, nº1, a) da CRP – acaba por ser uma espécie de controlo também do ato do
PR. Se não existir referenda não há ato jurídico, portanto, o PR tem de ter aqui também
uma validação da funcionalidade do seu ato pelo Governo.
E se o PR quiser praticar um destes atos e o Governo recusar a refenda. Quem é
que tem a última palavra? Ou seja, por exemplo, alínea j) do artigo 136º da CRP,
o PR decidiu dissolver a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos
Açores tendo em conta que esta “geringonça” açoriana não está a funcionar e
decide, também, convocar novas eleições. Só que o Governo, era favorável ao
governo regional, recusa a referenda (é uma assinatura do ato), referindo que não
referendam porque acham que esse ato é inconstitucional e não tem razão de ser.
O que acontece?
Não há ato jurídico, ou seja, não existe dissolução, segundo o artigo 140º, nº2
da CRP. E o que faz o PR ou se é que pode fazer alguma coisa? Pode demitir o
Governo – artigo 195º, nº2 da CRP – destitui o governo declarando que está em
causa o normal funcionamento das instituições democráticas (porque o PR
também é uma instituição democrática), ou de forma menos “agressiva”,
convocar o Conselho de Estado para pedir conselhos sobre a situação.
NOTA: O PR nunca pode demitir o Governo sem ouvir antes o Conselho de Estado!!!!
– artigo 195º, nº2 da CRP
NOTA: a recusa da referenda tem de ser algo muito bem pensada pelo Governo, porque
como nas relações entre o PR e o Governo, o PR tem sempre a prevalência porque é ele
que nomeia e pode demitir o Governo, já se viu que o Governo responde perante o PR,
logo, tem de ter muito cuidado com as suas decisões, porque o PR pode demitir o
Governo, mas o inverso não se pode verificar.
As competências em matéria de DL são de 4 tipos:
Concorrencial (artigo 198º, nº1, a) da CRP) – em todas as matérias onde não
exista reserva da Assembleia da República. Portanto, exceto as matérias do
artigo 164º da CRP – onde o Governo não pode de todo legislar – e artigo 165º
da CRP – onde o Governo só pode legislar se a AR lhe der autorização prévia.
Logo, excetuando estas 2 situações, em todas as outras matérias existe
competência concorrencial, ou seja, tanto pode existir uma Lei como um DL.
Exclusiva (artigo 198º, nº2 da CRP) – portanto, a AR não pode interferir nesta
matéria.
Autorizada (artigo 198º, nº1, b) da CRP) – em que o Governo só pode legislar
depois de ter uma lei de autorização com os elementos do artigo 165º, nº2 da
CRP
Desenvolvimento (artigo 198º, nº1, c) da CRP) – acontece naquelas situações em
que a AR faz uma lei-quadro ou uma lei de bases, depois o Governo pode
desenvolver esse quadro legal ou essas bases através de um DL. Exemplo: temos
a lei de bases do território e do urbanismo e depois temos o DL que é o regime
jurídico dos instrumentos de gestão do território, que é um DL de
desenvolvimento dessa lei de bases. é uma competência legislativa
complementar de desenvolvimento
A AR, normalmente, é no âmbito de competências legislativas reservadas, que estão as
leis-quadro. Exemplo: artigo 164º, i) da CRP – fazer as bases do sistema de ensino, logo
a lei de bases do sistema de ensino não pode deixar de ser uma lei de bases. O
desenvolvimento destas bases, ou seja, a criação de um regime jurídico mais
pormenorizado já pode ser através de um DL de desenvolvimento de princípios ou de
bases gerais destas leis.
Sempre que o Governo execute uma lei de autorização ou desenvolva uma lei de bases
tem que indicar que o está a fazer – artigo 198º, nº3 da CRP
Quando o Governo produz legislação (faz leis), ao governo compete com a AR, nos
termos da alínea a) do nº1 do artigo 198º da CRP, ou seja, a competência é
concorrencial. Portanto, o primeiro que a fizer cria o regime jurídico, posto isto, tanto
pode aquela matéria vir a constar numa lei como pode vir a ser um DL. esta é a
regra!
Porém, a AR é o órgão legislativo por excelência, ou seja, é aquele que em regra tem
por natureza a competência legislativa. Portanto, o legislador constitucional tinha que
arranjar uma forma de sobrepor a AR ao Governo e, esta sobreposição (mais um
exemplo da interdependência), é o artigo 169º da CRP que cria a apreciação parlamentar
dos atos legislativos.
Ora, isto significa que os DL feitos pelo Governo – exceto os do artigo 198º, nº2 da
CRP – pode ser submetido à apreciação da AR para uma de duas coisas (artigo 169º, nº1
da CRP):
Para cessar a sua vigência – ou seja, para dizer que esse DL não existe, mesmo
que tenha cumprido tudo, isto é, tenha sido aprovado no Conselho de Ministros,
foi ratificado pelo PR, foi promulgado pelo PR, foi publicado e esteja em vigor,
ou seja, existe já um DL, porém, a AR politicamente não concorda com aquele
conteúdo, acha que o regime jurídico está errado; ou
Fazer uma alteração – quando entende que o DL não está tão mal, então procede
à alteração desse decreto-lei. Aqui o DL não muda como tal, apenas são
alteradas algumas partes.
Esta norma explica a supremacia legislativa do Parlamento sob o Governo, que é
parecido à avocação de uma competência pelo órgão delegante no órgão delegado, ou
seja, quando existe um órgão que tem uma competência que pode delegar essa
competência noutro órgão, normalmente subalterno, porque não se delega para cima,
mas sim para baixo, o órgão delegante pode sempre avocar/chamar a si o assunto, isto
porque a competência primária é do delegante, é esta que prevalece.
Estas funções compreendem o exercício de muitas atribuições e, por sua vez, as
atribuições decompõe-se em competências. As competências são em concreto aquilo
que as atribuições são em geral, em abstrato.
As atribuições não cabem/competem ao Estado, mas sim aos órgãos do Estado. Isto
porque as pessoas coletivas atuam através de órgãos. Os órgãos não têm personalidade
jurídica, quem tem personalidade jurídica é o Estado. Os órgãos são apenas
instrumentos de que o Estado carece para desempenhar as suas funções, ou melhor, as
suas atribuições. Apesar do Governo ser um órgão do Estado, quem possui
personalidade jurídica é o Estado.
Sempre que a AR chegar a uma conclusão de que o Governo afinal não está a executar
aquilo que era o seu pensamento, chama-o a si, ou seja, faz uma apreciação parlamentar
de um ato legislativo do Governo e com isto pode fazer o previsto no artigo 169º, nº1 da
CRP.
Para que isto aconteça o requisito constitucional é mínimo, isto porque basta que 10
deputados, nos 30 dias subsequentes à publicação, este prazo serve para evitar que tendo
o DL entrado na normal vigência, depois as pessoas viessem a ser surpreendidas com
alterações do regime. Exceto, quando a AR esteja em suspensão de funcionamento,
neste caso só se conta o prazo depois do restabelecimento dessa suspensão.
Requisito quantitativo – 10 deputados
Requisito temporal – 30 dias subsequentes à publicação
Posto isto, o previsto no artigo 169º, nº1 da CRP tem de ser feito já em vida do DL, mas
com ele ainda “bebe”, ou seja, ainda no início da sua vigência.
Assim sendo, sempre que exista um ato legislativo, a AR tem este poder,
independentemente d opinião que o PR tenha sobre o ato legislativo.
Se não se tratar de um DL no exercício de competências concorrenciais, mas de
competências autorizadas (no uso da autorização), desde que existam propostas de
alteração dentro do Parlamento, pode-se suspender a aplicação do DL enquanto se
discutem essas alterações e, depois no final, ou se decide que fica tudo na mesma ou se
decide que fica diferente. artigo 169º, nº2 da CRP
No entanto, a suspensão caduca se durante 10 reuniões plenárias (naquelas em que o
Parlamento está todo reunido) não tiver feito a discussão, ora a suspensão caduca e o
diploma volta a aplicar-se.
O diploma deixa de vigorar desde o dia em que a resolução for publicada no Diário da
República, ou seja, deixa de existir aquele Decreto-Lei. Esta cessação de vigência tem a
forma de resolução da AR, porque é um ato político da AR, não é um ato legislativo.
Caso não faça esta apreciação, a AR tem sempre outra forma de agir, que é dado o facto
de isto ser concorrencial, o Governo faz um decreto-lei e a AR, pode de seguida fazer
uma Lei de sentido contrário, logo, e dado que a lei posterior revoga sempre a lei
anterior, portanto, o decreto-lei deixava de existir.
Porém, o legislador para ser mais “rápido” criou este sistema de apreciação e até para
demonstrar a preponderância legislativa da AR perante o Governo.
Competência Administrativa (artigo 199º da CRP):
O Governo é o órgão máximo da Administração – lidera aquilo que se chama a
Administração Central – a administração que tem no Governo a “cabeça” e
depois está espalhada pelo país em órgãos centralizados.
Em termos administrativos, ou seja, de gestão administrativa o Governo faz:
planos – planeia;
executa o orçamento – é a administração enquanto o órgão atuando que tem
de executar o orçamento, tem que transformar aquilo que é uma perspetiva de
despesa em despesa efetiva, tem de gastar o dinheiro que está no orçamento,
tomas as decisões em que se traduzem a gestão orçamental;
tem de fazer regulamentos – que são normas administrativas, não são normas
legais, ou seja, não são normas de primeira linha, são normas de segunda linha,
que vem concretizar aquilo que são os regimes jurídicos legais, por exemplo, a
lei diz que uma pessoa tem o direito a pedir o subsidio de desemprego, então é
necessário que exista um regulamento que refira a quem entrega o papel, qual o
prazo, o que deve constar do pedido isto são os regulamentos, que são normas
secundárias de segundo nível necessárias à vigência das leis primárias;
d) – a administração pressupõe uma ação e pressupõe uma orgânica, ou seja,
existem os órgãos da administração pública. A direção e a gestão dos órgãos da
administração pública – dos serviços públicos – compete ao Governo e,
portanto, é ele que tem de fazer os regulamentos de funcionamento das
diferentes entidades da administração e, também, tem de garantir a tomada das
decisões, da nomeação das pessoas, logo fazer funcionar a administração. Na
administração existe:
o Administração civil e militar – a parte da administração que está
relacionada com a prática de atos que não tem a ver com a segurança do
estado e a prática de atos, em princípio, que tem a ver com a segurança
do estado.
o Administração direta e indireta
o Autónoma – aqui o que se exerce é a tutela/controlo sobre a
administração autónoma – da legalidade e da sua atuação. Ex:
administração local das autarquias.
e) – tem de avaliar os funcionários, fazer a progressão na carreira, levantar
processos disciplinares, tem de fazer a gestão normal dos quados que têm.
f) – tem de existir mecanismos dentro do próprio Governo de controlo da
legalidade democrática, de que a lei é cumprida e, portanto, verificam-se os
princípios da transparência, princípios da proporcionalidade, princípios da
legalidade, etc.
g) – compete ao Governo satisfazer as necessidades coletivas, ou seja, aquele
tipo de necessidades que nós não conseguimos satisfazer individualmente. São
satisfações, que ainda que tenham a ver com cada um de nós, a forma mais
eficiente e eficaz de as providenciar é através de uma organização coletiva,
porque elas são necessidades do nós enquanto indivíduos na coletividade. Ex: a
segurança, a educação, a saúde, etc.
Administração Direta – depende do próprio estado, que é o estado que a tem e aqui é o
estado que dirige. Ex: serviços dos ministérios – secretarias gerais, as repartições,
divisões, etc.
Administração Indireta – aqui o estado superintende, ou seja, em que o estado não
dirige, mas controla/define as linhas gerais. São os órgãos desconcentrados do Estado
que existem pelo território, que têm alguma autonomia. Ex: tem grau de autonomia, mas
ainda faz parte da organização do estado – os institutos públicos, estes têm autonomia
de gestão, mas têm superintendência, isto é, eles podem fazer o que quiserem, desde que
o que façam cumpra as diretrizes percebida do Governo.
Resumindo:
Dirigir a administração direta
Superintender na administração indireta
Tutelar a administração autónoma.
Tribunais:
Atualmente, os tribunais são órgãos independentes, integrados por juízes, sendo que
estes têm um estatuto de total e completa independência, não são responsáveis civil nem
penalmente pelas decisões/opiniões tomadas no exercício das suas funções.
Os juízes podem ser responsabilizados criminalmente no exercício das suas funções.
São órgão de soberania.
Não são os juízes que são o órgão de soberania, mas sim os tribunais enquanto
instituição que são um órgão de soberania.
Os juízes são titulares do cargo de um órgão de soberania.
Os tribunais, enquanto órgão de soberania, a sua função é administrar a justiça, ou seja,
fazer/concretizar a justiça, isto é, fazer com que a atuação dos demais órgãos de
soberania (atuação da administração, atuação das pessoas) seja conforme à lei.
A primordial função do tribunal é que haja uma atuação/conduta conforme a lei.
Artigo 202º, nº2 da CRP:
Eles devem defender os direitos e interesses legítimos do cidadão, são aqueles a
que a lei da cobertura.
Reprimir a violação da legalidade – ou seja, agir contra todas as ações
desconformes à lei e à democracia (legalidade democrática).
Nota: em Portugal presume-se que a legalidade é democrática porque Portugal é uma
democracia.
Todos os juízes na aplicação do direito/ na aplicação das normas (no julgamento dos
comportamentos das pessoas, em função das normas ou de uma norma
comparativamente a outra) devem verificar da democraticidade da lei, ou seja, a
verificação da constitucionalidade, do cumprimento da Constituição, a verificação do
cumprimento das regras constitucionalmente e legalmente definidas para o normal
funcionamento dos órgãos em Portugal, pode e devem ser sindicada pelos juízes, isto
porque se os juízes devem reprimir a violação da legalidade democrática, quer dizer que
tem que fazer um juízo quanto à democraticidade dessa legalidade.
Logo, se o juiz considerar que uma determinada norma é inconstitucional, ele
deve declarar essa inconstitucionalidade.
A magistratura judicial é independente e é, ainda, inamovível, ou seja, ninguém pode
ser posto ou retirado num sítio, a não ser no âmbito de um processo disciplinar que leve
a um juízo de censura que não fez bem aquilo que lhe competia, e não podem os juízes e
os juízes ser responsabilizados pelos atos que pratiquem na sua normal atividade, a não
em casos de crimes.
Os tribunais e os juízes são independentes, irresponsáveis e inamovíveis – não
podem ser condicionados.
O juízo de constitucionalidade não é só realizado pelo tribunal constitucional, porque
em cada julgamento os tribunais (que não sejam o TC) têm que validar a
constitucionalidade das normas ou dos princípios que aplicam. Logo, sempre que
acharem que existe uma norma que é formalmente inconstitucional ou materialmente
inconstitucional, então esta norma sendo inconstitucional não pode ser aplicada.
O juízo do sentido da norma e da constitucionalidade desse sentido é algo que os
tribunais têm de fazer, porque segundo a Constituição, eles não podem aplicar normas
consideradas inconstitucionais.
As decisões dos tribunais têm sempre fundamentadas – artigo 205º da CRP.
Antes do 25 de abril quem promovia e nomeava os juízes era o Ministro da Justiça,
agora é o Conselho superior da magistratura, que é um órgão independente e integrado
por pessoas que que os são por inerência, por exemplo, o presidente do STJ é membro
do Conselho Superior da Magistratura, os outros são eleitos pela AR.
Assim sendo, atualmente é o Conselho Superior da Magistratura que coloca, promove e
disciplina os juízes.
Para os tribunais administrativos é o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e
Fiscais, que também é um órgão independente.
O Conselho Superior da Magistratura e o Conselho Superior dos Tribunais
Administrativos e Fiscais não são órgãos judiciais, não são tribunais, são órgãos
administrativos, mas que tratam de toda a parte profissional da “carreira” dos juízes.
Os tribunais não são todos do Estado, isto porque a Constituição admite a existência de
tribunais arbitrais, estes tribunais são constituídos pelas partes, sendo as partes que
nomeiam os árbitros, que tem de ser sempre em número ímpar, estes dão sentenças com
o mesmo valor das sentenças dos tribunais.
A jurisdição arbitral está hoje em dia muito vulgarizada, o que é muito bom para os
particulares e muito bom para os advogados, porque é rápida. Normalmente é muito
usada quando está em causa dinheiro, pedidos de indemnização, isto porque se o
assunto vai para os tribunais demora imenso tempo, enquanto no tribunal arbitral é
bastante mais rápido. Então o que os advogados dizem normalmente ao cliente é que
aconselham a recorrer à jurisdição arbitral porque o fulano não vai de certeza receber
tudo o que pretende, mas recebe ao fim de 3 meses, por exemplo, e o advogado também
demonstra interesse porque vê os seus honorários pagos.
Posto isto, a justiça arbitral tem a grande vantagem de ser rápida e a nossa Constituição
admiti-a em termos muito amplos.
Em Portugal existem:
Tribunais Comuns – são os civis e penais;
Jurisdição especializada – que são os tribunais administrativos, os tribunais de
trabalho (aqui o supremo é comum, mas a 1ª instância é diferente, os processos
de trabalham começam no tribunal de trabalho, mas depois acabam no supremo).
≠
Regiões autónomas – dos Açores e da Madeira – fazem normas com força de lei.
As regiões autónomas são regidas pelo princípio de descentralização.
Ora, o modelo político português exprime relações, não apenas entre os órgãos de
estado (AR, Governo e PR) – sendo que aqui se considera um regime
semipresidencialista –, mas exprime também relações entre os órgãos do estado e
órgãos de outras entidades públicas que são de 2 tipos: das Regiões Autónomas dos
Açores e da Madeira e as Autarquias Locais (municípios e freguesias). A caracterização
é, no sentido, de que em Portugal vivemos, atualmente, num regime de
descentralização.
A descentralização faz parte do modelo político português. O modelo português é
semipresidencialista, mas é também descentralizado.
Descentralização: significa que o poder não provém todo do mesmo centro, o poder
está repartido. O poder está descentrado, funciona em rede.
Esses centros são as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira e, por outro lado, as
Autarquias locais, isto para os órgãos de base territorial, ou seja, órgãos que ocupam um
território e tratam dos interesses dos residentes nesse território. Porque, depois, ainda
existem órgãos descentralizados, mas que não têm por base um território, tê por base o
exercício de uma profissão que é o caso das ordens profissionais (ex: ordens dos
advogados; ordens dos engenheiros; ordens dos médicos, etc).
A descentralização em Portugal tem 2 níveis:
nível político – integrado pelas regiões autónomas dos Açores e da Madeira
descentralização política
nível administrativo – integrados pelas autarquias locais (municípios e
freguesias), que existem tanto no Continente como nos Açores e na Madeira
descentralização administrativa
Diferença entre a descentralização política e a descentralização administrativa:
Descentralização Política: é política porque as regiões autónomas legislam,
fazem normas com força de lei chamadas de decretos-legislativos regionais.
Descentralização Administrativa: é administrativa porque os municípios apenas
fazem regulamentos, não fazem leis. As autarquias locais não legislam, as
normas que fazem são regulamentos e estes são normas de segunda
geração/extração, não só normas iniciais, isto porque antes dos regulamentos
existe sempre uma lei, esta lei pode ser mais ou menos densa.
Nota: antes das leis só está a Constituição, exceto quando se trate de leis de valor
reforçado.
O principal regulamento que a autarquia local atualmente faz é o Plano Diretor
Municipal (PDM), em que se define o que se pode construir dentro da autarquia e até
onde se pode construir e o que se pode construir (ex: se são 2 ou 3 andares), é o PDM,
que é aprovado pela assembleia municipal da localidade. O PDM é diferente de
município para município.
Dado que o PDM é um regulamento então ele está sujeito às leis de base em matéria de
urbanismo que definem critérios iguais para todos os municípios.
As leis base definem o que é a reserva agrícola, a reserva ecológica, e o PDM não pode
autorizar construções dentro da reserva agrícola e dentro da reserva ecológica.
Existem ainda outros tipos de descentralização, que nem são políticas nem
administrativas, mas que é mais profissional de que são exemplos as ordens
profissionais, neste caso, são tituladas por corporações, que são as ordens profissionais,
não dispõe sobre um território, mas sim uma profissão (ex: médico, advogado,
engenheiro, etc). descentralização corporativa
Quer os municípios e as freguesias, quer as ordens profissionais são entidades
administrativas e são-no ainda as entidades privadas de interesse público (ex: ISMAT).
só é preciso saber em direito administrativo
As Assembleias Legislativas Regionais podem fazer leis que se chamam decretos
legislativos regionais.
Num Estado centralizado o poder vem todo do mesmo centro.
Num Estado descentralizado o poder vem de centros diferentes.
A descentralização nunca foi uma tradição portuguesa, a autonomia das regiões e das
autarquias não está na tradição portuguesa. Pelo contrário, a tradição portuguesa é uma
tradição fortemente centralizadora, Portugal sempre foi mais centralizado. E por isto é
que em Portugal nunca existiu feudalismo e Portugal foi a primeira monarquia absoluta
da Europa, desde o séc. XIV.
Curiosidade: Portugal foi o primeiro país europeu a ter monarquia absoluta, pelo menos
desde a 2ª dinastia, desde o séc. XIV, a ter existido algum municipalismo terá sido
durante os primórdios da nossa nacionalidade, séculos XII e XIII, mas a partir do séc.
XIV é indiscutível qualquer tendência para a descentralização, esta foi posta de parte, e
a prova disso é que todos os funcionários locais nos municípios, quer o militares quer os
capitães mores, entre outros, todos estes eram cargos nomeados, quem os nomeava era o
rei, os únicos que eram eleitos eram os vereadores. Isto prova que a descentralização em
Portugal nunca existiu. Com a 1ª República, em 1911, o partido republicano prometeu
implementar a descentralização, mas nunca o fez. O Salazar combateu qualquer
descentralização, basta dizer que os presidentes das câmaras eram nomeados.
A descentralização é uma conquista do 25 de abril. A descentralização faz modelo
político português ao mais alto nível.
Descentralização tem de estar 4 elementos cumulativos, basta que não esteja presente
um deles para que não se possa falar em descentralização:
1º personalidade jurídica autónoma das entidades descentralizadas – ex: se eu
quiser celebrar um contrato com a Autarquia de Portimão, dirijo-me à Autarquia
de Portimão, não ao Ministério da Administração Interna, isto porque a
Autarquia de Portimão possui personalidade jurídica autónoma
2º competências próprias – ex: os municípios têm competências próprias
diferentes das competências governamentais. Assim como as Regiões
Autónomas também têm competências próprias diferentes das governamentais.
Ex: quem é competente para mandar colocar um sinal de estacionamento
proibido à porta da minha casa em Portimão? É o Ministério da Administração
Interna? Não! É a Autarquia de Portimão e mais ninguém. A câmara de
Portimão tem competências próprias que não se confundem com as das outras
câmaras nem com o Governo.
Ex: quem é competente para elaborar o plano diretor municipal de Portimão?
É a Assembleia Municipal de Portimão, sob proposta da Câmara.
3º elegibilidade dos seus órgãos – os órgãos das autarquias e das regiões
autónomas são eleitos (democraticamente eleitos) pelos habitantes das
Autarquias Locais ou pelos munícipes. Portanto, existe autogoverno, mediante
órgãos que gozam de legitimidade democrática direta.
Ex: quem elege a Assembleia Legislativa dos Açores são os açorianos.
Quem elege a Assembleia Municipal de Portimão são os residentes em
Portimão.
Portanto, órgãos próprios eleitos – democracia direta, o que significa que a
maioria que existe em Portimão ou em Serpa na Assembleia Municipal pode ser
completamente diferente da maioria da Assembleia da República. Em Serpa a
maioria é do partido comunista, mas em Viseu é o PSD. Logo, são maiorias
completamente diferentes.
4º receitas próprias – as entidades descentralizadas têm receitas próprias, que
não se confundem com as receitas dos Estados. Por exemplo, a Região
Autónoma da Madeira pode cobrar taxas, a Autarquia de Portimão também pode
cobrar taxas – as quais são receitas próprias. Portanto, as regiões autónomas e as
autarquias locais caracterizam-se pelo autogoverno de órgãos eleitos e pela auto
direção, podem fazer normas, sendo que as normas das regiões autónomas são
legislativas, mas as normas das autarquias locais são apenas administrativas, não
têm força de lei.
Estas 4 características querem dizer autogoverno, auto direção, auto normus
(norma) – dá-se a si própria a sua própria norma.
As regiões autónomas dos Açores e da Madeira são exemplos de descentralização,
porque tem personalidade jurídica, os seus órgãos são eleitos (a Assembleia Legislativa
dos Açores é eleita pelos açorianos e o Governo Regional é nomeado tendo em conta os
resultados eleitorais), tem competências próprias podendo fazer decretos legislativos
regionais, que são leis, e que só são válidas nos açores ou só na madeira, em mais lado
nenhum, isto é, uma lei feita pela Assembleia Legislativa dos Açores não é válida na
Madeira nem no Algarve, só é válida nos Açores, mas é uma lei. E, ainda, tem receitas
próprias, sobretudo oriundas de taxas.
A descentralização é diferente da desconcentração!! Desconcentração é o estado à
periferia, são órgãos do Estado só que existem em todas as capitais de distrito, por
exemplo, em Faro existe uma direção regional da saúde, uma direção regional da
cultura, etc., mas são órgãos do Estado, não são órgãos autárquicos.
A desconcentração também é um princípio constitucional e é muito conveniente as
pessoas que moram fora da Capital, porque se não fosse a direção regional de saúde ou
de cultura ou a repartição de Finanças de Faro, os indivíduos para pagarem um imposto
teriam de ir a Lisboa. As repartições de Finanças são órgãos do Estado e que existem
localmente. É chamada a administração periférica.
Órgãos das regiões autónomas:
Assembleia legislativa regional – que é a lei;
Governo regional – que é nomeado tendo em conta os resultados eleitorais;
Chefe/Presidente do governo regional – a que se chama presidente, mas que não
é presidente nenhum, é um Primeiro-Ministro;
Representante da república – que antes se chamava ministro da república – este
é o representante do Presidente da República nas regiões, exerce nas regiões as
competências que o PR exerceria, por exemplo, vetar as leis regionais e assiná-
las (aqui não se diz promulgá-las), aqui não se diz ratificar, mas sim assinar, ele
pode suscitar a questão da sua constitucionalidade ao Tribunal Constitucional.
Este é nomeado pelo PR, o PR nomeia quem quiser, não é por proposta do
Governo, mas sim por iniciativa própria. É um órgão vicário, ou seja, é um
órgão que representa o PR. Em termos protocolares ele é mais importante que o
presidente do governo regional porque representa o PR. Este não é um órgão
próprio das regiões autónomas. As suas competências são puramente políticas,
não são legislativas.
São órgãos próprios a Assembleia Legislativa Regional, o Governo Regional e o
Presidente do Governo Regional.
O Representante da República não é um órgão próprio das regiões, é um órgão da
República, de representação do PR. Este tem competências para vetar as leis regionais e
tem competências para nomear o Presidente do Governo Regional, pode ainda suscitar a
questão da inconstitucionalidade das normas.
Não existem tribunais regionais. Os tribunais são todos tribunais da república tanto nos
Açores como na Madeira.
Os cidadãos das regiões autónomas votam mais que os cidadãos do continente, porque
para além de votarem para a Assembleia, ainda votam para os órgãos regionais e para as
autarquias locais.
O Governo é nomeado pelo Representante da república tendo em conta os resultados
eleitorais.
Curiosidade: na Madeira o partido maioritário é o PSD, nos Açores varia, costuma ser o
PS, mas agora é uma coligação entre vários partidos entre o PSD, CHEGA, retirando a
maioria ao PS.
O Governo Regional dos Açores é uma coligação de partidos que vão do centro de
direita à direita propriamente dita.
A Assembleia Legislativa Regional está organizada em grupos parlamentares tal como
no Continente, não existem mandato vinculativo, os deputados representam toda a
região e não apenas os sítios onde foram eleitos, é exatamente como na AR.
Mas existe uma diferença que é o facto de que o Governo regional não legisla. A única
entidade nas regiões autónomas que legisla é a assembleia legislativa regional e legisla
através dos decretos legislativos regionais, não são decretos de lei nem leis. O Governo
regional só faz regulamentos, assim podemos observar que existe uma acentuação
parlamentarista, porque o Governo Regional não faz normas com forma de lei.
O representante da república não é eleito, mas sim nomeado pelo Presidente da
República, o que se traduz numa acentuação presidencialista. Porém, a A.L.R é eleita.
A ALR é responsável perante o PR, este pode dissolvê-la, é um ato do Presidente da
República e não do representante da república. O Governo Regional é responsável
perante a ALR, porque esta pode aprovar uma moção de censura, e aqui o Governo
Regional cai, ou pode não aprovar uma moção de confiança, aqui também o Governo
Regional cai. Portanto, do mesmo modo o Governo Regional tem de apresentar um
programa de Governo à Assembleia Legislativa Regional e caso este não aprove o
programa o Governo cai. Exatamente como acontece na Assembleia da República, a
única diferença está no facto de o presidente do governo regional não é responsável
perante o PR, porque a constituição não prevê isso.
A CRP não prevê em lado nenhum que o PR possa demitir o presidente do Governo
Regional.
IMPORTANTE: não esquecer que o Governo regional não pode fazer normas com
força de lei!!
O Presidente do Governo Regional não responde perante o PR, logo é uma acentuação
presidencialista, embora presidencialismo do presidente do governo regional.
Portugal é um estado unitário envolvendo as regiões autónomas dos açores e da
madeira.
O que são as competências próprias das Assembleias Legislativas Regionais: A CRP
não refere quais são. Estas são diferentes das do Continente e diferentes entre si
consoante são da Madeira ou dos Açores. As competências especificas de cada região
estão enunciadas nos estatutos político-administrativos de cada região, um para a
Madeira e outro para os Açores. Estes estatutos são uma lei e quem as aprova é a
Assembleia da República, porém a proposta é da Assembleia Legislativa Regional.
Os estatutos funcionam quase como uma espécie de uma pequena constituição, pelo
menos no aspeto de serem uma demarcação de quais são as competências práticas de
cada região. Muitas destas competências estão relacionadas com interesses específicos,
por exemplo, o turismo, a caça, a pesca, etc., ou seja, existem assuntos que não dizem
respeito a mais ninguém a não ser à região autónoma a que respeita.
Posto isto, os estatutos são leis da AR, mas a proposta destas leis tem de derivar das
assembleias regionais. A AR pode altera por não concordar, não pode é fazer uma
proposta.
Os estatutos precisam de maioria absoluta – sim maioria qualificada, art.168º, nº6, f)
CRP.
Competências das Regiões Autónomas – art.227º da CRP – versam sobre as
competências políticas, legislativas e administrativas.
Não são estados federados as regiões autónomas.
Existem 2 tipos de federalismo:
Federalismo mais federal – é o contrário, as competências da federação é que
são pequenas, os Estados têm as competências quase todas caso norte
americano, é por isso que nos EU era o país dos criminosos, porque estes
cometiam um crime num sítio fugiam e passavam a fonteira para outro sítio que
já não possuía jurisdição na fronteira deste estado. Depois Edgar (qualquer
coisa) acabou com isto, pois conseguiu que o Parlamento define-se crimes
federais, como por exemplo, um assalto a um banco
Federalismo de execução – menos federal – aqui existem regras comuns e os
Estados só executam as regras comuns diferenciadamente. é o caso alemão
Depois da 6ª revisão constitucional que foi a penúltima, a matéria das regiões
autónomas foi muito simplificada, sendo que antes era das matérias mais difíceis.
Quem nomeia o Presidente do Governo Regional é o Representante da República,
nomeia-o tendo em conta os resultados eleitorais.
Questão: Houve eleições nos Açores, o partido socialista ganhou as eleições, mas não
teve maioria absoluta, e o PS e o PC (este nem teve um único voto). O PS e o BE (que
elegeu 1 deputado) não tinham maioria absoluta. Ao passo que o PSD, CDS e o Chega
tinham maioria absoluta, embora o PS tenha tido mais votos do que o PSD. Portanto, o
que fez o Representante da República fez?
Não nomeou para Presidente do Governo Regional o chefe do PS nos Açores, nomeou
sim o chef do PSD posto que o PDS, o CDS e o CHEGA fizeram um acordo
parlamentar para suportar/dar apoio a um Governo. Portanto, fez a chamada
“geringonça” só que desta vez à direita.
Quando isto aconteceu na televisão apareceu um dignatário açoriano do PS a dizer que o
Representante da República não podia fazer isto, não podia nomear aquele Governo.
Quid Iuris
Ele podia sim nomear o Governo, da mesma maneira que quando foi o PS na
AR foi nomeado. Quer dizer, o Representante da República vendo que não há
maioria com o partido que ganhou as eleições, em vez de convocar novas
eleições, ele pede à maioria que viabilize um Governo. Esta atitude do
Representante da República está dentro das suas competências, logo não existe
nenhum problema de inconstitucionalidade.
Caracterização do sistema de Governo das Regiões:
Ele não é um sistema semipresidencialista porque não se verifica o requisito sine
qua non do semipresidencialismo que é a dupla responsabilidade do Governo
perante a Assembleia e perante o PR.
O Governo regional é responsável perante a Assembleia Legislativa Regional
sem dúvidas, pode, por exemplo, aprovar uma moção de censura, mas não é
responsável perante o PR, ou seja, o Presidente da República não pode demitir o
Presidente do Governo Regional porque nas competências do PR isto não está
previsto.
O PR pode dissolver a Assembleia Legislativa Regional, mas não pode demitir o
Presidente do Governo Regional. Logo, se não o pode demitir, isto significa que
o Presidente do Governo Regional não é responsável perante ele. logo, não
existe semipresidencialismo
Existe um regime diferente, não existe uma qualificação “à mão de semear” para
ele, mas semipresidencialista podemos afirmar que não é! É um regime
diferente.
Então como se vai caracterizar o sistema do Governo das regiões autónomas?
Não existe dúvida de que, como o presidente do governo regional, em bom
rigor, é responsável perante a A.L.R., mas não é responsável perante mais
ninguém. Logo, parece que existe uma certa acentuação presidencialista, porque
o presidente do Governo Regional não responde perante o PR. É um sistema que
não se compreende bem o que é.
Sistema de governo que vigora nas regiões autónomas existe uma certa
acentuação presidencialista pelo presidente regional. Parlamentarista e
semipresidencialista não é, presidencialista também não é, porque o presidente
do Governo Regional é responsável perante a A.L.R., logo não é nada concreto.
Define-se pela negativa e não pela positiva, isto porque se define mais pelo que
não é do que pelo que é.
O sistema de governo das regiões autónomas não é semipresidencialista, porque
não se verifica a condição sine qua non, ou seja, o governo teria que ser
duplamente responsável. Porém, a Constituição não diz, em lado nenhum,
designadamente nas competências do Presidente da República (…). O Presidente
da República pode dissolver as Assembleias Legislativas Regionais – artigo
133º, j) da CRP. No entanto, não pode demitir o Presidente do Governo
Regional porque em lado nenhum da CRP, ora se não diz é porque não pode.
Logo, se não o pode fazer, então o sistema das regiões não é
semipresidencialista.
Competências dos vários órgãos próprios da região artigo 227º da CRP.
A distribuição de competências deste artigo é deficiente, isto porque não estão
distribuídas pelos 2 órgãos – a Assembleia e o Governo.
nº1, a) – aqui temos uma competência muito vasta, ou seja, em matérias que não
sejam reservadas, a Assembleia Regional pode legislar sem ter de pedir
autorização.
Por exemplo, a Assembleia Legislativa Regional pode legislar sobre a
caça/pesca/relações comerciais com a Espanha por exemplo? Pode, porque não é
matéria reservada à AR (não consta no artigo 165º da CRP).
nº1, b) – as regiões autónomas podem legislar sobre as matérias do art.165º,
desde que autorizadas, com algumas exceções. A lei de autorização aqui é em
tudo igual à conferida ao Governo, que consta no artigo 165º da CRP.
nº1, d) – as Assembleias Legislativas Regionais também fazem regulamentos.
São regulamentos de 2 tipos:
regulamentam as leis da República, a não ser que estas digam que quem as
regulamenta é o Governo da República; e
regulamentam as leis regionais
Imaginemos que o decreto de emergência do PR não refere que a sua
regulamentação cabe exclusivamente ao Governo da República, o que
significava isto? Que nos Açores e na Madeira podiam também tomar medidas.
Agora imaginemos que ao desenvolver o decreto de emergência os Açores
diziam assim “cá nos Açores não há confinamento” ou “só há confinamento
24h” e na Madeira “também há confinamento, só que só dura 12h”, isto seria um
perigo total.
nº1, e) – Quem tem iniciativa de propor os estatutos das regiões autónomas é a
Assembleia Legislativa da Região Autónoma, não a AR. Os estatutos das
regiões autónomas são aprovados pela AR, mas a iniciativa cabe às regiões, ou
seja, a Assembleia Regional. Dentro das regiões quem propõe os estatutos é a
Assembleia Legislativa Regional.
A lei da AR que aprova os estatutos quer uma maioria qualificada.
nº1, g) – cabe ao Governo, é ele que regulamenta as leis regionais, paga aos
funcionários regionais, celebra contratos de concessão e de prestação de
serviços, etc.
nº1, i) – eles não podem criar impostos, mas podem criar taxas, isto porque os
tributos dividem-se em impostos e taxas. E podem adaptar os impostos às
especificidades do território.
Suponhamos que nos Açores, por exemplo, dizem assim “em contrapartida do
serviço da proteção civil criamos uma taxa” podem fazer? Podem.
nº1, j) – esta alínea diz que o governo português atribui uma parcela das verbas
orçamentais às regiões (esta é a maior fonte de receitas deles) e ainda dispõe de
uma parcela dos impostos cobrados lá.
Exemplo: um individuo açoriano paga o seu imposto nos Açores, na sua
repartição de Finanças, parte do que o individuo paga não sai de lá, é afeta para
despesas locais, que é para impedir que o Governo da República fique com tudo.
nº1, m) – a tutela é o controlo menos intrusivo que existe. Em Portugal quem
exerce a tutela sobre a autarquia de Portimão é o governo, se o governo manda lá
um inspetor e entende que a autarquia de Portimão está a licenciar construções
em terrenos de reserva agrícola está a cometer uma ilegalidade, então o governo
participa ao Ministério Público, e este põe uma ação em tribunal e o resultado
dessa ação pode ser a perda de mandato.
nº1, u) – esta alínea prevê, pela primeira vez em Portugal, a possibilidade de um
direito inter-regional. Já existia o direito internacional e agora passou a existir o
direito inter-regional.
Exemplo, a região autónoma da Madeira pode celebrar um acordo com a
região autónoma das Canárias para promover, por exemplo, o turismo.
O presidente da Câmara de Portimão pode celebrar um acordo com o governo
das Canárias para promover o turismo? Não!
Mas o presidente do governo regional pode.
Suponhamos agora que estamos a falar sobre a matéria da pesca ao cachalote, que é uma
matéria de competência própria dos Açores e, além do mais, segundo o artigo 232º da
CRP é exclusiva da ALR. Mas por qualquer razão, os açorianos andam distraídos e a
Assembleia Açoriana não legislou sobre a pesca ao cachalote, não fez nenhum decreto
legislativo regional sobre esta matéria. No entanto, existe já há muito tempo uma lei da
AR sobre esta matéria (todos sabemos que não podia, mas fez na mesma). Então o que
acontece? A matéria fica sem disciplina, ninguém sabe se pode ou não pescar o
cachalote?
Enquanto a ALR não legisla, a lei que se aplica é a geral (lei nacional/da
república), de acordo com o artigo 228º, nº2 da CRP.
A disposição prevista neste número deste artigo é uma norma transitória, porque
assim que existir legislação da ALR é essa que depois passa a vigorar nas
regiões autónomas, ou seja, só está em vigor a norma nacional até que a região
autónoma decida fazer uma norma regional.
Suponhamos que o Representante da República vetou um decreto legislativo regional,
vetou por razões políticas. Pode fazê-lo?
Pode. E este decreto legislativo regional volta à ALR e esta confirma o decreto,
ele tem de o assinar depois? Tem!
Suponhamos agora que o Representante da República suscita ao TC a inconstitucional
do decreto legislativo regional. O TC entendeu que o decreto era inconstitucional, logo
ele volta a ALR. A ALR, por maioria qualificada, mantem o decreto. O representante da
República tem que assinar?
Sim, segundo o artigo 233º, nº3 da CRP. (é igual ao que acontece relativamente
ao PR sobre as leis nacionais, a base legal do que acontece nas leis nacionais
está no art.136º, nº2 da CRP).
Suponhamos que o Governo faz um decreto-lei e deste DL consta uma norma final que
diz assim “a regulamentação deste DL tem de ser feita pelo próprio Governo”, isto é
possível?
Pode.
Suponhamos que o Governo não dizia nada. Se o DL nada diz sobre quem faz a
sua regulamentação, ela pode ser feita pela ALR? A regulamentação deste DL
para os Açores podia ser feita pela ALR?
Pode. Mas quem regulamenta é a ALR, não é o Governo Regional, porque a
lei não é regional, mas sim da república.
Quando o Governo ou a ALR querem que determinada norma seja executada da mesma
maneira para todo o território nacional, para que não exista diferenças entre o
Continente e os Açores e a Madeira, o que dirá essa norma?
Dirá numa norma final que a execução deste DL será feita exclusivamente pelo
Governo da República, de modo que ela seja de aplicação uniforme a todo o
território nacional. Porque se não o disserem ela pode executada de forma
diferente para os Açores e para a Madeira. o que leva a que existam
diferenças.