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Enquadramento – conceitos
Órgãos de soberania – artigo 110º da CRP:
Órgãos que expressam a vontade do povo que exercem as principais faculdades / capacidades da
soberania, ou seja, as funções do Estado, a título principal (princípio de especialização dos órgãos numa
função determinada) Distinguem-se dos titulares – que mudam com o tempo, enquanto os órgãos em
si permanecem – e são totalmente independentes, sendo limitados por si mesmos e pela Constituição.
Funções estaduais:
São os meios para a concretização dos fins estaduais. Estes concretizam-se através de um complexo
processo ordenado de atos, que abrange, nomeadamente, tanto o conjunto de atos legislativos como o
caminho percorrido até à sua promulgação.
Apesar de serem independentes na maneira como agem, a realização de uma influencia a realização da
outra, estando assim relacionadas umas com as outras. Têm um caráter duradouro e permanente, visto
que permanecem nos Estados para sempre – nenhum Estado pode abdicar de adotar regras.
Não são necessariamente exclusivas de apenas um órgão soberano: têm um órgão titular e outros que
conseguem também exercer a mesma função, mas num plano secundário e com a intenção de
fiscalização e limitação de poder. Estas funções são também concretizáveis por entidades infra (ex:
Regiões Autónomas) ou supra (ex: União Europeia) estaduais.
Função legislativa:
Atividade de criação (proposta ou projeto de lei), modificação e aprovação ou revogação de
normas jurídicas / diplomas legislativos – critério formal.
Atos próprios: Leis, decretos-leis e decretos-legislativos regionais; Regimentos.
Ambas são funções primárias ou independentes – não estão vinculadas a outras funções, ou seja,
que não precisam da atuação de outras funções para conseguirem agir. Estão apenas vinculada à
Constituição, que é a lei fundamental do Estado.
Além disso, são caracterizadas por serem discricionárias (existe uma liberdade de opção mas com
limites) e por serem uma questão de oportunidade, não sendo obrigatório realizá-las num tempo
específico.
Função Administrativa:
Atividade de prestação de bens e serviços, realizados a título principal pelo Governo, com base nas
decisões políticas (legislativo) e na aplicação da Lei (executivo) – função secundária ou derivada.
Atos próprios: Regulamentos (concretizações da lei adotados pelo Governo como normas gerais e
abstratas); Atos administrativos e contratos administrativos: relativos a partes privadas, etc.
Fins estaduais – artigos 1º, 2º, 9º, 58º e seguintes, 81º da CRP:
Grandes objetivos da comunidade / necessidades coletivas e a razão de ser do poder político, visto que
este é o meio para alcançar estes fins. Os órgãos de soberania detêm poderes, competências e funções
que estão vinculadas a estes fins – são responsáveis pela sua satisfação.
Competências:
Poderes de atuação (poderes mais pequenos e específicos) atribuídos aos órgãos de soberania para
desempenho de funções estaduais e continuação / prossecução das tarefas fundamentais. Parcelas
(formas do exercício da função) dos meios disponíveis para realizar certos fins – concretização prática
para aplicar os meios e realizar os fins.
A sua separação consiste na repartição do exercício das funções das funções estaduais contidas na
soberania por diferentes órgãos de soberania – especialização funcional.
Apesar de serem divididos em órgãos de titularidade efetiva (especializados), estes são
independentes na forma integral (ou seja, na maneira como agem), mas interdependentes na
medida em que se fiscalizam uns aos outros – limitação do poder (artigo 111º da CRP).
Esta separação de poderes só é garantida através da incompatibilidade pessoal entre órgãos – uma só
pessoa não pode exercer cargos de dois poderes estaduais ao mesmo tempo (ex: um juiz não pode, ao
mesmo tempo, ser deputado).
Poder legislativo
O órgão de soberania deste poder é o Parlamento. No caso de Portugal, é a Assembleia da República
unicameral – tem apenas uma câmara, ao contrário, por exemplo, de Inglaterra ou USA – e
representativa – é um órgão colegial e eletivo, em que os deputados têm um mandato representativo
em que apenas se comprometem a representar a ideia ou ideologia política do seu partido, e não a
votar da forma que a população votaria se fosse pedida a fazê-lo.
Funções:
Função legislativa
Função principal da Assembleia, que tem o estatuto de primazia mas não tem o seu monopólio ou
exclusividade: é partilhada com o Governo e as Regiões Autónomas.
Tem uma competência genérica em matéria legislativa – relativa e exclusiva – e tem a possibilidade de
ultrapassar o veto presidencial / suspensivo, ao contrário do Governo, cujo veto sobre os decretos-leis
é absoluto.
Iniciativa Legislativa: o Governo pode iniciar o processo legislativo através de uma proposta de lei,
mas é a Assembleia que tem a decisão final em matéria legislativa.
Isto tudo faz com que exista uma perda de publicidade (não serem públicas, como na Assembleia) e
transparência, assim como uma perda da legitimidade democrática.
A Assembleia reserva para si o poder de apreciação, ratificação ou alteração (ou não) do decretos-leis –
leis cujo processo é iniciado e aprovado pelo Governo –, salvo aqueles aprovados no exercício da
competência exclusiva do Governo.
Redefinição da forma de lei – “leis medida”, normas devidamente justificadas com base na Constituição
e na razão de ser que se referem a grupos ou cenários concretos.
Transformação da atividade parlamentar:
Especialização técnica da atividade legislativa – Obriga à formação de comissões especializadas,
devido à necessidade de procura de informação técnica de cada matéria, onde são preparadas
discussões futuras das propostas e projetos de leis. A Assembleia fica assim dependente desta
informação prestada pelo Governo e ainda da informação que entidades especializadas nesse
ramo têm.
Com o Estado Social de Direito e a maior intervenção Estadual – Obriga a uma maior partilha do
centro da decisão política e da atividade legislativa com o Governo, visto que o Estado intervêm
mais na vida social com um papel regulamentador. Conciliação entre o papel legislativo da
Assembleia com o de controlo do Governo e autorização legislativa.
Função política
Direção política (prática) partilhada com o Governo, Presidente da República, entidades internas e
supraestaduais.
Funções materiais
Função de expressão-representação: A Assembleia representa e expressa as diferentes perspetivas da
população em matéria política através dos partidos políticos.
Função pedagógica: A Assembleia levanta o debate das grandes linhas políticas, questões e problemas
que afetam a população, algo que leva ao debate destas pela população.
Poder executivo
Papel tradicional
Executar e aplicar a lei ou opções políticas gerais.
É o garante e o titular único da função administrativa.
Órgãos de soberania
Os órgãos de soberania são o Chefe de Estado (Presidente da República ou Monarca) ou Governo,
entre nós.
O Governo é um órgão colegial e complexo, visto que funcionam outros órgãos na sua estrutura, o
Conselho de Ministros.
Tem poder governamental – assume poder que anteriormente era Real e, aos poucos, relevantes
poderes legislativos.
É ainda um órgão autónomo: tem a capacidade de definir a sua organização interna e o modo como
dirige a política.
Nos sistemas de base parlamentar, a nomeação tem por base a composição parlamentar, na medida
em que os ministros eleitos têm que ser sido eleitos como deputados para a Assembleia, sendo o
candidato a Primeiro-ministro a figura central das eleições parlamentares.
No caso português, o Governo tem uma legitimidade indireta visto que é nomeado pelo Presidente da
República (ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os
resultados eleitorais – poder próprio e condicionado).
Início da dupla responsabilização política: o Governo sai da Assembleia da República e é nomeado
pelo Presidente da República.
Funções:
Função administrativa
O Governo tem como objetivo executar e aplicar a lei. É o “órgão superior da Administração pública”.
Direção da ação política – estabelece como proceder na utilização dos meios disponíveis para a
concretização dos fins coletivos / das diretrizes fundamentais.
Função política
Governo como órgão de condução da política geral do país, ou seja, dos compromissos constitucionais
e dos assumidos entre diferentes órgãos. Estes partilham com ele competências de direção política.
O Governo é o único responsável pela direção da política – é o órgão mais importante de decisão e
definição da política, juntamente com o Conselho de Ministros (princípio de colegialidade - ??).
Competências de participação no âmbito de decisão política – artigo 197º da CRP: próprias (ex:
“negociar a ajustar convenções internacionais”) e de controlo (ex: “propor ao Presidente da República
a sujeição a referendo de questões de relevante interesse nacional”).
Função legislativa
O poder executivo Governo encontra-se cada vez mais em concorrência com o poder legislativo:
Tem o poder de auto-regulação, na medida em que regulam a sua organização interna – artigo
183º/3;
Tem a competência de fazer decretos-leis em matérias não reservadas à Assembleia da República –
concorrência;
Tem a competência de fazer decretos-leis de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais
dos regimes jurídicos contidos em leis que a eles se circunscrevam – complementar ou de
desenvolvimento;
Isto tudo contribui para uma crescente proveniência governamental, traduzida no maior número de
decretos-leis.
Relações de confiança política no Governo - são solidariamente responsáveis perante as decisões dos
seus inferiores, os quais elegeram:
O Primeiro-Ministro é responsável perante o Presidente da República (e perante a Assembleia da
República no âmbito da responsabilidade política do Governo), tendo competências próprias;
Os Vice-Primeiros-Ministros e os Ministros são responsáveis perante o Primeiro-Ministro, tendo
competências próprias;
Os Secretários e Subsecretários de Estado são responsáveis perante o respetivo Ministro e o
Primeiro-Ministro, tendo competências delegadas.
O Presidente da República tem o poder de demitir o Governo, que é um poder próprio mas
condicionado, visto que tem de ouvir o Conselho de Estado (órgão meramente consultivo) e só deve
fazê-lo se for necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ou seja,
quando o exercício do Governo não seja benéfico para a população – poder regulador.
Poder de decisão política: O Presidente da República escolhe se demite ou não o Governo, não é
obrigado a fazê-lo – liberdade de opção
O Presidente da República tem ainda o poder de aceitar o pedido de demissão voluntário do Governo.
Existe uma responsabilidade política direta do Governo perante a AR porque existe uma confiança de
uma maioria parlamentar neste.
Esta também pode submeter o Governo a uma moção de censura – se esta reunir maioria
parlamentar, o Governo cai.
O Governo pode também propor uma moção de confiança à AR – se esta entender que já não
confia no Governo, este cai.
Caso o Governo caia, no caso de Portugal, não é necessário propor um novo governo para o
substituir – moção de censura simples (oposto de moção de censura construtiva).
No entanto, em caso de apoio parlamentar maioritário, existe uma “hegemonia” de facto do Primeiro-
Ministro – este fica como Chefe do Governo e líder do legislativo. Para impedir que isto evolua para
uma situação de concentração dos poderes, é necessário:
Dotar os partidos da oposição um poder forte, com períodos de intervenção constante ou
comissões de inquéritos.
O exercício da fiscalização pelos tribunais, nomeadamente pelo Tribunal Constitucional.
Recorrer a eleições periódicas e livres, fazendo da sociedade civil um meio de fiscalização e
controlo.
Poder judicial
É o poder menos perigoso de concentrar o poder e deve ser o mais independente.
O órgão de soberania não governativo são os tribunais. O exercício da função jurisdicional é-lhes
exclusiva. Os tribunais aplicam a lei em caso concreto e administram a justiça em nome do povo, pelo
que o poder judicial é um poder político, da comunidade política. Os tribunais funcionam de forma
descentralizada, ou seja, estão espalhados pelo país, e especializada, para uma melhor garantia da
justiça.
Competências:
Defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos;
Justa resolução dos conflitos entre partes;
Repressão da violação da legalidade, através de sanções (penais);
Fiscalização da constitucionalidade.
Características
Independência:
Os tribunais e magistrados só se submetem à Lei (Ordem jurídica) – princípio da legalidade (da
juridicidade). A Constituição tem um nível de supremacia: os tribunais não podem aplicar normas
que infrinjam o disposto da Constituição ou os princípios nela consignados.
Incompatibilidades pessoais – um juiz não pode também exercer funções (ex: deputado) que
possam interferir na independência interna e externa do poder judicial.
Inamovibilidade e Responsabilidade:
Os juízes são inamovíveis, não podendo ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos
senão nos casos previstos na lei. Esta tarefa é atribuída ao Conselho Superior da Magistratura.
Os juízes só respondem pelos seus crimes, não podem ser responsabilizados pelas suas decisões,
salvas as exceções consignadas na lei.
Imparcialidade:
Os juízes devem ser imparciais nos casos que julgam – não podem julgar por causa própria nem
estar impedidos, por exemplo, por relações ou interesses pessoais com as partes ou com suas
causas (“incidente da suspeição”).
Passividade:
Os tribunais não podem julgar e decidir sem ser procurados, mesmo tendo conhecimento do
processo.
Existe uma necessidade de pedido – a sua atuação só se verifica mediante ações, queixas e
acusações, nos termos legais.
Competências especializadas:
Tribunal de Contas
Tribunais Militares
Tribunais marítimos, arbitrais e julgados de paz
Tribunal Constitucional (título próprio)
Estruturas auxiliares:
Conselho Superior de Magistratura
Conselho Superior dos TAF
Ministério Público (magistratura autónoma) e Procuradoria-Geral da República – relação
hierárquica
Conselho Superior do Ministério Público
Poder moderador
O poder moderador tem funções de equilíbrio e regulação do sistema político:
Garante o regular funcionamento das instituições (ex: demissão do Governo);
Árbitro e regular do sistema, como poder neutro, independente e imparcial (ex: neutro face aos
partidos políticos, mesmo que tenha o seu apoio);
Evitar e resolver situações de crise, procurando resolver conflitos que surjam entre os restantes
poderes soberanos para não ter de tomar medidas mais drásticas no futuro – para isto, é-lhe
atribuído poderes fortes.
É exercido pelo Chefe de Estado (órgão singular) ou pelo Conselho de Estado (órgão colegial). O Chefe
de Estado usualmente é o Monarca, para além dos seus poderes simbólicos/protocolares, ou o
Presidente da República, que não é o Chefe do Governo, mas que tem competência constitucional
reforçada.
Este é o mais alto magistrado da Nação, o mais alto representante nas relações internacionais e na
defesa das fronteiras – Funções de representação interna e externa.
O PR é eleito diretamente por sufrágio universal e com maioria absoluta (mais de 50%). Tem uma
legitimidade democrática direta forte, o que justifica o amplo conjunto de poderes próprios e efetivos,
embora circunscritos, que lhe são atribuídos. Estes fazem dele a figura de maior dignidade da Nação e
o seu último representante, cabendo-lhe as mais importantes decisões.
O PR tem uma função política, de decisão e direção política, que partilha com o Primeiro-Ministro. Tem
poderes próprios e efetivos de controlo, limitação e moderação, que fazem dele o “árbitro” do sistema
político. Tem competência:
Quanto a outros órgãos – objetivo: garantir o regular funcionamento das instituições
democráticas;
Em matéria de relações internacionais e defesa;
De controlo – objetivo: garantir a Constituição;
Através da referenda ministerial para certos atos – ou seja, a existência de matérias que não precisam
de ter referenda ministerial (do Governo) mas apenas do PR para serem promulgados –, verifica-se a
sua função certificatória e de responsabilização política, ao partilhar a responsabilidade pelo ato com o
Conselho de Ministros.
Este pode ser destituído em caso de impeachment: O processo é iniciado pela AR e o julgamento feito
pelo Supremo Tribunal de Justiça. A sua condenação (por crimes praticados no exercício das suas
funções) implica a sua destituição.
Notas
Direção política: Definição das diretrizes fundamentais.
Órgãos estaduais:
Soberania (Presidente da República, Governo, Tribunais, Assembleia da República) – princípio da
tipicidade ou dos números causos: os órgãos de soberania não podem ser adicionadas.
Constitucional – órgão cuja competência é descrita da CRP.
Órgãos Estaduais: que não estão constitucionais nem de soberania.