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Resolução dos Casos Práticos

Direito Constitucional - II Semestre


1º ano Licenciatura em Direito
FDUP

Comissão de Curso 1º ano 2016/2017

Ana Cláudia Pereira


Sofia Pais

Caso prático n.º 1

Classifique e relacione considerando os conceitos de pessoa coletiva, de órgão


(seus elementos e tipologia), de competência e de atribuição:
1. Estado;
Do ponto de vista da organização institucional, enquanto pessoa coletiva, o
Estado tem fins ou atribuições, aos órgãos correspondem competências, ou
seja, parcelas dos meios que a pessoa coletiva tem à sua disposição para
prosseguir os seus fins. O Estado é a única pessoa coletiva que não está
sujeita ao principio da especialidade, devido à sua característica de
complexidade.
Dois substratos de pessoas coletivas previstas no CC português e nos
ordenamentos internacionais:
- Associações: implica um exercício coletivo, tem o substrato pessoal de
reunião; o conjunto de pessoas quer fazer alguma coisa.
- Fundações: o que está na base é o acervo de património, com determinado
acervo de património quero fazer alguma coisa; substrato patrimonial.

2. Governo;
É um órgão pois é um centro institucionalizado que expressa a vontade das
pessoas coletivas. É um órgão colegial, complexo (tem dentro de si outros
órgãos), decisório (e governo delibera), não eletivo, independente, não
representativo, constitucional (previsto no artigo 110º da AR) e primário.
Existem mais classificações. São necessárias?
Como é um órgão é dotado de diferentes elementos:
- Elemento institucional: os órgãos contribuem para a duração/permanência
das pessoas coletivas. Segundo Hauriou, instituição corresponde à ideia de
obra ou empreendimento que se realiza e perdura no meio social.
- Competência: resulta da concretização de determinada norma jurídica e
equivale aos poderes funcionais do órgão. Parcela do poder público que cabe
ao órgão. Além de traduzir o modo como um órgão participa no exercício das
funções do Estado, traduz igualmente a sua posição relativa em face dos

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outros órgãos e a função que ele desempenha no sistema constitucional.


*Competência é uma concretização das atribuições no caso de uma pessoa
coletiva.
- Titular: a pessoa física ou conjunto de pessoas que, em cada momento,
encarna a instituição e forma a vontade que compõe o órgão.
- Cargo/mandato (no caso de um órgão eletivo, o que não acontece com o
governo pois este é nomeado): posição, estatutos que têm os titulares dos
órgãos.
É um órgão de soberania (art. 110º) e para o ser tem que participar nas
funções do estado. O Governo, enquanto órgão, é dotado de competências
políticas (artigo 197º CRP), legislativas (artigo 198º, sendo que, segundo o
nº1, o Governo pode fazer decretos-lei em matéria concorrencial, fazer
decretos-lei em matéria de reserva relativa à AR, mediante a autorização
desta, e pode ainda legislar desenvolvendo leis de base – estabelecem as
bases do regime jurídico) e, por fim, administrativas (artigo 199º). Não
participa na função jurisdicional do Estado.

3. Presidente da República;
Posso estar-me a referir ao órgão ou ao titular, o que seria diferente se
falasse em Presidência da República. É um órgão, pois expressa a vontade
das pessoas coletivas. É um órgão singular, simples, deliberativo,
independente, eletivo, não representativo, constitucional (previsto no
artigo 110º da AR) e primário.
Enquanto órgão de soberania, o PR detém várias competências: quanto a
outros órgãos (exemplo: art.133º, e, f, g, h), para prática de atos próprios
(exemplo: art. 134º, a), b), c), g), h)), nas relações internacionais (exemplo:
art.135º, a), b), c)).
O PR participa na função política latu sensu e stricto sensu. O PR
não tem funções legislativas. O PR não aprova leis. O PR através da
função governativa fiscaliza a legislativa através da promulgação,
do veto ou do envio para o tribunal constitucional. O PR não tem
faculdade de estatuir na função legislativa.

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A representação é uma representação institucional do estado –


art.120º.
É o único que tem limitação de acesso no sistema constitucional
português, logo, para este órgão não vale o art. 50º CRP.
É por inerência chefe das forças armadas e presidente do Conselho
de Estado.

4. Assembleia da República;
É um órgão, pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, complexo, consultivo, eletivo, independente, representativo,
constitucional (previsto no artigo 110º do regimento da AR) e primário.
A AR tem também várias competências: política (stricto sensu) e legislativa
(artigo 161º, por exemplo, c), h), i), j), m)), de fiscalização (artigo 162º, alínea
a) e b)), quanto a outros órgãos (art. 163º, d), d), e), f)).
É um órgão de soberania – art.110º.
Não tem qualquer participação na função administrativa mas limita-a e
controla-a – art.162º.

5. Conselho de Ministros;
É um órgão, pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, complexo (só podemos entender assim se entendermos que cada
ministro é um órgão) /simples, decisório, não eletivo, independente, não
representativo, constitucional (previsto no artigo 110º da AR) e primário.
Este órgão tem várias competências – art. 200º.
Não é um órgão de soberania, mas é um órgão constitucional. Integra o
órgão de soberania Governo.

6. Representante da República;
É um órgão, pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
singular, simples, deliberativo, não eletivo, independente, não
representativo, constitucional e primário.
Art. 230º

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Competências: art. 233º


Os representantes da republica são órgãos da pessoa coletiva Estado. O
Representante da Republica não é órgão da pessoa coletiva de Regiões
Autónomas.

7. Ministério da Justiça;
É um órgão, pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, complexo, consultivo, não eletivo, independente, não representativo,
constitucional e primário.
Mecanismo de desconcentração da pessoa coletiva Estado.

8. Ministro da Justiça;
É um órgão, pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
singular, simples, deliberativo, não eletivo, independente, não
representativo, constitucional e primário.
Titular do Ministério da Justiça.
Os ministros em si são titulares de órgãos.

9. Governo Regional da Região Autónoma dos Açores;


É um órgão, pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, complexo, consultivo, não eletivo, independente, não representativo,
constitucional e primário.
Competências: art. 227º, 228º
Órgão da pessoa coletiva Região Autónoma dos Açores.
Não é um órgão de soberania, mas é constitucional.

10. Direção Geral dos Impostos (DGCI);


É um órgão, pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, complexo, deliberativo, não eletivo, independente, não
representativo, não constitucional e primário.
É uma desconcentração do ministério. As direções gerais existem dentro de
cada ministério.

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11. Instituto de Emprego e Formação Profissional, I.P. (IEFP);


Pessoa coletiva criada através da descentralização institucional.

12. Câmara Municipal do Porto;


É um órgão pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, complexo, deliberativo, eletivo, independente, representativo,
constitucional e primário.
Competências: art. 241º, 242º
Art. 239º, 250º
Órgão executivo da pessoa coletiva Município do Porto.

13. Município de Cascais;


Enquanto pessoa coletiva o Município de Cascais tem fins ou atribuições.
Artigo 235º, nº2
Descentralização territorial (que difere da institucional).
Os municípios participam apenas na função administrativas (e as regiões
autónomas participam também na legislativa).

14. Freguesia de Paranhos;


Enquanto pessoa coletiva a Freguesia de Paranhos tem fins ou atribuições.

15. Assembleia de Freguesia de Cedofeita;


É um órgão pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, complexo, deliberativo, eletivo, independente, representativo,
constitucional e primário.
Art. 241º
Art. 239º (deliberativo), 245º

16. Área Metropolitana de Lisboa;


Enquanto pessoa coletiva a Área Metropolitana tem fins ou atribuições.

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17. Ordem dos Advogados;


Pessoa coletiva – associação. Uma ordem é uma associação pública que
exerce ainda atribuições por parte do Estado.
A Constituição fala destas associações públicas.
As ordens começaram por ser uma forma de regular profissões liberais. Hoje
em dia, não faz sentido que proliferem tantas ordens.
Artigo 267º, nº4
Participa apenas na função administrativa do Estado.

18. Comissão Nacional de Eleições;


É um órgão pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, simples, deliberativo, não eletivo, independente, não
representativo, não constitucional e primário.
Não é um órgão constitucional nem de soberania. É um órgão da pessoa
coletiva Estado.
Participa na função administrativa e na função governativa.

19. Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga;


É um órgão pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
colegial, simples, deliberativo, não eletivo, hierárquico, não representativo,
constitucional e primário.
Art.212º
Competências: art. 212º, nº3
A ordem jurisdicional é que é um órgão de soberania. Um só tribunal não é
um órgão de soberania.
Este tribunal é uma categoria dos tribunais.

20. Provedor de Justiça;


É um órgão pois expressa a vontade das pessoas coletivas. É um órgão
singular, simples, consultivo, eletivo, independente, não representativo,
constitucional e primário.
Art. 23º

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É um órgão do Estado, mas não é um órgão de soberania.


Art 23º, nº3 – designado pela AR
Artigo 163º, h) – através da eleição
*titulares da AR – Deputados
*titulares do órgão das ALR – deputados
Quando é com maiúscula é da AR, com minúscula refere-se aos deputados
regionais.

21. Universidade do Porto.


Enquanto pessoa coletiva, a Universidade do Porto tem fins ou atribuições.
Mecanismo de descentralização institucional.
No entanto, surgiram fundações públicas de direito privado. Tem natureza
pública mas rege-se pelo direito privado.

Caso prático n.º 2

Comente a frase seguinte, dando exemplos no que seja indispensável para


justificar a sua concordância ou discordância:
Os órgãos de soberania são órgãos supremos do Estado e responsáveis pelos
atos típicos das suas funções.
Existem vários órgãos de soberania, sendo que estão previstos no artigo 110º
da CRP, assim, segundo esse artigo são órgãos de soberania o PR, a AR, o
Governo e os Tribunais.
Ao PR cabe executar atos típicos da função política, tal como o AR. Já o
Governo, para além de exercer a função política exerce também a função
administrativa. Aos tribunais compete a função jurisdicional.
No entanto, por exemplo, as Assembleias Legislativas Regionais fazem
decretos-regionais mas não são órgãos de soberania, logo, há atos típicos que
resultam de funções legislativas do Estado que não são executados por
órgãos de soberania. Além disto, à função administrativa correspondem
atos, regulamentos e contratos, que resultam sobretudo do governo, mas há
também órgãos que não são órgãos de soberania e pessoas coletivas fora do

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estado (institutos públicos, por exemplo), que também são responsáveis por
esta função.
Desta forma, a função jurisdicional é a única que cabe apenas a órgãos de
soberania.

Caso prático n.º 3

Distinga, sucintamente, e dê a noção de:


a) Lei em sentido formal e lei em sentido material;
Lei em sentido material é uma lei que tem elemento normativo, logo,
caracteriza-se pela generalidade e abstração (exceto as leis medidas que
podem prescindir da abstração); tem elemento de decisão política e deve
obediência as normas constitucionais, ou seja, é um ato da função política e
sujeita imediatamente à constituição. Sem a discricionariedade que lhe é
inerente não existe lei. Todas as leis em sentido material são leis em sentido
formal mas o contrário nem sempre se verifica. Lei em sentido formal
implica a consideração da força de lei - atos com força de lei: lei, decreto-lei e
decreto legislativo regional (art. 112º, nº1 e 2), consideração do princípio da
tipicidade. Em princípio, o TC só pode fiscalizar a constitucionalidade de
normas. O TC tem alargado os seus poderes para fiscalizar lei em sentido
formal cujo conteúdo não corresponde a lei em sentido material.
b) Lei e regulamento;
Regulamentos são resultado da função administrativa, correspondem a
normas gerais e abstratas. Se os regulamentos são normas gerais e
abstratas, coloca-se a questão se serão lei em sentido material. Aqui a
doutrina diverge: Jorge Miranda diz que não são lei em sentido material por
lhes faltar o elemento da decisão política. Não há valoração política e porque
falta este elemento (liberdade de formação/oportunidade), os regulamentos
não são lei em sentido material. De facto, não são lei em sentido formal
porque não constam do artigo 112º, nº1 (princípio da tipicidade), além disso,
uma vez que Jorge Miranda considera que há equivalência entre lei em
sentido forma e material, se os regulamentos não são lei em sentido formal
também não serão em sentido material.

A lei é da função legislativa.

Quer a lei e o regulamento têm o elemento normativo.

c) Princípio da primazia ou da prevalência da lei e princípio da reserva


de lei;

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O Estado de Direito é um governo que se faz sub leges – é subordinado à lei,


e per leges – e faz-se através da lei, o que leva à necessidade de
encontrarmos o princípio da legalidade (que por sua vez resulta do
princípio da constitucionalidade), sendo que pode ter duas
vertentes:

à Princípio de Reserva: há matérias que o legislador


constituinte reserva para a lei, que têm de ser tratados pela
lei – vorbehalt.
à Princípio de primazia ou de prevalência da lei: a lei tem
primazia em relação aos regulamentos, tem uma posição
hierárquica distinta em relação aos regulamentos – vorrang.
d) Força de lei e lei de valor reforçado;
Leis de valor reforçado são leis que se sobrepõem às outras leis, mesmo
provindo do Parlamento por terem uma força formal sobre todas as leis
ordinárias; são uma espécie de leis de dignidade intermédia entre a
Constituição e as leis normais da Assembleia da República. Temos como lei
reforçada ou lei de valor reforçado, a título de exemplo:
- leis de autorização legislativa, as quais os decretos-lei feitos sob a sua
alçada devem obedecer, sob pena de ilegalidade;
- leis de bases, que definem os regimes jurídicos de determinadas matérias
ou assuntos que se sobrepõem aos decretos de desenvolvimentos dessas
matérias;
- decretos-legislativos regionais autorizados ou de desenvolvimento –
art.112º, nº2.
Força de lei assenta no lugar fixado à lei no sistema jurídico estatal;
assenta, como vem sendo mais usual dizer, na posição hierárquica só
inferior à Constituição que aí ocupa.
Todos os atos (que são os três típicos) que têm forma de lei, têm força de lei,
mas só alguns deles têm valor reforçado.
e) Competência e iniciativa legislativa;
Iniciativa legislativa significa propor a lei e competência legislativa decretar
a lei. Sem a iniciativa não se pode exercer a competência, mas precisamente
competência legislativa vem a ser o poder de deliberar sobre o texto em que
aquela se traduz, aprovando-o ou rejeitando-o. Sem a iniciativa não se

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desencadeia o procedimento, mas fazer a lei a obra é do Parlamento como


um todo, como órgão do Estado.
Competência é competência para aprovação
Mas no art. 167º, nº1 – iniciativa legislativa.
f) Competência legislativa reservada e competência legislativa
concorrencial;
Competência legislativa concorrencial corresponde a uma competência do
Governo e da AR, ou seja, em matéria concorrencial tanto a AR como o
Governo podem legislar, existindo o princípio da mútua revogabilidade.
Definida por exclusão de partes (nem o 164º, 165º e o que a constituição
reserva ao Governo – 198º, nº2, 183º, nº3). Neste âmbito, a lei da AR e o
decreto-lei do Governo valem o mesmo de acordo com o princípio da paridade
legislativa.
Já a competência legislativa reservada diz apenas à AR, sendo que este
órgão de soberania é o único que poderá legislar sobre certas matérias. No
entanto, podemos distinguir matéria reservada relativa de absoluta. A
primeira significa que é da exclusiva competência da AR legislar sobre
certas matérias, salvo autorização ao governo (art. 165º); a segunda, a sua
legislação é da exclusiva competência da AR (art. 164º).
*Competência legislativa – AR e Governo
g) Quórum de funcionamento, quórum deliberativo e maioria de
aprovação;
Quórum de funcionamento (art. 16º. nº2) – fração necessária e suficiente
para determinar com a sua presença a válida constituição da Assembleia.
Quórum deliberativo (art. 116º, nº3) – fração necessária e suficiente para a
aprovação de uma deliberação na Assembleia. Número mínimo de membros
para que possa haver uma deliberação válida. Maioria simples ou relativa,
regra geral.
Maioria agravada (absoluta, 2/3, ¾) – art. 168º
h) Promulgação e veto.
Tanto a promulgação como o veto são duas competências exercidas pelo PR
em relação a atos legislativos.

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A promulgação analisa-se em 3 momentos: 1) conhecimento qualificado que


o Chefe de Estado, Rei, PR tem acerca do ato destinado a converter-se em lei
(ou em ato de outra categoria relevante de atos jurídicos constitucionais); 2)
qualificação ou subsunção de cada ato em concreto do tipo constitucional
correspondente - o que pode explicar que a falta de promulgação (bem como
a falta de assinatura quando esta seja exigida) determine inexistência
jurídica (art. 137º); 3) declaração solene disso mesmo. O procedimento
legislativo avança para a fase seguinte.
O veto é a recusa, o impedimento, a fiscalização de um órgão a outro, a
impossibilitação de um ato produzir efeitos, por ação de um órgão exterior à
competência para a sua prática. Faz parar o procedimento legislativo.
- 134º, b)
- 136º
Uma das competências mais importantes do Presidente da República no dia-
a-dia da vida do País é o da fiscalização política da atividade legislativa dos
outros órgãos de soberania. Ao Presidente não compete, é certo, legislar, mas
compete-lhe sim promulgar (isto é, assinar), e assim mandar publicar, as
leis da Assembleia da República e os Decretos-Leis ou Decretos
Regulamentares do Governo.
A falta da promulgação determina a inexistência jurídica destes atos.
O Presidente não é, contudo, obrigado a promulgar, pelo que pode, em certos
termos, ter uma verdadeira influência indireta sobre o conteúdo dos
diplomas.
Com efeito, uma vez recebido um diploma para promulgação, o Presidente
da República pode, em vez de o promulgar, fazer outras duas coisas: se tiver
dúvidas quanto à sua constitucionalidade, pode, no prazo de 8 dias, suscitar
ao Tribunal Constitucional (que terá, em regra, 25 dias para decidir) a
fiscalização preventiva da constitucionalidade de alguma ou algumas das
suas normas (exceto no caso dos Decretos Regulamentares) - sendo certo
que, se o Tribunal Constitucional vier a concluir no sentido da verificação da
inconstitucionalidade, o Presidente estará impedido de promulgar o diploma
e terá de o devolver ao órgão que o aprovou.

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Ou pode - no prazo de 20 dias, no caso de diplomas da Assembleia da


República, ou de 40 dias, no caso de diplomas do Governo, a contar, em
ambos os casos, ou da receção do diploma na Presidência da República, ou
da publicação de decisão do Tribunal Constitucional que eventualmente se
tenha pronunciado, em fiscalização preventiva, pela não
inconstitucionalidade - vetar politicamente o diploma, isto é, devolvê-lo, sem
o promulgar, ao órgão que o aprovou, manifestando, assim, através de
mensagem fundamentada, uma oposição política ao conteúdo ou
oportunidade desse diploma (o veto político também pode assim ser exercido
depois de o Tribunal Constitucional ter concluído, em fiscalização
preventiva, não haver inconstitucionalidade).
O veto político é absoluto, no caso de diplomas do Governo, mas é
meramente relativo, no caso de diplomas da Assembleia da República. Isto
é: enquanto o Governo é obrigado a acatar o veto político, tendo, assim, de
abandonar o diploma ou de lhe introduzir alterações no sentido proposto
pelo Presidente da República, a Assembleia da República pode ultrapassar o
veto político - ficando o Presidente da República obrigado a promulgar, no
prazo de 8 dias se reaprovar o diploma, sem alterações, com uma maioria
reforçada: a maioria absoluta dos Deputados, em regra, ou, a maioria da 2/3
dos deputados, no caso dos diplomas mais importantes (leis orgânicas,
outras leis eleitorais, diplomas que digam respeito às relações externas, e
outros).

Caso prático n.º 4


A Assembleia da República (AR) aprovou, pela maioria dos 100 Deputados
presentes, o diploma que estabelece o novo regime das associações públicas
profissionais.
Se mais nada não nos é dito esta aprovação corresponde à votação final
global, partindo do principio que já ocorreu a votação na generalidade e
especialidade.
* Todas as entidades com iniciativa legislativa podem começar o processo
legislativo – art. 167º, nº1.

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Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Enviado o decreto para promulgação, o Presidente da República (PR),


alegando dúvidas de constitucionalidade, requereu ao Tribunal
Constitucional (TC) a apreciação do diploma, o que fez 15 dias após a sua
recepção.

O TC pronunciou-se pela inconstitucionalidade do decreto e o PR devolveu-o


à AR que o confirmou (artigo 279º) com o voto favorável dos 116 Deputados
presentes. Por a tal se sentir obrigado, o PR decidiu promulgar o diploma,
que entrou imediatamente em vigor.

a) Comente todos os aspetos relevantes do ponto de vista jurídico-


constitucional.
A AR é um órgão de soberania de acordo com o art. 110º da CRP. A AR
pretende legislar sobre associações públicas, o que está previsto no art. 165º,
nº1, s) – matéria de reserva relativa. No entanto, enquanto órgão colegial,
nos termos do art.116º, nº2, (quórum de funcionamento) as deliberações dos
órgãos colegiais são tomadas com a presença da maioria do numero legal dos
seus membros, o que neste caso corresponderia a 116 deputados. Logo, a AR
não podia aprovar o diploma. Se aprovasse teríamos uma
inconstitucionalidade formal.
A promulgação é de facto uma faculdade que o PR tem à sua disposição
quando recebe um diploma da AR, nos termos do art.136º, nº1. Além disso,
ao abrigo do artigo 134º, g), e do artigo 278º, nº1 o PR pode requerer ao
Tribunal Constitucional (TC) a apreciação do diploma. Segundo o artigo
278º, nº3, a apreciação preventiva da constitucionalidade deve ser requerida
no prazo de oito dias a contar da data de receção do diploma.
Depois do TC se ter pronunciado acerca da inconstitucionalidade do decreto
– o que deverá ter feito no prazo de 25 dias, nos termos do art. 278º, nº8.
Como a decisão do TC foi no sentido da verificação da inconstitucionalidade,
segundo o artigo 279º, nº1, o Presidente estava impedido de promulgar o
diploma e teve de o devolver ao órgão que o aprovou, a AR. Esta confirmou-o
com o voto favorável dos 116 Deputados presentes (cumpre o quórum de

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Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

funcionamento) mas não o poderia ter feito nos termos do art.279, nº2, pois
116 não é superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções. Depois de uma intervenção da AR, após a análise do TC não há
obrigatoriedade de promulgação (o que difere do artigo 136º, nº2.) Ainda
falta a referenda da promulgação e a publicação no DR, para o diploma
entrar em vigor.

NOTAS:
O PR pode utilizar uma dúvida jurídica para vetar politicamente, mas não
pode analisar a fiscalidade para vetar, porque ele não tem competências de
fiscalização da constitucionalidade. No entanto, não existe um critério
definido para a fundamentação dele.

*Fiscalização preventiva: ainda não há lei, o que difere da fiscalização


sucessiva.

b) Admitindo que o procedimento tinha ocorrido dentro da normalidade,


qual o prazo para o PR promulgar este diploma?
20 dias, nos termos do artigo 136º, nº2.

c) E se houvesse veto político, a AR poderia confirmar o diploma?


Sim, nos termos do artigo 136º, nº2.

Caso prático n.º 5

Em 17 de Janeiro a AR aprova na generalidade, depois de longa discussão


em comissão, por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções,
uma proposta de lei sobre a eleição dos Deputados à AR.

A AR é um órgão de soberania de acordo com o art. 110º da CRP. A AR


pretende legislar sobre a eleição dos Deputados à AR, o que está previsto nos
termos do artigo 164º, a) – matéria de reserva absoluta, mas segundo o

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Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

artigo 166º, nº2 o ato previsto no artigo anterior reveste a forma de lei
orgânica. Depois de haver aprovação na generalidade não está encerrada a
fase do procedimento legislativo parlamentar. Assim, nos termos do artigo
168º, nº1, a discussão dos projetos e propostas de lei compreende um debate
na generalidade e outro na especialidade. Além disso, ao abrigo do art. 168º,
nº2, a votação compreende uma votação na generalidade, uma votação na
especialidade. A votação na generalidade e na especialidade é feita de acordo
com a regra geral do quórum deliberativo previsto no artigo 116º, nº3
(quando existem exceções à regra geral, elas estão previstas na CRP).

No dia em que recebe o decreto o PR anuncia na televisão que não o tenciona


promulgar, dado entender que a intenção da AR era inconstitucional e que
violava limites transcendentes da revisão constitucional. Três semanas após
a mensagem televisiva o PR comunicou formalmente à AR os motivos da
recusa da promulgação.

O PR tem como intenção vetar politicamente. Nos termos do artigo 136º, nº1,
o PR terá 20 dias para promulgar ou vetar o decreto da AR, solicitando nova
apreciação do diploma (devolver a norma à AR) em mensagem
fundamentada.

NOTAS:
*O facto de ter anunciado na TV não tem relevância.
*Supondo que o decreto da AR que é uma lei orgânica chega ao PR, ele pode
vetar (20 dias), enviar ao TC (8 dias), mas para promulgar tem que esperar
até ao nono dia (promulgação vedada temporária – mas o veto não é vedado),
segundo o artigo 278º, nº7.
*O PR também não pode analisar a constitucionalidade ou não, pois não tem
competências para isso.

A AR, ao abrigo do nº 2 do artigo 136º da Constituição da República


Portuguesa (CRP), confirmou o diploma por maioria de dois terços dos

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Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Deputados presentes.
Isto é uma lei orgânica, logo a confirmação é feita nos termos do artigo 136º,
nº3, sendo que será exigida a maioria e dois terços de Deputados presentes,
desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efetividade de
funções.

O PR solicitou a fiscalização preventiva da constitucionalidade dez dias


depois da receção do diploma confirmado. O TC pronunciou-se pela
inconstitucionalidade do diploma, posteriormente reformulado pela AR e
promulgado pelo PR.
Se tivesse sido confirmado nos termos do art.136º, nº3, o PR era obrigado a
promulgar no prazo de oito dias (depois de veto político o PR é obrigado a
promulgar), segundo o artigo 136º, nº2.

O Primeiro-Ministro, depois de reunido com o Governo disse que se


recusaria a referendar um diploma diferente da proposta do Governo.
Não se referenda um diploma, mas o ato de promulgação.
Segundo o artigo 197º, nº1, a) compete ao Governo referendar os atos do PR,
e ainda nos termos do artigo 140º. Assim, segundo o nº1 do art. 140º carece
de referenda a alínea b) do artigo 134º, logo, não é necessário o Governo
referendar quando o PR promulgar e mandar publicar as leis.

Caso prático n.º 6


Suponha que na reunião plenária da AR, os Deputados presentes aprovam
por unanimidade um projeto de lei que determina a extinção do Ministério
da Cultura, dada a sua alegada inoperância.

No mesmo dia e sessão, é também aprovado por unanimidade um diploma


que determina a criação do Ministério do Espetáculo, que integra uma das
Secretarias de Estado atualmente a funcionar no âmbito do Ministério da
Educação.

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Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Ao abrigo do art. 183º, nº3, os ministérios fazem parte da composição do


Governo e segundo o artigo 198º, nº2 é da exclusiva competência legislativa
do Governo a matéria respeitante à sua própria organização e
funcionamento.

Caso prático n.º 7

A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores apresentou na AR


uma proposta de lei sobre o regime do estado de sítio e do estado de
emergência.
Nos termos do artigo 167º, nº1, as AL das Regiões Autónomas têm iniciativa
legislativa e ainda segundo o artigo 227º, nº1, f).
O artigo 167º, nº1 leva a uma dupla possibilidade de interpretação:
1 - No caso das regiões autónomas, sobre esses assuntos falam as AL das RA
(distribuição de competência orgânica);
2- Diz que as AL das RA só podem apresentar propostas sobre as regiões
autónomas (distribuição material).

É da exclusiva competência da AR legislar sobre os regimes do estado de


sítio e do estado de emergência, segundo o artigo 164º, e), mas este ato
reveste a forma de lei orgânica ao abrigo do artigo 166º, nº2.

O diploma foi aprovado na especialidade e em votação final global com 110


votos a favor e 10 votos contra.
Além disto, há que ter em conta o artigo 168º, nº1 e nº2 (existe votação na
generalidade, especialidade e votação final global). Segundo o artigo 168º,
nº4, são obrigatoriamente votadas na especialidade as leis sobre matérias
previstas na aliena f) (não é por ser lei orgânica) – inconstitucionalidade
formal.
O quórum de funcionamento verifica-se, nos termos do artigo 116º, nº2 –
maioria do número legal de membros, a constituição só nos dá um mínimo e
um máximo mas nos termos da lei eleitoral sabemos que neste momento

18
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

existem 230 deputados, logo, para a AR tomar deliberações seriam


necessários 116 deputados. Nos termos do artigo 168º, nº5, as leis orgânicas
carecem de aprovação, na votação final global, por maioria dos Deputados
em efetividade de funções (pelo menos 116 deputados a favor). Assim, neste
caso não foi cumprida a exigência mínima de votação.

*Número legal de membros é diferente do número de deputados em


efetividade de funções (pode haver um com mandato suspenso, aqui estamos
a partir de que o numero é o mesmo).

Enviado para o PR, este entendeu exercer o veto político, o que fez no
segundo dia imediatamente a seguir à receção do decreto.
O PR até teria 20 dias para o fazer, segundo o artigo 136º, nº1. Contudo,
segundo o artigo 278º, nº4 e nº7, sendo a lei apresentada uma lei orgânica
existe uma promulgação vedada (porque em relação a estes diplomas há um
alargamento da legitimidade para enviar para o TC, isto é, o PM ou 1/5 dos
deputados podem enviar para o TC) – mas ele não promulga, ele exerce o
veto político (ou seja, devolve sem promulgação o diploma à AR com
mensagem fundamentada) – artigo 136º.

O diploma foi devolvido à AR que o confirmou por maioria absoluta, e


remetido de novo para o PR que decidiu promulgá-lo.
Se o intuito da AR era confirmar depois de veto político, teria que o
confirmar por via do artigo 136º, nº3, uma vez que se tratava de uma lei
orgânica, sendo exigida a maioria de 2/3 dos Deputados presentes, desde que
superior à maioria absoluta dos Deputados em efetividade de funções, para
confirmar o diploma. Além disso, caso a AR, de facto, confirmasse o diploma,
o PR estava obrigado a promulgá-lo (art. 136º, nº2).

Mais tarde, por entender que a Lei da AR se tornara desadequada, o


Governo aprova um Decreto-Lei que estabelece o novo Regime do Estado de
Sítio e do Estado de Emergência e que expressamente revoga a referida Lei.

19
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

O Governo não pode legislar sobre essa matéria, uma vez que é matéria de
reserva absoluta da AR, nos termos do artigo 164º, e), logo, é da exclusiva
competência da AR legislar sobre regimes do estado de sítio e do estado de
emergência. Seria uma inconstitucionalidade orgânica.
O artigo 112º nº2, primeira parte aplica-se só a matéria concorrencial.
Assim, não se aplica, neste caso, o princípio de paridade.

Caso prático n.º 8

Em 22 de Maio de 2009, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos


Açores aprovou, por maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções, um Decreto Legislativo Regional que estabelece novas regras sobre
a composição e funcionamento do TC.
É da exclusiva competência da AR (que é um órgão de soberania nos termos
do artigo 110º) legislar sobre a organização, funcionamento e processo do TC,
segundo o artigo 164º, c) – matéria de reserva absoluta. Logo, a AL da RA
dos Açores não poderia legislar sobre esta matéria. Além disto, esta é
também uma lei orgânica.
Enviado ao Representante da República para promulgação, este decide
remeter o diploma para o TC, requerendo a fiscalização preventiva das
normas que lhe suscitavam dúvidas de constitucionalidade.
O Representante da República não promulga, assina. Segundo o artigo 233º,
nº1, o Representante da República podia enviar para o TC. O prazo para
assinar é de 15 dias de acordo com o artigo 233º nº3 e quanto ao envio para o
TC este dispõe de 8 dias a contar da receção de acordo com o artigo 278º nº3
– mas nos casos das leis orgânicas há que ter em conta o art. 278º, nº4, 5 e 6.
Assim, neste caso a apreciação preventiva da constitucionalidade deve ser
requerida no prazo de oito dias, que começam a contar a partir do momento
em que o Presidente da AR enviar o decreto para promulgação para o PR e
der conhecimento ao PM e aos grupos parlamentares da AR.

20
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Trinta dias depois, o TC pronuncia-se pela inconstitucionalidade do diploma,


com os fundamentos invocados e ainda com fundamento na violação da
norma da alínea a) do n.º 1 do artigo 227.º da CRP.
O TC tem apenas 25 dias para se pronunciar acerca da
inconstitucionalidade do diploma, segundo o artigo 278, nº8. Este prazo pode
ser encurtado por motivo de urgência a pedido do PR - é o único que pode
pedir a fiscalização preventiva e encurtar o prazo.
Art. 279º - efeitos da decisão do TC.
O tribunal pode sempre acrescentar outros fundamentos de
inconstitucionalidade.
Art. 51º, nº1 da Lei de organização, funcionamento e processo do TC-
Princípio do duplo ónus da impugnação especificada.
O tribunal está vinculado ao princípio do pedido mas não está
vinculado quanto à fundamentação, ou seja, verifica a
constitucionalidade dos artigos que são pedidos mas pode alterar a
fundamentação que é dita (pode arranjar outros artigos que são
inconstitucionais aos que são pedidos para apreciação) – art.51º, nº5.

Caso prático n.º 9

A Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira apresentou na


AR uma proposta de lei de alteração dos Estatutos Político-Administrativos
da Região Autónoma, da qual constavam algumas normas em matéria de
incompatibilidades e impedimentos dos deputados regionais. Depois de
introduzidas alterações, a proposta veio a ser aprovada, por unanimidade,
pelos 120 Deputados presentes.
Nos termos dos artigos 167º, nº1 as AL das RA têm iniciativa de lei, mas
nesta matéria é de realçar que só as AL podem apresentar propostas - 226º,
nº1, nº4 os projetos de estatutos político-administrativos são elaborados
pelas RA e enviados para discussão e aprovação à AR. Isto é matéria de
reserva absoluta, nos termos do artigo 164º, m) – deputados regionais

21
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

art.231º - mas isto não traz diferença relativamente à iniciativa de lei.


Depois do previsto no artigo 226º, nº2 e nº3, a proposta pode ser aprovada
pela AR. Neste caso, está preenchido o quórum de funcionamento, pois a AR
tinha mais de 115 deputados presentes (art.116º, nº2) e foi aprovada por
unanimidade (art.116º, nº3).

O PR vetou o Decreto da AR afirmando que as razões do veto eram por


demais evidentes pelo que não via necessidade de proceder a qualquer tipo
de fundamentação.
O PR tem a faculdade de vetar o Decreto da AR, nos termos do artigo 136º,
nº1, mas tal como é lá mencionado terá de solicitar nova apreciação do
diploma em mensagem fundamentada.

*In claris non fit interpretatio – naquilo que é claro não precisamos de
interpretar o sentido – este princípio já não é aplicável, muito menos neste
caso.

Caso prático n.º 10

Um grupo de 25 deputados apresentou na AR uma proposta de lei de


autorização sobre o regime de arrendamento urbano, com o intuito de
habilitar o Governo a legislar sobre esta matéria.
Segundo o art. 167º os Deputados têm iniciativa de lei, sendo que esta
matéria é de reserva relativa – art. 165º, h), logo, o Governo pode de facto
legislar mediante autorização da AR.

Artigo único: A AR autoriza o Governo a legislar em matéria do regime do


arrendamento urbano, por um período de 3 anos.
Ao abrigo do artigo 165º, nº2, as leis de autorização legislativa devem definir
o objeto, o sentido, a extensão e a duração da autorização (neste caso, não
estão definidos nem o sentido, nem a extensão– inconstitucionalidade
formal).

22
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Mais tarde, o Governo, ao abrigo da referida Lei de Autorização, aprova, por


Decreto Regulamentar, o novo Regime de Arrendamento Urbano.
Um decreto regulamentar é um ato da função administrativa – uma lei de
autorização legislativa serve para o Governo legislar, isto é, aprovar um
decreto-lei e não um Decreto Regulamentar - 198º, nº1, b).
1. A AR está impedida de legislar, na vigência da autorização, sobre o
regime do arrendamento urbano?
Não. A AR autoriza o Governo a legislar mas não elimina da sua reserva a
possibilidade de legislar, por via dos artigos 165º e 161º, nº1.

Caso prático n.º 11


Em 20 de Abril de 2010, um grupo de cinco deputados de um partido da
oposição apresentou na Assembleia da República (AR) um projeto de lei de
autorização legislativa, nos termos do qual o Governo ficava autorizado a, no
prazo de 600 dias, aprovar a criação do “crime de esbanjamento em tempos
de crise”. Tal lei obteve 100 votos favoráveis, 80 votos contra e 30
abstenções.

Nos termos do art. 167º, nº1 os Deputados têm iniciativa de lei. Mas os
partidos não existem na AR (existem apenas ou deputados ou grupos
parlamentares) – é irrelevante. Neste caso, falamos de proposta de lei e não
de projeto de lei porque os Deputados, independentemente do partido a que
pertencem, são internos à AR. No entanto, temos um caso de reserva de
iniciativa para o governo por se tratar de uma autorização legislativa.

Ao abrigo do artigo 165º, nº2 as leis de autorização legislativa devem definir


o objeto, o sentido, a extensão e a duração da autorização.

Esta matéria é de reserva relativa – art. 165º, nº1, c), logo, o governo pode
legislar mediante autorização da AR.

Por via do art. 116º, nº2 verificava-se o quórum de funcionamento da AR


(pelo menos 116 deputados), e o quórum deliberativo – art. 116º, nº3.

23
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

De realçar ainda os artigos 168º, nº1 e nº2.

Entretanto, como medida social, o Primeiro-Ministro aprovou um decreto-lei,


no uso da autorização legislativa, nos termos do qual pelo “crime de
esbanjamento …” apenas poderiam ser condenados cidadãos sujeitos ao
último escalão de IRS. O Presidente da República (PR), porém, vetou o
decreto-lei passados trinta dias da sua receção, mas o Governo viria a
confirmar o mesmo, sob a forma de resolução do Conselho de Ministros.

Ao abrigo do artigo 200º, nº1, d), compete ao CM aprovar os decretos-lei (e


não apenas ao PM – inconstitucionalidade orgânica).

Apenas poderiam ser condenados cidadãos sujeitos ao último escalão de IRS


– violação do princípio da igualdade (art. 13º) – inconstitucionalidade
material.

Segundo o artigo 136º, nº4 o PR tem 40 dias para vetar o decreto-lei contados
desde a sua receção.

Como o Governo não é um órgão eleito e, por isso, não é representativo, não
poderia confirmar o decreto depois de veto político (sob a forma de resolução
do CM também não pode).

Já em Outubro, o Governo apresentou na AR uma proposta de lei que visava


a alteração da “Lei do Tribunal Constitucional”, no sentido de apenas ele
poder julgar cidadãos pela prática do “crime de esbanjamento ...”, o que viria
obter 114 votos favoráveis, 70 contra, e 20 abstenções. De imediato, o PR
promulgou o diploma.

A organização, funcionamento e processo do TC diz respeito a matéria


absoluta da AR (164º, c)), logo, o Governo nunca poderia legislar sobre isso.
No entanto, o Governo tem iniciativa nos termos do art. 167º mesmo no que
diz respeito a matéria de reserva absoluta. Mas considerando isso possível,
haveria que ter em conta o artigo 168º, nº2 e nº4 e revestindo esta a forma de
uma lei orgânica ao abrigo do artigo 166º, nº2, ela carece de aprovação final
global por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (pelo

24
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

menos 116 deputados) – art. 168º, nº5 – 114 deputados não foram suficientes
para aprovar a lei orgânica. Sendo uma lei orgânica, o PR não pode
promulgar imediatamente – promulgação vedada.

a) Aprecie as diversas questões jurídico-constitucionais relevantes.

b) A iniciativa legislativa que o Governo apresentou em Outubro poderia


antes ser uma proposta de lei de bases? E poderia o Governo desenvolvê-la?

Não.

Leis de base – AR – valor reforçado especifico; Governo faz decretos-lei de


desenvolvimento. Em que circunstâncias o Governo poderá fazer decretos-lei de
bases?

- Matéria concorrencial

- Mediante uma lei de autorização legislativa – decreto-lei de bases autorizado


mediante 165º (regime geral, bases, etc.)

c) Na última frase do caso prático, em lugar de promulgar, poderia o PR ter


vetado o diploma?

Sim. Só a promulgação é que é vedada nos termos do art. 278º, nº7.

Caso prático n.º 12


No dia 1 de Janeiro de 1999, o Governo aprova um Decreto-Lei A que
autoriza a sindicalização dos agentes da PSP, mas que proíbe o exercício do
direito à greve na corporação.
Isto é matéria do art. 164º, o) – é especial em relação ao artigo 165º, b). – art.
270º.
O Governo não pode aprovar – inconstitucionalidade orgânica.
Ao abrigo do artigo 200º, nº1, d), compete ao CM aprovar dos decretos-leis.
Tendo o diploma dado entrada no dia 14 do mesmo mês na Presidência da
República para promulgação, decidiu o PR suscitar a fiscalização da
constitucionalidade no dia 23 junto do TC, indicando, no pedido, as normas
constitucionais que no seu entender teriam sido ofendidas.
Compete ao PR promulgar os diplomas ao abrigo do artigo 134º, b).

25
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

O PR tem 40 dias, ao abrigo do artigo do 136º nº4, para promulgar mas


também pode enviar ao TC no prazo do artigo 278º, ao abrigo do artigo 136º
nº5).
Segundo o artigo 278º, nº3 o PR teria apenas 8 dias para requerer a
apreciação preventiva da constitucionalidade do decreto-lei e ele só o fez
passado 9 dias.
O PR tem sempre que dizer quais são as normas ordinárias que violam as
normas constitucionais (normas violadoras e normas ofendidas), através do
artigo 51º nº1 da Lei do TC, este tribunal está sujeito ao princípio do pedido,
só pode avaliar o que lhe foi pedido, mas pode fazê-lo com fundamentação na
violação de normas ou princípios constitucionais diversos daqueles cuja
violação foi invocada, segundo o artigo 51º nº5 da Lei do TC.

No dia 20 de Fevereiro, este Tribunal, embora se tenha pronunciado pela


ilegalidade do diploma, estimou que o mesmo padecia de uma simples
irregularidade, derivada da existência de um vício de competência de
carácter não fundamental, pelo que estaria apto a produzir os seus efeitos
jurídicos válidos.
Fiscalização Preventiva - segundo o artigo 278º, nº8 o TC deve pronunciar-se
no prazo de 25 dias (aqui passaram 28 dias).
Ilegalidade do diploma - são os processos de fiscalização sucessiva (concreta
e abstrata), só nesses é que há fiscalização da legalidade e da
constitucionalidade. O tribunal pronunciou-se pela ilegalidade do diploma –
por um lado o que tinha sido solicitado foi que ele avaliasse a
constitucionalidade (princípio do pedido 51º, nº5 – lei do TC), por outro lado
no art. 278º a fiscalização preventiva só pode ser por fiscalização da
constitucionalidade (diferença com o art. 271º, b)).
Simples irregularidade - a constitucionalidade reserva o desvalor da
irregularidade nas situações do artigo 277º, nº2.
Efeitos da fiscalização preventiva – artigo 279º.
O PR, em consequência, promulgou o diploma no dia 30 de Abril, entrando o
mesmo imediatamente em vigor.

26
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

O PR teria apenas 20 dias para promulgar o diploma, ao abrigo do artigo


136º, nº1.
No dia 1 de Outubro, um grupo de seis deputados requereu a apreciação
parlamentar do Decreto-Lei A para efeitos da sua alteração, tendo na
sequência desta iniciativa, o mesmo diploma sido objecto de diversos
aditamentos, aprovados na especialidade e em votação final global por
maioria absoluta dos deputados presentes.
Nos termos do art. 169º, nº1 para alteração dos decretos-lei têm de requerer
pelo menos 10 deputados, sendo que também passaram mais de 30 dias
desde a publicação do decreto-lei.
Decreto-Lei A para efeitos da sua alteração – é possível como objeto de
apreciação parlamentar.
Isto é matéria do 164º, alínea o) – então temos o artigo 168º, nº6, e) – maioria
específica de aprovação. E é uma matéria que, segundo o artigo 168º nº4 –
tem de ser obrigatoriamente votada na especialidade em plenário.
Na Lei B, que alterou o Decreto-Lei A, determinou-se que os sindicatos da
PSP, não se poderiam filiar em qualquer central sindical, cominando-se a
sanção da expulsão da corporação para todos os dirigentes que
contrariassem esta proibição.
O artigo 164º, o) é especial em relação ao artigo 165º, b).
Está aqui em causa o direito – art. 156º.
A Lei B foi promulgada e entrou em vigor em Setembro de 1999.

Comente.

Caso prático n.º 13

Em Janeiro de 2009 o CM aprovou um projeto de Decreto-Lei sobre a


matéria do contrato promessa. O diploma é vetado pelo PR e enviado para o
Governo que decide confirmá-lo.
A matéria do contrato promessa é matéria concorrencial, pois não se
encontra designada nos artigos 164º, 165º e 198º, nº2. Assim, está aqui

27
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

presente o princípio da paridade (art. 112º, nº2, primeira parte) – tanto a AR


como o Governo podem legislar e existe mútua revogabilidade. O CM aprova
decretos-lei, segundo o artigo 200º, nº1, d). Ao abrigo do artigo 136º, nº4, o
PR poderia vetar o diploma no prazo de 40 dias, no entanto, como o Governo
não é um órgão eleito, nem representativo, não poderia confirmar o diploma
(art. 136º refere-se à AR e não ao Governo). Este diploma é, então,
inexistente com base no art. 137º (falta de promulgação e a referenda).

Após a sua publicação no Diário da República e antes do termo da “vacatio


legis”, a AR aprovou um diploma sobre a mesma matéria, que
expressamente revogava o referido Decreto-Lei, por entender que não estava
suficientemente acautelada a segurança do comércio jurídico.
O facto de ter decorrido o tempo da vactio legis neste efeito não interessa. A
AR podia ter aprovado este diploma porque existe a mútua revogabilidade
uma vez que o princípio da paridade se aplica a leis e decretos-lei em
matéria concorrencial.
Entendendo não ser correta a opção de política legislativa da AR, o Governo
decidiu emitir um novo Decreto-Lei sobre a matéria em causa, e solicitar ao
TC a apreciação da constitucionalidade da Lei da AR, com fundamento na
violação do dever constitucional de audição das Regiões Autónomas.
O Governo podia fazer isto, uma vez que é matéria concorrencial, estando
subjacente o princípio da paridade e, consequentemente, mútua
revogabilidade.
Temos aqui presente o processo de fiscalização sucessiva abstrata (art. 281º
e 282º) – nos termos do art. 281, nº2, c) o PM (em nome do Governo) podia
solicitar então a fiscalização ao TC – tratar-se-ia de inconstitucionalidade
formal, mas só há inconstitucionalidade nos casos do 229º, nº2.
*Art. 281º - alíneas a) a f) – irrelevante para efeitos de legitimidade o
fundamento com que enviam para o TC; já na alínea g) não é assim.

28
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Cinco deputados à Assembleia da República requereram a apreciação


parlamentar do segundo dos Decretos-Leis referidos. A AR decidiu recusar a
sua apreciação e decidiu repristinar a lei por este revogada.
Art. 169º - teriam que ser pelo menos 10 deputados.
Só a alteração ou a cessação da vigência podem ser objeto de apreciação
parlamentar.
(repristinação = lei volta outra vez a vigorar)
Consequências do art. 169º.

*O Governo pode legislar no âmbito do art.198º, nº1.


*A AR pode legislar no âmbito do art. 161º, c) (exceto as do 198º, nº2).
*A matéria concorrencial é definida por exclusão de partes.

Caso prático n.º 14

O PR, em visita privada, há seis dias, em Las Palmas, deu instruções


telefónicas ao seu Chefe de Gabinete para que solicitasse a fiscalização
preventiva da constitucionalidade da Resolução da AR através da qual se
recusava a apreciação de um Decreto-Lei relativo a matérias previstas no nº
2 do artigo 198º.
Relativamente à ausência do território nacional por parte do PR, em visita
privada durante seis dias, este de acordo com o artigo 129º nº1 não poderá
ausentar-se do território nacional sem o assentimento da AR ou da sua
Comissão permanente, e em que, de acordo com o nº2, o assentimento é
dispensado nos casos de passagem em trânsito ou de viagem sem caráter
oficial de duração não superior a cinco dias, porém deverá dar prévio
conhecimento à AR. Caso isto não aconteça, poderá perder o seu cargo de
acordo com o nº3. Assim, a sua visita é uma visita com caráter temporário
superior a cinco dias, sendo uma visita de matéria prevista no nº1 do mesmo
artigo, necessitando de dar conhecimento e ter assentimento da AR. O
decreto-lei relativo às matérias previstas no artigo 198º nº2 pertence a
matéria de reserva exclusiva do Governo, sendo este o único órgão com

29
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

competência para legislar sobre esta matéria. Sendo que de acordo com o
art. 169º nº1 primeira parte, o único caso em que os decretos-lei não podem
ser submetidos a apreciação parlamentar são os relativos à exclusiva
competência do Governo (e se o caso fosse de fiscalização sucessiva abstrata?
as resoluções da AR poderiam ser submetidas a apreciação? sim podiam).
Esta proposta de decreto-lei será submetida a discussão e aprovação em
Conselho de Ministros de acordo com o art. 200º nº1 alínea d). Após a sua
aprovação é assinado pelo Primeiro-Ministro e pelos ministros competentes
em razão da matéria, de acordo com o art. 201º nº3. Consecutivamente, será
enviado para promulgação por parte do PR. Contudo, este por se encontrar
ausente do território nacional deu instruções telefónicas ao seu Chefe de
Gabinete para que solicitasse a fiscalização preventiva da
constitucionalidade da Resolução da AR através da qual se recusava a
apreciação de um Decreto-Lei relativo a matérias previstas no artigo em
questão. Contudo isto não será possível, pois de acordo com o artigo 132º nº1
quem assume as funções do PR, interinamente e na sua ausência, é o
Presidente da AR, ou o substituto deste caso exista impedimento, sendo que
a sua ação esta prevista no art. 139º. Verifica-se uma inconstitucionalidade
formal, sendo que também é orgânica pois de acordo com o artigo 281º nº2, o
Chefe de Gabinete do PR não possui competência para requerer ao TC a
fiscalização preventiva da constitucionalidade. Salientando-se que no pedido
de fiscalização, o PR só pode pedir a apreciação da fiscalização preventiva
dos diplomas que lhe chegam para ato de promulgação.
O TC declarou-se incompetente para apreciar a referida resolução, mas
optou antes por apreciar uma Lei de Autorização legislativa entretanto
aprovada pela AR.
Art. 278º, nº1 – de facto não refere “resoluções da AR”.
Nos termos da lei do TC do artigo 51º, nº1 e nº5, o TC está vinculado ao
princípio do pedido, logo, não poderia optar antes por apreciar uma lei de
autorização legislativa.

Caso prático n.º 15

30
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Imagine que em 30 de Setembro de 2007 a AR aprova uma Lei de


Autorização pela qual habilita o Governo a legislar em matéria de
expropriações por utilidade pública, por um prazo de dois anos.
A matéria relativa às expropriações por utilidade pública, encontra-se
presente no artigo 165º nº 1 alínea e) parte sendo à matéria de reserva
relativa da AR, o que permite que esta de acordo com o artigo 161º alínea d)
conferir ao governo autorizações legislativas em matéria de reserva relativa
e consecutivamente de acordo com o artigo 198º nº1 alínea b). De acordo com
o artigo 165º nº2 relativamente aos elementos temos o objeto e a duração,
faltando a extensão e o sentido.

O diploma foi aprovado na generalidade, na especialidade e em votação final


global com 80 votos a favor e 40 votos contra.
Art. 168º, nº2
A AR podia funcionar porque estava verificado o quórum de funcionamento
– art. 116, nº2 (pelo menos 116 deputados) e também se verificou o quórum
deliberativo (art. 116º, nº3).

Enviado para o PR, este entendeu requerer a fiscalização preventiva da


constitucionalidade dos artigos 2.º e 3.º do decreto, por os mesmos lhe
suscitarem dúvidas sobre a sua constitucionalidade.
O PR pode requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade, nos
termos do artigo 134º, g), 136º, nº5 e do artigo 278º. Como é que é
apresentado este pedido? O artigo 51º nº1 diz quais são as normas violadoras
e não diz quais são as normas violadas, sendo que para suprir as deficiências
o PR notifica o autor do pedido e caso não o faça aplica-se o nº2, sendo que o
prazo para que isso ocorra esta previsto no artigo 57º nº3.

O TC pronunciou-se no sentido da inconstitucionalidade das normas cuja


apreciação lhe foi solicitada e ainda do artigo 7.º do decreto.

31
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

O TC podia pronunciar-se no sentido a inconstitucionalidade apenas acerca


dos artigos que lhe foram solicitados e não sobre o artigo 7º do decreto, uma
vez que está vinculado ao princípio do pedido, nos termos do artigo 51º, nº1 e
nº5 da Lei do TC.
Devolvido o diploma à AR esta decide expurgar as referidas normas. O
decreto foi promulgado pelo PR e publicado em DR no dia 7 de Janeiro de
2008, tendo entrado em vigor no dia da sua publicação.
De acordo com o artigo 279º nº1 e nº2 , caso o TC se pronuncie pela
inconstitucionalidade do diploma, o diploma deve ser vetado pelo PR e
devolvido ao órgãos que o tiver aprovado e por sua vez esse mesmo decreto
não poderá ser promulgado ou assinado sem que o órgão que o tiver apoiado
expurga a norma julgada inconstitucional ou quando for o caso disso, o
confirme por maioria de dois terços dos deputados presentes, desde que
superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções, de
acordo com o artigo 279º nº2. Após a sua reformulação, o PR fez de uso da
sua competência para promulgação de acordo com o artigo 134º alínea b),
seguidamente pensa-se e deverá ter enviado o mesmo diploma para
referenda ministerial de acordo com o artigo 140º para que não exista a falta
e consequência jurídica no previsto pelo artigo 137º, e só após referenda é
que o diploma poderá ser publicado em DR no dia 7 de janeiro de 2008, de
acordo com o artigo 119º nº1 alínea c). Contudo, verifica-se uma
inconstitucionalidade material na medida em que não é possível que um
decreto-lei entre em vigor no mesmo dia da sua publicação, ou seja existe um
período que medeia entre a publicação do diploma e a sua entrada em vigor,
a que se dá o nome de vacatio leges, sendo que esta formalidade do processo
legislativo não afeta a validade do ato legislativo, determina apenas na sua
falta, a ineficácia jurídica, isto é, o ato já existe juridicamente, só não produz
efeito, de acordo com o artigo 119º nº2.

Em 30 de Setembro de 2009, com base na Lei de Autorização, o Governo


aprova, em reunião de Conselho de Ministros (CM) - art. 200º nº1 alínea d) +
competência do Governo prevista no artigo 198º nº1 alínea b), o Decreto-Lei

autorizado “X” que estabelece o novo regime das expropriações por utilidade
pública afastando-se, contudo, do disposto na Lei de Autorização —
inconstitucionalidade orgânica + ilegalidade por violação da lei de valor
reforçado específico (art. 112º nº2 segunda parte), para além da
inconstitucionalidade indireta porque este princípio constitucional
estabelece uma relação de subordinação entre uma lei de autorização e um
decreto lei autorizado. No dia 6 de Janeiro de 2010, - relativamente ao prazo
32
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

é que o diploma a 6 de janeiro o Governo ainda tem competência, sendo que


o prazo de 2 anos era o tempo para o Governo legislar ou era para termos o
decreto-lei publicado? Se for para o Governo aprovar o dia 6 está ótimo, se
for para determinar todo o processo legislativo não vamos a tempo - o
Governo aprova, em reunião de CM o Decreto-Lei autorizado “Y” que revoga
o primeiro Decreto-Lei emitido sob autorização legislativa. Nesta situação,
verifica-se um desrespeito pelo artigo 165º nº3 que define que as
autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de que uma vez, sem
prejuízo da execução parcelada, verificando-se uma inconstitucionalidade
orgânica, pois o governo fez uso duplo da autorização legislativa da AR para
legislar sobre matéria do decreto-lei em questão, uma vez que o segundo
decreto veio revogar o primeiro, não existindo execução parcelar.
Consecutivamente, a execução parcelar é possível de acordo com o artigo
165º nº3.
1. Imagine agora que, na vigência da autorização, o sentido da Lei de
Autorização é alterado pela AR. O que aconteceria ao decreto-lei autorizado
que com ela se tornasse desconforme?
De uma forma geral, caso este decreto-lei não estivesse inserido na matéria
de reserva concorrencial nem na matéria prevista pelo artigo 165º nº1
alíneas d); e), h), m), aa), o que aconteceria era que o decreto-lei autorizado
viria a ser revogado pelo sentido da lei de autorização da AR, uma vez que a
lei de autorização é uma lei de base de valor específico em relação ao
decreto-lei autorizado que é um decreto-lei de bases autorizado, o que faz
com que o decreto-lei autorizado esteja subordinado ao decreto de
autorização da AR, pois as leis de bases são hierarquicamente superiores aos
decretos-lei de desenvolvimento e decretos legislativos regionais, de acordo
com o artigo 112º nº2. Contudo, o que acontece é que o Governo dispõe de
competência para fazer um decreto-lei de base.
Como é que nos aparecem as leis de autorização? Da iniciativa do Governo, o
que faz com que não faça muito sentido que passamos a ter uma nova lei de
autorização. Contudo, caso a AR tenha terminado a sua legislatura, essa
mesma autorização caduca.

Caso prático n.º 16

Imagine que a AR aprova uma Lei que estabelece as bases gerais do


ordenamento do território e do urbanismo. O Governo desenvolve estas

33
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

bases através de resolução do CM sem, no entanto, respeitar as opções


político-legislativas fundamentais estabelecidas na Lei da AR.

1. Analise a situação, explicando que tipo de inconstitucionalidade


encontra e quais os desvalores dos atos.
Matéria de reserva relativa - art.165º, nº1, z).
Esta é uma lei de bases feita pela AR e o Governo pode desenvolver as bases
nos termos do 198º, nº1, c) fazendo um decreto-lei de desenvolvimento (e não
uma resolução do CM).
Os vícios presentes são: inconstitucionalidade e ilegalidade, na medida em
que há um desrespeito pela lei de bases de valor específico, pois a lei de
bases é hierarquicamente superior ao decreto-lei de desenvolvimento.

2. Suponha que se trata de uma matéria concorrencial. Neste caso, fará


sentido a subordinação do Decreto-Lei de desenvolvimento à Lei de Bases?
Não, porque em matéria concorrencial o Governo adquire competência
legislativa para fazer um decreto-lei de desenvolvimento mediante
autorização da AR e a sua aprovação de uma lei de bases. O Governo tem
três hipóteses:
• o Governo pode aprovar o regime total num decreto-lei ao abrigo do
art. 198 nº1 alínea a)
• o Governo pode também fazer um decreto-lei de bases juntamente
com um decreto-lei de desenvolvimento de acordo com o artigo 198º
nº1 alínea a) e c), sendo esta hipótese a que faz menos sentido
• a última hipótese é o facto de o Governo fazer um decreto-lei de
desenvolvimento de acordo com o artigo 198º nº1 alínea c).

3. Imagine agora que o Governo, discordando em absoluto da Lei de


Bases da AR, aprova um Decreto-Lei que estabelece as bases gerais do
ordenamento do território e do urbanismo e desenvolve o respectivo regime,
revogando as disposições da Lei de Bases da AR. Comente.
Esta matéria não é de matéria concorrencial, é matéria de reserva relativa
ao abrigo do artigo 165º, nº1, z), logo o Governo só poderia aprovar um
decreto-lei mediante uma autorização legislativa da AR. Neste caso, não
estava presente o princípio da paridade nem a mutua revogabilidade.
34
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Caso prático n.º 17

O PR recebeu para promulgação os diplomas seguintes:


⎯ Um projeto de Decreto-Lei com a referência de ter sido aprovado pelo
Primeiro-Ministro e contendo as assinaturas do Primeiro-Ministro e do
Ministro da Administração Interna, relativo à organização e funcionamento
do Governo;
Matéria de reserva exclusiva do Governo (artigo 198º nº2). Este decreto do
Governo, de acordo com o artigo 200º nº 1 alínea d) tinha que ter sido
aprovado pelo CM, tendo que estar preenchido o quórum de funcionamento
(art. 116º nº2). Sendo que quando esta em casa nesta matéria devem assinar
todos os ministros de acordo com o artigo 201º nº3.

⎯ Um projeto de Decreto Regulamentar do Governo que, invocando a


Lei de Autorização Legislativa X da AR, pretendia limitar o direito de
expressão dos sargentos de todas as praças militares do país (artigo 164º,
alínea o) – artigo 270º), os quais poderiam apenas subscrever artigos em
órgãos de comunicação social e escrita, após prévia autorização dos seus
superiores hierárquicos;
Um decreto regulamentar não chega ao PR para promulgar.
As leis de autorização levam a decretos-lei autorizados e não
regulamentares.
Relativamente ao direito de expressão, esta matéria pertence à reserva
absoluta de acordo com o artigo 164º alínea o) e 270º e devemos discutir a
questão materialmente em todos os parâmetros no artigo 18º.

⎯ Um projeto de Decreto Legislativo Regional dos Açores, sobre o


estatuto açoriano dos magistrados judiciais, invocando Lei de Autorização Y,
que tinha por objecto a reorganização dos tribunais e do Ministério Público e
os estatutos dos respectivos magistrados.
Este diploma nunca chegaria ao PR, mas ao RR para assinar.

35
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Problema de competência: matéria do artigo 165º, nº1, alínea p) é uma


matéria excecionada pelo artigo 227º, nº1, alínea b) – não pode haver
autorização nesta matéria.

a) Suponha que o Decreto Regulamentar referido segue os seus termos


até final. O Sargento Alvega pretende reagir contra o diploma por o
entender cerceador das suas liberdades. O que poderá fazer?
Ele não pode dirigir-se diretamente ao TC, em sede de fiscalização sucessiva
abstrata, o que ele pode fazer é remeter-se para a fiscalização sucessiva
concreta, recorrendo aos Tribunais.

b) O PR quer pedir a fiscalização preventiva do último diploma referido.


Pode utilizar esse poder?
Não, porque só pode pedir a fiscalização preventiva de diplomas que lhes são
enviados para promulgação ou vetar politicamente, para além de já termos
visto que as RA através dos decretos legislativos regionais não têm
competência para legislar sobre esta alínea do artigo 165º alínea p).

Caso prático n.º 18

A Assembleia Municipal de Bragança aprovou uma postura sobre


apascentação e divagação de animais, que não indica a lei ao abrigo da qual
terá sido editada, por não existir, podendo ler-se no artigo 1º: É
expressamente proibida a estabulação ou pernoita de gado lanígero ou
caprino dentro das povoações, sob pena de ser aplicada ao transgressor a
coima de 25 Euros a 125 Euros.

António Manuel Pastor é acusado de ter infringido este preceito, sendo-lhe


movido processo a decorrer no Tribunal Judicial da Comarca de Bragança.

Suponha que é procurado no seu escritório pelo referido cidadão que


pretende resposta a um conjunto de questões, a saber:
Uma postura não é um ato legislativo, é um regulamento, segundo o
princípio da tipicidade. A postura era sobre a apascentação e divagação de
36
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

animais, que não indica a lei ao abrigo da qual terá sido editada - art. 112.º
nº7 – inconstitucionalidade entre art. 112.º nº6 e 7 - no caso dos
regulamentos independentes é a própria constituição o documento
habilitante.
Alguém que tem animais não os pode ter dentro das povoações (matéria de
reserva relativa) art. 165.º - dentro dos DLG está em causa o direito de
circulação (artigo 44.º) e art 61.º (liberdade de iniciativa privada).
a) As normas da referida postura poderiam ter sido objecto de
fiscalização preventiva? Porquê?
Não. Só podem ser objeto de fiscalização preventiva as convenções
internacionais, as leis e decretos-lei, decretos-lei regionais e decretos
regionais, nos termos do artigo 278º, nº1 e nº2.
A fiscalização preventiva tem como objeto atos que constam nos diplomas, ao
PR para efeitos de promulgação ou ao RR para efeitos de assinatura.
Destina-se a prevenir inconstitucionalidades grosseiras no que diz respeito
aos diplomas que virão a ser atos legislativos. Qualquer norma pode ser
objeto de fiscalização concreta.
b) Poderia um cidadão pedir a declaração de inconstitucionalidade desta
norma?
Não. Art 281.º. Qual o tipo de fiscalização? Quando se fala em declaração,
estamos a falar de um acórdão de fiscalização sucessiva abstrata que resulta
do artigo 281.º n.º2. É aliás sabido que em Portugal não existe queixa
constitucional ou recurso de amparo. Art 52.º, nº1 da lei do TC (não
admissão do pedido).

Caso prático n.º 191

Imagine que o TC recebe, para apreciação da inconstitucionalidade por


omissão, um requerimento de 10 Deputados, solicitando a apreciação da
inconstitucionalidade por omissão por falta das medidas legislativas
necessárias para conferir plena exequibilidade, no que aos trabalhadores da

1 Cfr. Acórdão TC n.º 474/2002

37
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

função pública diz respeito, ao disposto na alínea e) do n.º 1 do artigo 59.º da


CRP, uma vez que o Decreto-Lei n° 79-A/89, de 13 de Março, institui apenas
como beneficiários do designado «subsídio de desemprego», os trabalhadores
vinculados pelo regime jurídico privado decorrente do contrato individual de
trabalho.
O requerimento para apreciação da inconstitucionalidade por omissão não
pode ser feito pelos 10 Deputados, nos termos do artigo 283º, nº1 da CRP.

O TC verifica a inconstitucionalidade por omissão parcial, ordenando à AR a


aprovação das medidas legislativas necessárias no prazo máximo de 30 dias.
Depois de verificada a inconstitucionalidade por omissão, o TC deverá dar
conhecimento ao órgão legislativo competente, segundo o artigo 283º, nº2.
Comente.

Imagine que o TC recebe, para apreciação da inconstitucionalidade por


omissão, um requerimento de 10 Deputados- solicitando a apreciação da
inconstitucionalidade por omissão por falta das medidas legislativas
necessárias para conferir plena exequibilidade, no que aos trabalhadores da
função pública diz respeito, ao disposto na alínea e) do n.º 1 do artigo 59.º da
CRP, uma vez que o Decreto-Lei n° 79-A/89, de 13 de Março, institui apenas
como beneficiários do designado «subsídio de desemprego», os trabalhadores
vinculados pelo regime jurídico privado decorrente do contrato individual de
trabalho.
O artigo 67.º da Lei do TC manda aplicar disposições em matéria de
fiscalização abstrata. O artigo 62.º refere expressamente as matérias do
artigo 281.º. E quanto ao objeto? Passível de fiscalização por omissão? Esta
inconstitucionalidade tem que partir da omissão de medidas legislativas
necessárias para tornar exequíveis normas constitucionais, nomeadamente
normas não exequíveis por si mesmas (art. 59.º n.º1 - é um DESC e dentro
dos mesmos é um direito económico que normalmente estão previstos
através de normas programáticas, necessariamente não exequíveis por si
mesmas, logo, é passível de fiscalização por omissão) (distinção entre:

38
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

normas percetivas – só falta a intervenção do legislador ordinário ou


programáticas - exige a intervenção da função administrativa).
O TC verifica a inconstitucionalidade por omissão parcial, ordenando à AR a
aprovação das medidas legislativas necessárias no prazo máximo de 30 dias.
Comente.
Está identificado àquilo que é um mínimo de existência condigna (art. 1.º da
dignidade da pessoa humana), um mínimo de subsistência e o subsídio de
desemprego cumpre esse mínimo. Não há uma inconstitucionalidade total,
mas uma omissão parcial. Relativamente aos 30 dias, interferia nos termos
do art. 283.º n.º 2 – acórdão de verificação. O TC deve dar conhecimento a
um órgão legislativo competente, a AR – art. 165.º n.º1 alínea f). Art. 283.º
nº2: ao contrário do que acontecia entre 1976 e 1982, em que o órgão
competente era político e recomendava, isto agora seria uma violação do
princípio da separação de poderes e liberdade de oportunidade da função
legislativa.

Caso prático n.º 20

O Governo decidiu aprovar um Decreto-Lei autorizado sobre o estatuto das


empresas públicas. Este diploma foi publicado imediatamente antes da
dissolução da anterior AR, mas aprovado após aprovação da moção de
censura que levou à demissão do Governo. De facto, alegou o Governo que o
Decreto-Lei se enquadrava no programa do governo actual, e que,
consequentemente, se sanariam quaisquer vícios de que pudesse enfermar.

Desta posição discordou um grupo parlamentar, que requereu ao TC a


fiscalização da constitucionalidade do diploma e, desde logo, a suspensão dos
seus efeitos.

1. Comente todos os aspectos relevantes do ponto de vista jurídico-


constitucional.

39
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

2. Poderá o TC, chamado a pronunciar-se sobre a constitucionalidade do


Decreto-Lei autorizado, apreciar também a Lei de Autorização?

O Governo decidiu aprovar um Decreto-Lei autorizado sobre o estatuto das


empresas públicas – art. 165.º n.º1 alínea u) que reserva para a AR as bases
do estatuto das empresas públicas. Podia haver este decreto-lei autorizado?
O Governo pode pedir uma autorização legislativa. Se está aqui a
autorização, ele precisa dela, ou seja, precisa dela para legislar um diploma
de bases porque se for só um decreto-lei de desenvolvimento o Governo tem
autonomia suficiente (art. 198º, nº1, c)). Este diploma foi publicado
imediatamente antes da dissolução da anterior AR, mas aprovado após
aprovação da moção de censura que levou à demissão do Governo. O que
levou à demissão do Governo? Partindo do princípio de que houve a maioria
prevista no 195.º n.º1 alínea f), diz o artigo 165.º n.º4 que opera a caducidade
da autorização legislativa. De facto, alegou o Governo que o Decreto-Lei se
enquadrava no programa do governo atual, e que, consequentemente, se
sanariam quaisquer vícios de que pudesse enfermar. Que vicio tem?
Inconstitucionalidade orgânica, o Governo não tem competência para
elaborar um decreto-lei com base naquela autorização a partir do momento
que caducou (artigo 165.º n.º4).

Desta posição discordou um grupo parlamentar, que requereu ao TC a


fiscalização da constitucionalidade do diploma e, desde logo, a suspensão dos
seus efeitos. Que tipo de fiscalização é esta? A partir do momento em que é
publicado, é sucessiva e não temos informação que é concreta, por isso, é
abstrata. Quem pode suscitar? Grupos parlamentares não são deputados e
teriam que ser 1/10 dos deputados da AR , ou seja pelo menos 23 – art. 281º
n.º2, f). Suspensão dos efeitos? Não há na lei do TC. Mas os grupos
parlamentares podem solicitar a fiscalização da constitucionalidade nos
termos do 281.º nº2, usando o instituto de apreciação parlamentar - artigo
169º n.º1 e 227º n.º4 (ressalvando os decretos-lei de reserva exclusiva do
Governo, que não é o caso). Quem pode pedir uma apreciação parlamentar?

40
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

A requerimento de pelo menos 10 deputados, 30 dias subsequentes à


publicação - art 169º n.º1. Art. 160º, nº2 - suspensão de decretos-lei
autorizados e na condição de serem apresentadas propostas de alteração.

1.Poderá o TC, chamado a pronunciar-se sobre a constitucionalidade do


Decreto-Lei autorizado, apreciar também a Lei de Autorização? Princípio do
pedido, o TC não pode ir além do que lhe for solicitado pela entidade
requerente, princípio da passividade. Tribunal não pode apreciar a
inconstitucionalidade eventual da lei de autorização que se designa por
inconstitucionalidade antecedente da lei de autorização - argumentos a
favor: celeridade processual.

Caso prático n.º 212

No dia 28 de Julho de 2006, um grupo de 31 Deputados à AR requereu ao


TC a declaração, com força obrigatória geral, da inconstitucionalidade da Lei
n.º 32/2006, de 26 de Julho (Lei da Procriação Medicamente Assistida), com
fundamento na ilegalidade e na inconstitucionalidade formal e material de
diversas normas.
Fundamentaram o pedido no seguinte:
a) O diploma questionado foi enviado para o Presidente da República
para promulgação, imediatamente a seguir à fixação da redacção final do
texto legal, antes de ter decorrido o prazo que assiste aos Deputados para
apresentar reclamação do texto final, violando o disposto no Regimento da
Assembleia da República (RAR).
b) A Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho também apresenta vários problemas
de inconstitucionalidade material e de violação da Convenção de Oviedo e da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, que, por via do artigo 8.º da
CRP, fazem parte do ordenamento jurídico português.


2
Cfr. Acórdão TC n.º 101/2009

41
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

c) O artigo 4.º, ao admitir o recurso à procriação medicamente assistida


com vista à eugenia, viola o disposto nos artigos 24.º, 25.º, 26.º, n.º 3 e 13.º,
n.º 1 da CRP.

Assim:
1. Que considerações lhe suscita o presente caso prático?
2. Na hipótese de o TC se pronunciar pela inconstitucionalidade das
normas objecto de apreciação, que atos poderá praticar a AR?
3. Imagine agora que o TC declarou a inconstitucionalidade do
diploma e:
⎯ Adiou a produção dos seus efeitos para 2008;
⎯ Ressalvou os casos julgados.

Comente.
No dia 28 de Julho de 2006, um grupo de 31 Deputados (artigo 281º nº2,
alínea f) à caso de fiscalização sucessiva abstrata, efeitos do artigo 282º, os
casos do nº 2 aplicam-se aos casos supervenientes) à AR requereu ao TC a
declaração, com força obrigatória geral, da inconstitucionalidade da Lei n.º
32/2006, de 26 de Julho (Lei da Procriação Medicamente Assistida), com
fundamento na ilegalidade e na inconstitucionalidade formal e material de
diversas normas. (matéria de reserva relativa, artigo 165º nº1 alínea b),
direito de constituir família, artigo 36º).
d) O diploma questionado foi enviado para o Presidente da República
para promulgação, imediatamente a seguir à fixação da redação final do
texto legal, antes de ter decorrido o prazo que assiste aos Deputados para
apresentar reclamação do texto final, violando o disposto no Regimento da
Assembleia da República (RAR). Vício: não é um caso de
inconstitucionalidade formal porque não vem do texto da CRP.
e) A Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho também apresenta vários problemas
de inconstitucionalidade material e de violação da Convenção de Oviedo e da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, que, por via do artigo 8.º da
CRP, fazem parte do ordenamento jurídico português.

42
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

f) O artigo 4.º, ao admitir o recurso à procriação medicamente assistida


com vista à eugenia, viola o disposto nos artigos 24.º, 25.º, 26.º, n.º 3 e 13.º,
n.º 1 da CRP. Discussão da situação à luz do artigo 18º, requisitos de
restrição de direitos.

Assim:
4. Que considerações lhe suscita o presente caso prático?
5. Na hipótese de o TC se pronunciar pela inconstitucionalidade das
normas objecto de apreciação, que atos poderá praticar a AR?
6. Imagine agora que o TC declarou a inconstitucionalidade do
diploma e:
⎯ Adiou a produção dos seus efeitos para 2008; (não pode adiar a
produção dos efeitos depois da declaração) à o TC, nos casos das normas do
orçamento, prolongou por 1 ano e só passado esse período de tempo é que a
declaração começou a produzir efeitos.
⎯ Ressalvou os casos julgados. (artigo 282º nº3 - só teria que dizer
alguma coisa em situação inversa, apenas nos casos deste artigo)

Comente.

Caso prático n.º 22

Em 19 de Junho de 2009, o Governo aprovou um diploma (Decreto-Lei n.º


123/09) através do qual pretendia limitar o direito de expressão dos
sargentos de todas as praças militares do país, (matéria de reserva absoluta,
artigo 164º alínea o), está presente no 270º à maioria específica de votação,
artigo 168º nº6) os quais poderiam apenas subscrever artigos em órgãos de
comunicação social e escrita, após prévia autorização dos seus superiores
hierárquicos. (importante discutir se é restrição ou condicionamento: a
doutrina diz que há um fio condutor entre condicionamento e restrição que
não admite distinção, na estrita medida no desempenho das funções)

43
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Por ter publicado um artigo sem a exigida autorização prévia, António foi
constituído arguido em processo disciplinar e suspenso por 6 meses.
Inconformado, recorreu para o Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa
e, no decurso do processo, invocou a inconstitucionalidade do Decreto-Lei n.º
123/09 por violar o direito de manifestar livremente a opinião. (exceção de
inconstitucionalidade, fiscalização sucessiva concreta incidental)

No entanto, o juiz da causa, considerando-se incompetente para apreciar


questões de inconstitucionalidade (pelo artigo 204º, não só permite esta
competência como obriga que o juiz aprecie a conformidade das normas com
a CRP, pelo que o juiz devia ter-se pronunciado sobre a
inconstitucionalidade da norma), suspende a instância e remete o processo
ao Tribunal Constitucional para que este se pronuncie sobre a matéria.

1. Suponha agora que o juiz que está a julgar a causa aplica o Decreto-Lei
n.º 123/09 no respectivo processo por não o julgar inconstitucional. Poderá
António recorrer para o Tribunal Constitucional? António pode recorrer, o
recurso é por exaustão, com base no artigo 280º, nº1, alínea b); Lei do TC
artigos 70º e 72º. E o Ministério Público? Poderia recorrer (artigo 72º nº2
alínea a) da Lei do TC, mas não é obrigatório porque não estamos nos casos
do artigo 280º nº3 e nº5; há uma possibilidade de recurso mas não uma
obrigatoriedade de recurso). Qual seria o âmbito desse recurso? Artigo 280º
nº6, CRP e o artigo 71º da Lei do TC. Se não tivesse sido o António a recorrer
mas sim o MP? Este recurso aproveita, nos termos do artigo 74º da Lei TC,
a todos os que tiverem legitimidade para recorrer.
2. Se o Tribunal Constitucional vier a julgar o Decreto-Lei n.º 123/09
inconstitucional quais serão os efeitos da sua decisão? Caso de fiscalização
sucessiva concreta, por isso são efeitos inter partes, há uma desaplicação da
norma, artigo 80 nº2, Lei do TC; necessidade de reforma de decisão do
tribunal ad quo.
3. Imagine agora que António foi absolvido pelo Tribunal Administrativo
de Círculo de Lisboa, que desaplicou o Decreto-Lei n.º 123/09 por o

44
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

considerar inconstitucional. O Ministério Público recorreu da decisão para o


Tribunal Constitucional, mas este, reunido em Secção (secção e não plenário
porque o nº1 do artigo 70º da Lei do TC diz que a apreciação sucessiva
concreta é em secções e a sucessiva abstrata é em plenário), indeferiu o
recurso com base nos seguintes fundamentos:
⎯ O Ministério Público deveria ter recorrido para a instância superior –
o Tribunal Central Administrativo – e não, diretamente, para o TC; o
tribunal tinha desaplicado a norma, ou seja o recurso do MP foi feito com
base no artigo 280º alínea a), sendo assim um recurso direto.
⎯ O Ministério Público deveria ter indicado no recurso, a norma
constitucional que considerava violada bem como a peça processual em que
suscitou a questão da inconstitucionalidade no decorrer do processo; (quanto
à peça processual, não se aplica o artigo 75º nº2, alínea b) e f) da Lei do TC, o
que não acontece; indicar a norma constitucional também não se exige em
lado nenhum, só a norma ordinária, neste caso) à artigos 75º A nº5 e 76º da
Lei do TC.
⎯ O recurso estaria manifestamente infundado. Fundamento no artigo
78º A nº1 da Lei do TC, pode ser proferida esta decisão sumária.

Caso prático n.º 23


Em 10.01. 2012, o Governo aprovou um decreto-lei com o seguinte conteúdo:
“Artigo 1º - A circulação de veículos passa a fazer-se pelo lado esquerdo da
via.
Artigo 2º - A violação do disposto no nº anterior constitui crime, sancionado
com pena até dois meses de prisão.
Artigo 3º - A aplicação da pena prevista no nº. anterior pertence ao
Ministro da Justiça”. (o Ministério da Justiça não pode julgar, artigo 27º
nº2) (matéria de reserva relativa, artigo 165º nº1 alínea c); se não tivesse os
artigos 2º e 3º seria matéria concorrencial)
Pergunta-se:
1) Se fosse o Presidente da República e tendo decidido requerer a
fiscalização preventiva da constitucionalidade, quais os argumentos que

45
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

utilizaria? Inconstitucionalidade orgânica (não há autorização legislativa)


material (por violação do artigo 27º nº2) e violação do princípio da segurança
(artigo 2º da CRP), na medida em que alterar uma norma desta põe em
causa os cidadãos saberem com o que podem contar).
2) Imagine que o Tribunal Constitucional não se pronunciou pela
inconstitucionalidade, tendo o diploma sido promulgado e publicado (o PR
pode promulgar ou vetar) à falta a referenda ministerial em 19.02.2012 e,
logo em 20.02. 2012, Abel, apanhado a conduzir pelo lado direito da
estrada, foi sancionado com um mês de prisão pelo Ministro da Justiça.
Como pode ele reagir? Esta pena foi aplicada por um órgão administrativo,
existe o problema de saber se há um dever de desaplicação da norma igual
àquele do artigo 204º, que não existe. Pode haver impugnação judicial deste
ato, com base no artigo 268º nº4. A pena foi aplicada pelo ministro e não pelo
tribunal, por isso não podemos partir logo para a fiscalização sucessiva
concreta. Ele vai a tribunal impugnar essa decisão com base no vício da
inconstitucionalidade.
3) Será válida uma lei de autorização legislativa que, em 30.03.2012,
“habilita o Governo a legislar, desde 09.01.2012, e durante dez meses, sobre
crimes resultantes da violação do sentido da circulação dos veículos”?
Condições das leis de autorização legislativa no 165º nº2à princípio da não
retroatividade (não pode haver autorizações legislativas retroativas).
4) Pode a assembleia legislativa da região autónoma dos Açores aprovar
uma proposta de lei de bases a apresentar à Assembleia da República
visando restabelecer, no continente, a condução pelo lado direito da via?
Depende da leitura orgânica que é feita ao artigo 167º nº1; não faz sentido
uma lei de bases nesta matéria; apesar das Assembleias Legislativas das
Regiões Autónomas produzirem atos legislativos, o decreto regional NÃO
ENTRA no princípio da paridade, relacionando apenas dois dos 3 atos
legislativos (Lei e DL). Se houvesse paridade entre os 3, a Assembleia
Legislativa dos Açores poderia entrar em matéria concorrencial.
5) Se, em 05.05.2012, a Assembleia da República aprovar, ao abrigo do
artigo 169º, a cessação de vigência (forma do ato que faz cessar a vigência: é

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Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

uma resolução, que está prevista no artigo 269º, é a própria CRP que tem
essa suscetibilidade, compatível com o artigo 112º nº5) do decreto-lei de
10.01.2012, pergunta-se:
a) Poderá o Presidente da República desencadear a fiscalização da
constitucionalidade do ato de 05.05.2012? Pode ser alvo de fiscalização
sucessiva (preventiva não, porque é tem um objeto restrito, ou seja, aquelas
que chegam ao PR para promulgar), na medida em que esta resolução que
tem conteúdo normativo (podemos ter como objeto qualquer tipo de norma);
pediria a fiscalização ao abrigo do artigo 281º nº2, alínea a).
b) Se o Tribunal Constitucional considerar procedente o pedido do
Presidente da República, quais os efeitos da eventual decisão de
inconstitucionalidade? Temos uma resolução que cessa a vigência do DL e
uma declaração de inconstitucionalidade, que faz eliminar o efeito que fez
cessar a vigência do DL. Nos termos do nº1 do artigo 282º, haverá uma
repristinação, portanto, desse DL.

Caso prático n.º 24


O Governo apresentou à Assembleia da República uma proposta de lei de
bases do Serviço Nacional de Saúde. Entre outras coisas, previa que as
cirurgias mais caras fossem integralmente pagas, em prestações, pelos
doentes.
1) O Presidente da República veta o diploma de desenvolvimento da lei de
bases que o Governo lhe envia para promulgação como decreto-lei. Perante
isto, o Governo apresenta o mesmo texto na Assembleia, sob a forma
de “proposta de lei de desenvolvimento” da lei de bases. O que lhe
parece?
Esta matéria é reserva relativa da AR, artigo 165º n.º1 alínea f). Art. 167º
n.º1 – o Governo não quer ele mesmo fazer as bases, mas sim sugerir à AR.
Nos termos do art. 64º n.º2 alínea a), todos têm direito de acesso à proteção
da saúde, logo, existiria uma inconstitucionalidade material.
O Governo, também por ter competência administrativa, consegue perceber
melhor as bases – 1ª opinião da doutrina. A AR como é o órgão legislativo

47
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

por excelência poderá desenvolver as bases – 2ª opinião da doutrina. Mas


não faz sentido não legislar logo todo o regime nas bases e fazer
desenvolvimento/disposições complementares. Em termos de juízo crítico,
faz sentido que esta proposta de lei não dê resultado. Não pode haver lei de
desenvolvimento promulgada pelo presidente, tem que haver a existência de
referenda ministerial em relação ao ato do presidente, só depois é decreto-
lei. Se não houver referenda o ato é inexistente.
2) Maria, que considera inconstitucional a exigência de pagamento de uma
cirurgia a que foi submetida, tem forma(s) de reagir contra a mesma?
Pode invocar a exceção de inconstitucionalidade, pelo sistema de fiscalização
incidental. A norma não é aplicada com fundamento na sua
inconstitucionalidade material. Caso o juiz decida pela aplicação da norma,
ele pode recorrer para o TC - recurso por exaustão porque se a convicção de
inconstitucionalidade for do juiz (ad quo) o recurso para o TC é direto mas
quando for da parte é por exaustão, teria que exaurir os recursos ordinários.
Neste caso poderia recorrer a Maria e o MP- lei do TC artigo 72º. O MP é
obrigado a recorrer no caso dos n.º3 e 5 do 280º da CRP. Maria podia dirigir-
se ao Provedor de Justiça- art 23º - através de queixa constitucional, petição
e carta para todas as entidades do 281º n.º2. Pode invocar direito de
resistência, mas será que faz sentido? Não, porque só deve ser utilizado em
último recurso (art. 21º) quando não seja possível recorrer a outra
autoridade pública, e por autoridade pública se entendem também tribunais.
Não estando em causa a dogmática unitária dos direitos fundamentais para
que se pudesse aplicar o art. 21º, porque o art 64º não é um DLG, não
reconhecendo este como um direito fundamental de natureza análoga.

Caso prático n.º 25


Em 15.05.2013, a AR aprovou uma lei de bases sobre a definição de
deveres dos membros do sistema de informações da República, autorizando o
Governo a proceder ao seu desenvolvimento. A lei foi aprovada por 100
Deputados, tendo 8 votado contra.

48
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

A lei foi promulgada e publicada, tendo, ao seu abrigo, o Governo emanado,


em 30.05.2013, um decreto lei de desenvolvimento que criminalizava
determinadas condutas daqueles membros.
Esta matéria é de reserva absoluta – art. 164º alínea q) - não faz sentido
porque todo o regime faz parte da reserva absoluta da AR do artigo, logo,
não faz sentido também haver distinção entre bases e desenvolvimento.
Caso assim não fosse, ao abrigo do 198º n.º1 alínea c), o Governo tem
competência para desenvolver essas bases e não precisa da autorização da
AR. Por exemplo, no caso do artigo 164.º alínea i) o Governo já vai
desenvolver as bases. “A lei” - aqui tem-se um decreto-lei da AR – “foi
aprovada por 100 Deputados, tendo 8 votado contra” – art. 116º, o quórum
de funcionamento não está preenchido. Mas supondo que estivesse
preenchido o de funcionamento, no caso do deliberativo, uma vez sendo
matéria de lei orgânica nos termos do artigo 166º nº2 e segundo o artigo 168º
n.º5 tem uma maioria específica de votação e não se aplicaria o artigo 116º
n.º3.
“A lei foi promulgada e publicada”- falta a referenda da promulgação.
Vícios do decreto lei de desenvolvimento? Inconstitucionalidade orgânica por
violação do artigo 164º alínea q). Mas nos termos do artigo 165º nº1 alínea c),
mesmo sendo matéria de reserva relativa, também seria
inconstitucionalidade orgânica – a criminalização de determinadas
condutas.

b) Como poderá a AR fazer cessar a vigência do decreto-lei referido sem


aprovar novo diploma?
Pelo princípio da paridade. Mas neste caso, pode recorrer ao instituto de
apreciação parlamentar que tenha em vista a cessação da vigência do
decreto-lei. Se o pedido for apresentado para efeitos de cessação da vigência
o diploma só deixa de vigorar - artigo 169º n.º4 - não viola/afeta o art. 112º
nº5 porque o poder é conferido pela própria constituição.

49
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

c) Poderá a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira


desenvolver, para aquela região, a referida lei de bases? E poderá o
Presidente da República suscitar a respectiva apreciação pelo TC?
Não, porque o regime está todo reservado para a AR nos termos do art. 164º
alínea q). Em que condições as AL Regionais podem desenvolver diplomas?
Artigo 227º nos termos das alíneas b e c), quando a CRP admitir esta
distinção. E o PR pode suscitar a apreciação pelo TC caso a AL Regional
aprove um projeto lei nesta matéria? Não, será o Representante da
República. Artigo 233º n.º5 remete para o artigo 278º. Caso estivéssemos a
falar de fiscalização sucessiva abstrata, pode mais tarde o PR vir solicitar –
artigo 281º nº1 e 2 alínea a).
d) Suponha que o Tribunal Constitucional declara a inconstitucionalidade
da lei de bases. Fiscalização sucessiva abstrata - acórdão declaração - artigo
282º.
i) Se o decreto-lei de desenvolvimento for desconforme com a lei de bases,
poderá o Tribunal Constitucional conhecer da sua invalidade?
A inconstitucionalidade da lei de bases não deverá ter sido apenas material.
Há uma inconstitucionalidade consequente por uma questão de economia
processual do decreto lei de desenvolvimento, que não subsiste.
ii) Quais as consequências para Abel que já havia sido incriminado com
fundamento nestes dois diplomas?
Dependendo se há caso julgado, artigo 282.º n.º3 (não sabemos - primeira
parte ressalva os casos julgados exceto se a norma disser respeito a matéria
penal (criminalizar condutas é matéria penal) - nem sabemos se já houve
decisão do tribunal). Caso julgado - não é que tenha havido um julgamento,
forma-se com a insusceptibilidade de haver mais recurso.

Caso prático n.º 26


Suponha que o Ministro da Educação anunciou ontem ter aprovado uma
Resolução que desenvolve um Decreto-Lei de bases em matéria de
habilitação para docência. No mesmo comunicado, dava-se conta de que,
para uma efetiva cooperação entre os órgãos estaduais, havia sido aprovado

50
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

um Decreto-Lei que prevê que os Decretos Legislativos Regionais aprovados


em matéria da alínea b) do nº1 do artigo 165º poderiam ser submetidos a
apreciação parlamentar.
Satisfeito com o propósito de colaboração institucional o Presidente da
Assembleia da República, que exerce interinamente as funções de
Presidente da República, propôs um voto de confiança ao Governo.
Ao invés, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores
insurgindo-se, pretende que o Tribunal Constitucional decida se pode ou não
ser aprovado este voto de confiança.
Que tipo de matéria é? Artigo 164º alínea i) no caso das bases (reserva
absoluta). Reserva relativa do 165º n.º1 alínea b), DLG. Assim, este decreto-
lei é organicamente inconstitucional. Uma resolução não é um ato legislativo
mas sim um regulamento administrativo. A competência de
desenvolvimento é feita por decreto-lei. É competência do Conselho de
Ministros e não do Ministro da Educação isoladamente.
Nos termos do artigo 227º nº1 alínea b), não há decretos legislativos
regionais em matéria do artigo 165º nº1 alínea b). Admitindo que podia
haver, artigo 227º n.º4 parte final - seria possível um decreto-lei vir dizer
que determinados atos legislativos estavam sujeitos à apreciação
parlamentar? Artigo 112º n.º5 não é princípio da separação de poderes, não
pode ser um decreto-lei a prever isso.
“O Presidente da Assembleia da República, que exerce interinamente as
funções de Presidente da República, propôs um voto de confiança ao
Governo” - artigos 132º e 139º - necessita de solicitação do Governo - órgão
vicário.
Pode o TC decidir se pode ser aprovado ou não o voto de confiança? O TC só
aprecia normas e não atos. As normas têm que ser conformes (não é
compatíveis porque isso é uma expressão fraca) com a CRP - art 3º, n.º3 -
princípio da constitucionalidade.

Caso prático n.º 27

51
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

A Assembleia da República prepara-se para aprovar hoje em votação final


global um projeto (proposta e não projeto, artigo 167º) de lei que lhe foi
apresentado pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira.
(artigos 167º e 227º nº1 alínea f))
O diploma versa a matéria da organização dos três ramos das Forças
Armadas. A nota justificativa que acompanha o diploma explica ainda que
se aproveita para prever que os militares em situação de mobilização
dependam de (sujeitava-se a uma) autorização prévia superior (mero
condicionamento e não restrição do direito) para escolha de domicílio.
(matéria de reserva absoluta à AR, artigo 164º alínea d) (forma de lei
orgânica, artigo 166º nº2) (a alínea o) não se aplica porque o direito à
liberdade de deslocação não está prevista no artigo 270º, não permitindo
assim uma restrição acrescida do artigo 270º)) à a discussão quanto à parte
final do nº1 do 167º é: ou lemos a parte final do artigo como uma mera regra
de competência orgânica, ou lemos essa parte percebendo que as AL das RA
só podem apresentar iniciativa legislativa em matérias que digam respeito
às Regiões Autónomas.
Por se reconhecer a inoperatividade do atual responsável ministerial pela
pasta da Defesa e se pretender uma melhor coordenação, o diploma a
aprovar prevê ainda a extinção do Ministério da Defesa, com a criação, em
sua substituição, de uma Secretaria de Estado no âmbito do Ministério da
Administração Interna. (matéria de reserva exclusiva do Governo (artigo
198º nº2), única matéria em que a AR não pode legislar, com base no artigo
161º alínea c)à vício: inconstitucionalidade orgânica, a AR não pode
legislar.)
a) Aprecie este diploma do ponto de vista jurídico-constitucional e suponha
que vem a merecer 100 votos a favor, 30 contra e 2 abstenções. (preenchido o
quórum de funcionamento, artigo 116º: quórum deliberativo exigido: artigo
168º nº5, ou seja, o diploma não foi aprovado porque eram necessários 116
votos a favor (as abstenções nunca contam para a maioria; SUPONDO que
não tínhamos eliminado a hipótese do artigo 164º alínea o), a maioria seria

52
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

do artigo 168º nº6 (maioria mais agravada, mais exigente que a do artigo
168º nº5; o diploma continuava sem ser aprovado))
b) Admitindo que o procedimento tinha ocorrido dentro da normalidade,
qual o prazo para o Presidente da República promulgar este diploma? 20
dias com base no artigo 136º nº1, ele tem 20 dias para promulgar, o que
significa que dentro destes dias, nos primeiros 8, o PR não pode promulgar
mas pode vetar (artigo 278ºà promulgação vedada por ser um diploma que
reveste forma de lei orgânica)
c) E se houvesse veto político, a AR poderia confirmar o diploma? O quórum
deliberativo é mais exigente nos termos do artigo 136º nº3.
d) Supondo que o diploma entrou em vigor, imagine que em determinado
processo o Capitão Valente, que entende que há normas inconstitucionais,
pretende obstar à sua aplicação. O que pode ou deve fazer? Pode invocar a
exceção de inconstitucionalidade que consubstancia um processo de
fiscalização sucessiva concreta incidental, nos termos do artigo 204º.

Caso prático n.º 28 (caso 25)


Em 15.05.2013, a AR aprovou uma lei de bases sobre a definição de
deveres dos membros do sistema de informações da República, autorizando o
Governo a proceder ao seu desenvolvimento. A lei foi aprovada por 100
Deputados, tendo 8 votado contra.
A lei foi promulgada e publicada, tendo, ao seu abrigo, o Governo emanado,
em 30.05.2013, um decreto lei de desenvolvimento que criminalizava
determinadas condutas daqueles membros.
a) Aprecie os atos e os procedimentos referidos
b) Como poderá a AR fazer cessar a vigência do decreto-lei referido sem
aprovar novo diploma?
c) Poderá a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira
desenvolver, para aquela região, a referida lei de bases? E poderá o
Presidente da República suscitar a respectiva apreciação pelo TC?
d) Suponha que o Tribunal Constitucional declara a inconstitucionalidade
da lei de bases.

53
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

i) Se o decreto-lei de desenvolvimento for desconforme com a lei de


bases, poderá o Tribunal Constitucional conhecer da sua invalidade?
ii) Quais as consequências para Abel que já havia sido incriminado com
fundamento nestes dois diplomas?

Caso prático n.º 29

Preocupado com a sustentação da Segurança Social (matéria de reserva


relativa, artigo 165º nº1 alínea b): direito em causa: direito à privacidade,
artigo 26º nº 1, discussão quanto à possibilidade de autorrestrição deste
direito), imagine que o Governo aprova um decreto regulamentar (não é um
diploma legislativo, pois é um ato da função administrativa; não há
autorização legislativa, mas também não há um diploma legislativo do
Governo à inconstitucionalidade orgânica) que garante o subsídio de
desemprego sem termo, desde que os beneficiários aceitem a instalação
de câmaras de videovigilância em sua casa, de modo a que o Estado possa
fiscalizar que não têm trabalho e que passam ‘x’ horas diárias a procurá-lo
na internet.

Caso prático n.º 30


1. A Assembleia da República aprovou uma lei, atribuindo à Comissão
Nacional de Proteção de Dados competência para “emitir parecer sobre
disposições legais, bem como sobre instrumentos jurídicos em preparação em
instituições comunitárias e internacionais, relativos ao tratamento de dados
pessoais”. (matéria de reserva relativa, artigo 165º nº1 alínea b), sendo que o
direito em causa nos termos do artigo 35º, nº2, parte final)
O Governo, sem proceder a qualquer audição, aprovou, em Conselho de
Ministros, um decreto com o seguinte conteúdo: (vícios:
inconstitucionalidade orgânica, porque o Governo não podia legislar sem a
autorização legislativa da AR, inconstitucionalidade material, por causa dos
requisitos do artigo 18º para haver se havia um caso de proibição do excesso,
adequação e necessidade; não há uma inconstitucional formal em relação à

54
Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

audição, porque essa lei não resulta da CRP, quanto muito havia uma caso
de ilegalidade por uma preterição de uma audição que a lei permite)
Artigo 1º (Utilização de câmaras de videovigilância)
“Para garantir uma maior eficácia das empresas portuguesas, e para
assegurar maiores índices produtividade, podem ser instaladas câmaras de
videovigilância nos locais de trabalho, destinadas à avaliação do
desempenho profissional dos trabalhadores.”
Artigo 2º (Segurança Social)
“É garantido o subsídio de desemprego sem termo, desde que os
beneficiários aceitem a instalação de câmaras de videovigilância em sua
casa, de modo a que o Estado possa fiscalizar que não têm trabalho e que
passam ‘x’ horas diárias a procurá-lo na internet.”
2. O Presidente da República solicitou a fiscalização preventiva da
constitucionalidade do decreto, limitando o prazo de decisão pelo Tribunal
Constitucional para 8 dias. (artigo 136º nº1 - 40 dias, é um diploma do
Governo; pode enviar para o TC (278º), dispondo de 8 dias para enviar para
o TC)
O Tribunal Constitucional pronunciou-se no sentido da sua
inconstitucionalidade orgânica e formal.
O Presidente da República vetou o decreto com fundamento na “óbvia
incompatibilidade do texto com a Constituição”. (efeitos da decisão no artigo
279º)
3. Na sequência do descrito, o Primeiro-Ministro enviou o texto à
Assembleia da República, a título de proposta de lei.
A Assembleia da República aprovou a proposta do Governo na generalidade
e na especialidade, através da comissão competente em razão da matéria.
(proposta do Governo à AR, artigo 167º; inconstitucionalidade formal por
causa da discussão em comissão) Depois desta votação, a Assembleia da
República procedeu à audição de todas as entidades constitucional e
legalmente competentes para emitir parecer ou serem ouvidas no âmbito do
procedimento legislativo.

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Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

Terminadas as audições e os pareceres, a Assembleia da República aprovou,


em votação final global, a iniciativa governamental.
4. O Presidente da República solicitou ao Tribunal Constitucional a
fiscalização preventiva da constitucionalidade do decreto da Assembleia da
República. (dispõem de 20 dias, sendo que tem 8 dias para mandar para o
TC) Antes que o Tribunal decidisse, o Presidente da República vetou o
decreto com fundamento numa “clara discordância em relação à solução
legislativa encontrada”. (artigo 53º da Lei do TC, o PR pode desistir do
pedido e vetar o diploma; quanto ao motivo do veto, artigo 136º nº1 parte
final, tem que fundamentar)
A Assembleia da República confirmou o decreto vetado por 120 votos a favor,
80 contra e 30 abstenções, tendo havido promulgação, referenda e
publicação. (confirmação depois de veto político: artigo 136º nº2 e não o
artigo 279º nº2 (confirmação depois de veto por inconstitucionalidade); não
foi aprovado, era necessário maioria absoluta)
5. O diploma veio a ser objecto de novo pedido de fiscalização três meses
depois, pelo Provedor de Justiça, tendo o Tribunal Constitucional declarado
a inconstitucionalidade em decisão cujos efeitos limitou. (fiscalização
sucessiva abstrata, o Provedor de Justiça tem competência para suscitar nos
termos do artigo 281º nº2, alínea d); o TC pode fixar um efeito da decisão
mais restrito com aqueles que resultam dos artigos anteriores)

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Resolução dos Casos Práticos de Direito Constitucional – 2º semestre

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