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DIREITO ADMINISTRATIVO ESPECIAL

Catarina Quinta – 2021/2022

DIREITO PRIVADO vs. DIREITO PÚBLICO


Elementos do Direito Privado:
 As suas normas são sempre intersubjetivas:
o nas várias relações jurídicas, podem existir transição de posições sem a perda de dignidade.
o ser devedor ou credor depende dos factos e não das pessoas parte da relação
 Igualdade de posições relativas:
o o simples facto de se ser credor não confere mais poderes relativamente ao devedor, pois, em caso
de conflito, a questão é resolvida nos Tribunais, e não pelo uso da força. Assim, o importante a reter
é que os nossos poderes de justiça são “dados” ao Estado, que atua por meio dos Tribunais.
 O Direito Privado está criado e orientado para defender o interesse privado:
o o Direito Privado é um espaço de liberdade
o o interesse privado pode ser comum a toda a população, mas isso não o torna direito público

Elementos do Direito Público:


 Inexistência de intersubjetividade, o que cria um estado de Desigualdade:
o Não é permitida a transição de posições com o Estado, pois é o Estado que impõe o Direito. Assim,
respeita-se o princípio da competência/atribuição, o que cria uma relação jurídica administrativa:
 Estado e entidades públicas Cidadão
Princípio da Universalidade (12º): tem intrínseco o conceito de Ius Imperi, na medida em que a Lei
sobrepõe-se a todo o tipo de ordenamento, sendo aplicada em “todo o Império”
 Dignidade da pessoa humana:
o Tal como consagrado no artigo 1º CRP, há que se reconhecer:
 A unicidade do outro
 Os outros como dignos
 Interesse público/coletivo:
o Princípios fundamentais – Administração Pública – (266º): A Administração Pública visa a
prossecução do interesse público, no respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos pelos
cidadãos
 O Estado segue o que está assente nas necessidades coletivas – carências entendidas
politicamente e sentidas por todos, mas que só podem ser satisfeitas por um: o Estado (ex.
segurança, justiça, valorização da moeda, representação externa)
o Tem de ser relevante, na medida em que justifica o modo de agir
o Corresponde sempre a um raciocínio contrário ao egoísmo do interesse privado (ex. uma estrada é
feita para corresponder a um ponto de permissão, e não para satisfazer o interesse de apenas 3
pessoas)

DIREITO ADMINISTRATIVO
A sua função é regular a forma como o Estado vai satisfazer as necessidades coletivas, isto é, o interesse público.

Condições para a existência de um Estado Político-Constitucional:


 População
 Território
 Organização do poder político, que tem de ser soberano no sentido político (3º e 4º). O poder político está
organizado de modo a respeitar o princípio da separação de poderes (111º):
o Poder Legislativo - conferido à Assembleia da República
o Poder Executivo - conferido ao Governo
o Poder Judicial – conferido aos Tribunais
o Poder Moderador – conferido ao Presidente da República. Surge para moderar e evitar os conflitos
entre os 3 poderes anteriores, atuando para que estes trabalhem em conjunto.
Divisão da Administração Pública:
 Estrutura da Administração (267º): A Administração Pública será estruturada de modo a evitar
burocratização, a aproximar os serviços das populações e a assegurar a participação dos interessados na sua
gestão efetiva (…).
Para efeito do disposto anterior, a Lei estabelecerá adequadas formas de descentralização e desconcentração
administrativas, sem prejuízo da necessária eficácia e unidade de ação da Administração e dos poderes de
direção, superintendência e tutela dos órgãos competentes.
o Poder de direção: engloba os seguintes poderes:
 Poder de ordenar/comandar – condicionar a atividade do subordinado
 Poder de fiscalizar – aferir a qualidade do trabalho que está a ser prestado
 Poder de punir - aplicar as devidas sanções
o Poder de superintendência: poder de orientar e fiscalizar, na medida em que é o Estado que define os
objetivos e guia a atuação das PCP de fins singulares, colocadas por Lei na sua dependência
o Poder de tutela – poder de fiscalizar e, no limite, de revogar os atos praticados pelos subalternos, na
medida em que existe intervenção na gestão de uma PCP (ex. o Estado fiscaliza a Administração
indireta do Estado por meio do Orçamento)

O Governo atua como o órgão de topo do Estado Administração e da soberania nacional, pondo em prática
as normas consubstanciadas no seu programa político (199º al. d) )

 Administração Direta (Central): atividade exercida por serviços integrados na pessoa coletiva Estado: os
Ministérios.
O Governo está na posição de superior hierárquico, dispondo do poder de direção, de superintendência e
de tutela.

 Administração Indireta do Estado: vigora o poder vertical por parte do Estado, pois, embora seja desenvolvida
para realização de fins do Estado, é exercida por PCP distintas deste.
Ao Governo cabe a responsabilidade de superintendência, podendo orientar, e a responsabilidade de
tutela.

 Administração Autónoma do Estado - assente em 3 bases:


o Territorial:
 Regiões autónomas: PCP possuidoras de autonomia em certos níveis, pois podem exercer
função legislativa mediante a emanação de decretos legislativos regionais
 Autarquias locais: estruturas territorialmente independentes entre si
o Institucional: os institutos congregam entre si interesses especializados de interesses nacionais
o Pessoal: ex. a OSAE disciplina o exercício da profissão de solicitador e agentes de execução
O Governo não dá diretivas nem orienta, possuindo apenas o poder de tutela, podendo apenas fiscalizar, não
podendo punir por não conter o instrumento orçamental.

Em suma:
CONCEITOS E PRINCÍPIOS VÁRIOS:
Direito Subjetivo: faculdade de exigir de outrem a satisfação do seu interesse – individual e concreto
Interesses legalmente protegidos: imposição normativa à Administração Pública para esta aja de determinada forma,
funcionando como garantia para a população – individual e abstrata (afeta pessoalmente)

Interesses difusos: são interesses legalmente protegidos, mas é dada legitimidade processual para defesa de um
interesse que é, pela sua natureza, coletivo – geral e abstrato (não há forma de apropriação individual)
 Começou como pressuposto processual, pois era uma condição de acesso à atividade jurisdicional
o Pressuposto processual: por serem de carácter formal, se não estiverem presentes impossibilitam a
colocação de uma ação em tribunal

Princípio da Administração Aberta:


 Direitos e garantias dos administrados (268º nº2): os cidadãos têm também o direito de acesso aos arquivos
e registos administrativos, sem prejuízo do disposto na lei em matérias relativas à segurança interna e
externa, à investigação criminal e à intimidade das pessoas.
o Arquivo: depósito organizado de documentos de processos findos
o Registos: processos ainda ativos
 Se só se tiver informação sobre os nossos processos, a Administração Pública pode agir em nosso prejuízo
sem que saibamos. Assim, este número consagra o direito do livre acesso – aceder a processos que não nos
digam respeito para consultar, tirar certidões ou cópias
o Certidões: são importantes devido ao valor probatório do documento autêntico, pois faz prova
pleníssima dos factos que irão ser invocados.
 Exceções ao princípio: atas do Governo, documentos em segredo de Estado, segredo de Justiça (investigação
criminal) e reserva da vida íntima.

Legitimidade:
 Direitos e garantias dos administrados (268º nº5): os cidadãos têm igualmente direito de impugnar as
normas administrativas com eficácia externa lesiva dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos.
 Este número consiste numa ampliação da legitimidade, na medida em que é conferido ao cidadão o direito
de impugnar uma norma geral e abstrata que o prejudicará quando for publicada
o Ação preventiva: ataque da norma geral e abstrata antes que se torna geral e concreta

Prova: demonstração sensorial de um evento pretérito. É a coisa mais importante em Direito.

Facto: alegação + prova

Alegação: imputação objetiva – acontecimento – e/ou subjetiva – sujeitos – de um facto


ESTRELA POLAR – ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA O DIREITO ADMINISTRATIVO EM AÇÃO

Interesse Público: consiste em necessidades coletivas que só podem ser satisfeitas pelo Estado
 Corresponde a um Projeto Social Dominante – Programa do Governo
 Princípio da Legalidade – o interesse só se torna público quando se converte em Lei.
Se não estiver presente na Lei, é apenas interesse político, e não público – o objetivo dos partidos é tornar os
seus interesses em Lei, por meio do Programa do Governo do partido que ganha as eleições
 Tarefas fundamentais do Estado (9º): justifica a existência do Estado

Pessoa Coletiva Pública - Quem: Qual a PCP que dispõe, rege de matéria para a resolução deste caso prático?
 Têm a incumbência constitucional de satisfazer o interesse público
 Só podem exercer as competências dentro das suas atribuições, pelo que não podem as competências ir além
das suas atribuições

Atribuição - Como: Fins para os quais a PCP foi criada, que justificam a sua existência e são o limite da sua atuação
 Ex. o ISCAL não pode ter um curso de Medicina porque não lhe foram dadas atribuições para tal
O Município de Odivelas não pode autorizar a construção de uma casa em Carcavelos.
 São definidas do ponto de vista geográfico
 São a primeira coisa que aparece na Lei

Órgãos: Centro de imputação da vontade das PCP


 Lógica Binária – as PCP têm órgãos, mas os órgãos não têm PCP
 Têm competências

Competência: poderes-deveres jurídicos, outorgados aos órgãos por Lei para que prossigam os interesses da PCP
onde estão integrados.
 Só podem ser exercidas as competências integradas nas atribuições, sendo o ato anulável em caso de
incumprimento

Titular: pessoa física que exerce o cargo inerente ao órgão


 Oposição com a Lei – a Lei é geral e abstrata. O titular transforma a Lei em decisões individuais e concretas
 É uma ilegalidade praticar um ato que esteja fora das suas atribuições, pelo que o ato é nulo e pode ser
considerado crime (peculato ou abuso de poder)
 Ex. ao falar de Marcelo Rebelo de Sousa, referimo-nos a ele como cidadão. Contudo, se nos referirmos como
Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, estamos no âmbito de cidadão, pessoa física que é, atualmente, titular
de um órgão: Presidente da República.
 Uma PC tem vontade por meio do seu titular

Em suma:

A Lei é geral e abstrata, pelo que se transforma numa decisão individual e


concreta por meio do titular.

Modo de Resolução: descobrir quem é a Pessoa Coletiva Pública que tem as


atribuições para poder decidir, existindo ainda um titular que terá as suas
competências: os órgãos, que irão decidir de modo a prosseguir os fins da PC.

PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
Processo (1º nº2): conjunto de documentos devidamente ordenados em que se traduzem os atos e formalidades
que integram o procedimento administrativo
 Suporte material/físico do procedimento – conjunto de documentos que dão forma ao procedimento
 O fim a alcançar é a decisão
 “O que não está no processo, não está no mundo” – o que significa que uma decisão da Administração Pública
baseada em dados que não estejam no processo consiste numa violação da Lei, pelo que não pode ser utilizado
pela Administração Pública nem pelo Privado
o Justificação: tudo recai sobre o ónus da prova que, se para os requerentes falhar, leva ao
indeferimento do pedido. Enquanto que, para os requeridos, leva à comprovação da violação da Lei,
pois o ónus é a obrigatoriedade de prestar prova.

Procedimento (1º nº1): sucessão ordenada de atos e formalidades relativos à formação, manifestação e execução
da vontade dos órgãos da Administração Pública
 Sequência ordenada/lógica de atos e formalidades com vista a atingir um determinado fim – a decisão
 Os fins alteram-se consoante os objetivos a alcançar.
 Ocorre na Administração Pública, que só pode agir dentro dos procedimentos legalmente previstos – daí a
existência da Lei do Procedimento
 Estrutura da Administração (267º nº5): o processamento da atividade administrativa será objeto de lei
especial, que assegurará a racionalização dos meios a utilizar pelos serviços e a participação dos cidadãos na
formação das decisões ou deliberações que lhes disserem respeito – base legal do Código do Procedimento
Administrativo

Fases do Procedimento Administrativo – 102º e ss.:


1. Iniciativa (102º) – baseada num impulso
2. Saneamento – originada do latim “SANAE”, que significa dar saúde. Aplicado ao procedimento, irá “dar-se
saúde” ao procedimento, por meio do saneamento das falhas que possam impedir a continuação do
procedimento.
É composto por 2 subfases:
 Correção, que pode ser:
o Oficiosa - a Administração Pública tem o dever de corrigir a falha que verificar (ex. se o
requerente escreveu mal o seu NIF, mas existir prova no processo de qual é o NIF correto, não
é necessário notificar para correção do NIF, basta apenas efetuar-se uma retificação)
o Através de notificação - a Administração Pública convida, por meio de notificação, para a
correção das falhas que verificar, com vista à sanação destas
 Questões Prejudiciais/Prévias: originadas do latim “PRE IUDICATO”, que significa que não há decisão.
Aplicado ao procedimento, se estas questões procederem, é impossível prosseguir o procedimento
em direção à decisão, pois só podem ser corrigidas pela própria pessoa (ex. requerimento não
assinado)
o Pré-juízo – questões que ocorrem antes da decisão, que impedem o andamento do
procedimento. A sua procedência obsta ao conhecimento do pedido
o Prejuízo - dano
o Questões que prejudiquem o desenvolvimento normal do procedimento (109º):
 Incompetência do órgão administrativo – a Lei não permite que o órgão decida
naquele caso concreto

Questão prejudicial mais importante, uma vez que, quando se faz um
requerimento, pretende-se uma decisão favorável. Assim sendo,
conclui-se que de nada adianta uma decisão favorável de um órgão que
não é competente, pois essa decisão não fixa o direito a meu favor

 Caducidade do direito que se pretende exercer – perda do direito à ação pelo decurso
do prazo fixado pela Lei (ex. foi pedido o loteamento de um terreno “cru”, que vinha
com as obras de urbanização. O prazo para o loteamento é de 18 meses, pelo que, se
se passar este período de tempo e nada tiver sido feito, o alvará caduca por decurso
do tempo)
 Ilegitimidade dos requerentes – o requerente tem falta de poder jurídico para
apresentar o requerimento, devido à carência de titularidade do direito (oposto de
incompetência)
 Extemporaneidade do pedido – os atos foram praticados após o término do prazo
 Intempestividade: abrange tanto o tempo antes do prazo como o tempo após
o prazo. É o termo mais adequado, visto que se adequa tanto a uma situação
em que o ato foi praticado antes do prazo ter começado a correr, como a uma
situação em que o ato foi praticado após o término do prazo

3. Instrução (115º e ss.) – a finalidade é suportar/dar sentido à ação, por meio da:
 Realização de prova – através de testemunhas, perícias, inspeções, documentos
 Apropriação de prova - a prova torna-se parte do processo e do procedimento, pelo que a prova inútil
é devolvida. É feito pelo órgão instrutor, que torna a prova privada em prova pública, tornando-a útil
para a decisão

Assistir-se-á ao princípio do inquisitório: a Administração Pública não precisa que se lhe diga nada. Desde que
tenha conhecimento dos factos, age.

No final desta fase, vai ser produzido um documento – o Projeto de Decisão


PROJETO DE DECISÃO - neste, vai constar uma tomada prévia de decisão e, simultaneamente, uma
manifestação de intenção:
Tomada prévia de Decisão: tomada pelo órgão instrutor no aquilatar de todos os factos. Por meio do direito de
consulta, esta pode ser consultada pelo particular

Manifestação de Intenção: a intenção pode ser manifestada por 2 formas:


 Deferimento – adiar/passar para uma data futura
 Indeferimento

Necessidade do Projeto de Decisão: se for deferimento, o procedimento passa automaticamente para a Fase 5 –
Decisão. Caso contrário, ao observar—se o indeferimento, o procedimento terá que passar primeiro pela Fase 4
– Audiência Prévia

4. Audiência Prévia (121º e ss.) – fase facultativa, na medida em que só ocorre em situação em que o Projeto de
Decisão da fase de Instrução termina em Indeferimento.
 Mecanismo de evitar litígios: antes de ser tomada A Decisão, é dada a possibilidade ao particular de
participar no processo decisório, corrigindo-o e suprindo algumas falhas no procedimento, além do
direito de requerer e/ou apresentar novas provas.
 O que se pretende é uma Administração Pública Não Agressiva. Assim, são chamadas as partes, o
órgão, o instrutor e o particular, para que possa encontrar a melhor decisão.
o Administração Pública Agressiva – entrega-se o requerimento e só se sabe a Decisão

No fim da Fase 4, o Projeto de Decisão vai ser substituído pela Proposta de Decisão, que está contida num relatório
que vai ser entregue ao órgão, pelo que o procedimento prossegue para a Fase 5 – Decisão

5. Decisão (126º e ss.) – consiste no objetivo final da apresentação de um requerimento, pois vai aplicar o Direito
numa situação individual e concreta
 Princípio da decisão (13º nº1): os órgãos da Administração Pública têm o dever de se pronunciar sobre
todos os assuntos da sua competência que lhes sejam apresentados (…) – a Decisão consiste num
dever da Administração Pública, pelo que, em caso de incumprimento, iniciar-se-á um processo para
intimação para a prática do ato devido.
A Decisão pode resultar em:
o Regulamento Administrativo (135º) – (…) normas jurídicas gerais e abstratas que, no exercício
de poderes jurídico administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos. (ex. para ter um
lugar em frente do meu prédio, tem que se mudar o regulamento municipal de trânsito da rua
em concreto, para aquele lugar deixar de ser privado e passar a estar adjudicado à matrícula
do carro em questão, por meio de um requerimento à Assembleia Municipal)
 Plano Diretor Municipal
 Plano de Urbanização
 Plano de Pormenor
o Ato Administrativo (148º) – (…) as decisões que, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, visem produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta
 Semelhante à sentença: o que difere é que os atos administrativos são provenientes
de decisão de órgão da Administração Pública
 Enquanto não existir decisão individual e concreta, a única coisa que existe são atos
administrativos preparatórios ou procedimentais
 Mais importante: alvará de loteamento
o Contrato Administrativo - negócio jurídico bilateral celebrado entre a Administração Pública
e um particular (contrato de Direito Público)
 Mais importante: contrato de urbanização
o Operação Material – alteração da realidade física pela Administração Pública (ex. demolição;
tapar buraco aberto pelas condições climatéricas; reboque de veículo pela EMEL)
A Decisão divide-se quanto ao seu conteúdo e quanto à sua forma:
o Conteúdo:
 Deferimento
 Indeferimento
o Forma
 Expressa – aplicável ao deferimento e indeferimento
 Tácita – apenas aplicável ao deferimento, pois o indeferimento tem sempre de ser
fundamentado

INDEFERIMENTO: DEFERIMENTO:
Expresso: existe manifestação de vontade por parte Expresso: existe manifestação de vontade por parte da
da Administração Pública, e essa decisão é Administração Pública, e essa decisão é compatível com a
incompatível com a vontade/pedido, pelo que terá vontade/pedido
que existir fundamentação da decisão Tácito: é deferimento tácito sempre que a Lei preveja que
Tácito: ocorre quando passa o prazo de decisão, o silêncio da Administração Pública tem esse valor. Caso
pelo que irá ser iniciada uma intimação para prática contrário, a decisão é de indeferimento
do ato devido – pede-se ao tribunal que cite o órgão
competente para que este responda

FUNDAMENTAÇÃO DO ATO (268º nº3; 152º + 153º)


Direitos e Garantias dos Administrados (268º nº3): os atos administrativos estão sujeitos a notificação aos
interessados, na forma prevista na lei, e carecem de fundamentação expressa e acessível quando afetem direitos
ou interesses legalmente protegidos.

Consiste num dever da Administração Pública, pois é a fundamentação que vai sustentar a decisão tomada:
Concorda com o pedido – deferimento – não carece de fundamentação
Não concorda com o pedido – indeferimento – carece de fundamentação para que seja garantido o
respeito pelo interesse público.
*incumprimento: ilegalidade/vício da Lei, sendo o ato anulável.

Fundamentação de facto: apenas os factos podem ser fundamentados, pois tudo o que não for provado
não pode ser levado para a fundamentação da decisão
Fundamentação de direito: os factos são relevantes quando preenchem os pressupostos da norma
*previsão – onde se encontram os pressupostos da norma
*estatuição – uma norma tem uma determinada previsão
*consequência jurídica

A Fundamentação do Ato consiste no oposto da Arbitrariedade: nesta última a decisão é tomada por motivação
interna/própria
O que cria a Arbitrariedade – a Liberdade, pois esta consiste no poder de criar as minhas próprias opções
Assim, a Fundamentação impede que os órgãos administrativos tomes decisões arbitrárias, porque a
fundamentação só ocorre após a realização das fases do procedimento administrativo, pelo que a decisão só surge
no fim do procedimento.
INVALIDADE DO ATO – DO MAIS GRAVE PARA O MENOS GRAVE
Inexistência Jurídica: o ato não tem aparência de direito no Direito Administrativo, mas não invalida que seja
considerado inexistente noutro ramo do Direito.

Nulidade (161º e 162º): o ato não produz os efeitos jurídicos desejados pelo infrator – as partes querem a prática de
determinado ato, pois desejam os seus efeitos jurídicos, mas violam o interesse público fundamental.
 Efeitos: reconstituição da situação existente antes dos efeitos do ato nulo (ex. alguém que tiver destruído algo
ao abrigo de um ato nulo, tem de reconstruir a situação anterior a este.)

Irregularidade: apenas concede o direito a retificar, mas não o direito de anular.

Anulabilidade (163º): o ato produz efeitos até ser anulado


 Consequências no Direito Administrativo:
o Anulação retroativa
o O que está para trás mantém-se, mas o que está para a frente é anulado.
o O ato é ilegal – com a declaração da anulabilidade do ato, a sentença é para efeitos administrativos e
não para efeitos jurídicos
 Princípio da Aproveitação dos Atos Administrativos – os atos devem ser sempre aproveitados
por serem de interesse público. Então, o juiz conclui que o ato é anulado, o que, avaliando do
ponto de vista material, não existiria outra decisão, pelo que o ato também seria indeferido.

DIREITO ADMINISTRATIVO ESPECIAL


Alguns dos elementos da norma geral são alterados/modificados/restringidos ou ampliados.

Por isso mesmo, em DAE vai-se restringir o caso:

Porquê? – é causa que motiva a ação, pelo que nos vamos dirigir de uma questão do passado para o presente

Para quê? – vamos dirigir-nos do passado ou do presente, mas sempre para o futuro

Ordenamento do Território
O que é uma Ordem? – “correta alocação, ou afetação, das pessoas e das coisas ao seu fim”
 Consiste numa estrutura, pelo que a Ordem é baseada em princípios para que todos os elementos vão de
encontro com o mesmo fim.

Como se organiza a Ordem Natural? – tem a sua essencialidade ao redor do Princípio da Necessidade
 O Princípio da Necessidade é inato aos animais, visto que estes só fazem porque é necessário, e apenas porque
é necessário
 Ao contrário dos animais, o Homem libertou-se da Ordem Natural, passando a obedecer a outra – Devir – pelo
que, ao contrário dos animais, o Homem não tem um conjunto de respostas estritas baseadas nos instintos.
O Homem tem de ser ensinado, e é o resultado da Cultura

“o Homem é o único ser que não é. É o único ser que pode ser. O Homem é uma entidade que pode ser.”

 Quem sou? – um ser em potência (devir)

 De onde venho? – das três sociedades onde me integro: sociedade familiar, sociedade amigos, envolvente
social (comunidade)

 Para onde vou? – para onde a Ordem cultural me permitir. O que se altera de Ordem para Ordem são os
fins:
 ORDEM MORAL Substituir o instinto animal, de maneira a dar respostas que o instinto não dá
Fim

 ORDEM TRATO SOCIAL Vivência polida em sociedade

 ORDEM NORMATIVA/JURÍDICA Paz, ou ter conflitos regulados, de forma a existir Paz

PRINCÍPIOS FINS
São estatuições permanentes: Nunca são alcançados, mas sim vividos –
 Aplicam-se a todas as normas; qualitativo:
 Meta norma – aplicam-se a  Não são objetivos;
todas as pessoas e a todos os  Para onde nos vamos orientar
casos;
 Estão alinhados com os Fins

Tarefas – Atribuições – fundamentais do Estado (9º al. e)): proteger e valorizar o património cultural do povo
português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correto ordenamento do
território
 O artigo 9º é composto, exclusivamente, por Fins que, pela sua natureza, orientam, mas nunca vão ser
alcançados, exceto pela Vivência.
 Ao contrário dos Fins, algo alcançável é denominado Objetivo – podem ser alcançados no Tempo e em
Quantidade

O Homem e a sua Condição


O Homem vive sempre em conflito – pratica a atividade humana de exclusão do outro dos recursos

Requisitos para a sobrevivência do Homem – a ausência provocaria conflito:


 Energia – a luz é uma constante na evolução do Homem
 Recursos – matérias primas que permitem o suporte da vida (ex. ar, água)

Condicionantes:
Sem Ordem, a natureza egoísta do Homem, que se prende ao facto de ele ser “o Lobo do próprio Homem”, isto é, o
seu maior inimigo, produzem o conflito.

Já os conflitos são todos de natureza económica, pelo que toda Economia é energia e recursos.
 Economia – meio de promoção de bem-estar, pois consiste no estudo do processo e das Leis que levam ao
bem-estar e ao seu aumento, sendo este último o Grande Objetivo da Economia

Razões de Fundo:
 Razões económicas:
 1. O grande objetivo é a acumulação de riqueza, o que permitirá a expansão. Contudo, esta é ocorre
com Ordem;
 2. Tendo mais recursos, posso antecipar; se posso antecipar, posso investir; se posso investir, terei
mais retorno; se tenho mais retorno; acumulo mais…
 3. Número (safety by numbers) – se tenho mais recursos, posso ter mais pessoas, o que se traduz em
mais Segurança. Tendo mais Segurança, posso ter mais pessoas, logo significa mais recursos.
 4. Segurança – se tenho mais segurança, posso ter mais pessoas, o que significa mais recursos
Sem Segurança, não há Liberdade – alguém que não se sente seguro, facilmente prescinde da sua
Liberdade

LIBERDADE LIVRE-ARBÍTRIO
Poder de criar as opções, ou de não as Faculdade de escolher entre as opções
criar que nos são dadas – poder de escolha

 Valor – a sua definição foi criada pelo Homem: “Apetência culturalmente determinada”
Contudo, para a existência de Cultura é necessário Tempo e Liberdade, e Liberdade no Tempo, mas o Homem
apenas tem Liberdade no Espaço
O Homem só dá valor às coisas que culturalmente lhe diz respeito. Mudando a Cultura, muda o valor.
 Valor Jurídico – consiste num adjetivo.
Se o valor for um Fim, será um Princípio.
Se o valor for um interesse, será o interesse protegido pela norma jurídica concreta

 Razões técnicas – comunicação: por vivermos numa sociedade complexa, é necessário a existência de Código
 Pensamento Lógico-Dedutivo:

Verificação/Aferição
Não é possível decidir
sem resultados
Não são possíveis
resultados sem
determinações

Em conclusão:

A ORDEM:
Sem Ordem não é possível:
 Explicar
 Prever
 Viver

O papel essencial da Norma reflete-se na sua permissão de Viver, e não apenas de Sobreviver.

No âmbito do Ordenamento do Território, as suas normas ordenam o único recurso que:


 Não tem Substituto – por se tratar de “o único recurso”;
 Não tem Complemento – não há forma de o terreno crescer por si próprio. Ou se coloca mais terreno, ou
caso contrário nada feito, e que;
 Não se pode aumentar o número – pode ser dividido, mas não é por isso que aumenta de número

Em suma:

 O Ordenamento do Território, além de essencial por tratar de um recurso único, constitui-se como uma Tarefa
Essencial do Estado (9º)
“Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a
promovam.” (al. a))
 Ordenar o território é essencial e fundamental por parte do Estado, pois funciona como mecanismo de
promoção do bem-estar, proteção e valorização do Património Cultural
 Importância do Conceito de Ordem – a Ordem surge no início do Ordenamento, porque nos estamos a referir
a uma atividade intelectual que corresponde à operacionalização de uma Ordem.
 Operacionalização da Ordem – primeiro selecionam-se os princípios, ou seja, os fins para que, posteriormente,
os princípios possam ter objetivados/trabalhados e, eventualmente, convertidos em Lei.

ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO

Ordenar implica:

PERSPETIVA PROSPETIVA
Porquê - parte do Presente para o Para quê – parte para o Futuro, ou
Passado, ou reflete o Presente, o que já seja, do que existe – Presente - para
existe o que ainda não existe - Futuro.
 É um dado mesmo quando se Tem de responder a 3 perguntas:
fala de “Perspetiva Futura” –  Para onde queremos ir? –
resultado já criado, pois alguém base quantitativa
já pensou nisso.
 Para onde nos queremos
Contudo, apesar de se referir ao orientar? – base qualitativa –
Futuro, não pode apenas “O que é que estamos
consistir num sonho, disponíveis a pagar pelo
permanecendo numa dimensão plano? Quais são os nossos
subjetiva. valores?”

Assim, é necessário que exista  O que estamos dispostos a


um Projeto que crie uma dizer não? – tem de existir
realidade física – objetiva -para antecipação, pelo que se
que o sonho passe a ser utiliza a Lei que imponha
exequível/tangível. limites que nos proíba.

A Escala:

Para sabermos o que ordenar, temos que aceitar um certo grau de abstração, que no caso do Ordenamento começa
sempre pela Escala.
A Escala é sempre métrica e passa, depois, a ser uma métrica para os próprios resultados.
Todos os mapas serão expressos nas métricas escolhidas

Escala e Abstração:
 A Escala consiste num elemento da abstração por ser usada para eliminar os acidentes acessórios, ficando
apenas o que é essencial.
 Deste modo, a Escala irá ser transformada em documentos – registo tecnológico de um evento pretérito:
 Mapas;
 Plantas;
 Perfis e Outros.
MAPAS – abstração da realidade física, por representar de forma abstrata a realidade que procura representar
 Todos os Mapas são feitos à Escala
 Todos os Mapas são representações da realidade – por ser uma abstração desta mesma
 Mapas não é território
 Elementos essenciais:
 Orientação
 Escala

PLANTAS – auxiliam na concretização da realidade com os seus elementos essenciais (ex. tamanho do terreno)
 Plantas (de interior) – tem como elemento fundamental a Área Útil.
O processo construtivo pode ser feito de 2 formas:
 Através do perfil da assoalhada com uma determinada metragem
 Através da inclusão ou não da parede

Ou seja, entre a Área Total e a Área Útil, esta última é a mais pequena

A importância da distinção e referência de uma e outra prende-se na implantação – principal condicionante


da construção. Podemos não ter área de implantação para fazer as paredes para além da Área Útil que se
quer.
A Implantação condiciona sempre a Área Útil, por ser sempre preciso parede

 Plantas de Localização – existem diversas


 Onde é o centro urbano? – onde a sua concentração é maior.
Uma maior concentração de casas é nos indicado pela legenda – o cinza indica betão
 Como se fixa um prédio rústico? – por meios de marcos, que originam extremas.
Sabe-se que estamos perante um loteamento urbano para construção pois, à partida, já existem
estradas, e estão divididos sequencialmente
 O que significa a matrícula do prédio? – contém sinais identificadores do prédio. Encontra-se na
Conservatória do Registo Predial. Nunca existem 2 iguais
Na CRP consta o artigo matricial, que é igual ao da freguesia do lado. Assim, é necessário saber
qual o número, letra e secção. Nos conselhos mais antigos pode não existir letra, mas existe
sempre secção.

 O Elemento de Referência – o mais importante em todos os mapas e plantas é o Norte (geográfico).


Por se tratar de um elemento de orientação geográfica, a primeira coisa que se deve fazer é direcionar a
Planta para Norte
 Razão da importância do Norte – estando fixado, está tudo fixado
 Como devemos construir uma casa para que ela tenha o maior índice de saúde? – salubridade
pública – a melhor orientação é Nordeste-Sudoeste, ou vice-versa, para apanhar sol durante mais
tempo.
PERFIS – corte na Planta
Tem em conta a situação existente – Perspetiva – e a perspetiva futura – Prospetiva – o que vai gerar diferenças
entre uma e outra, pois a Prospetiva pode consagrar elementos que a Perspetiva – corte do que já existe – não
tem, e que se revelam necessários ao Ordenamento.
É um elemento importante para a emissão de Licenças de Construção.
Ajudam nos cálculos – para fazer dinheiro, há que ter em conta a taxa de ocupação e, além disso, a taxa de
retorno.

 Legendas – essenciais na interpretação dos mapas e dos perfis, consistindo num código de leitura dos
elementos, fazendo representação figurada do que está em causa.
 Laranja-escuro – muitas pessoas por m2, o que significa maior densidade populacional.
Normalmente reflete os subúrbios
 Azul-escuro – poucas pessoas por m2, o que significa menor densidade populacional.
Normalmente reflete os centros das cidades.
 Localização

O DIREITO E O ORDENAMENTO

Razão pela qual é necessário Ordenamento? – Porque o Homem, sem Direito, tem tendência para destruir o Outro e
utiliza o seu entorno – Ambiente – até à destruição do mesmo e, eventualmente, dele próprio.

Desta forma, é necessário Ordenar – O Direito – pois este limita e orienta o Homem, dando-lhe fins para além do
seu egoísmo.

Enquanto juristas, os fins são encontrados na CRP, pois representa o mínimo jurídico essencial, que confere o
Direito e a Legitimidade.

REVISÃO INTERMÉDIA

É importante reconhecer que Ordenar é necessário – Porquê. Não nos diz Como, pois está dependente do Para Onde
– Para o Quê.

Isso implica uma diferença existencial, no âmbito da Perspetiva e da Prospetiva.

As duas apenas são possíveis por meio de um elevado grau de abstração, sendo a Escala e a Legenda as ferramentas
imperiosas para tal.

A Escala e a Legenda são ferramentas que servem para a construção de uma


ESCALA SEM visão – esteio – isto é, a contribuem para a ligação de um ponto para o outro.
LEGENDA Neste caso, seria do ponto 1 – Perspetiva – para o momento final, possibilitando
TORNA AS o Ordenamento.
COISAS
ININTELIGÍVEIS A Ordem não é para o Passado, é sempre para o Futuro. Assim, os documentos
são fundamentais, pois são neles que os “sonhos” são registados, obrigando o
esteio, não sendo possível trabalhar sem documentos.
Assim, os elementos essenciais dos
documentos são:

 Planos
 Para onde ou Para Quê?
Plantas
 Perfis

A maioria da População vê a norma como proibitiva – “Não Devo Fazer”.

Contudo, a norma não serve essencialmente ou estruturalmente para proibir, mas sim para Decidir e Assumir as
consequências dessa mesma decisão.

“A Norma não procura proibições, mas sim procura as prescrições, que concretizam as injunções.”
As normas dizem-nos como é que devemos agir.

Kharma vs. Dharma:


 Contudo, em vários campos do Direito, a essência normativa é a inversa, ou seja, a do “Devo Fazer Desta
Forma” – Dharma, sendo o “Não Devo Fazer” residual ou o efeito do afastamento do “Devo Fazer” – Kharma.

Assim, o Kharma consiste numa consequência, regra geral, negativa fruto do afastamento do Dharma.
Os fins, enquanto atribuições, como metas a prosseguir, não podem ser alcançados.

 Quando tomamos decisões, ou quando procuramos normas, devemos ir em busca daquelas que estejam
alinhadas com o nosso fim, pois, se não soubermos procurar a Ordem que mais se adequa a nós, ao invés de
sermos agentes do facto, iremos ser vítimas do facto.
 Onde encontrar a Ordem? – na Constituição da República Portuguesa, por ser o diploma que
fundamenta a nossa Ordem. Assim, por meio dela, podemos encontrar o fim e os princípios que nos
direcionam para o futuro comum, pelo que estrutura o nosso presente em direção a esse futuro.

A CONSTITUIÇÃO VINCULATIVA E A PROGRAMÁTICA


A Constituição está dividida em:
 Normas vinculativas – podem aplicar-se diretamente (ex. posso ser condenado à morte? Não. Então a
norma da Constituição que proíbe a pena de morte em Portugal é vinculativa).
 Normas programáticas – ex. todos têm direito à habitação

O mais importante é a referência no que toca à Dignidade da Pessoa Humana, geralmente melhor percebida pelo
tratamento indigno. Não é considerado um Princípio, visto que vem estipulada antes da Constituição

A Dignidade como Conceito Jurídico:

República Portuguesa (1º): Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na
vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

“Reconhecimento da Unicidade do Outro”

“Não há, não houve, e não haverá ninguém como nós. Sem nós, o Universo teria sido, seria, e será algo diferente.”

 Não é um Direito, mas sim um Dever – as pessoas não têm direito à dignidade, mas têm o dever de reconhecer
a unicidade do outro.
 Cumprindo o dever, pode-se exigir o respeito pela unicidade/dignidade própria de cada um.
O que é a Cultura? O que é o Povo Português?
 A Cultura é economicamente relevante. Para a sua existência, é necessário:
 Liberdade
 Tempo
 Espaço
 Como se cria? – quando se exercita a Liberdade no Tempo, e por isso, ao longo desse tempo, cria-se o Vínculo
de Pertença

NATUREZA E AMBIENTE
Natureza – Conceito Jurídico:
 Vinda do latim “NATURA” que significa “tudo o que está para além do Homem”, a Natureza surge como:

Conjunto de biótipos que vive independente do Homem

 Ao contrário da definição de Natureza, o Homem é dependente desta, pois, havendo carência de oxigénio, o
Homem e todos os seres vivos são extintos.
 A Natureza apenas depende do Homem para se regenerar
 Juridicamente, a Natureza consiste numa obrigação non facere
 A Natureza surge, na CRP, no artigo 66º:

Ambiente e qualidade de vida (66º): todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente
equilibrado e o dever de o defender – nº1
 O Estado não diz que temos direito à Natureza, mas sim ao Ambiente, que pode ser:
 Natural
 Construído – Ambiente Humano (ex. parque florestal de Monsanto)
 Assim, podemos concluir que todos nós temos direito a uma vida saudável e a ter uma casa equilibrada – não
explorar de forma excessiva o que temos – neste caso, a Natureza.

Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro de um desenvolvimento sustentável, incumbe ao Estado, por meio
de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos -nº2:

- prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão – al. a)


 Poluição – externalidade negativa. Todos os seres vivos poluem, mas a poluição só se torna um problema
quando se torna excessivo.
Assim, a título de exemplo, devido à indestrutibilidade do plástico, a Natureza começou a integrá-lo em si.
 Erosão – desgaste nas rochas causado pelos elementos naturais (ex. águas, vento)

- ordenar e promover o ordenamento do território, tendo em vista uma correta localização das atividades, um
equilibrado desenvolvimento socioeconómico e a valorização da paisagem – al. b)
 Tendo em conta a alínea infra, o Ordenamento do Território faz-se através de 3 vetores:
 Correta localização das atividades – as atividades socioeconómicas previstas no Ordenamento não
devem entrar em colisão (ex. nas zonas residenciais não devem ser colocadas indústrias, pois colidem
com o descanso das pessoas)
Ex. não se devem colocar atividades de lazer no meio das cidades, porque cada uma deve estar
alinhada com o seu fim. Isso mesmo é o que significa Ordenar.
 Equilibrado desenvolvimento socioeconómico – dependente da correta localização das atividades (ex.
se não houver cuidado, e se criar uma zona industrial muito pequena, há irá haver espaço/sítio para
as indústrias se colocarem)
 Valorização da paisagem – antes da análise deste ponto, há que ter em conta os seguintes conceitos:

PAISAGEM VISTA
Para ser paisagem, esta tem de Consiste na perspetiva de uma
provocar uma alteração da coisa num determinado
emoção, daí ser valiosa. momento e de um
determinado local
Assim, uma Paisagem com Valor significa que a Paisagem tem um valor de natureza cultural partilhado (ex. o Douro
é Património Cultural da Humanidade, na tipologia “Paisagem Humana Partilhada”)

De entre o vasto número de vetores a considerar, que vão desde a defesa contra a erosão, até às medidas fiscais, os
vetores que nos permitem assegurar a “Correção” do Ordenamento, constituindo-se como elementos estruturantes
do Ordenamento do Território, são:

 Correta Localização das Atividades;


 Equilibrado Desenvolvimento Socioeconómico;
 Valorização da Paisagem

- criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como classificar e proteger paisagens e sítios, de
modo a garantir a conservação da natureza e a preservação de valores culturais de interesse histórico ou artístico –
al. c)
 Reserva Natural – para permanecer intocável, não poderá existir a intervenção do Homem, e muito menos a
sua presença
 Parque Natural – o Homem deve entrar para poderem existir e subsistir (ex. Parque Eduardo VII)
 A par com esta alínea, o art.9º al. e) consagra que uma das Atribuições Fundamentais do Estado é proteger
e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente (…).

- promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a
estabilidade ecológica com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações – al. d)
 Originados do latim “IN + SUME(RE)” - tomar e colocar em. Atualmente é conhecido pelo termo “input”, que
não deve ser confundido com “raw materials”

CRUDUS
Termo aplicado à indústria
transformadora como base do processo
produtivo – “o que entra em cru”

 A Humanidade depende dos Recursos Naturais – tudo aquilo que exista na Natureza e possa ser apropriado,
em razão da sua utilidade - que podem ser:
 Renováveis – ex. vento, água;
 Semi-renováveis – ex. animais;
 Não Renováveis - não podem ser preservados, pelo que serão extraídos, transformados e renovados
– ex. petróleo
 A principal questão dos Recursos Naturais prende-se com a essência deles mesmos – se são renováveis ou não
renováveis – pois é evidente que a concretização da Preservação – administrar – advém da sua possibilidade
de Aproveitamento – fruir.
A ação tradicional do Homem, face aos Recursos Naturais, é de os extrair, atividade em si que tem riscos para os
demais valores constitucionalmente relevantes

- assegurar que a política fiscal compatibilize desenvolvimento com proteção do ambiente e qualidade de vida - al. h)
 a fiscalidade pode ter um papel no Ambiente e na qualidade de vida, mas é, naturalmente, um “papel indireto”
Em suma:

COMO SE DEFENDE A NATUREZA?


Tendo em conta de que “Tudo o que é Natureza prescinde do Homem”, a melhor forma de proteger a
Natureza é impedir que o Homem permaneça na Natureza, procedendo à sua Conservação – exclusão
do Homem da Natureza

Ambiente:
 Em latim “AMBIENTES”, aponta para o que nos cerca dos dois lados, à frente e atrás. De todo o modo, consiste
no que nos engloba, “dentro”, formando um todo – tudo aquilo que nos abraça.
 Carece de um adjetivo/objetivo (ex. Meio Ambiente; Ambiente Natural)
 É um conceito mais amplo e/ou maior do que o conceito de “Natureza” – esta é apenas o Ambiente Natural
 Contém os seguintes elementos essenciais:

AMPLITUDE
DIREITOS E DEVERES DIFUSOS
É sempre necessário um adjetivo, caso
Ao contrário dos direitos subjetivos, os
contrário, não se sabe de que Ambiente se
direitos difusos são gozados por todos, não
trata
podendo ser individualizados.

Desta forma, eu tenho direito ao Ambiente e


ABRANGUE ENTIDADES PÚBLICAS E todos têm direito ao Ambiente.
ENTIDADES PRIVADAS

ENUMERAÇÃO EXAUSTIVA
O Ambiente tem tendência para crescer, o
PRISMA HUMANO que quer dizer que, por muito descritivo
A Natureza é tudo aquilo que prevalece que seja, é um conceito amplo.
sem a existência do Homem.
Já o Ambiente é um problema humano,
porque é o Homem que introduz a
necessidade de objetivos no Ambiente.

Portanto, sem o Homem, Natureza e


Ambiente seriam o mesmo conceito.

Assim, por ser a origem do problema, é


a função do Homem encontrar a
solução.
Qualidade de Vida vs. Nível de Vida

QUALIDADE DE VIDA NIVEL DE VIDA


Medida de acordo com os vários Medida económica que corresponde
vetores relativamente às à divisão de rendimento de um país
condições de um ser humano – PIB – pelo seu número de
 Depende dos fatores que habitantes, resultando no Nível de
se utiliza/valoriza Riqueza
 Relacionado com a  A cada ano que passa, temos
satisfação por se estar mais bens e mais serviços, o
vivo. que significa melhoria do
nível de vida, mas não se
traduz na melhoria da
qualidade de vida

(Des)Ordenamento do Território
 O que importa questionar neste ponto é O que é um Ordenamento Correto? – segundo a CRP, significa que:
 Tomaram-se as melhores decisões relativamente à Localização das Atividades, de maneira a evitar a
sua colisão devido às suas incompatibilidades;
 Promoveu-se um Equilibrado Desenvolvimento Socioeconómico; e ainda
 Conseguiu-se a tal Valorização da Paisagem.
 Contudo, para a concretização do infra, há que ter em conta os seguintes conceitos:
 Condicionantes – juridicamente, interessam as plantas de condicionantes – dizem o que podemos ou
não fazer – para se entender a Escala
 Layers – sobreposição integrada de mapas;
 Património – podendo ser cultural, humano, natural, a sua componente urbana visa a obtenção da
Sustentabilidade Socioeconómica.
 Perímetro (onde?) – todos os planos são baseados e têm um Perímetro, pois só dentro deste é que se
obtém o Ordenamento, que pressupõe uma Intervenção e Estratégia
 Estratégia – modo dinâmico de adequação dos meios aos fins – forma como chegamos
ORIENTAR? SUPERENTENDER? PROPOR? FIXAR? CORRIGIR? – O QUE É MAIS FORTE?

CORRIGIR
 Para corrigir alguém, eu tenho que estar numa posição superior
 A Correção pode ocorrer ex ante – antes das coisas acontecerem – ou depois das coisas acontecerem.
 Se eu agir JÁ da forma CORRETA, significa que AGI COM CORREÇÃO

Pode ser Fruto da Precaução – Se eu agir JÁ da forma CORRETA, significa que AGI COM CORREÇÃO – ou ser Fruto
da Sanção – DEPOIS das coisas acontecerem MAL, significa que eu posso CORRIGIR

AS CONDIÇÕES DE UM CORRETO ORDENAMENTO


DA POLÍTICA À CONCRETIZAÇÃO

O Planeamento faz-se de acordo com a Estrutura de Oportunidades:

 Ambiente – surge como primeira componente do Plano.


Existe sempre a Perspetiva – onde estou? – e a Prospetiva – para
onde eu quero ir? – e ambas se devem adequar ao Ambiente
envolvente;

 Equidade – significa “Justiça no Caso Concreto”. Por sua vez, a


maior Injustiça é tratar de forma igual o que é desigual;

 Eficiência – ao contrário de Eficácia – se se tem capacidade ou


competência para produzir um resultado - a Eficiência é a
possibilidade de replicação de acontecimentos geradores de
resultados;

 Tradição;

 Inovação – o que é que fazia antes que posso fazer melhor?


O que é que os outros fazem que eu posso melhorar?

 Risco – assunção do prejuízo com a nossa decisão. Só existe


quando se assume a potencialidade da decisão e/ou de um
prejuízo, podendo ser:

 Operacional – implica igual ou menor valor ganho


potencial (ex. escolha da operadora telefónica);
 Tático – o falhanço degrada o nível de vivência,
passando a viver-se pior (ex. quando nos pedem o
dinheiro que temos de parte)
 Estratégico – o prejuízo é igual à perda de vida – “é o
tudo ou nada”
O Conflito entre o Direito/Interesse Público e o Direito/Interesse Privado
 O que faz com as pessoas se movam é um bem, ainda mais se for um bem que estimem.
 A Iniciativa Privada, ou o Interesse Privado, só existe se houver direito à propriedade privada, pois ninguém
tem iniciativa se não puder ficar com os frutos/resultados dessa iniciativa.

Em Portugal, a propriedade privada


perde-se através (62º nº2):
 Requisição
 Expropriação por utilidade
pública

Constituição da República Portuguesa:


Iniciativa privada, cooperativa e autogestionária (61º): a iniciativa económica privada exerce-se livremente nos
quadros definidos pela Constituição e pela lei e tendo em conta o interesse geral – nº1

Direito de propriedade privada (62º): a todos é garantido o direito à propriedade privada e à sua transmissão em
vida ou por morte, nos termos da Constituição – nº1
A requisição e a expropriação por utilidade pública só podem ser efetuadas com base na lei e mediante pagamento
de justa indemnização – nº2

Habitação e urbanismo (65º): todos têm o direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão
adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar – nº1
Para assegurar o direito à habitação, incumbe ao Estado – nº2:
- programar e executar uma política de habitação inserida em planos de ordenamento geral do território e apoiada
em planos de urbanização que garantam a existência de uma rede adequada de transportes e equipamento social –
al. a)
O Estado, as Regiões Autónomas e as autarquias locais definem as regras de ocupação, uso e transformação dos
solos urbanos, designadamente através de instrumentos de planeamento, no quadro das leis respeitantes ao
ordenamento do território e ao urbanismo, e procedem às expropriações dos solos que se revelem necessárias à
satisfação de fins de utilidade pública urbanística - nº4
É garantida a participação dos interessados na elaboração dos instrumentos de planeamento urbanístico e de
quaisquer outros instrumentos de planeamento físico do território – nº5

Ambiente e qualidade de vida (66º): todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente
equilibrado e o dever de o defender – nº1
Para assegurar o direito ao ambiente, no quadro do desenvolvimento sustentável, incumbe ao Estado, por meio de
organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos – nº2:
- prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão – al. a)
- ordenar e promover o ordenamento do território, tendo em vista uma correta localização das atividades, um
equilibrado desenvolvimento socioeconómico e a valorização da paisagem – al. b)
- criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como a conservação da natureza e a preservação
de valores culturais de interesse histórico ou artístico – al. c)
- promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação, e a
estabilidade ecológica, com respeito pelo princípio da solidariedade entre gerações – al. d)
- assegurar que a política fiscal compatibilize desenvolvimento com proteção do ambiente e qualidade de vida – al. h)
Código Civil:
Das coisas – noção (202º): diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto das relações jurídicas – nº1
Consideram-se, porém, fora do comércio todas as coisas que não podem ser objeto de direitos privados, tais como as
que se encontram no domínio público – 84º nº1 - e as que são, por sua natureza, insuscetíveis de apropriação
individual (ex. ar, oceanos, planetas, estrelas e as relativamente às quais a apropriação individual não se mostra
viável) – nº2

Coisas imóveis (204º): são coisas imóveis – nº1:


- os prédios rústicos e urbanos – al. a);
- as águas - al. b);
- as árvores, os arbustos e os frutos naturais, enquanto estiverem ligados aos solos – al. c);
- os direitos inerentes aos imóveis mencionados nas alíneas anteriores – al. d);
- as partes integrantes dos prédios rústicos e urbanos – al. e).
Entende-se por prédio rústico uma parte delimitada do solo e as construções nele existentes que não tenham
autonomia económica (ex. solo ou terreno), e por prédio urbano qualquer edifício incorporado no solo, com os
terrenos que lhe sirvam de logradouro (ex. edifício ou casa incorporada no solo) - nº2
É parte integrante toda a coisa móvel ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência – nº3

Coisas móveis (205º): são móveis todas as coisas não compreendidas no artigo anterior – nº1
Às coisas móveis sujeitas a registo público (ex. automóveis, navios, embarcações e aeronaves) é aplicável o regime
das coisas móveis em tudo o que não esteja especialmente regulado – nº2

Objeto do direito de propriedade (1302º): as coisas corpóreas, móveis ou imoveis, podem ser objeto do direito de
propriedade regulado neste Código – nº1
Podem ainda ser objeto do direito de propriedade os animais, nos termos regulados neste Código e em legislação
especial – nº2

Propriedade das coisas (1305º): o proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de usos – o proprietário
pode determinar o aproveitamento da coisa para os fins que pretender, sem prejudicar essa mesma coisa -,
fruição – permite ao proprietário obter determinado rendimento da coisa, melhorando a sua condição económica
- e disposição – compreende a transformação, alienação ou oneração, e a extinção do seu direito sobre as coisas -
das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei com observância das restrições por ela impostas

“Numerus clausus” (1306º): não é permitida a constituição, com carácter real, de restrições ao direito de
propriedade ou de figuras parcelares deste direito senão nos casos previstos na lei; toda a restrição do negócio
jurídico, que não esteja nestas condições, tem natureza obrigacional – nº1
O quinhão e o compáscuo constituídos até à entrada em vigor deste Código ficam sujeitos à legislação anterior – nº2

Expropriações (1308º): ninguém pode ser privado, no todo ou em parte, do seu direito de propriedade senão nos
casos fixados na lei
 Consiste na subtração de um bem imóvel ao seu proprietário, em virtude da utilidade pública que esse bem
representa, o que é atribuído a uma entidade que prossegue esses fins, mediante pagamento ao anterior
proprietário de uma justa indemnização.
 Deve limitar-se ao necessário para a realização do seu fim, sendo estabelecido um direito de reversão a favor
do proprietário se, no prazo de 2 anos, os bens não forem afetos a esse fim

Requisições (1309º): só nos casos previstos na lei pode ter lugar a requisição temporária de coisas no domínio
privado
 “ato administrativo pelo qual um órgão competente impõe a um particular, verificando-se as circunstâncias
legais e mediante indemnização, a obrigação de prestar serviços, de ceder coisas móveis ou semoventes ou
consentir a utilização temporária de quaisquer bens que sejam necessários à realização do interesse público
e que não convenha procurar no mercado”
 É constitucionalmente sujeita ao regime da expropriação
Indemnizações (1310º): havendo expropriação por utilidade pública por particular ou requisição de bens, é sempre
devida a indemnização adequada ao proprietário e aos titulares dos outros direitos reais afetados

Propriedade de imóveis – Limites materiais (1344º): a propriedade dos imóveis abrange o espaço aéreo
correspondente à superfície, bem como o subsolo, com tudo o que neles se contém e não esteja desintegrado do
domínio por lei ou negócio jurídico – nº1
O proprietário não pode, todavia, proibir os atos de terceiros que, pela altura ou profundidade a que têm lugar, não
haja interesse em impedir – nº2

Emissão de fumo, produção de ruídos e factos semelhantes (1346º): o proprietário de um imóvel pode opor-se à
emissão de fumo, fuligem, vapores, cheiros, calor ou ruídos, bem como à produção de trepidações e a outros
quaisquer factos semelhantes, provenientes de prédio vizinho – não tem, necessariamente, de ser prédio contíguo,
podendo significar prédio próximo num sentido de possibilidade de afetação ou proximidade social, o que permite
alargar o âmbito da proteção assegurada -, sempre que tais factos importem prejuízo substancial para o uso do
imóvel ou não resultem de utilização normal do prédio de que emanam
 Os privados conservam o direito de reagir com base no dever de abstenção das emissões, independentemente
de a atividade prejudicial ter sido ou não objeto de autorização administrativa.
 O dever não se considera respeitado em virtude do cumprimento das normas gerais sobre a poluição, uma
vez que o que está em causa é o prejuízo específico causado à utilização do imóvel vizinho

Instalações prejudiciais (1347º): o proprietário não pode construir nem manter no seu prédio quaisquer obras,
instalações ou depósitos de substanciais corrosivas ou perigosas, se for de recear que possam ter sobre o prédio
vizinho efeitos nocivos não permitidos por lei – nº1
Se as obras, instalações ou depósitos tiverem sidos autorizados por entidade pública competente, ou tiverem sido
observadas as condições especiais prescritas na lei para construção ou manutenção deles, a sua inutilização só é
admitida a partir do momento em que o prejuízo se torne efetivo – nº2
É devida, em qualquer dos casos, indemnização pelo prejuízo sofrido – nº3

Construções e edificações – Abertura de janelas, portas, varandas e obras semelhantes (1360º): o proprietário que
no seu prédio levantar edifício ou outra construção não podem abrir nele janelas ou portas que deitem diretamente
sobre o prédio vizinho sem deixar entre este e cada uma das obras o intervalo de metro e meio – nº1
Igual restrição é aplicável às varandas, terraços, eirados ou obras semelhantes, quando sejam servidos de parapeitos
de altura inferior a metro e meio em toda a sua extensão ou parte dela – nº2
Se os dois prédios forem oblíquos entre si, a distância de metro e meio conta-se perpendicularmente do prédio para
onde se deitam as vistas até à construção ou edifício novamente levantado; mas, se a obliquidade for além de
quarenta e cinco graus, não tem aplicação a restrição imposta ao proprietário – nº3

Prédios isentos da restrição (1361º): as restrições do artigo precedente não são aplicáveis a prédios separados entre
si por estrada, caminho, rua, travessa ou outra passagem por terreno do domínio público

Servidão de vistas (1362º): a existência de janelas, portas, varandas, terraços, eirados ou obras semelhantes, em
contravenção do disposto na lei, pode importar, nos termos gerais, a constituição da servidão de vistas por usucapião
– nº1
Constituída, por usucapião ou outro título, ao proprietário vizinho só é permitido levantar edifício ou outra
construção no seu prédio desde que deixe entre o novo edifício ou construção e as obras mencionadas no nº1 o
espaço mínimo de metro e meio, correspondente à extensão destas obras - nº2
 O que é tutelado por esta servidão não é a vista em si, mas o facto de ter a varanda, janela ou porta em
condições de poder ver ou devassar o prédio vizinho
 Em consequência da constituição, é o proprietário do prédio vizinho que, a partir do momento, passa a ficar
sujeito à proibição de construir sem respeitar o interstício legal de metro e meio
Frestas, seteiras ou óculos para luz e ar (1363º): não se consideram abrangidos pelas restrições da lei, podendo o
vizinho levantar a todo o tempo a sua casa ou contramuro, ainda que vede tais aberturas – nº1
Devem, todavia, situar-se pelo menos a 1,85 cm de altura, a contar do solo ou do sobrado, e não devem ter, numa
das suas dimensões, mais de 15 cm; a altura de 1,85 cm respeita a ambos os lados da parede ou muro onde essas
aberturas se encontram – nº2

Janelas gradadas (1364º): é aplicável o disposto do nº1 do artigo antecedente às aberturas, quaisquer que sejam as
suas dimensões, igualmente situadas a mais de 1,85 cm do solo ou do sobrado, com grades fixas de ferro ou outro
metal, de secção não inferior a 1 cm2e cuja malha não seja superior a 5 cm – a grade é fixa é justifica em ordem de
evitar a devassa do prédio vizinho, mediante a abertura da janela

Estilicídio (1365º): o proprietário deve edificar de modo que a beira do telhado ou outra cobertura não goteje sobre o
prédio vizinho, deixando um intervalo mínimo de 5 dm entre o prédio e a beira, se de outro modo não puder evitá-lo
– nº1
 Este número prende-se em ordem a evitar o gotejamento sobre o prédio vizinho – o proprietário deve realizar
a edificação por forma a que a beira do telhado ou outra cobertura não goteje sobre o prédio vizinho, tendo,
se não puder evitar esse gotejamento de outro modo, pelo menos a obrigação de deixar um intervalo de meio
metro entre o prédio e a beira
Constituída por qualquer título, o proprietário do prédio serviente não pode levantar edifício ou construção que
impeça o escoamento das águas, devendo realizar as obras necessárias para que o escoamento se faça sobre o seu
prédio, sem prejuízo para o prédio dominante – nº2
 A constituição de servidão de estilicídio confere ao proprietário dominante o direito de gotejar as águas sobre
o prédio serviente
 A partir do momento da constituição, o prédio serviente deixa de poder colocar entraves ao escoamento das
águas, devendo realizar as obras necessárias para que o mesmo se faça sobre o seu prédio, sem prejuízo do
prédio dominante.

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