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O problema do Livre-Arbítrio

Livre-arbítrio e determinismo

Está é a primeira noção de liberdade ou de livre-arbítrio: O livre-arbítrio


corresponde a uma vontade livre e responsável de um agente racional, o qual
responde pelas suas escolhas e ações.

Determinismo: Ideia de que todos os acontecimentos, incluindo as ações humanas


são o efeito de causas anteriores e das leis da natureza.

Será que a liberdade humana é em termos de possibilidade de optar, é ou não


compatível com outras forças que a parecem anular? Não existirão forças
externas e internas que a limitam e que anulam mesmo o livre-arbítrio? Será que
o ser humano é livre ou é determinado na sua ação?

Três Teorias sobre o Livre-Arbítrio

O Determinismo Radical – Teoria que defende que não existe livre-arbítrio e


nenhuma ação humana é livre. Defende o incompatibilismo entre o livre arbítrio e o
determinismo natural, não havendo lugar para o livre arbítrio. Só o determinismo é
verdadeiro. Teoria que diz que livre-arbítrio e determinismo são inconciliáveis.
Para o determinismo tudo o que acontece no universo obedece a uma lei causal.
Numa relação causa-efeito um qualquer acontecimento tem sempre uma causa, há
uma relação de dependência e derivação necessária, isto é, o efeito não existe sem
causa. Todos os acontecimentos têm sempre uma causa de acontecimentos
anteriores e também nas leis da natureza. Assim, tudo o que acontece e tudo o que
fazemos é o resultado inevitável de causas anteriores que escapam ao nosso controlo.
O livre-arbítrio é uma ilusão. O determinista radical não é a pessoa que simplesmente
acredita no determinismo, acredita também que a liberdade e a responsabilidade
moral são incompatíveis com o determinismo que reina em toda a natureza. O nosso
comportamento é o resultado inevitável de condicionantes (causas) que
desconhecemos e que não controlamos, o nosso comportamento não depende da
nossa vontade e por isso não temos a liberdade necessária para sermos moralmente
responsáveis. As causas que determinam o comportamento humano, dada a
complexidade deste, são muito variadas: biológicas, sociais, culturais e psicológicas.,
entre outras.
Dado que as ações não são livres, os agentes são têm genuína responsabilidade (não
são realmente culpados pelo que fazem de mal e não têm mérito pelas boas ações).

Críticas ao determinismo radical


Se a tese do determinismo radical for verdadeira, não fará sentido existir um sistema
de sanções para os sujeitos que não cumpram a ordem legal. Os seres humanos, não
tendo uma vontade livre, serão simples autómatos, simples peças numa engrenagem
de um mecanismo universal. Que sentido fará, então, castigar e responsabilizar
alguém por um crime se esse alguém não poderia ter agido de outro modo? Em última
análise, o determinismo radical, ao negar a existência do livre-arbítrio, inviabiliza a
responsabilidade moral e a própria moralidade, já que nenhuma ação poderá ser
classificada como boa ou má.
A nossa vida individual e as nossas escolhas pressupõem o livre arbítrio. Somos livres
porque nos apercebemos de que o somos no ato de escolher. Sentimentos de culpa,
de arrependimento ou de penitência mostram que o sujeito acredita que poderia ter
agido de outro modo. Que sentido faria arrependermo-nos de algo que não pudemos
escolher?

Determinismo moderado (Compatibilismo)


Se o determinismo negava o livre-arbítrio, para esta corrente não há incompatibilidade
entre livre-arbítrio e determinismo, mesmo que sejamos determinados por causas, não
deixamos de ser livres e responsáveis.
Tese: Existe livre-arbítrio e algumas ações são livres. Esta perspetiva aceita o
determinismo num mundo natural, mas defende que existe espaço para a liberdade e
para a responsabilidade humana. Todas as ações são determinadas por causas
anteriores, mas algumas ações são livres. Assim, um ato pode ser ao mesmo tempo
livre e determinado. Os deterministas moderados defendem que todos os
acontecimentos são determinados pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da
natureza, e que, desde que não sejamos coagidos, temos livre-arbítrio. Como?
Distinguindo as ações livres de ações não livres.
As ações livres são aquelas em que o agente não é constrangido na sua vontade,
são aquelas que fazemos com vontade de fazer, sem que ninguém nos obrigue.
Somos determinados apenas por estados internos como desejos, crenças e
intenções. Esta ações resultam do nosso caráter e personalidade. O comportamento
que resulta dos nossos desejos, crenças, intenções, objetivos ou propósitos é livre,
então uma parte do nosso comportamento depende da nossa vontade; (Tipo de
ações em que somos livres e determinados ao mesmo tempo). Existem
possibilidades alternativas de ação: o agente faz uma coisa, mas podia ter feito outra,
caso o tivesse desejado.
As ações não livres são aquelas ações cujas causas imediatas são fatores externos
ao indivíduo, que o agente não pode controlar, em que é forçado, coagido a escolher
isto ou aquilo, sem que seja essa a sua vontade, resulta de fatores que o agente não
pode controlar.
Se as causas de uma ação estão em mim (nas minhas crenças e desejos), então são
livres. Se não são causadas pelas crenças e desejos que constituem a minha
personalidade então não são livres. Para o compatibilismo somos responsáveis pelas
ações cuja causa são estados internos do agente, temos responsabilidade moral
sempre que a nossa ação resulte da nossa vontade.
Poderíamos dizer que constitui um ato não livre ou constrangido se os seus
intervenientes são vítimas de circunstâncias e de fatores externos que escapam ao
seu controlo. Os intervenientes são forçados a escolher algo, são coagidos, o que não
é verdadeiramente voluntário.

Críticas ao determinismo moderado


Ao dizer-se que somos livres, mas que as nossas ações decorrem das nossas
crenças, do nosso caráter e dos nossos desejos não manipulados, não podemos
ignorar que o caráter, as crenças e os desejos dependem de forças que não
controlamos. Se tudo em nós é causado por acontecimentos anteriores e pelas leis da
natureza, então temos de admitir que há forças e impulsos que não dependem de nós
e que servem de causas para o nosso comportamento, constrangendo-nos a agir de
determinado modo, ainda que a ação se nos afigure perfeitamente voluntária, livre e
não-coagida.

Libertismo
Tese: Existe livre-arbítrio e algumas ações são livres (as que não são causalmente
determinados).
O libertismo é uma perspetiva incompatibilista, pois considera que o determinismo e o
livre-arbítrio são podem coexistir.
Segundo esta corrente o ser humano é um ser dotado de vontade, as ações do ser
humano decorrem das suas deliberações e não são necessariamente causadas por
acontecimentos anteriores. São ações em que a nossa vontade própria inicia uma
nova sequência causal, não sendo determinada por acontecimentos passados. Somos
nós que controlamos essa cadeia de causas e efeitos, não somos controlados por ela.
Uma ação livre é a negação de uma ação determinada. Esta corrente defende que o
ser Humano é totalmente responsável pelas ações que resultam das deliberações da
sua vontade. Segundo o libertismo, a minha ação é livre se for causada por mim
(minha vontade e deliberação). Esta corrente assegura que o agente não é
determinado, tem o poder de se autodeterminar. O livre-arbítrio envolve a existência
de possibilidades alternativas da ação: realizamos uma certa ação, mas podíamos ter
realizado outras.
Defende a dualidade entre o corpo e a mente, a mente dá o poder ao homem de
interferir no mundo e na ordem natural da natureza. Sendo as nossas ações livres as
pessoas são responsáveis por essas ações.
Para além de argumentarem que o agente tem o poder de se autodeterminar, os
libertistas apresentam o argumento da experiência e o argumento da
responsabilidade. Por um lado, a experiência da liberdade é uma prova de que somos
livres: sabemos que somos livres porque nos apercebemos de que o somos sempre
que fazemos uma escolha consciente. Por outro lado, temos a noção da
responsabilidade. No nosso modo habitual de pensar, consideramos que os outros são
responsáveis pelas suas ações e nós pelas nossas, sendo censurável o mau
comportamento e louvável o bom. Para que estas reações sejam justificáveis, parece
ser necessário que tenhamos livre-arbítrio.

Críticas ao libertismo
O facto de termos experiência da liberdade não prova que esta exista. Ela pode ser
ilusória, isto é, essa sensação pode não corresponder a nada de real. O determinista
diria que sentimos que somos livres porque ignoramos todas as forças externas e
internas (físicas e psicológicas) que agem sobre nós. Do mesmo modo, os
sentimentos associados à responsabilidade moral podem não ser justificáveis. Os
estados de remorso ou de satisfação podem ser apenas respostas inevitáveis às
ações que os precederam. O libertismo não nos fornece grandes explicações sobre
aquilo que produz as nossas decisões. Portanto, o argumento da experiência não
prova a existência de livre-arbítrio.

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