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O problema do livre arbítrio é um problema de

compatibilidade que traduz o conflito entre


duas teses igualmente possíveis: a de qu
e o ser humano tem vontade livre (libertismo)
e a de que tudo o que acontece no universo é Argumentos a favor do libertismo:
determinado por uma rede de causas ou - argumento da experiência da
ocorrências anteriores (determinismo). liberdade (temos experiência do livre
Formulação do problema: as ações humanas arbítrio e, portanto, este existe. Ou
serão realmente livres? Será que a crença no seja: muitas vezes, ao fazermos
livre-arbítrio é compatível com a crença no escolhas, não sentimos nenhuma
determinismo? espécie de constrangimento, nenhuma
força a controlar-nos e a obrigar-nos a
O problema filosófico do livre-arbítrio resulta fazer algo).
do facto de essas duas crenças podem, - argumento da responsabilidade (caso
eventualmente, ser incompatíveis: talvez o não exista livre-arbítrio, não é possível
facto de as ações serem determinadas as existir responsabilidade, nem culpa e
impeça de serem livres. mérito. Visto que, as pessoas podem
Há três respostas a este problema: o ser responsabilizadas somente pelas
determinismo radical, o libertismo e ações de que são autoras, mas como
odeterminismo moderado. isso é implausível, devemos concluir
que o livre arbítrio existe. O
As teorias incompatibilistas consideram que o determinista dirá que a
livre-arbítrio não é compatível com o responsabilidade é tão ilusória como o
determinismo e os compatibilistas afirmam o livre-arbítrio).
contrário. O libertismo e o determinismo
radical são doutrinas incompatibilistas e o Objeções:
determinismo moderado é uma doutrina - A ideia de que há ações sem causas
compatibilista. anteriores é implausível e
anticientífica, pois em qualquer ação

Lisbertismo
que analisamos encontramos sempre
essas causas.
A tese de que há livre-arbítrio defende que - Podemos não sentir ou não
temos capacidade para decidir sobre as reconhecer os efeitos provocados
nossas ações de modo pelos menos pelas causas anteriores e, mesmo
parcialmente livre. assim, estas existirem e determinarem
Para o libertismo, não há, ao nível das ações a nossa vontade (como as nossas
humanas, quaisquer cadeias predefinidas de crenças e desejos). Portanto, o
acontecimentos. Ao agir livremente, o agente argumento da experiência não prova a
autodetermina-se: age independentemente de existência de livre-arbítrio.
quaisquer causas anteriores. Essa
autodeterminação resulta dos nossos estados
mentais (crenças e desejos). O libertismo defende que o
O livre-arbítrio envolve a existência de determinismo é falso ainda que possa
possibilidades alternativas de ação ser verdadeiro no mundo físico. Os
(realizarmos uma certa ação, mas podíamos seres humanos têm livre-arbítrio
ter realizado outras). (capacidade para escolher, agir e
decidir e iniciar cadeias causais).
Determinismo Radical - Põe em causa a noção de
A tese no determinismo radical afirma que responsabilidade moral. Se não temos
todos os acontecimentos estão determinados. várias opções em aberto no momento
Diz ainda que os seres humanos estão de decisão, não podemos ser
sujeitos às mesmas leis que regem o responsabilizados por termos
funcionamento dos fenómenos físicos. Assim, escolhido uma única coisa.Todavia,
tudo é resultado ou consequência necessária abdicar das noções de
de acontecimentos anteriores. responsabilidade, mérito e culpa pode
Para os deterministas radicais, o livre arbítrio trazer consequências sociais
não passa de uma ilusão pois qualquer ação desastrosas. Por esse motivo, os
é o efeito necessário e inevitável das causas críticos do determinismo julgam que
prévias determinadas e por isso, o agente só não devemos aceitar esta perspetiva.
podia ter feito o que fez, não tendo assim
possibilidades alternativas de ação.
Dado que as ações não são livres, os agentes Critério de distinção entre atos
não têm genuína responsabilidade (não são
realmente culpados pelo que fazem de mal e livres e atos não livres.
não têm mérito pelas boas ações). Mas
apesar de não existir genuína
Ambas as crenças, no determinismo e no
responsabilidade, as pessoas devem ser
livre-arbítrio usam o mesmo critério para
responsabilizadas, pois desse modo
distinguir atos livres de atos não livres e
promove-se as boas ações e dissuade-se as
ambas têm a mesma conceção do que é o
más.
livre-arbítrio. O critério baseia-se na
existência ou inexistência de uma causa.
Argumentos a favor do determinismo radical:
Se existir uma causa, o ato não é livre.
- A ciência é determinista. Sem ela não
Se não existir uma causa, o ato é livre.
podemos compreender
adequadamente o mundo. Este apoia
as ideias deterministas, de que tudo Ato livre Ato não livre
obedece a relações causais. Por isso,
Ato não causado Ato causado
para um determinista radical, negar o
determinismo, é contrariar a ciência, e
é uma atitude pouco racional.
- O livre-arbítrio e a liberdade são O Determinismo radical e o libertismo
ilusões. Não podemos ignorar as estão de acordo numa coisa: o
causas que determinam os nossos determinismo e o livre-arbítrio são
desejos e crenças. incompatíveis, ou seja, se uma ação
humana tiver causas anteriores, então não
será livre.
Objeções ao determinismo radical:
- Sem o livre-arbítrio, a vida não teria Ambas as crenças definem o livre arbítrio
sentido, porque seríamos como robôs, como a autodeterminação do agente que
programados para fazer o que dá início a uma cadeia causal e que lhe
fazemos. torna possível escolher sem a presença de
uma causa. Mas o determinista diz que
esta autodeterminação é ilusão.
resolve o problema, pois os
incompatibilistas não duvidam de que

Determinismo moderado por vezes seja possível agir sem coações


Segundo esta teoria compatibilista, a crença e não é isso que discutem entre eles, mas
no determinismo e no livre-arbítrio são ambas sim se um agente pode ou não
verdadeiras. Ou seja, todas as ações são autodeterminar-se (se pode escolher sem
determinadas por causas anteriores, mas a presença de uma causa e se pode dar
algumas são livres. Diz que todos os inicio a cadeias causais).
acontecimentos são causados, mas existe
possibilidade de ação.
Critério que distingue atos livres e
Esta teoria não concorda com o critério usado atos não livres
pelas outras crenças na distinção de atos
livres de atos não livres. Esta teoria utiliza um critério diferente do
determinismo radical e do libertismo para
Argumentos a favor do determinismo distinguir atos livres e atos não livres.
moderado:
- O libertismo é uma teoria implausível Diz então que:
pois a crença no livre-arbítrio não é Apesar de algumas ações serem livres, só o
consistente com a ideia que existe em são em resultado de como estas são
nós acerca do determinismo (pois determinadas. Ou seja, o que distingue uma
todos acreditamos que o que acontece ação livre de uma ação não-livre depende do
tem uma causa por trás). O modo como são determinadas.
determinismo radical é uma teoria
implausível pois é inconsistente com a Assim sendo, uma ação livre e não-livre
ideia/crença que existe em nós acerca distingue-se pela presença ou não de uma
da responsabilidade moral (porque coação/compulsão (força exterior que não
todos nós acreditamos que somos dominamos que nos faz realizar determinado
responsáveis pelo que fazemos). tipo de ações). Logo, não é a causa que as
Assim o determinismo moderado é torna não-livres.
consistente com a ideia que em nós
existe acerca da responsabilidade
Ato livre Ato não livre
moral e acerca do determinismo pois
possibilita a atribuição de Ausência de Presença de
responsabilidade, mérito e culpa, num compulsão compulsão
universo determinista.

Objeções ao determinismo moderado: Assim, esta teoria redefine o conceito de


- Não permite compreender realmente a livre-arbítrio: não é o poder de agir
existência de autênticas possibilidades independentemente de causas anteriores,
alternativas de ação, pois se uma mas sim o poder de fazer o que queremos e
ação tem sempre causas anteriores não fazer o que não queremos. Define então,
que o agente não controla, não parece como livre-arbítrio, a ausência de uma
possível fazer algo de diferente e compulsão e que deriva das crenças e
alternativo. O querer tem uma causa, desejos do agente.
logo não é livre.
- A redefinição do conceito de
livre-arbítrio é simplista, pobre e não

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