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libertismo
radical moderado
Formulação do problema: As ações humanas são realmente
Todos os
livres ou são determinadas por efeitos de causas anteriores?
Se todos os acontecimentos são efeitos de acontecimentos são
Será o livre-arbítrio compatível com o determinismo? causas anteriores, não há livre-arbítrio efeitos de causas
anteriores
Livre-arbítrio – capacidade para decidir (arbitrar entre) as
nossas ações e realizá-las, de modo livre. Todos os
acontecimentos são
Há livre-arbítrio
O problema do livre arbítrio é um problema de compatibilidade efeitos de causas
que traduz o conflito entre duas teses igualmente possíveis: anteriores
há livre arbítrio – defende temos a capacidade para decidir Logo, é falso que, se
sobre as nossas ações de modo pelo menos parcialmente Logo, nem todos os todos os
Logo, não há livre- acontecimentos são acontecimentos são
livre arbítrio efeitos de causas efeitos de causas
determinismo – defende que todas as nossas decisões anteriores anteriores, não há livre-
são inteiramente determinadas por fatores que não arbítrio
controlamos 1. Libertismo
A tese do livre-arbítrio corresponde mais naturalmente à A tese de que há livre-arbítrio defende que temos capacidade
nossas crenças espontâneas, pois temos um forte sentimento para decidir sobre as nossas ações de modo pelo menos
de que, pelo menos nalguns casos, as nossas ações e decisões parcialmente livre.
sobre como agir são determinadas exclusivamente pela nossa Para o libertismo, não há, ao nível das ações humanas,
vontade. quaisquer cadeias predefinidas de acontecimentos. Ao agir
Outro ponto a favor é que somos normalmente considerados livremente, o agente autodetermina-se: age
responsáveis por essas ações, mesmo que por vezes não independentemente de quaisquer causas anteriores. Essa
inteiramente. O determinista replicará que a responsabilidade autodeterminação resulta dos nossos estados mentais
é tão ilusória como a liberdade. (crenças e desejos).
O Determinismo radical e o libertismo estão de acordo numa Assim, esta teoria redefine o conceito de livre-arbítrio: não é o
coisa: o determinismo e o livre-arbítrio são incompatíveis, ou poder de agir independentemente de causas anteriores, mas
seja, se uma ação humana tiver causas anteriores, então não sim o poder de fazer o que queremos e não fazer o que não
será livre. queremos. Define então, como livre-arbítrio, a ausência de
Ambas as crenças definem o livre arbítrio como a uma compulsão e que deriva das crenças e desejos do agente.
autodeterminação do agente que dá início a uma cadeia causal A dimensão pessoal e social da ética
e que lhe torna possível escolher sem a presença de uma
Por não sermos indiferentes, não nos limitamos a olhar para o 1. Os juízos morais têm valor de verdade?
mundo como uma sucessão de factos e acontecimentos, mas 2. Se têm valor de verdade, são verdadeiros ou falsos
olhamo-lo também como algo que nos faz estabelecer independentemente da perspetiva de quaisquer sujeitos
prioridades e preferências, como algo que vale ou não vale. O problema da natureza dos juízos de valores morais é uma
Valores: bondade, honestidade, justiça, liberdade, beleza… questão importante com implicações na resposta na resposta
à questão de saber se há ou não verdades objectivas na Ética.
Um valor é um princípio ou ideal que inspira aquilo que as
pessoas pensam, querem e fazem. Um valor é algo de Duas famílias de teorias:
estimável que merece ser defendido, procurado ou realizado – Os juízos morais não descrevem qualquer tipo de facto,
é uma meta importante a atingir. Muitas das ações humanas não comunicam quaisquer verdades ou falsidades. Ex.:
são motivadas pelos valores. Subjetivismo; Relativismo
Inspirados pelos valores em que acreditamos, fazemos Os juízos morais descrevem algum tipo de facto,
avaliações ou apreciações de coisas, ações e pessoas, ou seja, comunicam verdades ou falsidades. Ex.: Objetivismo
fazemos juízos de valor. > Subjetivismo: o juízo não é verdadeiro nem falso pois
“Juízo” é o pensamento expresso por uma frase declarativa. depende da opinião das pessoas, e ninguém está enganado.
Não há verdades morais objetivas e universais: não há critério
Juízos de facto
para avaliar as diferentes valorações.
São meramente informativos (descritivos), em que
Tese: Todos os juízos morais são subjectivos.
descrevemos uma determinada realidade, circunstância
Argumento: Os juízos morais são todos subjectivos porque
ou situação
diferentes pessoas fazem diferentes juízos morais (e o juízo de
Têm valor de verdade objetivo – V/F
uma pessoa não tem mais valor do que o juízo de outra).
São objetivos (independentemente da perspectiva de
> argumento dos desacordos/discordância - não é muito
qualquer sujeito)
frequente haver amplos consensos relativamente a questões
São neutros
morais (aborto, eutanásia, estatuto moral dos animais, a justiça
Ex.: “Beethoven compôs nove sinfonias”
da guerra…)
Juízos de valor - Juízos estéticos (a escola é bonita) religiosos > argumento é o do conflito de valores - nos juízos de facto,
(os muçulmanos são cumpridores das suas orações) políticos (a quando há discordância, há maneiras objetivas de decidir quem
democracia tem muitas imperfeições) morais ou éticos (roubar tem razão: observar as coisas cuidadosamente. Mas e quando
é errado – valor: honestidade) há conflitos de valores? Não parece que haja uma maneira
Embora sejam informativos, sobretudo sobre quem os objetiva de decidir quem tem razão e é por isso que os valores
emite, são normativos (veiculam uma determinada são subjetivos
apreciação sobre uma realidade, uma perspectiva, Ninguém impor aos outros os seus juízos morais:
parcialmente) – interpretação, como se deve ou não favorece a liberdade individual;
fazer as coisas. promove a tolerância entre pessoas com convicções
Não é óbvio que tenham um valor de verdade (se tiverem, morais diferentes.
podem não ser independente da perspectiva (uma E assim, o subjetivismo é uma resposta adequada aos desafios
perspectiva é discutível) de qualquer sujeito). do multiculturalismo.
Ex.: “Beethoven é um compositor admirável”.
Objeções (não é sólido):
1. Tenho várias preferências. Impede a censura de ações claramente erradas
2. Exprimo as minhas preferências com juízos de valor. O subjetivismo é implausível, pois consideram óbvio que
3. Muitas das minhas preferências entram em conflito entre si. os assassinos e pedófilos (comportamentos errados)
4. Estes conflitos dizem por vezes respeito ao convívio com os prejudicam outras pessoas e que há, por isso, razões
outros. fortes para os censurar (segundo o subjetivismo não
5. Uma das tarefas da ética é ajudar a resolver os conflitos de poderiam ser criticados).
valor. Não explica a existência de desacordos morais e esvazia
Um tipo particular de juízo de valor são os juízos morais (os de sentido os debates – Seria absurdo e inútil debater
quais dizem respeito aos valores morais). problemas morais se estes assuntos fossem subjetivos,
São normativos (normas/ dizem como devemos de agir). pois normalmente não discutimos assuntos realmente
Resolvem conflitos de valores. subjetivos, tal como preferências de cores ou de calcado.
O problema do critério ético da moralidade de uma ação Ex. de máximas: não deixes para amanhã o que podes fazer
hoje, faz aos outros o que gostas que te façam a ti, rouba se
Formulação do problema: Qual é o princípio supremo da
não fores apanhado.
moralidade? Ou Como distinguir uma ação moralmente correta
de uma moralmente incorreta? Como sei qual é o meu dever?
1. Formulo a máxima da ação
Immanuel Kant pensava que só a vontade boa é uma coisa boa
2. Esta máxima é uma contradição da vontade consigo mesma?
em si mesma, porque é a única coisa que não pode ser utilizada
- Se for, tenho o dever de não o fazer.
para o mal. Ter uma vontade boa é querer cumprir sempre o
- Se não for, é permitido fazê-lo.
dever e quando é inteiramente dirigida pela racionalidade (e
não pelas suas inclinações/impulsos), que não a deixa cair em Kant pensava que não podemos querer que seja uma lei
contradição (faltar ao dever é cair em contradição). universal que as pessoas mintam quando puderem safar-se
sem ser apanhadas. Não se trata apenas de não querermos que 1. Não provou que a vontade cai realmente em contradição,
seja uma lei universal: é que não podemos querer. quando as máximas são imorais. O que provou é que, se as
máximas fossem adotadas por toda a gente, as consequências
Kant pensava que é contraditório querer isso, essa lei anula-se
seriam indesejáveis.
a si própria. É como querer casados solteiros.
2. A ética de Kant não oferece orientação (critérios) para
ex.: 1- quero mentir quando isso é vantajoso para mim. 2- não
resolver da melhor maneira conflitos inevitáveis de deveres.
quero que as pessoas me mintam quando é vantajoso para elas
Ex.: prometemos encontrar-nos com uma amiga, mas ao
Este é o critério da moralidade da ação proposto por Kant:
caminhar vemos uma criança a morrer afogada. Se a formos
uma ação só é moral se podermos querer sem contradição que
salvar para cumprir o dever de a salvar, não conseguimos
a sua máxima seja uma lei universal.
cumprir o dever de não faltar à promessa. Parece óbvio que o
Para saber se uma ação é moral, examina-se a máxima dessa dever de salvara criança é mais importante, mas na ética de
ação para ver se envolve uma contradição da vontade. Se Kant não se consegue fundamentar essa ideia razoável. Do
envolve é contrária ao dever; se não, não é contrária ao dever. ponto de vista de Kant, façamos o que fizermos, faltamos ao
vontade autónoma vontade heterónoma dever, e é tudo. Não é melhor ou menos mau faltar à promessa
- só tem em consideração a sua - tem em consideração fatores do que faltar ao dever de salvar uma vida. São equivalentes.
própria coerência exteriores a si própria 3. A ética kantiana ignora as consequências das ações. Isto
- segue imperativos categóricos, - viola imperativos categóricos, torna-se problemático quando consideramos ações cujo
por piores que sejam as devido às consequências: agente, apesar de ter uma intenção boa, a do cumprimento do
consequências: não mentimos, mentimos quando isso permite
aconteça o que acontecer salvar vidas inocentes dever, é, no entanto, tão descuidado que origina
consequências desastrosas devidas à sua incompetência e
- é inteiramente livre, porque é - não é livre, porque é
determinada exclusivamente determinada por fatores que lhe ignorância.
pela sua própria coerência são exteriores, como o bem-
4. Considera moralmente irrelevantes os aspetos emocionais
estar da humanidade
nas ações como a piedade ou a generosidade. Mesmo quando
Kant não aceitava imperativos morais que tenham em somos motivados por essas ações a praticar o bem, isso não é
consideração a felicidade ou os interesses das pessoas. correto, pois devemos praticá-lo apenas por dever, e não
Considerava que todos esses imperativos são hipotéticos e por porque uma situação ou pessoa nos despertam tais emoções.
isso não são morais.
> A ética de Mill: o princípio da utilidade
Quando os imperativos são hipotéticos, manifestam aquilo a
Ética de Kant Ética de Mill
que Kant chamava heteronomia da vontade: a vontade tem
em consideração interesses humanos comuns, e não a simples O que é bom
a vontade boa a felicidade
em si?
coerência da vontade consigo mesma.
Critério ético promover
Kant pensava que, para serem morais, os imperativos têm de obedecer ao imperativo
da moralidade imparcialmente a
categórico
mostrar autonomia da vontade: o simples facto de a vontade da ação felicidade
instituir leis para si própria, tendo em consideração imperativo categórico princípio da utilidade
Conceitos
exclusivamente a sua própria coerência. (ou da maior
fundamentais
autonomia da vontade felicidade)
Kant encarava a vida moral como uma questão de resistir às
preferências humanas comuns, que considerava manifestações John Stuart Mill defendeu a ética utilitarista: o critério da
da heteronomia da vontade – meras inclinações. moralidade de uma ação é a utilidade. O que é útil não é o que
Ex.: - age sempre de maneira a promover a felicidade da é utilitário, mas o que promove a felicidade. A felicidade é a
humanidade ou a poupar-lhe o sofrimento. única coisa intrinsecamente valiosa (boa em si).
Este imperativo prossupõe que a felicidade das pessoas tem Mill chamava princípio da utilidade à ideia de que uma ação só
relevância moral, e isso é incompatível com a ideia de Kant de é moral quando promover a maior felicidade, de todas as
que a única coisa boa em si é a vontade boa. pessoas envolvidas e não apenas a nossa (promoção imparcial
da felicidade).
Do seu ponto de vista, a ética não visa promover a felicidade
humana, mas tornar-nos dignos de ser felizes. Tornarmo-nos Mill considerava que a felicidade é boa em si e que é também a
dignos da felicidade quando obedecemos ao dever, mesmo razão que nos leva a fazer uma coisa em vez de outra. Fazemos
que isso signifique, na prática, o sacrífico da felicidade humana. o que pensamos que contribui para a nossa felicidade.
Mill identificava a felicidade com o prazer e ausência de dor
(infelicidade = dor e privação do prazer). O prazer (e ausência de
dor) é o único valor último ou a finalidade última da ação. Tudo o
resto é feito (um meio) porque promove o prazer ou previne a dor.
> duas críticas à ética de Kant
Há dois tipos de prazer: superiores, muito melhores em qualidade > duas críticas à ética de Mill
do que os inferiores. Por mais quantidade que tenhamos de 1. não distingue o que é louvável mas não é uma obrigação
prazeres inferiores, não abdicamos dos prazeres superiores para moral, do que é realmente uma obrigação moral.
ficar com os inferiores.
e.: É louvável e significativo dar um rim para salvar uma vida
O critério para distinguir é: quando quem conhece bem dois de um completo desconhecido, é solidário da nossa parte.
prazeres não está disposto a deixar de ter um deles, por maior Mas não parece que seja uma obrigação moral, no mesmo
que seja a quantidade do outro, isso quer dizer que o 1º é sentido em que temos de não o torturar. Na ética de Mill não
superior. se distingue entre duas coisas, porque temos sempre a
consequência obrigação de promover imparcialmente a maior felicidade,
boa má tenhamos ou não relações com as pessoas que vamos ajudar.
a ação é moral, mesmo 2. parece aceitável fazer uma pessoa muito infeliz, se isso
ação a ação é
que os motivos não fizer muitas outras muito felizes. Não queremos torturar uma
intencional imoral
sejam morais
pessoa inocente, mesmo que isso proporcione um espetáculo
ação não que faz duzentas outras ficarem muito felizes. Mas na ética de
a ação não é moral nem imoral
intencional Mill parece aceitável já que promove mais felicidade do que
intenção é não o fazer.
promover A ação é moral, mesmo que a
3. objeção do criminoso azarento. Se aceitarmos o
imparcialment consequência seja má
e a felicidade utilitarismo, alguém mal-intencionado age corretamente se,
por acaso, a ação lhe correr mal e tiver consequências
intenção não é
benéficas que não foram por si desejadas, e o inverso para
promover a ação não é moral, mesmo que a
imparcialment consequência seja boa alguém bem-intencionado cuja ação, contra o previsto, acabe
e a felicidade por gerar apenas sofrimento.
Esses princípios dizem respeito à própria estrutura da É permissível que haja alguma desigualdade em termos de
sociedade, isto é, às instituições sociais e não aos riqueza. Não é para Rawls injusta, pois os fatores de
comportamentos ou atitudes de indivíduos. desigualdades estão dentro da esfera de controlo e escolha do
indivíduo. O que é necessário é garantir que todos partem de
Os filósofos políticos discordam quanto ao modo como deve
uma base igual. Isso consegue-se com políticas sociais – bolsas
estar estruturada a sociedade para ser justa, havendo duas
de estudo que permitam compensar aqueles que, por
perspetivas:
motivos exteriores a si, têm menos recursos ou são
igualitarismo, a igualdade social é o valor prioritário,
socialmente discriminados de forma negativa.
atribui ao estado um papel fundamental na
redistribuição dos benefícios sociais; princípio da diferença – é admissível alguma diferença
liberalismo, o valor prioritário é a liberdade individual, desigualdade da distribuição da riqueza na condição de
considera que o estado deve interferir o mínimo possível sociedade de se dar mais aos mais desfavorecidos.
na vida das pessoas sem o seu consentimento. Quando nascemos recebemos uma dupla herança: genética ou
Como escolher os princípios da justiça que devem reger uma natural e social. Muitas pessoas encontram-se em
sociedade? (método contratualista) desvantagem: falta de sorte na lotaria natural (QI inferior à
média…) ou por terem nascido numa classe social
Contratualismo – negociação livre entre partes para se chegar
economicamente desfavorecida.
a um acordo ou contrato social (entre o Estado e as pessoas) –
obedecer aa um poder político em troca de certos benefícios Ainda que não seja possível anular essas diferenças, devemos
(liberdades, justiça, apoio, segurança). reduzi-las ao mínimo, recorrendo á redistribuição da riqueza,
onde os mais desfavorecidos devem ser recompensados (os
Para Rawls, o contratualismo é a abordagem mais adequada
mais abastados pagam mais impostos)
por estar de acordo com a ideia de que a sociedade é um
sistema de cooperação entre cidadãos lives e iguais, capazes A perspetiva de Rawls sobre a justiça social é liberal-igualitária
de fazer as suas próprias escolhas de forma racional, e sem liberal – os direitos liberais e liberdades básicos são
que os princípios lhe sejam impostos a partir de algo exterior. inegociáveis e têm prioridade sobre os outros princípios;
igualitária – os outros princípios visam restringir
A escolha dos princípios da justiça corretos deve ser levada a
fortemente as desigualdades económicas e sociais que
cabo na posição original, após um processo negocial entre as
são toleráveis.
partes que desconhecem que lugar irão ocupar na sociedade.
Os princípios não supõem uma conceção particular do bem.
A posição original (circunstância que antecede a própria
Os liberais, como Rawls, consideram que as pessoas têm
sociedade) é uma situação de equidade hipotética, na qual os
diferentes conceções do bem, ou seja, diferentes perspetivas
agentes escolhem os princípios da justiça acobertos do véu de
sobre o que é realmente importante e o que tem valor na
ignorância, metáfora utilizada por Rawls para se referir à
vida. Rawls defende que a realização dos objetivos de vida e
imparcialidade, a qual impede as partes contraentes de
das conceções do bem de cada um está limitada pelos
saberem quaisquer factos particulares acerca de si mesmas,
princípios, pois considera que estes vêm em primeiro lugar,
de modo a não procurarem forçar a escolha de princípios da
impondo restrições ao que pode ser alcançado e ao modo
justiça que lhe sejam particularmente vantajosos.
como isso é feito. A justiça tem prioridade sobre o bem.
O véu da ignorância visa colocar todas as partes numa
situação de equidade quando escolhem os princípios da
justiça.
Porque esses princípios? Se se demonstrar que a titularidade presente resulta de
apropriações ilegítimas iniciais passadas – roubo, fraude,
Seria a escolha mais racional numa situação de incerteza, em
expropriação –, então a injustiça pode ser retificada através de
que os princípios escolhidos resultariam da aplicação da regra
tributações, compensações, devoluções ou outros meios.
de decisão maximin – procurar maximizar o mínimo, isto é,
tentar melhorar o pior. Qualquer sujeito racional, interessado Michael Sandel (comunitarista)
no melhor para si próprio, trataria de garantir que, por pior O comunitarismo é a perspetiva segundo a qual as pessoas
que viesse a ser a sua posição na sociedade, esta fosse a não pertencem a si mesmas, já que desde o nascimento até à
menos pior possível. morte, ligados a obrigações e laços de fidelidade anteriores a
A regra maximin é incompatível com o princípio da utilidade, nós, não dependo por isso, das suas escolhas. Esses laços e
que consiste na maximização do bem-estar geral. O princípio obrigações – familiares, religiosos, culturais – desenvolvem-se
da utilidade permite sacrificar, em nome da maximização do no interior de uma comunidade concreta que faz de nós aquilo
bem-estar, certos direitos e liberdades das pessoas, que somos, moldando as nossas aspirações, os nossos valores
contrariando as firmes intuições sobre a justiça de Rawls. e no sentido moral.
Sociedade A Sociedade B Sociedade C Sandel considera inadequado o método de escolha dos
Grupo 1 700 600 500 princípios da justiça proposto por Rawls, alegando que as
partes, cegas pelo véu de ignorância na posição original, são
Grupo 2 200 250 300
encaradas como indivíduos socialmente desenraizados e que,
Grupo 3 100 150 200 apesar de racionais, não passam de meros decisores amorais
(são moralmente neutrais).
> Críticas a Rawls
Ao contrário de Rawls (que defende haver prioridade da
Robert Nozick (libertista)
justiça sobre o bem) Sandel considera que é o bem que tem
O princípio da diferença estabelece um padrão de distribuição prioridade sobre a justiça, na medida em que, sem uma
da riqueza. Mas o padrão é instável pois defende que se deve conceção do bem, a justiça carece de força moral justificativa.
favorecer os que têm menos, no entanto, desconsidera o facto
Qualquer conceção particular do bem emerge daquilo que
de que as pessoas que se esforçam mais e que possuem maior
numa dada comunidade concreta é considerado valioso.
mérito devem ser recompensadas de forma proporcional ao
seu empenho ao contrário dos que vivem de preguiça, ou seja,
o esforço real não é devidamente premiado. Ao fazer isto o
estado usa as pessoa como meio (as que se esforçam) e
violam o princípio da liberdade nomeadamente o direito à
propriedade.
O respeito pelo princípio da liberdade igual anula qualquer
possibilidade de existência dos dois princípios seguintes, ou
seja, do princípio da igualdade equitativa de oportunidades e
do princípio da diferença, uma vez que estes estabelecem
limites à propriedade e ao que cada pessoa pode fazer com o
que possui.
Nozick defende o argumento da titularidade – a distribuição é
justa se aqueles que possuem certos bens são os seus justos
titulares. Neste sentido, o que importa não é o resultado final
da distribuição, mas se a história do modo como alguém se
tornou titular de algo mostra que a sua aquisição foi justa.
Se a aquisição dos bens se deu por processos legítimos –
através do trabalho, por exemplo –, ou se alguém passa a ser
proprietário de algo por meio de uma transferência legítima –
doação ou venda voluntárias, por exemplo –, o que quer que
daqui resulte é justo
Mas como saber se o património que está na origem dos
rendimentos atuais corresponde a apropriações legítimas no
passado?
Para resolver este problema, ao princípio da aquisição e ao
princípio da transferência, o autor acrescenta o princípio da
retificação.