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Determinismo e liberdade na ação humana determinismo determinismo

libertismo
radical moderado
Formulação do problema: As ações humanas são realmente
Todos os
livres ou são determinadas por efeitos de causas anteriores?
Se todos os acontecimentos são efeitos de acontecimentos são
Será o livre-arbítrio compatível com o determinismo? causas anteriores, não há livre-arbítrio efeitos de causas
anteriores
Livre-arbítrio – capacidade para decidir (arbitrar entre) as
nossas ações e realizá-las, de modo livre. Todos os
acontecimentos são
Há livre-arbítrio
O problema do livre arbítrio é um problema de compatibilidade efeitos de causas
que traduz o conflito entre duas teses igualmente possíveis: anteriores
 há livre arbítrio – defende temos a capacidade para decidir Logo, é falso que, se
sobre as nossas ações de modo pelo menos parcialmente Logo, nem todos os todos os
Logo, não há livre- acontecimentos são acontecimentos são
livre arbítrio efeitos de causas efeitos de causas
 determinismo – defende que todas as nossas decisões anteriores anteriores, não há livre-
são inteiramente determinadas por fatores que não arbítrio
controlamos 1. Libertismo
A tese do livre-arbítrio corresponde mais naturalmente à A tese de que há livre-arbítrio defende que temos capacidade
nossas crenças espontâneas, pois temos um forte sentimento para decidir sobre as nossas ações de modo pelo menos
de que, pelo menos nalguns casos, as nossas ações e decisões parcialmente livre.
sobre como agir são determinadas exclusivamente pela nossa Para o libertismo, não há, ao nível das ações humanas,
vontade. quaisquer cadeias predefinidas de acontecimentos. Ao agir
Outro ponto a favor é que somos normalmente considerados livremente, o agente autodetermina-se: age
responsáveis por essas ações, mesmo que por vezes não independentemente de quaisquer causas anteriores. Essa
inteiramente. O determinista replicará que a responsabilidade autodeterminação resulta dos nossos estados mentais
é tão ilusória como a liberdade. (crenças e desejos).

O problema filosófico do livre-arbítrio resulta do facto de O livre-arbítrio envolve a existência de possibilidades


essas duas crenças podem, eventualmente, ser incompatíveis: alternativas de ação (realizarmos uma certa ação, mas
talvez o facto de as ações serem determinadas as impeça de podíamos ter realizado outras).
serem livres. Argumentos a favor do libertismo:
> argumento da experiência da liberdade (temos experiência
A um nível mais geral, face ao problema existem duas posições:
do livre arbítrio e, portanto, este existe. Ou seja: muitas vezes,
> incompatibilismo: é impossível haver ações livres num
ao fazermos escolhas, não sentimos nenhuma espécie de
universo determinista; determinismo e livre-arbítrio excluem-
constrangimento, nenhuma força a controlar-nos e a obrigar-
se mutuamente.
nos a fazer algo).
Esta posição engloba duas perspetivas:
> argumento da responsabilidade (caso não exista livre-
 determinismo radical: o determinismo é verdadeiro e o
arbítrio, não é possível existir responsabilidade, nem culpa e
livre-arbítrio é uma ilusão.
mérito. Visto que, as pessoas podem ser responsabilizadas
 liberalismo: há livre-arbítrio, logo, o determinismo é falso,
somente pelas ações de que são autoras, mas como isso é
porque pelo menos alguns acontecimentos (as ações) não
implausível, devemos concluir que o livre arbítrio existe. O
são determinados.
determinista dirá que a responsabilidade é tão ilusória como o
> compatibilismo (determinismo moderado): temos de facto livre-arbítrio).
livre-arbítrio e há ações livres, mesmo que o determinismo seja
Objeções:
verdadeiro, determinismo e livre-arbítrio são compatíveis.
>A ideia de que há ações sem causas anteriores é implausível
Todas as teses são aceitáveis, mas não há boas provas de e anticientífica, pois em qualquer ação que analisamos
qualquer uma delas. encontramos sempre essas causas.
Há três teses relacionadas com o problema do livre-arbítrio: > Podemos não sentir ou não reconhecer os efeitos
a) Temos livre-arbítrio. provocados pelas causas anteriores e, mesmo assim, estas
b) Todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores. existirem e determinarem a nossa vontade (como as nossas
c) Se todos os acontecimentos são efeitos de causas anteriores, crenças e desejos). Portanto, o argumento da experiência não
não temos livre-arbítrio. prova a existência de livre-arbítrio.
A três teses parecem aceitáveis, mas são incompatíveis: aceitar O libertismo defende que o determinismo é falso ainda que
quaisquer duas delas obriga-me a rejeitar a terceira. possa ser verdadeiro no mundo físico. Os seres humanos têm
livre-arbítrio (capacidade para escolher, agir e decidir e iniciar
cadeias causais).
Modus ponens do Modus tollens do Raciocínio do
2. Determinismo Radical causa. Mas o determinista diz que esta autodeterminação é
A tese no determinismo radical afirma que todos os ilusão.
acontecimentos estão determinados. Diz ainda que os seres 3. Determinismo moderado
humanos estão sujeitos às mesmas leis que regem o Segundo esta teoria compatibilista, a crença no determinismo
funcionamento dos fenómenos físicos. Assim, tudo é resultado e no livre-arbítrio são ambas verdadeiras. Ou seja, todas as
ou consequência necessária de acontecimentos anteriores. ações são determinadas por causas anteriores, mas algumas
Para os deterministas radicais, o livre arbítrio não passa de são livres. Diz que todos os acontecimentos são causados, mas
uma ilusão pois qualquer ação é o efeito necessário e existe possibilidade de ação.
inevitável das causas prévias determinadas e por isso, o agente
Esta teoria não concorda com o critério usado pelas outras
só podia ter feito o que fez, não tendo assim possibilidades
crenças na distinção de atos livres de atos não livres.
alternativas de ação.
Argumentos a favor do determinismo moderado:
Dado que as ações não são livres, os agentes não têm genuína
- O libertismo é uma teoria implausível pois a crença no livre-
responsabilidade (não são realmente culpados pelo que fazem
arbítrio não é consistente com a ideia que existe em nós acerca
de mal e não têm mérito pelas boas ações). Mas apesar de não
do determinismo (pois todos acreditamos que o que acontece
existir genuína responsabilidade, as pessoas devem ser
tem uma causa por trás). O determinismo radical é uma teoria
responsabilizadas, pois desse modo promove-se as boas ações
implausível pois é inconsistente com a ideia/crença que existe
e dissuade-se as más.
em nós acerca da responsabilidade moral (porque todos nós
Argumentos a favor do determinismo radical:
acreditamos que somos responsáveis pelo que fazemos).
> A ciência é determinista. Sem ela não podemos
compreender adequadamente o mundo. Este apoia as ideias Assim o determinismo moderado é consistente com a ideia que
deterministas, de que tudo obedece a relações causais. Por em nós existe acerca da responsabilidade moral e acerca do
isso, para um determinista radical, negar o determinismo, é determinismo pois possibilita a atribuição de responsabilidade,
contrariar a ciência, e é uma atitude pouco racional. mérito e culpa, num universo determinista.

> Uma consequência aparente do determinismo é a de sermos Objeções ao determinismo moderado:


apenas veículos pelos quais passam cadeias de causas e efeitos - Não permite compreender realmente a existência de
cujos encadeamentos necessários nos ultrapassam. O livre- autênticas possibilidades alternativas de ação, pois se uma
arbítrio e a liberdade são ilusões derivadas do nosso fraco ação tem sempre causas anteriores que o agente não controla,
conhecimento do Universo e do funcionamento da mente. não parece possível fazer algo de diferente e alternativo. O
querer tem uma causa, logo não é livre.
Objeções ao determinismo radical:
> Sem o livre-arbítrio, a vida não teria sentido, porque - A redefinição do conceito de livre-arbítrio é simplista, pobre e
seríamos como robôs, programados para fazer o que fazemos. não por vezes seja possível agir sem coações e não é isso que
discutem entre eles, mas sim se um agente pode ou não
> Põe em causa a noção de responsabilidade moral. Se não
autodeterminar-se (se pode escolher sem a presença de uma
temos várias opções em aberto no momento de decisão, não
causa e se pode dar inicio a cadeias causais).
podemos ser responsabilizados por termos escolhido uma
única coisa. Todavia, abdicar das noções de responsabilidade,  Critério que distingue atos livres e atos não livres
mérito e culpa pode trazer consequências sociais desastrosas. Esta teoria utiliza um critério diferente do determinismo radical
Por esse motivo, os críticos do determinismo julgam que não e do libertismo para distinguir atos livres e atos não livres.
devemos aceitar esta perspetiva. Diz então que: Apesar de algumas ações serem livres, só o são
Critério de distinção entre atos livres e atos não livres em resultado de como estas são determinadas. Ou seja, o que
Ambas as crenças, no determinismo e no livre-arbítrio usam o distingue uma ação livre de uma ação não-livre depende do
mesmo critério para distinguir atos livres de atos não livres e modo como são determinadas.
ambas têm a mesma conceção do que é o livre-arbítrio. O Assim sendo, uma ação livre e não-livre distingue-se pela
critério baseia-se na existência ou inexistência de uma causa. presença ou não de uma coação/compulsão (força exterior que
Se existir uma causa, o ato não é livre. não dominamos que nos faz realizar determinado tipo de
Se não existir uma causa, o ato é livre. ações). Logo, não é a causa que as torna não-livres.
Ato livre Ato não livre Ato livre Ato não livre
Ato não causado Ato causado Ausência de compulsão Presença de compulsão

O Determinismo radical e o libertismo estão de acordo numa Assim, esta teoria redefine o conceito de livre-arbítrio: não é o
coisa: o determinismo e o livre-arbítrio são incompatíveis, ou poder de agir independentemente de causas anteriores, mas
seja, se uma ação humana tiver causas anteriores, então não sim o poder de fazer o que queremos e não fazer o que não
será livre. queremos. Define então, como livre-arbítrio, a ausência de
Ambas as crenças definem o livre arbítrio como a uma compulsão e que deriva das crenças e desejos do agente.
autodeterminação do agente que dá início a uma cadeia causal A dimensão pessoal e social da ética
e que lhe torna possível escolher sem a presença de uma
Por não sermos indiferentes, não nos limitamos a olhar para o 1. Os juízos morais têm valor de verdade?
mundo como uma sucessão de factos e acontecimentos, mas 2. Se têm valor de verdade, são verdadeiros ou falsos
olhamo-lo também como algo que nos faz estabelecer independentemente da perspetiva de quaisquer sujeitos
prioridades e preferências, como algo que vale ou não vale. O problema da natureza dos juízos de valores morais é uma
Valores: bondade, honestidade, justiça, liberdade, beleza… questão importante com implicações na resposta na resposta
à questão de saber se há ou não verdades objectivas na Ética.
Um valor é um princípio ou ideal que inspira aquilo que as
pessoas pensam, querem e fazem. Um valor é algo de Duas famílias de teorias:
estimável que merece ser defendido, procurado ou realizado –  Os juízos morais não descrevem qualquer tipo de facto,
é uma meta importante a atingir. Muitas das ações humanas não comunicam quaisquer verdades ou falsidades. Ex.:
são motivadas pelos valores. Subjetivismo; Relativismo
Inspirados pelos valores em que acreditamos, fazemos  Os juízos morais descrevem algum tipo de facto,
avaliações ou apreciações de coisas, ações e pessoas, ou seja, comunicam verdades ou falsidades. Ex.: Objetivismo
fazemos juízos de valor. > Subjetivismo: o juízo não é verdadeiro nem falso pois
“Juízo” é o pensamento expresso por uma frase declarativa. depende da opinião das pessoas, e ninguém está enganado.
Não há verdades morais objetivas e universais: não há critério
Juízos de facto
para avaliar as diferentes valorações.
 São meramente informativos (descritivos), em que
Tese: Todos os juízos morais são subjectivos.
descrevemos uma determinada realidade, circunstância
Argumento: Os juízos morais são todos subjectivos porque
ou situação
diferentes pessoas fazem diferentes juízos morais (e o juízo de
 Têm valor de verdade objetivo – V/F
uma pessoa não tem mais valor do que o juízo de outra).
 São objetivos (independentemente da perspectiva de
> argumento dos desacordos/discordância - não é muito
qualquer sujeito)
frequente haver amplos consensos relativamente a questões
 São neutros
morais (aborto, eutanásia, estatuto moral dos animais, a justiça
 Ex.: “Beethoven compôs nove sinfonias”
da guerra…)
Juízos de valor - Juízos estéticos (a escola é bonita) religiosos > argumento é o do conflito de valores - nos juízos de facto,
(os muçulmanos são cumpridores das suas orações) políticos (a quando há discordância, há maneiras objetivas de decidir quem
democracia tem muitas imperfeições) morais ou éticos (roubar tem razão: observar as coisas cuidadosamente. Mas e quando
é errado – valor: honestidade) há conflitos de valores? Não parece que haja uma maneira
 Embora sejam informativos, sobretudo sobre quem os objetiva de decidir quem tem razão e é por isso que os valores
emite, são normativos (veiculam uma determinada são subjetivos
apreciação sobre uma realidade, uma perspectiva, Ninguém impor aos outros os seus juízos morais:
parcialmente) – interpretação, como se deve ou não  favorece a liberdade individual;
fazer as coisas.  promove a tolerância entre pessoas com convicções
 Não é óbvio que tenham um valor de verdade (se tiverem, morais diferentes.
podem não ser independente da perspectiva (uma E assim, o subjetivismo é uma resposta adequada aos desafios
perspectiva é discutível) de qualquer sujeito). do multiculturalismo.
 Ex.: “Beethoven é um compositor admirável”.
Objeções (não é sólido):
1. Tenho várias preferências.  Impede a censura de ações claramente erradas
2. Exprimo as minhas preferências com juízos de valor. O subjetivismo é implausível, pois consideram óbvio que
3. Muitas das minhas preferências entram em conflito entre si. os assassinos e pedófilos (comportamentos errados)
4. Estes conflitos dizem por vezes respeito ao convívio com os prejudicam outras pessoas e que há, por isso, razões
outros. fortes para os censurar (segundo o subjetivismo não
5. Uma das tarefas da ética é ajudar a resolver os conflitos de poderiam ser criticados).
valor.  Não explica a existência de desacordos morais e esvazia
Um tipo particular de juízo de valor são os juízos morais (os de sentido os debates – Seria absurdo e inútil debater
quais dizem respeito aos valores morais). problemas morais se estes assuntos fossem subjetivos,
 São normativos (normas/ dizem como devemos de agir). pois normalmente não discutimos assuntos realmente
 Resolvem conflitos de valores. subjetivos, tal como preferências de cores ou de calcado.

Natureza dos Juízes morais – juízes que nos permitem


identificar ações como ações corretas ou ações incorrectas.

 Mesmo que nem todas as pessoas concordem, isso não


Problema da natureza dos juízos morais: significa que essas pessoas estejam corretas, significa que
estão enganadas. Assim, quando sabemos que há povos Porém, há também assuntos que são motivo de controversos
que aceitam certo tipo de canibalismo, isso não prova que mesmo entre especialistas e não há modo de garantir qual dos
o canibalismo não esteja errado, antes prova que a relação juízos sobre essa matéria é o verdadeiro
a este juízo moral há povos que estão enganados. Mas, mesmo que não saibamos qual deles é o juízo
 se é verdade que discordamos de muitos valores, não é verdadeiro ainda assim um deles será o verdadeiro e o outro
verdade que discordamos de todos os valores. Há um será falso – e por isso vale a pena investigar e debater para
forte consenso quanto a questões relacionadas com a tentar estabelecer qual deles é o verdadeiro.
escravatura, o homicídio, a exploração de mulheres e
Argumento: Alguns juízos morais são objetivos porque se
crianças… Pensemos por exemplo na Declaração Universal
apoiam em boas provas.
Direitos Humanos que mostra que há um conjunto de
Objeções
valores fundamentais que, apesar de não estarem a ser
 Nunca se consegue detetar o que há de imoral numa
respeitados em todos os países, devem servir como guias
ação supostamente imoral.
orientadores
 Existem enormes diferenças éticas - se alguns juízos
 Reduz os valores a questões subjetivas/ relativas é
morais fossem objetivos seria de esperar que não
esquecer que há a possibilidade da chegada a consensos
existissem tantas divergências éticas. Porém, como estas
por via argumentativa
existem em grande quantidade, pode concluir-se que
> Objetivismo: os juízos morais têm valor de verdade, mas o nenhum juízo moral é objetivo
seu valor de verdade é independente da perspetiva de  Falta de métodos de prova - nas ciências, as divergências
quaisquer sujeitos. Não se consegue detetar a moralidade de costumam ser ultrapassas através do recurso a métodos
um Juízo. científicos de prova. Na Ética não existem esses métodos
A verdade ou falsidade desses juízos depende das razões que e por isso os desacordos são intermináveis (não há
os sustentam, ou seja: verdades objectivas).
 um juízo moral será objectivamente verdadeiro, se puder > Relativismo: não é verdadeiro nem falso pois depende dos
ser justificado com boas razões; valores defendidos pelas sociedades (não são objectivamente
 um juízo moral será objectivamente falso, se não puder verdadeiros ou falsos).
ser justificado com boas razões;
O relativismo dá muita importância à diversidade cultural:
Boas razões: povos diferentes têm valores e costumes diferentes.
 informadas (autoridade) – baseadas em factos e
Tese: Os juízos morais são relativos às sociedades. Estes juízos
conhecimentos;
são verdadeiros ou falsos?
 imparciais (neutralidade) – têm em conta todas as
São verdadeiros em algumas sociedades e noutras não, pois a
pessoas envolvidas
prática da mutilação é aprovada pela maioria das pessoas em
Tese: Negação da tese do subjetivismo - nem todos os juízos
algumas sociedades, e reprovada pela maioria noutras
morais são subjectivos.  alguns são objetivos
sociedades. Não há uma maneira neutra e universal de
O objetivismo não considera que todos os juízos de valor determinar que uma dessas posições é preferível à outra.
morais são objetivos. Um objectivista pode considerar que
Argumento: Diferentes sociedades têm diferentes códigos
alguns juízos são subjetivos e outros são culturalmente
morais e aceitam diferentes juízos morais (os juízos morais são
relativos.
verdadeiros para as sociedades que os aceitam).
Porém, esta teoria defende que existem algumas verdades  rejeição do etnocentrismo - o relativismo defende que as
universais, como a mutilação genital feminina é errada, o pessoas devem viver de acordo com os valores da
racismo é errado, a escravatura é errada. sociedade a que pertencem e não devem criticar os
São juízos morais que podem ser aceites por qualquer pessoa, valores aceites em outras sociedades. Uma crítica aos
independentemente da cultura a que pertence. valores de uma sociedade é intolerante e etnocêntrica.
Esta objetividade de alguns juízos significa que acerca de um Por esta razão, esta teoria favorece a tolerância entre
determinado assunto é possível: pessoas de sociedades diferentes.
 alguém estar objetivamente certo;  O relativismo é uma resposta adequada aos desafios do
 alguém estar objetivamente errado. multiculturalismo e aos problemas que possa surgir do
convívio entre pessoas com valores e costumes muito
Deste modo o objetivismo rejeita a ideia de que num assunto
diferentes.
que gera desacordo nenhum dos lados pode estar errado. Isto
promove a tolerância entre pessoas de diferentes sociedades
por tornar possível um autêntico debate intercultural. Objeções:
Para o objetivismo, há assuntos acerca dos quais já sabemos o  Falácia da generalização precipitada, só porque algumas
que é realmente verdadeiro. sociedades aceitam diferentes juízos morais, isso não
permite concluir corretamente que todas o fazem –
Se uma pessoa discorda de um certo juízo moral, essa pessoa
está objetivamente enganada.
generaliza-se a discordância oral entre algumas Kant pensava que, se uma pessoa não tiver vontade boa, não
sociedades e conclui-se que todas discordam. pode ser digna de ser feliz, não merece a felicidade. O objetivo
 Mesmo que todas as sociedades discordassem, isso não da ética, do ponto de vista dele, é ensinar-nos a ser dignos da
provaria que os juízos morais são relativos. Talvez felicidade, e não ensinar-nos a ser felizes.
algumas sociedades se tenham enganado. Por piores que sejam as consequências dos atos que resultam
 Não permite explicar o progresso moral - se o relativismo da vontade boa, esta continua boa em si mesma.
fosse verdadeiro, a ideia de progresso moral não teria
Agir apenas em
sentido — por esta teoria entender que não possível fazer Agir ao contrário
conformidade com o Agir por dever
juízos transculturais (abolição da escravatura e direito de do dever
dever
voto das mulheres). É implausível não haver progresso
A ação é imoral A ação não é imoral
moral pode concluir-se o relativismo não é verdadeiro.
Não copiar num teste, Não copiar no teste
 A crítica pode não ser etnocêntrica – a ideia (relativista) mas só porque temos exclusivamente
de que criticar valores e costumes de outros povos não é Copiar num teste
medo de sermos porque temos o
sempre etnocêntrico. É possível criticar outros costumes apanhados dever de não copiar
sem ser ofensivo; criticar um determinado costume de A ação tem valor
A ação não tem valor moral
outra sociedade não significa criticar a totalidade dos moral
costumes dessa sociedade, nem, consequentemente, ter
Quando agimos só em conformidade com o dever, fazemos por
uma atitude etnocêntrica contra essa sociedade.
coincidência o que temos o dever de fazer, mas só porque isso
 Por condenar todas as criticas, o relativismo: põe em
é do nosso interesse. Quando agimos por dever, cumprimos o
causa o debate intercultural; não é uma resposta
dever, mesmo que isso não seja do nosso interesse.
adequada aos desafios do multiculturalismo
Kant defende uma ética deontológica porque defende que
> Multiculturalismo: é imoral discriminar as pessoas de
cumprir o dever é a única finalidade de toda a ação moral.
sociedades com costumes diferentes dos nossos.
Hipotéticos Categóricos
As sociedades são multiculturais quando incluem pessoas
oriundas de diferentes sociedades, com diferentes costumes. Ordens condicionais:
Ordens sem condições:
Imperativos se não queres ser
não copies
O debate acerca do multiculturalismo foca questões de apanhado, não copies
diversidade, coexistência e choque de culturas. São leis morais,
Não Sim
As questões do multiculturalismo colocam-se em sociedades segundo Kant?
democráticas multiculturais que defendem um tratamento Não é uma lei moral
Segundo Kant, É uma lei moral porque
justo para os membros das minorias. porque é um
a máxima da é um imperativo
imperativo meramente
ação… categórico
O relativismo moral não é um aliado de quem defende a hipotético
tolerância e se opõe à discriminação de pessoas com costumes
Um imperativo é uma ordem. As leis dos países são sempre
diferentes dos nossos.
imperativos hipotéticos, porque são condicionais.
Compatível com a discriminação?
Kant pensava que a lei moral não é hipotética mas categórica.
Subjetivismo: sim, desde que seja essa a nossa preferência
Um imperativo categórico não tem condições.
pessoal.
Relativismo: sim, desde que seja essa a preferência da nossa Kant pensava que há só uma lei moral (imperativo categórico):
sociedade. age sempre de maneira a que possas querer que a máxima da tua
Objetivismo: não, desde que haja boas provas de que a ação se torne uma lei universal.
discriminação é imoral. A máxima de uma ação é a regra/princípio geral dessa ação.
A necessidade de fundamentação moral – análise Para saber se uma ação é moral, verificamos se a sua máxima
comparativa de duas perspetivas filosóficas está de acordo com o imperativo categórico.

O problema do critério ético da moralidade de uma ação Ex. de máximas: não deixes para amanhã o que podes fazer
hoje, faz aos outros o que gostas que te façam a ti, rouba se
Formulação do problema: Qual é o princípio supremo da
não fores apanhado.
moralidade? Ou Como distinguir uma ação moralmente correta
de uma moralmente incorreta? Como sei qual é o meu dever?
1. Formulo a máxima da ação
Immanuel Kant pensava que só a vontade boa é uma coisa boa
2. Esta máxima é uma contradição da vontade consigo mesma?
em si mesma, porque é a única coisa que não pode ser utilizada
- Se for, tenho o dever de não o fazer.
para o mal. Ter uma vontade boa é querer cumprir sempre o
- Se não for, é permitido fazê-lo.
dever e quando é inteiramente dirigida pela racionalidade (e
não pelas suas inclinações/impulsos), que não a deixa cair em Kant pensava que não podemos querer que seja uma lei
contradição (faltar ao dever é cair em contradição). universal que as pessoas mintam quando puderem safar-se
sem ser apanhadas. Não se trata apenas de não querermos que 1. Não provou que a vontade cai realmente em contradição,
seja uma lei universal: é que não podemos querer. quando as máximas são imorais. O que provou é que, se as
máximas fossem adotadas por toda a gente, as consequências
Kant pensava que é contraditório querer isso, essa lei anula-se
seriam indesejáveis.
a si própria. É como querer casados solteiros.
2. A ética de Kant não oferece orientação (critérios) para
ex.: 1- quero mentir quando isso é vantajoso para mim. 2- não
resolver da melhor maneira conflitos inevitáveis de deveres.
quero que as pessoas me mintam quando é vantajoso para elas
Ex.: prometemos encontrar-nos com uma amiga, mas ao
Este é o critério da moralidade da ação proposto por Kant:
caminhar vemos uma criança a morrer afogada. Se a formos
uma ação só é moral se podermos querer sem contradição que
salvar para cumprir o dever de a salvar, não conseguimos
a sua máxima seja uma lei universal.
cumprir o dever de não faltar à promessa. Parece óbvio que o
Para saber se uma ação é moral, examina-se a máxima dessa dever de salvara criança é mais importante, mas na ética de
ação para ver se envolve uma contradição da vontade. Se Kant não se consegue fundamentar essa ideia razoável. Do
envolve é contrária ao dever; se não, não é contrária ao dever. ponto de vista de Kant, façamos o que fizermos, faltamos ao
vontade autónoma vontade heterónoma dever, e é tudo. Não é melhor ou menos mau faltar à promessa
- só tem em consideração a sua - tem em consideração fatores do que faltar ao dever de salvar uma vida. São equivalentes.
própria coerência exteriores a si própria 3. A ética kantiana ignora as consequências das ações. Isto
- segue imperativos categóricos, - viola imperativos categóricos, torna-se problemático quando consideramos ações cujo
por piores que sejam as devido às consequências: agente, apesar de ter uma intenção boa, a do cumprimento do
consequências: não mentimos, mentimos quando isso permite
aconteça o que acontecer salvar vidas inocentes dever, é, no entanto, tão descuidado que origina
consequências desastrosas devidas à sua incompetência e
- é inteiramente livre, porque é - não é livre, porque é
determinada exclusivamente determinada por fatores que lhe ignorância.
pela sua própria coerência são exteriores, como o bem-
4. Considera moralmente irrelevantes os aspetos emocionais
estar da humanidade
nas ações como a piedade ou a generosidade. Mesmo quando
Kant não aceitava imperativos morais que tenham em somos motivados por essas ações a praticar o bem, isso não é
consideração a felicidade ou os interesses das pessoas. correto, pois devemos praticá-lo apenas por dever, e não
Considerava que todos esses imperativos são hipotéticos e por porque uma situação ou pessoa nos despertam tais emoções.
isso não são morais.
> A ética de Mill: o princípio da utilidade
Quando os imperativos são hipotéticos, manifestam aquilo a
Ética de Kant Ética de Mill
que Kant chamava heteronomia da vontade: a vontade tem
em consideração interesses humanos comuns, e não a simples O que é bom
a vontade boa a felicidade
em si?
coerência da vontade consigo mesma.
Critério ético promover
Kant pensava que, para serem morais, os imperativos têm de obedecer ao imperativo
da moralidade imparcialmente a
categórico
mostrar autonomia da vontade: o simples facto de a vontade da ação felicidade
instituir leis para si própria, tendo em consideração imperativo categórico princípio da utilidade
Conceitos
exclusivamente a sua própria coerência. (ou da maior
fundamentais
autonomia da vontade felicidade)
Kant encarava a vida moral como uma questão de resistir às
preferências humanas comuns, que considerava manifestações John Stuart Mill defendeu a ética utilitarista: o critério da
da heteronomia da vontade – meras inclinações. moralidade de uma ação é a utilidade. O que é útil não é o que
Ex.: - age sempre de maneira a promover a felicidade da é utilitário, mas o que promove a felicidade. A felicidade é a
humanidade ou a poupar-lhe o sofrimento. única coisa intrinsecamente valiosa (boa em si).

Este imperativo prossupõe que a felicidade das pessoas tem Mill chamava princípio da utilidade à ideia de que uma ação só
relevância moral, e isso é incompatível com a ideia de Kant de é moral quando promover a maior felicidade, de todas as
que a única coisa boa em si é a vontade boa. pessoas envolvidas e não apenas a nossa (promoção imparcial
da felicidade).
Do seu ponto de vista, a ética não visa promover a felicidade
humana, mas tornar-nos dignos de ser felizes. Tornarmo-nos Mill considerava que a felicidade é boa em si e que é também a
dignos da felicidade quando obedecemos ao dever, mesmo razão que nos leva a fazer uma coisa em vez de outra. Fazemos
que isso signifique, na prática, o sacrífico da felicidade humana. o que pensamos que contribui para a nossa felicidade.
Mill identificava a felicidade com o prazer e ausência de dor
(infelicidade = dor e privação do prazer). O prazer (e ausência de
dor) é o único valor último ou a finalidade última da ação. Tudo o
resto é feito (um meio) porque promove o prazer ou previne a dor.
> duas críticas à ética de Kant
Há dois tipos de prazer: superiores, muito melhores em qualidade > duas críticas à ética de Mill
do que os inferiores. Por mais quantidade que tenhamos de 1. não distingue o que é louvável mas não é uma obrigação
prazeres inferiores, não abdicamos dos prazeres superiores para moral, do que é realmente uma obrigação moral.
ficar com os inferiores.
e.: É louvável e significativo dar um rim para salvar uma vida
O critério para distinguir é: quando quem conhece bem dois de um completo desconhecido, é solidário da nossa parte.
prazeres não está disposto a deixar de ter um deles, por maior Mas não parece que seja uma obrigação moral, no mesmo
que seja a quantidade do outro, isso quer dizer que o 1º é sentido em que temos de não o torturar. Na ética de Mill não
superior. se distingue entre duas coisas, porque temos sempre a
consequência obrigação de promover imparcialmente a maior felicidade,
boa má tenhamos ou não relações com as pessoas que vamos ajudar.
a ação é moral, mesmo 2. parece aceitável fazer uma pessoa muito infeliz, se isso
ação a ação é
que os motivos não fizer muitas outras muito felizes. Não queremos torturar uma
intencional imoral
sejam morais
pessoa inocente, mesmo que isso proporcione um espetáculo
ação não que faz duzentas outras ficarem muito felizes. Mas na ética de
a ação não é moral nem imoral
intencional Mill parece aceitável já que promove mais felicidade do que
intenção é não o fazer.
promover A ação é moral, mesmo que a
3. objeção do criminoso azarento. Se aceitarmos o
imparcialment consequência seja má
e a felicidade utilitarismo, alguém mal-intencionado age corretamente se,
por acaso, a ação lhe correr mal e tiver consequências
intenção não é
benéficas que não foram por si desejadas, e o inverso para
promover a ação não é moral, mesmo que a
imparcialment consequência seja boa alguém bem-intencionado cuja ação, contra o previsto, acabe
e a felicidade por gerar apenas sofrimento.

Em resumo, Mill pensava que: O problema da organização de uma sociedade justa: a


- a moralidade de uma ação não depende da intenção. Uma teoria da justiça de John Rawls
ação só é moral quando a intenção é fazer o que naquele Rawls defende que a principal característica das instituições
contexto promove imparcialmente a maior felicidade. que organizam e regem politicamente uma sociedade (Estado)
- mas a moralidade de uma ação não depende do motivo que deve ser a justiça.
nos fez ter aquela intenção. Mesmo que tenhamos um motivo Conceito de justiça:
imoral, a ação é moral desde que façamos intencionalmente  justiça retributiva: formas de retribuição que alguém
(e não por acaso) o que promove imparcialmente a felicidade. deve pagar a outrem ou à sociedade por algum mal que
lhe causou.
Uma regra moral absoluta determina sempre a mesma ação
Ex.: Privar uma pessoa da sua liberdade (prisão), obrigar a
específica, independentemente de qualquer contexto. As
prestar gratuitamente serviços à comunidade.
regras morais da ética de Kant são absolutas porque, seja qual
for o contexto, a ação específica moralmente obrigatória é  justiça distributiva/social: característica de uma
sempre a mesma: ex.: não mentir. sociedade ordenada, isto é, de uma sociedade que
permite distribuir não só os direitos e deveres
As regras morais da ética de Mill não são absolutas porque a
fundamentais como repartir os benefícios da cooperação
mesma regra determina ações específicas diferentes em
social de modo a tratar todos os seus membros como
diferentes casos. O dever de promover imparcialmente a
cidadãos livres e iguais (justiça).
felicidade é sempre o mesmo, mas num caso determina a ação
Ex.: recursos económicos (dinheiro, trabalho e a propriedade),
de mentir, noutros de não mentir.
oportunidades (direitos e liberdades).
Mentir e roubar são, na maior parte dos casos, atos imorais –
É o sentido distributivo que interessa para o problema da
mas não por envolverem contradição da vontade, mas sim
justiça social.
porque prejudicam as pessoas injustamente. Mas quando é
preciso roubar para salvar uma vida, não é imoral. Uma sociedade é uma associação de pessoas que se
regra moral não
comprometem com o cumprimento de certas regras. Essas
regra moral absoluta regras permitem estabelecer formas de cooperação entre
absoluta
Cumpre sempre o Promove sempre todos os membros da sociedade. A cooperação permite-lhes
imperativo imparcialmente a obter benefícios mútuos, que não obteriam isoladamente,
categórico maior felicidade havendo assim uma identidade de interesses entre todos.
É imoral roubar uma Não é imoral roubar Mas as pessoas também têm objetivos próprios, de modo a
aplicação da regra farmácia para salvar uma farmácia para alcançar esses objetivos, cada um prefere receber uma parte
uma vida salvar uma vida
maior dos benefícios acrescidos que resultam da sua
colaboração, pelo que uma sociedade também é marcada por Rawls afirma que as pessoas acabariam por concordar em
conflitos de interesses. escolher os seguintes princípios:
De modo a decidir como devem ser repartidos os benefícios, é > princípio da liberdade – cada pessoa tem direito ao mais amplo
necessário haver um conjunto de princípios – princípios da sistema de liberdades básicas que seja compatível para todos
justiça – que permitam chegar a um acordo sobre a forma (determina como devem ser distribuídas as liberdades básicas)
adequada de o fazer.  direitos políticos;
O problema da justiça social consiste em determinar quais os  direitos da pessoa;
princípios básicos que permitem regular a distribuição dos  direitos cívicos;
bens sociais, de modo que todos os cidadãos sejam tratados  direitos à propriedade pessoal e à proteção.
como pessoas livres e iguais. > princípio da igualdade (como devem ser distribuídas as
Formulação do problema: Quais são os princípios gerais de desigualdades económicas e sociais – nem todas as
uma sociedade bem ordenada? Qual a estrutura básica de desigualdades são injustas):
uma sociedade justa? ou seja como encontrar uma forma  princípio da igualdade de oportunidades – igual acesso a
justa de regular a distribuição dos bens sociais – através dos cargos e funções em condição equitativa de
princípios da justiça (critério/regra na distribuição). oportunidades.

Esses princípios dizem respeito à própria estrutura da É permissível que haja alguma desigualdade em termos de
sociedade, isto é, às instituições sociais e não aos riqueza. Não é para Rawls injusta, pois os fatores de
comportamentos ou atitudes de indivíduos. desigualdades estão dentro da esfera de controlo e escolha do
indivíduo. O que é necessário é garantir que todos partem de
Os filósofos políticos discordam quanto ao modo como deve
uma base igual. Isso consegue-se com políticas sociais – bolsas
estar estruturada a sociedade para ser justa, havendo duas
de estudo que permitam compensar aqueles que, por
perspetivas:
motivos exteriores a si, têm menos recursos ou são
 igualitarismo, a igualdade social é o valor prioritário,
socialmente discriminados de forma negativa.
atribui ao estado um papel fundamental na
redistribuição dos benefícios sociais;  princípio da diferença – é admissível alguma diferença
 liberalismo, o valor prioritário é a liberdade individual, desigualdade da distribuição da riqueza na condição de
considera que o estado deve interferir o mínimo possível sociedade de se dar mais aos mais desfavorecidos.
na vida das pessoas sem o seu consentimento. Quando nascemos recebemos uma dupla herança: genética ou
Como escolher os princípios da justiça que devem reger uma natural e social. Muitas pessoas encontram-se em
sociedade? (método contratualista) desvantagem: falta de sorte na lotaria natural (QI inferior à
média…) ou por terem nascido numa classe social
Contratualismo – negociação livre entre partes para se chegar
economicamente desfavorecida.
a um acordo ou contrato social (entre o Estado e as pessoas) –
obedecer aa um poder político em troca de certos benefícios Ainda que não seja possível anular essas diferenças, devemos
(liberdades, justiça, apoio, segurança). reduzi-las ao mínimo, recorrendo á redistribuição da riqueza,
onde os mais desfavorecidos devem ser recompensados (os
Para Rawls, o contratualismo é a abordagem mais adequada
mais abastados pagam mais impostos)
por estar de acordo com a ideia de que a sociedade é um
sistema de cooperação entre cidadãos lives e iguais, capazes A perspetiva de Rawls sobre a justiça social é liberal-igualitária
de fazer as suas próprias escolhas de forma racional, e sem  liberal – os direitos liberais e liberdades básicos são
que os princípios lhe sejam impostos a partir de algo exterior. inegociáveis e têm prioridade sobre os outros princípios;
 igualitária – os outros princípios visam restringir
A escolha dos princípios da justiça corretos deve ser levada a
fortemente as desigualdades económicas e sociais que
cabo na posição original, após um processo negocial entre as
são toleráveis.
partes que desconhecem que lugar irão ocupar na sociedade.
Os princípios não supõem uma conceção particular do bem.
A posição original (circunstância que antecede a própria
Os liberais, como Rawls, consideram que as pessoas têm
sociedade) é uma situação de equidade hipotética, na qual os
diferentes conceções do bem, ou seja, diferentes perspetivas
agentes escolhem os princípios da justiça acobertos do véu de
sobre o que é realmente importante e o que tem valor na
ignorância, metáfora utilizada por Rawls para se referir à
vida. Rawls defende que a realização dos objetivos de vida e
imparcialidade, a qual impede as partes contraentes de
das conceções do bem de cada um está limitada pelos
saberem quaisquer factos particulares acerca de si mesmas,
princípios, pois considera que estes vêm em primeiro lugar,
de modo a não procurarem forçar a escolha de princípios da
impondo restrições ao que pode ser alcançado e ao modo
justiça que lhe sejam particularmente vantajosos.
como isso é feito. A justiça tem prioridade sobre o bem.
O véu da ignorância visa colocar todas as partes numa
situação de equidade quando escolhem os princípios da
justiça.
Porque esses princípios? Se se demonstrar que a titularidade presente resulta de
apropriações ilegítimas iniciais passadas – roubo, fraude,
Seria a escolha mais racional numa situação de incerteza, em
expropriação –, então a injustiça pode ser retificada através de
que os princípios escolhidos resultariam da aplicação da regra
tributações, compensações, devoluções ou outros meios.
de decisão maximin – procurar maximizar o mínimo, isto é,
tentar melhorar o pior. Qualquer sujeito racional, interessado Michael Sandel (comunitarista)
no melhor para si próprio, trataria de garantir que, por pior O comunitarismo é a perspetiva segundo a qual as pessoas
que viesse a ser a sua posição na sociedade, esta fosse a não pertencem a si mesmas, já que desde o nascimento até à
menos pior possível. morte, ligados a obrigações e laços de fidelidade anteriores a
A regra maximin é incompatível com o princípio da utilidade, nós, não dependo por isso, das suas escolhas. Esses laços e
que consiste na maximização do bem-estar geral. O princípio obrigações – familiares, religiosos, culturais – desenvolvem-se
da utilidade permite sacrificar, em nome da maximização do no interior de uma comunidade concreta que faz de nós aquilo
bem-estar, certos direitos e liberdades das pessoas, que somos, moldando as nossas aspirações, os nossos valores
contrariando as firmes intuições sobre a justiça de Rawls. e no sentido moral.
Sociedade A Sociedade B Sociedade C Sandel considera inadequado o método de escolha dos
Grupo 1 700 600 500 princípios da justiça proposto por Rawls, alegando que as
partes, cegas pelo véu de ignorância na posição original, são
Grupo 2 200 250 300
encaradas como indivíduos socialmente desenraizados e que,
Grupo 3 100 150 200 apesar de racionais, não passam de meros decisores amorais
(são moralmente neutrais).
> Críticas a Rawls
Ao contrário de Rawls (que defende haver prioridade da
Robert Nozick (libertista)
justiça sobre o bem) Sandel considera que é o bem que tem
O princípio da diferença estabelece um padrão de distribuição prioridade sobre a justiça, na medida em que, sem uma
da riqueza. Mas o padrão é instável pois defende que se deve conceção do bem, a justiça carece de força moral justificativa.
favorecer os que têm menos, no entanto, desconsidera o facto
Qualquer conceção particular do bem emerge daquilo que
de que as pessoas que se esforçam mais e que possuem maior
numa dada comunidade concreta é considerado valioso.
mérito devem ser recompensadas de forma proporcional ao
seu empenho ao contrário dos que vivem de preguiça, ou seja,
o esforço real não é devidamente premiado. Ao fazer isto o
estado usa as pessoa como meio (as que se esforçam) e
violam o princípio da liberdade nomeadamente o direito à
propriedade.
O respeito pelo princípio da liberdade igual anula qualquer
possibilidade de existência dos dois princípios seguintes, ou
seja, do princípio da igualdade equitativa de oportunidades e
do princípio da diferença, uma vez que estes estabelecem
limites à propriedade e ao que cada pessoa pode fazer com o
que possui.
Nozick defende o argumento da titularidade – a distribuição é
justa se aqueles que possuem certos bens são os seus justos
titulares. Neste sentido, o que importa não é o resultado final
da distribuição, mas se a história do modo como alguém se
tornou titular de algo mostra que a sua aquisição foi justa.
Se a aquisição dos bens se deu por processos legítimos –
através do trabalho, por exemplo –, ou se alguém passa a ser
proprietário de algo por meio de uma transferência legítima –
doação ou venda voluntárias, por exemplo –, o que quer que
daqui resulte é justo
Mas como saber se o património que está na origem dos
rendimentos atuais corresponde a apropriações legítimas no
passado?
Para resolver este problema, ao princípio da aquisição e ao
princípio da transferência, o autor acrescenta o princípio da
retificação.

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