acção humana O livre-arbítrio O livre arbítrio corresponde a uma vontade livre e responsável de um agente racional.
Mas será que a vontade humana é
verdadeiramente autónoma e independente de coacções ou constrangimentos internos e externos? Não existirão forças que anulam o nosso livre-arbítrio? De facto, há condicionantes que somos incapazes de ultrapassar, como por exemplo: - a força da gravidade: não sou livre de saltar da varanda do 10º andar e voar. - Tal como os restantes animais, nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. A nossa constituição biológica assim o define. - Não conseguimos controlar alguns dos nossos instintos mais básicos, como comer, beber… - Também a cultura, a sociedade onde estamos inseridos nos moldam com as suas regras, valores, interdições. Mas existirá liberdade ou não? Como compatibilizar a liberdade com outras forças que a parecem anular? Este é o problema do livre-arbítrio. O problema do compatibilismo apresenta-se sob a forma de uma simples questão:
É, ou não, o livre-arbítrio compatível com o
determinismo?
As teses são múltiplas: umas negam a liberdade
da vontade, outras defendem-na. 1. O determinismo Definição: o determinismo é a doutrina filosófica segundo a qual tudo o que acontece tem uma causa. A forma mais simples e habitual de definir o determinismo causal (DC) é esta: Às mesma causas seguem-se necessariamente os mesmos efeitos. Exemplo: Causa-»força da gravidade efeito-» queda dos corpos Se todos os fenómenos estão submetidos às leis naturais, então tudo o que fazemos é inevitável. Será que a acção humana não escapa a esta causalidade necessária? O determinismo radical defende que a acção humana é inevitável: o homem não pode agir de outro modo. O determinismo radical defende o incompatibilismo* entre a liberdade e o determinismo natural. O argumento incompatibilista clássico: Se uma pessoa age de sua livre vontade, então poderia ter agido diferentemente. Se o determinismo é verdadeiro, ninguém poderia agir diferentemente do que realmente age. Portanto, se o determinismo é verdadeiro, ninguém age de sua livre vontade. 2. O indeterminismo Definição: é a corrente que defende a impossibilidade de prever os fenómenos a partir de causas determinantes, introduzindo as noções de aleatório e de acaso. Exemplo: a maioria das pessoas joga no euromilhões na esperança de que, por mero acaso, lhe saia a combinação em que apostou. A probabilidade da mesma combinação sair duas semanas consecutivas é muito reduzida. Se tal acontecesse seria por mero acaso. Assim, podemos afirmar que antes do sorteio, o resultado semanal é indeterminado. Para o indeterminismo, o mesmo sucede na acção humana: não podemos prever com rigor como é que ele irá agir.
Ele age e não é possível determinar o que o
levou a agir. Se é o acaso que conduz as acções do homem, então elas não são o resultado da sua vontade. Logo, as acções também não são livres. 3. O libertismo/Libertarismo Definição: é a corrente que defende , de modo mais radical, o livre-arbítrio e a responsabilidade do ser humano.
. Considera que a liberdade de escolha nem é
causalmente determinada (determinismo), nem é aleatória (indeterminismo). Para o libertismo ou libertarismo o agente não é determinado: tem a possibilidade de se auto- determinar e decidir. 4. O determinismo moderado (Compatibilismo) Definição: perspectiva que aceita o determinismo no mundo natural, mas defende que existe espaço para a liberdade e responsabilidade humanas. Mesmo que as nossas acções sejam causadas podemos escolher agir de outro modo. Quem defende o determinismo moderado ou compatibilismo, não aceita que a verdade da crença no determinismo implique necessariamente a falsidade da crença no livre-arbítrio. Pensa que o problema está mal formulado. Assim, defende que as proposições:
1. Há livre-arbítrio. 2. Há determinismo.
São ambas verdadeiras.
Rejeita a ideia radical de que o determinismo nega a liberdade e a responsabilidade. Rejeita ainda o indeterminismo, ou seja a ideia de que as acções livres são acções não causadas. As acções livres, como qualquer outra acção, têm uma causa. As nossas acções podem ser simultaneamente causadas e livres. Como é isto possível? • Se de repente alguém começasse a agir de modo extravagante e não soubesse explicar as razões de tal acto, o mais provável é que o considerássemos louco e não livre.
• Um comportamento sem explicação não é livre e
se o comportamento é livre tem uma explicação, significa que tem uma causa. É causado. • O mesmo acontece com o conceito de liberdade. Ser livre não é fazer o que nos apetece, isso seria arbitrariedade, é agir dentro de certos limites. Não podemos ser tudo o que nos apetece porque a nossa constituição física e psicológica (condicionante bio-psicológica)simplesmente não o permite. Além disso, a nossa vida decorre num certo espaço e tempo, somos condicionados pela cultura a que pertencemos, somos seres históricos (condicionante socio-historico- cultural). • Assim a nossa acção é causada pelos nossos desejos e crenças, pelo nosso carácter e personalidade e dentro das possibilidades que a nossa circunstância permite. O que distingue uma acção livre de outra não livre é a natureza das causas que estão na sua origem. Se a acção tiver a sua origem no agente, nos seus desejos e crenças , então é livre. Se foi resultado de coacção externa ao agente ou resultar de uma compulsão, não é livre. • «Os deterministas moderados consideram assim a ausência de compulsão e não a ausência de causa, como critério de liberdade de escolha. (...) Uma vontade livre é uma vontade não compelida.» • Esta perspectiva parece implicar que: • -Todos os actos são causados e limitados (condicionados) mas só alguns são compelidos. Isto basta, para nos considerarmos livres e responsáveis. • Um agente pratica livremente uma acção, se e só se, podia ter agido de forma diferente, caso o tivesse escolhido. Reconheço que agi livremente quando: - Fui a fonte última da minha acção e - • Pude agir diferentemente - • Tive algum tipo interferência sobre os acontecimentos futuros.
Há três requisitos que correspondem a essa
capacidade de reconhecer uma vontade livre: • •Auto-determinação da Vontade (AD) • •Possibilidades Alternativas de Escolha (PA) • •Interferência no Futuro (IF). • A liberdade não é um dado, tem de ser "arduamente" construída, derrubando barreiras. Não somos absolutamente livres, vamo-nos libertando. Cada barreira derrubada consciente e responsavelmente é um passo em direcção a essa liberdade, ao aperfeiçoamento moral.