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Qual é a diferença entre uma mera decisão ou seleção e uma escolha, isto é, uma
decisão livremente realizada? Eis uma ideia vulgar: uma escolha livre é uma decisão tal que,
até ao momento em que foi realizada, outra decisão poderia ter sido feita. A ideia por detrás
desta sugestão é que a diferença entre as tuas decisões que são escolhas, isto é, livremente
realizadas, e aquelas que o não são, é que o modo como fazes as que são livres depende de ti.
A única coisa que te causou ao tomares a decisão foste tu; nada te forçou a fazê-lo de um
modo ou de outro. Combinemos estas duas ideias:
1) Uma escolha (isto é, uma escolha livre) é uma decisão tal que até ao momento em
que foi tomada, outra decisão poderia ter sido tomada e a decisão tomada
depende da pessoa que a fez.
O tema do livre-arbítrio tem estado entre nós de uma forma ou de outra desde o
tempo dos filósofos gregos. Está no coração de muitas das partes mais importantes da nossa
vida social e pessoal. Se não tivermos livre-arbítrio, então é difícil compreender como
poderíamos possivelmente ser responsáveis por aquilo que fazemos: que justificação poderia
haver para nos censurarem quando algo corre mal, elogiarem-nos e recompensarem-nos
quando nos esforçamos muito e/ou as coisas correm bem? O seguinte princípio de
possibilidades alternativas parece encontrar-se na base da nossa noção de responsabilidade:
Se não temos livre-arbítrio, então quase por definição não poderíamos ter decidido de
outro modo. E tendo em conta 2, se não poderíamos ter decidido de outro modo, então não
somos responsáveis pelas decisões que fazemos ou pelo que vamos fazer.
A outra conceção é a imagem científica. Esta imagem surge do trabalhado das ciências
acerca do ser humano, incluindo a biologia, a ciência cognitiva e a neurociência. Nesta
conceção, pensamos nas pessoas como um sistema vasto de unidades muito pequenas
(neurónios e outras células), um sistema que é completamente determinado a ser como é
pelos seus genes e pelo seu ambiente e, talvez, por outras causas prévias. Relativamente à
questão da escolha livre [livre-arbítrio], a parte importante desta conceção é que estamos
totalmente determinados por causas prévias a decidir como decidimos. Por “completamente
determinado”, queremos dizer que partindo das mesmas causas prévias, as mesmas decisões
ter-se-iam seguido. Pensando nas pessoas tal como o fazemos a partir da imagem científica, é
natural que fiquemos preocupados pelo facto de elas poderem não ter poder de escolha e
assim nunca serem responsáveis pelas suas decisões e pelas suas ações.
Tal como foi originalmente concebido pelo filósofo Wilfrid Sellars, as duas imagens
deviam ser entendidas como completamente compatíveis, simplesmente como dois modos de
mostrar ou descrever a mesma coisa. Quando, contudo, exploramos as conceções de escolha
produzidas pelas duas imagens, elas parecem rapidamente ser pouco compatíveis. A imagem
manifesta contém a imagem das pessoas enquanto pessoas que escolhem livremente. A
imagem científica contém a imagem das pessoas como causalmente determinadas. As três
grandes posições acerca da liberdade de decisão consistem em três posições acerca destas
implicações para as duas imagens.
6) Sou levado a tomar uma certa decisão pela influência de sugestão pós-hipnótica ou
pela intoxicação extrema, ou enquanto estou a dormir, etc.
Qual é a diferença? A diferença é simplesmente esta. Embora a decisão nos dois casos
seja completamente causalmente determinada, no primeiro caso é causada pela minha
deliberação consciente acerca do que fazer, no segundo caso por fatores exteriores ao meu
pensar e deliberar, fatores sobre os quais não tenho controlo. Para o compatibilista, isto é
suficiente para no caso 5 pelo menos se abrir o caminho à escolha livre , enquanto que numa
situação como a 6 não há escolha livre.
Se os humanos têm livre-arbítrio, eles fazem as suas próprias escolhas, então eles
decidem se vão consumir drogas e substâncias ou não, consoante as suas necessidades. Se um
individuo não têm livre-arbítrio, então é porque algo dentro de si não está bem, então o seu
corpo necessita de substâncias para resolver esses problemas, sendo esta resposta
automática.