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A AÇÃO HUMANA

ANÁLISE E COMPREENSÃO DO AGIR


O QUE DEFINE O AGIR HUMANO?

Quais dos seguintes exemplos considera ser uma ação? Porquê?

1. Viajar de automóvel pela Europa para visitar algumas capitais;

2. Escorregar;

3. Vestir o equipamento do treino de futebol;

4. Ganhar um prémio da lotaria;

Escola virtual _Vídeo: Acontecimentos e atos


O QUE DEFINE O AGIR HUMANO?

“A verdade é que existe uma diferença entre o que simplesmente me acontece


(…), o que faço sem me dar conta e sem querer (…), o que faço sem me dar
conta mas segundo uma rotina adquirida (…) e o que faço apercebendo-me e
querendo (…). Parece que a palavra ‘ação’ é uma palavra que apenas convém à
última destas possibilidades. É evidente que ainda existem outros gestos difíceis
de classificar, mas que à partida parecem qualquer coisa menos ações: por
exemplo, fechar os olhos e levantar o braço quando alguém me atira qualquer
coisa à cara ou procurar algo a que me agarrar quando estou quase a cair.”
F. Savater, As perguntas da vida

Escola virtual _Vídeo: Acontecimentos e atos


O QUE DEFINE O AGIR HUMANO?

Atos involuntários

Comuns a todos os seres vivos


- Involuntários
- Inconscientes (reativos)
- Não pressupõem intenção ou finalidade
- Não são livres/não resultam de uma Atos voluntários
escolha (determinismo biológico)
Específicos do ser humano
Ex.: Respirar; espirrar; transpirar; tremer
de frio -Conscientes
- Voluntários
- Pressupõem motivo, intenção e fim
- São livres e responsáveis

Agente ativo
Livre-arbítrio
ESPECIFICIDADE DA AÇÃO HUMANA
I. Elementos da ação humana: a rede concetual da ação
Agente (quem?): é aquele que pratica a ação. É quem define a intenção, o motivo e a
finalidade.

Intenção (o quê?): é o que o agente pretende fazer, atingir ou obter. Corresponde ao


projeto de ação.

Motivo (porquê?): corresponde à razão que leva o agente a agir. O motivo explica a
intenção.

Finalidade (para quê?): é a causa final ou o objetivo último da ação.

Agente Intenção

Motivo Finalidade
II. Momentos do ato voluntário (ação humana)

Conceção: o agente estabelece uma meta a atingir e os meios para a


alcançar, ou seja, define o plano da ação a desenvolver.

Deliberação: o agente analisa as hipóteses de ação, bem como os motivos


para agir e as consequências da ação. Trata-se de ponderar ou avaliar as
vantagens e desvantagens das diferentes alternativas de ação.

Decisão: o agente opta/escolhe uma das alternativas de ação. Pela


decisão, o agente é levado a agir.

Execução: o agente passa da intenção ao ato, realizando a decisão que


tomou.
Exercícios
 
1. Considere as seguintes situações:
 
Ter cabelos brancos; ir a um congresso; ter a tensão alta; tremer de frio; ligar a televisão; inscrever-se
num curso; crescer; tirar a carta de condução; retirar a mão quando se apanha um choque; ir ao
médico; ler um livro; tropeçar e cair pela escada abaixo; transpirar numa sala quente; chorar ao
descascar cebola; fazer um donativo para uma instituição; sair da sala de aula quando toca a
campainha; engasgar-se a beber água; oferecer um carro novo ao filho que entrou para a universidade;
informatizar os serviços de uma empresa para facilitar o desempenho das tarefas.
 
1.1. Relativamente às situações apresentadas, distinga os atos involuntários dos atos voluntários.

2. Analise a situação apresentada: 


Um professor encontra-se no escritório, a abrir e fechar livros na mesa de trabalho, a consultar dossiês,
rodeado de papéis, de apontamentos, canetas de cor, etc. Em conversa com ele, acabamos por
confirmar que tudo aquilo tem em vista a preparação das aulas do dia seguinte. Confirmamos também
que ele se preza de ser um profissional competente e que pretende que os seus alunos obtenham bons
resultados.

2.1 Identifique os elementos que compõem a rede concetual da ação.


Problema do livre-arbítrio
Proposta de trabalho
Confrontação de teses e argumentos entre alunos relativamente à sua
posição sobre o problema do livre-arbítrio.

Tarefas:

1.Leitura do texto 4, página 56. Resposta à questão: qual o problema colocado pelo autor
do texto?

2.Em grupos de 2, definirem uma posição face ao problema do livre-arbítrio (formulação


da tese).

3.Apresentar 2 argumentos que sustentem a posição defendida (formulação dos


argumentos).
Problema do livre-arbítrio:
as questões filosóficas

Há ações livres?

É o ser humano efetivamente livre no seu querer


(vontade) e agir (ação)?

Temos, de facto, controlo sobre as nossas ações?

Escola virtual: A discussão sobre o livre-arbítrio


O livre-arbítrio é:

- a liberdade da vontade;

- a possibilidade de escolher agir


ou não, de seguir um certo curso
de ação ou outro;

- ausência de constrangimentos
que obriguem ou impeçam o
agente de realizar o que deseja.

O problema do livre-arbítrio consiste, assim, em saber se é possível afirmar ao mesmo


tempo que “tudo o que acontece é o resultado de uma causa” e “a ação humana é um
acontecimento livre, não determinada por causas externas ao agente”.
Tese do determinismo radical (Incompatibilismo):
A liberdade não existe, pois todas as ações são determinadas por uma causa.

Argumentos
Consequências
- Princípio da causalidade universal: na
natureza, tudo o que sucede tem uma causa,
- Negação do livre-arbítrio (incompatibilidade entre ideia
logo, o Universo é um sistema que obedece a
de liberdade e o determinismo natural)
leis causais invariáveis e necessárias; mesmo
que não conheçamos as causas de um
- Negação da responsabilidade moral do agente
acontecimento, tal não significa que não
existam.
Argumento
- A ação humana rege-se pelas mesmas leis:
. tudo o que fazemos é determinado por uma
SE TUDO ESTÁ DETERMINADO, ENTÃO NÃO HÁ
causa necessária: leis físicas, causas
LIVRE-ARBÍTRIO.
biológicas, causas sociais, psicológicas, etc.;
MAS TUDO ESTÁ DETERMINADO.
. porque não controlamos essas causas, não
somos livres;
LOGO, NÃO HÁ LIVRE-ARBÍTRIO.
. as nossas ações são o efeito de uma série
de acontecimentos anteriores que não
controlamos: ignoramos a causa, pelo que
acreditamos ilusoriamente ser livres. Págs. 57 e 60
Escola virtual. Determinismo e liberdade na ação
humana
Tese do determinismo radical (Incompatibilismo):
A liberdade não existe, pois todas as ações são determinadas por uma causa.

Objeções
1. Argumento da experiência da liberdade e da
responsabilidade (tese libertista): sentimo-nos livres e
responsáveis pela nossa ação.
2. Argumento do indeterminismo (tese libertista): o
Universo não constitui um sistema determinista e, não
sendo possível identificar a causa de uma ação, podemos
admitir que ela é fruto da liberdade do agente.
Vestígios atávicos depois da chuva
de Salvador Dalí (1934)

3.Está comprometida a atribuição de responsabilidade,


mérito e culpa, o que pode trazer consequências sociais
desastrosas.
Se o determinismo radical fosse verdadeiro, então não
seríamos moralmente responsáveis pelas nossas ações.
Mas somos moralmente responsáveis pelas nossas ações.
Logo, o determinismo radical é falso.
Tese do libertismo: as ações são livres e dependem apenas da afirmação da vontade
do agente.
Argumentos

1. Afirmação radical do livre-arbítrio e da responsabilidade do


Consequências
agente:
. afirmação da dualidade corpo-mente: a mente está isenta - Afirmação do livre-arbítrio
da causalidade do mundo natural; pela sua capacidade
racional e deliberativa, o homem interfere no curso normal - Afirmação da responsabilidade moral do
dos acontecimentos; pertencer a um mundo determinista não
sujeito
torna obrigatoriamente as nossas ações determinadas.

2. Argumento da experiência da liberdade e da


responsabilidade: ao efetuar uma escolha consciente
percebemos que somos livres (pois podíamos ter escolhido Argumento
de outro modo) e reconhecemo-nos como responsáveis
pelas nossas ações; fatores como a herança genética, SE TEMOS LIVRE-ARBÍTRIO, ENTÃO O
crenças, personalidade, cultura, pesam nas nossas decisões DETERMINISMO É FALSO.
mas não são causas, são meras influências. TEMOS LIVRE-ARBÍTRIO.

3. Argumento do indeterminismo: a impossibilidade de prever LOGO, O DETERMINISMO É FALSO.


os fenómenos a partir de causas determinantes (o acaso e o
aleatório) permite-nos admitir que a liberdade está na origem
da ação humana.
Págs. 61
Tese do libertismo: as ações são livres e dependem apenas da afirmação da vontade
do agente.

Objeções

1. Crítica ao argumento da experiência da


liberdade e da responsabilidade: a sensação que
temos de sermos livres e responsáveis pode ser
ilusória (decorre do facto de ignorarmos as Autómato de Edward Hopper (1927)
causas da ação) e não corresponder a algo real;

2. Crítica ao argumento do indeterminismo: se as


ações são fruto do acaso, elas não resultam da
liberdade do agente, pois não implicam uma
escolha.
Tese do compatibilismo (determinismo moderado): as ações são livres, mas existem limitações
ou restrições à vontade do agente.

Argumentos

1. O livre-arbítrio existe: o determinismo do mundo


natural não anula a liberdade e responsabilidade do
agente. Mesmo que tudo esteja determinado, as Consequências
nossas escolhas e ações são livres, desde que não
sejam forçadas; - Afirmação do livre-arbítrio
(compatibilidade entre ideia de liberdade e o
2. As ações podem ter causas (biológicas, sociais, determinismo natural)
psicológicas), mas tal não significa que não sejam
resultado do nosso livre-arbítrio, porque podemos - Afirmação da responsabilidade moral do
sempre agir de outro modo se assim escolhermos. sujeito
As causas são apenas condicionantes e não
determinantes: o que nos torna livres é a ausência de
constrangimentos (ser obrigado a agir de certo modo)
e não a ausência de causas.
Ex.: Ir buscar um copo com água à cozinha é
determinado por uma causa (ter sede), mas resulta de Págs. 62-63 (texto 9)
uma decisão do sujeito que podia sempre escolher
ficar com sede e não ir buscar o copo com água.
Págs. 69-70
Tese do compatibilismo (determinismo moderado): as ações são livres, mas existem limitações
ou restrições à vontade do agente.

Condicionantes da ação humana


Fatores externos ao ser humano e que funcionam como causas da
ação humana. Por um lado, as condicionantes são condições de
possibilidade, mas, por outro, limitam e orientam a conduta humana.

1. Condicionantes históricas, sociais e culturais


Nascemos num país, numa cultura, numa sociedade que não escolhemos e para a qual
não contribuímos, até ao momento do nosso nascimento, para que seja como é. Se
fomos educados na cultura ocidental, nos séculos XX e XXI, aprendemos hábitos (por
ex. comer com talheres), costumes (por ex. usar vestidos em lugar de saris), valores
(temos tendência a considerar a vida humana sagrada) que nos dizem o que fazer,
como fazer, o que pensar, como conhecer e interpretar a realidade.

2. Condicionantes físico-biológicas de espécie e individuais

Temos um património genético, inscrito no ADN, que determina a forma do nosso corpo,
aptidões físicas, predisposições, necessidades, entre muitos outros aspetos. As
condicionantes físico-biológicas de espécie dizem respeito a características partilhadas
por todos os seres humanos (ex.: não temos aparelho respiratório que permita respirar
debaixo de água). As condicionantes físico-biológicas individuais dizem respeito a
características individuais (ex.: ser asmático, ter miopia).
Escola virtual. As condicionantes da ação humana
Tese do compatibilismo (determinismo moderado): as ações são livres, mas existem limitações
ou restrições à vontade do agente.

Objeção

1. A nossa vontade (da qual dependem as ações


livres) é condicionada por causas que não
controlamos, logo, mesmo nos atos voluntários é
possível reconhecer a influência de causas e, 2. Se as condicionantes da ação humana são

por isso, não somos realmente livres. fatores externos que determinam os motivos e
as intenções da ação do agente, de que forma
é que o agente se pode considerar autor da sua
ação?

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