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CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO HUMANA

Voz ativa - o sujeito pratica a ação. Pressupõe


O QUE FAZEMOS
que sejamos nós a tomar a iniciativa, sentindo-
nos autores ou causas da ação.
Ex. Roubar; dar um passeio; comprar algo.
Somos atores relativamente ao que fazemos.

Voz passiva- o sujeito sofre a ação. Limitamo-


nos a suportar os efeitos de algo que é
produzido, sem sermos nós os autores e sem a
O QUE NOS ACONTECE nossa participação ou interferência.
Ex. ser roubado; ser vítima de uma intoxicação
alimentar; furar um pneu do carro.
Somos recetores relativamente ao que nos
acontece.
CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO HUMANA

• QUE FAZEMOS VOLUNTARIAMENTE

Exige que tenhamos intenção de levar a cabo


algo.
Ex. Dançar, praticar desporto, ler o jornal.

O QUE FAZEMOS INVOLUNTARIAMENTE

Não pressupõe qualquer intenção para realizar


algo. Realizamos algo independentemente da
nossa vontade.
Ex. quando ressonamos, fazemos a digestão,
tossimos, crescemos e espirramos.
CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO HUMANA

ATOS DO HOMEM Atos involuntários. Movimentos de natureza reflexa,


instintiva ou habitual, praticados sem a intervenção
ativa da vontade. São comportamentos reativos, que
ocorrem de modo espontâneo, mais ou menos
automatizado. Praticamos estes e outros atos como
resultado do nosso funcionamento orgânico ou
como reação ao meio-ambiente.
ATOS HUMANOS Ex. respirar, transpirar, tossir, espreguiçar-se…

Atos realizados voluntária e intencionalmente. São atos intencionais que envolvem a


participação ativa de um sujeito autónomo e livre que, antes de agir, pondera os seus atos,
escolhe de modo responsável os meios de os praticar e pensa nas consequências que deles
podem advir. (Atos humanos ou ação humana).
Ex. Comprar uma casa; escolher uma profissão; ir a um concerto; escrever um livro; consultar um
médico…
O que são ações?
• O termo ação deve ser filosoficamente reservado
apenas e só para aquilo que fazemos consciente e
voluntariamente, isto é, para acontecimentos
intencionais.

• As ações são acontecimentos que os agentes praticam


voluntariamente. Pode haver acontecimentos sem que
existam ações, mas não pode haver ações sem
acontecimentos.
O que são ações?
• Um agente pratica livremente uma ação se e só se as
seguintes condições se verificarem:

– dispõe de cursos alternativos de ação;


– está sob o seu controlo praticar (ou não) a ação.
O que são ações?
• Uma ação:
– é um gesto ou conjunto de gestos intencionais;
– é imputável a um agente (é ação de alguém);
– tem sempre uma finalidade.
TÉRMITAS

• Não praticam uma ação porque:

1. O seu comportamento obedece a um


padrão geneticamente programado
que exclui cursos alternativos.

2. O comportamento adotado depende


de fatores que não controlam.
HEITOR

• Pratica uma ação porque:

1. Não tinha de enfrentar Aquiles


em combate pois dispunha de
cursos alternativos de ação.

2. Seguir qualquer um dos cursos


alternativos de ação ao seu dispor
apenas dependia de si.
O que são ações?

Agente

Decisão Motivo

Deliberação Intenção
CARACTERIZAÇÃO DA AÇÃO HUMANA
Exercício 1- Estabeleça as correspondências:
1. Ter cabelos brancos.
2. Ir a um congresso. A. O que nos acontece.
3. Ter a tensão alta.
4. Tremer de frio. B. O que fazemos
5. Ligar a televisão. voluntariamente.
6. Embaterem-nos no carro.
7. Inscrever-se num curso. C. O que fazemos
8. levar um murro. involuntariamente.
9. Ser roubado.
10. Crescer.
11. Tirar a carta de condução.
12. Retirar a mão quando se apanha um choque.
13. Ir ao médico.
14. Fechar os olhos quando a luz é intensa.
15. Estar na cama com gripe.
16. Nascer
17. Ler um livro.
Exercício 2- Explique a seguinte afirmação: “Tudo o que fazemos faz parte da nossa
conduta, mas nem tudo o que fazemos constituiu uma ação.”
Solução
A. O que nos acontece- 1, 3, 6, 8, 9, 10, 15 e 16

B. O que fazemos voluntariamente- 2, 5, 7, 11, 13 e 17.

C. O que fazemos involuntariamente – 4, 12 e 14.

“A ação humana ou atos humanos dizem respeito a atos intencionais que


envolvem a participação ativa de um sujeito autónomo e livre (agente)
que, antes de agir, pondera os seus atos, escolhe de modo responsável os
meios de os praticar e pensa nas consequências que deles podem advir.
Ação designa designa os atos que reconhecemos serem simultaneamente
conscientes, voluntários e intencionais.” Abrunhosa M. e Leitão M. (Adaptado)
Liberdade

Liberdade circunstancial Livre-arbítrio

Poder de escolher um curso de ação


Capacidade de realizar uma ação em vez de outro. Exercício da
sem a interferência de obstáculos, vontade de um agente racional
forças externas e limitações que a autónomo que é capaz de escolher
restrinjam ou imponham. entre várias possibilidades de ação.
Liberdade circunstancial

Exerce-se num quadro de


Limites e Possibilidades de ação
condicionantes
obstáculos da ação e condições do agir

condicionantes condicionantes condicionantes


físico-biológicas psicológicas histórico-culturais
2

O problema do livre-arbítrio
Determinismo

Todos os eventos, nos quais se incluem as ações


humanas, são o resultado necessário de
acontecimentos anteriores e das leis da natureza.

Se fosse possível ter um conhecimento completo do


Universo no presente, seria possível prever
rigorosamente o que aconteceria no futuro.

As escolhas, desejos e ações são eventos do mundo,


resultando necessariamente de causas anteriores.
Problema do livre-arbítrio

Será que temos livre-arbítrio?


Será possível compatibilizar o determinismo com o livre-arbítrio?

Determinismo Determinismo
Libertismo
radical moderado

Incompatibilismo Compatibilismo
Temos livre-arbítrio?
2. O PROBLEMA DO LIVRE-ARBÍTRIO

Temos livre-arbítrio?
Incompatibilismo Compatibilismo

Determinismo Determinismo
Libertismo
radical moderado

O determinismo é Existe livre-arbítrio; o


Existe livre-arbítrio; o
verdadeiro; não existe determinismo é
determinismo é falso.
livre-arbítrio. verdadeiro
Determinismo radical

Se estamos determinados,
não temos a liberdade
Estamos determinados.
necessária para sermos
moralmente responsáveis.

Como não tem qualquer controlo sobre as suas ações, que


são o resultado inevitável de causas anteriores, o sujeito não
tem livre-arbítrio e, por isso, não pode ser responsabilizado.
DETERMINISMO RADICAL

Todos os eventos, incluindo as ações humanas, são o resultado necessário de


acontecimentos anteriores e das leis da natureza.

O estado atual do universo é efeito do seu estado anterior e a causa daquilo


que se seguirá. O Universo é um sistema governado por leis causais
invariáveis. As nossas escolhas, desejos e ações são eventos do mundo e por
isso, estão sujeitos à mesma causalidade e resultam obrigatoriamente de
causas anteriores.

A responsabilidade moral exige que tenhamos livre-arbítrio, logo, uma vez que
estamos determinados não temos liberdade necessária para sermos
moralmente responsáveis.
Objeções ao determinismo radical

As ações humanas A sociedade está Somos livres porque


podem ser organizada no nos apercebemos de
fenómenos pressuposto da que o somos
indeterminados liberdade e da (argumento da
(indeterminismo). responsabilidade. experiência).
As ações humanas podem ser fenómenos indeterminados
(indeterminismo).

De acordo com a Física Quântica, a visão do mundo determinista (em


que todos os fenómenos podem ser rigorosamente previstos) não se
aplica a todos os fenómenos. Há eventos que podem escapar aos
esquemas deterministas, não sendo o resultado necessário das leis da
natureza e dos acontecimentos anteriores., mas sim devidos ao acaso,
ao aleatório. As ações humanas podem fazer parte deste conjunto de
fenómenos.
A sociedade está organizada no pressuposto da liberdade e da
responsabilidade.

Se a tese do determinismo radical for verdadeira, então não faz sentido as


sociedades terem um sistema de sanções para punir os não cumpridores
das leis, resultado de uma moral partilhada.
Se os seres humanos não têm uma vontade livre, então são como que
autómatos, marionetas. Assim, não fará sentido castigar ou responsabilizar
alguém por um crime, se essa pessoa não poderia ter agido de modo
diferente. Não fará também sentido elogiar alguém por ter tido uma boa
ação, uma vez que esta não resultou de uma vontade livre.
O determinismo radical inviabiliza a responsabilidade moral e a moralidade,
pois nenhuma ação poderá ser classificada como boa ou má.
Somos livres porque nos apercebemos de que o
somos (argumento da experiência - argumento
defendido pelos libertistas).

No ato de escolher temos a consciência de que somos livres. A culpa, o


arrependimento ou penitência são sentimentos que mostram que o
sujeito acredita que poderia ter agido de modo diferente.

Se a tese determinista radical for verdadeira, não fará sentido


arrependermo-nos de não ter feito algo, pois não poderíamos ter optado
por tê-lo feito.
Libertismo

Se estamos determinados,
Temos a liberdade
não temos a liberdade
necessária para sermos
necessária para sermos
moralmente responsáveis.
moralmente responsáveis.

Causalidade do agente:
autodeterminação e Argumento da
Argumento da experiência
dualidade entre o corpo e responsabilidade
a mente/alma
ARGUMENTO DA EXPERIÊNCIA
A experiência da liberdade é uma prova de que somos livres. Sabemos
que somos livres, pois apercebemo-nos que o somos sempre que
fazemos uma escolha consciente.

ARGUMENTO DA RESPONSABILIDADE

Considera-se que os outros são responsáveis pelas suas ações e


nós somos responsáveis pelas nossas; censura-se o mau
comportamento e louva-se o bom comportamento. É necessário
que tenhamos livre-arbítrio para que estas reações sejam
justificáveis (censura e elogio).
Causalidade do agente: autodeterminação e dualidade entre o
corpo e a mente/alma

O sujeito é o agente causador, isto é, tem o poder de interferir no


decorrer normal das coisas, uma vez que o sujeito tem capacidade
racional e deliberativa. O sujeito tem o poder de fazer com que as coisas
aconteçam por sua intervenção.
Causalidade do agente: o sujeito, ao agir, inicia sequências de
acontecimentos, sem que este desencadear seja determinado.
O sujeito não é determinado a partir do exterior: tem o poder de se
autodeterminar. Dualidade entre o corpo e a mente. A mente está fora da
causalidade do mundo natural, não se encontra na esfera da natureza,
mas pode interferir com a ordem natural da natureza.
O corpo pode ser determinado por causas necessárias, mas a mente
ou alma não está determinada, autodetermina-se.
Se temos livre-arbítrio, temos a liberdade para sermos moralmente
responsáveis. Pelo menos algumas escolhas são livres, escapando à
causalidade natural, uma vez que elas não são o resultado inevitável
de causas anteriores e das leis da natureza. Se o sujeito tem livre-
arbítrio, então ele pode ser moralmente responsabilizado.
Objeções ao libertismo

O libertismo não nos


O facto de termos
fornece grandes
experiência da
explicações sobre
liberdade não prova
aquilo que produz as
que esta exista.
nossas decisões.

Os sentimentos
associados à
responsabilidade
moral podem não
ser justificáveis.
O facto de termos experiência da liberdade
não prova que esta exista.

A liberdade pode ser ilusória: essa sensação de liberdade pode


não corresponder a nada de real. Os estados mentais são
bastante complexos e podem ser o resultado de causas
bioquímicas que o sujeito não controla. Pode, portanto, ser
algo determinado e, se assim for, não sou livre.
Os sentimentos associados à responsabilidade moral
podem não ser justificáveis.

Os estados de remorso ou de satisfação podem ser apenas respostas inevitáveis


às ações que os antecederam. Logo, sentir satisfação por se ter procedido
corretamente, ou remorso por se ter agido incorretamente não implica,
necessariamente, a existência de livre-arbítrio na base das ações.

O libertismo não nos fornece grandes explicações sobre aquilo que produz as
nossas decisões.

- A existência da mente/alma, cujas decisões não estão condicionadas pelas leis


naturais, contraria a visão científica do mundo.
- Também levanta o problema da interação da mente (entidade imaterial) com o
corpo (mundo material). Como é que interagem?
- A alma pode estar sujeita a outro conjunto de leis, que não as da natureza,
pondo assim em causa a existência do livre-arbítrio.
Determinismo moderado:
perspetiva compatibilista

Temos a liberdade
Estamos determinados. necessária para sermos
moralmente responsáveis.

Um ato pode ser, ao mesmo tempo, livre e determinado.

Ações livres Ações não-livres

Aquelas que
fazemos com Aquelas em que
vontade de as fazer somos forçados ou
e sem que nada constrangidos a
nem ninguém nos escolher.
force ou obrigue.

As ações livres resultam do exercício da vontade de um agente, das suas


crenças e dos seus desejos, surgindo por um processo natural, sem coações,
apesar de serem determinadas.
Determinismo moderado
Livre não significa não causado. As ações são sempre causadas: pelo
nosso passado, pelo temperamento, por processos que ocorrem no
cérebro, por fatores que não controlamos. Mas as ações livres são
resultado do exercício da vontade de um agente, das suas crenças, e
dos seus desejos. Surgem por um processo natural, sem coações,
mesmo que esteja determinado a agir daquele modo.

Compatibilismo clássico: mesmo que as nossas ações sejam causadas,


poderíamos sempre ter agido de outro modo, se assim o tivéssemos
desejado. Assim, somos responsabilizados pelas ações que realizamos.
É possível que tudo esteja determinado e que, ao mesmo tempo,
existam possibilidades alternativas.

Princípio das possibilidades alternativas: Só há responsabilidade e


livre-arbítrio se o sujeito pudesse ter agido de modo diferente daquele
que agiu. O sujeito teria agido de modo diferente se o tivesse
desejado.
Compatibilismo clássico

Princípio das possibilidades alternativas

Só há responsabilidade e livre-arbítrio se o
agente pudesse ter agido de modo diferente
daquele que agiu.

Um agente tem Ele teria agido de


possibilidades modo diferente, se
alternativas. o tivesse desejado.

Ao conciliar o determinismo com o livre-arbítrio, o compatibilismo


permite responsabilizar o agente.
Objeção ao determinismo moderado

O carácter, as crenças e os desejos Mas não temos


dependem de forças que não controlamos, consciência desses
constrangendo-nos a agir de determinado constrangimentos
modo. causais.

Em rigor, nunca
poderíamos ter agido de
outro modo nem ter
desejos diferentes.

Assim, não somos


realmente livres nem
podemos ser
responsabilizados.
O compatibilismo de Harry Frankfurt (n. 1929)

Frankfurt é um autor compatibilista que põe em causa o


princípio das possibilidades alternativas.

Mesmo que não pudesse ter agido de modo diferente do


que agiu, o agente tem livre-arbítrio e pode ser
responsabilizado.

Afirmar o livre-arbítrio do ser humano é afirmar que ele é


capaz de determinar as suas vontades e agir em função
dessa determinação.

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