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A acção humana

A Ação Humana - Análise e compreensão do agir

O homem define-se pelo modo como escolhe, decide e executa as diferentes ações. Cada homem
individualiza-se neste processo. Através das ações o homem transforma a realidade, intervém no curso
dos acontecimentos, torna-se num agente de mudança. As suas ações projetam-no no futuro.
As ações denominadas humanas são as específicas do homem, as que são inerentes à sua natureza. O
homem pratica dois tipos de atos: os que são comuns a outros animais e os que só ele próprio realiza.
Os instintos nos animais determinam quase totalmente o comportamento destes, permitindo-lhes uma
resposta perfeita ao meio, constituindo uma condição imprescindível à sua sobrevivência.
No segundo (humanos), a atividade instintiva é secundarizada em favor da atividade reflexiva, especifica
dos seres humanos. Agir, no caso do homem, implica pensar antes de agir (analisar as situações, definir
objetivos, escolher as respostas mais adequadas e ponderadas as suas consequências). Por tudo isto não
podemos reduzir as ações dos homens a simples atos mecânicos. Os homens são livres de agir ou não, de
escolher um ou outro caminho. Os seus atos possuem uma dimensão moral que se fundamenta na
liberdade e na consciência da ação.
Numa dimensão moral os homens praticam também atos que embora sejam conscientes e intencionais
não deixam de ser considerados inumanos. A razão é que os mesmos não se enquadram no âmbito
daqueles que consideramos dignos de seres humanos.
Dada a diversidade das ações que o homem pratica é natural que a palavra ação tenha muitos
significados. Importa distinguir dois tipos de ações, as involuntárias e as voluntárias.
Ações involuntárias: as ações que não implicaram qualquer intenção da parte do sujeito. Coisas que
acontecem connosco, mas onde nos limitamos a ser meros recetores de efeitos que não provocamos. Há
atos que realizamos por um mero reflexo, fazemo-los sem pensar. Há outros que realizamos de forma
acidental devido a uma sucessão de causas que nos são totalmente alheias e que não controlamos.
Ações voluntárias: as ações que implicam uma intenção deliberada do sujeito de agir de determinado
modo e não de outro. Estas ações são refletidas, estudadas, premeditadas ou até projetadas a longo
prazo tendo em vista atingir determinados objetivos. Nestes casos afirmamos que temos a intenção ou o
propósito de fazer o que fazemos.
Aplica-se o termo ação apenas às que realizamos de forma consciente, dado que são as únicas que são
específicas dos seres humanos.
Ação Humana:
O conceito de ação humana, aplica-se apenas às ações que são realizadas de forma consciente e nas
quais existe uma clara intenção de produzir um dado efeito.
Fazer e Agir:
Entre estas ações intencionais, podemos as que visam "fazer" algo em concreto e o "agir".
Fazer: aplica-se às nossas ações que visam a execução ou a produção de determinados efeitos num
qualquer objeto. Trata-se de uma atividade centrada em objetos, que envolve uma série de ocorrências
distribuídas no tempo, implicando frequentemente conhecimentos prévios de natureza técnica.
Agir: aplica-se a todas a outras ações intencionais que livremente realizamos e de que somos facilmente
capazes de identificar os motivos porque fazemos o que fazemos. Nestas ações sentimo-nos diretamente
responsáveis pelas consequências dos nossos atos. Estamos implicados nas escolhas que fazemos.
Rede conceptual da Ação
Na análise da ação humana, podemos descobrir um conjunto de momentos ou fases que constituem a
sua estrutura ou rede conceptual:
- sujeito (o ator ou agente que pratica a ação)
- intenção (o que o agente da ação tem em vista atingir, o objetivo)
- motivo (a razão apresentada para justificar a ação)
- causa (a razão nem sempre evidente que motivou a ação)
- deliberação (a análise das condições da Acão, dos seus objetivos, motivos e opções).
- decisão (a manifestação de uma escolha ou opção)
- execução (a realização da opção escolhida)
- Resultados
- Consequências

Ação e Acontecimento
Os termos ação e agir designam apenas os comportamentos:
• Intencionais
• Conscientes
• Voluntários

Está excluído do conceito de ação:


• O que os animais fazem.
• Os movimentos que fazemos a dormir.
• As reações automáticas (fisiológicas ou psicológicas).

Exemplo
Constipar-se não é uma ação porque:
Constipar-se é algo que acontece a uma pessoa; não há interferência da sua vontade.

Ir voluntariamente à farmácia é uma ação porque:


Resulta de deliberação (convém ir ou não?)
Há decisão voluntária de um agente (vou!)
Há uma intenção (comprar um medicamento)
Há um motivo (estar doente).

Designa-se por ação o ato consciente, voluntário, intencional e deliberado realizado por um agente.

Rede conceptual da acção (momentos da acção)


Para haver uma ação é necessário um agente ou sujeito da ação que realize o ato em plena consciência, o
que significa que o sujeito tem que ter a perceção de que é ele o autor da ação. É também imprescindível
que realize esse ato de livre vontade, ou seja, que não seja de modo algum coagido a fazê-lo
(voluntariamente); que o faço de forma intencional, isto é, com um determinado objetivo e que esse ato
tenha sido resultante de uma deliberação, o que significa que resultou de uma reflexão ponderada, em
que foram avaliados os prós e os contras. Só assim o sujeito, ou agente, poderá ser responsabilizado pelo
seu ato.
O sujeito é dotado de livre-arbítrio ou liberdade de escolha (capacidade de opção e de decisão) e, por
esse motivo, pode sempre decidir por realizar ou não realizar essa ação.
A ação é, portanto, uma atividade que tem origem num agente que a realiza de forma consciente,
voluntária, intencional e deliberada. Só neste caso é que se pode falar em imputabilidade da ação ao
sujeito.
De salientar, que na base de toda a ação existe uma motivação, um motivo.

Determinismo e liberdade na acção humana

Condicionantes da Acção Humana

1. Condicionantes
As nossas decisões são sempre condicionadas. A existência destas condicionantes pode ser
constatada quando observamos a semelhança de certos comportamentos entre os seres
humanos e algumas espécies de animais, ou quando comparamos os indivíduos de diferentes
épocas, culturas, condições sociais, etc. As semelhanças e diferenças de comportamento que
observamos são em grande medida explicáveis pelos factores que condicionam a acção dos
indivíduos do mesmo grupo ou espécie.
Inúmeros factores de natureza biológica, histórica, social, cultural e outros que influenciam de
forma mais ou menos evidente o nosso comportamento e as nossas decisões.
2. Condicionantes Orgânicas
O corpo situa o homem na natureza como um ser fisico-biológico, sofrendo em virtude deste
facto todo o tipo de influências físicas.
Toda a acção humana é, em geral, condicionada pelos mecanismos fisiológicos do nosso sistema
nervoso, glandular, etc. O nosso organismo fornece-nos a energia psicossomática necessária
para agirmos, mas também determina a forma como agimos e reagimos aos estímulos do
mundo exterior. Estes determinismos biológicos embora não controlem totalmente o
comportamento humano, não deixam de impor certas predisposições para a acção,
nomeadamente quando se trata de acções decorrentes de motivações básicas: sobrevivência,
auto-conservação, procura do prazer ou a fuga à dor.
3. Condicionantes Culturais
Quando comparamos os seres humanos com os outros seres, aquilo que desde logo se destaca é
a sua enorme capacidade de adaptação às mais diversas situações, seja modificando o
comportamento, seja alterando o próprio meio. Nesta adaptação a enorme capacidade de
aprendizagem humana desempenha em todo o processo uma função essencial.
É característico da natureza humana a sua capacidade de integração às mais variadas
sociedades e grupos sociais, onde adopta desde nascença as suas normas, valores e
comportamentos específicos. É por esta forma que os seres humanos se diferenciam entre si,
condicionados pelos padrões culturais que encontram quando nascem.
4. Condicionantes, Determinismo e Livre-Arbítrio
Baseados na existência de uma enorme multiplicidade de factores condicionantes da acção
humana, internos e externos, alguns filósofos negaram a existência da liberdade humana (Livre-
Arbítrio).
As nossas acções, numa perspectiva determinista, seriam sempre determinadas por causas que
nos transcendem e sobre as quais não temos qualquer poder. A liberdade é pois uma ilusão. Não
sou eu que escolho, mas um conjunto de circunstâncias que escolhem por mim.
Numa perspectiva contrária, apesar de se reconhecer a múltiplas influências que condicionam as
nossas decisões, temos igualmente que admitir que o homem possui sempre alguma margem de
liberdade nas suas acções. Não podemos pois falar de actos mecânicos de resposta a estímulos,
mas de acções livres. As suas decisões implicam quase sempre escolhas entre uma
multiplicidade de opções possíveis.
As nossas decisões são indissociáveis da nossa liberdade, assim como da responsabilidade moral
ou jurídica das suas consequências.
1. Problema do Livre-Arbítrio
O problema do livre-arbítrio consiste em saber se é possível afirmar que tudo o que acontece é
resultado de uma causa e ao mesmo tempo sustentar que a ação humana é livre, isto é, não é
determinada por uma lei que a torna necessária e previsível.
O estudo das condicionantes da ação humana mostraram-nos que é possível explicar todas as
nossas ações com base em causas que são alheias à nossa vontade. O estudo da natureza mostra
também que tudo o que acontece só pode ser explicado com base numa sucessão de causa-
efeito, partindo do princípio que nada acontece ao acaso. Será o ser humano uma exceção?
2. Conceito de Liberdade
Apesar de todos os condicionamentos, continuamos a afirmar que o homem é um ser livre, pois
em última instância é sempre ele que decide agir ou não.
- Sendo livre pode decidir ajustar-se ou não às regras sociais que encontra. Pode realizar ou não
atos que constituem verdadeiras rupturas com os condicionalismos e as solicitações externas ou
internas (Liberdade de).
- Sendo livre toma decisões que têm como objectivo responder à sua necessidade de realização
pessoal, em conformidade com o seu próprio projeto de vida (liberdade para…).
Mas o que se entende por liberdade? - Designa a capacidade que todo o homem possui de atuar
segundo a sua própria decisão.
3. Pressupostos da Liberdade
A liberdade implica:
- Autonomia do sujeito face às suas condicionantes. Embora o homem esteja sempre
condicionado por factores externos e internos, para que uma acção possa ser considerada livre é
necessário que ele seja a causa dos seus atos, isto é, que tenha uma conduta livre.
- Consciência da ação. A acção humana é a manifestação de uma vontade livre e portanto
consciente dos seus atos. Este pressuposto implica que o sujeito não ignore a intenção, os
motivos e as circunstâncias, assim como as consequências da própria ação. Pressuposto que está
todavia longe de estar sempre satisfeito.
- Escolhas fundamentada em valores. A acção implica sempre a manifestação de certas
preferências, implicando o homem nessa escolha. Nem sempre, contudo, esta dimensão da
liberdade é consciente, embora seja sempre materializada na própria acção.
4. Responsabilidade
A liberdade é inseparável da responsabilidade, pois aquele que reconhece como suas
determinadas decisões tem que igualmente reconhecer e assumir as consequências e os efeitos
das mesmas.
5. Individualização
Embora o homem não seja livre de escolher o que lhe acontece, é todavia livre de responder
desta ou daquela forma ao que lhe acontece (F. Salvater).
É nestas escolhas que o homem faz que define a sua individualidade, personalidade. As opções
que tomamos ao longo da vida é que nos diferenciam. É por elas que somos julgados e avaliados
nas nossas condutas. Aquilo que somos manifesta-se portanto naquilo que fazemos.
O problema da liberdade humana, pelas implicações que tem, nomeadamente na questão da
responsabilidade, tem sido objeto de um longo debate e tem originado várias posições teóricas.
1. Determinismo Radical
Segundo a perspetiva determinista (radical) a liberdade é uma ilusão, resultante da ignorância
que temos das causas que, em cada momento, estão a determinar o nosso comportamento e
aquilo que nos acontece.
A explicação para este determinismo está no facto de fazermos parte da natureza, e nada nela
acontece ao acaso. Se admitirmos que na natureza tudo está determinado por uma série infinita
de causas e efeitos previsíveis, então temos que admitir que o mesmo acontece com os seres
humanos. As acções humanas são determinadas por causas externas ao agente, similares às
que regem a sucessão dos fenómenos naturais. A causa de uma ação está fora do controlo do
agente.
As decisões que o agente assume como suas, fazem parte de uma cadeia de causas-efeitos que o
ultrapassam e lhe são anteriores.
Esta concepção no passado era identificada com Fatalismo, crença segundo a qual a ação
humana é incapaz de influenciar o curso dos acontecimentos, nada mais nos restando do que
aceitarmos um "destino" a que ninguém pode fugir.
Esta concepção determinista adquiriu uma enorme importância com a ciência moderna (séc.
XVII), quando todo o Universo passou a ser encarado com um sistema submetido a leis
invariáveis. Várias áreas da ciência actual, como a biologia, tendem a acentuar esta visão
determinista que nega a liberdade humana.
2. Libertismo (libertarianismo)
Segundo a perspetiva libertista, o ser humano, embora seja condicionado, é uma excepção na
natureza, porque tem capacidade de determinar-se a si próprio. O passado ou as condicionantes
externas não pesam de forma esmagadora nas nossas decisões.
Na natureza podem existir múltiplas causas, mas nenhuma delas é suficiente determinante para
nos impor um único caminho, logo em última instância, o caminho que seguimos é determinado
por nós, pelas nossas escolhas (livre-arbítrio).
Esta concepção, no passado, assentava na dualidade corpo-alma. Considerava-se que o corpo
estava submetido às mesmas causas necessárias que regem os fenómenos da natureza, mas a
alma era inteiramente livre, estando acima ou fora da causalidade do mundo natural.
Atualmente apoia-se em dois argumentos fundamentais: a consciência que temos da nossa
própria liberdade e responsabilidade, e numa concepção indeterminista do universo, segundo a
qual o acaso existe na natureza, sendo impossível prever todos os fenómenos por causas
determinantes.
3. Compatibilismo (Determinismo Moderado)
Face às duas posições anteriores, surgiu uma terceira posição conciliadora. De acordo com esta
perspetiva, determinismo e liberdade são conciliáveis. As leis naturais, físicas e psíquicas
existem e traduzem-se em efeitos para o sujeito. No entanto, nós temos a capacidade
(liberdade) de controlar os efeitos resultantes de fatores externos. Em resumo: inúmeros fatores
influenciam a nossa acção, mas estes não são determinantes (constringentes), mas apenas
condicionantes. A escolha é sempre nossa.
A partir daqui podemos distinguir dois tipos de acções:
As acções livres são determinadas por fatores internos (vontade, desejos, crenças)
As acções não livres são determinadas por fatores externos ao sujeito (imposições,
obrigatoriedades legais, etc).

adaptado

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