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A Psicologia Institucional de José Bleger


1. A Psicologia Institucional;
2. A estrutura e dinâmica da instituição:
a) Indivíduo, grupo e instituição;
b) A sociabilidade por interação e a sociabilidade sincrética;
c) Grupo primário, estereotipado e secundário;
d) O conflito e o grau de maturidade institucional.

Bibliografia:
Bleger, J. Psico-Higiene e Psicologia Institucional, Porto Alegre, Editora Artes Médicas 1984.
Bleger, J. Temas de Psicologia, São Paulo, Martins Fontes, 1984.

No seu estudo a respeito da Psicologia nas Instituições, Bleger• (1984) considera como
importante três características fundamentais: a estrutura e dinâmica da Instituição; o estudo da
Psicologia Institucional e a estratégia da Psicologia Institucional. A propósito desta apresentação
abordarei os dois primeiros itens.
O termo Psicologia Institucional foi criado por Bleger e segundo ele, este ramo da Psicologia
deve recorrer ao que já foi acumulado pela Psicologia: teoria, método, técnicas. Especificamente irá
utilizar as contribuições da Psicologia Social e da Psicanálise.
Definição de Psico
Institucional para
Bleger
Por Psicologia Institucional Bleger (1984) entende um campo que “abarca um conjunto de
organismos de existência física e concreta que têm um certo grau de permanência em algum campo
ou setor específico da atividade ou vida humana, para estudar neles todos os fenômenos humanos
que se dão em relação com a estrutura , a dinâmica, funções e objetivos da Instituição”. Assim,
dada uma Instituição, o psicólogo deve centrar sua atenção no cotidiano institucional, nas relações
interpessoais que nela se tecem e no efeito nos que dela participam.
O papel do psicólogo deve ser o de investigador das relações interpessoais, ele deve
conhecer e buscar a compreensão das variáveis manifestas e latentes que determinam o
comportamento humano nessas relações. O objetivo mais geral do psicólogo no campo institucional,
Definição
de Psico-
higiene segundo Bleger, é o da psico-higiene, ou seja, conseguir a partir de sua intervenção uma melhor
organização no ambiente de trabalho e promover maior bem-estar para os integrantes da Instituição.
Significa capacitar os que nela participam a enfrentar as situações de conflitos, promovendo o


José Bleger (1922-1972) – psiquiatra e psicanalista argentino, marxista e militante comunista
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desenvolvimento dinâmico do ser humano. Prevê “o ser humano na sua saúde, integração e
plenitude” (Bleger ,1984).
Para Bleger (1984), os vínculos humanos são portadores de ambigüidades e ambivalências,
nem sempre explicitadas por estarem fora do alcance da consciência do sujeito. Os conflitos não
adequadamente elaborados num ambiente de trabalho podem ocasionar grande perda de energia e
desgaste pessoal. Requerendo a necessidade da ajuda de um profissional, cabe a este facilitar as
relações, explicitando o que está implícito, para favorecer uma maior aprendizagem e consciência.
Principais aspectos a serem
considerados pelo psicólogo para dar
consciência a resistências implícitas nas Para que o psicólogo possa enfrentar esta tarefa, alguns aspectos devem ser
relações institucionais - TOTALIDADE
observados. A Instituição deve ser considerada enquanto totalidade, nela as partes mantêm uma
relação de interdependência. Mesmo que o profissional no seu trabalho se ocupe de uma parte da
Instituição, esta deve ser reconhecida como uma unidade que, por estar em relação com o todo, o
representa. A realidade institucional deve ser compreendida e avaliada na perspectiva da totalidade.
Bleger diferencia o psicólogo que trabalha na Instituição do psicólogo institucional. O primeiro
atua como empregado, recebe ordens, sua função é preestabelecida pelos diretores. Já o psicólogo
institucional deve deduzir sua tarefa a partir de um estudo diagnóstico. Para que isto seja viável o
psicólogo deve manter, rigorosamente, o papel de consultor ou assessor, o que lhe proporcionará
um certo grau de distância, evitando a dependência econômica e profissional e o ajudará assim a
manter as condições básicas para um bom manejo técnico. É possível afirmar que o motivo em que
a Instituição se fundamenta para contratar o psicólogo, deve ser considerado como um sintoma. O
psicólogo acolherá este dado como uma primeira informação. Somente após um período de coleta
de dados, um estudo diagnóstico permitirá uma melhor configuração da queixa inicial e a elaboração
da proposta de trabalho. A queixa inicial apresentada pela Instituição geralmente é reelaborada, visto
que os reais conflitos (conteúdos latentes) ainda estão implícitos no momento em que a Instituição
busca a ajuda do profissional.
É importante ressaltar que, para Bleger (1984), somente quando a Instituição chega a um
certo nível de maturidade, que permite o insight de seus problemas e de sua situação conflituosa, é
que esta percebe a possibilidade de ajuda de um profissional. A “ausência” de conflitos e problemas
pode ser considerada geralmente um mau prognóstico, pois, para este autor, o critério de saúde de
uma Instituição é justamente sua capacidade para explicitar os problemas e utilizar recursos para
resolvê-los adequadamente. Quando a Instituição ainda não atingiu a percepção de suas reais
dificuldades, cabe ao psicólogo conduzi-la a tomar consciência de seus conflitos.

Estrutura e dinâmica da Instituição


Relação direta entre estrutura institucional e estrutura psíquica

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O termo estrutura é utilizado por Bleger para apresentar a base que sustenta a sociedade, as
organizações, as instituições, os grupos e os indivíduos. No que se refere à “estrutura psíquica” há
uma relação de interdependência entre as instâncias acima citadas.
Segundo o autor, muitas das teorias e categorias conceituais tendem a contrapor indivíduo e
grupo, grupo e organização, como se fossem realidades independentes. Ao contrário, para ele “o ser
humano antes de ser pessoa é sempre um grupo, mas não no sentido de que pertence a um grupo,
e sim que sua personalidade é grupo” “(...) A partir desta concepção, os grupos e os sistemas
sociais também constituem “partes das personalidades dos indivíduos e, às vezes, toda a
Relação intrínseca da personalidade do sujeito e do grupo
personalidade que eles possuem” (1989).
Estrutura - influenciada pelas
relações de poder Para Bleger (1984), a sociedade como um todo, na sua forma objetiva apresenta em sua
estrutura uma alienação fundamental onde o que é produzido socialmente (bens de consumo,
cultura) é distribuído de forma desigual entre seus membros. Este modelo de organização foi se
estruturando num processo histórico, possuindo um padrão de valores e funções sociais bem
definido. Esta estrutura, apesar de inadequada e insatisfatória por força da própria alienação, é
ambivalente: ao mesmo tempo que “reconhece” a inadequação, não deseja mudança e resiste. Para
tanto, a sociedade possui seus esquemas de proteção de qualquer agente que venha a perturbar a
“ordem”. Assim, aqueles que perturbam o sistema com seus comportamentos desviantes são
tratados como “sintomas” que devem ser erradicados, ou na melhor das hipóteses, “curados”, e para
isso precisam ser segregados como se não tivessem relação com a sociedade como um todo.
Na sociedade capitalista, os “grupos desviantes” são geralmente o doente, o velho, a criança em
situação de abandono, a prostituta e o marginal, ou seja os elementos não produtivos ou não
integrados nos valores do sistema. Com o propósito de curá-los, são segregados. Este recurso
defensivo cria e alimenta um forte circuito de alienação, um esvaziamento do ser humano que passa
a ser marginalizado, privado dos vínculos que garantem a segurança, a gratificação e a reparação.
Função da
instituição: manter a
ordem e "reeducar" Neste contexto surgem as instituições sociais como uma instância. Sua “grande missão” é a
quem se afasta dela.

de curar esses indivíduos, ou “reeducá-los” para que possam ser novamente integrados na
sociedade. A tarefa, assim como é proposta é impraticável, pois “curar” esses indivíduos supõe uma
revisão dos esquemas alienantes que estão presentes na sociedade que os produziu. As instituições
sociais aceitando essa “missão” mostram o caráter ingênuo e a perspectiva “onipotente” de sua
tarefa.
A partir do momento em que as instituições aceitam explicitamente que vão atender os
segregados sociais, implicitamente há uma pressão por parte da sociedade para que as instituições
a protejam da sensação de culpa que provoca o contato com o alienado. Bem como da ameaça que
o próprio alienado apresenta em termos sociais. Estas circunstâncias tornam-na impotente frente sua
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“missão”. Em decorrência disto, a Instituição potencialmente segregará tanto quanto a sociedade.
Esta contradição, quando não explicitada e equacionada, faz com que a falsa identidade da
Instituição se manifeste numa indiferenciação quanto aos objetivos, que a tornam também alienada,
obrigando-a a viver sempre sob pressão, buscando de forma quixotesca, curar o sintoma, sem atingir
Curar o sintoma neste casso: eliminar as
as causas. diferenças que explicitam a alienação do
grupo

Segundo Bleger (1984), se as instituições tomam consciência de sua tarefa de resgatar a Insight: dar
consciência
dignidade humana dos indivíduos segregados, necessariamente sua existência, por si só, será uma à alienação

fonte de denúncia para a sociedade que cria os alienados. Ao obter um insight dos problemas e
conflitos que surgem nesse contexto, a Instituição deixa de manter a sua estrutura alienada, e recusa
servir de alvo de projeção ou de depositária da personalidade sincrética da sociedade (por Personalida
de
sincrética:
personalidade sincrética, Bleger entende a parte da personalidade indiferenciada e não organizada, aonde a
alienação
atua!
que precisa ser controlada, para que a personalidade organizada possa subsistir). A mudança numa
estrutura ocorre quando há consciência nos indivíduos e grupos que a integram. Existe contudo uma
forte tendência na Instituição para manter a ordem estabelecida, impedindo o processo de
conscientização. O meio utilizado para isso é a burocratização das instituições e, conseqüentemente,
um contínuo empobrecimento das relações sociais por meio de estereótipos.
Para explicar o fenômeno social da alienação na relação do indivíduo com o grupo, e do
grupo com a Instituição, Bleger (1989) postula alguns “princípios”: Princípios para entender o fenômeno da
alienaçãopara Bleger

1) Tanto o grupo quanto o indivíduo apresentam uma estrutura básica que lhe garante uma
identidade, uma relação adequada com a realidade, uma direção, um significado e uma lógica que
permitem a comunicação e a sua sobrevivência e manutenção, enfim, um certo grau de organização
que torna a existência possível. A concepção da estruturação e organização da identidade,
conforme apresentada, supõe um processo interativo de organização da personalidade, individual e
grupal, que envolve o inconsciente com suas forças ambivalentes. Neste processo emergem dois
níveis de Ego, um sincrético e o outro organizado. São duas estruturas paradoxalmente mantidas
no indivíduo ou grupo, uma organizada e a outra caótica. Porém, é necessário que haja uma certa Definição
de
clivagem
imobilização da parte da personalidade que é sincrética, para que a parte organizada possa interagir
com a realidade. Bleger denomina o meio utilizado para essa imobilização de clivagem; esta deve
impedir que um estado entre em relação com o outro.. A imobilização do estado sincrético permite a
organização dos aspectos mais integrados da personalidade, seja individual ou grupal, necessários
para que a relação com a realidade possa ser mantida adequadamente.
2) Bleger (1987) partindo desta concepção , apresenta dois níveis de sociabilidade que
favorecem ou não a comunicação interpessoal: sociabilidade por interação e a sociabilidade
sincrética. A primeira supõe uma personalidade organizada, estruturada no tempo e no espaço e
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com energia para enfrentar as contradições e dificuldades no contato com a realidade. Este tipo de
personalidade tem habilidade para comunicar, possui grau de independência , no entanto se afilia e
coopera nas relações interpessoais. Contrapondo a esse modelo, existiria, segundo o autor, uma
segunda forma de socialização, a sincrética, que tem por característica, paradoxalmente, uma
natureza predisposta à não relação. É sub-clínica e difícil de se detectar e caracterizar
conceitualmente. As pessoas que ainda não alcançaram um certo grau de individualização procuram
sua identidade no estabelecimento simbiótico de dependência e pertença através de uma identidade
grupal. Segundo Bleger (1987): “é uma identidade muito particular e que podemos chamar de
identidade grupal sincrética (...). Sua identidade reside na sua pertença ao grupo”.
3) Bleger assinala três tipos de grupos ou três tipos de indivíduos que podem integrar
diferentes grupos ou um mesmo grupo:
a) O grupo cuja organização se dá por interação sincrética. Este grupo se caracteriza
por forte dependência entre os membros do grupo e necessidade de estabilidade,
onde a identidade pessoal será estabilizada por intermédio da estabilidade do grupo.
Há necessidade de grande investimento de energia para que o grupo seja mantido
através de regras e valores rígidos. Enquanto grupo é débil, a interação é superficial
e apresenta dificuldades de promover mudança.
b) Um segundo tipo de grupo é o que tem como participantes os considerados
neuróticos ou normais. Na medida em que estes membros alcançam um nível de
relação em que os contornos entre o eu e o tu são definidos, através do
desenvolvimento dos aspectos mais maduros da personalidade, há uma tendência
em mover-se para a sociabilidade de interação que configura um grupo ativo,
motivado na direção de concretizar os seus objetivo.
c) Um terceiro grupo corresponde àqueles que nunca tiveram uma relação simbiótica e
que também não irão estabelecê-la no grupo. Se inserem neste grupo as
personalidades psicopáticas, perversas. Neste caso, o grupo parece desempenhar
um papel muito subsidiário, quase irrelevante, com grande dificuldade de
comunicação.

Bleger (1987) ocupou-se do estudo com grupos para entender o papel destes nas
instituições. Para ele o grupo é uma Instituição complexa que tende a estabilizar-se como uma
organização com padrões fixos e próprios. Este fenômeno se fundamenta na necessidade do grupo
de manter o controle sobre a clivagem. Neste sentido, abstrai uma lei geral para as organizações e
instituições, ou seja, estas necessitam se manter por um sistema rígido de controle: a energia que o
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grupo deveria investir no objetivo inicialmente proposto e pelo qual o grupo foi criado, “corre
sempre o risco de passar a um segundo plano, passando ao primeiro plano a perpetuação da
organização como tal”. Neste caso o grupo deixa de ser processo para estabilizar-se. O que justifica
a tendência dos grupos para se burocratizarem, evitando assim a clivagem e que tende a bloquear
os níveis simbióticos ou sincréticos. Já o grupo que funciona com uma estrutura mais dinâmica pode
romper com estereótipos sem que isso provoque uma desintegração do grupo.
Outra análise feita por Bleger (1987) diz respeito à tendência à identificação do grupo com
aquilo que ele se propõe realizar. “Toda organização tende a ter a mesma estrutura que o problema
que deve enfrentar e para o qual ela foi criada”. No caso da Instituição criada como um instrumento
da sociedade para resolver o problema do segregado social, ela passa a apresentar as mesmas
características do segregado, do “doente” social. A Instituição se compromete estruturalmente com
esta clivagem social alienante, quando a sociedade deposita nela uma carga que ela mesma não
quer carregar. Sofre uma dupla pressão: por um lado tem que responder pela missão a ela confiadaClaramente
as políticas
públicas de
pela sociedade, por outro, está tão paralisada quanto a população marginalizada que a solicita, porassistência
se identificar com esta. Trata-se de um anti-processo em que a Instituição investe toda a sua
energia, já que o nível de pressão chega a níveis stressantes.
Quanto aos grupos, outros aspectos podem ser reconhecidos no âmbito institucional.
Como já foi assinalado, os grupos e as organizações tendem a assumir a organização da
personalidade de quem deles participa. Sobre esse aspecto, Bleger (1984, p. 55) escreve:

“O ser humano encontra nas distintas Instituições um suporte e um apoio, um elemento


de segurança,de identidade e de inserção social ou pertença. A partir do ponto de vista
psicológico, a Instituição forma parte de sua personalidade e na medida em que isso ocorre,
tanto como a forma em que isso se dá, configuram distintos significados e valores da
Instituição para os distintos indivíduos ou grupos que a ela pertencem. Quanto mais integrada
a personalidade, menos dependente de suporte que lhe presta uma dada Instituição; quanto
mais imatura, mais dependente é a relação com a Instituição e tanto mais difícil toda a
mudança da mesma ou toda separação dela. Desta maneira , toda Instituição não é só um
instrumento de organização, regulação e controle social, mas também e ao mesmo tempo é
um instrumento de regulação e equilíbrio da personalidade e, da mesma maneira que a
personalidade tem organizado dinamicamente suas defesas, parte destas se acham
cristalizadas nas Instituições; nas mesmas se dão os processos de reparação tanto como os
de defesa contra as ansiedades psicóticas ( no sentido que M. Klein dá a este termo)
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Na concepção de Bleger, portanto, é a Instituição que media a relação do indivíduo
com a sociedade, tornando-se um espaço concreto onde se dão as tensões e os conflitos. Por sua
vez, a dinâmica psicológica das instituições sociais reflete a própria personalidade dos indivíduos
que dela participam. Bleger (1984) vê nesta questão um grande problema, pois “a Instituição pode se
ver enormemente limitada em sua capacidade em oferecer segurança, gratificação, possibilidade de
reparação e desenvolvimento eficiente da personalidade”. Por sua vez, a estrutura alienada da
Instituição como já foi discutido, está relacionada com a mesma estrutura alienada do sistema
social de produção e distribuição de riqueza.
A estrutura psicológica que permeia a relação indivíduo-Instituição pode se tornar
esvaziada e pobre, visto que toda Instituição tende a reter e formalizar seus membros numa
contagiosa estereotipia. Quando, porém, adquire uma forma positiva, desta relação podem decorrer
mudanças satisfatórias na consciência dos indivíduos que dela participam. A intervenção do
psicólogo institucional torna-se determinante justamente para intervir na dinâmica desta relação,
fazendo de um processo estereotipado e negativo, um processo criativo. É neste sentido que deve
ser estudado o conceito de dinâmica relacionado à estrutura institucional.
A dinâmica institucional tem para Bleger (1984) um significado dialético. Neste processo
dialético o momento do conflito deve ser reconhecido e valorizado. É a partir deste que haverá a
promoção de um salto qualitativo na antiga estrutura. O conflito, portanto, precede às mudanças. Em
oposição a esse conceito, o autor utiliza o termo estereótipo para designar uma estrutura anti-
processo e resistente às mudanças.
No campo institucional, Bleger (1984) admite que o melhor “grau de dinâmica” não é
dado pela ausência de conflito, mas pela disponibilidade que os atores institucionais têm para
explicitá-lo, manejá-lo de acordo com os recursos disponíveis e resolvê-los dentro do limite
institucional. O grau em que os membros que integram a Instituição assumem e manejam os
conflitos normalmente presentes nas suas tarefas é índice de bom ou mau prognóstico para a tare fa
do psicólogo.
Bleger (1984), a partir de sua experiência e estudos, apresenta algumas características
presentes nas estruturas grupais (intra e inter-grupal) que ocorrem no espaço institucional. Estas
características devem ser conhecidas, pois nos ajudam a compreender o grau de dinâmica presente
nos grupos. Devemos esclarecer que Bleger não apresenta uma divisão estática do modo de se
estruturar e funcionar dos grupos. A categorização destes grupos tem efeito didático, pois estas
características estão em maior ou menor quantidade em toda organização e grupo.
a) Grupo primário. O grupo que se organiza de acordo com este modelo sofre
grande influência do grupo familiar. Seus participantes convivem continuamente
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em situações conflituosas e fortemente emocionais. A Instituição torna-se a
continuação de suas famílias. Os papéis desempenhados no grupo bem como o
“status” na Instituição são confusos, ambíguos, apresentando um déficit na
diferenciação. Conseqüentemente a identidade é pouco definida, favorecendo
uma intensa necessidade de pertença e dependência. A comunicação é pré-
verbal. Este tipo de grupo é considerado de tarefa débil, pois a energia que
deveria ser canalizada para atingir seus objetivos é pulverizada nos conflitos
criados e não resolvidos dentro do grupo. A estratégia neste grupo deverá ser a
de transformá-lo em grupo secundário.
b) Grupo formalizado ou estereotipado. Neste tipo de grupo, tal qual nos grupos
primários, existem ambigüidades que, no entanto, são fortemente reprimidas.
Como reação defensiva, reativante, o grupo estereotipado torna-se
extremamente formal. Para isso ele recorre à burocratização, à rigidez, ou seja,
formas estereotipadas de conduta frente à tarefa. A falta de comunicação neste
grupo compromete uma interação dinâmica e afetiva. Neste caso a estratégia é
transcender a rigidez e criar condições para aprendizagem e elaboração das
dificuldades encobertas pela interação estereotipada.
c) Grupo secundário. Está classificado como o melhor em termos de dinâmica. Os
papéis são definidos e respeitados. A comunicação é realizada
predominantemente em nível verbal e por interação. Geralmente os conflitos são
reconhecidos e enfrentados criativamente mediante recursos existentes no
próprio grupo. Os objetivos propostos são compreendidos como parte do
processo do grupo.

Para Bleger a relação do indivíduo com o grupo não é estática. É conflituosa e as causas são
tanto internas quanto presentes no meio, na sociedade. A crise entre homem e grupo gera
desestruturas para que mudanças qualitativas sejam efetivadas. Este processo dinâmico se faz
necessário para que haja alteração dos antigos padrões , implicando rupturas com os esquemas
anteriores. Uma estrutura não-dinâmica, rígida, que evita confronto, torna-se anti-processo,
estancando a aprendizagem, o desenvolvimento do ser humano, bem como da sociedade.
Sabemos que os motivos que levam o homem a evitar o dinamismo e o processo são
devidos à sua dificuldade de suportar tensões, angústias e ansiedades. Isto demanda uma estrutura
interna e externa “continente” à crise, que é vista como um momento do processo.
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Normalmente a Instituição patologiza o conflito, evitando-o. Bleger (1984), partindo de uma
concepção dinâmica da realidade, concebe “o conflito como um elemento normal e imprescindível no
desenvolvimento em qualquer manifestação humana: a patologia do conflito se relaciona, mais do
que com a existência do próprio conflito, com a ausência dos recursos necessários para resolvê -los”
.
Bleger (1984) define o conflito como uma manifestação de forças controvertidas em
interjogo. Em sua forma dilemática, no entanto, o conflito encobre tensões reais que se apresentam
sob forma de opções irreconciliáveis, deixando de estar dinamicamente em interjogo, como uma
força tentando eliminar a outra.
Os grupos formais ou estereotipados, em que os dilemas estão encobertos sob uma
suposta estabilidade, representam, na opinião de Bleger (1984), um índice de mau prognóstico ou de
uma tarefa muito árdua que o psicólogo terá que enfrentar. Nestas situações ficam encobertas muita
confusão e ambigüidade. Bleger alerta: “O fator mais perturbador e mais difícil de manejar não é o
conflito e sim a ambigüidade que age como um amortizador ou des-desenhador dos conflitos (...)
[Estes] recaem sobre objetos muito personificados individualmente ou se os tende a referir como
estritos conflitos individuais, da mesma forma quando se tende reiteradamente a resolver um conflito
com a segregação ou eliminação de um ou vários indivíduos”.
Quando uma situação dilemática for reconhecida, se faz necessário equacioná-la como
problema, tornando assim possível uma solução. Esta solução será naturalmente geradora de novos
problemas, formando assim um processo dialético. Nas instituições geralmente os conflitos não se
tornam problema, mas dilemas. Opções irreconciliáveis como forças desintegradas assumem
diversas direções, no sentido de se anularem, estagnando o desenvolvimento.
O grau de dinâmica na Instituição deverá ser um fator orientador do trabalho do
psicólogo institucional. É necessário conhecer a estrutura e o funcionamento dos grupos na
Instituição para traçar o diagnóstico e as estratégias de ação. Isto possibilitará mais um espaço para
que a Psicologia possa desenvolver seu potencial modificador no âmbito social.

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