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Aula 7

Diagnóstico institucional - Parte 1


Áreas de abrangência da Áreas das instituições:
psicologia: • saúde,
pesquisas, • educação,
• psicodiagnóstico, • Segurança pública,
• psicoterapias, • E outras instituições
• treinamento e públicas/privadas
• seleção profissional.

Psicologia institucional
e
Análise institucional
Duas abordagens norteadoras do trabalho “junto às
instituições”:

• Psicologia Institucional e
• Análise Institucional.

Seriam elas a mesma coisa? A rigor, não. Mas, na prática,


podem ser complementares

Vejamos Bleger e Lapassade ...


A PSICOLOGIA INSTITUCIONAL DE BLEGER:
UMA INTERVENÇÃO PSICANALÍTICA

O papel do psicólogo
psicólogo, como profissional, deve passar da atividade psicoterápica
(doente e cura) à da psico-higiene (população sadia e promoção da
saúde).
desenvolvendo novos instrumentos de
trabalho – conhecimentos e técnicas que
possam viabilizar a nova proposta

Trabalhar com psicologia institucional,


portanto, é trabalhar com uma
determinada abordagem psicanalítica Métodos qualitativos
específica. E, como Bleger o define, de investigação
“toma-se a instituição como um todo,
como alvo da intervenção”.
Interpretação das relações interpessoais (a qualidade dos vínculos)
compatível com hipótese de M. Klein sobre posições nas relações de objeto

Simbiose - uma forma de dependência, uma relação narcísica de objeto,


vinculada aos fenômenos de projeção e introjeção, onde cada um dos
depositários age em função dos papéis complementares do outro, e vice-
versa.

Uma estreita interdependência entre duas ou mais pessoas que se


complementam para manterem controladas, imobilizadas e, em certa
medida, satisfeitas, as necessidades das partes mais imaturas da
personalidade.

Ambiguidade -  um estado próprio da


simbiose, que envolve as tradicionais
características da co-dependencia como:
incapacidade para decidir
Os modelos da Psicologia Social, de onde saem as
reflexões sobre a Psicologia Institucional, utilizam
as seguintes categorias descritivas dos fenômenos
de grupos humanos.
• Interação
• Comunicação
• Identificação
Que estratégia geral o psicólogo deve assumir no
trabalho institucional?

“o enquadramento da tarefa”, quer dizer, a “fixação de


certas constantes dentro das quais podem-se controlar
as variáveis do fenômeno, pelo menos em certa
medida”(BLEGER, 1984, p. 35/36).

Duas constantes no enquadre do trabalho do psicólogo:


• A relação do psicólogo com a organização, no momento da
contratação,  programação e realização do trabalho
profissional;
• Os critérios que sustentam esta relação.
Estabelecidas essas duas constantes, podemos
acrescentar dois princípios que as complementam:
• Toda tarefa deve ser empreendida e
compreendida em função da totalidade da
instituição;
• O psicólogo deve considerar a diferença
entre  psicologia institucional  e o trabalho
psicológico em uma instituição.
• O trabalho de Psicologia Institucional não
deve ser desenvolvido por psicólogos em
situação de empregado da instituição, mas
sim, na de assessor ou consultor, para evitar
que a dependência econômica e profissional
interfira no manejo técnico das situações.
Início de um diagnóstico institucional
• atenção na atividade humana no espaço e
tempo em que ela tem lugar
• no efeito da mesma para aqueles que 
desenvolvem tais atividades
• Interação
• Comunicação
• Identificação
Para isso, as seguintes informações
sobre a instituição:
informações sobre a instituição
1. a finalidade e o objetivo da instituição;
2. instalações e procedimentos de trabalho;
3. situação geográfica e relações com a comunidade;
4. relações com outras instituições;
5. origem e formação;
6. a evolução, história, crescimento, mudança, flutuações,  
cultura e tradições;
7. a organização e normas que as regem;
8. o contingente humano – estratificação social e de tarefas;
9. o sistema de avaliação e recompensas.
Durante a intervenção

• Atitude Clinica – dissociação instrumental / “distanciamento ótimo”


– sintonia sem envolvimento;
• Esclarecimento da função profissional do psicólogo - tempo,
honorário, dependência /independência profissional, prazos,
resultados, exigências;
• Esclarecimento da natureza e dos limites do seu trabalho em todos
os níveis com os quais vai atuar – trabalhar com colaborações
espontâneas e observação da dinâmica;
• Esclarecimento sobre o processo de devolução das informações e
resultados e a quem será dirigido;
Durante a intervenção
• Evitar tomar partidos com relação a setores ou posições na
organização;
• Evitar contatos extra-profissionais que possam “contaminar” o
processo diagnóstico;
• Limitar-se ao assessoramento e à atividade profissional, não
assumindo nenhuma função diretora, administrativa ou executiva;
• Evitar dependência do seu trabalho, incentivando soluções do
próprio grupo;
• Evitar posturas de “onipotência” diante do grupo;
• Considerar que a saúde da organização não se deve à ausência de
conflitos, mas à sua capacidade de explicitá-los, na busca de soluções;
Durante a intervenção
• Considerar não apenas a veracidade ou graduação da informação,
mas a indução à compreensão dos seus significados (insights);
• Considerar que a resistência, implícita ou explícita e parte
fundamental e previsível do trabalho diagnóstico, sabendo que a
postura do analista poderá contribuir para vencê-la ou incrementá-
la ainda mais;
• Considerar que o manejo da informação não é, apenas, um
problema ético, mas um instrumento técnico;
• Tratar com o grupo tudo o que a ele diz respeito, nada passando para
outros setores antes de, previamente, submetido à apreciação do grupo;
Portanto, as características da Psicologia
Institucional de Bleger são as seguintes:
A função do psicólogo:
as defesas,
• assinalar, as fantasias, e
• pontuar e as ideologias do grupo
• interpretar

Para mostrar o que o grupo tem de único e


sua integração aos aspectos institucionais.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
UMA INTERVENÇÃO POLÍTICA

• abordagem sociológica e política do trabalho


institucional
• realidade de uma instituição se dá a partir de
uma inter-relação de três instâncias:
1) o grupo;
2) a organização;
3) o Estado.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
UMA INTERVENÇÃO POLÍTICA

1) o grupo
formado por sujeitos que produzem, reproduzem
os valores da instituição e que também é capaz de
reformular a instituição.

A instituição é um valor ou regra social reproduzida


no cotidiano com estatuto de verdade, que serve
como guia básico de comportamento e de padrão
ético para as pessoas em geral.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
UMA INTERVENÇÃO POLÍTICA

2) a organização
se expressa por formas materiais variadas que
compreendem desde um grande complexo
organizacional (um ministério: da Educação, da
Fazenda etc.) até um pequeno estabelecimento.

Instituição Organização
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
UMA INTERVENÇÃO POLÍTICA

3) o Estado
o conjunto de leis que rege a conduta social e
que viabiliza criação da organização e do grupo

Estado
Instituição Organização
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição


O desenvolvimento humano só adquire sentido
se pensado em relação dialética com a realidade
na qual ele se processa.

Construção política
Indivíduo Meio
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Postula uma postura integrativa da Psicologia, bem


como uma visão interdisciplinar, visto que o
fenômeno psicológico não ocorre de maneira
isolada, abstrata ou descontextualizada.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Postula uma postura integrativa da Psicologia, bem


como uma visão interdisciplinar, visto que o
fenômeno psicológico não ocorre de maneira
isolada, abstrata ou descontextualizada.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Propõe, numa visão transdisciplinar, desnaturalizar


divisões cristalizadas entre os diferentes campos
acadêmicos, promovendo conexões que expressem
as diferenças, a multiplicidade, a provisoriedade.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Desloca o foco do sujeito da aprendizagem em


desenvolvimento para os modos de subjetivação

Isto é, os processos e as maneiras de produção através dos


quais os sujeitos se efetivam no campo social (do produto –
a ideia de sujeito – para o processo – os modos de
subjetivação).
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Considera que a realidade não é algo estático, mas uma


produção incessante e dinâmica que se constrói tanto nas
relações cotidianas, como nas relações com o saber
institucionalizado – desta forma, não há um sujeito acabado,
mas um sujeito que se faz, tanto localmente quanto em suas
relações com o social global.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Propõe pensar as relações pedagógicas em suas conexões com o


real social e histórico que se efetivam no cotidiano, incluindo o
espaço escolar.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Considera que o ponto de partida para a ação educativa é a


busca de respostas a questões básicas, tais como:
O que pretendo com minha ação pedagógica?
Que tipo de sujeito e de sociedade eu quero formar?
Em que tipo de sociedade eu quero viver?
Que tipo de profissional e de sujeito eu quero ser?
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Destaca duas categorias ou objetivos desejáveis de serem


alcançados na prática pedagógica:  AUTONOMIA e CIDADANIA.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

AUTONOMIA e CIDADANIA

Com relação a essas duas acepções, pode-se considerar que: a


concepção sócio-histórica rompe com a concepção consumista
de cidadania e postula uma visão progressista de condição de
cidadão – “o sujeito no uso dos seus direitos e no direito de ter
deveres de cidadão” (Paulo Freire)
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

AUTONOMIA e CIDADANIA

É nesse contexto que se insere o movimento da Análise


Institucional, cujas bases estão nos movimentos sociais e
educacionais surgidos na década de 60, na França, e em várias
partes do mundo (no Brasil, Paulo Freire), com ênfase na
Autogestão Pedagógica.
A ANÁLISE INSTITUCIONAL DE LAPASSADE:
a psicologia da educação como entendimento

Visão dialética sujeito / instituição

Autogestão Pedagógica

1) Aprendizado de conhecimentos intelectuais que favoreçam


a elaboração de processos e estratégias autônomas e
desenvolvimento da dimensão relacional;
2) Superação da clivagem entre o político (como dimensão
específica de conscientização) e o  psicológico (como
dimensão regressiva e natural).
Entre os dois autores – Bleger e Lapassade

Em Bleger, uma fundamentação psicanalítica que propõe um


“distanciamento ótimo”, um enquadre sistemático da tarefa, a
clarificação das fantasias inconscientes, das defesas e suas
interpretações.

Em Lapassade, uma fundamentação de base política que


assume o lugar de uma intervenção de caráter local, cujo
objetivo é resgatar a cidadania e a autonomia dos grupos – “é
a ação que faz a análise”. (visão dialética, fenomenológica)
Entre os dois autores – Bleger e Lapassade

Em Bleger, o psicólogo amplia o entendimento sobre as relações


interpessoais e grupais no âmbito das instituições e das
comunidades. Para isso, certo distanciamento se faz necessário.

Em Lapassade, o psicólogo será sempre um com os outros, no


processo de pensar e executar decisões do grupo – só aí se
rompe com a ideologia da instituição .
Psicologia Institucional: a proposta de Marlene Guirado

1) Abandonar a concepção de que a Psicologia Institucional seria


uma área da psicologia, ao lado de outras como a escolar, a
organizacional, a clínica, a experimental, a comunitária.

2) Considerar a Psicologia Institucional como método, como


estratégia de pensamento, ao invés de tomá-la como mais
uma área de atuação com métodos próprios.

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