Você está na página 1de 2

“Não sei quantas almas tenho”

Não sei quantas almas tenho.


Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,


Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo


Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <<Fui eu?>>
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

1. Mostre como ao longo do poema o sujeito poético aborda a problemática da


despersonalização.
2. Interprete o sentido do verso 6.
3. Explique como a despersonalização tem como principal consequência a criação
heteronímica.
4. Classifique a relação temporal que se estabelece entre as ações expressas pelas formas
verbais “sei” (v.1) e “mudei” (v.2).
5. Identifico o valor aspectual do complexo verbal “vou lendo” (v.17).
6. Classifique as orações seguintes.
a. “Quantas almas tenho.” (v.1)
b. “Nem achei.” (v.4)
c. ”Quem tem alma” (v.6)
d. “O que segue” (v.19)
e. “Que senti.“ (v.22)
f. “Por que o escreveu." (v.24)

Você também pode gostar