Você está na página 1de 2

Diálogo Argumentativo

(conversam enquanto caminham)

Fernando: É o que lhe digo meu caro, estou cansado desta vida. Já não consigo
aguentar mais esta dor. Esta dor que faz de mim cativeiro do meu próprio
pensamento.

Álvaro: A quem o diz Fernando! Mas eu controlo-a agora com a busca de novas
sensações, apesar de ter consciência que eu não as consigo abarcar na sua
totalidade.

(sentam-se num banco de jardim, onde Álvaro lê um jornal)

Fernando: Então de que te faz isso sentir melhor? Porque não deixas que
também a ti te dominem a razão e a consciência? O sentimento e a emoção
vêm depois.

Também eu tenho o desejo de me tornar num ser conscientemente


inconsciente e de viver um sonho, “Invejo o Gato que brinca n rua, pois não
sabe a sorte que é tua.

Álvaro: O sonho é a evasão da realidade e embora também eu tenha esse


desejo, admire esta noticia olhe bem para esta maquina observe a sua força, a
velocidade, a agressividade, e o seu excesso, tal como escrevi na minha “ode
triunfal” que concentrou a matéria épica de toda esta civilização moderna,
desejo “ser composto como uma maquina” ”poder exprimir-me todo como um
motor se exprime”

Fernando: Muito moderno andas tu meu velho Álvaro, deixai-me ir buscar dois
cafezinhos para que possas continuar a contar-me essas tuas novas aspirações.

(Fernando sai e volta com os cafés )

Fernando: Conta-me lá com que vertentes mais te identifica.

Álvaro: Ainda bem que perguntas. Agora identifico-me também com esta
vertente sensacionalista, que me inspira a priorizar a sensação pois ela é a base
de tudo “Pois a melhor maneira de viajar é sentir”.

Já pensaste que essa dor de pensar que te dá pode ser derivada á tua
priorização da razão?
Fernando: Pois eu mesmo sei que é! Mas o que queres que faça é inevitável
essa minha escolha. E é mesmo por essa dor que escrevo, escrevo para “fingir
que é dor/ A dor que deveras sinto”.

Por vezes, não sei quem sou, nem o que faço aqui, mas é por isso
mesmo que sonho, é por isso que relembro a minha infância.

Álvaro: Como podes tu perder tempo com essas coisas sabendo que a vida a
qualquer momento nos ceifa. Também eu por vezes me sinto só e sem rumo
neste mundo. Estou cansado, estou cansado de viver! E sabes o que faço
quando isto acontece? Sabes? Procuro em mim os tempos felizes da infância
feliz que tivera, e que sei que já não volta, “No tempo em que era feliz e
ninguém estava morto”.

Fernando: Parece que no final de contas, trazemos os dois um peso que não nos
deixa, uma dor que mesmo que tentemos esconder sempre aparece!

Álvaro: Mas não nos consideres tão idênticos, como o estás a fazer. Através da
nossa escrita posso identificar várias diferenças. Enquanto eu escrevo em verso
livre, geralmente muito extenso, misturo níveis de língua, uso estrangeirismos e
neologismos, usufruo de muitos recursos expressivos emotivos e por vezes
usados…

Fernando: … Eu sou fiel à tradição poética lusitana, utilizo versos geralmente


curtos e predominam na minha escrita a quadra e a quintilha. Utilizo uma
linguagem simples mas muito expressiva. Tenho presentes símbolos e recursos
expressivos que me ajudam a expressar o que quero transmitir.

Álvaro: Hó Deus, olhai o por do sol. Já se faz tarde e tenho compromissos.


Desculpai-me por esta saída à pressa mas vemo-nos em breve meu caro
amigo.

(Álvaro sai apressado e o diálogo acaba)

Você também pode gostar