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"Não sei quantas almas

tenho"
Fernando Pessoa Ortónimo

Eduardo Coelho, Nº7, 12ºA


Não sei quantas almas tenho. Atento ao que sou e vejo, Por isso, alheio, vou lendo

Cada momento mudei. Torno-me eles e não eu. Como páginas, meu ser

Continuamente me estranho. Cada meu sonho ou desejo O que segue não prevendo,

Nunca me vi nem achei. É do que nasce e não meu. O que passou a esquecer.

De tanto ser, só tenho alma. Sou minha própria paisagem, Noto à margem do que li

Quem tem alma não tem calma. Assisto à minha passagem, O que julguei que senti.

Quem vê é só o que vê, Diverso, móbil e só, Releio e digo: «Fui eu?»

Quem sente não é quem é, Não sei sentir-me onde estou. Deus sabe, porque o escreveu.
Análise Formal
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei. O poema é composto por:
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei. - 3 oitavas
De tanto ser, só tenho alma. - Métrica regular (6 sílabas)
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
- Rima cruzada (Vv. 1 e 3 / 2 e 4)
- Rima emparelhada (Vv. 5 e 6)
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu. - Versos soltos (Não Rimam – Vv. 7 e 8)
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo


Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu ?”
Deus sabe, porque o escreveu.
1ª Estrofe
Não sei quantas almas tenho. Referência ao facto de não se conhecer a si
mesmo (Despersonalização)
Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem achei.

De tanto ser, só tenho alma.


Assonância
Quem tem alma não tem calma. Racionalidade do poeta

Quem vê é só o que vê, Antítese


Quem sente não é quem é, Oposição entre viver e pensar
2ª Estrofe
Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo


Despersonalização de Pessoa
É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem,


Separação da alma e do corpo
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só, Referência aos vários heterónimos,
embora que se sinta sempre solitário e
Não sei sentir-me onde estou.
sem identificar-se como um só
3ª Estrofe
Por isso, alheio, vou lendo Metáfora - O poeta afirma que a sua vida
foi racionalizada e escrita num livro (pelos
Como páginas, meu ser
heterónimos)
O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li


O poeta compara-se mais uma vez a um
O que julguei que senti. livro, no qual escreve o que pensa sentir

Releio e digo: «Fui eu?»

Deus sabe, porque o escreveu.


Conclusão
• Este poema consiste numa autoanálise do poeta;

• Nele, Fernando Pessoa apresenta-se com "várias almas" que se trata de uma
alusão aos seus diversos heterónimos e descreve o seu interior como confuso
pois é difícil encontrar-se a si mesmo;

• A ideia geral do poema é uma tentativa de Pessoa se expressar através dos


seus heterónimos, mas sentindo uma grande solidão pois perde a sua
capacidade de se identificar.

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