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esta planta tem a

particularidade de seguir a
luz do sol

O meu olhar é nítido como um girassol


II
visão - órgão que vai permitir
conhecer a realidade O meu olhar é nítido como um girassol. comparação com um girassol de forma a
mostrar a nitidez do seu olhar
Tenho o costume de andar pelas estradas carácter deambulatório
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
caracterização E o que vejo a cada momento
do olhar do
sujeito poético e
confirmação da
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
sua atitute
deambulatória E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo... sente-se renascer em cada momento

nasce a qualquer dia


comparação, Creio no Mundo como num malmequer,
realidade exterior
Porque o vejo. Mas não penso nele

apologia de observação do Porque pensar é não compreender...


mundo, recusar o pensamento
O Mundo não se fez para pensarmos nele
pensar é complicar e se distanciar do (Pensar é estar doente dos olhos) metáfora
cerne, do núcleo: do coração
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
o sujeito poético confirma a sua
filosofia de vida determinada
pela recusa do pensamento e
pelo sensacionismo,
advogando o primado das Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... recusa do pensamento abstrato
sensações
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
relação de amor com a Natureza Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama está ausente o pensamento, o
sujeito poético aceita as coisas
Nem sabe porque ama, nem o que é amar... como elas são

corrobora a sua
perceção do real,
associando o amor à
Amar é a eterna inocência, amar é não pensar
naturalidade e à
espontaneidade do sentir E a única inocência é não pensar... aceitação incondicional, sem questionação

Alberto Caeiro é um poeta que consegue submeter o pensamento ao sentir, abolir o vicio de pensar e viver apenas pelas
sensações. Alberto Caeiro consegue alcançar facilmente aquilo que para Fernando Pessoa é um desejo impossível.

ver questões da página 77 e respostas no caderno


Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia
refere a sua biografia,
realçando apenas duas
datas, o nascimento e a
morte, datas inevitáveis.
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
os restantes dias
pertencem apenas a ele Não há nada mais simples. vida minimalista, simples apenas duas datas importantes, o
nascimento e a morte
e não fazem parte de
qualquer biografia Tem só duas datas—a da minha nascença e a da minha morte.
tradicional, pois a sua
existência nada teve Entre uma e outra coisa todos os dias são meus. apenas estas datas pertencem ao mundo
haver de comum, em exterior, ao mundo que o rodeia
nada se pareceu com
uma pessoa "normal"
Sou fácil de definir.
comparação
não amou com Vi como um danado. poeta do olhar, das sensações visuais
sentimento nem se
deixou contaminar por Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
grandes ambições ou
sonhos grandiosos.
compreendeu a
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
realidade das coisas e a
diferença que existe Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
entre elas. anáfora
compreende com os Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
olhos e não com o
pensamento. limitou-se Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
a contemplar a
realidade do exterior. Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança. metáfora - simboliza a posição do sujeito
a aproximação à eufemismo poético perante a vida
inocência de uma Fechei os olhos e dormi.
criança, pois estas
sendo crianças não
sabem que vivem Além disso, fui o único poeta da Natureza.
Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
XXII
Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos, revela confusão e perturbação ao tomar
consciência de que, ao sentir a Natureza,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber quer perceber o que realmente se passa
consigo
Não sei bem como nem o quê...

espanto que o sujeito poético sente de si próprio,


ao constatar que se deixou levar pela tentação de "
Mas quem me mandou a mim querer perceber? querer perceber".
está implícita a decisão tomada pelo sujeito lírico
Quem me disse que havia que perceber? de não querer perceber.
Alberto Caeiro é o poeta da natureza, é aquele
que a vive, compreende e ama apenas através
dos sentidos.
Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
o único dever do sujeito lírico é sentir,
E de qualquer maneira que eu o sinta, e sentir de uma forma natural e
descomprometida, liberta de qualquer
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo... sedução racional.
Nem sempre sou igual

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.


Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.


Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos marca de sensacionismo

E à minha clara simplicidade de alma...


Quando Vier a Primeira

Quando vier a Primavera,


pretende transmitir a sensação de
Se eu já estiver morto, naturalidade ao pensar na morte

As flores florirão da mesma maneira


E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim. no seio da natureza a ausência de um elemento não para a
evolução contínua dos restantes

se a natureza ignora a sua


Sinto uma alegria enorme adjetivação morte é porque ele faz parte
da natureza e é aceite por
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma ela como seu constituinte

Se soubesse que amanhã morria


E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
a nossa presença não é relevante

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.


Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é. perífrase

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