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Árvore Nua

Elidiane Áquila Nascimento Silva

Eu árvore, tu flor.
Poesia sua, poesia nua,
Traços descobertos.
Caruaru, PE - 2015
Sentimentos

Quando a Saudade disse que vinha me visitar, eu quase não


acreditei, quis desmarcar, demonstrar desinteresse, mas não deu.
Ela entrou sem pedir licença e ainda trouxe uma amiga, a Tristeza,
eu nem soube reagir a ela, parecia tão íntima quando me abraçou
e me tomou por inteira, as lágrimas nem me cabiam, faltou espaço
até para pensar.
A Saudade falou que talvez não fosse ela que eu quisesse ver, e
que, às vezes a Tristeza acompanha ela nessas viagens que
costumava fazer. Falou que se eu quisesse ela poderia ficar, passar
uns dias para conversar. E agora eu estou pensando se devo
aceitar, talvez a Tristeza me ensine muito mais do que posso
esperar.
Ela já me falou que depois vem outros sentimentos nos visitar, e
que é preciso aceitar. Falou de um tal de Amor, que só visita a casa
de quem a gente deixa ficar.
Amor, do jeito que ela falou, parece até que vou me apaixonar.
...
Eu tentei escrever a primeira palavra, só vazio. Uma rima, um
poema, tudo em branco.
Tentei lembrar dos primeiros versos, mas nada me vinha a mente.
Percebi estar em um vagão, talvez fosse ou não.
Era a Solidão batendo à minha porta. De todas as coisas que eu
lembrava, não era ela quem eu esperava. Pensei que fosse uma
visita antiga, nem lembro quando foi embora, pra falar a verdade
eu nem sabia que não estava.
Pra mim estivera sempre presente, lado a lado, mas não, chegou
dizendo que isso era a Tristeza e que agora ela precisava ir. Estava
até me acostumando com ela.
O que eu aprendi com a Solidão? Aprendi a refletir e a descansar a
mente e que eu necessito mais do que qualquer outra coisa. Ela
não vai ficar, veio só me passar umas coisas que eu precisava saber.
Vou poder visitá-la porque sei onde ela mora, agora ficou tudo
mais fácil. E a Tristeza?
A Tristeza já não me pertencia mais.
...
Sabe aquele momento "the flash"? Pois é, pode chamar de Alegria.
Ela me visita muito, mas é sempre assim, pareço um circuito e ela
o carro de corrida, sei que vai passar pelo mesmo ponto várias
vezes, por isso não me preocupo tanto.
Perguntei porque ela demora tanto pra aparecer pra algumas
pessoas, me falou que não gosta muito da Tristeza, sua prima
distante, não tem nenhuma afinidade com ela. E que a tristeza vive
na casa dessas pessoas, não de visita, mas de hóspede mesmo.
"Eu sou Alegria, não sou hóspede de ninguém, já tentaram me
fazer ser, mas não conseguiram. Eu gosto de sair por aí e conhecer
todo tipo de gente, eu gosto de aparecer de surpresa. Ou quando
as pessoas chamam minha melhor amiga, a Lembrança."
Falou do tal de Amor também, que adora andar com ele, mas é
muito complexo, e ela sempre está apressada, não se preocupa
tanto com as coisas como o Amor se preocupa.
A Alegria se faz presente quando você se permite tê-la.
...
A Tristeza, a Solidão e a Alegria já me visitaram várias vezes,
menos o Amor. Elas me falaram que o Amor aparece quando você
menos espera. Daí eu "tô" menos esperando faz um tempão.
enfim

Estar só, não de espiríto


Seus piores momentos, viva-os!
Sorrir, estar só, mas não desistir
Querer, poder, mas não reagir
Não reagir é uma escolha
Sorrir, ergue-se a cada minuto
Voar, pular, voar, cair
Sofrer, sorrir, não chorar
Chorar...
Poder, ganhar, imaginar
Crer, não crer
Estar só, mas não desistir
Desistir, ganhar, saber
Escolher, agir
Amar, não querer
Querer, desistir
Estar só, enfim!
Pensar, pensar
Chorar, escrever, organizar
Perder, rasgar
Desistir, não desistir
Aceitar, sorrir
Estar só, enfim!
vida

Eu posso acreditar que não


estamos na mesma viagem
Mas parte-me o coração saber
que pode ser verdade
Desejo que você me anseie como
te anseio
Anseio sem nem ao menos saber
o quê
Eu te escrevo como se já fosse
E te espero como se tivesse
partido
Choro porque sei que você
nunca esteve
Converso como se estivesse ao
meu lado
E silencio porque sei que você
fala
Eu desenho tua alma, paciente e
clara
Te imagino assim, mesmo no
vazio.
raíz

De tudo que nasce da terra


Coisas que a gente não vê
Das flores que florescem
Sentimos na alma mesmo sem ter

O vento que arrepia


Ao tocar seus lábios nos meus
O vinho envelhecido
Até a flor que guardei

Na certeza que Deus plantou


Sementes no meu jardim
E de todas que reguei
Ele separou você pra mim

O perfume, o tocar, todas as


sensações
Tantas maneiras de achar
Que seja assim, infinito
Tão profundo quanto o mar
alma

Quando for bater a minha porta


Identifique-se
Eu tenho medo de não saber e te
perder

Quando for falar de amor


Cite-me
Eu tenho medo de não ouvir a
tua voz dizer que me ama

Quando for me abraçar


Pause-me
Eu tenho medo de recusar

E quando enfim estiver ao meu


lado
Aceite-me
Eu tenho medo de não saber
amar
rascunhos

Eu quero a flor no meu verso


Com a beleza de seus espinhos
Seu perfume doce e enjooso
na caminhada amarga e solitária

Guardei-te pra nunca esquecer-te


A pétala seca no meu livro
favorito
O caule envelhecido
Como o vinho que bebemos

Sua folha unilateral


Plantei no meu pequeno jardim
na terra que alimenta e sustenta
Pra te ter pra sempre no meu
universo, meio verso.
minha

Poesia sua, poesia nua, traços


descobertos
Meu inverso no universo meio
verso
Tudo que deixamos de falar
Tudo que não se expressa
Não faz sentido, nem se insere

Nosso mundo particular


Nossos sonhos ao avesso
Ah! isso de ser singular
O plural que nos impede
Em sonho que não realizamos
Mas que não deixamos de sonhar

E todas as sensações que nos


enchem
Sonhos e pensamentos,
transbordam
Ora um, ora outro
Até das coisas que não se sentem
A gente insiste imaginar.
poesia

Quando penso em escrever


Penso em poesia
A poesia de todas as fases
Mais fases do que uma lua pode
ter

A poesia que deixei entrar e ficar


Escrevo entrelinhas, te escrevo
Só não te permito ter
Ter de corpo

Porque de alma já éramos antes


de ser.
vai

Só não diga que não é a flor do


meu jardim
O encaixe perfeito do meu vaso
favorito
A rosa cheia de espinhos
O abrigo no meio do caminho

Nesses poemas de ir e vir


Por todos eles passei
E cada palavra rimada imaginava
você
O sorriso doce no meu olhar
amargo

Na minha falta de emoção


Mesmo quando tem espaço
Meus poemas inacabados
E toda essa ilusão

Espero que um dia me leia


E que seja a estação
Por onde escrevo e releio
de todo coração
ilusão

Que sentido que nada


Que ser da alma
No vazio se encaixa
Nos teus seios, dor e alívio

Quanta coragem se esconde


Nos teus olhos castanhos
Que sentido que nada
Que ser encontros

Na beleza da tua alma


Nos teus braços alento
Tua pele é segredo
Em todos os meus pensamentos
estrada

E no meio dessa tempestade


Ainda consigo enxergar
Na metade da estrada
Por onde você vai passar

Passei e nem deixei recado


E nas curvas do teu corpo
Não paguei passagem
Viagem só de ida

Sem parada marcada


Você só faz sentido
Nas curvas dos meus braços
sensações

O sorriso mais bonito e sem


motivo que dei
A borboleta que insiste em ficar
Meus pensamentos e devaneios
Tudo que há pra pensar

Minha poesia nua, crua


A sensação de bem querer
Tirei os óculos que me
atrapalhavam
Me permiti pra você

Falei coisas que não queria


Pensei
Por muitas vezes só pensei
Minha poesia nua, crua

Decidi viver profundo


Escolhi voar
Tua respiração profunda
Era só o que eu queria lembrar.
gozo

Estou com sede


Sem espaço pra pensar
Sem forças para pedi que pare

Subi nos teus braços


E voei
Voei alto e caí na nuvem mais
macia e delicada

Chorei porque tinha que escolher


Entre ficar e partir
Partir teu coração quando decidi
ir
arte

Meu poema é o desenho do teu


corpo
Tuas curvas meus pensamentos

As marcas meus versos preferidos


E tua respiração minha canção

E assim como meus poemas


Eu releio e me apaixono

Toda vez que olho


No teu sorriso amarelo
paixão

Nem tudo faz sentido


Meu sorriso sem motivo é uma
prova disso

Você não faz sentido


No seu mundo tudo se aplica

Como se ainda fosse uma criança


Onde todas as possibilidades são
possíveis

Inclusive te amar
caminho

Seja alguém que viaje na mesma


nave que a minha

Que esteja presente quando


escrevo meus poemas
problematizando minhas
angústias

Que curta escutar as letras das


minhas músicas favoritas

Basta ser a pessoa dos meus


sonhos

Que faça a ponta do meu lápis


para continuar escrevendo sobre
você.
abismo

Coloquei na mesa todas as


possibilidades
E em nenhuma delas você estava
Porque meu consciente não te
encontrava
Está além da minha capacidade
Existe um lindo rio negro entre
nós
No qual eu não me arriscaria
pular
Já voei por eles várias vezes
Mas não tive coragem de nadar.
você!

Você pode escrever o que quiser


Um sonho, um desejo
Você pode até me fazer um
pedido
Quem sabe três

Eu não estou querendo te provar


nada
Estou querendo te provar
Li esse poema em voz alta
Apaguei os desejos insanos

Deixei nas entrelinhas todo meu


amor
Porque eterno são nossas
lembranças
Guardadas a sete chaves no meu
inconsciente
Porque não saberíamos reagir as
possibilidades do ser
De verdade

Eu só queria ter a melhor


inspiração
Uma poesia que pudesse
descrever
Todos os meus desejos em você

Te amo, mas essa não é minha


frase favorita
Quem sabe um dia descubra
Só sei que nela estará escrito
Em versos melosos e apaixonados

Assim como me faltam palavras


Me falta ar
Ar para dizer que te imagino e te
escrevo
antes mesmo de te ter
euforia

Eu releio nossas conversas

Perco-me no tempo

Te encontro em desespero

E isso que nos aflige

Mais a mim que você

Duas lanças sem arco

Reflexo de medos

E desejos oprimidos

Tudo é desconhecido

Um ciclo infinito.
devaneios

Costumo visitar teus


pensamentos

Costumo viajar na tua mente

Perdi toda noção

Me vi na contra mão

Juntando os pedaços

Com os pés descalços

Sem entender a razão

De tudo ao contrário

Com sonhos inacabados

Voei e percebi

Que tudo que queria era te


sentir.
sonho

Sinto uma ponta de esperança


Uma luz acesa em meu coração
Como se pudesse te sentir mais
perto

Como se inconscientemente
sentisse teu cheiro
Sinto que a alegria está pronta
para entrar

Sinto o sorriso se formando em


meu rosto
Os olhos de esperança
Até esse reggae que nem
costumo ouvir

Me dizendo que falta pouco


Falta pouco pra te ter aqui.
espero

Me despi dos medos

Me achei em você

Deixei que levasse minhas folhas

No ar te encontrei

Tirei a poeira

De todos os sonhos que guardei


retifico

Pois é, eu sou assim


Estou no meio
Não sou início, nem fim
Não sou quente, nem fria
Não sou doce, nem amarga

Quantas possibilidades de ser


teria
se fosse apenas um dentre tantos?
Eu prefiro o equilíbrio
Prefiro a liberdade de ir e vir
Eu sou o meio termo

Fico em cima do muro mesmo


Certas coisas só pertencem a mim
Joguei fora todos os conceitos
Permitir viver ao avesso
Entre razões e emoções
Escolhi o meio termo.
cachoeira

Eu desistir de fugir dos meus


pensamentos

Desistir de não pensar em você

Eu gritei teu nome pela janela

Tentei te tirar de mim

Vi as flores murcharem

Vi meu coração em pedaços

Ao redor ainda podia ser

Ser sua e de mais ninguém.


possibilidade

Te dou asas
Mas você prefere caminhar

Tento ler tua mente


Te deixo ir todos os dias
Te esqueço, como quem não
quer nada

Te faço sofrer por prazer


E ainda consigo ver
Tua alma e todo teu corpo

Tudo em forma de desejo


O meu ser no teu ser.
polar

O círculo é o próprio extremo


Cheio de sentimentos
Todos os sentimentos

Às vezes o círculo fecha


e nos sufoca
Às vezes o círculo abre
e nos perde

Um ciclo sem fim

Ora preenchido de alegria


Ora preenchido de tristeza

Ser assim, meio mundo


Querer sim, mas não querer
tudo.
livro

É que ainda não vi

Ainda não senti o vento

Não senti tuas mãos

Vai ver ainda não terminou

A música aleatória

Meu filme favorito

Minha vontade de você

Ainda não passou.


infinidade

Há uma metade invisível


Que talvez até você desconheça

Feita de sonhos e de emoções


Muitas vezes desnecessárias

Você pode ser o que quiser


mas prefere o conforto de ser
comum

Olhou para dentro de si


Acostumou-se viver assim

E agora
Parece não fazer sentido mudar.
sangue

Vai devagar coração


Não quero te perder

Sinta a brisa que nos rodeia


Essas músicas não me encaixam
Não me cabem
Não me "são"

Meus pensamentos são apenas


traduções
De um simples querer.
sentimentos

Chegue como poema escrito


Como poesia cantada
Mesmo que não faça sentido
Mesmo que todos calem

Talvez você seja abrigo


Das minhas palavras amargas
Seja o sorriso omitido
Venha ao contrário

Voe se preciso
Corra quando houver espaço
Só não demore, nem insista
Que seja menos que o esperado.
nua

Sequei meus lábios nos teus


Senti vontade de ir

Joguei sonhos passados


Fingir não te sentir

Enganei-me com minhas


próprias palavras
Te vi partir

E no instante desejei
Algo que só desejei a ti

Molhar-te outra vez


Te sentir, como senti.
no escuro

A noite você é quem é


Na solidão do seu quarto
Ou no vazio do seu coração
A noite não te dá perdão

Sua alma nua


Implora por atenção
Tua consciência pura
Procura explicações

E mesmo que você não saiba


Existe uma razão
Pela qual você desperta
Repleto de conexões.
amargo

Sentir as lágrimas como chuva


forte

A pétala do bem me quer

Agora é só lembrança

Te vi ir no jogo de ímpar ou par

De tudo que já foi

Foi e sei que não voltará


passado

A solidão me ensinou a ler


mentes

Descobriu meus segredos


Juntou meus pedaços

Me viu chorar sem razão


Zombou da minha alegria

Me deu o silêncio como resposta


Gritou meu nome no escuro

Me deixou em mar aberto


Mesmo assim ainda espero

Que seja apenas mais uma


Dentre tantas ilusões.
coração

Que toda angustia que vem da alma


Torne-se amor
E que, por favor, amor
Entenda
Que tamanha fantasia em minha
mente
Não a assuste assim tão ligeiramente
Pois a amei mesmo antes de te ter
em meus braços
Mesmo que de repente pareça
loucura te amar
Entenda
Que em mar aberto
Tudo pode ser questão de enxergar
pretérito

O pingo no fundo do copo


Insiste em permanecer em círculo
Acumulando coisas de si mesmo
Na extensão do que lhe protege
Com medo do caos do lado de
fora

Pobre pingo
Não sabe
que o caos é o mar
Repleto de possibilidades

O pingo espera que um dia


Possa evaporar
Sem nada ter vivido
Porque mal nenhum lhe faz
Ficar em círculo
reticências

Vai ser mais um final


Aquele velho suave
Cansei de rimas pobres
Fiquei nas entrelinhas
Da saudade
De coisas que nunca vi
Tento não rimar
Meu coração
Com o seu
Mas ninguém conseguiria
explicar
Essa perfeita ilusão
Que é ser assim
Tão ligada
E ao mesmo tempo perdida
Nessa imensa escuridão.
sobre mim

Não sabia andar


E por vezes corri

Passei por cima das minhas


próprias palavras
Senti por não sentir

Vivi meus anseios


E como criança cai

Num instante notei


Tudo distante de mim

Agarrei meus sonhos pelas pontas


ali onde restava amor

Entre laços guardei


Todo medo que me restou

Queria pular do abismo


Sentir a vontade no ar

A liberdade gritando
E porque não pular?
fim

De verdade, foram devaneios sinceros, que hoje apenas guardo


como lembrança da minha capacidade de sentir demasiado.
No fim, os escritos eram mais sobre mim do que qualquer outra
coisa.

E agora apenas fecho como arte para além da ilusão.

Nota: Os títulos foram alterados do texto original porque não fazia sentido algum.
Árvore Nua

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