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Elidiane Áquila Nascimento Silva

SER
Os pensamentos clamam por
liberdade toda vez que fecho os
olhos.

Caruaru, PE - 2018
Por muito tempo deixei
I
As palavras falarem por mim
Escritas, assim, entre versos
Perdi sentido em ver
Os caminhos cruzados
Entre ser ou não ser
Magoei minha própria alma
Senti prazer no silêncio
Não compreendi
que meus próprios pensamentos
faziam-me sofrer
Amargurando a alma
Protegi minha essência
daquele poço escuro
que pulei sem perceber
E o que pensei ser liberdade
era cadeia
Que ainda hoje marca
de preto acinzentado
Todas as dores de ser
Ser moldado e pensado
Apenas para sobreviver.
II
Que mal tem mudar de ideia, mudar de caminho,
De colocar uma vírgula ao invés de um de um
ponto final?
Que mal tem dizer que não sabe, que não
entende?
Às vezes, a gente se descobre na bagunça do
outro mesmo,
Porque algumas pessoas são assim, e tudo bem!
Porque tem gente que é espelho, e por isso nos
enxergamos nelas.
Outras são portas que nem sempre conseguimos
abrir.
Tem também gente que é janela, essas permitem
que você espie, um pouco.
Mas essas que enxergamos a alma, chamamos de
casa,
Desses lugares seguros,
Onde amar é verbo infinito
Sente-se sem perceber.
III
Hoje o universo resolveu dar uma pausa
De todas as preocupações e anseios
Dos pensamentos que machucam e diminuem
Hoje não, agora não
Senti a plenitude de ser
O que meu coração me fez
As lágrimas
Que são as mesmas
Que são eu mesma
Assim
Frágil, tocável
O suficiente pra perceber
Que o coração bate em tom perfeito
Não é corpo
Não é crença
Não é gênero
Não é raça
Não é classe
É só alma
A suficiência
Que só o escuro do quarto pode te trazer
A Luz
Que te fez em tom maior
Guardou-te no peito
Suficiente pra ser
Ser alma
Do jeito que só você pode ser.
IV
Imaginei a vida como uma fita
E nela fiz nós e laços
Desfiz
E até cortei em pedaços
Desatei
Mas as marcas permaneceram
intactas
Mudei de cores
Acrescentei outros pedaços
Hoje em dia ainda conto
Quantos laços desatados
E nessas idas e vindas da vida
Mesmo que você desfaça
De alguma forma todos marcam
E no fim
Verás se têm mais nós ou laços.
V
O que te prende mais, além da vontade de
ficar?
Qual a tua angustia, senão o medo do
inesperado?
Mesmo sabendo de todo o porém, o que te
faz ficar parado?
Como se soubesse todas as respostas da vida
Engana-se com pensamentos
Moralmente aprendidos
E nesse paradoxo você enlouquece
Porque não sabe viver um simples querer ser
Ser humano e errar
Quantas vezes tiver que ser.
VI
Ei, não dar pra abraçar o mundo
Não dar pra segurar com as mãos
Por isso, te deram sementes
e te chamaram de caminho
Nem um pouco característico
então não entenderás a razão
A tempestade cairá sobre ti
e te fará mais que chão
Serás lar de passarinho
Por vezes, estarás partido sob o sol do sertão
Por hora, serás presente
e cada passo em teu solo
deixará marcas de vidas
Que se confundirão com as tuas
E nesse frasco pequeno
que guarda almas
Serás luz e destino
de muitos corações.
VII
Por vezes, prefiro não existir em
nenhum desses mundos
Ser alma cansada ou passarinho sem
rumo
Sentir-se menos por querer muito
Preferir o raso das coisas que nos
escolheram
Sentenciados – mortos – esquecidos
Ser mais que um mero escolhido
Talhado em batalhas mentais
Sufocado pelo prazer de querer
Pausado em mundos paralelos
Entre ser ou não ser.
VIII
Não quero deixar subentendido
toda minha dor
Não quero fingir que não existo
só porque lhe falta amor
Sangrei e sangro todos os dias
pela sensibilidade de ser
Toda força que carrego no peito
e esse mundo que levo nas mãos
Será um dia preenchido de gratidão
por todas que um dia tiveram
A pétala violada
Do jardim
Que chamamos de vida
E que infelizmente,
não cabe em todos os corações.
IX
Não lembro quantos poemas apaguei
Para agradar o mundo
De quantas palavras engoli
Pra não machucar seu ego
Das conversas que omiti
Porque não lhe cabiam
Lembro-me apenas de colocar
Cada palavra em seu lugar
Uma orquestra de palavras
A sinfonia perfeita
Mas,
As justificativas cansam, destrói-nos
Os pensamentos nos enchem
E até para os poemas
Os sinônimos acabam
E no fim, que é chegada e largada
A gente se reconstrói
E encontra sentido
Em ser
Ser mais que preto e branco
Ser a própria voz.
X
Entre o vinho e a taça, teus lábios
Implorando para ser degustado
Gosto amargo, amado
Se foste música, seria cantada
Empiezas otra vida, aunque nada se olvido
E nesse meio termo de existir
Serás fuga
E até saudade
Do vinho seco que nunca bebi

(verso da música Dos Soledades de Julieta Venegas)


XI
Fui ave sem liberdade
Fui carinho sem atenção
Fui solidão em presença
Vivi na adjacência
Do coração e da razão
Perdi-me nas entrelinhas de
poemas
Encontrei-me na esquina da vida
Fazendo a curva no passado
Em sonhos inacabados
E nem no fundo eu sabia
Que não exista a razão
Era apenas amor
Que pulsava em meu coração
XII
Nas últimas folhas de um caderno
antigo
me escondo
Meus pensamentos mais profundos
transbordam
Meu jeito confunde-se com o teu
Na tempestade que é teu mundo
eu me perdi
Até entender que mergulhei
nas profundezas do teu eu
E entre curar tuas dores
e te tirar de mim
escolhi amar teu toque
e a tua boca
Pulei no abismo
permiti amar tudo que é seu.
XIII
Madrugada a dentro em ti, poema
Em cada nota encanto, espero
É o fim de ser eternamente poeta
Que na mesma medida carrego
Todos os velhos conceitos
Ser passarinho preso no próprio
amor
Que mesmo depois de solto
ainda sente a dor
De voar em direção nenhuma.
XIV
A poeira nos olhos nos cegaram
Improvável seria, dentro de tantos lares
Que meu coração gritaria de saudade
Vivendo assim a beira do abismo
Nossas almas em colapso
Ventania em mar aberto
Mas, não sabemos ao certo
Se o que sentimos é mesmo desse
universo
XV
Não precisa entender meu silêncio
Não quero que decifre meus pensamentos
Eles serão teus sem esforço
Leia meus poemas
E verás, em poucas linhas
Entrelinhas
meus melhores risos
Pois lá não escondo os meus gostos.
XVI
Ah! A vida
Inspirações, choros e sorrisos
Vivemos no espaço
Entre sentimentos e saudades
Embora não saiba se pensas assim
Se morre de saudades
Ou prefere a solidão do teu eu
Se o silêncio te assusta
Ou te traz felicidade
Não sei se vives na imparcialidade
dos sentimentos
Se és fogo ou água
Nem sei se estais aqui
Ou reclusa na própria montanha
Esperando o fim
O fim que é chegada e largada
Um circuito sem fim.
XVII
Estou no meio do mundo
E sofro por não ser
Nem de jeito nem de outro
E poucos irão entender
Sou meu próprio mundo
Tentando sobreviver
A roteiros que não ensaie
Com script que não sei ler.
XVIII
Pensei em dizer que estava em
pedaços
Escrevi milhões de linhas
Desfiz e descalço
Por acaso ou descuido
Caí no vazio
dos teus braços.
XVIX
Sobre amores já não escrevo
Já não busco razões
As palavras me faltam em instantes
Se sobrepõem nesse vão
Vão amargo, continuado
Ser pra mim eterna solidão
Não sou morada
Sou passageira
esperando partida de qualquer estação.
XX
Canso de ouvir minha voz,
minhas dores,
de me ver no espelho,
eu caio em mim e percebo que nem
mereço
Esse lance de viver é pra poucos
àqueles que se dispõem
além do meio termo
Esse lance de viver é avesso
tenho páginas em brancos
fantasio apenas o fim
a última linha do texto.
XXI
Talvez eu sinta muito
Muito mesmo
E isso ultrapasse todos os limites
O meu, o seu
Ou não sinto nada
Nada mesmo
E isso seja um poço escuro
Mas, certamente existe um meio
Que eu não entendo
Que é vazio
profundo
inexplicável.
XXII
No silêncio ouço gritos
No futuro, daqui um instante, paz
logo após um apito, se desfaz
Passos lentos
Que até o vento dá a volta
Dessa estrada, nada mais
nem as entrelinhas nem os cantos
Acima, um céu
Mas eu não sei voar.
XXIII
O tempo nos tinha
E nos levava para onde queria
Hoje o temos e não sabemos o que
fazer
Fomos pausado pelo próprio tempo
Pois nunca o tivemos
Agora nos resta a angústia de não saber
o que fazer.
Que apenas Deus julgue minha incapacidade de amar
Pois nem mesmo eu sei onde fica esse tal de amor
O que sinto dissolve-se a cada estação
Ser de um jeito ou de outro não exclui a dor de não ser
primavera ou verão.

SER

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