Você está na página 1de 28

Não sou escritora, nunca criei nada, nada me pertence.

Quando a poesia quer, ela me usa como seu instrumento


e assim coloco as palavras no papel, na esperança de que a
arte ultrapasse os limites da linguagem.
-Maria Letícia Caetano
Não te esqueças de mim
quando o encanto morrer
e a saudade acabar,
quando você decidir
que não quer mais me ver
e nem lembrar.

Não te esqueças de mim


quando a solidão vier
para te confundir,
e o teu pensamento
não te mostrar
por onde seguir.

Não te esqueças de mim


quando um outro alguém
te preencher,
no espaço vazio
que eu sempre quis
ocupar em você.

Não te esqueças de mim,


mas te peço,
só agora,
um momento.
Nós dois sabemos
que é inevitável
não cair
no esquecimento.
Amo-te ou te amo?
de toda e qualquer forma,
seguindo ou não a norma,
não importa como chamo.

No começo, meio ou fim


de qualquer oração
é a gramática do coração
palpitando em latim.

Amo-te nas linhas dos escritos,


em cada descrição, o mesmo sentido,
o sentimento escancarado e nunca retido.

Te amo nas entrelinhas dos meus versos,


canção do meu confuso universo
que vai de encontro ao teu mundo infinito.
Em algum lugar neste universo
existe uma versão de nós dois,
onde tu ainda me visitas aos domingos
e caminhamos na praia noturna
buscando a brisa mais fria,
onde temos conversas que se misturam com risadas,
onde dançamos canções apaixonadas,
onde em um quarto escuro, ainda fazemos loucuras,
onde tu ainda me olhas com olhos de ternura
e me apego à ideia de que
em algum lugar deve existir
esta versão de mim,
esta versão de você,
esta vida que não é a nossa,
mas deveria ser.
Eu poeta, tu mar.
vai maré,
o mar é Poesia,
rimava Maria,
enquanto o mar ria
e rimos.
Perdoa se choro por lamentar pela casa
que nunca iremos decorar,
pela sala de jantar
em que nunca faremos uma refeição,
pela cama que nunca dividiremos
em um dia chuvoso de raios e trovões,
pelo teu lado da cabeceira
que não será preenchido com as tuas coisas,
pelo teu cheiro que não estará no travesseiro,
pelos banhos demorados
que não tomaremos juntos,
pelos filhos que nunca teremos,
mas que teriam os teus olhos castanhos e
amendoados,
pelo teu bom dia que nunca ouvirei ao acordar,
pelo teu beijo que acabarei esquecendo do sabor,
pelas cadeiras de balanço
que nunca iremos compartilhar daqui a 50 anos,
pela vida que nunca iremos viver,
mas que vivo sozinha em meus pensamentos.
Ainda escrevo porque
já é difícil demais ler o jornal da manhã,
falar da política e rezar pela saúde.
Porque a vida por si só,
tornou-se tão pesada
que poemas de amor
não machucam como antes.
Um dia, nossas mãos serão
como no afresco "A criação de Adão"
de Michelangelo,
tão próximas uma da outra
mas que nunca se tocam.
e nos olhávamos
como prédios vizinhos,
debaixo do Sol,
molhados de Chuva,
vendo de longe tanta gente
passeando por nossos andares,
separados por uma avenida
que deixava fora de cogitação
a ideia de dar-nos um beijo.
Sim, eu seguirei em frente
e viverei os dias ensolarados de domingo,
irei fazer novos amigos
e conhecer lugares que sempre quis,
admirar paisagens deslumbrantes
e experimentar novos sabores,
aprender algum novo hobby
e conquistar coisas que sempre desejei,
ter novas ideias, mudar de opinião
e me emocionar ouvindo Roberto,
fazer um novo desenho
e sorrir com novas piadas,
chorar com alguns erros
e conhecer um outro alguém,
porque sim, a vida continuará
mas para mim, será sem a tua presença,
apenas com a tua ausência
pulsando no meu peito.
Pelo peito corre a vida, pelo corpo tudo vai.
Em cada vaso, veia, artéria correm as águas,
tu afluente, eu principal,
rios voadores em nossas cabeças,
tempestade temporal.
Até que as águas se misturam
feito o Negro e o Solimões,
fazendo amor, gozando vida.
A vida que corre do meu peito
e desemboca no mar da tua boca.
desejo que a vida te seja suportável
enquanto tiver mais doce que amargo.
que te escrevam ternuras
quando tudo parecer desafeto.
que sempre anotem teu aniversário
nos calendários de cada ano.
que te lembres de olhar para espelhos
quando não encontrares beleza no mundo.
que chova em teus dias de inverno
e que tua pele seja dourada no verão.
que tenhas a alma leve como pluma
para que não deixes de voar.
que nunca tenhas de pedir para a vida
passar mais depressa.
que saibas atracar para que as águas violentas
não te afoguem.
que teu olhar ainda carregue o mesmo brilho
que há muito tempo perdi
e que te amem para que não sejas esquecida
mesmo quando fores apenas lembrança.
Ainda sou poesia
porque o pensamento não cala,
porque grito tão alto
que ensurdece.

Porque pergunto tanto


e duvido demais,
porque o moderado
me parece insuficiente.

Porque ainda que no inverno,


sou chama,
porque mesmo no raso,
me afogo.

Porque sempre choro


por muito pouco
e porque amo
por muito menos.

Porque recito poesia


na minha própria língua,
porque danço a canção
do meu próprio (uni)verso.
Se um dia, tiveres a infelicidade
de sentir a solidão
e o teu peito esfriar
por falta de carinho
e teus ouvidos não ouvirem
mais nenhuma palavra de amor
e nenhum abraço
te confortar
e nenhum beijo
satisfazer o teu paladar
e se por um acaso
chegares a pensar
que nunca realmente
fostes amado por uma mulher,
lembras de mim
que te eternizei na alma
como uma ferida que nunca sara,
que te transformei em poesia,
para que tu existas em corpo,
em mente, em espírito,
em arte.
Algumas dores são causadas
por palavras ditas,
mas nenhuma se compara
a das palavras omitidas
e que me fazem imaginar
se por um acaso,
ainda falas comigo em pensamento
ou se o meu nome já não existe
no teu vocabulário.

No meio da sala havia um retrato


que me encarava com agonia,
de quem era aqueles olhos
apagados pelas marcas da fotografia?
não sabia qual era a memória perdida,
se era o retrato ou eu esquecida,
até surgir uma lágrima
dos meus olhos já vermelhos,
percebi que aquele retrato
era simplesmente um espelho.

tem dia que me acho tão Deus


que queria agarrar o mundo
e brincar de onipotência
neste corpo tão limitado
que me impede de ser divindade.

tem dia que me acho tão Deus


que queria colocar alguma paz
no coração dos homens,
mesmo que o meu esteja a morrer por antecipação.

tem dia que me acho tão Deus,


mas ainda necessito de alguma fé
para não sucumbir à ideia
de me sentir tão insignificante
ao lembrar que sou tão humano.

Se sou poeta, escrevo


Durante toda a noite
Que amanheço
E de manhã sou trevo
Que talvez dê sorte
No começo

Mas com a tarde, esqueço


Só que se esqueço,
O verso lembra

Então escrevo
Mais um poema.

De gota em gota
A pia pinga,
Pinga a pia,
Sem piedade.
No plift-ploft,
Enchendo
A rima,
Que esvazia
Quando chora
De saudade.

Da minha janela avistei


Um pássaro a voar
Com tamanha velocidade
Que rabiscava o azul do céu
E desenhava as coisas
Mais lindas que meus olhos
Já viram em um dia tão cinza.

Até que com toda aquela rapidez


A pobre ave, por descuido,
Jogou-se de cabeça no espelho
Da parede de um edifício
E ali, formaram-se feridas
Que nunca permitirão
Que ela voe do mesmo jeito.

Doeu-me na alma ao ver a cena,


Lembrei que também
Fui passarinho e me atirei
Em tantos prédios espelhados,
Que perdi a habilidade
De abrir as asas e mergulhar no vento.

o aço frio e sujo do metrô me sustenta


quando minhas pernas falham pelo cansaço,
quando temo todos os olhares estranhos
e ninguém pode me socorrer,
quando tem tanta gente diferente
com a mesma vontade de chegar em casa,
porque, às vezes, a cama se torna
o local mais desejado
para se estar em uma segunda-feira.

Eu te esqueceria,
se fosse possível voltar no tempo
e apagar o nosso momento de encontro,
se a minha existência fosse extinta do mundo
como uma falha na Matrix,
onde ninguém notaria a minha ausência,
se caso fizesse a lobotomia dos anos 30
para remover do encéfalo essa patologia chamada
paixão,
se a minha pele nunca tivesse tocado a tua pele,
se meus olhos nunca tivessem encarado os teus
nos momentos de amor,
se por acaso tu fosses diferente
e eu fosse outra,
mas a vida não é assim, meu bem
e ao querer te esquecer
não faço outra coisa
que não seja lembrar,
cada vez mais.

Ter o privilégio de me recriar em


alguma nova casca
que sinta estranheza ao teu toque,
que seja limpa de marcas do teu desejo,
que não tenha perfume para teu olfato,
que seja insípida para teu paladar,
uma pele fria que não te esquente
e espinhosa que não te afague,
um corpo livre que não carregue
as tuas digitais.

Sou isso e não sei ser outra,


não posso ser uma e nem duas,
eu quero é ser nada, ter nada
quero mesmo é sentir nada.

quero ser inclassificável,


animal não pensante,
errática e indecifrável,
excêntrica, bizarra.

anômala como uma mutação


que não tem mais jeito,
quero ter sete dedos
para escrever melhor.

quero ter dois corações


para ter o receio
de morrer duas vezes.

eu quero a ciência e o divino,


quero o esotérico,
quero o mistério,
o proibido e o oculto.

eu quero tudo,
viver tudo em cada canto
do mundo,
sentir o insignificante
e o extraordinário.

assim eu me defino
e mesmo que não te agrade,
não me desculpo por isso,
não sei ser outra coisa além disso

Não sei o porquê, mas jamais te causaria a


dor
de sofrer pelas mágoas passadas
causadas por outro amor,

quero que me acompanhes


enquanto for certo e te fizer bem
e que nunca te arranhem,
as farpas que me foram dadas
por outro alguém.

É com a tinta que escorre do coração


que escrevo estes versos, na esperança
de que me aceites nesta singela dança
entre nós dois e a solidão.

Simplesmente não sei, mas vivo o dilema


desta vontade sorrateira,
de amar-te e desejar por toda a vida
ter contigo a vida inteira,
em plena sexta-feira.

encontro o amor
quando vou ao mar
e ele sempre me sorri
do mesmo jeito gostoso,
salgado e horizontal.

recebe-me com toques leves


por toda a pele
e o vento sussurra
em meu ouvido.

tudo é tão quieto


e me alegra
que exista apenas
o silêncio de nós dois.
mas o que mais amo é que o mar
nunca me faz perguntas
que não sei as respostas
e tampouco tento prendê-lo
em versos ou pensamentos.

tudo se resume ao movimento


das ondas e cabelos ao vento,
enquanto olhos e horizonte
encaram-se fixamente,
até que nossas almas estejam
completamente despidas.

Depois que te beijei


pela primeira vez,
nunca mais
amei ninguém,
nunca foi igual,
nem caso superficial
com outro alguém.
Vivo a procurar-te em algum lugar.
Algum lugar tão distante que nunca alcanço.
Algum lugar do passado que nunca lembro.
Algum lugar repleto de labirintos internos
onde sempre me perco.

E vou me esquecendo
ao procurar qualquer coisa
que me faça acreditar
que em algum lugar,
você ainda existe.

Esperando-me
em teu melhor esconderijo
para concluirmos
esta brincadeira de esconde-esconde.

Você também pode gostar