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VÉU DE

INTERPRETAÇÕES

MEIO VERSO
ELIDIANE ÁQUILA NASCIMENTO SILVA

Caruaru, PE - 2017
CAPÍTULO 1

Ainda não sei da tua dor

Desconheço teu caminhar

Sei apenas desses meios

Entre ir e ficar
CAPÍTULO 2

E nessas horas de sentir até o que


não quero
A vida passa e te mostra quão belo é
deixar que o tempo leve

Vento fresco que abriga anseio


Chuva fina que cheira saudade
E a folha seca que se desfaz no teu
diário

Nessas horas de sentir


Senti de perto
Copioso sentimento
Que não coube em nenhum verso
CAPÍTULO 3

Já ouvi tantas vezes


Já quis muito ser perdoada
Poucas vezes perdoei
E por vezes questionei
Amor não deveria doer
Mas nunca vi valer a pena caminhos
sem pedras para pular
Nunca vi amores perfeitos
Mas já vi mãos se erguerem
Já vi amores superar
Um ponto não quer dizer o final
Às vezes,
é só uma pausa para respirar.
CAPÍTULO 4

Pensei em dizer-te que estava em pedaços

Escrevi milhões de linhas

Me desfiz e descalço

Por acaso ou descuido

cai no vazio dos teus braços.


CAPÍTULO 5
Eu sou aquele rio pequeno
que se esconde na floresta
Um pingo de chuva no mar em
tempestade
Sou o cantar do pássaro no fim de tarde
Perdida em muitos instantes
Eu não sou nada
A estrela que morre
mas que ainda brilha
E morrer nem é fim, é partida
Eu sou o galho que sustenta a cabana
A linha do livro antigo com folhas secas
guardadas
Sou esses pequenos detalhes
Que faz doer a alma
Ser em parte de tudo
E não ser nada.
CAPÍTULO 6
Quando eu for falar de amor
Quero que você saiba que sim

É sobre ser vento e depois


Poder ser início ou fim

E até o que a gente nem planejou


É querer, meu bem

Que todas as luzes do mundo


Brilhem para ti

É querer, meu bem


CAPÍTULO 7
Não quero viver entre parênteses

Limitada a adjetivos

Não quero a adjacência

Nem o pouco que te restou

Talvez, eu nem queira ser a luz

Que você acha que sou


CAPÍTULO 8
Eu não sei o que pulsa em mim

Além de toda essa energia

Não sei se é bom ou ruim

Porque somos humanos


Ambíguos

a ponto de ser assim


Mas, eu não sei o que pulsa em mim
CAPÍTULO 9
Minha arte é minha alegria
Minha dor,
minha saudade

É das coisas que vivi


Das experiências guardadas

Minha arte
confunde-se
com tudo que faço

Mais que tudo


Minha arte dói por pensar em partes

E pensar demasiado é minha arte.


CAPÍTULO 10
Você tem medo de chuva
Mas nunca se molhou

Você tem medo do escuro


Mas nem os olhos fechou

Já sofreu por amor


Sem nunca ter vivido

E lágrima nenhuma fez sentido


E o imenso vazio que te preenche
Hoje é tempestade
CAPÍTULO 11
Eu quero a sensibilidade da madrugada
sobre meu rosto
e o silêncio como resposta

Prefiro as dúvidas do mundo


não certezas impostas

Quero permanecer no profundo


onde poucos me alcançam
ser apenas turista na superfície
onde muitos enganam

Quero ser sempre poesia


lida em muitos instantes.
CAPÍTULO 12
Me atrevi ser poeta

Em um mundo leigo
de sensibilidade

Que bom seria então


Não morrer de saudades

Da beleza das palavras que já me faltam


CAPÍTULO 13
De fato, eu andei pensando em nós
Sim, porque eu tenho saudade das coisas
que nem vivi
E consciência por pensar demais
Já fui a própria caverna
Sobrevivi de lágrimas e angústias
Desses momentos que parecem a
eternidade
Sem pausa
Ainda não aprendi respirar
Nem sei usar o ponto final
As palavras me torturam em resposta
É uma longa estrada
E eu nem conheço o caminho
CAPÍTULO 14
Deixei muitas coisas em suspenso
inclusive meus sentimentos

Na ânsia de ser quem não era


perdi metade de mim
e a outra metade ainda espera

Sonhos que deixei de sonhar


Pessoas que deixei passar

Porque passaram tão raso


que não deixei ficar
CAPÍTULO 15
Venho de muitas raízes

Que se desfizeram com tempo

Não são secas

São imperfeitas

É galho nu e transparente.
CAPÍTULO 16
A arte desalinha

Tira-me o contexto

E a razão que finjo ter

Perde-se em anseios
CAPÍTULO 17
Não
não "tá tudo bem"
eu não preciso sorrir hoje
não vou fingir não sentir

Porque isso apaga quem sou


não vou dissimular alegria
dizer-lhe obrigada
Pois não sou

Caminhos mal resolvidos sempre causam dor

Não justificarei meus atos


porquê, as vezes, nem sei onde estou
é dor, é raiva
e como todo sentimento
precisa ser expressado

Não deixarei subjugado


está dentro e fora
pertence-me
mas NÃO é quem sou.
CAPÍTULO 18
Qual a dificuldade de entender
que não vestimos o mesmo tamanho?

Qual a dificuldade de entender que somos


humanos?
diferentes, inclusive quando pensamos

Eu não sou minha roupa


nem o bairro que moro

Eu sou o brotar de todos os dias


eu sou vários eus

E ainda preciso justificar


minha própria existência

Por conseguir estar


Onde estou agora.
CAPÍTULO 19
Sinto ser
e vivo sendo

Minha morada é meu corpo


que sua afluente

Minhas dores tão ingênuas


meu silêncio não é ausência

Sinto tanto, tão de perto


que não lembro

Se algum dia me ensinaram a não ser


mas sigo sendo
CAPÍTULO 20
A gente é todo dia
Cada dia
E tem dia que nem é dia
É noite
Tem dia que é a vida inteira
E dia que é morte
Dias que a gente não quer viver
E dias que viveríamos para sempre
Dias que a gente não escolhe
Mas amanhã é outro dia
e depois outro
E outro
e mais outro, outro, outro
Outro, outro...
Liberté, pra quê?
Se ainda vivemos no poço.
MEIO VERSO

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