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Sumário

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Por: Rainara Pessôa

João Cabral de Melo Neto (1920-1999)


nasceu em Recife e é considerado um dos maiores poetas da
Geração de 45, assim chamada por rejeitar os “excessos do modernismo” para
elaborar uma poesia de rigor formal, construindo uma expressão poética mais
disciplinada.
Desde cedo sempre gostou de letras, pela literatura de cordel e almejava ser
crítico literário. Ícone da poesia brasileira, o talento pra escrita vem de família,
já que era primo de Manuel Bandeira e Gilberto Freyre.
Com apenas o curso secundário mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou
no funcionalismo público. Três anos depois, através de concurso, mudou-se
para o Itamarati, ocupando cargos diplomáticos e morando em várias cidades
do mundo, como Londres, Sevilha, Barcelona, Marselha, Berna, Genebra.
Apesar de ser cronologicamente um poeta da Geração de 45, o ícone João
Cabral seguiu um caminho próprio, recuperando certos traços da poesia de
Drummond e Murilo Mendes, como a poesia substantiva e a precisão dos
vocábulos, produzindo uma poesia de caráter objetivo numa linguagem sem
sentimentalismo e rompendo com a definição de “poesia profunda” utilizada
até então. Para o poeta, “a poesia não é fruto de inspiração em razão do
sentimento”, mas de transpiração: “fruto do trabalho paciente e lúcido do
poeta”.
Se aposentou da carreira diplomática em 1990. Pouco depois, começou a
sofrer com uma cegueira, fato que o levou a depressão.
João Cabral morreu em 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, com 79 anos.
O escritor foi vítima de um ataque cardíaco.
Com currículo extenso, João chegou a ser eleito em 15 de agosto de 1968
membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), e foi recebido por ninguém
mais, ninguém menos que o gigante José Américo.
De maneira racional e equilibrada, João Cabral se destacou por seu rigor
estético.

“Morte e Vida Severina” (Auto de natal pernambucano) foi, sem dúvida, a


obra que o consagrou.
Nela, o poeta mantém a tradição dos autos medievais, fazendo uso da
musicalidade, do ritmo e das redondilhas, recursos que agradam o povo. Ela
foi encenada pela primeira vez em 1966 no Teatro da PUC em São Paulo,
com música de Chico Buarque. Foi premiada no Brasil e na França e, a partir
daí, vem sendo encenada diversas vezes e até adaptada para a televisão.
Além disso, seus livros foram traduzidos para diversas línguas (alemão,
espanhol, inglês, italiano, francês e holandês) e sua obra é conhecida em
diversos países.
João Cabral é considerado pelos críticos “não apenas um dos maiores poetas
sociais, mas um renovador consistente, instigante e original da dicção poética
antes, durante e depois dele”.
Ele e Graciliano Ramos possuem o mesmo grau ético e artístico, um na
poesia, o outro na prosa, que objetiva com precisão uma prática poética
comum: deram à paisagem nordestina, com suas diferenças sociais, uma das
dimensões estéticas mais fortes, cruéis e indiscutíveis que já se conheceu.

“Escrever é estar no extremo de si mesmo” – João Cabral

Por: Rainara
Pessôa

Severino: O narrador e personagem principal, um retirante nordestino que


foge para o litoral em busca de melhores condições de vida.
Seu José, mestre carpina: Homem simples, humilde que salva a vida de
Severino, impedindo este de tomar sua própria vida.

Esse livro é uma das “leituras obrigatórias” quando se trata de literatura


brasileira. Meu pai me fez ler quando eu ainda era muito nova, mas me
lembro até hoje como me causou um choque de realidade.
A obra é, acima de tudo, uma ode ao pessimismo, aos dramas humanos e à
indiscutível capacidade de adaptação dos retirantes nordestinos.
Ouvi uma vez um nordestino que veio para São Paulo em busca de emprego
e melhores condições de vida chamar aqui de “Europa Brasileira”. Na época,
não compreendi o que ele queria dizer, mas a leitura dessa obra esclareceu
muito.
Ter consciência dessa desigualdade e situação infelizmente ainda existente no
Brasil, é essencial para acabar com esse problema. O grande problema é que
nascemos sendo mimados e acreditamos que os maiores problemas são
“escolher uma faculdade” ou “decidir minha vocação” quando outras pessoas
estão em situação de fome e completamente analfabetas e privadas de
educação básica escolar.
Sim, o acesso a escola existe no Brasil inteiro, mas isso não quer dizer que
todos usufruem desse direito, já que a maioria abandona a escola para ajudar
os pais na garantia do básico para comer.
João Cabral, estava ciente dessa situação e necessidade quando escreveu sua
obra.
Escrita em peça de teatro em forma de versos, esse poema dramático se passa
em Pernambuco, na Caatinga por volta do século XX.
Uma característica própria do autor na obra, é apagar o sentimentalismo tão
presente na poesia, e escrever de forma racional, realista. Ele também
realizava críticas sociais não planetárias, sem ligação nenhuma ao Marxismo.
Logo no início da obra, já é possível notar a falta de individualismo e de
identidade pessoal do personagem. Ele se descreve como alguém comum, um
Severino como outros, filhos de tantas Marias. Mesmo biotipo, cabeça grande
e pernas finas, mesmo nome, mesmo ventre crescido, mesma morte e mesma
vida, a “Morte e Vida Severina”.
Uma coisa interessante sobre a obra, é que o nome dela é “Morte e Vida
Severina”, e não Vida e Morte Severina, isso porque das 18 cenas, nas
primeiras 12 vemos Severino fugindo da morte, e nas 6 restantes a aceitação a
vida.
Na cena 6, Severino se encontra com uma rezadeira que afirma que o único
ofício realmente profícuo são os ofícios da morte.
Uma das cenas mais chocantes e bem feitas da obra, se encontra na cena 8 que
é o velório de um lavrador severino, que luta a vida toda pra conseguir um
pedaço de terra e o único pedaço que ganha, mesmo sem ter ele mesmo
conseguido, foi o pedaço de terra onde foi enterrado.
Na adaptação, essa cena foi musicalizada por Chico Buarque, e é impossível
não se arrepiar ouvindo. “É a parte que te cabe neste latifúndio”.
Na cena 9 Severino descobre que até na morte, ele encontrará distinção dos
ricos. E que ele está condenado a ter a miserável morte severina.
Então ele desiste de fugir da morte, e acaba cogitando se afogar. Mas então ele
conversa com seu José Carpina, que o convence que a vida mesmo sendo
uma vida severina a vida vale a pena porque existe esperança.
Severino acaba se tornando pela obra, uma característica, e não um nome
próprio. É usado para descrever homens sem identidade, sem esperança e
com a vida difícil e condenada.
É uma obra emocionante, extremamente forte por conta de sua temática
social e de leitura obrigatória a qualquer amante da cultura e literatura
brasileira.

Por: Rainara Pessôa


"E se somos Severinos iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual, mesma morte severina: que é a
morte de que se morre de velhice antes dos trinta, de
emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia (de
fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em
qualquer idade, e até gente não nascida)."
Por: Rainara Pessôa

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