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"Sobre o nada, eu tenho profundidades"
(Manoel de Barros)
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Apresentação
4
Desde então, iniciou-se uma busca angustiante e inspiradora
pela tão almejada iluminação espiritual. Mas a busca não me livrou de
nenhum de meus problemas, e creio ainda que gerou alguns outros,
mais profundos, mas isso é só uma interpretação intelectual do
passado, o que não tem veracidade nenhuma, na minha opinião.
No entanto, a busca me colocou em contato com centenas de
leituras, de livros ditos sagrados e outros seculares, vídeos de
mestres e professores ditos iluminados, e com práticas meditativas,
que a meu ver, aparentemente ajudaram muito mais que qualquer
forma de conhecimento intelectual.
Após 4 anos e meio de estabilidade mental (sem crises
psicóticas), e a partir de março de 2021 para cá, eu me encontrei em
um processo de “terra arrasada”, que a minha psicóloga denominou
“niilismo”, mas no sentido bom do termo, após entrar em contato
com a mensagem do não dualismo radical através dos vídeos de
Guilherme Aranha Coelho, Tony Parsons e Jim Newman. Então, por
alguma razão desconhecida, o ímpeto pela busca foi desaparecendo,
e, apesar de nada ter mudado em minha vida cotidiana, quase tudo
mudou em mim; minha mente, minha perspectiva, minhas relações, e
eu me vi sentindo uma sensação de satisfação consistente e serena,
que me acompanha diariamente, que eu não me recordo de já ter
sentido antes.
Esses textos, portanto, representam minha tentativa de
descrever minhas experiências dos últimos meses.
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Prefácio
6
“coisa” ao certo, mas é o “propósito” principal a que tenho devotado a
minha vida. Em outras palavras, não consigo controlar o que é
escrito, e a repetição de algumas palavras e conceitos é impossível de
ser evitada. Isso pode parecer tornar o trabalho enfadonho, mas
acredito que voltar sempre ao mesmo lugar pode ser proveitoso ao
leitor mais interessado, pois esta obra não é um livro de poesia
comum, é, sobretudo, sobre um chamado do coração para o
reconhecimento da liberdade que tudo é.
Um hábito que se desenvolveu a partir de agosto de 2021, que
é registrar a data e o horário antes de escrever cada texto, por menor
que ele fosse, e curiosamente adquirido sem ter o conhecimento
prévio de alguma eventual funcionalidade, proporcionou que se
pudesse organizar os textos da maneira descrita acima, o que, como
eu já enfatizei, vai trazer ao leitor externo a possibilidade de
compreender muitas coisas sobre o processo de criação deles.
Outra particularidade desta obra, que é uma sugestão que eu
não sei se já foi utilizada em alguma outra, foi deixar todos os textos
sem título, assumindo que a data e o horário de registro deles lhes
proporcionasse alguma identidade. Na prática, quando se tornar
necessário nomear um texto, ao invés de dizermos: eu li o poema
“Histórias de incongruência” do livro “Memórias perdidas” e gostei
muito; podemos dizer: eu li o poema 12/11/21 - 12:12 do livro “Inefável
Coração” e detestei muito”.
Quanto à conceitualização mais apurada da natureza dos
textos, ou dos temas que eles abordam, vou me abster num primeiro
momento, e torcer para que terceiros bem-aventurados se
disponham ao trabalho.
Obrigado até aqui. Tenha uma leitura muito serena.
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Isso tudo, aquilo, e até isso,
É simplesmente a vida vivendo a vida
(22/11/21 - 0:53)
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Aventuras da manhã
(23 a 26 de novembro de 2021)
9
26/11/21
7:12
7:15
Eu quis encontrar
Muito eu busquei
Do que eu já sou
Nunca me afastei
8:24
10
8:38
8:48
11
9:04
10:28
10:59
11:04
12
11:21
Sou amor
Sou terror
Só não sou mais
Meu próprio enganador
11:24
11:26
De infantilidade
Em infantilidade
Vou amadurecendo
Em plena idade
11:29
11:36
Poesia!
A indescritível imagem
De um coração selvagem
13
25/11/21
6:35
14
6:54
11:26
15
11:31
No mundo eu sou um
No coração eu sou nenhum
Na mente: multidões
De dia eu durmo
À noite eu labuto
Nas madrugadas: fal(flor)eço
12:02
16
24/11/21
07:03
17
8:09
8:31
18
9:19
9:26
19
11:35
16:01
20
23/11/21
9:15
9:21
Eu me consumo
Eu me atraio
E depois traio
O meu resumo
Eu me contraio
Eu me expando
Lá fora eu entro
Aqui eu saio
21
9:32
22
9:45
23
12:14
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O eu, a mente e o imo
(18 a 22 de novembro de 2021)
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22/11/21
0:58
1:06
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1:12
1:20
1:32
27
1:40
1:52
O personagem sou eu
Foi de mim que ele saiu
Mas eu não sou só um personagem
Eu não sou só personagem
Antes do que eu era,
Eu já sou
8:07
28
8:19
8:34
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21/11/21
7:38
8:42
9:55
30
9:57
10:06
10:39
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20/11/21
9:36
9:53
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10:14
10:27
33
11:14
11:20
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21:10
19/11/21
6:54
8:44
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8:49
18/11/21
8:41
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8:53
9:02
9:13
37
9:42
9:47
10:01
19:27
De certa forma
Após décadas de busca
Eu sinto que cheguei num lugar,
Num tipo de definição,
Que não define nada,
Que mais ou menos só define que nada tem uma definição,
Existencialmente
Então só resta a vida cotidiana
O fazer diário
Ganhar um pouco de dinheiro
Cuidar da família e da saúde
Fluir naturalmente
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A desculpa da poesia
(14 a 17 de novembro de 2021)
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17/11/21
8:55
9:44
40
9:54
11:00
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16/11/21
9:46
9:53
Não se engane
Não tem poeta
Não tem poesia
Não tem nada garantido
Não tem nada confiável
É só vazio
Aparecendo como texto
Como mundo
Como paz e agonia
10:04
42
10:14
10:45
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15/11/21
21:01
14/11/21
21:32
Morrer de ver
O sutil do sutil
Despressurização do crânio
Corpo em berço tenro
Brisa,
Ondulações suaves no espelho
Música silenciosa
Profundidade
No espaço branco, brando
Infinito
21:45
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21:47
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Entre ser e sentir
(9 a 13 de novembro de 2021)
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13/11/21
19:03
20:09
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21:40
12/11/21
8:40
É tanto doer
Um doer de faltar
Que vem do se agarrar
Às riquezas e sonhos
Quanto mais se possui
Mais necessidade se tem
8:45
Visitando o porão
Do meu palácio íntimo
Dia após dia,
Venho desentulhando certezas
Velharias herdadas
Fotos e livros
Cartas, jornais
Todo acúmulo das gerações de ideação
Tradições enferrujadas
Sistemas falidos
Aparelhos desconexos
É tanto limpar, tirar do lugar
Que às vezes me dói na amargura
Estranho, que para sentir-me
Precise tanto trabalhar
E para aliviar-me
Precise me desmontar
48
9:18
Um certo eu sofre
Pois entende
Pensa nas coisas
Enquanto coisas
Tem ideias, acredita
E sempre se ilude
Aprende com mestres
E tenta
Tenta
Mas nunca percebe
Louco!
Um certo eu compra
As leis desse mundo
E é tanto saber
Que se confunde todo
Tolo!
Um certo eu mede
Calcula os tempos
Percorre distâncias
E cria para si
O seu próprio casulo
Dele não sai
Pois não pode soltar
Sua mais preciosa
Maneira de olhar
Cego!
Um certo eu dorme
E sonhando se engana
Fazendo de si
Um alguém que é real
Irreal!
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11/11/21
8:28
9:14
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9:26
9:36
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10/11/21
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8:47
8:55
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9:29
9:40
9:58
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10:04
10:22
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09/11/21
8:03
Descobri que minha dor vem da falta de algo que eu nunca perdi
O que eu perco mesmo, quase sempre, é o meu juízo
Por deixar de cuidar do coração
Para me dedicar ao mundo
Não que eu não possa me dedicar a ele
Deixa-me tentar explicar:
É que achar que o mundo é real
É algo que me contrai
Pois nem real nem irreal ele é
E digo mais
Ele é real e irreal
Tão qual o eu
Tão qualquer objeto
Por isso eu morro todo dia
Para perder todos os rumos
E me perder ao me encontrar
8:24
56
8:56
É tão belo quando eu faço alguma coisa, e percebo que não sei por
que o faço
Que não sei ao certo o que estou fazendo
Que não sei de onde vem o ímpeto
Que não sei o que virá depois
Quem não sei qual é o propósito
Que não sei se existe algum
Que não sei nem mesmo quem eu sou
Que não sei se esse que não sabe é real, irreal, nenhum dos dois, ou
os dois juntos
11:25
11:42
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12:00
É tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Tão bonito
Que eu nem ligo
12:04
É um soltar
Não sei
É um ser solto
Não
É um ser liberto
Não
É um ser tomado por algo
Não
É um respirar
Não
É um deixar fluir
Não
É um observar passivo
Não
É um testemunhar sem olhos
Não
É um tocar o céu
Não
É um tornar-se o céu
Não
É um o quê
Não
É o não
Não
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12:11
12:30
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19:02
19:21
19:42
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Clarezas cintilantes
(3 a 8 de novembro de 2021)
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08/11/21
8:26
8:52
Dá um pouco de vertigem
E às vezes até temo me despedaçar
Mas é só o balanço das ondas
Que me impelem a espremer em versos
Incógnitas sensações de um coração selvagem
9:11
Devagarinho
Tento ir desembramando o meu entender
Passa o fio, puxa o fio
Estica e solta
Mas nunca chego ao final
Talvez eu tenha que andar bolado
E aceitar que os significados são mesmo vãos
Desistir de todos os sentidos
Pode ser minha redenção
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9:20
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9:42
É uma luta,
É um grande sofrimento
Menos para os inocentes
Para os bobos e ignorantes
Que não sabem calcular
Que não sabem simular
Que não querem nada com nada
Só vão vivendo
Só vão deixando-se escoar
Só vão esvaziando-se
Tiram sarro do que é sério
Dão risadas fora de hora
São tão bobos
Que acreditam no nada
Se esquecem do passado
Não preparam um futuro
Vão remando suas canoas
Entoando canções de amor
Que bocós
Que inúteis
Tenho ódio
Pois a mim cabe cuidar e labutar
A mim cabe encontrar a solução
Mas essas bestas
Só se deitam em suas redes
E o máximo que dão
São coisas que não valem nada
Quando foi
Que a poesia serviu pra alguma coisa?
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10:02
10:17
07/11/21
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7:18
7:29
7:35
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8:12
Se eu te amasse realmente
Se eu fosse totalmente compassivo
Eu seria brutalmente honesto contigo
Eu te destruiria
8:14
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06/11/21
7:13
7:40
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7:59
Eu te odeio
Mas também te amo
Às vezes penso no quanto eu seria feliz se você desaparecesse
Mas a verdade é que essa felicidade é um delírio
Com você, ao menos tenho uma companhia, uma relação sincera
Não sei se quero te aniquilar de súbito, ou te amar até matar-te de
prazer
Mas sei que a sua presença me confunde
Talvez todo esse jogo seja só pra eu aprender mais sobre a liberdade
Pois se eu te aceito, não há motivos para a minha dor
O problema mesmo é que eu te responsabilizo
Por algo que a minha própria interpretação me causa
Que é um ódio desmedido
Uma curiosidade visceral
E um desejo descomunal
08:20
71
E seu destino será a dor
(...)
O preço de tentar controlar o que lhe é natural
É ter a vida malograda
Decair em maldição
10:10
Eu já fui o nada-todo
Decidi me conhecer mais a fundo
Criei os universos para experimentar o que não sou
A fim de reconhecer quem sou
Tornei-me aventureiro de mim mesmo
Fui o herói
Fui o algoz
Fui a princesa da torre
Fui o escravo e fui senhor
Fui faraó
Fui o esquecido
Fui miserável
Fui o escolhido
Mas se há ainda algo que eu nunca fui
Vou continuar jogando
Até o infinito se esgotar
Até o supremo se curvar
Até o absoluto se tornar
Um meio, um início e um fim
18:13
72
05/11/21
6:56
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04/11/21
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03/11/21
1:17
Eu te confesso
Com toda a minha dor exposta
Que sou culpado de morte dolosa
Eu matei deus
O matei por inveja e por ciúmes
E agora tudo o que queria
Era voltar ao seu seio
Era beijar as suas vestes
Era adornar o seu salão
Era entrar em sua presença
E pedir o seu perdão
Mas aqui, nesse lugar de expiação
Só tenho a mim mesmo
Minha pena é me encarar face a face
E ser julgado a todo tempo
Escutar a minha sentença
Buscar alívio nas paredes geladas de minha própria prisão interior
Não posso ter o conforto da ilusão
Não posso nem acreditar
Não posso sonhar
Essa é a minha aflição
Esse é o meu estado de ser
Como escapar ao meu karma
Se o meu carrasco sou eu?
1:36
Eu me encontrei sofrendo
Dei um passo atrás e vi a dor
Deu outro passo atrás e vi o vedor
Dei outro passo atrás e vi o olhar
Dei outro passo atrás e nada vi
E já não havia mais ninguém para dar passo algum
E já não havia nem frente e nem trás
E já não havia dor
Apesar do sofrimento
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1:42
1:50
Eu te escuto
E te escutando escuto a mim
Mesmo que às vezes te refute em minha mente
Na conclusão eu vejo o tanto que aprendi
O que dizer
Das ligações de três horas e meia
Que a gente entra num espaço
Que a maioria não permeia
E o que esperar
Dessas coloquiais aventuras
Imprevisivelmente mudam
Todo o percurso da ventura
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10:08
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Kamehameha
(30 de outubro a 02 de novembro de 2021)
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02/11/21
07:25
errai,
errai á vontade
sem errar não se liberta a felicidade
errai com liberdade,
tu tens crédito infinito,
fracassai e aprendei sem medo,
8:43
9:19
9:23
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13:10
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Do sem lugar
Surgem palavras sem significados
Que expressam o impossível
Nunca consigo dar conta delas
Elas é que me encerram
Me desiludem
Me desaparecem
Eu nunca sei quem é esse que pensa
Nunca sei quem é que tá vivendo
Um alguém que está mais para ninguém
O absurdo reina supremo em meu ser
Ou o meu ser rendeu-se ao mais profundo desencanto
Que delícia!
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01.11.21
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18:20
18:28
Nada é possível
O que ocorre é milagre
Tudo o que se nota é o manifestar do impossível
Tão absurdo
Tão absoluto
Tão intocável
O que resta de nossa vaidade se formos honestos diante do espelho?
18:38
18:50
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18:53
20:20
Um nada
Absoluto nada
Não que eu o tenha encontrado
Simplesmente não há nada a encontrar
Não que eu o tenha descoberto
Só descobri a mim mesmo
Não que eu entenda alguma coisa
Mas isso é tão óbvio agora
Às vezes ainda me esqueço de esquecer
E me pego pensando que sou eu quem penso
Mas tanto nisso quanto naquilo
Uma ausência incomparável está mais que presente
Sem nenhuma espécie de conclusão
Sorrateiramente estrondosa
Delicadamente avassaladora
Amorosamente desmanteladora
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31/10/21
10:50
30/10/21
14:23
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14:46
Da perspectiva do pensamento
O Inefável está sempre subindo
Indefinidamente se elevando
No entanto, ele nem precisa se mover
E nem teria para onde ir
Pois todos os lugares habitam nele mesmo
Mas é que o pensamento está sempre caindo
Na medida em que nasce, desce
E todo o universo conhecido desce com ele, pois é todo conceito
Portanto não caia
Tampouco se eleve
Fique sempre onde está
14:59
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15:06
30/10/21
9:47
10:03
10:22
Me perdi de mim
Comecei a procurar por aquele que escuta os meus pensamentos e
não encontrei ninguém
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10:47
10:56
Ninguém escreve
Ninguém lê
Ninguém aparece,
Pra ninguém
Ninguém vê
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11:29
11:32
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Eu sou um pecador
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11:47
11:50
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Insuficientes palavras
(26 a 29 de outubro de 2021)
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29/10/21
07:38
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28/10/21
19:38
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27/10/21
7:42
8:32
Isso
Que ninguém pode conhecer, nomear ou agarrar,
É o meu abrigo
É o meu lar celeste
É o meu descanso
É o meu alimento
É a minha cura
É a minha paz, para muito além da paz
É o nada no qual tudo o mais se dissolve em pura plenitude e regozijo
(…)
Descobri que habitar um mundo de conhecimento nos torna
escravos dos nomes, formas e conceitos
Somente quando deixo tudo para trás e me permito não saber, não
conhecer, não entender, sinto minha alma respirar o ar puro do amor
incondicional
Nada pode ser mais revigorante que ser, saber e fazer nada
100
26/10/21
8:52
Quando eu percebo que tudo está bem, apesar de muitas coisas não
estarem do jeito que eu gostaria, eu sinto algo que não posso
descrever
É como se eu estivesse sentindo um aroma de alguma erva queimada,
que eu não consigo identificar.
Lembra maconha, mas não é
Também lembra um pouco aquela fumaça que o coroinha balança na
missa, mas não é
Até lembra quando o vizinho carpiu o quintal e queimou o mato por
preguiça de lidar…
É um tipo de sentimento sem nome nem forma, que até pode
lembrar-me de outros, mas não é
09:39
Sabe quando você come muita, muita coisa, ou bebe muito, muito
álcool, e não se sente bem enquanto não vomitar e esvaziar todo o
seu estômago?
Então, é assim que eu me sinto antes de escrever ou compor
Se eu não me deixar sair de mim, eu me sufocarei, me asfixiando, me
torturando…
Então não posso me gabar pelo que produzi
Eu não fiz nada, só deixei sair o que estava me matando
10:16
101
10:17
10:28
102
Isso
(19 a 26 de outubro de 2021)
103
26/10/21
9:25
Isso
Às vezes parece um caos
Uma confusão
Uma guerra
Uma imensa dor
Mas ainda é isso
E nada pode ser feito
A não ser conscientizar-se
Sem que necessariamente exista alguém que se conscientize
Não é que você perceba
Mas a percepção é
Num não lugar
Num não tempo
E tudo passa
Mas isso não pode passar
Pois é nada
Que aparece como tudo
Aparentemente
24/10/21
7:57
Isso
Quando se torna algo
Deixa de ser isso
Quando é buscado
É perdido
Quando é lembrado
Morre
Quando é pensado
É deturpado
Quando é falado
Confunde
Quando é visto
Desaparece
104
23/10/21
23h
Isso
Que nunca deixou de ser
Nunca tinha acontecido
Isso
Que é aqui
Não pode estar em nenhum lugar
Isso
Que eu tanto amo
Nunca pude conhecer
Isso
Que é isso
Não pode ser nada
20:02
105
20/10/21
8:11
Um regato murmurante
Lamuriando um sentir suave
Deságua morro abaixo
Em palavras insignificantes
Nada para entender agora
Apenas escorrer sem causa
Ser a vida sem destino
Sem esperas nem objetivos
Que tal dizer coisas sem sentidos?
Aquilo que faz eles torcerem o nariz
Os libertaria
Os salvaria
Mas eles gostam tanto de suas jaulas
Que nem conseguem perceber
Que a porta sempre esteve aberta
Vivem para reclamar alívio
E não podem compreender
Que já são tudo o que buscam
8:36
8:38
8:41
8:45
106
8:57
19/10/21
7:48
107
8:06
108
Confissões
(07 a 18 de outubro de 2021)
109
18/10/21
07:47
Às vezes
O vento sopra forte aqui em cima
Perco o controle, o norte, a vista
Tenho a impressão de estar sendo esmagado
por um sentimento imperioso
Tento destilar palavras
que me façam voltar a respirar
Mas não são elas quem me dão oxigênio
É a criação de ideias
É parir no mundo
novas percepções sobre o desconhecido
08:31
110
16/10/21
07:58
Eu sou um rio
Um rio selvagem
Um rio que arrebenta qualquer represa
Um rio que às vezes corre tranquilo e sereno
Noutras vezes desce em corredeiras caudalosas
E noutras, ainda, se desaba em cascatas
Ninguém jamais conteve o rio
Nem mesmo ele conseguiu
Suas águas são sentimentos
Sentimentos inexplicáveis
Sentimentos inomináveis
Sentimentos inexprimíveis
Sentimentos incalculáveis
Sentimentos incontroláveis
Sentimentos infinitos
Sentimentos…
14/10/21
08:21
111
08:36
08:42
08:53
09:01
09:13
09:21
09:30
O sofrimento me violenta?
Ou eu violento o sofrimento?
09:48
Antes de eu perceber
Antes de existir o eu
Já é
112
10:12
11/10/21
08:19
08:44
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07/10/21
09:11
114
Esses conterrâneos
(28 de setembro a 05 de outubro de 2021)
115
5/10/21
10:02
Você diz que não entende, como se fosse uma vítima da ocasião
Mas a verdade é que você tem medo de entender
Tem medo de encarar o teu próprio poder
Não pretende aceitar que ele seja infinito
Mas ele é
Você é
Só não consegue enxergar
Nem perceber que está tapando a sua vista com as próprias mãos
Fechou os seus ouvidos para não ouvir a suprema voz do coração
E agora reclama paz e alegria
Quem poderia te ajudar?
Se você mesmo se esconde
Se cala
Se condena a uma prisão escura
Apagando a tua própria luz
Bem-aventurados os loucos
São bem mais livres que você
11:12
aquilo que é
tudo aquilo
tudo isso
também não é
está sobreposto
ou
são infinitas possibilidades superpostas
todas as dimensões
são a não dimensão
116
11:29
Só glorifica,
Você é tão servo,
Mas tão servo
Que é totalmente livre
01/10/21
08: 07
08:22
117
28/09/21
08:23
08:46
09:02
118
Cortina de voil
(03 a 25 de setembro de 2021)
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25/09/21
09:24
9:43
10:11
10: 25
Espelho, espelho meu, neste universo, existe alguém que sinta tanto
quanto eu?
10:44
11:11
11:23
120
22/09/21
8:23
08:37
Para a mente,
Dual por natureza
Tudo é um objeto
Ela sempre tem um objetivo
Está sempre manipulando:
Rejeitando ou buscando um objeto
Ela é absolutamente viciada neles
Para ela o futuro é um objeto
Qualquer conceito é um objeto
A ideia de deus é um objeto
A ideia de eu é um objeto
Até a ideia de não ser um eu, a chamada iluminação espiritual, é um
objeto
Ou você é um objeto manipulando objetos
Ou você não é ninguém
Vivendo o nada
19/09/21
09:00
121
09:33
Eu sou isso
Que eu tanto busco
O mais simples
O mais óbvio
No entanto
O mais secreto
10:06
15/09/21
08:24
Agora o eu é ninguém
Agora a mente é natural
Agora a dor é cura
Agora a confusão é paz
122
11/09/21
18:16
Eu vi a luz
Esqueci de mim
A Lua nova
No infinito
Na solitude
A Estrela cintilante
Deixei voar
Deixei subir
Ao Céu marinho
09/09/21
10:11
A cortina
Suaviza a luz
Que beija o interior do quarto
Palavras escorrem
E rompem a tela
Perfeito
Infinito
123
20:21
Tudo se move
Tudo se vai
Tudo muda
Só fica você
Só fica o eu
Só fica o nós
Todos em Um
05/09/21
08:01
a vida
é a Vida
124
3/09/21
08:31
Tanta vida
Dentro e fora
Nada importa
Na subida
Da aurora
Abriu-se a porta
11:18
125
Tudo sobre o nada
(9 de agosto a 01 de setembro de 2021)
126
01/09/21
09:12
127
30/08/21
08:42
28/08/21
09:12
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27/08/21
10:11
129
25/08
08:20
130
21/08/21
11:13
131
20/08/21
21:11
132
17/08/21
08:04
Se tudo é unidade
Tudo é o mesmo
Então, logicamente
A pergunta é a sua própria resposta
A prisão é a sua liberdade
O anseio é o seu alívio
O buscador é o buscado
A partida é a chegada
O desejo é o amado
A ausência é a presença
(...)
Não há distância entre o ponto A e o ponto B
AéB
Nada é tudo
Vazio é plenitude
Relativo é absoluto
Dois é não-dois
(...)
Não há passado, presente e futuro
Há só isso
A totalidade
O mistério
(…)
Você quer substituir a doença pela saúde
O mal pelo bem
O ruim pelo bom
A miséria pela riqueza
O vazio pela alegria
A ansiedade pela paz
A dúvida pelo saber
A separação pela unificação
A escravidão pela liberdade
O pecado pela virtude
O vício pelo equilíbrio
A insanidade pela lucidez
A confusão pela clareza,
Indefinidamente,
Numa busca sem fim
Mas tudo é o mesmo
O imperfeito já é sempre mais que perfeito
E ninguém pode fazer nada a respeito
133
15/08/21
07:15
134
14/08/21
22:01
Está incluído
Ser e não ser
Amar e odiar
O medo e o anseio
A paz e a serenidade
Todas as ondas estão permitidas
O movimento da quietude
A plenitude do vazio
A clareza da confusão
A harmonia do caos
Todos os paradoxos
E a lucidez mais insana
Tudo cabe nisso
Sem lugar
Em tudo
Sem tempo
Eternamente
Tudo cabe
Tudo é
E não é
O nada (tudo)ando
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12/08/21
19:25
136
11/08/21
08:09
08:17
137
10/08/21
7:56
138
09/08/21
9:12
(…)
não é sobre nada então
não é a respeito de nada
não significa nada de nada
é só o que é mesmo
é isso, isso, isso
sem nada por trás disso
sem significar
sem propósito para nada
sem onde chegar, nem o que se tornar
pois já é completo e não há distância
é tudo relaxamento, mistério e desconhecimento
(...)
o que você pensa a respeito do que está acontecendo?
tudo isso é real, e irreal, apenas incompreensível
saber não leva a nada
porque em última instância, nada se sabe
é só ilusão de que se sabe
você não precisa de explicações
você não precisa de nada
isso já é o que é
e é inexplicável
e livre para ser qualquer coisa, até para ser não livre
(...)
o que você busca?
não cansa nunca de buscar?
não vê o quanto isso é inútil?
só isso é o que é
não há nada lá fora, nem no futuro
não há nada em lugar algum
além desse nada aparecendo como isso tudo
só isso é o que é
(...)
onde está você?
onde se localiza?
qual a tua origem?
não há resposta, pois, a pergunta está incompleta
não há você!
139
não se pode localizar algo que nunca esteve em parte alguma
não é sobre você
nada é sobre você
isso é sobre nada
que pode aparecer como tudo
como se estivesse acontecendo algo
mas o que de fato acontece?
(...)
isso não tira o seu chão?
é porque você está olhando para si mesmo
e o si mesmo é uma ilusão
um vício de pensar que existe alguém no centro da experiência
deve ser essa a sensação de um drogado quando alguém o priva de
sua droga
a abstinência passará quando você (ninguém) desistir de si mesmo
(…)
o que importa então?
tudo o que resta é isso!
é trágico para o indivíduo
mas é pura liberdade,
para além do “eu sou”
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