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Ano letivo 2023 / 2024

Ensino Secundário

Curso Científico – Humanístico

A Ação Humana
PRINCIPAIS CONCEITOS QUE ESTRUTURAM A REDE DA AÇÃO HUMANA.
ATOS DO HOMEM E ATOS HUMANOS. RELAÇÃO NATUREZA/LIBERDADE

Agente = é a causa ou substância da ação, é aquilo que age ou produz


uma ação, o sujeito autor (o criador e a causa) e ator (intérprete) do agir,
o responsável pela ação, que tem consciência ou testemunha o que faz –
sabe o que faz, porquê e para quê. O agente é ativo ou passivo.

Motivo = é a razão de agir, aquilo através do qual um agente é movido a


executar um determinado ato, constitui a explicação e
legitimação/justificação da ação, é o
«porquê» do agir. O motivo é entendido como causa e/ou como fim. É
filosoficamente disputável admitir motivações inconscientes, como
impulsos, desejos, pulsões, compulsões e tendências irracionais como
causas da ação.

Intenção = é a finalidade da ação, reflete um projeto, um fim a atingir por


parte de um agente, é o «para quê» da ação, traduz o que quer fazer o
agente da ação – intencionar é um ato de orientar a ação para um fim a
partir de um motivo, ou de crenças e desejos prévios.

Vontade = é o ato de querer (a volição) e a possibilidade de optar, o


poder querer fazer isto e não aquilo, a liberdade de escolha voluntária. A
vontade é determinada pela razão nas várias possibilidades de opção para
que o agente execute uma determinada ação. Os atos da vontade
chamam-se atos volitivos. Enquanto capacidade de escolha livre, a
vontade é equivalente a livre-arbítrio.

Decisão e/ou deliberação = é o “corte”, ou seleção de uma entre várias


possibilidades (ou alternativas) para o curso de uma ação e implica a
opção por um ato excluindo todas as outras opções. A deliberação
antecede a decisão, envolve um processo de seleção das várias
alternativas, dos diversos motivos, antes de o agente tomar a decisão por
uma das alternativas. Todavia, há filósofos que não concordam com esta
distinção conceptual, alegando que quem delibera já decide. Também se
disputa a diferença entre decisão e escolha, alegando-se que quem faz
uma escolha já deliberou e tomou uma decisão. Aceitando a deliberação
como escolha raciocinada de meios e fins, há um cálculo sobre três
possíveis ordens de razões: (1) técnicas; (2) prudenciais e (3) morais.
Consciência = é o agente que sabe o que quer fazer, o para quê da ação, e
porque quer realizar um determinado ato, ou seja, é a testemunha
perante si próprio com conhecimento do motivo e intenção do agir,
assumindo as consequências do seu ato. Um sujeito-agente é consciente
simultaneamente do motivo e da intenção da ação. Ser consciente é ter
autoconsciência dos seus estados mentais e do mundo exterior à mente
do sujeito.
Responsabilidade = refere-se ao agente que causou ou motivou um
determinado ato e responde perante as suas consequências, implica a
consciência da autoria da ação. Um agente é responsável se, e apenas se,
é o autor dos atos praticados e das suas implicações.
Condicionantes da Ação Humana
Noção geral de condicionantes da ação humana

Conjunto de fatores, ou de condições que limitam (inibem o


desenvolvimento) ou potenciam as possibilidades (permitem o
desenvolvimento) dos seres humanos exercer a sua livre vontade
(ou livre-arbítrio). Há três tipos de condicionantes da ação. Não
se devem confundir com determinantes, pois estas bloqueiam
por completo a vontade do agente. Só é razoável defender
condicionantes da ação quando se supõe a existência do livre-
arbítrio.

Físico-biológicas = todos os fatores que dizem respeito ao mundo


físico e às suas leis e recursos, bem como à influência de fatores
hereditários ou de saúde/doença. Por exemplo, o clima, os
recursos naturais, influenciam os modos de agir e de adaptação
dos seres humanos. Uma herança genética pode condicionar uma
pessoa para a prática desportiva ou para atividades intelectuais
(é muito discutível que exista um gene da inteligência, mas um
erro de codificação genética ao nível do cromossoma 21 provoca
danos cognitivos).

Socioculturais = todas as condições que expressam a influência da


educação, dos costumes, das tradições, da história de uma
sociedade e dos padrões típicos de uma cultura. Mais que seres
biológicos, somos seres culturais. O modo como nos vestimos,
comemos, dormimos, falamos e comportamos no quotidiano não
é uniforme mas culturalmente condicionado.
Condicionantes psicológicas = referem-se a todos os estados
psicológicos e fatores de personalidade que definem a identidade
de cada pessoa, o seu modo de ser, pensar, sentir e
agir, a idiossincrasia (as condutas próprias de cada indivíduo, as
suas reações típicas). Há pessoas cujo caráter é mais expansivo,
aberto às relações interpessoais, à comunicação, outras têm um
caráter mais inibido, reservado e introspetivo, meditabundo.
Outras pessoas conseguem gerir bem as suas emoções,
controlando-as, ao passo que outras tendem a ser
emocionalmente instáveis. Uma pessoa que fica desempregada
pode desenvolver uma depressão grave; outra, mais resiliente de
um ponto de vista psicológico, pode encontrar forças interiores e
motivação para procurar outro emprego ou criar o seu próprio
modo de ganhar a vida.
Distinção entre animais e seres humanos

Os animais são organismos regulados pelo instinto: as suas reações são


respostas automáticas, não aprendidas, dependem da hereditariedade, da
genética da espécie. Os animais sobrevivem num ciclo fechado de
sobrevivência, reprodução e morte. Os animais adaptam-se ao meio de
acordo com a sua herança genética, o seu programa biológico é fechado, as
suas reações aos estímulos do meio são mecânicas, rígidas (um leão, por
instinto, por determinação genética, nunca poderá ser herbívoro). Por sua
vez, os seres humanos são muito diferentes dos restantes animais, pois têm
liberdade e inteligência, capacidades mentais superiores e complexas, por
exemplo, a imaginação. Os seres humanos precisam de aprender tudo para
se adaptarem ao meio ambiente, nascem incompletos de um ponto de vista
biológico. Os seres humanos vivem e escolhem um projeto de vida, mas os
animais são incapazes de fazê-lo: o seu plano de existência depende
exclusivamente da sua genética. As migrações sazonais são disso um bom
exemplo. Os seres humanos precisam de inventar tudo: a roupa, os
instrumentos de caça, os meios de defesa, a própria habitação e os meios de
transporte. O homem é o futuro do próprio homem: a liberdade e a
racionalidade inventiva da humanidade permitem afirmá-la como a espécie
dominante mais bem-sucedida do planeta e a que possui nas suas mãos a
capacidade de decidir sobre a sua continuidade. Que se saiba até hoje ainda
não houve nenhum animal não-humano que tivesse alcançado essa
capacidade de decisão/ação

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