A Ação Humana PRINCIPAIS CONCEITOS QUE ESTRUTURAM A REDE DA AÇÃO HUMANA. ATOS DO HOMEM E ATOS HUMANOS. RELAÇÃO NATUREZA/LIBERDADE
Agente = é a causa ou substância da ação, é aquilo que age ou produz
uma ação, o sujeito autor (o criador e a causa) e ator (intérprete) do agir, o responsável pela ação, que tem consciência ou testemunha o que faz – sabe o que faz, porquê e para quê. O agente é ativo ou passivo.
Motivo = é a razão de agir, aquilo através do qual um agente é movido a
executar um determinado ato, constitui a explicação e legitimação/justificação da ação, é o «porquê» do agir. O motivo é entendido como causa e/ou como fim. É filosoficamente disputável admitir motivações inconscientes, como impulsos, desejos, pulsões, compulsões e tendências irracionais como causas da ação.
Intenção = é a finalidade da ação, reflete um projeto, um fim a atingir por
parte de um agente, é o «para quê» da ação, traduz o que quer fazer o agente da ação – intencionar é um ato de orientar a ação para um fim a partir de um motivo, ou de crenças e desejos prévios.
Vontade = é o ato de querer (a volição) e a possibilidade de optar, o
poder querer fazer isto e não aquilo, a liberdade de escolha voluntária. A vontade é determinada pela razão nas várias possibilidades de opção para que o agente execute uma determinada ação. Os atos da vontade chamam-se atos volitivos. Enquanto capacidade de escolha livre, a vontade é equivalente a livre-arbítrio.
Decisão e/ou deliberação = é o “corte”, ou seleção de uma entre várias
possibilidades (ou alternativas) para o curso de uma ação e implica a opção por um ato excluindo todas as outras opções. A deliberação antecede a decisão, envolve um processo de seleção das várias alternativas, dos diversos motivos, antes de o agente tomar a decisão por uma das alternativas. Todavia, há filósofos que não concordam com esta distinção conceptual, alegando que quem delibera já decide. Também se disputa a diferença entre decisão e escolha, alegando-se que quem faz uma escolha já deliberou e tomou uma decisão. Aceitando a deliberação como escolha raciocinada de meios e fins, há um cálculo sobre três possíveis ordens de razões: (1) técnicas; (2) prudenciais e (3) morais. Consciência = é o agente que sabe o que quer fazer, o para quê da ação, e porque quer realizar um determinado ato, ou seja, é a testemunha perante si próprio com conhecimento do motivo e intenção do agir, assumindo as consequências do seu ato. Um sujeito-agente é consciente simultaneamente do motivo e da intenção da ação. Ser consciente é ter autoconsciência dos seus estados mentais e do mundo exterior à mente do sujeito. Responsabilidade = refere-se ao agente que causou ou motivou um determinado ato e responde perante as suas consequências, implica a consciência da autoria da ação. Um agente é responsável se, e apenas se, é o autor dos atos praticados e das suas implicações. Condicionantes da Ação Humana Noção geral de condicionantes da ação humana
Conjunto de fatores, ou de condições que limitam (inibem o
desenvolvimento) ou potenciam as possibilidades (permitem o desenvolvimento) dos seres humanos exercer a sua livre vontade (ou livre-arbítrio). Há três tipos de condicionantes da ação. Não se devem confundir com determinantes, pois estas bloqueiam por completo a vontade do agente. Só é razoável defender condicionantes da ação quando se supõe a existência do livre- arbítrio.
Físico-biológicas = todos os fatores que dizem respeito ao mundo
físico e às suas leis e recursos, bem como à influência de fatores hereditários ou de saúde/doença. Por exemplo, o clima, os recursos naturais, influenciam os modos de agir e de adaptação dos seres humanos. Uma herança genética pode condicionar uma pessoa para a prática desportiva ou para atividades intelectuais (é muito discutível que exista um gene da inteligência, mas um erro de codificação genética ao nível do cromossoma 21 provoca danos cognitivos).
Socioculturais = todas as condições que expressam a influência da
educação, dos costumes, das tradições, da história de uma sociedade e dos padrões típicos de uma cultura. Mais que seres biológicos, somos seres culturais. O modo como nos vestimos, comemos, dormimos, falamos e comportamos no quotidiano não é uniforme mas culturalmente condicionado. Condicionantes psicológicas = referem-se a todos os estados psicológicos e fatores de personalidade que definem a identidade de cada pessoa, o seu modo de ser, pensar, sentir e agir, a idiossincrasia (as condutas próprias de cada indivíduo, as suas reações típicas). Há pessoas cujo caráter é mais expansivo, aberto às relações interpessoais, à comunicação, outras têm um caráter mais inibido, reservado e introspetivo, meditabundo. Outras pessoas conseguem gerir bem as suas emoções, controlando-as, ao passo que outras tendem a ser emocionalmente instáveis. Uma pessoa que fica desempregada pode desenvolver uma depressão grave; outra, mais resiliente de um ponto de vista psicológico, pode encontrar forças interiores e motivação para procurar outro emprego ou criar o seu próprio modo de ganhar a vida. Distinção entre animais e seres humanos
Os animais são organismos regulados pelo instinto: as suas reações são
respostas automáticas, não aprendidas, dependem da hereditariedade, da genética da espécie. Os animais sobrevivem num ciclo fechado de sobrevivência, reprodução e morte. Os animais adaptam-se ao meio de acordo com a sua herança genética, o seu programa biológico é fechado, as suas reações aos estímulos do meio são mecânicas, rígidas (um leão, por instinto, por determinação genética, nunca poderá ser herbívoro). Por sua vez, os seres humanos são muito diferentes dos restantes animais, pois têm liberdade e inteligência, capacidades mentais superiores e complexas, por exemplo, a imaginação. Os seres humanos precisam de aprender tudo para se adaptarem ao meio ambiente, nascem incompletos de um ponto de vista biológico. Os seres humanos vivem e escolhem um projeto de vida, mas os animais são incapazes de fazê-lo: o seu plano de existência depende exclusivamente da sua genética. As migrações sazonais são disso um bom exemplo. Os seres humanos precisam de inventar tudo: a roupa, os instrumentos de caça, os meios de defesa, a própria habitação e os meios de transporte. O homem é o futuro do próprio homem: a liberdade e a racionalidade inventiva da humanidade permitem afirmá-la como a espécie dominante mais bem-sucedida do planeta e a que possui nas suas mãos a capacidade de decidir sobre a sua continuidade. Que se saiba até hoje ainda não houve nenhum animal não-humano que tivesse alcançado essa capacidade de decisão/ação