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Determinismo e liberdade na ação humana

Será que somos efetivamente livres?

Tradicionalmente, entende-se o agente como um ser racional, livre


e responsável, isto é, alguém que teve a possibilidade de decidir entre
várias alternativas possíveis.

Por isso, o agente é considerado responsável pelas


escolhas que faz e deve responder por elas, assumindo
as suas consequências.
Determinismo e liberdade na ação humana

 Esta noção de liberdade, é a que


corresponde ao livre-arbítrio, isto é,
a possibilidade de escolha e de
autodeterminação;

 …ou ao ato voluntário, autónomo e


independente de qualquer
constrangimento e coação externa
ou interna.

 O livre-arbítrio corresponde a
uma vontade livre e responsável
de um agente racional.
Determinismo e liberdade na ação humana

Mas será que a vontade humana é verdadeiramente


autónoma e independente de constrangimentos ou
coações externas ou internas?

Não existirão forças externas e internas que a


limitam e que anulam o livre-arbítrio?

No quotidiano somos confrontados com experiências que parecem


mostrar a inexistência do livre-arbítrio. De facto, não fazemos tudo
aquilo que temos vontade de fazer.
Determinismo e liberdade na ação humana

 Há condicionantes que somos


incapazes de ultrapassar, como por
exemplo, a força da gravidade.

 Tal como os outros animais, todos

nascemos, crescemos, envelhecemos

e morremos. A nossa constituição

biológica assim o define e não

podemos fazer nada para nos

mantermos eternamente jovens.


Determinismo e liberdade na ação humana

 Também os nossos
instintos mais básicos
são incontornáveis, não
os conseguimos
controlar:

 … sentir fome e desejar


comer, sentir sede e
desejar beber, sentir frio
e desejar aquecer-se,
etc.
Determinismo e liberdade na ação humana

A sociedade e a cultura também agem sobre nós


externa e internamente, moldando-nos.

Assimilamos os modelos que nos são


Conjunto de regras sociais que transmitidos pela família, pela escola,
nos são impostas. pelos amigos, pelos media …

Assim, parece que não somos o que queremos ser, mas sim aquilo
que as circunstâncias sociais e culturais fazem de nós, ou querem
que sejamos.
Condicionantes da ação humana

Físico-biológicas

Psicológicas

Histórico-culturais
Condicionantes Condicionantes Condicionantes
físico-biológicas psicológicas histórico-culturais

Sem um corpo não nos As ações também estão A ação humana também depende
podemos relacionar com o do ambiente social, cultural,
dependentes da
meio envolvente. E essa
personalidade do científico, tecnológico e histórico
relação depende das
agente, do seu em que se desenrola. O conjunto
caraterísticas do nosso
corpo, algumas das quais de regras sociais, de hábitos e
temperamento, do seu
herdadas geneticamente costumes, de padrões culturais,
caráter, ou dos seus
dos nossos pais. Essas os conhecimentos e os avanços
estados psicológicos
caraterísticas limitam técnicos, o tipo de socialização
determinadas ações, mas temporários como a
que o agente sofre e o tipo de
possibilitam outras, alegria, a tristeza, a
educação que recebe são
condicionando o que depressão, etc.
podemos fazer e como também condições da ação que a

fazer. influenciam. Ela acontece num


determinado ambiente
historicamente marcado.
Condicionantes da ação humana

Estas “condicionantes” podem e devem ser entendidas em:

Sentido positivo Sentido negativo

… como limitadoras da acção, no sentido


de constituírem restrições ao nosso poder
para agir.

… porque potenciam a nossa capacidade de agir. Grande parte daquilo que está
ao nosso alcance fazer surge porque vivemos numa sociedade que nos confere
direitos e poderes especiais e porque somos seres tendencialmente racionais e
inteligentes.
Determinismo e liberdade na ação humana

 Se considerarmos que as

ações humanas são

inevitáveis, por serem

definidas por forças

externas e internas, então

teremos de negar a

liberdade e a

responsabilidade do

agente.
Determinismo e liberdade na ação humana

 Só pode ser responsabilizado e


culpabilizado aquele indivíduo que
podia ter agido de outra maneira.

 Não se pode responsabilizar


alguém pelo que faz se essa era a
sua única alternativa.

 Só pressupondo a liberdade do
agente é que lhe podemos imputar
(atribuir) a responsabilidade pela
sua ação.
Determinismo e liberdade na ação humana

Problema do livre-arbítrio Consiste em compatibilizar a liberdade humana


com outras forças que a parecem anular.

Foi inicialmente discutido no contexto da filosofia cristã, pela necessidade de


compatibilizar a liberdade humana com a ideia segundo a qual tudo foi criado
e é governado por um Deus omnipotente.

Mais recentemente, o problema tem sido discutido no contexto dos avanços da


ciência, pela necessidade de compatibilizar a liberdade humana com a ideia
segundo a qual, tudo o que acontece na natureza tem uma causa necessária.
Teorias sobre o livre-arbítrio:

Determinismo radical
(Incompatibilismo)

Indeterminismo

Determinismo moderado
(Compatibilismo)

Libertismo
O determinismo e a noção de causalidade

 A partir da ciência moderna

(século XVII), o mundo passou a

ser entendido à luz das relações

de causa e efeito.

 Para qualquer acontecimento E

(efeito) existe uma causa C, de

tal modo que dado C seguir-se-á

E.
O determinismo e a noção de causalidade

• A relação que existe


entre causa e efeito é
uma relação de
dependência e
derivação necessárias,
isto é, o efeito não
existiria sem a causa, e
não pode não derivar da
causa.
O determinismo e a noção de causalidade

 Se todos e cada um dos


fenómenos estão sujeitos às leis
naturais de caráter causal, então
a própria ação humana também
deve ser entendida à luz de
causas necessárias.

 Se tudo o que fazemos é


determinado por uma causa
necessária, então, tudo o que
fazemos é inevitável, não
podíamos ter feito de outra
maneira.
O determinismo e a noção de causalidade

Determinismo

Doutrina filosófica segundo a qual tudo o que acontece


tem uma causa, isto é, todos e cada um dos fenómenos
estão submetidos às leis naturais de caráter causal.
O determinismo e a noção de causalidade

 Se tudo no mundo obedece ao


princípio da causalidade, incluindo
a ação humana, então não existe
livre-arbítrio, ou este é ilusório.

 O determinismo torna a ação


humana inevitável: o homem não
pode agir de outro modo, não
sendo por isso, responsável pelo
que faz.

 O determinismo radical defende o


incompatibilismo entre a
liberdade e o determinismo natural.
O indeterminismo

 Segundo a física quântica (século

XX) é impossível prever o

comportamento de um dado

sistema de partículas, pois elas

comportam-se de uma maneira

num momento e de outra maneira

no momento seguinte, sem que se

possa encontrar a causa dessa

mudança.
O indeterminismo

 Teoria quântica:

 O comportamento das partículas não é determinístico;

 Não há apenas um futuro para o presente, mas vários futuros


possíveis;

 Alguns futuros serão mais prováveis;

 O presente não determina o futuro – o acaso faz parte do modo de


ser do mundo.
O indeterminismo

Indeterminismo

Corrente que defende a impossibilidade de prever os


fenómenos a partir de causas determinantes, introduzindo
as noções de acaso e de aleatório.
O indeterminismo

 Tal como no sorteio do


euromilhões, em que o resultado é
indeterminado, o mesmo se passa
em relação às ações do homem.
Não podemos prever, com rigor,
como ele irá agir.

 Ele age e não é possível


determinar o que o levou a agir.
O indeterminismo

Se é o acaso que conduz as ações


humanas imprevisíveis, então elas
não são o resultado do que o
homem quer;

… logo, as ações também


não são livres.
Dilema do determinismo

 Ou as ações humanas são determinadas por causas que o agente não


domina ou as ações humanas são indeterminadas.

 Se estão dependentes de causas, as ações humanas não dependem da


vontade do agente.

 Se estão dependentes do acaso, também não dependem da vontade do


agente.

 Logo, as ações humanas não são livres.


Determinismo moderado (Compatibilismo)

 Esta perspetiva aceita o


determinismo do mundo natural,
mas defende que existe espaço
para a liberdade e
responsabilidade humanas.

 Mesmo que as nossas ações


sejam causadas, podemos sempre
agir de outro modo, se assim o
escolhermos.
Determinismo moderado (Compatibilismo)

 O determinismo moderado

afirma que tudo no mundo

material é determinado mas

algumas ações humanas são

livres, por serem determinadas

mas não constrangidas.


Determinismo moderado (Compatibilismo)

Atos livres Atos não livres


Ghandi passa fome porque quer Um homem passa fome num deserto
libertar a Índia. porque não há comida.
Uma pessoa rouba pão porque está Uma pessoa rouba porque o seu
com fome. patrão a obrigou.
Uma pessoa assina uma confissão Uma pessoa assina uma confissão
porque quer dizer a verdade. porque foi torturada.
Uma pessoa abre a janela porque faz Uma pessoa abre a janela porque está
calor. hipnotizada.
Um membro da equipa de cinema Um doente mental explode uma
provoca uma explosão para produzir bomba porque ouve vozes que o
um efeito especial para um filme. convenceram a realizar essa ação.
Determinismo moderado (Compatibilismo)

Não é restringido fisicamente – no caso de


uma pessoa que passa fome num deserto, ou
que se encontra amarrada a um poste …

Ação livre é aquela em que o agente:

… nem coagido na sua vontade – no caso de uma


pessoa que rouba uma garrafa de aguardente por
compulsão interna, ou que rouba
porque alguém a obrigou.
Libertismo

 Os libertistas consideram que as


nossas ações nem são
causalmente determinadas nem
aleatórias. Partindo do pressuposto
dualista de que o mundo material e
a ação humana são de natureza
diferente, concluem que também se
regem por leis diferentes e, por
essa razão, as leis (físicas) que
regem os fenómenos corporais
(mundo material) não se aplicam
aos fenómenos mentais.
Libertismo

 Esta corrente defende que o homem


não é determinado: ele tem o poder
de se autodeterminar.

 Para tal, defende-se a dualidade entre


o corpo e a mente e considera-se que
esta última está acima ou fora da
causalidade do mundo natural.

 O corpo do sujeito pode ser


determinado por causas necessárias,
mas a mente não está determinada,
ela autodetermina-se.

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