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Aspectos da ética social

A ética social é um subcapítulo da ética normativa que, procura fundamentar as


normas e objectivos da interacção entre individuo e grupo ou grupos entre si.
Dessa relação resultam vários outros tipos de ética que se enquadram nesta.
Entre eles há a salientar a ética ambiental que se ocupa da relação do Homem
com a Natureza e o meio em que ele vive (problemas relativos à poluição do
meio ambiente); a bioética que levanta problemas morais que advém do
desenvolvimento da Biologia (transplante de órgãos, etc.); a ética medicinal
que levanta os problemas morais na medicina (questionando se se deve
informar ou não um doente que irá morrer dentro de dias ou se se deve omitir a
verdade); e, finalmente, a ética científica ou técnica que se debruça sobre os
aspectos da responsabilização dos cientistas sobre as inovações cientificas.
Porém, neste capítulo, tratar-se-ão questões como a liberdade, a
responsabilidade e a justiça na perspectiva personalista, a virtude, o mérito e a
sanção na visão marxista e existencialista.

A liberdade

A relação entre a liberdade e a moral é intrínseca, o que faz com que a


liberdade seja o fundamento do agir moral. A liberdade é, segundo Kant, a
razão de ser da lei moral e, simultaneamente, a afirmação do sujeito que age
como pessoa.

A vontade é uma espécie de causalidade dos seres vivos, enquanto racionais,


e liberdade seria a propriedade desta causalidade, pela qual ele pode ser
eficiente, independentemente de causas estranhas que a determinam, assim
como necessidade natural a propriedade da causalidade de todos os seres
irracionais de ser em determinados à actividade pela influência de causas
estranhas.

A definição da liberdade que acabamos de propor é negativa e, portanto,


infecunda para conhecer a sua essência; mas dela decorre um conceito
positivo que é mais rico e fecundo. Como o conceito de uma causalidade traz
consigo o de leis, segundo as quais à causa liga-se um efeito, assim a
liberdade, se bem que não seja uma propriedade de vontade segundo leis
naturais, não é desprovida de lei.

A necessidade natural era uma heteronomia das causas eficientes, pois todo o
efeito era sé possível segundo a lei de que alguma outra coisa determinasse a
causalidade; que uma outra coisa pode ser, pois, a liberdade da vontade senão
autonomia, isto é, a propriedade da vontade de ser lei para si mesma? Mas a
proposição, de que a vontade é, em todas as acções, uma lei para si mesma,
caracteriza apenas o princípio de não agir segundo nenhuma outra máxima
que não seja aquela que possa ter-se a si mesma por objectivo como lei
universal. Isto, porém, é precisamente a forma do imperativo categórico e o
princípio da moralidade; assim, pois, vontade livre e vontade submetida a leis
morais são uma e mesma coisa.»

Immanuel Kant; Fundamentos da Metafisica dos Costumes; Edições


70; Lisboa; 1995
Etimologicamente, a palavra «liberdade» significa isenção de qualquer
coacção ou negação da determinação para uma coisa. Em suma, pode-se
entender como a faculdade de fazer ou deixar de fazer uma coisa.

Vista do lado do sujeito, tem sido entendida como a possibilidade de


autodeterminação e de escolha, acto voluntário, espontaneidade,
indeterminação, ausência de interferência, libertação de impedimento,
realização de necessidades, direcção prática para uma meta, propriedade de
todos ou alguns actos psicológicos, ideal de maturidade, autonomia de
sapiência e ética, razão de ser da própria moralidade.

Existem vários tipos de liberdade: liberdade física, civil, política, de religião, de


imprensa, de reunião, de expressão de pensamento, de ensino, etc.

Aqui iremos retratar a liberdade no seu sentido lato. O conceito «liberdade» foi
objecto da Filosofia desde os primórdios até aos nossos dias. O primeiro
pensador a debruçar-se sobre a liberdade foi Sócrates. Este pensador era da
opinião de que o Homem é livre quando se verifica o domínio da própria
racionalidade em relação à própria animalidade.

No fim da idade moderna, aparece-nos um grande pensador, Kant, cujo


pensamento nos é apresentado nos textos de apoio mais adiante.
Por seu lado, Jean-Paul Sartre, filósofo francês do séc. XX, identifica o Homem
com a liberdade. Afirma que o Homem não está de modo algum sujeito ao
determinismo; a sua Vida não é como a da planta cujo futuro já está escrito na
semente.

A liberdade defendida por Sartre é uma liberdade absoluta e total. Portanto, o


Homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si
mesmo e, no entanto, é livre porque uma vez lançado ao mundo, é responsável
por tudo aquilo que fazem os pensadores marxistas, por seu lado, são da
opinião de que o Homem só é livre com o fim da alienação. Para estes, a
condição fundamental para a liberdade é o fim da exploração do Homem pelo
Homem.

Queremos a liberdade pela liberdade e através de cada circunstância


particular. E ao querermos a liberdade, descobrimos que ela depende
inteiramente da liberdade dos outros e que a liberdade dos outros depende da
nossa. Sem dúvida, a liberdade como definição do Homem não depende de
outrem, mas, uma vez que existe a ligação de um compromisso, sou obrigado
a querer ao mesmo tempo a minha liberdade e a liberdade dos outros; sé
posso tomar a minha liberdade como um fim, se tomo igualmente a dos outros
como um fim.

Jean-Paulo Sartre; Existencialismo é um Humanismo; Col. Divulgação


e Ensaio; s.d.
A responsabilidade

Etimologicamente, a palavra «responsabilidade» vem do latim respondere,


que significa «comprometer-se» (sponder) perante alguém em retorno (re). É a
virtude através da qual o agente moral deve responder pelos seus actos, isto é,
reconhecê-los como seus e suportar as suas consequências. O uso deste
termo em Filosofia é relativamente recente, e foi no século XX que ganhou
ressonância. A responsabilidade pressupõe três condições fundamentais:

 Conhecimento – o agente deve ter conhecimento dos seus actos e das suas
consequências. Se o individuo actua por ignorância a sua responsabilidade
será atenuada.
 Liberdade – só somos responsáveis pelos actos que são verdadeiramente
nossos, e é a liberdade que dá ao Homem pleno domínio dos seus actos e o
torna susceptível de valorização.
 Intenção – a responsabilidade depende da intenção com que se decide a
realização do acto.

A responsabilidade subdivide-se em dois tipos:

 a) Responsabilidade fundamental ou transcendental, que é aquela que o


Homem tem por ser Homem, enquanto Homem. É a responsabilidade perante
a consciência, os outros e a sociedade.
 b) Responsabilidade categorial, que equivale as diversas obrigações e
deveres de cada um. É subjectiva ou pessoal, cada sujeito agente é
responsável pelos actos que são verdadeiramente seus porque livremente
praticados.

Friedrich Nietzsche é da opinião de que só é responsável aquele que pode


responder por si e perante si mesmo, enquanto Jean-Paul Sartre faz cada um
responsável não apenas pela sua estrita individualidade, mas, também, pela
humanidade em geral. Sartre defende que quando o Homem escolhe, escolhe-
se a si e, simultaneamente, escolhe todos os Homens. Nada é bom para nos
se não for bom para todos.

O mérito
O mérito é a aquisição de valor, em sequência do bem que se pratica. O seu
oposto é o demérito, que é a perda de valor, em virtude dos factos cometidos.
O mérito depende (em absoluto) do valor do próprio acto, e também (em
relativo) das condições em que o acto é realizado, especialmente de
dificuldade e de intenção. Por exemplo: um rico que, ao encontrar um mendigo,
lhe dá a quantia de 200,00 meticais para ganhar a simpatia das pessoas em
redor é menos meritório que um pobre que despende o valor de 5,00 meticais
mas o faz por verdadeira solidariedade.

A virtude
A virtude é um valor moral adquirido por esforço voluntário, isto é, uma força
para fazer o bem e que se adquire através de exercícios bons. O estudo da
virtude foi realizado já por Sócrates e Platão. Platão tratou dela em vários
diálogos, entre os quais Ménon, Protágoras e República, apontando quatro
tipos de virtudes:

 A prudência
 A fortaleza
 A temperança
 A justiça

Ao procurar compreender as virtudes, a razão defronta-se com não poucas


nem fáceis interrogações: Existem realmente virtudes? Em que consistem?
Que valor atribuir-lhes para a existência humana?

Com a sua Vida repartida e derramada por inumeráveis actos pontuais e


transitórios, não pode o Homem fugir unidade dessa Vida da unidade de si
mesmo? A virtude personaliza ou tecnifica? Não custa entender a razão desta
questão, tendo em conta a generalizada identificação da virtude com o bom
hábito. Aqui resulta claramente a dificuldade de reconhecer um valor moral à
virtude assim concebida como hábito operativo bom.
CHAMBISSE, Ernesto Daniel; COSSA, José Francisco. Fil11 - Filosofia 11ª Classe. 2ª Edição. Texto
Editores, Maputo, 2017.

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