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MARTIN HEIDEGGER

Martin Heidegger reorientou a visão contemporânea sobre o problema do ser ao propor que
a pergunta pelo ser só pode ser colocada por dasein (o “ser-aí”) ou o homem que existe no mundo.
Só o ser humano existe efetivamente, uma vez que os demais seres e objetos apenas são. É a
investigação sobre essa pergunta que evidencia o caráter existencialista de seu pensamento em Ser e
tempo (1927).
Ou seja: orientou sua filosofia para a questão sobre o ser, daí o nome de sua obra mais
conhecida “O ser e o tempo”. Sua análise é elaborada por meio do método fenomenológico, que
privilegia a experiência.
Segundo Heidegger (2005), “o ser não somente não pode ser definido, como também nunca
se deixa determinar em seu sentido por outra coisa nem como outra coisa. O ser só pode ser
determinado a partir do seu sentido como ele mesmo”. Ou seja, o ser é autônomo, independente, e
indefinível.
Os principais objetivos de Heidegger foram criticar a metafísica característica da filosofia
ocidental e fornecer uma base intelectual para uma nova compreensão do mundo.
A partir de meados da década de 1930, Heidegger iniciou uma interpretação geral da história
da filosofia ocidental. Para tanto, ele examinou as obras de importantes filósofos do ponto de vista
fenomenológico, hermenêutico e ontológico e, assim, tentou desvendar e revelar seus pressupostos
e preconceitos "até então impensados" que residiam no pensamento ocidental. De acordo com
Heidegger, todos os filósofos apresentaram uma visão unilateral do mundo - uma unilateralidade
que ele considerava característica da metafísica.
Para Heidegger, esta visão metafísica do mundo culminou numa sociedade que privilegia a
tecnologia contemporânea. Ele não apenas associou a tecnologia a um meio neutro para atingir
determinados fins, mas, em vez disso, tentou demostrar que a primazia da tecnologia foi
responsável por alterar uma concepção do mundo.
Segundo Heidegger, a tecnologia faz com que as pessoas tenham uma visão de mundo
focada na utilização. Por causa da disseminação global dessa concepção de mundo e da
"exploração" implacável dos recursos naturais, Heidegger via a primazia da tecnologia como um
perigo inevitável. Ele contrastou tecnologia com a arte e, a partir do final da década de 1930,
desenvolveu, por exemplo, baseado nos poemas de Hölderlin, alternativas a uma concepção de
mundo baseada na técnica. Em textos posteriores a 1950 ele passou a se dedicar cada vez mais às
questões relacionadas à linguagem.
EXISTENCIALISMO JURÍDICO

Liberdade - responsabilidade

O homem existe e em sua existência se constrói.


Pode-se ver inicialmente no direito uma tendência a considerar o homem enquanto essência,
no sentido do que o homem é e por ser tem certos direitos assegurados pela natureza como os
direitos à vida e à dignidade. Contudo isso pode se tornar um problema na medida em que
considerar que a essência do homem precede sua existência pode levar a posições de estagnação e
muitas vezes de preconceito.
A título de exemplo vejamos a situação em que um homem por ter nascido em posição de
nobreza e branquitude era considerado em sua essência, melhor do que aquele homem forjado pelo
trabalho. Quer dizer, antes de nascer você já está condenado a ser, segundo uma ou outra essência.
Com o passar dos anos e o evoluir da sociedade, verificou-se uma mudança de olhar que
conduziu à ideia de que o homem constrói a si mesmo, podendo se tornar o que quiser. O homem
primeiro existe, depois se torna alguma coisa.
Importante aqui considerar que a atual tendência pós positivista tem retornado à ideia de que
há direitos que decorrem da própria essência humana e se sobrepõem a qualquer tipo de regra criada
pelo homem. Contudo, a despeito dessa tendência o ordenamento jurídico pauta-se na existência e
na liberdade que o homem possui para agir, se construir e torna-se quem deseja, embora deva arcar
com a responsabilidade por tudo aquilo que fizer. Da mesma forma o direito se coloca para
resguardar a liberdade do homem como um direito fundamental. Aqui, veja-se considera-se o
homem como objeto de direitos inerentes à sua natureza, haja vista sua essência humana. Contudo,
um desses principais direitos é a liberdade, justamente para que possa construir a si mesmo e à sua
vida.
Nesse sentido: a essência precede a existência? Ou é a existência que precede a essência?
Não parece uma questão fácil e não me parece que ao dizer que a existência precede a essência os
existencialistas pretendessem negar a existência de uma essência humana, mas apenas valorizar a
existência enquanto fundamento da liberdade e responsabilidade humanas, em detrimento de uma
essência inata.
Essa parece ser a inclinação do nosso ordenamento, uma vez que considera a pessoa
enquanto humana, mas valora sua ação e atribui a responsabilidade, independentemente dessa
essência.
Exemplo simples: o homem é presumido inocente apenas até quando provar-se culpado, pois
uma vez assim considerado responderá por todos os seus atos. Ou seja: a essência é valorada até que
comece a existência, que se sobrepõe e precede à essência.

É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado
porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao
mundo, é responsável por tudo quanto fizer. (SARTRE, 1973, p. 15).

Nesse sentido, tendo como certo que a principal ideia do existencialismo é justamente a
ideia da liberdade que o homem possui e da responsabilidade adjacente às suas ações livres, é fácil
inferir que o existencialismo tem tudo a ver com o direito que nós conhecemos.
Exemplo no Código Civil:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Exemplo no direito penal: a conduta criminosa para a teoria finalista é a ação humana
consciente e voluntariamente dirigida a uma finalidade, quer dizer, considera-se aqui justamente a
liberdade que o homem possui para tomar a ação, já que consciente e voluntária.
Uma vez livre para agir o agente será também responsável pelas consequências da ação.
Essa responsabilidade decorre da ideia de que o homem não nasce, torna-se, constrói-se,
tanto para o bem quanto para o mal.
Nessa esteira, é cabível desdobrar a proposta existencialista no âmbito do Direito. Como
bem dispôs Eduardo Bittar:

De qualquer forma, é possível afirmar que o existencialismo jurídico só pode ser


uma filosofia que aponta para a liberdade, exercida juridicamente, em seu
sentido mais amplo: liberdade de criar, liberdade de fazer, liberdade de deixar de
fazer, liberdade de existir, liberdade de escolher, liberdade de ir e vir, liberdade de
se expressar, liberdade de professar, liberdade de exercer...
No entanto liberdade é sempre exercida ao lado do outro, com o outro, para o
outro. O ego se percebe como livre no outro e com o outro. É no encontro com o
outro que releva discutir a Heiquestão da liberdade, pois, ante o imperativo do
tudo poder, encontra-se o imperativo da liberdade do outro.
Sendo assim, a contribuição dessa corrente filosófica para o Direito reside na valorização da
liberdade, com a regulamentação mínima das condutas interindividuais.
A liberdade existe e é um acontecimento no mundo. O homem está condenado a ser livre.
No âmbito jurídico significa que ele está livre para agir, para assumir suas próprias escolhas e ser
responsável pela própria história.
Por tudo isso, o Direito é muitas vezes existencialista, pois foca o homem nos momentos
em que ele é mais homem: nas próprias vivências e escolhas cotidianas.
O Direito aliado ao existencialismo em um Estado Democrático de Direito é um modo de
escolher ser livre e defender a liberdade contra dogmas, contra arbitrariedades, contra tiranos,
contra a opressão e contra as maiorias sociais em detrimento das minorias. Por meio do
existencialismo, busca-se um Direito essencialmente emancipatório, justo e livre a partir da
existência e da experiência da vida humana.
Dito tudo isso, conclui-se que, está no próprio homem a liberdade de escolher entre a
liberdade e a opressão. Entre a justiça e entre a injustiça. Entre a ética e a antiética, entre o certo e o
errado e entre o legal e o ilegal. A relação existencial revela-se no Direito, assim, como um elo de
solidariedade que apoia o individuo na sua liberdade de escolha envolta por uma responsabilidade
que o obriga a cooperar com o outro e a pensar no outro a partir de sua existência, pois como
afirmou o filósofo existencialista, Jean Paul Sartre:

Não só o homem é o que ele próprio concebeu ser, mas também o que quer ser
após este impulso para a existência. O homem nada mais é senão aquilo que se
fez.

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