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Biografia básica: Epicuro nasceu em Atenas, em torno de 342 a.C.

Epicuro afirmava não ter tido outro mestre além dele mesmo, mas é inegável a
importância de Demócrito em seu pensamento, com o atomismo, e dos
Cirenaicos, com uma ética voltada para o prazer. Epicuro permaneceu a
infância e juventude em Samos. Sendo do período helenista, pertenceu a uma
geração depois da tríade dos grandes filósofos gregos: Sócrates e Platão, que
já haviam morrido, e Aristóteles, que estava na corte de Filipe da Macedônia.
Epicuro afirmava não ter tido outro mestre além dele mesmo, mas é
inegável a importância de Demócrito em seu pensamento, com o atomismo, e
dos Cirenaicos, com uma ética voltada para o prazer.

“Epicuro não se fez sem mestre. Além de Nausifanes, teve vários


outros, dos quais evidentemente se serviu de várias proposições, por
exemplo do modo de vida sóbrio e recatado (caracterizado pela
moderação) proposto por Pirro (filósofo cético)” – Miguel Spinelli, Os
Caminhos de Epicuro.

Enquanto isso, Alexandre avançava rumo ao império universal, fazendo


com que as cidades gregas mudassem bastante no processo, além de passar
a cultura grega adiante, chegando-se assim aos filósofos helênicos (estoicos,
epicuristas, céticos). Epicuro criou então um lugar que ficou conhecido
simplesmente como “O Jardim”, ao chegar em sua nova residência, o filósofo
também trazia consigo seus discípulos e uma filosofia constituída: o
epicurismo. Vale ressaltar que Epicuro é o primeiro filósofo a aceitar mulheres
e escravos em seu Jardim.
Canônica (a teoria epicurista do conhecimento): diferente dos
racionalistas, os epicuristas tratam os conhecimentos da verdade em três
perspectivas, sendo elas as sensações (lógos), as pré-noções(aisthésis) e as
afecções(pathé). Os epicuristas falam menos das sentenças racionais, e mais
dos sentidos, pois para eles tudo começa com o corpo sendo tocado pelo
mundo através das sensações, segue com a formação de pré-noções, ou seja,
imagens mentais e palavras, e termina com as afecções de um prazer ou dor, a
totalidade das três, possibilita a compreensão dos fenômenos.
A canônica trata do critério para julgar a verdade ou falsidade das
opiniões e parte de um axioma principal: a sensação é verdadeira, pois todas
as sensações que se possa sentir, é verdadeira, já que não pode sentir algo
que seja falso, assim todas as sensações se pressupõem verdade, ao passo
que um daltônico não está errado na cor que vê, pois ele vê o que vê, do
contrário acaba por tornar-se inconsistente em termos lógicos.
O primeiro passo da canônica de Epicuro é a afirmação da certeza das
sensações, ou seja, elas não nos enganam, mas trazem de modo direto e claro
uma mensagem do real, senão cairia no princípio de não contradição. Epicuro,
não desconfiar das sensações. Em vez de desconfiar dos sentidos como faz
Platão, precisamos levar a sério as sensações, pois são elas os indícios do
verdadeiro.
Para os epicuristas, as sensações são anteriores à razão, elas não
possuem palavra nem memória. Sentir é ser tocado pelo mundo. O momento
desse contato produz uma evidência irrefutável no corpo: sentimos frio, calor,
sabor, etc. Nesse ponto, não há falsidade, não há erro, pois não há nenhum
juízo produzido sobre essas sensações primeiras, porém essas sensações
puras não permanecem dessa maneira por muito tempo.
A sensação é o começo do conhecimento, mas conhecer é mais do que
sentir, porque seres humanos e outros animais interagem com as sensações
de forma diferente conforme elas se repetem. A partir de uma síntese das
experiências repetidas, o pensamento entra em jogo e Epicuro chama isso de
pré-noções, que se caracteriza como uma espécie de capacidade de apreender
algo que se encontra em nós como frequentemente se apresentou do exterior.
É uma imagem mental que pode ser chamada à mente, uma noção geral que
formamos a partir da repetição da experiência.
Por fim, as afecções ou paixões, isto é, prazer e dor são formas de
conhecimento. Isso é muito importante para os epicuristas, pois, ao contrário
das escolas filosóficas que costumam colocar as paixões como forças que
turvam a razão e prejudicam o conhecimento, para eles, as afecções são a
fonte do conhecimento mais importante para aprender a viver bem, pois é
através dela que compreendemos a própria ética de Epicuro.
Sobre a física: Podemos resumir a física epicurista em seis ideias:
1. Nada pode nascer do nada: uma coisa não pode aparecer de repente, ela
precisa de uma causa para a qual será um efeito. Consequentemente, o
mundo não pode ter sido criado do nada, mas é resultado de uma
transformação daquilo que sempre existiu (átomos).
2. O todo é formado apenas por átomos e vazio: só existem corpos e
espaço, todas as explicações serão dadas através destes dois conceitos.
Pela própria etimologia da palavra, os átomos não podem ser divididos em
partes menores. Eles são o que são: incorruptíveis, eternos, imutáveis.
3. Todos os corpos são compostos de átomos: tudo o que existe é feito de
átomos em diferentes combinações. Os corpos são agregados ou concílios
dessas pequenas partes.
4. O todo é ilimitado: o vazio é ilimitado (ápeiron) no tempo e no espaço e
segue em todas as direções. O universo é infinito, pois não há nada que
limite o vazio.
5. Os átomos se movem e entram em choque: estamos vivendo um eterno
presente de átomos entrando em choque e formando corpos ou
desfazendo-os. Isso se chama clinamen.
6. Há inúmeros mundos: se há inumeráveis átomos em um espaço infinito,
então só podem existir inumeráveis mundos. Nada impede que existam
outros compostos de átomos em outros lugares e tempos que se unem
formando mundos parecidos com o nosso.

Sobre a ética: a filosofia epicurista é mais reconhecida pela ética do que


propriamente pela canônica ou pela física, mas vale ressaltar ambas as ideias
posteriormente. A base do pensamento ético de Epicuro se dá em pensar o
que é a boa vida? Para Epicuro é a felicidade/prazer.
A ética de Epicuro se diferencia da ética platônica, aristotélica ou
estoica. Começa com a reflexão sobre o que se move o ser humano, o mesmo
diz:

“Chamamos o prazer princípio e fim da vida feliz. Com efeito,


sabemos que é o primeiro bem, o bem inato, e que dele derivamos
toda a escolha ou recusa e chegamos a ele valorizando todo bem
como critério do efeito que nos produz” – Epicuro, Sentenças e
Máximas.

Epicuro não é o único a pensar sobre uma ética hedonista, ou seja, ética
relativa aos prazeres, pode-se pensar nos cirenaicos que buscam o prazer de
modo incessante, propunham o prazer a qualquer custo, entretanto destaca-se
Epicuro que requalifica a ideia de hedonismo. Vale ressaltar que o epicurismo
não deve ser compreendido como busca só pelo sexo, tal concepção é errada,
a busca pelos prazeres desenfreados dos libertinos não se enquadro na ética
epicurista, pois os próprios atrapalham a felicidade.
Nota-se que se o prazer é princípio e fim, então o oposto do prazer é a
dor, e sendo a dor contrária à nossa natureza. Pondere sobre, sempre
buscamos evitar as dores que sentimos e maximizar das felicidades que
sentimos, ora exemplo, quando sentimos fome ficamos estressados, isso é
negativo, mas quando alimentados, sentimos saciedades e isso parece
princípios de felicidade. A ética epicurista busca afastar as dores e prolongar os
prazeres.
Me parece, que assim como Aristóteles, Epicuro busca fornecer a cada
um os meios de realizar uma vida boa, entretanto se é tão obvio que a vida
boa, é a vida que está de acordo com os prazeres, então porque falar sobre?
Para Epicuro é simples, afinal muitas vezes nos enganamos tomando como
coisas prazerosas aquilo que não passa de opinião, geralmente equivocada.
Nenhum prazer é um malefícios em si mesmo, entretanto alguns prazeres
carregam consigo níveis de sofrimentos maiores do que os próprios prazeres.
Epicuro então busca ponderar sobre quais prazeres deve-se abraçar e quais
devem ser abandonados, pois existe um fio tênue sobre o que se encontra
entre prazer e dor.
Epicuro aconselha que a amizade é a felicidade mais preciosa, o mesmo
diz que o sábio troca as riquezas por um bom amigo, porque sabe que esse
tipo de relação é muito mais raro e valioso. A amizade é a celebração da
felicidade, eis a fórmula definitiva do conceito epicurista, mas entre todas as
alegrias que a amizade proporciona, há uma que merece destaque: a filosofia,
ressalta-se a própria palavra filosofia é composta por philia e sophia, amizade e
sabedoria. Ao que tudo indica, os epicuristas propõem um outro paradigma
para definir a filosofia: em vez de amigo do saber, ou amante do conhecimento,
podemos pensar em uma comunidade de pensamento, de amigos filósofos,
que auxiliam uns aos outros naquilo que mais importa, que é pensar bem para
viver bem.
Tetrapharmakon (quádruplo remédio de Epicuro): A proposta hedonista
é direta e simples, realista e prática. Os dois primeiros “remédios” se referem
ao intelecto e têm efeito imediato, pois desfazem todas as superstições e
medos irracionais que causam angústia nos homens, a saber, a morte e a
cólera dos deuses. Os dois últimos remédios são éticos e tratam de um modo
de vida com caráter preventivo para a dor e obtenção do prazer.
Primeiro remédio, sobre o temor dos deuses: para Epicuro os deuses
existem de fato, mas as características em volta da imagem dos mesmos não,
para o filósofo os deuses são entes imortais e bem-aventuradas, isso porque
não cabe aos deuses nenhuma decisão no mundo dos humano, para ele, os
deuses se debruçam apenas em suas próprias virtudes, isso porque os
assuntos divinos só interessam os deuses e nos mesmos, sequer alcançamos
tais verdades, em síntese, os deuses existem, mas não se preocupa com a
nossa existência.
Segundo remédio, a morte não é para nós: o que foi já não é e o que
será ainda não é. A morte, portanto, não existe na vida. “Quando estamos
vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está
presente, nós é que não estamos”, ou seja, o que nos aflige não é a morte,
mas o medo dela, por isso devemos ir além desse medo.
Terceiro remédio, é a possibilidade de obter o prazer: Epicuro parte para
demostrar os caminhos para o prazer, o mesmo distingue em três tipos, para
ele existem os prazeres naturais necessários, os naturais e não necessários e
os não naturais e não necessários. Os naturais e necessários são os desejos
que permitem que o corpo continue afirmando-se na existência, exemplo a
água. Os naturais não necessários são os prazeres que não são necessários
para afirmar a existência, exemplo é um suco, necessitamos da água qualquer
líquido além da mesma, não é necessário. Por fim, os não naturais e não
necessários são os que não precisam existir, já que não beneficia em nada a
existência do próprio indivíduo, exemplo disso é o dinheiro, fama, glória, etc.
Pondero que Epicuro concebe um homem em seu estado de natureza,
pois só precisamos das coisas naturais e necessárias, e caso queira, podemos
usufruir um pouco mais dos prazeres naturais, entretanto não necessários, pois
o homem em seu estado de natureza não corre atrás do dinheiro, fama e
poder, isso é indiferente ao mesmo, assim na visão de Epicuro o homem em
seu estado de natureza não seria hobbesiano, “o homem é lobo do homem”,
mas sim, pacifico. O homem caminharia para os próprios prazeres, tal como
concebe a ideia rousseauniana.
Por fim, o último remédio é o bom uso da dor: Epicuro percebe que a dor
no final das contas é inevitável, e que é possível suportar. Nota-se que
tardiamente, Nietzsche dirá no crepúsculo dos ídolos uma máxima que
expressa esse remédio epicurista, Nietzsche diz: “o que não me mata, me
fortaleza”. A dor é inevitável, mas é possível ser suportada, é preciso saber
lidar com a dor e supera-la. O Tetrapharmakon é as máximas de Epicuro para
se ter uma vida feliz, é o caminho para o telos da mesma.

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