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1.

Helenismo:

A grande expedição de Alexandre Magno (334-323 a.C.) para o Oriente e as sucessivas conquistas territoriais, que
levaram à formação de um vasto império e à teorização de uma monarquia universal divina, tiveram como efeito
imediato colocar em grave crise a Polis.

Diversas correntes de pensamento surgiram nesse contexto histórico: cinismo, epicurismo, estoicismo, ceticismo
e ecletismo.

2. Epicurismo:

A cultura helênica, ao ser difundida entre vários povos e raças, tornou-se "helenística". Essa difusão resultou,
inevitavelmente, em perda de profundidade e pureza. Ao entrar em contato com tradições e crenças diversas, a
cultura helênica inevitavelmente assimilou alguns de seus elementos.

A. A filosofia como meio para alcançar a felicidade: O próprio local escolhido por Epicuro para sua escola
expressa a novidade revolucionária de seu pensamento: não uma palestra, símbolo da Grécia clássica, mas um
prédio com jardim (que era mais um horto) nos subúrbios de Atenas. O Jardim estava longe do tumulto da vida
pública citadina e próximo ao silêncio do campo, elementos que não tinham significado para as filosofias clássicas,
mas que eram de grande importância para a nova sensibilidade helenística. Por isso, o nome "Jardim" (que, em
grego, se diz Kepos) passou a indicar a escola, e as expressões "Os do Jardim" e "filósofos do Jardim" tornaram-se
sinônimos dos seguidores de Epicuro, os epicuristas.

B.Os desejos e o prazer (A ética): a) A realidade é perfeitamente penetrável e cognoscível pela inteligência do
homem; b) Nas dimensões do real, existe espaço para a felicidade do homem; c) A felicidade é a ausência de dor
e perturbação; d) Para atingir essa felicidade e essa paz, o homem só precisa de si mesmo; e) A Cidade, as
instituições, a nobreza, as riquezas, bem como os deuses, não lhe servem, pois o homem é perfeitamente
"autarquico".

C.A ataraxia (ausência de perturbações): A ataraxia é explicada como a ausência de perturbações e sua
importância é destacada na filosofia de Epicuro. A busca por ataraxia contribui para a tranquilidade e a paz
interior.Para alcançar a ataraxia, Epicuro distinguiu cuidadosamente os vários tipos de prazeres: os naturais e
necessários (comer o suficiente para saciar a fome, beber o suficiente para matar a sede etc.), os naturais e não
necessários (comer alimentos refinados, beber bebidas requintadas etc.) e, por fim, os não naturais e não
necessários (os prazeres ligados à riqueza, às honras, ao poder). Portanto, apenas os primeiros devem sempre ser
buscados, pois são os únicos que encontram em si um limite preciso; os segundos, podemos nos conceder apenas
de vez em quando; os últimos, que nos tornam insaciáveis, nunca.

Epicuro considera que o verdadeiro bem é o prazer, mas seu hedonismo tem um caráter peculiar. Essa tese, que
faz coincidir o bem do homem com o prazer, já fora formulada pelos cirenaicos, que, porém, reduziam o sumo
bem ao prazer como um simples movimento doce, negando que a ausência de dor e a tranquilidade fossem
prazer. Ao contrário, Epicuro identificou explicitamente o máximo prazer com a ausência de dor. Distanciando-se
dos cirenaicos, ele considera os prazeres (e as dores) da alma superiores aos do corpo. Com efeito, a alma
também sofre em função de experiências passadas e futuras, enquanto o corpo sofre apenas por aquelas
presentes. A ausência de dor, tanto em relação à alma (ataraxia) quanto ao corpo (aponia), é considerada o
máximo prazer, pois é o único que não pode crescer mais e, portanto, não pode nos deixar insatisfeitos.
D. A Teoria do Conhecimento de Epicuro: Para Epicuro, o conhecimento se fundamenta nas sensações, prolepse
(noção instintiva) e nos sentimentos de dor e prazer. A sensação nasce do impacto de fluxos de átomos,
provenientes dos objetos (chamados de "simulacros"), sobre nossos sentidos, os quais, nessa relação, têm um
papel passivo e mecânico, de modo que a marca do mundo externo está sempre (ou pelo menos os eflúvios)
registrada pelos sentidos e perfeitamente correspondente ao original, tanto que Epicuro pode afirmar que a
sensação é sempre verdadeira e objetiva. Tais sensações, por se repetirem inúmeras vezes e se mantendo na
alma, dão lugar a imagens apagadas, que, por sua menor nitidez, podem se adaptar a múltiplos objetos do
mesmo gênero, antecipando assim as características das coisas antes que elas se apresentem (por isso são
chamadas prolepses, isto é, antecipações) ou representando-as em sua ausência (daí o correspondente senso
comum ao conceito). Os sentimentos de dor e prazer nascem da ressonância interna das sensações, ou seja, do
efeito que elas produzem de dor ou prazer sobre nós, e servem de fundamento para a ética, pois constituem os
critérios para discriminar o bem do mal. O homem também pode construir, por meio da mediação das prolepses,
opiniões (julgamentos). Nesse caso, no entanto, falta a garantia da evidência, e, por isso, é necessário um critério
de avaliação. Portanto, nem todas as opiniões são verdadeiras, mas apenas as que são confirmadas pela sensação
ou não desmentidas por ela.

E. A Teoria da Alma de Epicuro: concepção de Epicuro sobre a mortalidade da alma é fundamentada em sua
filosofia materialista, que contrasta com as visões platônicas e aristotélicas sobre a natureza da alma. Segundo
Epicuro, a alma é compreendida como uma manifestação física e material do corpo, inseparável dele durante a
vida. Quando o corpo morre, a alma também se desintegra, deixando de existir.

Enquanto Platão e Aristóteles consideravam a alma como algo imaterial e imortal, Epicuro adotava uma
perspectiva mais empirista e naturalista. Para ele, todas as coisas, inclusive a alma, são compostas por átomos - as
partículas básicas da matéria. A alma, segundo a concepção epicurista, seria formada por átomos finos e sutis,
que estariam dispersos por todo o corpo, especialmente concentrados na região do peito.

F.O medo da morte e a ataraxia: Epicuro acreditava que a alma era mortal porque sua existência estava
intimamente ligada à organização e funcionamento do corpo físico. Essa conexão entre alma e corpo era tão
estreita que, quando o corpo morresse e se desfizesse, os átomos que constituíam a alma também se
dispersariam. Nessa perspectiva, a morte do corpo significaria o fim da existência da alma. Essa visão materialista
da alma tinha implicações importantes para a ética epicurista. Ao reconhecer a mortalidade da alma e rejeitar a
crença em uma vida após a morte, Epicuro enfatizava a importância de viver a vida presente de forma plena e
buscar a felicidade neste mundo. Ele argumentava que não há razão para temer a morte ou preocupar-se com
possíveis recompensas ou punições em uma vida futura, pois a morte representa o fim absoluto da consciência e
da existência individual.

Referência bibliográfica: História da Filosofia - Volume 1 - Filosofia pagã antiga. Series: Author(s): Reale Giovanni,
Dario Antiseri.

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