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UFRN – Universidade Federal do Estado do Rio Grande do

Norte

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

SÉRGIO ANTONIO SANTOS DE LIMA

AVALIAÇÃO DE TÓPICOS ESPECIAIS DE ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA


EPICURO

Docente: Prof. Dr. Markus Figueira da Silva

NATAL/RN

2018
EPICURO

Introdução

Epicuro nasceu em 341 a.C. na ilha grega de Samos começou seus


estudos em filosofia aos 14 anos, estudando Platão e Demócrito suas
principais influências, além de Pirro e Aristóteles, morou em Atenas dentre
outras cidades helenistas.

Preocupado em reabilitar o homem de seu tempo, Epicuro inova


com seu projeto ousado contrariando toda a tradição filosófica de seu tempo
que tinham por objetivo a pólis grega e sua reforma, a exemplo de Platão e
Aristóteles.

Epicuro propõe uma concepção de homem em outra esfera e


estrutura social mais justa e humana, onde haveria a necessidade de libertação
desse homem na área econômica, política e social grega que em seu
entendimento estava doente.

Em cada uma das cidades em que viveu, Epicuro atraiu amigos e


familiares que foram se agregando e aceitando suas aulas, montando uma
comunidade em torno de si, ao mudar para Atenas ele percebeu que não teria
liberdade de pensamento, tendo em vista o momento politico que passava os
gregos naquele momento.

Nesse momento, Epicuro vai para fora da cidade, e numa


propriedade rural, comprada pelos amigos, cria o seu jardim onde passa a viver
com seus admiradores e familiares. Epicuro mantem outras comunidades com
a produção de epístolas, Desse modo, ele influencia o apóstolo. Paulo, o
orador Cícero e o célebre Sêneca, entre outros.

Em sua filosofia social e ética, Epicuro não discutia política nem


religião, por essa razão ele havia saído da cidade. Não tendo deixado grandes

2
obras como Platão e Aristóteles, Epicuro precisa ser mais estudado e
compreendido, uma vez que deixou seu legado à filosofia.

A filosofia de Epicuro pode ser chamada de filosofia do equilíbrio,


nesse sentido, poderíamos trabalhar esse equilíbrio em quatro eixos
diferentes, a saber: na Phýsis (natureza), na alma, no corpo e no Ethos.

Nesse trabalho trataremos sobre o equilíbrio na Phýsis, e o seu


estudo, ou seja, a physiología.

A PHYSIS

A physiología é o fundamento do pensamento de Epicuro, para o


autor, “fazer filosofia é exercitar-se na compreensão da natureza”, à sua época,
Epicuro percebe que a única maneira de compreender a realidade era
investigando a phýsis, tentando entender o modo como funciona a natureza e
criando uma linguagem que possa explicar os fenômenos naturais e tirar da
imaginação humana todas as crenças e preconceitos que podem inviabilizar a
compreensão da natureza. Para Epicuro, ser filosofo é contemplar a phýsis e
estuda-la.

Para os gregos o termo phýsis, atualmente conhecido por natureza,


significa brotar-se, gerar-se, o movimento de vir a ser, ganhar existência. Para
os latinos “natura” aquilo que só depende de si mesmo para vir a ser, é nesse
sentido que eles pensavam a realidade, esse vir a ser constante a partir dela
mesma.

Os quatro níveis de phýsis que Epicuro apresenta estão assim


apresentadas:

“A Carta a Heródoto apresenta proposições fundamentais


acerca dos modos de realização da phýsis. Nela articulam-se
átomos, corpos compostos, mundos e o todo, a fim de

3
possibilitar a compreensão da natureza das coisas, desde a
microestrutura do átomo até a noção de infinito.” 1

Phýsis para Epicuro se define como átomo (princípio de


permanência da eternidade) é aquilo que não nasce e não morre, e o todo foi, é
e será sempre. Os corpos composto são qualquer coisa, elemento u objeto que
se encontra na natureza os mega corpos que são os kósmoi, ou mundos, tudo
é átomo e vazio, vem a ser pela construção dos átomos e deixa de ser quando
esses átomos se espalham, são átomos que se transformam em outros corpos
anímicos, outras energias.

Epicuro entende que pra recuperar esse pensamento existente


desde os pré-socráticos, é importante o exercício de pensar a phýsis de todos
os modos como ela se apresenta, phýsis no átomoi (princípio de manutenção
da realidade), phýsis nos corpos compostos de átomos (cada coisa existente),
phýsis no cosmoi ou mundos (mega corpos compostos), phýsis no tó pan
(natureza como todo) ou totalidade de tudo que existe.

“Os pontos relevantes desta análise são os seguintes; phýsis


expressa, primeiramente, a natureza do todo (tópan); em
segundo lugar, a natureza dos átomos (átomoi), em terceiro
lugar, a natureza dos corpos compostos; e a natureza dos
mundos.”2

Desse modo, para Epicuro, quando o homem se dedica ao estudo


da natureza ele deixa as crenças, não acreditando nas coisas sobrenaturais e
se detém apenas na naturalidade, percebendo com esse pensamento que ele
dá conta das explicações sobre os acontecimentos da natureza, ainda que
sejam fenômenos que ele não consiga explicar completamente, confia que para
todos os fenômenos há explicações. Desse modo, não é necessário recorrer a
nenhum ser transcendente que tenha criado essa realidade, essa é a visão
epicurista da phýsis.

O termo Katá Physin significa de acordo com a natureza, a vida


deve ser alinhada a natureza essa era a visão de Epicuro, por isso ele vai viver
na natureza, afastando-se dos centros urbanos de sua época.

1
SILVA. Markus Figueira da. Epicuro Sabedoria e jardim. Relume Dumará, UFRN, 2003. pg. 24
2
Ibid., pg. 25.

4
Na interpretação do doutor Markus Figueira 3:

“... o exercício de pensar a própria phýsis configura o modo de


ser do filósofo, que percebe neste aprendizado o sentido
próprio da sua situação no mundo... do próprio homem, que
emerge em seu próprio seio e tem necessidade de viver de
acordo com ela (katá phýsin).4

Epicuro vislumbra, desde aquela época, que o homem por


desconhecer a phýsis quer assenhorar-se, dominar a phýsis. Sua visão era de
naturalizar-se e não se tornar artificial.

O homem é natureza, ele não se separa da natureza ele se imana


na natureza, por isso ele tem a capacidade de pensar a phýsis e utilizá-la para
a sua manutenção, para sua própria vida. O homem mantem o tempo todo
essa relação com a natureza sendo ele mesmo natureza, não existe a ideia de
criacionismo em Epicuro, a ideia é uma integração entre homem e natureza.

Epicuro sugere que a construção de um pensamento filosófico tem


um princípio, sendo este princípio a phýsis. Vejamos: “Assim, ele sugere que a
construção de um pensamento filosófico tem um princípio, sendo este princípio
a physis.”5 O filósofo tentou desestruturar as explicações fundadas em
imaginárias causas sobrenaturais que recorrem aos mitos e deuses, por
oposição a uma realidade física, empírica. Ele chama essas opiniões vazias e
que não tem correspondência com a realidade, são fantasiosas.

“as postulavam como origem da realidade. Porque seu domínio


era o do esclarecimento e não o do obscurecimento da
realidade. Porque sua ocupação era a realização efetiva de
pensar o sublime vir-a-ser e fazê-lo aparecer apenas como
sublime, e não mais como misterioso.”6

Epicuro chama de opinião vazia, ou seja, aquela que não tem


correspondência com a realidade é puramente fantasiosa, todas as
superstições, crenças e mitos tem como fundamento essa fantasia, não são
aceitas no mundo empírico.

3
Professor titular de Historia da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Membro do Programa de Pós-graduação em Filosofia (PPGFIL) da UFRN. Pesquisador do
PRAGMA/UFRJ.
4
Ibid., pg. 23.
5
Ibid., pg. 24
6
Ibid., pg. 24

5
Desse modo Epicuro inaugura um tipo de pensamento dentro da
história da filosofia que perdura até os dias atuais, tendo vários representantes
ao logo da história que não consideram a sobrenaturalidade, apenas a
naturalidade. No pensamento de Epicuro, tudo que ocorre no mundo é phýsis.

Apesar de Epicuro ser atomista e seu pensamento uma physiología,


exista metafísica em seu pensamento, não uma metafísica transcendente, mas
uma metafísica imanente, não há limites.

A definição phýsis pelo doutor Markus Figueira:

“Phýsis é, segundo a etimologia da palavra, o processo de


crescimento ou génese de alguma coisa, e, neste sentido,
Epicuro somente a utiliza quando sé refere aos corpos
compostos e aos mundos.”7

Para o autor, só os corpos compostos e os mundos vem a ser em


gênese e deixa de ser em desagregação ou morte, usado para quando o corpo
se desfaz, inclusive a alma. Em continuação relata:

“Num segundo sentido, phýsis é princípio (arché), porque é


átomos e vazio; e, num terceiro sentido, phýsis é o modo de
ser do todo ilimitado.”8

Essas quatro categorias da phýsis, acima já citadas, não são


encontradas em outros livros, essa é uma conclusão do autor, após estudos
aprofundados sobre Epicuro.

A physiología resulta uma sabedoria capaz de levar o homem à


felicidade (ataraxia), o conhecimento da phýsis, capacita o homem para
expurgar o medo da dor, da morte, dos deuses e de ser feliz. O exercício da
sabedoria (phrónesis) liberta do homem, tornando-o capaz de saber onde estão
os limites reais e onde estão os fantasiosos. A liberdade nos emancipa das
crendices e do medo, proporcionando a felicidade e o prazer.

Em conformidade com os ensinos de Epicuro, o homem é livre para


tomar as decisões para a condução de sua vida, essa é a condição
característica daqueles que têm a autarkeia como fundamento de suas ações.
Para o filosofo, o indivíduo é autônomo para executar suas ações na phýsis.

7
Ibid., pg. 25
8
Ibid., pg. 25.

6
No agir do sábio (sophós) não pode haver determinismo, sendo o
sábio responsável pelos seus atos, cabe ressaltar, que a punição pelos
exageros cometidos não vem dos deuses, mas em prejuízos no corpo e na
alma, noutro sentido, aqueles que vivem em harmonia com a phýsis
(natureza)vive em perfeita paz e liberdade.

Para Epicuro o conhecimento é libertador, na proporção em que a


filosofia é compreendida como um remédio (phármakon) para a alma,
conduzindo o homem à felicidade. Portanto faz-se necessário a escolha da
forma de viver que traga equilíbrio ao ser humano, através da compreensão da
phýsis, que lhe proporciona a sabedoria da alma.

Epicuro nos mostra que através desse conhecimento, que não há


razão para o temos nas crenças e na política; que o prazer são os efeitos da
compreensão que o homem tem da phýsis; que ser livre é uma necessidade
humana que vai dar ao homem o prazer ante as dificuldades da vida.

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